Events in Outubro 2021
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S. Teresa do Menino Jesus, Virgem
S. Teresa do Menino Jesus, Virgem
1 de Outubro, 2021Santa Teresa do Menino Jesus nasceu em Alençon, França, em 1873. É a filha mais nova dos Beatos Luís Martin e Célia Guérin, casal cristão exemplar. Aos 15 anos, Teresa entrou no Carmelo de Lisieux. A vida de clausura e de contemplação, a vivência da infância espiritual, não a impediram de ser missionária. Pelo contrário, viveu de modo extraordinário o ideal de Santa Teresa de Ávila: "Vim para salvar almas e sobretudo a fim de rogar pelos sacerdotes". A entrega de amor fê-la vítima de amor. Faleceu aos 24 anos de idade, em 1897. Pio XI canonizou-a em 1925, proclamando-a Padroeira das Missões.
Lectio
Primeira leitura: Isaías 66, 10-14
Alegrai-vos com Jerusalém, rejubilai com ela, vós todos que a amais; regozijai-vos com ela, vós todos os que estáveis de luto por ela. 11Como criança amamentando-se ao peito materno, ficareis saciados com o seu seio reconfortante, e saboreareis as delícias do seu peito abundante. 12Porque, assim diz o Senhor: «Vou fazer com que a paz corra para Jerusalém como um rio, e a riqueza das nações, como uma torrente transbordante. Os seus filhinhos serão levados ao colo, e acariciados sobre os seus regaços. 13Como a mãe consola o seu filho, assim Eu vos consolarei; em Jerusalém sereis consolados. 14Ao verdes isto, os vossos corações pulsarão de alegria, e os vossos ossos retomarão vigor,como a erva fresca. A mão do Senhor há-de manifestar-se aos seus servos, e a sua ira aos seus inimigos.
Jerusalém foi consolada por Deus, fonte de toda a consolação. Agora é chamada a oferecer essa mesma consolação, como mãe generosa, aos filhos das suas entranhas. O profeta especifica essas consolações, que não são promessas vãs ou retórica vazia, mas paz e segurança a todos os níveis. Acabaram-se os tempos das tensões e das guerras, acabaram-se as ameaças dos inimigos. A cidade santa está em paz, dom de Deus, e pode oferecê-la aos seus habitantes. Aliás a Nova Jerusalém identifica-se com Javé, que, pela sua presença e pelo seu espírito, atrairá todos os povos para lhes oferecer a paz e a consolação definitivas.
Evangelho: Mateus 18, 1-5
Naquela hora, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-lhe: «Quem é o maior no Reino do Céu?» 2Ele chamou um menino, colocou-o no meio deles 3e disse: «Em verdade vos digo: Se não voltardes a ser como as criancinhas, não podereis entrar no Reino do Céu. 4Quem, pois, se fizer humilde como este menino será o maior no Reino do Céu. 5Quem receber um menino como este, em meu nome, é a mim que recebe.
Ao dizer estas palavras, Jesus parece pensar na humildade das crianças, que não têm pretensões, que têm consciência de ser crianças e aceitam a sua pequenez, a sua impotência e a necessidade que têm dos pais para sobreviver. Na relação com Deus, estas palavras têm ainda mais sentido: que é o homem diante d´Ele?
A humildade é necessária particularmente aos dirigentes da comunidade cristã pelo que eles são - bem pouca coisa - e pelo que são os outros, - filhos de Deus.Meditatio
Os pensamentos de Deus são bem diferentes dos nossos, tal como os seus caminhos são distantes dos nossos. Os nossos pensamentos vêm do orgulho; os pensamentos de Deus vêm da humildade. Os nossos caminhos são esforço para nos tornarmos grandes; os caminhos de Deus conduzem à pequenez. Como quem quer ir para o Norte deve caminhar em direção oposta ao Sul, assim, para avançar nos caminhos de Deus devemos tomar a direção oposta ao nosso orgulho.
Teresa tinha grandes ambições: queria ser simultaneamente contemplativa e ativa, apóstola, doutora, missionária e mártir. Aliás, parecia-lhe pouco um só martírio e desejava-os todos. Acabou por descobrir que, no coração da Igreja, é o amor que tudo anima e move. Então, escreve: "Compreendi que o Amor encerra todas as Vocações e que o Amor é tudo!... E, num transporte de alegria delirante, exclamei: encontrei finalmente a minha vocação; a minha vocação é o Amor! No Coração da Igreja Minha Mãe, eu serei o Amor, assim serei tudo, assim o meu sonho será realizado." E, enquanto, no seu tempo, muitas pessoas fervorosas se ofereciam a Deus como vítimas da sua justiça, Teresa preferiu entregar-se ao seu Amor Misericordioso. Descobrira esse amor ao meditar na parábola do filho pródigo ou, melhor dizendo, do pai misericordioso. Dizia a santa de Lisieux: "Deus infinitamente Misericordioso, que se dignou perdoar com tanta bondade os pecados do filho pródigo, não será também justo comigo, que estou sempre a seu lado?" Para Teresa, Deus manifesta-se justo exatamente na sua misericórdia e no seu perdão a quem deles necessita. A Justiça de Deus é Amor e Misericórdia. Foi aceitando a sua pequenez e pobreza, e acolhendo e caminhando no amor misericordioso de Deus que ela chegou à Santidade.
Como escreveu o P. Dehon: "A união íntima a Cristo na sua oblação e imolação de amor é-nos confirmada pela sua predileção pela oferta como vítima "ao Amor misericordioso" de Santa Teresa de Lisieux. "Nascemos do espírito de Santa Margarida Maria, aproximando-nos do da Ir. Teresa". Seguidamente o Pe. Dehon transcreve a fórmula com que a santa se ofereceu como vítima ao Amor misericordioso. Depois, conclui: "Com a Ir. Teresa, abandonamo-nos completamente à vontade divina" (Diário XLV, 53.55-56: Abril de 1925).
A descoberta do Deus Misericordioso foi o ponto mais importante do Caminho Espiritual de Teresa do Menino Jesus. Essa perceção levou-a a dar-se conta da sua missão na Terra: anunciar que Deus não é Castigador, mas Misericordioso. Esta confiança na Misericórdia de Deus, tomou, transformou e entreteceu toda a sua vida e tornou-se o grande motor do que fez e disse até ao fim dos seus dias. Como vemos há uma forte semelhança e quase identidade entre a experiência espiritual e a missão do P. Dehon e de Santa Teresa.Oratio
Ó Cristo Senhor, Tu nos escolheste e chamaste ao teu serviço pelo grande Amor que tens a Deus Pai e aos teus irmãos. Foste tu quem nos escolheu e não nós a Ti. Faz, pois, com que possamos, hoje, segundo o desígnio da tua chamada, dar frutos de salvação ao mundo, pelo qual nos oferecemos, como pessoas e como comunidade. Aviva em nós o espírito do Pe. Dehon, o qual, por teu amor, não se cansava de trabalhar para que toda a humanidade fosse, um dia, recapitulada em Ti. Torna-nos um testemunho vivo do teu amor na Igreja. Ámen.
Contemplatio
O Pai de misericórdia que nos ama ternamente chama-nos. Chama-nos seus filhinhos. Descreveu-se com complacência na parábola do filho pródigo. Eu sou este filho pródigo, que viveu, se não na luxúria, pelo menos na vaidade e na inutilidade. Volto para o meu Pai, hesitante, tímido, temeroso, mas ele está lá, que me acolhe com amor. O seu coração bate fortemente no seu peito. Deseja-me com ardor, observa, procura. E se regresso, atira-se ao meu pescoço e aperta-me contra si, coração contra coração. E chama os seus servos, os seus anjos, para me darem tudo o que perdi. Nada falta: o manto de outrora, o anel de nobreza, os sapatos, e o vitelo gordo para a festa. O Coração de Jesus está emocionado; os seus olhos choram de ternura, mas sorriem de alegria: «Alegremo-nos, diz o bom Mestre, este filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado». (Leão Dehon, OSP 3, p. 653).
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
"No Coração da Igreja Minha Mãe, eu serei o Amor" (Santa Teresa do Menino Jesus).----
S. Teresa do Menino Jesus, Virgem (01 Outubro)Tempo Comum - Anos Ímpares - XXVI Semana - Sexta-feiraTempo Comum - Anos Ímpares - XXVI Semana - Sexta-feira
1 de Outubro, 2021Lectio
Primeira leitura: Baruc 1, 15-22
Para o Senhor nosso Deus, a justiça; para nós, porém, a vergonha, estampada no rosto, como acontece hoje para os homens de Judá e os habitantes de Jerusalém, 16para os nossos reis e príncipes, os sacerdotes, os profetas e os nossos antepassados, 17porque pecámos contra o Senhor. 18Desobedecemos ao Senhor nosso Deus, não ouvimos a sua voz nem seguimos os mandamentos que Ele nos deu. 19Desde o dia em que o Senhor tirou os nossos pais da terra do Egipto até hoje, temos desobedecido ao Senhor, nosso Deus e, na nossa leviandade, recusámos ouvir a sua voz. 20Por isso, agora, persegue-nos o infortúnio e a maldição que o Senhor predissera pela boca de Moisés, seu servo, quando tirou os nossos pais da terra do Egipto, a fim de nos dar uma terra onde mana leite e mel. 21Nós, porém, não escutámos a voz do Senhor, nosso Deus, conforme a palavra dos profetas, que Ele nos enviou. 22Cada um de nós, andou segundo as inclinações do seu mau coração, servindo deuses estrangeiros e praticando o mal aos olhos do Senhor, nosso Deus".
Depois da escuta da Palavra, na grande celebração presidida por Esdras e Neemias, Baruc apresenta-nos uma longa oração penitencial de que escutamos, hoje, os primeiros versículos. É a oração do povo regressado do exílio, mas submetido a poderes estrangeiros, na Palestina ou noutras zonas mais ou menos distantes. É a oração do povo de Deus em diáspora, que não quer perder a sua identidade.
Este povo sente-se solidário na história passada feita de promessas divinas e de pecados do povo. A história é solidária no bem e no mal. O povo não correspondeu à generosidade de Deus. Revoltou-se e desobedeceu. Por isso, confessa as suas culpas, e reconhece a inocência e a justiça de Deus. Mas é a justiça de Deus que dá ao povo capacidade para recomeçar, ter nova esperança, e esperar o perdão.Evangelho: Lucas 10, 13-16
Naquele tempo, Jesus disse: 13Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sídon se tivessem operado os milagres que entre vós se realizaram, de há muito que teriam feito penitência, vestidas de saco e na cinza. 14Por isso, no dia do juízo, haverá mais tolerância para Tiro e Sídon do que para vós. 15E tu, Cafarnaúm, porventura serás exaltada até ao céu? É até ao inferno que serás precipitada. 16Quem vos ouve é a mim que ouve, e quem vos rejeita é a mim que rejeita; mas, quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou.»
O evangelho de hoje conclui a mensagem com que foram enviados os setenta e dois discípulos. Porque fala Jesus tão duramente das cidades de Corazim, Betsaida e Cafarnaúm? Que nos quer dizer Jesus?
A condenação das três cidades deve se entendida a vários níveis. Em primeiro lugar, Jesus sublinha que estas cidades não acolheram a Palavra pregada por Ele, isto é, a graça do Evangelho, o apelo à conversão. Em segundo lugar, Jesus realça o abandono dos seus. Talvez se dê conta da hostilidade do povo. As cidades pagãs de Tiro e Sídon terão um juízo menos severo que o povo de Israel. Em terceiro lugar, Jesus prevê que o Evangelho ultrapasse as fronteiras da Galileia, que chegue aos gentios, enquanto as cidades que, por primeiras, ouviram a sua pregação permaneçam fechadas num judaísmo anticristão.
Este evangelho é um aviso para todos aqueles que se excluem da graça do Senhor e caem na hipocrisia e na resistência sublinhadas pelos "Ai" de Jesus. Jesus lastima o maior dos pecados, o pecado contra o Espírito Santo: fechar os olhos às manifestações da graça, à oferta de perdão. É o grande risco da missão cristã. Jesus disse claramente: «Quem vos ouve é a mim que ouve, e quem vos rejeita é a mim que rejeita; mas, quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou» (v. 16).Meditatio
As duas leituras convidam-nos ao arrependimento e à penitência. O cristão, que quiser ser fiel a Jesus, deve sofrer com os seus pecados e com os que se cometem à sua volta, fazendo sua a oração de Baruc: «Para o Senhor nosso Deus, a justiça; para nós, porém, a vergonha, estampada no rosto» (v. 15). Trata-se de uma oração inspirada na catástrofe nacional, que aniquilou o povo judeu e o levou para o exílio. Perante esses factos, os Judeus voltaram-se para a sua vida e para a sua história, reconhecendo a sua infidelidade e o seu pecado: «Pecámos contra o Senhor. Desobedecemos ao Senhor nosso Deus, não ouvimos a sua voz nem seguimos os mandamentos que Ele nos deu» (v. 17s.).
O novo povo de Deus, que é a Igreja, também precisa de olhar para a sua vida e para a sua história, reconhecer os seus pecados e manter uma atitude de contínua penitência e conversão. O duro aviso de Jesus às cidades ribeirinhas do lago de Genesaré também se dirige a nós, que lemos a Palavra de Deus e, particularmente, o Evangelho. Todos corremos o risco de deixar endurecer o coração e de nos fecharmos à escuta da Palavra, à penitência e à mudança de vida que ela cada dia nos sugere. Tanto Baruc como Jesus nos convidam a reconhecer e a confessar os nossos pecados, afirmando, ao mesmo tempo, a fidelidade e a misericórdia de Deus. Mas podemos e devemos pensar também nos pecados do mundo, no ódio que aqui e ali explode ferozmente, fazendo vítimas inocentes, na corrupção que torna possíveis tantos abusos, nos pobres que continuam a ser oprimidos, nos ricos que não querem partilhar os seus bens nem ceder nos seus privilégios, na imoralidade de toda a espécie que, como maré negra, nos cerca destruindo a vida. Há que tomar sobre nós tudo isto, com a solidariedade de quem partilha e quer, com Jesus, tirar o pecado do mundo: «Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!» (Jo 1, 29).
Escutemos as nossas Constituições, que são fruto da nossa leitura do Evangelho, à luz do nosso carisma: «Implicados no pecado, mas participantes na graça redentora, pela realização de todas as nossas tarefas, queremos unir-nos a Cristo presente na vida do mundo e, em solidariedade com Ele e com toda a humanidade e a criação inteira, oferecer-nos ao Pai como oblação viva, santa e agradável (cf. Rm 12,1). «Caminhai no amor segundo o exemplo de Cristo que nos amou e Se entregou por nós a Deus, como oferenda e sacrifício de agradável odor» (Ef 5,2) (Cst 22). A nossa reparação é cooperação na obra redentora de Deus no coração do mundo (cf. Cst 23), que consiste em libertar os homens do pecado e das suas consequências, e em transformá-lo em oblação santa e agradável a Deus.Oratio
Pai santo, nós Te louvamos, bendizemos e damos graças, porque nos reconciliaste em Cristo e nos regeneraste pelo Espírito Santo, fazendo de nós homens novos, animados por um Espírito novo. Dá-nos a graça de cooperar alegre e generosamente na obra d
a redenção, que realizas no coração do mundo, para que toda a humanidade e a criação inteira, libertas do pecado e das suas consequências, se tornem oblação viva, santa e agradável para Ti. Amen.Contemplatio
Ecce homo! Eis o homem castigado por Deus em nosso lugar. - Eis o homem que, carregado com o pesado fardo dos nossos pecados dos quais se constituiu vítima expiatória, representa neste momento a humanidade em toda a sua miséria. Eis o homem-vítima que nos descreve Isaías. Já não tem beleza. Todo o seu corpo não é senão uma chaga. Dir-se-ia um leproso. Quando o vemos, desviamos dele o olhar. É um homem atingido pela justiça de Deus. Que é então o pecado para que tenha tais efeitos? Deus é, portanto, por ele muito ofendido, muito irritado, para que o possa punir até este ponto, mesmo naquele que não o cometeu, mas que dele aceitou a responsabilidade. E se o lenho verde, o justo por excelência, é assim tratado por causa dos pecados de outros, que será então do lenho seco, dos verdadeiros culpados, quando vier a hora do seu juízo? Este mistério do Ecce homo não é o mais adequado para nos excitar ao arrependimento, à conversão, ao ódio ao pecado? Eis o homem! Eis o vosso rei! Repete Pilatos. Eis onde caiu a vossa realeza, diz-nos o nosso Deus. Todo o homem era rei, pela graça de Deus. Todo o homem era chamado a reinar sobre si mesmo e sobre a natureza. Mas vede o homem do pretório, aquele que tomou sobre si todos os vossos pecados, que é feito da sua realeza? O seu ceptro é uma cana; o seu manto real, um farrapo tingido pelo sangue; a sua coroa, um ramo de espinhos entrançado. Eis o retrato do homem culpado, é um rei decaído, desonrado, injuriado, ridicularizado. Eu podia ser rei e posso ainda sê-lo: «Fizestes-nos reis e sacerdotes», dizem os eleitos falando a Deus, no Apocalipse (5,10), Mas é preciso para isso deixar de ofender a Deus, é preciso servi-lo real e sacerdotalmente, com força, com piedade, com o espírito de sacrifício e de devoção. (Leão Dehon, OSP 3, p. 343s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«Para o Senhor nosso Deus, a justiça; para nós, a vergonha» (Br 1, 15) -
S. Francisco de Assis
S. Francisco de Assis
4 de Outubro, 2021S. Francisco de Assis nasceu em 1181, ou 1182. Filho de um rico comerciante, Francisco sonhava tornar-se cavaleiro. Desviado desse ideal, procurou com persistência vontade de Deus. O encontro com os leprosos, e a oração diante do Crucifixo na igreja de S. Damião, levaram-no a abandonar a família e a iniciar uma vida evangélica penitencial. Bem depressa o Senhor lhe deu irmãos dispostos a viverem o evangelho sine glossa, em fraternidade. O papa Honório III aprovou a Regra e a vida dos frades menores, em 1222. No ano seguinte, Francisco recebeu os estigmas do Crucificado, selo da sua conformidade com o único Senhor e Mestre. Faleceu em 1226, sendo canonizado em 1228. Grande amigo da Natureza, S. Francisco é padroeiro dos ecologistas. É também um dos padroeiros da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, Dehonianos.
Lectio
Primeira leitura: Gálatas 6, 14-18
Irmãos: Longe de mim gloriar-me, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo. 15Pois nem a circuncisão vale alguma coisa nem a incircuncisão, mas sim uma nova criação. 16Paz e misericórdia para todos quantos seguirem esta regra, bem como para o Israel de Deus. 17De agora em diante ninguém mais me venha perturbar; pois eu levo no meu corpo as marcas de Jesus. 18A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com o vosso Espírito, irmãos!Ámen.
Ao terminar a sua Carta aos Gálatas, Paulo declara ter agido retamente ao desmascarar a hipocrisia dos que defendiam a necessidade da circuncisão e da observância de lei hebraica para os cristãos (v. 12). Em seguida, afirma que não procura a glória do mundo, mas se sente honrado por estar em comunhão com Jesus Crucificado, cujo amor redentor afastara dele toda a ambição, orgulho e egoísmo. O seu único motivo de orgulho é a cruz do Senhor, que iniciou uma nova economia fundamentada, não na Lei, mas no Espírito. Acolhendo e pondo em prática o amor misericordioso de Deus, o cristão pode usufruir da plenitude dos bens messiânicos. Consciente de tal dom, Paulo não quer ouvir falar de outras doutrinas. A sua pertença exclusiva ao Senhor é manifestada pelos sofrimentos que, a seu exemplo, suporta para Lhe ser fiel (v. 17).
Evangelho: Mateus 11, 25-30
Naquele tempo, Jesus exclamou: «Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos entendidos e as revelaste aos pequeninos. 26Sim, ó Pai, porque isso foi do teu agrado. 27Tudo me foi entregue por meu Pai; e ninguém conhece o Filho senão o Pai, como ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar.» 28«Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos.29Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito. 30Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.
A relação entre Jesus e o Pai é única, como declara o nosso texto. Jesus é o Filho do Pai, de Quem recebeu tudo, por Quem é conhecido, e a Quem conhece como mais ninguém. Jesus revela-nos esse conhecimento, que é dom recíproco de amor. Na sua oração de bênção, Jesus reconhece que só os pequenos, os que não presumem de si mesmos, estão em condições de conhecer o amor do Pai e viver em comunhão com Ele. Que se fecha na sua "sabedoria" autoexclui-se dessa vida e comunhão. Francisco de Assis foi um desses pequenos e humildes que encontraram respiro e vida nova nas palavras e gestos de Jesus.
Meditatio
Francisco de Assis foi um daqueles pequenos, que receberam de coração aberto e disponível a revelação de Jesus, como Filho muito amado do Pai. O Evangelho, sine glossa, tornou-se a única regra da sua vida, regra que também propôs àqueles que se lhe quiseram juntar como irmãos. Para Francisco, tudo se resumia à relação com Jesus, no amor. Os estigmas, que recebeu já perto do fim da sua vida, são sinal da intensíssima relação com Jesus, que o levou a identificar-se com Ele também fisicamente. Numa época em que os homens da Igreja procuravam riquezas e grandezas, Francisco quis permanecer pobre e pequeno diante de Deus e dos homens. Por causa disso, nem aceitou ser ordenado sacerdote, permanecendo simplesmente irmão entre os irmãos, como o mais pequeno de todos, por amor do Senhor.
Para ele realizaram-se plenamente as palavras de Jesus: "o meu jugo é suave e o meu fardo é leve" (v. 30). Quanta alegria enchia o coração de Francisco, pobre de tudo e rico de tudo, que no amor do Senhor sentia como suaves os maiores sofrimentos. "Carregai as cargas uns dos outros e assim cumprireis plenamente a lei de Cristo." (Gl 6, 2). As cargas dos outros: é esse o jugo do Senhor. S. Francisco compreendeu-o desde o princípio da sua conversão. No fim da vida, contava: "Estando eu em pecado, parecia-me coisa excessivamente amarga ver os leprosos, mas o próprio Senhor me conduziu para meio deles e eu exercia misericórdia para com eles". Este é o jugo, que consiste em carregar as cargas dos outros, mesmo que isso nos parece muito duro. E continuava Francisco: "Carregando-as, o que me parecia amargo, converteu-se para mim em doçura na alma e no corpo". Pouco mais adiante, encontramos a segunda frase de Paulo: "Cada um terá de carregar o próprio fardo" (Gl 6, 5). Aqui, trata-se de não julgar os outros, de ter muita compreensão por todos, de não impor aos outros os nossos pontos de vista e os nossos modos de fazer, de vermos os nossos próprios defeitos e de não aproveitar os defeitos dos outros para lhes impor pesos que não estão de acordo com o pensamento do Senhor. "Ninguém se deve julgar o primeiro entre os irmãos", recomendou. "Quem jejua, não julgue os que comem". A caridade não critica os outros, não os julga, mas ajuda-os.
Carreguemos, também nós, o jugo do Senhor, os fardos dos outros, e não os sobrecarreguemos com críticas e juízos sem misericórdia. Assim conheceremos melhor o Filho de Deus, que morreu por nós, e nele o Pai que está nos céus, com a mesma alegria de S. Francisco.Oratio
Fazei, ó meu Deus, exclamava, que a doce violência do vosso amor me desapegue de todas as coisas sensíveis e me consuma inteiramente, a fim de que eu possa morrer por vosso amor infinito. Eu vo-lo peço por vós mesmo, ó Filho de Deus, que morrestes por amor de mim. Meu Deus e meu tudo! Quem sois vós, e quem sou eu, senão um verme de terra? Desejo amar-vos, Senhor adorável. Consagrei-vos a minha alma e o meu corpo com tudo o que sou. Levar-me-ei a fazer com ardor o que mais contribuir para vos glorificar. Sim, meu Deus, este é o único objeto dos meus desejos. (Oração de S. Francisco, citada por Leão Dehon, in OSP 4, p. 322)
Contemplatio
O Coração de Francisco foi, como o de Jesus, um porto de refúgio no qual todos os pobres corações humanos, agitados pela tempestade, podiam encontrar um asilo. O coração de Francisco foi um coração de apóstolo, um coração de fogo. Semelhante a um carro inflamado, percorria o mundo, ardendo por arrastar atrás de si todos os homens para os conduzir ao céu. O seu coração inflamado de amor gerou três ordens que deram e que dão tantos santos ao céu. Depois do capítulo geral da sua ordem em 1219, enviou religiosos para a Grécia, para África, para a França, para a Inglaterra, para aí estender o reino de Deus. Tinha reservado para si a missão da Síria e /323 do Egipto onde esperava encontrar o martírio! O coração de Francisco não estava simplesmente aberto às misérias morais, mas também às misérias físicas. Oh! Como amava os pobres e a pobreza! Como era terno para com os doentes e os aflitos! S. Francisco diz-nos a todos como S. Paulo: «Sede meus imitadores». A seu exemplo, entremos no Coração de Jesus pelo amor e pela imitação. (Leão Dehon, OSP 4, p. 322s.).
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
"Carregai as cargas uns dos outros
e assim cumprireis plenamente a lei de Cristo." (Gal 6, 2).----
S. Francisco de Assis (04 Outubro)Tempo Comum - Anos Ímpares - XXVII Semana - Segunda-feiraTempo Comum - Anos Ímpares - XXVII Semana - Segunda-feira
4 de Outubro, 2021Lectio
Primeira leitura: Jonas 1, 1 - 2, 1.11
A palavra do Senhor foi dirigida a Jonas, filho de Amitai, nestes termos: 2«Levanta-te, vai a Nínive, a grande cidade, e anuncia-lhe que a sua maldade subiu até à minha presença.» 3Jonas pôs-se a caminho, mas na direcção de Társis, fugindo da presença do Senhor. Desceu a Jafa, onde encontrou um navio que partia para Társis; pagou a sua passagem e embarcou nele para ir com os outros passageiros a Társis, longe da presença do Senhor.4Porém, o Senhor fez vir sobre o mar um vento impetuoso, e levantou no mar uma tão grande tempestade que a embarcação ameaçava despedaçar-se. 5Cheios de medo, os marinheiros puseram-se a invocar cada um o seu deus e alijaram ao mar toda a carga do navio para, assim, o aliviar. Entretanto Jonas tinha descido ao porão do navio e, deitando-se ali, dormia profundamente. 6O capitão do navio foi ter com ele e disse-lhe: «Dormes? Que fazes aqui? Levanta-te, invoca o teu Deus, a ver se porventura se lembra de nós e nos livra da morte.» 7Em seguida disseram uns para os outros: «Vinde e deitemos sortes, para sabermos quem é a causa deste mal.» Lançaram sortes, e a sorte caiu sobre Jonas. 8Disseram-lhe então: «Diz-nos porque nos aconteceu este mal. Qual é a tua profissão? Donde vens? Qual a tua terra e a que povo pertences?» 9Ele respondeu-lhes: «Sou hebreu e adoro o Senhor, Deus do céu, que fez os mares e a terra.» 10Então, aqueles homens ficaram possuídos de grande medo, e disseram-lhe: «Porque fizeste isto?» Com efeito, compreenderam, ao ouvir a confissão de Jonas, que ele fugia do Senhor. 11Disseram-lhe: «Que te havemos de fazer para que o mar se nos acalme?» De facto, o mar estava cada vez mais embravecido. 12Ele respondeu-lhes: «Pegai em mim e lançai-me ao mar, e o mar se acalmará, porque por minha causa é que vos sobreveio esta grande tempestade.» 13Os homens remavam para ver se conseguiam ganhar a terra, mas em vão, porque o mar cada vez se embravecia mais contra eles. 14Então clamaram ao Senhor, dizendo: «Senhor, não nos faças perecer por causa da vida deste homem, nem nos tornes responsáveis do sangue inocente, porque Tu, ó Senhor, fizeste como foi do teu agrado.» 15Depois pegaram em Jonas e lançaram-no ao mar; e a fúria do mar acalmou-se. 16Então, estes homens temeram o Senhor; ofereceram um sacrifício ao Senhor e fizeram-lhe votos. 1O Senhor fez com que ali aparecesse um grande peixe para engolir Jonas; e Jonas esteve três dias e três noites no ventre do peixe. 11Então, o Senhor ordenou ao peixe e este vomitou Jonas em terra firme.
O livro de Jonas é o único que se encontra integralmente no Leccionário, com excepção da oração do capítulo 21. Este livro é uma narrativa didáctica, nascida num contexto judaico, em que, por um lado, se pretende defender ciosamente a própria identidade, e, por outro, alguns querem permanecer fechados aos outros povos. O livro de Jonas, com uma narrativa paradoxal e humorística, ridiculariza essa mentalidade nacionalista e exclusivista, para afirmar que o Deus de Israel é também o Deus de todos os povos, mesmo dos inimigos do povo, como era o caso da Assíria, cuja capital era Nínive. O profeta, que representa a mentalidade fechada do judaísmo, é precisamente enviado a essa cidade inimiga, para a convidar à conversão. Tenta escapar, fugindo na direcção oposta, rumo às Colunas de Hércules, o mais longe possível da cidade detestada. Mas Deus sabe como vencer a resistência do profeta, que apesar da tua teimosia, volta a encontrar-se no lugar de partida.
Notemos que os marinheiros pagãos são apresentados como bons homens, que temem ao Senhor. É com repugnância e muita dificuldade que sacrificam o profeta. Também entre os pagãos há gente boa, disposta a acolher os sinais que vêm de Deus. Pelo contrário, entre o Povo de Deus, nem todos se comportam bem, como acontece com o próprio Jonas.Evangelho: Lucas 10, 25-37
Naquele tempo, 25Levantou-se um doutor da Lei e perguntou-lhe, para o experimentar: «Mestre, que hei-de fazer para possuir a vida eterna?» 26Disse-lhe Jesus: «Que está escrito na Lei? Como lês?» 27O outro respondeu: «Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.» 28Disse-lhe Jesus: «Respondeste bem; faz isso e viverás.» 29Mas ele, querendo justificar a pergunta feita, disse a Jesus: «E quem é o meu próximo?» 30Tomando a palavra, Jesus respondeu: «Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores que, depois de o despojarem e encherem de pancadas, o abandonaram, deixando-o meio morto. 31Por coincidência, descia por aquele caminho um sacerdote que, ao vê-lo, passou ao largo. 32Do mesmo modo, também um levita passou por aquele lugar e, ao vê-lo, passou adiante. 33Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão. 34Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. 35No dia seguinte, tirando dois denários, deu-os ao estalajadeiro, dizendo: 'Trata bem dele e, o que gastares a mais, pagar-to-ei quando voltar.' 36Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?» 37Respondeu: «O que usou de misericórdia para com ele.» Jesus retorquiu: «Vai e faz tu também o mesmo.»
Jesus vai a caminho de Jerusalém. Um judeu faz-lhe uma pergunta armadilhada: que devo fazer para alcançar a vida eterna? Jesus responde com outra pergunta que conduz o doutor à própria lei de Moisés. Que está escrito nela? O homem lembra o preceito do amor, tal como estava formulado em Dt 6, 3: «Amarás ao Senhor, teu Deus... e ao teu próximo como a ti mesmo» (v.27), e que os israelitas recitavam todos os dias, acrescentando o preceito do amor do próximo, tal como está expresso no Lv 19, 18.
O legalista, vendo a sua síntese aprovada por Jesus, acrescenta outra pergunta armadilhada: «quem é o meu próximo?» (v. 29). Pensando que, no Antigo Testamento, "próximo" era apenas o israelita e, mais tarde, o imigrado que se tinha inserido na comunidade israelita (cf. Lv 19, 33s.); pensando que, no tempo de Jesus, o «próximo» estava limitado ao membro da própria seita (fariseus, zelotas, etc.), compreendemos a força inovadora que se solta da parábola contada por Jesus. O Senhor não dá uma resposta teórica. Conta uma parábola que ia ao encontro da experiência dos ouvintes, que deviam estar lembrados de acontecimentos idênticos ao narrado por Jesus.
O cenário também é importante: a estrada que, de Jerusalém (situada a 740 metros acima do nível do mar), leva a Jericó (situada a 350 metros abaixo do nível do mar), desenha um percurso cheio de curvas e contracurvas, de gargantas e ravinas, onde facilmente se escondiam salteadores. A acção &e
acute; animada e forte: o homem agredido, dilacerado e a sangrar é visto por um sacerdote e um levita, que passam ao largo. Finalmente aparece o protagonista da parábola: um samaritano, mestiço, bastardo e herético, que cuida do ferido. Jesus compraz-se na descrição das acções deste homem malvisto pelos judeus. Cheio de compaixão, aproxima-se do homem caído, desinfecta-lhe as feridas com vinho, minora-lhe as dores com azeite, e leva-o para a estalagem onde, à sua custa, o faz curar.
Jesus faz mais uma pergunta: «Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem» (v. 36). Está aqui o centro da narrativa. Quando Jesus diz ao doutor: «Vai e faz tu também o mesmo» (v. 37), desloca totalmente o centro da questão. Não se trata de saber quem é o nosso próximo, porque toda a criatura humana o é; trata-se, isso sim, de saber como nos tornamos próximo do outro. Quem manifesta a sua compaixão em acções concretas em favor de quem precisa, esse é verdadeiro discípulo de Deus porque «se faz próximo» do homem.Meditatio
As leituras de hoje estão cheias de movimentos que nos envolvem. Jonas foge para não ir a Nínive, como Deus lhe tinha ordenado. Mas, fugindo aos ninivitas, foge de Deus. Quando vezes também eu fujo à missão que Deus me confia, alegando determinadas motivações e as dificuldades do mundo de hoje, tais como a indiferença da juventude, o desmesurado poder dos mass media, a secularização, o fenómeno da globalização e tantas outras questões bem afastadas da lógica de Jesus. Mas fugindo à missão, afasto-me de Deus.
No evangelho, o sacerdote e o levita também fogem do homem caído à beira do caminho. E não encontraram a Deus. O samaritano, pelo contrário, aproxima-se do ferido e abandonado, cuida dele e torna-se disponível. E encontra a Deus, porque «sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40).
Visto de outro ponto de vista, aquele samaritano, que usa de misericórdia para com o homem caído à beira da estrada, é Deus que se faz próximo do homem, numa dinâmica de amor e de misericórdia. Deus é o Bom Pastor, que procura a ovelha perdida para a reconduzir ao redil, é o Pai que corre ao encontro do filho perdido que regressa, é o Samaritano que se inclina sobre o homem caído, é Jesus que morre na cruz por nosso amor. Deus é assim, e não quer uma religião que nos afaste dos outros, na tentativa de nos protegermos de certos contágios, de uma religião em que o primado não pertença à caridade.
O convite de Jesus - «Vai e faz tu também o mesmo» - é dirigido a cada um de nós. Seria uma boa tradução para o «Ite missa est», pronunciado no fim de cada eucaristia, memorial da morte e ressurreição do Senhor, memorial do seu amor sem reservas nem limites: «Vai e faz tu também o mesmo»; dá-te, entrega-te por amor ao serviço de Deus e ao serviço dos homens, particularmente dos "caídos" à beira dos caminhos da vida, sê uma eucaristia permanente para glória e alegria de Deus, para bem e salvação da humanidade.
Jonas, lançado ao mar e engolido pelo peixe, é reconduzido à praia. Mas, entre um e outro acontecimento, dirige a Deus uma oração que não vem no texto, mas reencontramos no salmo responsorial: «Na minha aflição invoquei o Senhor e Ele respondeu-me. Da morada dos mortos clamei por socorro e ouviste a minha voz» (Jn 2, 3). É um elemento muito importante, porque, sem oração, não é possível abrir-se à graça, passar do egoísmo preocupado consigo mesmo, com a própria vida, com a própria reputação, para o amor que se faz próximo de quem precisa, a exemplo de Jesus, o Bom Samaritano da humanidade.Oratio
Senhor Jesus, conheces a minha fraqueza, os meus temores, a minha pusilanimidade. Mas nem por isso me dispensas de colaborar no teu projecto de salvação. Dá o teu Espírito de coragem e fortaleza, de atrevimento e zelo, para que, não só não fuja de Ti ou da missão que me confias, mas Te procure com afinco e me entregue com total disponibilidade. Que jamais despreze aqueles a quem me queres enviar. Que jamais engrandeça as dificuldades do meu ministério, para me desculpar da pouca criatividade, do pouco zelo que nele ponho. Dá-me a tua luz, para que reconheça o meu próprio pecado, possa converter-me e trabalhar generosamente na conversão dos meus irmãos. Amen.
Contemplatio
É certo que Nosso Senhor quis descrever-se a si mesmo sob os traços do bom samaritano. Quis revelar-nos sob esta parábola toda a bondade e a compaixão do seu Coração. E se foi o bom samaritano na sua vida mortal semeando por toda a parte os seus cuidados, as suas consolações, socorrendo e curando todos os feridos e os doentes, não endureceu o seu Coração na Eucaristia. Está lá com a mesma bondade, a mesma ternura por aqueles que sofrem. E diz ainda: «Vinde a mim, vós todos que penais e sofreis, e eu vos aliviarei». Irei ter com ele, mostrar-lhe-ei as minhas chagas, as chagas espirituais sobretudo. Ele pôr-lhes-á óleo que adoça e o vinho que cauteriza. Aliviar-me-á, estou seguro. Vede, Senhor, em que estado me reduziram as tentações da carne, do mundo e do demónio, revelai-me, curai-me. (Leão Dehon, OSP 3, p. 642)
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
«Vai e faz tu também o mesmo.» (Lc 10, 37). -
Tempo Comum - Anos Ímpares - XXVII Semana - Terça-feira
Tempo Comum - Anos Ímpares - XXVII Semana - Terça-feira
5 de Outubro, 2021Lectio
Primeira leitura: Jonas 3, 1-10
A palavra do Senhor foi dirigida pela segunda vez a Jonas, nestes termos: 2«Levanta-te e vai a Nínive, à grande cidade e apregoa nela o que Eu te ordenar.» 3Jonas levantou-se e foi a Nínive, segundo a ordem do Senhor. Nínive era uma cidade imensamente grande, e eram precisos três dias para a percorrer. 4Jonas entrou na cidade e andou um dia inteiro a apregoar: «Dentro de quarenta dias Nínive será destruída.» 5Os habitantes de Nínive acreditaram em Deus, ordenaram um jejum e vestiram-se de saco, do maior ao menor. 6A notícia chegou ao conhecimento do rei de Nínive; ele levantou-se do seu trono, tirou o seu manto, cobriu-se de saco e sentou-se sobre a cinza. 7Em seguida, foi publicado na cidade, por ordem do rei e dos príncipes, este decreto: «Os homens e os animais, os bois e as ovelhas não comam nada, não sejam levados a pastar nem bebam água. 8Os homens e animais cubram-se de roupas grosseiras, e clamem a Deus com força; converta-se cada um do seu mau caminho e da violência que há nas suas mãos. 9Quem sabe se Deus não se arrependerá e acalmará o ardor da sua ira, de modo que não pereçamos?» 10Deus viu as suas obras, como se convertiam do seu mau caminho, e, arrependendo-se do mal que tinha resolvido fazer-lhes, não lho fez.
Reconduzido ao ponto de partida pelo peixe, Jonas escutou novamente a voz de Deus: «Levanta-te e vai a Nínive, à grande cidade e apregoa nela o que Eu te ordenar» (v. 2). Depois do sucedido, Jonas não ousa objectar e vai para onde o Senhor o envia e apregoa a destruição da grande cidade de Nínive. A descrição da cidade é certamente exagerada, como tudo no livro de Jonas. A palavra "grande" aparece 14 vezes na narrativa. A ordem do rei que impõe penitência aos próprios animais é também exagerada. Os próprios «quarenta dias» de pregação (v. 4) não têm valor matemático mas simbólico, significando o tempo necessário para completar uma acção ou uma obra.
Nínive, contra o que era de esperar, converte-se. E Deus também tem que mudar de opinião e não castigar a cidade. O Deus de Israel está disposto a mudar as suas decisões mesmo quando alguém, que está muito longe d´Ele pela fé e pela vida, decide converter-se, mudar de vida. Deus é misericordioso, não só para com Israel, mas também para com todos os povos. O Deus de Israel é o Deus de todos os povos. Se salvou Israel, é para, com ele, salvar a todos. Este discurso era sem dúvida dirigido aos grupos mais sectários de Israel. Um discurso sempre actual.Evangelho: Lucas 10, 38-42
Naquele tempo, 38Continuando o seu caminho, Jesus entrou numa aldeia. E uma mulher, de nome Marta, recebeu-o em sua casa. 39Tinha ela uma irmã, chamada Maria, a qual, sentada aos pés do Senhor, escutava a sua palavra. 40Marta, porém, andava atarefada com muitos serviços; e, aproximando-se, disse: «Senhor, não te preocupa que a minha irmã me deixe sozinha a servir? Diz-lhe, pois, que me venha ajudar.» 41O Senhor respondeu-lhe: «Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas; 42mas uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada.»
Este texto foi usado ao longo dos séculos para "justificar" a vida activa, figurada em Marta, e a vida contemplativa, figurada em Maria. Mas, mais importante que os dois estados de vida, são as duas atitudes interiores.
Jesus vai a caminho de Jerusalém, rumo à consumação do mistério pascal da nossa salvação: «continuando o seu caminho, Jesus entrou» (v. 38). Em Betânia, entra em casa de Lázaro, onde Marta, irmã de Maria e de Lázaro, faz as honras da casa. Mas parece que estavam só as duas irmãs. Por isso, a entrada de Jesus na casa é um gesto audacioso. Na verdade, para Ele, «já não conta ser judeu ou grego, homem ou mulher»; o que conta é ser «nova criatura» que, na relação com Ele, se afirma (cfr. Gal 6, 15).
Marta acolhe Jesus; Maria senta-se a seus pés e escuta a palavra. Aqui, a atenção não está centrada em Jesus que fala, mas na "mulher-verdadeira-discípula" acocorada a seus pés e esquecida de tudo quanto não seja Ele e a sua palavra. Marta, pelo contrário, «andava atarefada» (v. 40), em grande tensão, quase diríamos, alienação, com o que havia para fazer. Então, com alguma petulância, como se pode entrever numa tradução literal do v. 40: «adiantando-se» ou, mais rigorosamente, «pondo-se por cima», Marta perturba a quieta contemplação das palavras de Jesus e da escuta de Maria. Marta quase acusa Jesus de não ligar atenção e interesse aos seus serviços.
É então que Jesus aproveita a ocasião para repreender, não o útil serviço que Marta está a prestar, mas a excessiva inquietação e preocupação que lhe marcam negativamente o agir. Já noutra ocasião Jesus dissera: não vos preocupeis com o que haveis de vestir, ou comer, ou com qualquer outra coisa (cfr. Mt 6, 25-34). Mas a escolha de Maria foi acertada, porque deu atenção à única coisa que interessa, isto é, à escuta da Palavra. É a melhor parte que não será tirada a quem ama.Meditatio
O encontro com Deus e com a sua Palavra permite-nos compreender a sua misericórdia e a sua compaixão. Jonas não obedeceu a Deus, não acolheu a sua vontade de misericórdia e de salvação em relação a Nínive porque, em vez de frequentar a Deus e escutar a sua Palavra, se deixou envolver pelo ambiente em que vivia e pelas opiniões dominantes no mesmo. Um contacto superficial com a Palavra de Deus permite-nos reestruturá-la à medida dos nossos gostos e dos nossos critérios. Mas um contacto profundo com a Palavra de Deus desestrutura-nos, faz-nos entrar nos critérios de Deus. Por isso, é necessário fazer-nos discípulos, desarmados e devotos, dispostos a render-nos à Palavra e não a domesticá-la.
Como Jonas se esforça por encontrar as suas próprias soluções, também nós queremos procurar as nossas, quando não recebemos Jesus como hóspede e Senhor da nossa vida. Ao escutarmos o evangelho de hoje, provavelmente sentimos uma certa pena por não sermos como Maria, sentados aos pés de Jesus, dando-Lhe toda a nossa atenção, escutando a sua palavra. Mas certamente já nos demos conta de que, quando temos ocasião para isso, por exemplo durante um retiro, preferimos assumir a atitude de Marta, ou até arranjamos mil pretextos para nos distrairmos ... Por outro lado, quando andamos agitados como Marta, desejamos ocasiões para assumirmos o papel de Maria. Isso quer dizer que procuramos satisfazer o nosso egoísmo, e que o papel de Maria, mais do que para escutar Jesus, só nos agrada pelo sossego que proporciona...
Quem quer ser fiel ao Senhor aproveita todos os momentos para estar com Ele,
escutando a sua Palavra, mesmo no meio de muito trabalho. Há pessoas muito activas, permanentemente a correr de um trabalho para outro, mas interiormente em paz, em secreta contemplação, porque têm o coração junto do Senhor. Pensemos no Papa João Paulo II... Por isso, fazem o que têm a fazer com total tranquilidade, servindo serenamente a Deus e ao próximo.Oratio
Senhor Jesus, ajuda-me a ser fiel à tua Palavra. Que jamais me deixe sufocar pelo rumor do ambiente e pelas opiniões dominantes, mas obedeça docilmente à tua voz e realize todas as missões que me quiseres confiar. Que jamais caia na tentação de me buscar a mim mesmo, seja no repouso seja na actividade, para poder usufruir da tranquilidade da união Contigo em todas as acções, em todas as circunstâncias. Amen.
Contemplatio
Santa Madalena é o modelo de um amor sincero e verdadeiro, saído do mais perfeito arrependimento. Desde o momento da sua conversão, Madalena é generosa. Ela lança-se aos pés de Nosso Senhor, derrama abundantes lágrimas, afronta o respeito humano, consagra a Nosso Senhor perfumes de um grande preço. É já uma alma amante. Dá-se sem reservas a Nosso Senhor, e doravante o seguirá, fielmente o servirá. Nosso Senhor é tudo para ela. Mantém-se aos seus pés e é tudo. Em Betânia, não se agita para servir Nosso Senhor, contempla-o, escuta-o. Quem tem Jesus tem tudo. Quando Lázaro morre, que fé e que confiança ela testemunha! Marta agita-se ainda e Maria diz somente: «Mestre, se aqui tivésseis estado, ele não estaria morto». Marta e Maria são ambas amantes, mas testemunham o seu amor de um modo diferente: Marta é activa e Maria é contemplativa. Ambas são nossos modelos, devemos todos unir a contemplação à acção. (Leão Dehon, OSP 4, p. 81).
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
«Jesus amava Marta e Maria!» E ama-me a mim! -
Tempo Comum - Anos Ímpares - XXVII Semana - Quarta-feira
Tempo Comum - Anos Ímpares - XXVII Semana - Quarta-feira
6 de Outubro, 2021Lectio
Primeira leitura: Jonas 4, 1-11
Jonas ficou profundamente aborrecido com isto e, muito irritado, 2dirigiu ao Senhor esta oração: «Ah! Senhor! Porventura não era isto que eu dizia quando ainda estava na minha terra? Por isso é que, precavendo-me, quis fugir para Társis, porque sabia que és um Deus misericordioso e clemente, paciente, cheio de bondade e pronto a renunciar aos castigos. 3Agora, Senhor, peço-te que me mates, porque é melhor para mim a morte que a vida.» 4O Senhor respondeu-lhe: «Julgas que tens razão para te afligires assim?» 5Jonas saiu da cidade e sentou-se a oriente da mesma. Ali fez para si uma cabana e sentou-se à sua sombra, para ver o que ia acontecer na cidade. 6O Senhor Deus fez crescer um rícino, que se levantou acima de Jonas, para fazer sombra à sua cabeça e o proteger do Sol. Jonas alegrou-se grandemente por aquele rícino. 7Ao outro dia, porém, ao romper da manhã, enviou Deus um verme que roeu as raízes do rícino, e este secou. 8Quando o Sol se levantou, Deus fez soprar um vento quente do oriente, e o Sol dardejou os seus raios sobre a cabeça de Jonas, de forma que ele, desfalecido, desejou a morte e disse: «Melhor é para mim morrer do que viver.» 9Então Deus disse a Jonas: «Julgas tu que tens razão para te indignares por causa deste rícino?» Jonas respondeu: «Sim, tenho razão para me indignar até desejar a morte.» 10Disse-lhe Deus: «Sentes pena de um rícino que não te custou trabalho algum para o fazeres crescer, que nasceu numa noite, e numa noite pereceu! 11E não hei-de Eu compadecer-me da grande cidade de Nínive, onde há mais de cento e vinte mil pessoas, que não sabem distinguir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e um grande número de animais?»
A teologia e a sátira misturam-se no final da narrativa de Jonas. O profeta está desgostoso por causa da conversão de Nínive. Afinal, tinha mesmo razão para tentar não ir a essa cidade, pois bem sabia que «Deus é misericordioso e clemente, paciente, cheio de bondade e pronto a renunciar aos castigos». Neste desgosto de Jonas pela conversão de Nínive, revela-se o ódio ancestral de Israel pelos seus inimigos políticos. Mas Deus mostra-se misericordioso também para com o seu teimoso profeta, e quer ser misericordioso para com todos aqueles que pretendem impor-Lhe os próprios pontos de vista. Deus converte o seu profeta dissidente, recorrendo às astúcias pedagógicas, que o seu domínio sobre a natureza Lhe permite.
O livro termina com um desafio que continua actual: «E não hei-de Eu compadecer-me da grande cidade de Nínive, onde há mais de cento e vinte mil pessoas, que não sabem distinguir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e um grande número de animais?» (v. 11). Não é Deus livre de actuar de acordo com os Seus critérios? Teria que sujeitar-se aos de Jonas. Pode Deus ficar insensível diante da sorte do homem, ainda que viva afastado d´Ele? Dos pequenos sofrimentos pessoais, como os que a seca do rícino causa a Jonas, havemos de passar aos sofrimentos bem maiores da humanidade, e não nos escandalizar por Deus querer usar de amor misericordioso para com todos.Evangelho: Lucas 11, 1-4
Naquele tempo, 1Sucedeu que Jesus estava algures a orar. Quando acabou, disse-lhe um dos seus discípulos: «Senhor, ensina-nos a orar, como João também ensinou os seus discípulos.» 2Disse-lhes Ele: «Quando orardes, dizei:Pai, santificado seja o teu nome; venha o teu Reino; 3dá-nos o nosso pão de cada dia; 4perdoa os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo aquele que nos ofende; e não nos deixes cair em tentação.»
«Jesus estava algures a orar» (v. 1). Em qualquer tempo e lugar se pode rezar, ainda que haja tempos e lugares expressamente destinados à oração. Ao ver Jesus rezar, um dos discípulos percebeu que não sabia rezar e suplicou: «Senhor, ensina‑nos a orar» (v. 1). Então, Jesus ensinou-lhes a sua oração, o «Pai nosso».
A oração de Jesus começa com a invocação do Pai, Abba, no texto lucano, palavra que exprime uma ternura e um à vontade idêntico à nossa palavra "papá". Jesus introduz-nos, deste modo, a um novo tipo de relação com Deus, caracterizado pela confiança, semelhante à de um filho que se dirige ao pai, por quem se sente amado. Chamando Pai a Deus, assemelhamo-nos a Jesus, o Filho por excelência, e partilhamos a relação íntima que existe entre Ele e o Pai. É nisto que caracteriza, em primeiro lugar, a oração do cristão.
– «santificado seja o teu nome»: pedimos a Deus que seja glorificado por todos e em todos; que seja glorificado em cada um de nós, isto é, que vendo o nosso modo de ser e de agir, todos O reconheçam e louvem; este pedido sublinha a verdade de que é procurando a glória de Deus, e não na nossa, que encontramos a nossa própria felicidade, entrando em comunhão com Ele, com os outros, com o cosmos.
– «venha o teu Reino»: toda a história é aspiração, consciente ou não, por este Reino, que é «justiça, paz e alegria no Espírito Santo» (Rm 14, 7).
– «dá‑nos em cada dia o pão da nossa subsistência»: o «pão» é o elemento vital que simboliza tudo o que o homem precisa para viver dignamente, crescer e realizar-se (pão, vestuário, cultura, habitação, ...). Pede-se o pão «nosso» ... Se for só «meu», torna-se elemento de morte. Partilhado, faz crescer. «Pão» é também a Eucaristia, a Palavra de Deus... porque «não só de pão vive o homem».
– «perdoa‑nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos»: o perdão de Deus liga-se à nossa atitude de perdoar, como raiz à árvore. O fundamento do nosso perdão e saber-nos perdoados por Deus... Perdoar não significa esquecer. Desejar perdoar, pedir a Deus que nos ajude a perdoar, já é atitude de perdão...
– «não nos exponhas à tentação». Esta expressão significa pedir a Deus a graça de não sucumbirmos à tentação, por causa da nossa fraqueza. Sabemos que Deus nos ouve porque «é fiel e não permitirá que sejais tentados acima das vossas forças» (1 Cor 10, 13).Meditatio
Compreendemos certamente a atitude de Jonas, nós que, tantas vezes, tentamos resistir à lógica de Deus, e aplicar os nossos próprios critérios na relação com os outros e em diversas situações. Tanto trabalho por causa d´Ele, por causa do Reino, para Lhe ser fiéis, para torná-lo conhecido e amado... No fim, tudo «acaba em glória», também para aqueles que nada fazem por Ele ou até O ofendem! Muitos vivem como lhes apetece, como se Deus não existisse, e Ele, ao mínimo gesto de arrependimento, perdoa a todos! Ma
s há muitos elementos que nos escapam. Deus, por exemplo, quer ser tratado como Pai, quer que Lhe peçamos perdão e ajuda nos momentos de provação, quer que não nos cansemos de lembrar a todos que é misericordioso e sempre disposto a perdoar. No fundo, compreende a nossa fraqueza e quer ser mais amado do que temido por nós.
A atitude de Jonas é exactamente o contrário daquilo que pedimos na primeira invocação do "Pai nosso": «Pai, santificado seja o teu nome» (v. 2). Jonas opõe-se a este pedido e não quer que o nome de Deus seja manifestado. O profeta conhece esse nome, mas não quer que outros o conheçam. «Eu sabia que és um Deus misericordioso e clemente, paciente, cheio de bondade e pronto a renunciar aos castigos», diz o profeta (v. 2). Jonas conhecia, da revelação bíblica, o «nome» de Deus, que devia ser manifestado a todos. Mas isso opunha-se aos gostos e à vontade de viver do profeta. Foi enviado a Nínive para anunciar: «Dentro de quarenta dias Nínive será destruída» (v. 4). Agora teima em que a profecia seja realizada. Caso contrário, perde a sua reputação de profeta! Mas a ameaça de Deus era condicionada: «Se não vos converterdes, perecereis». Os habitantes de Nínive converteram-se e Deus está satisfeito por poder manifestar «o seu nome», isto é, o seu amor, a sua ternura, a sua misericórdia. Dá uma lição a Jonas para que compreenda as motivações da compaixão para com aqueles que criou, e a lógica de perdoar, de chamar à vida e não à morte. Quantas vezes, também nós, não aceitamos que Deus se manifeste como mansidão e paciência! Quantas vezes gostaríamos que Deus interviesse com violência, sem esperar que os homens se convertam! Quanto gostaríamos que os criminosos fossem eliminados da sociedade! As nossas reacções espontâneas, muitas vezes, estão realmente em contradição com o primeiro pedido do Pai nosso. Aprendamos a tolerância e a paciência de Deus. Sem elas, nem nós mesmos poderíamos ter esperança de salvação.Oratio
Senhor, que és lento para a ira e cheio de misericórdia, dá-me um coração semelhante ao teu, para que saiba reagir e actuar à semelhança do teu Filho Jesus, sempre manso e humilde na relação com todos, também com os pecadores.
Também eu caio muitas vezes no erro de julgar com rigor e sem compaixão os meus irmãos, particularmente aqueles que perturbam gravemente a minha vida e a vida da sociedade e da Igreja, de que faço parte. Como os teus discípulos, também eu gostaria de ver cair sobre eles os fogo do céu... Infunde em mim o teu Espírito Santo. Faz-me tolerante, compreensivo e misericordioso, como Tu o fostes para com os ninivitas, como o teu Filho o foi para com os pecadores, entre os quais, com humildade e verdade, me quero colocar. Amen.Contemplatio
Jesus e a generosidade do seu Coração. - Como Jesus é doce e bom nesta circunstância! Não recusa o beijo sacrílego, que profana o seu rosto divino. Diz a Judas com uma emoção profunda e uma dor celeste: «Meu amigo, a que vens?» Que crime abominável vens cometer! «Judas, tu trais o Filho do homem com um beijo!» Cada uma destas palavras devia retinir como um raio no coração de Judas. Que contraste! De um lado, toda a paciência e a bondade de um Deus; do outro, toda a dureza do coração de um traidor e de um sacrílego. A tropa ignóbil que seguia Judas hesita por um momento. Mas Jesus avança para ela: «Quem procurais, diz. - Jesus de Nazaré? - Sou Eu». Caem como que atingidos por um raio. Jesus diz-lhes para se levantarem. «Prendei-me, diz-lhes, mas deixai ir os meus discípulos». É sempre a bondade do seu Coração que se manifesta. Salva os seus apóstolos, que destina a fundar a Igreja. Tinha dito na sua oração ao Pai: «Daqueles que me destes, não perdi nenhum, excepto o filho da perdição». Simão Pedro fere um servo do sumo sacerdote. Jesus detém esta luta e cura o ferido. «Não é preciso, diz a S. Pedro, que a vontade de meu Pai se execute, e que eu beba o cálice que meu Pai me dá? Se pedisse a meu Pai para escapar a esta violência, não credes que em vez de doze apóstolos fracos e medrosos, me enviaria doze legiões de anjos? Mas como então havia de cumprir-se as Escrituras, que predisseram que assim devia ser?». Jesus quer cumprir tudo, tudo o que importa à nossa salvação. Quer e deseja-o vivamente, tem pressa de lá chegar. Assim entrega-se voluntariamente a esta turba que o vem prender. Ó maravilha incompreensível da bondade divina! O Coração de Jesus é todo amor. (Leão Dehon, OSP 3, p. 280).
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
«Pai, santificado seja o teu nome»» (Lc 11, 2) -
Nossa Senhora do Rosário
Nossa Senhora do Rosário
7 de Outubro, 2021O Rosário, que apareceu entre os séculos XV e XVI, foi divulgado pelos Dominicanos, tornando-se uma das mais populares devoções marianas. Nossa Senhora recomendou-o insistentemente em Fátima.
A memória de Nossa Senhora do Rosário, inicialmente celebrada por algumas famílias religiosas, entrou na liturgia de toda a Igreja por disposição do Papa S. Pio V, dominicano, em 1572. Com essa festa, então abertamente chamada "comemoração da Bem-aventurada Virgem Maria da Vitória", o Papa queria agradecer a Nossa Senhora a sua intervenção na vitória da frota cristã contra a dos turcos, em Lepanto, a 7 de Outubro de 1571. Atualmente celebra-se simplesmente a memória de Nossa Senhora do Rosário.
Lectio
Primeira leitura: Atos, 1, 12-14
Os Apóstolos desceram, do monte chamado das Oliveiras, situado perto de Jerusalém, à distância de uma caminhada de sábado, e foram para Jerusalém. 13Quando chegaram à cidade, subiram para a sala de cima, no lugar onde se encontravam habitualmente.Estavam lá: Pedro, João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelota, e Judas, filho de Tiago.14E todos unidos pelo mesmo sentimento, entregavam-se assiduamente à oração, com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus.
Depois de ter convivido durante quarenta dias com os discípulos, Jesus elevou-se ao céu. Então os Onze, que tinham andado dispersos, com outros discípulos e familiares de Jesus, entre os quais a sua mãe, reuniram-se provavelmente em casa de um deles, enquanto esperavam o Pentecostes, em que haviam de receber o Espírito Santo prometido. Neste texto, Lucas antecipa algumas notas sobre o modo de vida da primitiva comunidade eclesial de Jerusalém, que irá desenvolver depois. Uma característica evidente é a oração partilhada pelos irmãos e irmãs de modo assíduo e concorde. Depois do Pentecostes, em que Maria também participará (At 2, 1), a comunidade eclesial irá desenvolver a sua identidade e a diaconia. A oração, que precede o Pentecostes, é como que uma preparação; a assiduidade à oração e a concórdia entre os irmãos são garantia de crescimento e de futuro para a comunidade.
Evangelho: Lucas 1, 26-38
Naquele tempo, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré,27a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria. 28Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» 29Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação. 30Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. 31Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus.32Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, 33reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.» 34Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» 35O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. 36Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril,37porque nada é impossível a Deus.» 38Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela.
A devoção do Rosário encontrou na anunciação a Maria o primeiro quadro para contemplação. O colóquio entre Deus e a jovem Maria, mediado pelo anjo Gabriel, - "força de Deus" -, decorre num clima de serena e alegre disponibilidade obediente da humilde «serva do Senhor». A disponibilidade de Maria decorre da reflexão ou meditação sobre a palavra proferida pelo enviado de Deus. Maria tenta uma exegese da mensagem, verdadeiramente surpreendente, pois se trata de um grandioso projeto de Deus, que a envolve. A contemplação de Maria sobre o primeiro mistério do seu envolvimento evangélico e messiânico é iluminada pela disponibilidade do Senhor, pronto a dar explicações. Maria acolhe-as e medita-as no seu coração. Deus não impõe uma tarefa absurda, mas "esforça-se" por convencer aquele que chama a participar nela.
Meditatio
S. Lucas oferece à meditação do devoto de Maria, na memória de Nossa Senhora do Rosário, uma sequência histórica de acontecimentos que têm o seu princípio na perícopa do evangelho que escutamos hoje e passa imediatamente para a dos Atos dos Apóstolos que também escutámos na primeira leitura. São duas paragens na peregrinação devocional do Rosário: uma com que começam os "mistérios gozosos" e outra que encontramos do terceiro dos mistérios gloriosos. Essa disposição dos quadros a contemplar dá-nos uma metodologia para a nossa meditação que nos ensina e ajuda a passar do individual ao comunitário, da contemplação à ação.
De fato, a Anunciação é, para a Virgem Maria, uma experiência muito pessoal de Deus, uma paragem na contemplação da palavra de Deus, junto ao próprio Deus. É um evento gozado na solidão. Essa solidão ou experiência individual não significa isolamento: de fato, Aquela que recebeu o anúncio, partilha a vida da comunidade, a espera da manifestação poderosa e gloriosa do Espírito Santo. Põe em comum a sua experiência de Deus.
A Anunciação constitui para Maria uma subida aos cumes da contemplação dos mistérios de Deus, uma aproximação, guiada pela luz da palavra divina, ao projeto que Deus quer realizar com a sua disponibilidade. Essa contemplação sustenta a obediência consciente. A Virgem da Anunciação não permanece imóvel no seu genuflexório, com o livro entre as mãos, como a imaginaram muitos pintores. Atua em si mesma de acordo com a Palavra recebida, meditada, contemplada e rezada; atua na comunidade, nascida do amor de Jesus e da fé em Cristo ressuscitado; e tudo com assiduidade e em concórdia com os outros discípulos.
A atitude de Maria marca a primitiva comunidade e orienta-a para o uso dos meios que façam dela, o mais possível, comunidade do Senhor: a assiduidade ao "ensino dos Apóstolos", a "união fraterna", a "fração do pão", a oração e a partilha dos bens (cf. At 2, 42.44).
Os primeiros monges pretendiam viver este mesmo espírito que animou, primeiro a Maria e, depois, a comunidade de Jerusalém. Daí a importância que davam à escuta da Palavra, à oração, à Eucaristia, à partilha de bens, à união fraterna. O mesmo espírito deve animar as nossas atuais comunidades. Daí a necessidade de usar os mesmos meios.Oratio
Ó Maria, Mãe de Deus, Rainha e Mãe dos homens, eu vos ofereço as homenagens da minha veneração e do meu amor filial. Quero viver como vosso filho dedicado, consolando-vos e obedecendo-vos em tudo. Pela vossa poderosa intercessão, fazei que todos os meus pensamentos e ações sejam conformes à vossa vontade e à do vosso divino Filho. (Leão Dehon, OSP 4, p. 338).
Contemplatio
As orações dos santos são poderosas junto de Deus; e todavia não são mais do que as orações de servos. Mas as de Maria são orações de Mãe. Santo Antonino dizia: «a oração de Maria tem sobre o coração de Jesus a força de uma ordem». Também considera impossível que a divina Mãe peça ao Filho uma graça e que o Filho lhe recuse. «É impossível - dizia - que a Mãe não seja ouvida». É por isso que S. Bernardo nos exorta a pedir, por intercessão de Maria, todas as graças que desejamos alcançar de Deus. «Procuremos a graça - escreve - mas procuremo-la por Maria, porque ela é mãe; ela é sempre ouvida, e não pode obter uma recusa». Deste modo, vemos a imensa família dos cristãos recorrer a Maria como mãe amada e dedicada. Quem poderá contar os santuários, os altares, as imagens, as bandeiras, os escapulários, as imagens de Maria? A todo o momento, de todos os lugares da terra, se eleva um apelo filial: «Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores». E eu mesmo grito: «Augusta Mãe de Deus, rogai a Jesus por mim. Vede as misérias da minha alma, e tende piedade de mim. Sim, rogai e não cesseis jamais de rogar por mim, enquanto não me virdes no céu, seguro da minha salvação eterna. Ó Maria, sois a minha esperança, não me abandoneis». (Leão Dehon, OSP 4, p. 337).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores».
----Nossa Senhora do Rosário (07 Outubro)
Tempo Comum - Anos Ímpares - XXVII Semana - Quinta-feiraTempo Comum - Anos Ímpares - XXVII Semana - Quinta-feira
7 de Outubro, 2021Lectio
Primeira leitura: Malaquias 3, 13-20a
Tendes pronunciado palavras ofensivas contra mim - diz o Senhor. E, contudo, perguntais: 'Que temos nós dito contra ti?' 14E ainda vos interrogais: 'De que vale servir a Deus? Que lucrámos em ter observado os seus preceitos e em ter andado de luto diante do Senhor do universo? 15E agora temos de chamar ditosos aos arrogantes, pois eles fazem o mal e prosperam; põem Deus à prova e ficam impunes'. 16Assim falavam uns com os outros, aqueles que temem o Senhor. Mas o Senhor ouviu atento. Na sua presença foi escrito um livro de memórias: 'Dos que temem o Senhor e prezam o seu nome.' 17Eles serão meus, no dia em que Eu agir - diz o Senhor do universo. Terei compaixão deles, como um pai se compadece do filho que o serve. 18Então vereis de novo a diferença entre o justo e o ímpio, entre quem serve a Deus e quem não o serve. 19Pois, eis que vem um dia abrasador como uma fornalha. Todos os soberbos e todos os que cometem a iniquidade serão como a palha; este dia que vai chegar queimá-los-á - diz o Senhor do universo - e nada ficará deles: nem raiz, nem ramos. 20Mas, para vós que respeitais o meu nome, brilhará o sol de justiça, trazendo a cura nos seus raios.
É com esta disputa, entre Deus e o seu povo, que termina o livro de Malaquias, nome que significa «o meu mensageiro». O povo, com presunção e arrogância, acusa o Senhor, perguntando: «Que temos nós dito contra ti?» (v. 13). E Deus riposta: «E ainda vos interrogais: 'De que vale servir a Deus? Que lucrámos em ter observado os seus preceitos e em ter andado de luto diante do Senhor do universo?» (v. 14). É a eterna interrogação do homem sobre as razões das dificuldades dos justos e sobre as razões da prosperidade daqueles que vivem sem grandes preocupações morais. Deus responde que o nome dos justos está escrito no livro da vida, que eles são "propriedade" sua, sua herança. Sobre eles recairão, como orvalho matutino, as complacências divinas. Quando? Não certamente no momento em que as esperamos, mas «no dia em que Eu agir» (v. 17). No dia do Senhor, há-de manifestar-se a Sua justiça, no meio de todas as injustiças humanas. Será um dia tétrico, aterrador, um dia de purificação. O próprio Deus virá como fogo «abrasador como uma fornalha» (v. 19). «Os soberbos e todos os que cometem a iniquidade serão como a palha» (v. 19). Estas expressões não hão-de ser entendidas como referências ao inferno. Na altura em que foram escritas ainda não havia ideias sobre a vida além-túmulo. O prémio e o castigo ainda eram vistos numa perspectiva muito terrena. Mas, depois do «dia do Senhor», dia terrível, em que Deus irá agir, outro dia despontará
Evangelho: Lucas 11, 5-13
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 5«Se algum de vós tiver um amigo e for ter com ele a meio da noite e lhe disser: 'Amigo, empresta-me três pães, 6pois um amigo meu chegou agora de viagem e não tenho nada para lhe oferecer', 7e se ele lhe responder lá de dentro: 'Não me incomodes, a porta está fechada, eu e os meus filhos estamos deitados; não posso levantar-me para tos dar'. 8Eu vos digo: embora não se levante para lhos dar por ser seu amigo, ao menos, levantar-se-á, devido à impertinência dele, e dar-lhe-á tudo quanto precisar.» 9«Digo-vos, pois: Pedi e ser-vos-á dado; procurai e achareis; batei e abrir-se-vos-á; 10porque todo aquele que pede, recebe; quem procura, encontra, e ao que bate, abrir-se-á. 11Qual o pai de entre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma serpente? 12Ou, se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião? 13Pois se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que lho pedem!»
Depois de nos transmitir o «Pai nosso», a oração de Jesus, Lucas dá-nos alguns ensinamentos sobre a atitude interior com que havemos de nos dirigir a Deus, que é Pai e amigo do homem. Fá-lo com duas parábolas: a primeira é a do amigo importuno que, no meio da noite, vai pedir pão a outro amigo. A nota principal é a insistência de quem sabe bater ao coração (mais do que à porta) de um amigo, e a confiança em obter o que pede.
A segunda parábola usa coloridas imagens (peixe/serpente, ovo/escorpião) para aprofundar o conceito de «pai». O peixe, tal como o pão, é símbolo de Cristo; a serpente evoca o inimigo por excelência do homem (cf. Gn 3). O ovo é símbolo da vida, enquanto o escorpião, que tem veneno na cauda, simboliza a morte.
Os verbos fortemente correlativos entre eles (pedir/obter, procurar/achar, bater/abrir) ensinam-nos que a oração nunca é perda de tempo, ou desafio a um deus longínquo e surdo. A oração tem sempre resposta positiva. Mas precisa de ser perseverante (cf. Lc 18, 1).
A interrogação de Jesus, depois da segunda parábola, interpela fortemente a nossa sensibilidade. Sabemos que, por natureza, não somos bons. Mas o instinto paterno é tão forte que leva a corresponder positivamente aos pedidos dos filhos, dando-lhes o que é bom. O Espírito Santo é o Dom por excelência, que jamais será negado a quem O pedir.Meditatio
As leituras de hoje iluminam as dúvidas daqueles que, como os antigos hebreus, continuam a interrogar-se: «'De que vale servir a Deus? Que lucrámos em ter observado os seus preceitos e em ter andado de luto diante do Senhor do universo? 15E agora temos de chamar ditosos aos arrogantes, pois eles fazem o mal e prosperam; põem Deus à prova e ficam impunes'» (vv. 14s.). Que ganhamos em fazer o bem e em rezar? Afinal, parece que nada muda, que tudo continua como antes. Ainda por cima sentimo-nos olhados com ironia por tantos que acham essas actividades pura perda de tempo. O Novo Testamento, mais do que o Antigo, traz-nos respostas a essas dúvidas. Os cristãos sabem que Deus é Pai. Ora um pai, como ensina Jesus no evangelho de hoje, dá bom alimento ao seu filho: «Qual o pai de entre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma serpente? 12Ou, se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Pois se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que lho pedem!» (vv. 11-13). Há, pois, que aproximar-se do nosso Pai do céu com a simplicidade e a insistência das crianças. E tudo alcançaremos d´Ele! A última palavra de Jesus, «quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que lho pedem!», introduz no círculo fechado das nossas preocupações horizontais a linha recta que nos faz erguer o olhar, dá sentido, sustenta a coragem para continuar, ilumina com a própria beleza de Deus a fidelidade de cada dia. Com o Espírito Santo tudo é transformado e torn
ado possível. É possível convencer-nos de que é bom fazer o bem. É possível ultrapassar o sentido de inutilidade, sabendo que nada se perde. É possível sentir o gosto de invocar a Deus como Pai. É possível enfrentar as provações da vida humana, e da própria vida cristã. É possível não se fixar em resultados imediatos, na aprovação dos outros, mas confiar em Deus que tudo orienta para o bem. É possível orar sem se cansar, porque é assim que o Espírito vem a nós, trazendo o Reino e conduzindo-nos ao Reino.
Peçamos, pois a Jesus que nos obtenha do Pai o dom do Espírito Santo, e agradeçamos-Lhe por nos ter aberto um horizonte tão luminoso, pois nos ter dado a possibilidade de ir a Deus como a um Pai que nos ama e nos quer dar tudo.Oratio
Vem Espírito Santo! Enche o meu coração de fé e de confiança; mostra-me a verdade, para que não me deixe enganar pelas aparências; abre os meus olhos ao bem que tantos irmãos e irmãs vão fazendo silenciosamente neste mundo, tantas vezes dominado pelo barulho e pela prepotência de uns tantos; faz-me saborear a tua presença e alegrar-me com ela; mantém vivo em mim o desejo da vida eterna, na esperança do dia do Senhor; acende no meu coração o desejo de conhecer, amar e servir o Pai. Amen.
Contemplatio
É um laço de amizade e de doce intimidade. É a fonte de toda a alegria pura e verdadeira: Disse-vos isto para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa. É a fonte de vida, como a seiva para as árvores e torna-nos fecundos em frutos de salvação. Esta união abre-nos o Coração de Jesus e dispõe-o para nos conceder tudo o que lhe pedirmos: Pedi o que quiserdes e vos será dado. Atrai sobre nós graças de salvação e de bênção sobre os nossos trabalhos. Podemos conceber algo mais desejável do que esta união, do que este amor? Mas Nosso Senhor mesmo deseja dar-nos este amor, tem sede dos nossos corações, bate à nossa porta. Não o façamos esperar. Fez tudo para obter de nós um amor terno e solícito. Poderia encontrar no nosso amor uma compensação pela ingratidão e pela indiferença de muitas almas, disponhamo-nos então para recebermos plenamente o dom do seu amor. (Leão Dehon, OSP 3, p. 590s.).
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
«Mandai, Senhor, o vosso Espírito» (cf. Sl 104, 30) -
Tempo Comum - Anos Ímpares - XXVII Semana - Sexta-feira
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8 de Outubro, 2021Lectio
Primeira leitura: Joel 1, 13-15; 2, 1-2
Cingi-vos, sacerdotes, e chorai. Lamentai-vos, ministros do altar. Vinde, passai a noite vestidos de saco, ministros do meu Deus. Porque, da casa do vosso Deus, desapareceram as ofertas e libações. 14Ordenai um jejum, proclamai uma reunião sagrada. Reuni, anciãos, todos os habitantes do país na casa do Senhor, vosso Deus, e clamai ao Senhor. 15Ai que Dia! Pois o Dia do Senhor está próximo. E virá como a devastação da parte do devastador. 1Tocai a trombeta em Sião, elevai um clamor sobre o meu monte santo! Estremeçam todos os habitantes da terra porque se aproxima o Dia do Senhor! Ele está próximo! 2Dia de trevas e escuridão, dia de nuvens e sombras. Como a luz da aurora sobre os montes, assim se difunde um povo numeroso e forte, como nunca houve semelhante desde o princípio nem depois haverá outro, no decorrer dos séculos!
Sabemos muito pouco de Joel. O seu ministério pode situar-se entre 400 e 350 a. C. Trata-se de um sacerdote-profeta cultual que não entra em debates, nem religiosos nem políticos, que não sente necessidade de repreender, nem as autoridades nem o povo, pelas suas infidelidades a Deus. É um profeta que não grita nem ameaça. É um homem fiel ao serviço da casa de Deus, que exorta o povo à oração e à penitência. É o homem que intuiu os «últimos dias» caracterizados pela «efusão do espírito sobre toda a carne» e que mereceu o título de «profeta do Pentecostes».
Uma invasão de gafanhotos devastou o país, semeando destruição e morte. Os agricultores, que perderam os frutos do seu trabalho, andam acabrunhados. Mas o mesmo se passa com os sacerdotes «porque, da casa do vosso Deus, desapareceram as ofertas e libações» (v. 13). Vive-se um luto nacional! É preciso preparar uma liturgia penitencial, até porque a calamidade é vista como um aviso sobre a proximidade do «dia do Senhor», «dia de trevas e escuridão» (2, 2ª), que envolverá a própria natureza. A nuvem de gafanhotos, que encobria o sol, prefigurava esse dia espantoso, «como nunca houve semelhante desde o princípio nem depois haverá outro, no decorrer dos séculos» (2, 2b). A fúria devastadora do flagelo convida à reflexão, à oração, à conversão e à penitência. E Joel sabe aproveitar um fenómeno frequente na antiga Palestina para exercer o seu ministério.Evangelho: Lucas 11, 15-26
Naquele tempo, Jesus expulsou um demónio, 15mas alguns dentre eles disseram: «É por Belzebu, chefe dos demónios, que Ele expulsa os demónios.» 16Outros, para o experimentarem, reclamavam um sinal do Céu. 17Mas Jesus, que conhecia os seus pensamentos, disse-lhes:«Todo o reino, dividido contra si mesmo, será devastado e cairá casa sobre casa.
18Se Satanás também está dividido contra si mesmo, como há-de manter-se o seu reino? Pois vós dizeis que é por Belzebu que Eu expulso os demónios. 19Se é por Belzebu que Eu expulso os demónios, por quem os expulsam os vossos discípulos? Por isso, eles mesmos serão os vossos juízes. 20Mas se Eu expulso os demónios pela mão de Deus, então o Reino de Deus já chegou até vós. 21Quando um homem forte e bem armado guarda a sua casa, os seus bens estão em segurança; 22mas se aparece um mais forte e o vence, tira-lhe as armas em que confiava e distribui os seus despojos. 23Quem não está comigo está contra mim, e quem não junta comigo, dispersa.» 24«Quando um espírito maligno sai de um homem, vagueia por lugares áridos em busca de repouso; e, não o encontrando, diz: 'Vou voltar para minha casa, de onde saí.' 25Ao chegar, encontra-a varrida e arrumada. 26Vai, então, e toma consigo outros sete espíritos piores do que ele; e, entrando, instalam-se ali. E o estado final daquele homem torna-se pior do que o primeiro.»Neste texto, Lucas faz-nos entrar no mistério do encarniçamento da luta contra Jesus, não só por parte dos seus inimigos, mas também por parte de Satanás, o Adversário por excelência, aqui chamado Belzebu, termo de origem sírio-fenícia (de Beelzebul: "senhor do monte", ou de Beelzebub: "rei das moscas"). Jesus expulsou um demónio. Os inimigos insinuam que o prodígio foi operado pelo poder do próprio chefe dos demónios. Alguém até exige um milagre como «sinal do Céu» (v. 16) para confirmar o seu ser de Deus. É a habitual prova-tentação em que os inimigos de Jesus queriam também envolvê-l´O, mas que é contrária a um verdadeiro caminho fé.
Mas Jesus, «que conhecia os seus pensamentos» (v. 17), desarma-os com uma lógica inequívoca: como pode Satanás dar-lhe poder de combater os seus subalternos? Seria como se quisesse o desmoronamento do seu reino. Mais ainda: se a acusação contra Jesus fosse verdadeira, também poria em causa os exorcistas hebreus, - ironiza Jesus. Mas o centro da questão é colocado por Jesus a outro nível: se Ele expulsa demónios com o poder de Deus ("mão" indica poder: cf. Sl 8, 13) quer dizer que a sua presença equivale à presença do Reino no meio deles (cf. 11, 17-26).
Segue a parábola do homem forte e do «mais forte» que evidencia a vitória de Cristo sobre Satanás. Em relação a Jesus, não há espaço para neutralidade. Ou se está com Ele e se recolhe para a vida que dura, ou se está contra Ele e se perde todo o verdadeiro bem. Note-se também o apelo à vigilância. Satanás não descansa, nem se dá por vencido. Onde vê a casa «varrida e arrumada» (v. 24), isto é, a pessoa decidida a seguir a Cristo, lança um ataque totalitário (expresso pelo número 7: v. 26) porque, por inveja (cf. Sab 2, 24), anseia pela ruína do homem.Meditatio
O evangelho de hoje leva-nos a meditar sobre o mistério da luta de Jesus contra o Demónio. Os Padres do Deserto davam grande importância a essa luta, que se prolonga na vida dos cristãos. Apesar do cepticismo difuso na nossa sociedade, que se considera evoluída, o Demónio continua presente e actuante no mundo, muito mais do que se possa pensar. A sua força, assenta na estratégia de se fazer esquecer e em aparecer sob formas mais sedutoras e tranquilizantes. Conhecendo bem as suas presas, lança os seus ataques a partir das realidades a que são mais sensíveis. Ceder é abrir brechas a partir das quais se tornam mais fáceis os seus assaltos. Por isso, há que combatê-lo corajosamente, usando as armas da oração, da memória perene da Palavra do Senhor e das suas Promessas, da penitência, com uma grande humildade, que leva a pôr toda a confiança na Graça e a permanecer vigilantes para não sermos surpreendidos. Somos chamados a combater um adversário mais poderoso do que nós, mas com uma arma de que só nós podemos dispor, o Espírito Santo. Com o
Espírito do Senhor seremos sempre mais fortes do que Belzebu, que, diante de nós, não passará de "um pobre diabo", acabando por ser vencido.
Pelo seu Espírito, Jesus Cristo une-nos ao seu combate, para cooperarmos com sucesso na luta contra o mal quer serpeia pelo mundo, e participarmos na vitória, por mais demorada que seja.
A presença do Demónio leva-nos a meditar sobre a dramaticidade da existência cristã, sobre o poder do mal, sobre a vitória de Cristo, sobre a necessidade de estarmos do Seu lado e cerrarmos fileiras, pois o combate espiritual é parte essencial do itinerário do discípulo de Cristo.
Que Cristo se torne o dono da nossa casa, e nós deixemos cair os nossos pensamentos, as nossas preferências, os nossos caprichos, para acolhermos sempre os seus desejos.Oratio
Senhor Jesus Cristo, que combateste com decisão e persistência o espírito do mal, tem compaixão de mim, teu discípulo fraco, tantas vezes assustado e medroso. Sabes quão frequentes e fortes são os assaltos do maligno! Está comigo, eu to suplico, na hora da tentação. Infunde em mim o teu Espírito Santo, que me fortaleça e ilumine, que me ajude a discernir o bem do mal, nas ambiguidades e incertezas da vida. Em todas as circunstâncias, particularmente nas horas de sofrimento e de luta, quero invocar o teu nome. Contigo a meu lado, ninguém poderá atingir-me. Invocando o teu nome, a vitória será certa. Amen.
Contemplatio
Toda a vida de Nosso Senhor foi um combate contra Satanás, cujo império vinha destruir; mas o Evangelho assinala-nos duas circunstâncias principais desta luta, no começo e no fim do seu ministério público. Na primeira destas lutas, Satanás procurou seduzi-lo pela atracção da tríplice concupiscência, pelas seduções da sensualidade, da vanglória e da ambição. Na segunda, procurou abatê-lo com o medo e os terrores da morte. Foi da queda de Adão, seduzido pelo demónio, que saíram o mal e o pecado; era da vitória de Nosso Senhor que deviam sair a reparação e a salvação. Ele quis particularmente, na sua tentação do Jordão, ensinar-nos a arte dos combates espirituais e merecer-nos a vitória. Quis mostrar-nos o segredo da força, que é o amor. Vede em que condições avança para enfrentar as tentações: Cheio de Espírito Santo (S. Lucas); conduzido pelo Espírito (S. Marcos). O seu Coração está cheio do amor do seu Pai, esta é a sua força. Notai as suas respostas ao demónio, são todas tiradas da Escritura, porque Ele se alimenta da palavra do seu Pai bem amado e nada mais procura do que a sua vontade. Satanás propõe-lhe mudar as pedras em pão para matar a sua fome; mas Ele tinha empreendido este jejum para fazer a vontade do seu Pai e levá-lo-á até ao fim sem nada alterar. Reserva-se fazer milagres para manifestar aos homens a sua missão divina e não para a sua própria utilidade. O demónio propõe-lhe em seguida de se atirar do alto do templo contando no socorro divino, mas Ele responde que nós não devemos tentar a Deus e colocar a sua omnipotência ao serviço da nossa própria vontade. Satanás propõe-lhe, finalmente, dar-lhe todos os reinos do mundo se quiser adorá-lo; mas Jesus responde-lhe que só tem uma lei e um cuidado, que é de adorar o seu Pai. O amor do seu Pai é a sua luz e a sua força. (Leão Dehon, OSP 3, p.216s.)
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
«O Reino de Deus está no meio de nós» (cfr. Lc 11, 20). -
Tempo Comum - Anos Ímpares - XXVIII Semana - Segunda-feira
Tempo Comum - Anos Ímpares - XXVIII Semana - Segunda-feira
11 de Outubro, 2021Lectio
Primeira leitura: Romanos 1, 1-7
Paulo, servo de Cristo Jesus, chamado a ser Apóstolo, escolhido para anunciar o Evangelho de Deus, 2que Ele de antemão prometera por meio dos seus profetas, nas santas Escrituras, 3acerca do seu Filho, nascido da descendência de David segundo a carne, 4constituído Filho de Deus em poder, segundo o Espírito santificador pela ressurreição de entre os mortos, Jesus Cristo Senhor nosso; 5por Ele recebemos a graça de sermos Apóstolos, a fim de, em honra do seu nome, levarmos à obediência da fé todos os gentios, 6entre os quais estais também vós, chamados a ser de Cristo Jesus; 7a todos os amados de Deus que estão em Roma, chamados a ser santos: graça e paz a vós, da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo!
A Carta aos Romanos, que hoje começamos a escutar, provavelmente escrita no Inverno de 57-58, tem uma importância histórica idêntica ao longo e doloroso processo de desenraizamento que sofreu o próprio Paulo. Para o Apóstolo, não foi fácil mudar de ideias quanto aos privilégios do povo judeu e à centralidade de Jerusalém. A Carta aos Romanos, por sua vez, significa a ruptura definitiva com a ideia de uma aliança entre o Templo de Jerusalém e as simples assembleias eucarísticas, e marca a constituição do novo Povo de Deus, da Igreja verdadeiramente ecuménica. Tanto Pedro, como Paulo, perceberam bem cedo a importância de fazer de Roma, capital do Império, o centro da difusão do Evangelho, inicialmente feita a partir de Jerusalém.
Paulo apresenta-se dando-nos o sentido e o valor da missão que lhe foi confiada pelo Ressuscitado, com Quem se encontrou no caminho de Damasco. No centro da sua vida e da sua missão, está Jesus, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, Filho de David e Filho de Deus, ressuscitado mas idêntico ao Jesus de Nazaré. Foi d´Ele que Paulo recebeu a missão de pregar o Evangelho, a "Boa Notícia" que vem de Deus e se refere a Jesus, o Cristo, morto e ressuscitado para salvação de todos. A graça e a paz, que o Apóstolo deseja aos seus leitores resumem esse Evangelho, de quem Paulo se reconhece, com agrado, servo e arauto.Evangelho: Lucas 11, 29-32
Naquele tempo, como as multidões afluíssem em massa à volta de Jesus, Ele começou a dizer:«Esta geração é uma geração perversa; pede um sinal, mas não lhe será dado sinal algum, a não ser o de Jonas.
30Pois, assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim o será também o Filho do Homem para esta geração. 31A rainha do Sul há-de levantar-se, na altura do juízo, contra os homens desta geração e há-de condená-los, porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão; ora, aqui está quem é maior do que Salomão! 32Os ninivitas hão-de levantar-se, na altura do juízo, contra esta geração e hão-de condená-la, porque fizeram penitência ao ouvir a pregação de Jonas; ora, aqui está quem é maior do que Jonas.»Jesus prossegue a viagem para Jerusalém, onde vai consumar o seu mistério pascal. Lucas põe-lhe na boca uma série de ensinamentos, exortações, respostas e repreensões. No texto de hoje, Jesus repreende uma multidão desse povo de cabeça dura, que tem dificuldade em acolher a Palavra de Deus. O povo pede sinais que garantam a autenticidade daquele Messias. Que sinal? Esta multidão é muito semelhante aos ninivitas que não eram capazes de distinguir a mão direita da mão esquerda; é muito semelhante aos pagãos, que há pouco chegaram à fé, e aos quais Lucas se dirige; é muito semelhante a nós, que andamos sempre à busca de coisas extraordinárias e imediatas.
Jesus responde falando de juízo e de condenação. Mas, ao lembrar a salvação de Jonas, símbolo da sua morte e ressurreição, Jesus acentua a misericórdia salvífica de Deus. Essa misericórdia foi oferecida aos ninivitas em troca da sua conversão, e à rainha do Sul pela busca generosa da sabedoria. Aos Judeus e Gregos é pedido um espírito aberto: «Felizes os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática» (Lc 11, 28). Esta bem-aventurança contrasta ainda mais com as palavras de juízo e de condenação. Só é julgado e condenado quem recebeu o tesouro da palavra revelada e, permanecendo escravo de uma falsa fidelidade à Lei, não sabe reconhecer os sinais da presença do Salvador. São também para quem não sabe aceitar a dura linguagem da cruz e não ousa esperar a ressurreição.Meditatio
Começamos hoje a escutar a Carta aos Romanos escrita por Paulo, em Corinto, no Inverno de 57-58, quando se preparava para ir a Jerusalém levar as ofertas recolhidas para os pobres. Por essa mesma altura, o Apóstolo projecta ir a Roma e mesmo à Espanha. Na capital do Império, havia uma comunidade cristã iniciada, não sabemos como nem quando, mas antes da vinda de Pedro e de Paulo. Paulo desejava ardentemente conhecer essa comunidade, a quem se dirige com solenidade na carta que lhe escreve. O muito que tem a dizer parece sair-lhe da pena sob pressão, de modo que não é fácil ler e entender o texto. De qualquer modo, notamos o seu orgulho em ser apóstolo de Jesus Cristo: «Paulo, servo de Cristo Jesus, chamado a ser Apóstolo, escolhido para anunciar o Evangelho de Deus» (v. 1). Desde que se encontrou com o Senhor, no caminho de Damasco, Paulo já não pode pensar em si mesmo sem ser em relação com Ele. Sente-se "servo" e "apóstolo" de Cristo Jesus, enviado a pregar o Evangelho. O Apóstolo orgulha-se da sua missão e está impaciente por anunciá-lo no mundo inteiro, para que todos os homens possam chegar à obediência da fé, a reconhecer em Jesus Cristo o Enviado do Pai para nossa salvação.
O evangelho falo-nos de um outro enviado, Jonas, o pequeno profeta que não queria pregar aos ninivitas, e que não se apercebeu que era tão importante para o Senhor, para aquele Deus que o perseguia de um lado ao outro do mar, e nas próprias profundidades do abismo. E todavia, o caprichoso arauto da conversão dos ninivitas tem a honra de se tornar o "sinal" por excelência oferecido à «geração perversa» (v. 29), que há em todos nós, o sinal do Crucificado-Ressuscitado, descido, em solidariedade para com os pecadores, às profundidades do inferno. Jesus permanece aí para demonstrar até que ponto somos amados. Doravante não há "lugar" que esteja privado da sua presença amorosa, não há solidão que não seja habitada pela sua proximidade. Abrir-nos a esse dom é fonte de felicidade e faz-nos missionários entre os irmãos.
Tal como aconteceu com Paulo, é impensável que alguém, que tenha encontrado a Cristo, não arda no desejo do O anunciar. E, todavia, dando por adquirida a novidade da vida cristã, é fácil encerrá-la nos nossos pre
conceitos que nos tornam, como Jonas, juízes de Deus e dos seus desígnios. O Senhor Jesus, misericórdia do Pai, ergue no nosso coração o sinal da sua cruz, para que, vencidos pelo seu amor, nos tornemos seus arautos jubilosos entre os irmãos. Como Paulo, havemos de nos orgulhar da vocação a que fomos chamados.
A nossa experiência de fé, como dehonianos, é apresentada no n. 9 das Constituições, na sua dimensão carismática, como um "dom" recebido, para anunciar a Cristo, para O testemunhar, num mundo cada vez mais marcado pelo secularismo (cf. Rm 10, 9-11). Somos chamados a proclamar «Cristo Senhor» por meio do Espírito, vivendo a fé na caridade. Assim confessamos, com a nossa vida, que «Deus é amor» (1Jo 4, 16) e que nós «reconhecemos e acreditamos» (1Jo 4, 16; Cst n. 9) nesse amor. Assim nos tornamos «profetas do amor» e servidores da reconciliação» (Cst 7).Oratio
Senhor Jesus Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, Tu és o centro da minha vida e da minha missão, tal como o fostes para o teu apóstolo Paulo, porque, nascido da descendência de David, fostes constituído Filho de Deus em poder, segundo o Espírito santificador pela ressurreição de entre os mortos. É fundado em Ti que hei-de dar a minha colaboração para que todos cheguem à obediência da fé e experimentem o amor do Pai que nos vem em Ti e por Ti. Obrigado, Senhor, por me teres amado e reconciliado. Obrigado por me teres chamado a anunciar a Boa Notícia aos irmãos. Amen.
Contemplatio
(S. Paulo Tinha) um temperamento que era todo fogo; o seu grande zelo tornou-o o perseguidor mais violento do nome de Jesus Cristo. Encoraja os carrascos de Santo Estêvão. Encarrega-se de mandar deter e encarcerar em Jerusalém os cristãos e as cristãs. Aplaude as torturas que se lhes aplicam. Parte depois para Damasco onde vai desempenhar a mesma função, mas aí era já a graça que o esperava. Releiamos o relato tocante desta conversão. Aproximavam-se de Damasco, ele e a sua comitiva. Uma luz, um relâmpago mais brilhante do que o sol os encandeou e os atirou ao chão. Saulo ouviu estas palavras: Saulo, Saulo, porque me persegues? Ele respondeu: Quem sois vós, Senhor? E o Senhor disse-lhe: Eu sou Jesus a quem tu persegues... Saulo disse: Senhor, que quereis que eu faça? Jesus disse-lhe: Levanta-te, entra na cidade, ser-te-á dito o que tens de fazer. Quero estabelecer-te ministro e testemunha daquilo que viste. Enviar-te-ei aos gentios para lhes abrires os olhos, para os converter das trevas à luz. Pela fé, obterão a remissão dos seus pecados e terão parte na herança dos santos. Saulo levantou-se imediatamente, já não via nada, fez-se conduzir a Damasco para aí receber as ordens de Deus. Passou três dias em jejum e em oração. O sacerdote Ananias foi advertido por Deus para ir procurá-lo. Ide ter com ele, dizia-lhe o Senhor, é um homem que escolhi para levar o meu nome diante das nações e dos reis e diante dos filhos de Israel; e hei-de mostrar-lhe quanto tem de sofrer pelo meu nome. Ananias impôs as mãos a Saul que recuperou a vista e ficou cheio do Espírito Santo, depois conferiu-lhe o baptismo. Que belos exemplos! Que simplicidade a de Saulo. Era perseguidor, mas era homem de boa fé. Julgava fazer bem. O Senhor detém-no, ele responde: Senhor, que quereis que eu faça? Eis a regra de toda a conversão e de toda a santidade. Procuremos sempre o que Deus pede de nós. Ora nos fala através de um acontecimento providencial, ora nos conduz por vias ordinárias, pela direcção do sacerdote. É aí que é necessário sempre voltar. S. Paulo pede a Deus o que é necessário fazer, mas Deus envia-o ao sacerdote. Vai à cidade, diz-lhe, ser-te-á dito o que é necessário que faças. Vamos sempre com confiança ao nosso confessor e director, ele tem a graça para nos conduzir. É o instrumento da vontade divina. (Leão Dehon, OSP 3, p. 89s.)
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Por Cristo, recebemos a graça de sermos Apóstolos» (Rm 1, 5) -
Tempo Comum - Anos Ímpares - XXVIII Semana - Terça-feira
Tempo Comum - Anos Ímpares - XXVIII Semana - Terça-feira
12 de Outubro, 2021Lectio
Primeira leitura: Romanos 1, 16-25
Irmãos: eu não me envergonho do Evangelho, pois ele é poder de Deus para a salvação de todo o crente, primeiro o judeu e depois o grego. 17Pois nele a justiça de Deus revela-se através da fé, para a fé, conforme está escrito: O justo viverá da fé. De facto, a ira de Deus, vinda do céu, revela-se contra toda a impiedade e injustiça dos homens que, com a injustiça, reprimem a verdade. 19Porquanto, o que de Deus se pode conhecer está à vista deles, já que Deus lho manifestou. 20Com efeito, o que é invisível nele - o seu eterno poder e divindade - tornou-se visível à inteligência, desde a criação do mundo, nas suas obras. Por isso, não se podem desculpar. 21Pois, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram nem lhe deram graças, como a Deus é devido. Pelo contrário: tornaram-se vazios nos seus pensamentos e obscureceu-se o seu coração insensato. 22Afirmando-se como sábios, tornaram-se loucos 23e trocaram a glória do Deus incorruptível por figuras representativas do homem corruptível, de aves, de quadrúpedes e de répteis. 24Por isso é que Deus, de acordo com os apetites dos seus corações, os entregou à impureza, de tal modo que os seus próprios corpos se degradaram. 25Foram esses que trocaram a verdade de Deus pela mentira, e que veneraram as criaturas e lhes prestaram culto, em vez de o fazerem ao Criador, que é bendito pelos séculos! Ámen.
Paulo enuncia o tema da sua carta: «O Evangelho é poder de Deus para a salvação de todo o crente, primeiro o judeu e depois o grego» (v. 16). O êxito da sua missão de evangelizador não depende a argumentação que usa, mas do «poder de Deus». Com efeito, no Evangelho, revela-se a justiça de Deus, que tem origem na fé e conduz à fé, como está escrito: «O justo viverá da fé» (v. 17). O Apóstolo sente-se no dever de aprofundar e proclamar a "Boa Nova", segundo a qual Deus quer salvar a todos pelo dom da fé. Paulo não se envergonha desse Evangelho. Orgulha-se dele e transmite-o narrando a sua própria experiência, no caminho de Damasco. Aí experimentou fortemente o poder do amor de Deus que salva.
Além da apresentação do tema, encontramos nesta página um seu primeiro desenvolvimento: o projecto de Deus já se revelou na história de Jesus de Nazaré, e revela-se, cada dia, na história da humanidade. Se, aqui, Paulo descreve uma situação muito negativa da humanidade, em breve falará da salvação oferecida por Cristo a todos.Evangelho: Lucas 11, 37-41
Naquele tempo, depois de Jesus ter acabado de falar, um fariseu convidou-o para almoçar na sua casa; Ele entrou e pôs-se à mesa. 38O fariseu admirou-se de que Ele não se tivesse lavado antes da refeição. 39O Senhor disse-lhe: «Vós, os fariseus, limpais o exterior do copo e do prato, mas o vosso interior está cheio de rapina e de maldade. 40Insensatos! Aquele que fez o exterior não fez também o interior? 41Antes, dai esmola do que possuís, e para vós tudo ficará limpo.
Em casa de um fariseu, Jesus continua o discurso sobre a honestidade de pensamento e sobre a pureza das intenções. Jesus fala e comporta-se com total liberdade, parecendo mesmo provocar o espanto e o desprezo do fariseu. Atira-se contra o formalismo e a vaidade de quem se pensa justo só porque cumpre pontualmente os ritos.
A propósito da purificação do copo e do prato, Jesus fala da pureza do coração do homem. A higiene evangélica exige a exclusão da ganância e do egoísmo, que geram «rapina e maldade» (v. 39). O que garante a pureza do coração é a caridade. Da caridade vem a generosidade, que sabe dar esmolas, quando reconhece ter recebido tudo de Deus (v. 41). Confronte o texto paralelo de Mateus (7, 15.21-23), onde Jesus dá mais explicações sobre a pureza do coração.Meditatio
É espantoso lermos que o «Evangelho é poder de Deus para a salvação de todo o crente» (v. 16). Como pode uma palavra ser poder? Nós acreditamos pouco em palavras. Mas o Evangelho é uma palavra especial, que encerra o poder de Deus. Muitas vezes recebemo-lo como uma qualquer palavra que nos incita a pôr todas as nossas forças ao serviço de um trabalho, de um projecto, de uma acção, como quando escutamos: "faz isto", "faz aquilo". Estas palavras não nos dão a força de fazer o que nos é mandado. Ora, com o Evangelho, é diferente. A palavra evangélica é poderosa, e havemos de recebê-la como uma força e não apenas como uma ordem. O Evangelho transmite a fé. E toda a nossa vida é baseada na fé. A nossa força vem-nos da fé e não da confiança que temos em nós mesmos. Pela fé, abrimo-nos ao poder de Deus e fundamos a nossa vida na graça, que nos é dada gratuitamente, e não por causa das nossas obras.
Paulo, no texto que hoje escutamos, anuncia-nos a salvação pela fé: «Deus revela-se através da fé, para a fé, conforme está escrito: O justo viverá da fé» (v. 17). O que vem depois está de acordo com este anúncio de Paulo. O Apóstolo escreveu que a justiça de Deus, a que salva, se revela no Evangelho a quem crê (cf. Rm 1, 17). Depois acrescentou: «a ira de Deus, vinda do céu, revela-se contra toda a impiedade e injustiça dos homens» (v. 17). Fica, assim, anunciada a tese que seguidamente irá desenvolver para demonstrar a necessidade do Evangelho, «poder de Deus».
A humanidade, enredada no pecado, mereceu a ira de Deus. Mas Deus estabeleceu um meio de salvação: a fé em Cristo, e não as obras do homem corrompidas pelo pecado. A missão de Paulo, e de todos os apóstolos, é pregar a fé e, por isso, a salvação como dom gratuito de Deus, como graça.
No evangelho de hoje, Jesus anuncia o mesmo: é preciso mudar de mentalidade, converter-se. É preciso passar de uma religião de pureza exterior a uma religião interior de misericórdia, de humildade, de comunhão. O fariseu, que convidou Jesus para a sua mesa, pôs-se a julgá-lo porque não lavou as mãos antes de começar a comer. Não se tratava de um gesto de higiene, mas de uma prática que pretensamente garantia a pureza diante de Deus. Jesus afasta essa ideia de religião e de pureza, afirmando que o essencial é a pureza interior: «Vós, os fariseus, limpais o exterior do copo e do prato, mas o vosso interior está cheio de rapina e de maldade» (v. 39). O homem pode purificar o exterior, mas não o coração. Só a graça de Deus o pode fazer. Há, pois, que renunciar à pretensão de nos salvarmos a nós mesmos, com as nossas obras. A únicas atitudes que nos salvam são colocar-nos humildemente diante de Deus e, ao mesmo tempo, usar de misericórdia e de benevolência para com os outros. Deus oferece
a sua graça a quem está disposto a tornar-se graça para os outros.
É pela fé que Cristo habita nos nossos corações, enraizando-nos e fundando-nos no amor. Assim podemos compreender, com todos os Santos, qual é a largura e o comprimento, a altura e a profundidade do amor de Cristo. Assim, podemos conhecer, experimentar esse amor que excede todo o conhecimento, para sermos repletos da plenitude de Deus, isto é, para nos tornarmos santos e sermos salvos (cf. Ef 3,17-19).Oratio
Senhor, ajuda-me a compreender a minha condição diante de Ti, para que jamais atribua a mim mesmo o que é apenas teu, para que reconheça que tudo recebi das tuas mãos generosas e misericordiosas. Diante de Ti sou pequeníssimo, e é bom para mim, que sejas glorificado na minha pobre pessoa. Que eu saiba diminuir aos meus próprios olhos, para que possa crescer em Ti, e Tu cresças em mim. Que eu Te conheça, que eu Te acolha, para que experimente o teu amor salvador, para que possas crescer em mim, e tornar-te dom de salvação em mim e, por mim, nos irmãos. Amen.
Contemplatio
S. Paulo ensina-nos que Jesus Cristo habita nos nossos corações pela fé (cf. Ef 3). A fé é o primeiro desabrochar da graça numa alma, «Ela abre a porta do nosso coração a Nosso Senhor, diz Santo Ambrósio, e vem nele habitar». Para formar em nós uma fé viva, habituemo-nos a observar o Coração de Jesus e de Maria em tudo o que fazemos. Não tenhamos outro objectivo em vista nos nossos exercícios de piedade. Esforcemo-nos por imitá-lo, recordemo-nos das suas virtudes e dos seus mistérios, esforcemo-nos por nos revestirmos das suas divinas intenções, das suas disposições admiráveis. Mas não é tudo, formar o Coração de Jesus e de Maria no nosso espírito pela fé, pela recordação dos seus mistérios, pela imitação das suas virtudes; é preciso também formá-lo no nosso coração pelo frequente exercício do seu amor. «A fé planta Jesus Cristo em nós, diz S. Gregório Grande; mas somente a caridade, somente a fidelidade do amor faz crescer esta árvore divina que, na terra do nosso coração, produz abundantes frutos para o paraíso. Jesus introduz-se na alma pelo baptismo e pela graça da fé, começa aí um trabalho de formação e de desenvolvimento semelhante ao da criança no seio de sua mãe. Toma, destrói, absorve tudo o que vê em nós de corruptível (cf. 2Cor 5), preenchendo pelo dom celeste da graça e preenchendo assim ele mesmo os vazios que faz em nós; laborioso trabalho da vida cristã, da piedade e da perfeição, que tem por objecto único a formação de Jesus em nós: até que Cristo seja formado em nós (Gal 4). (Leão Dehon, OSP 3, p. 518).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«O justo viverá da fé» (Rm 1, 17). -
Tempo Comum - Anos Ímpares - XXVIII Semana - Quarta-feira
Tempo Comum - Anos Ímpares - XXVIII Semana - Quarta-feira
13 de Outubro, 2021Lectio
Primeira leitura: Romanos 2, 1-11
Não tens desculpa tu, ó homem, quem quer que sejas, que te armas em juiz. É que, ao julgares o outro, a ti próprio te condenas, por praticares as mesmas coisas, tu que te armas em juiz. 2Ora nós sabemos que o julgamento de Deus se guia pela verdade contra aqueles que praticam tais acções. 3Cuidas, então - tu, ó homem que julgas os que praticam tais acções e fazes o mesmo - que escaparás ao julgamento de Deus? 4Ou não estarás tu a desprezar as riquezas da sua bondade, paciência e generosidade, ao ignorares que a bondade de Deus te convida à conversão? 5Afinal, com a tua dureza e o teu coração impenitente, estás a acumular ira sobre ti, para o dia da ira e do justo julgamento de Deus, 6que retribuirá a cada um conforme as suas obras: 7para aqueles que, ao perseverarem na prática do bem, procuram a glória, a honra e a incorruptibilidade, será a vida eterna; 8para aqueles que, por rebeldia, são indóceis à verdade e dóceis à injustiça, será ira e indignação. 9Tribulação e angústia para todo o ser humano que pratica o mal, primeiro judeu e depois grego! 10Glória, honra e paz para todo aquele que pratica o bem, primeiro para o judeu e depois para o grego! 11É que em Deus não existe acepção de pessoas.
A situação da humanidade é negativa. Judeus e Gregos são culpados diante de Deus. Nós próprios somos culpados. Mas, como é que Deus olha para esta situação da humanidade de que fazemos parte? Deus, no seu julgamento, guia-se «pela verdade». Nós, como os Judeus, guiamo-nos por outros critérios. Por isso, como eles, corremos o risco de ser condenados. Diante de Jesus Cristo, os Judeus não souberam reagir de modo positivo e acolhedor. O excessivo apego às suas tradições mão lhes permitiu darem-se conta da grande novidade de Deus feito homem. O juízo de Deus é segundo a verdade, e não pode ser condicionado pelo nosso modo de julgar, nem pela situação de pecado verificada. Deus reserva a salvação para aqueles que «ao perseverarem na prática do bem, procuram a glória, a honra e a incorruptibilidade» (v. 7). A motivação disso é que «em Deus não existe acepção de pessoas» (v. 11).
Evangelho: Lucas 11, 42-46
Naquele tempo, disse o Senhor: Ai de vós, fariseus, que pagais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as plantas e descurais a justiça e o amor de Deus! Estas eram as coisas que devíeis praticar, sem omitir aquelas. 43Ai de vós, fariseus, porque gostais do primeiro lugar nas sinagogas e de ser cumprimentados nas praças! 44Ai de vós, porque sois como os túmulos, que não se vêem e sobre os quais as pessoas passam sem se aperceberem!» 45Um doutor da Lei tomou a palavra e disse-lhe: «Mestre, falando assim, também nos insultas a nós.» 46Mas Ele respondeu:«Ai de vós, também, doutores da Lei, porque carregais os homens com fardos insuportáveis e nem sequer com um dedo tocais nesses fardos!
Jesus pronuncia dois «ai de vós» contra os fariseus, os mais observantes e comprometidos, e contra os doutores, encarregados de ensinar e guiar os outros pelos caminhos de Deus. Estigmatizou os que querem sinais para acreditar, desmascarou os corações hipócritas e, agora, dirige palavras duras contra aqueles que aproveitam as suas prerrogativas de cultura e de autoridade para se envaidecerem e oprimirem os outros. São como túmulos disfarçados, cheios de podridão (cf. Mt 23, 27), capazes de contaminar - de acordo com a Lei - aqueles que sobre eles passam.
Ironicamente, Lucas põe na boca de um doutor a observação: «Mestre, falando assim, também nos insultas a nós» (v. 45). A resposta de Jesus revela a sua tristeza pela atitude defensiva de quem, querendo salvaguardar a própria imagem, não consegue dar-se conta da mesquinhez da sua realidade, nem enxergar o que é verdadeiramente essencial: «a justiça e o amor de Deus».Meditatio
A Palavra de Deus é sempre viva e eficaz. Mas há momentos em que ela parece encarniçar-se para pôr diante dos nossos olhos o nosso pecado. As palavras de Paulo são duras: ninguém tem o direito de se gloriar diante de Deus. O Apóstolo dirige-se àqueles que farisaicamente se julgam justos, e pensam não precisar da misericórdia de Deus. Andam iludidos, e essa ilusão vem-lhes do hábito de julgar os outros: «Cuidas, então - tu, ó homem que julgas os que praticam tais acções e fazes o mesmo - que escaparás ao julgamento de Deus?» (v. 3).
É realmente uma ilusão comum julgar-se justos, ou por causa do permissivismo que tudo invade, ou porque julgamos os outros. O "todos fazem assim" não é um critério de moralidade para quem quer seguir a Cristo. O fazer-se juiz dos outros também não nos livra de sermos julgados. Quando vemos alguém errar, facilmente pensamos que, no seu lugar, faríamos melhor. Na verdade, uma coisa é julgar e outra é fazer. Provavelmente, no lugar do irmão que julgamos, faríamos pior. É o que infelizmente acontece, tantas vezes, no campo moral, espiritual. Quem julga, ainda que em algumas coisas tenha razão, erra gravemente pelo simples facto de julgar, porque, como diz Jesus, descuida o mais importante, que é a justiça e o amor. Quem julga os outros, separa-se deles, pondo-se numa situação de egoísmo e de orgulho. Por isso, não pode agradar a Deus. «Não tens desculpa tu, ó homem, quem quer que sejas, que te armas em juiz. É que, ao julgares o outro, a ti próprio te condenas», afirma o Apóstolo (v. 1).
Colocar-se, com humildade e verdade, diante da misericórdia de Deus, é o único caminho de salvação. Judeus e Gregos, cristãos e pagãos, pecadores e justos, devem acolher a graça de Deus, gratuitamente oferecida a todos.
Para viver a fraternidade, na comunidade, havemos de pôr em prática os ensinamentos de Jesus: «Sede misericordiosos, como é misericordioso o vosso Pai. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e ser-vos-á perdoado; dai e ser-vos-á dado; uma boa medida..., porque a medida que empregardes com os outros será usada convosco» (Lc 6, 36-38). Não leiamos superficialmente estas palavras de Jesus. Reflictamos bem sobre elas. Se as pusermos em prática, com a ajuda do Espírito Santo, experimentaremos uma profunda serenidade interior, seremos criaturas de paz, de alegria, de bondade e de mansidão.Oratio
Pai santo, faz-me compreender que «basta ser homem para ser um pobre homem». Ajuda-me a não cair no erro dos fariseus, que se julgavam justos por cumprirem exteriormente a lei, que andavam cheios de si mesmos, pensando não precisar de ninguém, nem sequer de Ti. Só a tua imensa misericórdia me pode salvar. E salva-me em Jesus, teu Filho, morto e ressuscitado. Com a graça, que por Ele, me ofereces, quero viver a lei com as atitudes humanas suger
idas pelo Evangelho, nomeadamente a humildade na relação Contigo e com os meus irmãos. Amen.Contemplatio
A oração é tão necessária! É certo que a graça não se obtém, segundo o curso ordinário da Providência, senão pela oração, e sem a graça nós não podemos fazer nada de meritório para o céu. - E porque é que rezamos tão pouco? É, em primeiro lugar, porque não estamos bastante convencidos da nossa fraqueza extrema, da nossa pobreza espiritual, da nossa miséria profunda; é porque não estimamos bastante os bens da graça; é porque duvidamos da verdade das promessas de Nosso Senhor, que disse que tudo o que pedíssemos em seu nome nos seria concedido. Oh! Rezemos com Jesus e como Jesus! Como os apóstolos, unamos as nossas orações às de Maria: perseveravam na oração em união com Maria, Mãe de Jesus (Act 1). Se quereis um advogado junto de Jesus, recorrei a Maria, diz-nos S. Bernardo. Ó vida de orações e de santos desejos, como sois pouco estimada, pouco amada, pouco praticada! Ó doçura da oração, poder da oração, riquezas da oração, como sois pouco conhecidas! As nossas orações mal feitas tornam-se fastidiosas e permanecem ineficazes. Voltemos ao fervor de outros tempos. Um coração amoroso por Deus e pelo próximo reza com fervor. Rezemos pela nossa salvação, pelo nosso progresso, por tantos pecadores que não pensam sequer em apaziguar a justiça de Deus, por tantos pobres idólatras, tantos infortunados hereges, tantos miseráveis de todo o género, que são nossos irmãos. (Leão Dehon, OSP 3, p. 12s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Todos pecaram e estão privados da glória de Deus» (Rm 3, 23) -
Tempo Comum - Anos Ímpares - XXVIII Semana - Quinta-feira
Tempo Comum - Anos Ímpares - XXVIII Semana - Quinta-feira
14 de Outubro, 2021Lectio
Primeira leitura: Romanos 3, 21-30a
Irmãos: foi sem a Lei que se manifestou a justiça de Deus, testemunhada pela Lei e pelos Profetas: 22a justiça que vem para todos os crentes, mediante a fé em Jesus Cristo. É que não há diferença alguma: 23todos pecaram e estão privados da glória de Deus. 24Sem o merecerem, são justificados pela sua graça, em virtude da redenção realizada em Cristo Jesus. 25Deus ofereceu-o para, nele, pelo seu sangue, se realizar a expiação que actua mediante a fé; foi assim que ele mostrou a sua justiça, ao perdoar os pecados cometidos outrora, 26no tempo da divina paciência. Deus mostra assim a sua justiça no tempo presente, porque Ele é justo e justifica quem tem fé em Jesus. 27Onde está, pois, o motivo para alguém se gloriar? Foi excluído! Por qual lei? Pela das obras? De modo nenhum! Mas pela lei da fé. 28Pois estamos convencidos de que é pela fé que o homem é justificado, independentemente das obras da lei. 29Será Deus apenas Deus dos judeus? Não o é também dos gentios? Sim, Ele é também Deus dos gentios, 30uma vez que há um só Deus.
Depois de descrever a situação religiosa do mundo pagão, Paulo volta-se para o mundo religioso judaico. O Povo escolhido recebera a Lei como dom capaz de revelar o rosto e o coração de Deus. Mas a Lei mosaica também acabou por revelar que todos os homens são pecadores. Mas a realidade do pecado não impede a realização do projecto de Deus. Pelo contrário: diante do pecado, Deus sente-se como que provocado a reafirmar o seu projecto de salvação em favor de todos. Assim, na plenitude dos tempos enviou o seu Filho Jesus como mediador da nova Aliança, como ponte entre Deus e os homens, como Redentor de todos. Jesus está, verdadeiramente, no centro da história da salvação, do anseio religiosos de todos os povos, da história de cada pessoa. Paulo procura ilustrar esta verdade com alguns aspectos pessoais, que permanecerão ligados à reflexão teológica. Mas é a fé, e só a fé, que coloca Jesus no centro. É por isso que, segundo o ensino de Paulo, a fé em Jesus, que é a nova lei, enxerta directamente na justiça de Deus, alcançando-nos a salvação. É verdade que «todos pecaram e estão privados da glória de Deus» (v. 23), mas é ainda mais verdade que «todos são justificados pela sua graça, em virtude da redenção realizada em Cristo Jesus» (v. 24).
Evangelho: Lucas 11, 47-53
Naquele tempo, disse o Senhor aos doutores da lei: Ai de vós, que edificais os túmulos dos profetas, quando os vossos pais é que os mataram! 48Assim, dais testemunho e aprovação aos actos dos vossos pais, porque eles mataram-nos e vós edificais-lhes sepulcros. 49Por isso mesmo é que a Sabedoria de Deus disse: 'Hei-de enviar-lhes profetas e apóstolos, a alguns dos quais darão a morte e a outros perseguirão, 50a fim de que se peça contas a esta geração do sangue de todos os profetas, derramado desde a criação do mundo, 51desde o sangue de Abel até ao sangue de Zacarias, que pereceu entre o altar e o santuário.' Sim, Eu vo-lo digo, serão pedidas contas a esta geração. 52Ai de vós, doutores da Lei, porque vos apoderastes da chave da ciência: vós próprios não entrastes e impedistes a entrada àqueles que queriam entrar!» 53Quando saiu dali, os doutores da Lei e os fariseus começaram a pressioná-lo fortemente com perguntas e a fazê-lo falar sobre muitos assuntos, armando-lhe ciladas e procurando apanhar-lhe alguma palavra para o acusarem.
Jesus, com ironia, desmascara a falsidade dos doutores da lei. Dizem venerar os profetas, mas não acolhem os apelos de Deus, tal como os seus pais. Por isso não são melhores do que eles. Os profetas foram recusados e mortos porque eram incómodos. O mesmo sucede, agora, com Jesus, Palavra definitiva do Pai. Os "sábios", construindo sepulcros aos profetas, tornam-se cúmplices daqueles que os mataram, porque não acolhem as suas mensagens. O Calvário irá confirmar esta análise de Jesus, apoiada pela sentença de juízo profético (vv. 49-51) que lê a história de Israel como uma história de obstinação que foi produzindo vítimas «desde o sangue de Abel até ao sangue de Zacarias».
Notemos como a culpa evocada se limita ao Antigo Testamento: Lucas parece dar a entender que Deus não pedirá contas do sangue do seu Filho. De facto, «Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele» (Jo 3, 17). Todavia serão pedidas contas do sangue de todos os profetas a esta geração porque, «quem não crê já está condenado, por não crer no Filho Unigénito de Deus» (Jo 3, 18).
Jesus verbera fortemente a arrogância intelectual e religiosa dos doutores da lei que, embora dispondo dos instrumentos necessários, não seguem nem reconhecem o caminho que leva a Deus indicado pela Lei e pelos Profetas. Por ainda: tornaram-no inacessível ao povo retirando aos preceitos e normas o seu verdadeiro significado.Meditatio
Paulo continua a reflectir sobre a condição humana. Infelizmente, nós, homens do século XXI, não nos espantamos com o quadro pintado em tons escuros pelo Apóstolo. Estamos demasiado habituados a ver esse mal entrar-nos pela casa dentro através da televisão e de outros meios de comunicação social, e até a verificá-lo nas nossas próprias famílias, no nosso bairro, na nossa terra... No começo do novo milénio, quando todos nos julgamos evoluídos, cultos e civilizados, assistimos a formas de crueldade e violência impensáveis há apenas algumas décadas... Por isso, não temos dificuldade em repetir como Paulo: «todos pecaram e estão privados da glória de Deus» (Rm 3, 23). E todos havemos também de admitir que precisamos da misericórdia de Deus, sem a qual não conseguimos tornar-nos justos e agradar a Deus. É por isso que, no segundo capítulo da carta aos Romanos, Paulo se dirige a todos aqueles que farisaicamente se julgam justos, e pensam não precisar da misericórdia de Deus.
O mesmo faz Jesus, no evangelho. Ao dirigir-se aos escribas e fariseus, arranca-lhes a máscara com que tentam disfarçar as injustiças que cometem. As mesinhas humanas podem iludir-nos. Mas o mal reaparece continuamente, cada vez mais duro e violento. Só Deus pode curá-lo definitivamente. E fê-lo em Jesus Cristo. Paulo lembra que Deus usou o seu Filho como instrumento de expiação, expondo-O na cruz. Poderia ter-nos justificado de outro modo. Mas o caminho que escolheu, escândalo para uns e loucura para outros, foi o do amor até à consumação total, até ao ponto de receber em Si todos os golpes da nossa inaudita violência. A imensidade do dom faz-nos compreender a malícia do pecado. Não conseguimos avaliar totalmente a grande do amor e o dom de Deus, nem a gra
vidade do nosso pecado. Mas a mais simples ideia sobre esse amor, e sobre a gravidade do nosso pecado, já é suficiente para abrirmos o coração à gratidão, à acção de graças. Vemos, com efeito, como o homem não pode salvar a si mesmo, e como só a fé em Jesus Cristo, Salvador, o salva efectivamente. Em Cristo, nós os injustos, tornamo-nos justos.
A comunidade religiosa, como a comunidade cristã, há-de ser uma escola de amor, onde todos progridam «alegres no caminho do amor» (LG 43). Esta expressão, recebida do Concílio, realça como, na comunidade, as pessoas devam viver um amor semelhante ao de Cristo, que, para nos salvar, se entregou por nós, até à morte e morte de cruz. Há que aprender esse amor na escuta da Palavra, na contemplação dos Mistérios de Cristo, na oração, e na prática, por vezes difícil, do amor aos irmãos. Então a circularidade do amor torna-se perfeita: o amor vem de Deus e, por meio do amor aos irmãos, regressa a Deus, como escreve S. João: «Caríssimos, se Deus nos amou, também nós devemos amar-nos uns aos outros. Deus permanece em nós e o Seu amor é perfeito em nós» (1 Jo 4, 11-12). Sem o amor fraterno recíproco, o amor de Deus não é perfeito: «Que, com efeito, não ama o irmão que vê, não pode amar a Deus que não vê. Este é o mandamento que recebemos d´Ele: quem ama a Deus, ama também o seu irmão» (1 Jo 4, 20-21).Oratio
Pai santo, infunde em mim o Espírito do teu Filho Jesus, para que eu possa viver segundo o Espírito, e não segundo a carne. A fé não conhece as obras da infidelidade, nem a infidelidade conhece as da fé. Todavia, também o que fazemos segundo a carne se torna obra do Espírito, quando as fazemos em Jesus.
Faz-me pedra viva do teu templo, erguida pela cruz de Cristo, e por meio do cabo que é o Espírito Santo. Que a fé me erga ao alto e que a caridade me conduza a Ti. Amen.Contemplatio
Eis o Redentor, o Salvador! «Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, aí crucificaram Jesus com os dois ladrões, um à sua direita e o outro à sua esquerda. O povo olhava, e com os príncipes zombava dele dizendo: Salvou os outros, que se salve agora a si mesmo, se é o Cristo, o eleito de Deus, como disse. Também os soldados o insultavam e apresentavam-lhe vinagre dizendo-lhe: Se és o rei dos Judeus, salva-te a ti mesmo!» - Não, Senhor, não quereis salvar a vossa vida, quereis ao contrário sacrificá-la para salvar a minha alma. A vossa cruz é a minha salvação. As vossas mãos e os vossos pés perfurados expiam todas as minhas acções culpáveis. O vosso Coração aberto e dilacerado paga o resgate de todos os meus afectos desregrados. Bebeis o fel e o vinagre para reparar a minha sensualidade. Sofreis as humilhações mais cruéis para apagar o meu orgulho. As vossas dores ultrapassam todas as que a terra jamais viu. Pode aplicar-se à letra a vós a lamentação de Jerusalém, formulada por Jeremias: «Ó vos todos que passais, considerai e vede se há dor semelhante à minha, porque o Senhor, no dia da sua cólera, tratou-me como uma vinha que vandalizaram e onde nada deixaram...» (Jr Lm 1, 12). Sim, Senhor, fostes espezinhado como o bago da vinha e o sangue das vossas veias correu sobre o solo. A vossa dor não tem igual senão o vosso amor. Eis, portanto, como vistes o pecado e o quisestes fazer para o expiar! Ó Senhor, como sou culpado por pecar tão facilmente e por expiar tão pouco as minhas faltas! Tomai, portanto, todo o meu coração e não mais o deixeis afastar-se de vós! (Leão Dehon, OSP 4, p. 386s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje esta palavra:
«Todos pecaram e estão privados da glória de Deus» (Rm 3, 23) -
S. Teresa de Jesus, Virgem e Doutora da Igreja
S. Teresa de Jesus, Virgem e Doutora da Igreja
15 de Outubro, 2021Santa Teresa de Jesus nasceu em Ávila, Espanha, no ano de 1515. Entrou no Carmelo da Incarnação em 1535. Depois de um longo período de tibieza, começou a sua "conversão", com uma intensa vida mística em contato com Cristo, que a levou ao forte desejo de servir a Igreja do seu tempo, dilacerada pela Reforma protestante. Em 1562, fundou o Carmelo de S. José, em Ávila, onde deu início à reforma da Ordem. Seguiram-se diversas fundações de conventos reformados em Castela e na Andaluzia. A reforma estendeu-se também aos conventos carmelitas masculinos, graças à colaboração de S. João da Cruz, seu diretor espiritual, a partir de 1567. No leito de morte declarou-se feliz por morrer "filha da Igreja". Faleceu a 4 de Outubro de 1582. Foi canonizada por Gregório XV, em 1623, e declarada Doutora da Igreja por Paulo VI, em 1970.
Lectio
Primeira leitura: Romanos 8, 22-27
Irmãos: Nós sabemos como toda a criação geme e sofre as dores de parto até ao presente.23Não só ela. Também nós, que possuímos as primícias do Espírito, nós próprios gememos no nosso íntimo, aguardando a adopção filial, a libertação do nosso corpo. 24De facto, foi na esperança que fomos salvos. Ora uma esperança naquilo que se vê não é esperança. Quem é que vai esperar aquilo que já está a ver? 25Mas, se é o que não vemos que esperamos, então é com paciência que o temos de aguardar. 26É assim que também o Espírito vem em auxílio da nossa fraqueza, pois não sabemos o que havemos de pedir, para rezarmos como deve ser; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis. 27E aquele que examina os corações conhece as intenções do Espírito, porque é de acordo com Deus que o Espírito intercede pelos santos.
O capítulo 8 da carta aos Romanos foi chamado o capítulo dos contemplativos. Por isso, é muito adequado para iluminar a figura de Teresa de Jesus. Este texto permite-nos verificar a ligação entre a mensagem teresiana e a experiência da oração interior no Espírito Santo. O Espírito Santo é, efetivamente, como que o motor da esperança de toda a criação no coração dos filhos de Deus. De fato, é na vida cristã que se experimenta a salvação alcançada e a esperança da redenção final no corpo e no cosmos. Do Espírito Santo, intérprete dos nossos desejos e necessidades, brota a oração e a intercessão mais profunda. A oração é um dom da amizade divina, que supõe a presença dos Espírito Santo, que nos impele a rezar e a interceder pela salvação de todos e, sobretudo, solicita a empreender um caminho de perfeição e a passar o limiar das diversas moradas do castelo interior, até à fonte viva da vida divina.
Evangelho: da féria ou do Comum
Meditatio
Teresa de Jesus deixou-nos um precioso testemunho da sua caminhada de fé no livro da sua Vida, onde revela uma infância religiosamente precoce, uma juventude vivida na crise, uma recuperação vocacional aos vinte anos, seguida ainda por uma experiência de vida religiosa com altos e baixos, até à "conversão" definitiva, quando já se aproximava dos quarenta anos. É a lenta caminhada de uma história de salvação que, desde os limites do pecado, se desenvolve numa conversão sincera e total, com uma determinada determinação, com uma opção total e definitiva pelo Senhor, que dá azo a uma experiência mística em que Deus opera maravilhas. A vida de Teresa testemunha o processo de transformação da sua pessoa, o desejo de salvação, a efetiva mudança de vida, a graça do Espírito Santo que a penetra e conduz a uma intensa experiência de fé cristã. Nela notamos a graça mística como iluminação interior e como experiência de salvação e de transformação, a presença de Deus, a força da Palavra e dos Sacramentos, a revelação de Cristo Ressuscitado, na sua santa humanidade, a efusão do Espírito Santo e dos seus dons. A experiência da inabitação trinitária, da comunhão total com Cristo esposo, orientada para o serviço da Igreja, meta ideal da santidade cristã, coroou a sua caminhada. Foi um itinerário em que a oração interior, divina amizade com Deus, foi a chave de compreensão. Tudo desembocou na mística do serviço, numa forte unidade de vida vivida e ensinada pela santa, num grande amor pela Igreja, demonstrado concretamente na promoção da santidade da vida e no serviço da vida contemplativa para renovação da Igreja.
Oratio
Santa esposa do Salvador, ensinai-nos a contemplar convosco o Lado ferido do Salvador, que nos deixa ver o seu Coração e que nos revela o seu amor. Convosco, encontrarei nessa chaga sagrada um ninho e um refúgio, e uma porta para entrar na arca no tempo das tentações e sobretudo na hora da minha morte. Ámen. (Leão Dehon, OSP 4, p. 359).
Contemplatio
Santa Teresa tem o seu lugar entre as almas que, antes das revelações do séc. XVII, fixaram os seus olhares no Coração de Jesus. Ela escrevia ao bispo de Osma, que lhe pedia um método de oração: «Colocareis diante dos vossos olhos, os do corpo e os da alma, a imagem de Jesus crucificado que haveis de considerar atentamente e em pormenor, com todo o recolhimento e amor de que fordes capaz... A chaga do seu lado, pela qual vos deixará ver o seu Coração a descoberto, revelar-vos-á o indizível amor que nos marcou, quando quis que esta chaga sagrada fosse o nosso ninho e o nosso asilo, e que nos servisse de porta para entrarmos na arca no tempo das tentações». Ela tinha recebido esta orientação dos Padres da Igreja e dos santos dos séculos XII e XIII. Uma das suas práticas mais caras era a de se transportar em espírito, à noite, ao tomar o seu repouso, ao jardim da agonia. Meditava sobre as angústias do Salvador, compadecia, unia-se a ele. Não era isto a Hora santa?E o seu coração trespassado pelo dardo inflamado do Serafim, que lhe causava um tão suave martírio, não a fazia pensar sem cessar na chaga de amor do seu Jesus crucificado? (Leão Dehon, OSP 4, p. 358s.).
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
"A oração e a vida não consistem em muito sofrer,
mas em muito amar" (S. Teresa de Jesus).----
S. Teresa de Jesus, Virgem e Doutora da Igreja (15 Outubro)Tempo Comum - Anos Ímpares - XXVIII Semana - Sexta-feiraTempo Comum - Anos Ímpares - XXVIII Semana - Sexta-feira
15 de Outubro, 2021Lectio
Primeira leitura: Romanos 4, 1-8
Irmãos: que havemos de dizer de Abraão, nosso antepassado segundo a carne? Que obteve ele afinal? 2É que, se Abraão foi justificado por causa das obras, tem um motivo para se poder gloriar, mas não diante de Deus. 3Que diz, de facto, a Escritura? Que Abraão acreditou em Deus e isso foi-lhe atribuído à conta de justiça. 4Ora bem, àquele que realiza obras, o salário não lhe é atribuído como oferta, mas como dívida. 5Aquele, porém, que não realiza qualquer obra, mas acredita naquele que justifica o ímpio, a esse a sua fé é-lhe atribuída como justiça. 6Aliás é assim que David celebra a felicidade do homem a quem Deus atribui a justiça independentemente das obras: 7Felizes aqueles a quem foram perdoados os delitos e a quem foram cobertos os pecados! 8Feliz o homem a quem o Senhor não tem em conta o pecado!
«Todos pecaram e estão privados da glória de Deus. Sem o merecerem, são justificados pela sua graça, em virtude da redenção realizada em Cristo Jesus» (Rm 3, 23-24). Foi esta a conclusão a que chegou Paulo, depois de analisar o mundo religioso judaico e o mundo religioso pagão, e a redenção realizada por Deus em Jesus Cristo. Assim fica provada a sua tese de que Deus salva por meio da fé e antes das obras. A figura de Abraão, nosso pai na fé, ilustra a verdade da salvação pela fé. Gn 22 narra como o Patriarca, submetido à prova, respondeu com um esplêndido acto de obediência. Mas, já antes, Deus lhe tinha feito a promessa, que acolheu na fé (cf. Gn 15). Assim, em Abraão, a fé precedeu claramente as obras, e as suas obras são fruto da fé: «Abraão acreditou em Deus e isso foi-lhe atribuído à conta de justiça» (v. 3). Também o exemplo de David, a quem foram perdoadas as culpas, independentemente das suas boas obras, é significativo.
Evangelho: Lucas 12, 1-7
Naquele tempo, 1a multidão tinha-se ajuntado por milhares, a ponto de se pisarem uns aos outros. Jesus começou a dizer primeiramente aos seus discípulos:«Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. 2Nada há encoberto que não venha a descobrir-se, nem oculto que não venha a conhecer-se. 3Porque tudo quanto tiverdes dito nas trevas há-de ouvir-se em plena luz, e o que tiverdes dito ao ouvido, em lugares retirados, será proclamado sobre os terraços. 4Digo-vos a vós, meus amigos: Não temais os que matam o corpo e, depois, nada mais podem fazer. 5Vou mostrar-vos a quem deveis temer: temei aquele que, depois de matar, tem o poder de lançar na Geena. Sim, Eu vo-lo digo, a esse é que deveis temer. 6Não se vendem cinco pássaros por duas pequeninas moedas? Contudo, nenhum deles passa despercebido diante de Deus. 7Mais ainda, até os cabelos da vossa cabeça estão contados. Não temais: valeis mais do que muitos pássaros.
Os «ai de vós» dirigidos por Jesus aos fariseus e doutores da lei têm por objectivo alertar os discípulos para a necessidade de se defenderem da hipocrisia farisaica. Não se trata de avisos de natureza moral. Lucas escreve a comunidades que vêem chegar ao fim o tempo apostólico sem que se verifique a última vinda de Jesus para instaurar o Reino de Deus, a parusia. Além disso, essas comunidades estão ameaçadas por perseguições e por falsas doutrinas. Põe-se o problema da perseverança e da fidelidade. Lucas solicita aos cristãos um comportamento marcado pela autenticidade e pela clareza (vv. 2s.) e oferecendo-lhes uma palavra de consolação que se torna convite à confiança em Deus (vv. 4-7).
Os cristãos, ao contrário dos fariseus, devem fazer com que as suas palavras correspondam ao que pensam e sentem, professando abertamente e sem medo a sua fé, custe o que custar, porque «nada há encoberto que não venha a descobrir‑se» (v.2). Quando vier o Filho do homem cairão por terra as astúcias e mentiras que se tornarão causa de condenação e não de salvação. O verdadeiro risco que os cristãos correm, no meio das perseguições, não é perder a vida do corpo, mas, sim, a vida verdadeira, a vida eterna. Lucas já tinha lembrado, ao apresentar as condições para o seguimento de Jesus que «quem quiser salvar a sua vida há-de perdê‑la; mas, quem perder a sua vida por minha causa há-de salvá‑la» (9, 24). Por outro lado, porque não havemos de nos abandonar a este Deus que cuida com amor das suas criaturas mais insignificantes (vv. 6s.)?Meditatio
A tradição hebraica apresentava Abraão como modelo da obediência da fé, como o justo por excelência, porque não hesitou em oferecer a Deus o sacrifício do seu filho único. Mas Paulo afirma que o Patriarca foi justificado, ainda antes de oferecer Isaac em sacrifício, pela sua fé na promessa de Deus, porque esperou «contra toda a esperança». Só a fé justifica, isto é, nos torna santos diante de Deus, fonte de toda a santidade e justiça. Mas esta fé não é uma atitude passiva. Leva-nos a estar bem vivos, para acreditarmos contra toda a evidência.
Jesus também convida os seus ouvintes a uma atitude de confiança e de abandono incondicional diante de Deus Pai. Ele cuida de nós com uma ternura atenta, a que nenhum pormenor pode escapar. Até os cabelos da nossa cabeça estão contados. Somos pois chamados a contemplar Deus sempre presente e activo na nossa vida e na nossa história. Assim se assume a obediência da fé e se alcança o fruto da paz. Nada nem ninguém pode fazer mal a quem crê. Paulo aproxima ao tema da fé o tema do perdão dos pecados. Ao fim e ao cabo, que é o pecado se não uma tentativa deliberada dos nos pôr à margem do olhar bondoso e amigo de Deus, para, usando mal a liberdade, tentar afirmar-nos? Se o ícone do pecador é o "filho pródigo" que parte para longe do pai, o ícone do crente é Jesus, o Filho muito amado que, no meio dos tormentos da paixão, se agarra confiadamente ao Pai e se entrega nas suas mãos: «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito» (Lc 23, 46). Só nestas circunstâncias o amor pode cantar a vitória que o torna mais forte do que a morte. O supremo grito de confiança de Jesus na Cruz manifesta a união de amor entre o Pai e o Filho.Oratio
Pai santo, a gratuidade da justiça, que ofereces a quem crê, torna-se mais evidente quando o destinatário é um pecador, como eu. No entanto, proclamas bem-aventurados aqueles a quem foi perdoada a falta. Assim compreendo que, para ser salvo, basta aderir com um acto de fé a Ti, ao teu dom gratuito, à tua justiça que purifica e faz de mim um pecador perdoado. Obrigado, Senhor! Obrigado pelo teu amor. Basta-me acolhê-lo, e deixar que cuide de mim, para ser salvo. Senhor, aumenta a minha fé! Amen.
Contemplatio
Por volta da nona hora, Jesus gritou com voz forte: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?» É a agonia do
coração, o grito de extrema angústia: abandonado! É como o inferno, a pena de dano, a pena das penas para o condenado o qual, perdendo Deus, tudo perdeu. Jesus exprimiu este lamento da sua natureza para escusar as nossas lamentações e os nossos desânimos, e para nos fortificar mostrando-nos que sofreu mais do que nós, Ele a inocência mesma, para expiar as nossas faltas em nosso lugar. Ele quer ensinar-nos também a suportar as aridezes, os desânimos, na paciência e na humildade. Depois disto, sabendo Jesus que tudo estava consumado, para que a Escritura se cumprisse, disse: «Tenho sede». E deram-lhe vinagre numa esponja. Mas o que lhe oprimia mais, era a sede do coração, a sede de realizar o seu sacrifício, para cumprir a Redenção, a sede das almas, a sede de ser amado. Ele tem sede hoje do meu arrependimento, da minha conversão, da salvação dos pecadores. Que hei-de fazer para saciar esta sede? Jesus diz ainda: «Tudo está consumado!», isto é: tudo o que pude fazer por vós, fi-lo. Dei tudo, tudo sacrifiquei, pela vossa salvação, por vosso amor, reclamo o vosso coração. Não tenho direito a isso? Tudo está consumado, tende confiança. A salvação foi-vos adquirida, basta que queirais aproveitar-vos dela. As fontes da graça estão abertas, a Igreja está fundada. O resgate está pago, tudo está pronto. Lançai-vos nestes braços abertos para a união da graça esperando a consumação da glória. /363
«Meu Pai, entrego nas vossas mãos a minha alma». É a última palavra de Jesus. Ele não sofre a morte. Depõe a vida para a retomar. Ninguém lha pode arrebatar, é Ele mesmo que a entrega (Jo 10, 17). É a hora suprema do sacrifício do redentor. (Leão Dehon, OSP 3, p. 362s.).Actio
Repete frequentemente e vive hoje esta palavra:
«Abraão acreditou em Deus
e isso foi-lhe atribuído à conta de justiça» (Rm 4, 3). -
S. Lucas, Evangelista
S. Lucas, Evangelista
18 de Outubro, 2021S. Lucas nasceu em Antioquia da Síria. Foi educado no paganismo e exerceu a profissão de médico (cf. Cl 4, 14). Convertido ao cristianismo, torou-se colaborador de S. Paulo, estabelecendo com ele uma grande amizade (Fm 24). Homem culto, S. Lucas, é o autor do terceiro evangelho e dos Atos dos Apóstolos, sendo também um dos responsáveis pela ação missionária nos primeiros tempos da Igreja.
Lectio
Primeira leitura: 2 Timóteo 4, 10-17b
Caríssimos: Demas abandonou-me. Preferiu o mundo presente e foi para Tessalónica. Crescente foi para a Galácia, e Tito para a Dalmácia. 11Apenas Lucas está comigo.Traz contigo Marcos, pois me será de grande ajuda no ministério. 12Quanto a Tíquico, enviei-o a Éfeso.13Quando vieres, traz o manto que deixei em Tróade, em casa de Carpo, bem como os livros, especialmente os pergaminhos. 14Alexandre, o fundidor de cobre, causou-me muitos danos. O Senhor lhe retribuirá segundo as suas obras. 15Toma tu também cuidado com ele, pois muito se tem oposto ao nosso ensinamento. 16Na minha primeira defesa, ninguém esteve ao meu lado. Todos me abandonaram. Que não lhes seja levado em conta. 17O Senhor, porém, esteve comigo e deu-me forças, a fim de que, por meu intermédio, o anúncio fosse plenamente proclamado e todos os gentios o escutassem.
Paulo manifesta o seu conforto por Lucas lhe permanecer fiel, enquanto outros, por cansaço ou por medo, o abandonaram. É sobretudo a presença do Senhor que anima o Apóstolo a pregar o Evangelho aos gentios, mantendo-se fiel à sua vocação inicial. Mas não pode deixar de lembrar os que o abandonaram, quando mais precisava de apoio, tendo de se defender sozinho em tribunal, e tendo de defender a Cristo e à fé que abraçara. O que provoca mais satisfação em Paulo é poder afirmar que foi por seu intermédio que o Evangelho foi anunciado, de modo especial aos gentios. A missão recebida em Damasco estava realizada.
Evangelho: Lucas 10, 1-9
Naquele tempo, o Senhor designou outros setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois, à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir. 2Disse-lhes:«A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe.3Ide! Envio-vos como cordeiros para o meio de lobos. 4Não leveis bolsa, nem alforge, nem sandálias; e não vos detenhais a saudar ninguém pelo caminho.5Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: 'A paz esteja nesta casa!'6E, se lá houver um homem de paz, sobre ele repousará a vossa paz; se não, voltará para vós. 7Ficai nessa casa, comendo e bebendo do que lá houver, pois o trabalhador merece o seu salário. Não andeis de casa em casa.8Em qualquer cidade em que entrardes e vos receberem, comei do que vos for servido, 9curai os doentes que nela houver e dizei-lhes: 'O Reino de Deus já está próximo de vós.'
Só Lucas que nos fala deste episódio. Jesus, depois de ter enviado os Doze em missão (Lc 9, 1ss), envia também estes setenta e dois discípulos. A missão é uma das grandes preocupações do terceiro evangelista. Nos Atos dos Apóstolos, além das missões de Pedro e de Paulo, fala das missões de Estêvão, de Filipe e de outros apóstolos. A messe do Senhor precisa de muitos trabalhadores. Há que pedi-los e que enviá-los. A oração, não só prepara, mas é parte integrante da missão. A missão começa na oração; e rezar é estar em missão. Como o seu Mestre e Senhor, os discípulos devem ir em missão "como cordeiros para o meio de lobos" (v. 3). O anúncio essencial é: "O Reino de Deus já está próximo de vós." (v. 9). Trata-se de uma expressão densa de significado: os tempos completaram-se, isto é, estão cheios da presença de Deus que salva. A presença de Deus concretiza-se na pessoa de Jesus e nos seus ensinamentos.
Meditatio
S. Lucas escreveu o terceiro evangelho, com alguns elementos que nos permitem distingui-lo dos outros três evangelistas. S. Lucas é o evangelista de Maria: só ele nos fala da anunciação, da visitação, do nascimento de Jesus e da sua apresentação no templo. É o evangelista do Coração de Jesus: é o que melhor nos revela a sua misericórdia nas parábolas da dracma perdida e reencontrada, da ovelha perdida e achada, do filho pródigo. É o evangelista da caridade: só ele narra a parábola do bom samaritano, e fala do amor de Jesus aos pobres com acentuações mais ternas do que os outros evangelistas. Apresenta-nos Jesus comovido diante do sofrimento da viúva de Naim; Jesus que acolhe delicadamente a pecadora em casa de Simão, o fariseu, e lhe assegura o perdão de Deus; Jesus que acolhe Zaqueu com tanta bondade que muda o coração ganancioso do publicano em coração arrependido e generoso.
Lucas é o evangelista da confiança, da paz, da alegria. É o evangelista do Espírito Santo. É ele que apresenta a comunidade cristã como tendo "um só coração e uma só alma". O evangelho de Lucas revela o seu zelo missionário. Só ele fala da missão dos setenta e dois discípulos e alguns pormenores dessa missão. Há, pois, muitos tesouros a explorar na obra lucana. Havemos de fazê-lo com gratidão, entregando-nos, também nós, generosamente ao Senhor, vivendo como discípulos e carregando com Ele a nossa cruz de cada dia.
Lucas acompanhou Paulo em algumas das suas viagens missionárias e durante o cativeiro em Roma. Com a morte do Apóstolo eclipsa-se a história de Lucas. Um escrito do século III diz-nos que morreu virgem na Bitínia, com a idade de 74 anos, cheio de Espírito Santo. Uma tradição do século IV assegura-nos que derramou o sangue por Cristo. Lucas é um médico bondoso e serviçal, um literato, mas sobretudo um santo e mártir, que regou com o seu sangue as sementes do Evangelho por ele lançadas. É considerado padroeiro dos médicos, por causa das palavras de Paulo: "Saúda-vos Lucas, nosso querido médico" (Col 4, 14).Oratio
Senhor, nosso Deus, que escolhestes São Lucas para revelar com a sua palavra e os seus escritos o mistério do vosso amor pelos pobres, fazei que sejam um só coração e uma só alma aqueles que se gloriam no vosso nome e todos os povos mereçam ver a vossa salvação. Ámen. (Coleta de Missa).
Contemplatio
S. Lucas é o Evangelista da santa Infância de Jesus. Como os amigos do Sagrado Coração lhe devem estar reconhecidos! Foi ele que nos deu a conhecer tantos pormenores deliciosos sobre o nascimento e a infância de Jesus. Devemos-lhe a saudação angélica, a Ave-maria, o Ecce Ancilla Domini, o Benedictus, o Nunc dimittis, tantos outros tesouros para os amigos do Coração de Jesus. Ele descreve-nos a visita dos pastores. Devemos-lhe também o cântico dos anjos «Gloria in excelsis Deo». Nenhum evangelista deu semelhantes tesouros à liturgia. Descreve a estadia de Jesus no Templo aos 12 anos, o comentário de Isaías por Jesus na sinagoga de Nazaré. Relata a bela parábola de Lázaro e do mau rico, a cura dos dez leprosos, dos quais só um é reconhecido, a cena deliciosa na qual Marta mostra demasiada solicitude e na qual Madalena escolheu a melhor parte, a única coisa necessária. A grande parábola do Filho pródigo é uma das suas mais belas páginas. Era preciso um homem de grande coração para compreender e relatar estas cenas tocantes e estes discursos do Salvador. Relata melhor que os outros a justificação de Madalena por Jesus em casa de Simão, o Fariseu, e a chamada de S. Pedro com a primeira pesca milagrosa. É a ele que devemos o conhecimento desta palavra caída do Sagrado Coração: vim acender o fogo (do amor) sobre a terra, e que desejo senão que se propague. Revelou-nos o santo Coração de Maria. Foi ele que nos disse por duas vezes que Maria conservava no seu coração os mistérios de Jesus e neles meditava (Lc 2, 19 e 51). (L. Dehon, OSP 4, p.369s.).
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
"Rogai ao dono da messe
que mande trabalhadores para a sua messe" (Lc 10, 2).----
S. Lucas, Evangelista (18 Outubro)Tempo Comum - Anos Ímpares - XXIX Semana - Segunda-feiraTempo Comum - Anos Ímpares - XXIX Semana - Segunda-feira
18 de Outubro, 2021Lectio
Primeira leitura: Romanos 4, 20-25
Irmãos: diante da promessa de Deus, Abraão não duvidou por falta de fé. Pelo contrário, tornou-se mais forte na fé e deu glória a Deus, 21plenamente convencido de que Ele tinha poder para realizar o que tinha prometido. 22Esta foi exactamente a razão pela qual isso lhe foi atribuído à conta de justiça. 23Não é só por causa dele que está escrito foi-lhe atribuído, 24mas também por causa de nós, a quem a fé será tida em conta, nós que acreditamos naquele que ressuscitou dos mortos Jesus, Senhor nosso, 25entregue por causa das nossas faltas e ressuscitado para nossa justificação.
Paulo concentra-se, agora, na fé de Abraão e na sua relação com a promessa de Deus. Nos versículos 20 a 22, sublinha a caminhada decidida e corajosa do Patriarca para a salvação por meio da fé. Nos versículos seguintes (23 a 25), dirige-se aos cristãos de Roma, e a todos nós, filhos de Abraão na fé, para acentuar que somos chamados a acreditar em Deus, capaz de ressuscitar os mortos. Abraão «não duvidou» diante da promessa de Deus, «pelo contrário, tornou-se mais forte na fé» (v. 20). O Patriarca sabe que não tem qualquer mérito diante de Deus, que tudo Lhe deve, e que Ele não falta às suas promessas. Por isso, confia n´Ele e se confia a Ele, tornando-se um claro exemplo e estímulo para nós, como pessoas e como comunidades. Como Abraão, estamos envolvidos pelo projecto salvador de Deus, e pelo mistério pascal de Jesus Cristo, morto e ressuscitado, «Senhor nosso, entregue por causa das nossas faltas e ressuscitado para nossa justificação» (v. 24s.). Esta dinâmica salvífica não é apenas objecto de fé, mas, em primeiro lugar, fonte de graça e de salvação. A nossa fé, que é um reconhecimento da nossa indigência, e uma aceitação da salvação oferecida pela força de Deus, refere-se essencialmente ao grande acontecimento que é a ressurreição de Cristo, primícias e garantia da ressurreição dos crentes.
Evangelho: Lucas 12, 13-21
Naquele tempo, alguém do meio multidão disse a Jesus: «Mestre, diz a meu irmão que reparta a herança comigo.» 14Ele respondeu-lhe: «Homem, quem me nomeou juiz ou encarregado das vossas partilhas?» 15E prosseguiu: «Olhai, guardai-vos de toda a ganância, porque, mesmo que um homem viva na abundância, a sua vida não depende dos seus bens.» 16Disse-lhes, então, esta parábola: «Havia um homem rico, a quem as terras deram uma grande colheita. 17E pôs-se a discorrer, dizendo consigo: 'Que hei-de fazer, uma vez que não tenho onde guardar a minha colheita?' 18Depois continuou: 'Já sei o que vou fazer: deito abaixo os meus celeiros, construo uns maiores e guardarei lá o meu trigo e todos os meus bens. 19Depois, direi a mim mesmo: Tens muitos bens em depósito para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te.' 20Deus, porém, disse-lhe: 'Insensato! Nesta mesma noite, vai ser reclamada a tua vida; e o que acumulaste para quem será?' 21Assim acontecerá ao que amontoa para si, e não é rico em relação a Deus.»
Ao contar o episódio do pedido que alguém faz a Jesus para que resolva uma questão familiar, Lucas introduz a parábola do homem rico cujo campo produzira com abundância. Esse homem decide demolir os celeiros, construir outros e, depois de recolher todos os bens, pensa viver muitos anos sossegado a usufruir deles sozinho. Mas Deus não aceita a sua insensatez, fazendo-lhe ver que é Ele o senhor da vida e que, de um momento para o outro (sempre muito em breve!), o rico avarento será chamado a dar contas dela.
O texto termina com uma afirmação sapiencial muito forte: «Assim acontecerá ao que amontoa para si, e não é rico em relação a Deus» (v. 21). Quem pensa acumular bens para enriquecer unicamente em vista de si mesmo é insensato; diante de Deus só se enriquece vivendo o preceito do amor. Só quem dá se torna verdadeiramente rico, recebendo o amor de Deus e a vida eterna.Meditatio
Na primeira leitura, Paulo retoma a figura de Abraão, que «não duvidou por falta de fé, mas se tornou mais forte na fé e deu glória a Deus» (v. 20), apesar da realização da promessa divina estar bastante longe da evidência, e da falta de garantias visíveis quanto à herança futura. Também o cristão é chamado à fé. Mas, ao contrário de Abraão, já viu realizadas em Cristo as promessas de Deus. Por isso, pode afirmar como Paulo: «sei em quem acreditei!» Em Cristo, encontramos a fonte da vida, da alegria, da paz. Participando no mistério da sua oferta, tornamo-nos cada vez mais capazes de amar, de nos entregar, de darmos glória a Deus.
A atitude do homem rico, de que nos fala o evangelho, contrasta com a de Abraão, de Paulo e, ao fim e ao cabo, de todo o verdadeiro crente. Esse homem fundamentou a sua vida, não na fé e na confiança em Deus, mas nos bens terrenos: «Direi a mim mesmo: Tens muitos bens em depósito para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te.» (v. 19). Abraão fundamentou a sua vida numa realidade que parecia inconsistente: uma palavra pronunciada por Alguém que não via e cuja veracidade, portanto, não podia avaliar. Mas era palavra de Deus, e foi na relação com Deus que Abraão encontrou a máxima segurança. Sendo também ele rico, e podendo viver tranquilo e seguro por muitos anos, na sua terra, preferiu obedecer a Deus e cumprir a sua vontade, certo de que a verdadeira segurança só se encontra no cumprimento da vontade de Deus.
Na parábola evangélica, Jesus mostra que é Abraão, e todos os que adoptam uma atitude semelhante, que têm razão, e não o rico egoísta: «Deus, porém, disse-lhe: 'Insensato! Nesta mesma noite, vai ser reclamada a tua vida; e o que acumulaste para quem será?» (v. 20). O verdadeiro tesouro do homem está na sua relação com Deus e na escuta confiante e obediente da sua palavra.
Se já Abarão soube olhar para além do momento presente, quanto mais nós cristãos e religiosos, invadidos pelo Espírito do Ressuscitado! «Recebemos o dom da fé que dá fundamento à nossa esperança; uma fé que orienta a nossa vida e nos inspira a deixar tudo para seguir a Cristo; no meio dos desafios do mundo, devemos consolidá-la, vivendo-a na caridade» (Cst 9). «Unidos a Cristo no seu amor e oblação ao Pai (cf. Cst 16-25), somos convidados a «uma abordagem comum do mistério de Cristo» (Cst 16), como fundamento da nossa experiência de fé, da nossa vocação e vida dehoniana, com uma atenção particular ao «Lado aberto do Crucificado, contemplando o Coração de Cristo, símbolo privilegiado do seu amor» (Cst 21).Oratio
Senhor, Tu és o sólido fundamento da minha existência. C
ontigo, nada temo. Contigo, penso na morte com serenidade e paz, certo de que, ao passar por ela, encontrarei o único e sumo Bem, que és Tu.
Que a minha vida seja testemunho para aqueles irmãos que andam a caça dos tesouros deste mundo, sacrificando, muitas vezes, a saúde, a consciência, a fé, a família, os outros, para os alcançarem. Não permitas que se deixe embriagar por uma certa mentalidade dominante, alimentada pelos mass media, pois, quem acumula tesouros não enriquece diante de Ti! Ilumina-nos a todos, para compreendermos que é procurando que encontramos, que é dando que recebemos, que é na solidariedade com os pobres que ganhamos cem vezes mais nesta terra e a vida eterna. Amen.Contemplatio
Junto do pobre bairro judeu, a cidade de Heliópolis e sobretudo as de Memphis e de Tebas, eram cidades voluptuosas, com grandes fortunas adquiridas, com uma vida de luxo e de prazer. A Sagrada Família deplorava este abuso dos dons divinos e previa os castigos que a Providência infligiria ao Egipto, como ao mundo grego e romano. As palavras severas que devia escrever S. Tiago na sua epístola, encontravam-se já sem dúvida nos lábios de José e de Maria: «Ricos, chorai e lamentai-vos com o pensamento das infelicidades que vos ameaçam e dos tesouros de cólera que amontoais. Vivendo no luxo e nas delícias, engordai-vos como vítimas que se preparam para o sacrifício» (Tg 5). Será assim que Nosso Senhor mais tarde há-de chorar sobre Jerusalém. Oh! Não usemos dos bens da terra senão com sabedoria, segundo a nossa vocação. Bem-aventurados aqueles que têm espírito de pobreza! (Leão Dehon, OSP 3, p. 136s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«O que preparaste, para quem será?» (Lc 12, 20). -
Tempo Comum - Anos Ímpares - XXIX Semana - Terça-feira
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19 de Outubro, 2021Lectio
Primeira leitura: Romanos 5, 12.15b.17-19.20b-21
Irmãos: tal como por um só homem entrou o pecado no mundo e, pelo pecado, a morte, assim a morte atingiu todos os homens, uma vez que todos pecaram. 15Se pela falta de um só todos morreram, com muito mais razão a graça de Deus, aquela graça oferecida por meio de um só homem, Jesus Cristo, foi a todos concedida em abundância. 17De facto, se pela falta de um só e por meio de um só reinou a morte, com muito mais razão, por meio de um só, Jesus Cristo, hão-de reinar na vida aqueles que recebem em abundância a graça e o dom da justiça. 18Portanto, como pela falta de um só veio a condenação para todos os homens, assim também pela obra de justiça de um só veio para todos os homens a justificação que dá a vida. 19De facto, tal como pela desobediência de um só homem todos se tornaram pecadores, assim também pela obediência de um só todos se hão-de tornar justos. 20Onde aumentou o pecado, superabundou a graça. 21E deste modo, tal como o pecado reinou pela morte, assim também a graça reina pela justiça até à vida eterna, por Jesus Cristo, Senhor nosso.
Paulo recorda o evento que, a seu parecer, determina e justifica a fragilidade universal, a pobreza radical de todos nós diante de Deus e das exigências da sua vontade: o pecado original. Com esse pecado, entrou no mundo a morte: «Tal como por um só homem entrou o pecado no mundo e, pelo pecado, a morte, assim a morte atingiu todos os homens, uma vez que todos pecaram» (v. 12). A morte física, a que não podemos escapar, é imagem da morte espiritual. O Apóstolo sublinha uma dupla solidariedade, que une todos os homens: a solidariedade no mal, que ameaça fazer reinar a morte no mundo; a solidariedade no bem, que é garantia da presença de Cristo.
A catequese de Paulo é simples e clara, graças a contraposição de Adão, por causa do qual entrou o pecado no mundo (cf. v. 12) e de Jesus, por causa do qual entrou a graça de Deus no mundo. Paulo repete este conceito nos poucos versículos do nosso texto. Assim nos leva a centrar-nos, cada vez mais, no mistério da morte e da ressurreição de Jesus, que mudou o coração dos homens e o rumo da história, uma vez que trouxe definitivamente ao mundo a graça de Deus.Evangelho: Lucas 12, 35-38
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 35«Estejam apertados os vossos cintos e acesas as vossas lâmpadas. 36Sede semelhantes aos homens que esperam o seu senhor ao voltar da boda, para lhe abrirem a porta quando ele chegar e bater. 37Felizes aqueles servos a quem o senhor, quando vier, encontrar vigilantes! Em verdade vos digo: Vai cingir-se, mandará que se ponham à mesa e há-de servi-los. 38E, se vier pela meia-noite ou de madrugada, e assim os encontrar, felizes serão eles.
«Estejam apertados os vossos cintos e acesas as vossas lâmpadas» (v. 35). Este convite do Senhor é seguido de uma bem-aventurança: «Felizes aqueles servos» (v. 37). Esta bem-aventurança está colocada entre duas parábolas: a dos servos que esperam o seu senhor, e a do senhor que, ao regressar, em vez de se alimentar e descansar, convida os servos para a mesa e os serve. Ele mesmo!
E vem o tema da vigilância tão frequente no ensino de Jesus. A imagem das lâmpadas lembra a parábola das 10 virgens (Mt 25, 1-13) e tem o seu contraponto no sono de Pedro, Tiago e João no jardim das Oliveiras. Eles dormiam porque «os seus olhos estavam pesados» (Mc 14, 40). O convite de Jesus: «Vigiai e orai, para não cederdes à tentação» (Mc 14, 38) tinha caído em saco roto.
Os cintos apertados e as lâmpadas acesas indicam a atitude de estar prontos a permanecer ou a partir, conforme as ordens do senhor. Inspirando-se nos costumes da sua terra, Jesus aponta a vigilância espiritual como uma atitude importante para o cristão. Lucas regista outro convite de Jesus: «Tende cuidado convosco: que os vossos corações não se tornem pesados com a devassidão» (Lc 21, 34). A devassidão entorpece os olhos do coração, dificulta o crescimento e ilude a vida. O torpor espiritual faz perder o sentido da vida actual e futura. A certa altura o cristão já não sabe por que razões viver a sua fé... O que é dramático!Meditatio
Paulo afirma o princípio da solidariedade de todos os homens no mal e no bem: «Tal como por um só homem entrou o pecado no mundo e, pelo pecado, a morte, assim a morte atingiu todos os homens, uma vez que todos pecaram. Se pela falta de um só todos morreram, com muito mais razão a graça de Deus, aquela graça oferecida por meio de um só homem, Jesus Cristo, foi a todos concedida em abundância.» (vv. 14-15).
Temos dificuldade em admitir tal princípio, principalmente no aspecto negativo: «Pela falta de um só veio a condenação para todos os homens» (v. 18). Parece-nos um princípio muito injusto, e facilmente somos tentados a fugir a essa solidariedade. Não queremos ser confundidos com os pecadores. Até somos capazes de rezar por eles, mas colocando-nos à distância, numa atitude idêntica à do fariseu da parábola, em relação ao cobrador de impostos e ao «resto dos homens» (Lc 18, 11). Mas, se não aceitarmos esta solidariedade no pecado e na condenação, não receberemos «a abundância da graça». Cristo aceitou essa solidariedade e apresentou-se ao Pai carregado pelos pecados de toda a humanidade, Ele, «santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores» (Heb 7, 26). É um mistério profundo, revelação de um amor que a mente humana nem pode imaginar.
O culto ao Coração de Jesus, introduzindo-nos no mistério da sua oferta solidária com os pecados do mundo, para que, onde abundou o pecado, superabundasse «a graça e o dom da justiça» (v. 17), encoraja-nos a viver com Ele esta solidariedade e a oferecer com amor os pequenos e grandes sofrimentos da nossa vida para que se derrame sobre todos os homens «a justificação que dá a vida» (v. 18). O Padre Dehon sentiu-se particularmente chamado a viver este mistério. Foi o seu carisma e é o carisma que, por ele, receberam os membros da sua congregação: «Implicados no pecado, mas participantes na graça redentora... queremos unir-nos a Cristo presente na vida do mundo e, em solidariedade com Ele e com toda a humanidade e a criação inteira, oferecer-nos ao Pai como oblação viva, santa e agradável (cf. Rm 12,1)», dizem as Constituições (n. 22). E continuam: «No seguimento de Cristo, devemos viver em solidariedade efectiva com os homens. Sensíveis a tudo aquilo que, no mundo de hoje, constitui obstáculo ao amor do Senhor, queremos testemunhar que o esforço humano, para chegar à plenitude do Reino, tem de se purificar e transfigurar constantemente pela Cruz e Ressurreição de Cristo» (Cst 29).Oratio
Pai santo, o que Te agrada não é a morte do pecador, mas que se converta e viva. Implicados no pe
cado, mas participantes na graça redentora, queremos oferecer-nos a Ti, como oblação viva, santa e agradável. Converte-nos e converte os nossos irmãos para que buscando o único bem necessário, nos consagremos inteiramente ao louvor da tua glória. Amen.Contemplatio
Mesmo na cruz Jesus esquece-se e não vive senão para nós, apesar da nossa indignidade. «Meu Pai, dizia, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem». Esta oração aplica-se a nós todos, a todos os pecadores. Este grito exprime bem a infinita caridade, a infinita generosidade do Coração de Jesus: «Meu Pai, perdoai-lhes! Perdoai a todos os que me dão bofetadas, a todos aqueles que me ferem com chicotes ou com espinhos, a todos os que me desprezam e me escarram no rosto». Jesus pede pelos pecadores, por mim, por nós todos que O crucificámos. Ele desculpa a nossa loucura, o nosso orgulho, a nossa sensualidade: «Eles não sabem o que fazem!» Sim, Senhor, perdoai a estes vossos filhos ingratos, aos filhos da vossa Igreja que se mostram indiferentes ou perseguidores. Perdoai-me! Peço-vos as graças de arrependimento e de misericórdia às quais me dá direito a oração de Jesus Cristo. Depois desta oração, Jesus perdoa ao bom ladrão. Este homem está humilhado e contrito. Pede misericórdia. Jesus pronuncia a sentença do perdão: «Hoje, estareis comigo no paraíso!» A cruz é santificante quando é aceite com humildade, como fez o bom ladrão. União, portanto, a Jesus na cruz. Paciência com Ele e resignação. (Leão Dehon, OSP 2, p. 77).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«Onde abundou o pecado, superabundou a graça» (Rm 5, 2). -
Tempo Comum - Anos Ímpares - XXIX Semana - Quarta-feira
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20 de Outubro, 2021Lectio
Primeira leitura: Romanos 6, 12-18
Irmãos: que o pecado não reine mais no vosso corpo mortal, de tal modo que obedeçais às suas paixões. 13Não entregueis os vossos membros, como armas da injustiça, ao serviço do pecado. Pelo contrário, entregai-vos a Deus, como vivos de entre os mortos, e entregai os vossos membros, como armas da justiça, ao serviço de Deus. 14Pois o pecado não terá mais domínio sobre vós, uma vez que não estais sob a Lei, mas sob a graça. 15Então? Vamos pecar, porque não estamos sob a Lei, mas sob a graça? De modo nenhum! 16Não sabeis que, se vos entregais a alguém, obedecendo-lhe como escravos, sois escravos daquele a quem obedeceis, quer seja do pecado que leva à morte, quer da obediência que leva à justiça? 17Demos graças a Deus: éreis escravos do pecado, mas obedecestes de coração ao ensino que vos foi transmitido como norma de vida. 18E libertos do pecado, tornastes-vos escravos da justiça.
O baptismo tem exigências. É o que Paulo lembra aos romanos e a todos nós: «que o pecado não reine mais no vosso corpo mortal, de tal modo que obedeçais às suas paixões. Não entregueis os vossos membros, como armas da injustiça, ao serviço do pecado. Pelo contrário, entregai-vos a Deus, como vivos de entre os mortos, e entregai os vossos membros, como armas da justiça, ao serviço de Deus» (vv. 12s.). Quem foi baptizado em Cristo, foi sepultado e ressuscitou com Ele (cf. Rm 6, 3s.) e pode caminhar «numa vida nova» (Rm 6, 4). É sobre esta realidade que Paulo apoia todo o seu discurso. É preciso sermos o que somos, actuar de acordo com o dom recebido, viver o mistério pascal de Cristo, morrer ao pecado e viver em Cristo. Não se pode viver apenas uma dimensão do mistério, abandonando-se ao permissivismo e ao laxismo. É preciso comprometer-se na luta contra o pecado e aderir à graça de Deus. O Apóstolo termina dando graças a Deus pelos cristãos de Roma, que já tinham percebido as exigências da sua fé em Cristo, libertando-se da escravidão do pecado e tornando-se «escravos da justiça» (v. 18).
Evangelho: Lucas 12, 39-48
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 39Ficai a sabê-lo bem: se o dono da casa soubesse a que hora viria o ladrão, não teria deixado arrombar a sua casa. 40Estai preparados, vós também, porque o Filho do Homem chegará na hora em que menos pensais.» 41Pedro disse-lhe: «Senhor, é para nós que dizes essa parábola, ou é para todos igualmente?» 42O Senhor respondeu: «Quem será, pois, o administrador fiel e prudente a quem o senhor pôs à frente do seu pessoal para lhe dar, a seu tempo, a ração de trigo? 43Feliz o servo a quem o senhor, quando vier, encontrar procedendo assim. 44Em verdade vos digo que o porá à frente de todos os seus bens. 45Mas, se aquele administrador disser consigo mesmo: 'O meu senhor tarda em vir' e começar a espancar servos e servas, a comer, a beber e a embriagar-se, 46o senhor daquele servo chegará no dia em que ele menos espera e a uma hora que ele não sabe; então, pô-lo-á de parte, fazendo-o partilhar da sorte dos infiéis. 47O servo que, conhecendo a vontade do seu senhor, não se preparou e não agiu conforme os seus desejos, será castigado com muitos açoites. 48Aquele, porém, que, sem a conhecer, fez coisas dignas de açoites, apenas receberá alguns. A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito será pedido.»
Esta parábola alerta-nos para o perigo de vivermos uma vida adormentada, não tendo em consideração que não seremos avisados da hora em que o Senhor Jesus há-de vir pedir-nos contas. É, mais uma vez, o tema da vigilância. Pedro, em vez de se deixar provocar positivamente, pergunta se a parábola é para os discípulos ou também para todos. Parece insinuar que os que seguem Jesus, os crentes e praticantes, possam viver tranquilos. Porque, então, dirigir-lhes um discurso tão inquietante? Pedro parece não ter gostado nada das palavras de Jesus.
Em vez de lhe responder, Jesus, como noutras ocasiões, faz outra pergunta: «Quem será, pois, o administrador fiel e prudente?» (v. 42). Jesus é um provocador! E conta mais uma parábola em que manifesta a satisfação do senhor (que é o "Senhor!") que, ao regressar, encontra os servos a cumprir fielmente os seus deveres. Premeia-os generosamente (vv. 43s.). Mas os servos infiéis aos seus deveres, malcomportados e violentos, serão castigados severamente (vv. 45s.). E a maior severidade será para aqueles que, conhecendo melhor o Senhor e a sua vontade, em vez de a cumprirem amorosamente, se comportam de modo infiel (vv. 47s.).Meditatio
Há em nós uma enorme ânsia de alegria e de privilégios. Mas corremos o risco de errar no caminho para os alcançar. Jesus promete-nos a alegria, e já nos dá muita neste mundo, mostrando-nos o seu amor. Mas o amor de Jesus é exigente. Não podemos descuidar-nos de estar prontos e vigilantes, como talvez pensava Pedro. Depois de ouvir a parábola sobre a necessidade da vigilância, perguntou: «Senhor, é para nós que dizes essa parábola, ou é para todos igualmente?» (v. 41). Não podemos estar tranquilos, nós que somos teus discípulos e colaboradores? O egoísmo tenta sempre infiltrar-se nos nossos pensamentos. Por isso, é preciso dar-lhe luta sem tréguas, para nos libertarmos do pecado e nos colocarmos ao serviço de Deus. Paulo recorda-nos que estamos vivos tendo regressado de entre os mortos (cf. v. 13), habitados pela força e pelo poder de Cristo ressuscitado, sendo chamados a oferecer-nos a Deus com alegria e gratidão em tudo o que fazemos. Quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor, e nada é estranho a este horizonte de pertença que faz bela e rica a nossa vida. Quanto mais experimentámos em nós, ou nos outros, a verdade de que o pecado escraviza e leva à morte, mais pode o nosso coração dilatar-se em servir a Deus com alegria. Ai de nós se, como o servo da parábola, pensarmos que o «senhor tarda em vir» (v. 44). O nosso amado Senhor e Mestre está connosco para que vivamos, com o auxílio da sua graça, de acordo com a vida nova, que nos deu no baptismo, e nos tornemos santos e imaculados na sua presença no amor. O caminho consiste em obedecer cordialmente aos ensinamentos de Jesus, em unir-nos a Ele e ao seu amor oblativo, para glória e alegria de Deus, e para bem da humanidade. Esse caminho vai da escuta da Palavra ao partir juntos o pão da caridade, ao reconhecer Cristo presente nos pequenos e nos pobres, ao serviço generoso dos irmãos pelos quais todos somos responsáveis. Lemos nas nossas Constituições: «Discípulos do Padre Dehon, queremos fazer da nossa união com Cristo, no seu amor pelo Pai e pelos homens, o princípio e o centro da nossa vida. Meditamos com predilecção nestas palavras do Senhor: "Permanecei em Mim, como Eu permaneço em vós: como a vara n&atil
de;o pode dar fruto por si mesma, se não permanecer na videira, assim acontecerá convosco, se não permanecerdes em Mim" (Jo 15,4). Fiéis à escuta da Palavra, e à fracção do Pão, somos chamados a descobrir, cada vez mais, a Pessoa de Cristo e o mistério do seu Coração e a anunciar o seu amor que excede todo o conhecimento (cf. Ef 3, 17-19). É também na disponibilidade e no amor para com todos, especialmente para com os pequenos e os que sofrem, que viveremos a nossa união a Cristo» (Cst 17-18).
Ser-nos-ão pedidas contas do muito que recebemos. Mas também sabemos que, quem nos julgará, será Aquele que morreu por amor do nosso amor.Oratio
Pai, chamaste-nos, no vosso Filho Jesus, para sermos Povo Sacerdotal. Aceita a oferta de nós mesmos para o advento do teu Reino. Aumenta em nós o dom do Espírito, que renova o nosso coração. Mantêm-nos atentos e vigilantes ao serviço do teu Reino. Torna-nos semelhantes a Cristo, teu Servo fiel, e completamente disponíveis ao serviço dos irmãos. Ámen.
Contemplatio
O padre é um trabalhador e um semeador, tem uma tarefa rude (Jo 4, 35). É um soldado infatigável de Cristo, um lutador intrépido (2Tim 2). Deve estar disposto a tudo sofrer por amor dos eleitos e pela glória de Deus. É a cruz que fecunda o ministério do padre, por isso deve estar constantemente unido a Cristo sobre a cruz (Jo 12, 26). Discípulo e continuador de Cristo, o padre não pode ser tratado de outro modo senão como o seu Mestre (Mt 10, 24). A perseguição inerente ao ministério sacerdotal não faz senão reavivar a graça e o zelo no padre e aproveita grandemente às almas (2Cor 4, 8). O padre tem o direito à confiança e ao afecto filial dos fiéis. Mas pelo seu lado terá uma conta rigorosa a prestar da sua administração (Heb 13, 17). Uma magnífica recompensa está reservada ao padre, administrador fiel da sua família paroquial; um castigo rigoroso espera o administrador infiel. «Estai preparados, tinha dito Nosso Senhor, e tende as vossas lâmpadas acesas, a lâmpada das boas obras. - É para nós ou para todos que dizeis isto?» diz-lhe S. Pedro. - Qual é então, responde-lhe Nosso Senhor, o administrador fiel e prudente que o Senhor colocou à frente da sua casa para dar a cada um na hora conveniente a sua medida de trigo? (Não é o padre?). Se o Senhor, à sua chegada, encontra este servo fiel, cumulá-lo-á de bens» (Lc 12, 41). (Leão Dehon, OSP 4, p. 148s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«Entregai-vos a Deus, como vivos de entre os mortos» (Rm 6, 13). -
Tempo Comum - Anos Ímpares - XXIX Semana - Quinta-feira
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21 de Outubro, 2021Lectio
Primeira leitura: Romanos 6, 19-23
Irmãos: estou a falar em termos humanos, devido à fraqueza da vossa carne. Do mesmo modo que entregastes os vossos membros, como escravos, à impureza e à desordem, para viverdes na desordem, entregai agora também os vossos membros como escravos à justiça, para viverdes em santidade. 20Quando éreis escravos do pecado, éreis livres no que toca à justiça. 21Afinal, que frutos produzíeis então? Coisas de que agora vos envergonhais, porque o resultado disso era a morte. 22Mas agora, que estais libertos do pecado e vos tornastes servos de Deus, produzis frutos que levamà santificação, e o resultado é a vida eterna. 23É que o salário do pecado é a morte; ao passo que o dom gratuito que vem de Deus é a vida eterna, em Cristo Jesus, Senhor nosso.
Paulo reflecte, mais uma vez, sobre as consequências da fé e do baptismo na vida dos crentes. Pela fé e pelo baptismo, o crente deixou o passado e chegou ao presente, através do mistério pascal da morte e da vida, que foi de Cristo e agora é dos cristãos. É bom tomar consciência de onde viemos e para onde vamos: viemos da escravidão para a liberdade. Agora, falta continuar o percurso, de acordo com o projecto de Deus, e avançar no caminho que é Cristo. A vida cristã é essa caminhada em Cristo e com Cristo. Mas a vida cristã é também serviço: se antes estávamos ao serviço da impureza e da iniquidade, agora estamos ao serviço da justiça e da santidade. Quanto estávamos sob o jugo do pecado, éramos «livres no que toca à justiça» (v. 20). Agora, que fomos justificados pelo amor de Deus, por meio da fé, já não somos livres no que se refere à justiça, mas tornámo-nos servos da justiça, isto é, servos de Deus. Por isso, há que servi-l´O.
Evangelho: Lucas 12, 49-53
Naquele tempo disse Jesus aos seus discípulos: 49«Eu vim lançar fogo sobre a terra; e como gostaria que ele já se tivesse ateado! 50Tenho de receber um baptismo, e que angústias as minhas até que ele se realize! 51Julgais que Eu vim estabelecer a paz na Terra? Não, Eu vo-lo digo, mas antes a divisão. 52Porque, daqui por diante, estarão cinco divididos numa só casa: três contra dois e dois contra três; 53vão dividir-se: o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a sogra.»
Vim estabelecer «a divisão» (v. 51). Como é possível? Não foi Jesus que, na última ceia, rezou para que todos tivessem «um só coração e uma só alma»? (cf. Jo 17). Não de trata de uma contradição mas de um aprofundamento. Para abrir o coração e o meio em que vive à paz de Cristo, o discípulo deve dissociar-se de todos quantos, na mente e no coração, pertencem ao mundo que «jaz sob o poder do Maligno» (1 Jo 5, 19). «Não é possível servir a Deus e ao dinheiro» (Mt 6, 24). Jesus usa o termo «mamona» que não significa só o dinheiro, mas todo e qualquer ídolo, anichado na mente e no coração de quem O quer seguir e fazer parte do Reino de Deus, fonte de paz e de amor.
Meditatio
Paulo procura levar os destinatários da sua carta a reflectir sobre a sua condição quando eram escravos do pecado, e sobre aquela em que gora se encontram. Para nós, hoje, a realidade não é tão distinta. Não há um passado de impureza e de desordem absoluto e um hoje de santidade e de justiça. Há, sim, um caminho de conversão em acto para nos tornarmos semelhantes a Deus. Por isso, cada dia havemos de pedir a graça do poder da cruz, havemos de invocar o dom do Espírito Santo. Se verificamos a nossa lentidão no caminho da conversão, dá-nos confiança a certeza de que Deus é paciente e quer unir-nos a Ele de um modo cada vez mais íntimo e profundo, para que possamos saborear a grandeza da liberdade que nos vem de sermos seus. Paradoxalmente, como testemunham os santos, quanto mais somos possuídos por Deus, mais estamos livres de tudo. Isto não é compreensível à razão. Só quem o experimenta e vive o pode reconhecer.
Jesus, no evangelho de hoje, fala do seu desejo ardente de realizar a missão que o Pai Lhe confiou, ainda que saiba muito bem que isso comporta a sua passagem pela cruz. Encontramos estas mesmas disposições naqueles cristãos que alcançaram a verdadeira liberdade, tornando-se voluntariamente escravos de Deus que é Amor.
Peçamos ao Senhor clareza de vistas para sabermos distinguir a verdadeira da falsa liberdade, para servirmos a verdade, ainda que nos seja exigido um alto preço. O autor da carta aos Hebreus convida-nos a correr com perseverança, «tendo os olhos postos em Jesus» (Heb 12, 2). E exorta-nos: «Considerai, pois, aquele que sofreu tal oposição por parte dos pecadores, para que não desfaleçais, perdendo o ânimo. Ainda não resististes até ao sangue na luta contra o pecado» (Heb 12, 3-4).
A vida cristã, e a vida religiosa, são caminho que havemos de percorrer, de olhos postos em Jesus, lutando contra o pecado, num permanente esforço de conversão. Escrevem as nossas Constituições: «Seguros da indefectível fidelidade de Deus, radicados no amor de Cristo, sabemos que a nossa opção pela vida religiosa, para que se mantenha viva, exige o encontro frequente com o Senhor na oração, a conversão permanente ao Evangelho e a disponibilidade de coração e de atitudes, para acolher o Hoje de Deus» (Cst 144).Oratio
Senhor Jesus, obrigado porque, graças à tua morte e ressurreição, me teres libertado da antiga condição do pecado, e conduzido à liberdade dos filhos de Deus. Enche-me da tua graça, e dá-me um verdadeiro espírito de oração, para que prossiga o caminho, que me traçaste e marcaste com o teu sangue, num esforço permanente de conversão e de disponibilidade para acolher os sinais da tua presença e as indicações da vontade do Pai. Renova, Senhor, a face da terra; renova a minha vida. Amen.
Contemplatio
É preciso que eu purifique a minha alma pela penitência. «Eis que vem o reino de Deus, dizia S. João, portanto penitência! Penitência! Produzi dignos frutos de penitência». Isto queria dizer: Cristo vai chegar com as suas graças, com as suas misericórdias. Vai organizar o Reino de Deus, a sua Igreja. Mas não pode evidentemente admitir-vos nele se não vos converterdes dos vossos pecados. A sua misericórdia é grande sem dúvida, perdoar-vos-á muito, mas ainda é preciso que lamenteis o passado e que mudeis a vossa vida. Os Judeus e os pagãos de então compreenderam isso. Como sinal da sua mudança de vida, recebiam o baptismo. Eram mergulhados na água como na morte e saíam dela com uma vida nova. O baptismo simbolizava a purificação e a renovação da sua alma. Compreendi s
uficientemente que devo preparar-me cada dia para a vinda do Salvador à minha alma pela graça e pela Eucaristia? Não será que a minha vida decorra na rotina e na tibieza, em vez de se purificar na penitência e de se renovar pela conversão? (Leão Dehon, OSP 3, p. 211).Actio
Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«Ainda não resististes até ao sangue na luta contra o pecado» (Heb 12, 3-4). -
Tempo Comum - Anos Ímpares - XXIX Semana - Sexta-feira
Tempo Comum - Anos Ímpares - XXIX Semana - Sexta-feira
22 de Outubro, 2021Lectio
Primeira leitura: Romanos 7, 18-25a
Irmãos: eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita coisa boa; pois o querer está ao meu alcance, mas realizar o bem, isso não. 19É que não é o bem que eu quero que faço, mas o mal que eu não quero, isso é que pratico. 20Ora, se o que eu não quero é que faço, então já não sou eu que o realizo, mas o pecado que habita em mim. 21Deparo, pois, com esta lei: em mim, que quero fazer o bem, só o mal está ao meu alcance. 22Sim, eu sinto gosto pela lei de Deus, enquanto homem interior. 23Mas noto que há outra lei nos meus membros a lutar contra a lei da minha razão e a reter-me prisioneiro na lei do pecado que está nos meus membros. 24Que homem miserável sou eu! Quem me há-de libertar deste corpo que pertence à morte? 25Graças a Deus, por Jesus Cristo, Senhor nosso!
A vida cristã tem sempre algo de dramático, como se deduz do texto de Paulo, que escutamos. Embora salvos pela fé, precisamos de continuar a combater para alcançar a salvação. Uma coisa é conhecer a lei de Deus, e outra é observá-la. Também não é suficiente saber que a fé é capaz de nos salvar por um acto de abandono total ao amor misericordioso de Deus. Do mesmo modo, não basta assumir pela fé o mistério pascal de Cristo, que todavia sustenta e anima a vida do verdadeiro discípulo.
Paulo descreve a sua própria experiência de luta para nos ajudar a viver o drama de não fazermos o bem que queremos e de fazermos o mal que não queremos. Se é verdade que fomos libertados da escravidão de Satanás, também é verdade que continuamos expostos à escravidão da carne, do mal, dos nossos desejos inconfessáveis. Por isso, nos sentimos muito identificados com a luta do Apóstolo e com os seus anseios: «Que homem miserável sou eu! Quem me há-de libertar deste corpo que pertence à morte?» (v. 24).Evangelho: Lucas 12, 54-59
Naquele tempo dizia Jesus às multidões: 54«Quando vedes uma nuvem levantar-se do poente, dizeis logo: 'Vem lá a chuva'; e assim sucede. 55E quando sopra o vento sul, dizeis: 'Vai haver muito calor'; e assim acontece. 56Hipócritas, sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu; como é que não sabeis reconhecer o tempo presente?» 57«Porque não julgais por vós mesmos, o que é justo? 58Por isso, quando fores com o teu adversário ao magistrado, procura resolver o assunto no caminho, não vá ele entregar-te ao juiz, o juiz entregar-te ao oficial de justiça e o oficial de justiça meter-te na prisão. 59Digo-te que não sairás de lá, antes de pagares até ao último centavo.»
Jesus repreende os seus contemporâneos, que sabem distinguir os sinais meteorológicos, mas não o sinal que Ele mesmo é: o Filho unigénito enviado pelo Pai para salvação de todos. Compreender o tempo que vivemos é compreender as intenções de Deus que, em todo o tempo, sobretudo pelo mistério da Igreja e dos sacramentos, torna actual o mistério de Jesus com toda a sua eficácia salvífica.
Saber fazer previsões do tempo, analisando os dados da meteorologia, implica uma atenção interessada. Se não estivermos realmente interessados e atentos para nos darmos conta da importância do tempo como tempo para exercer a justiça e a caridade, corremos sério risco. Há que reconciliar-se radialmente com aqueles com que estamos em conflito. Caso contrário, podemos cair no remoinho do não-perdão, donde não sairemos indemnes. É como se Jesus apontasse o sinal do tempo por excelência, que é Ele mesmo, como sinal de salvação, mas só para quem se compromete a viver como reconciliado, isto é, na paz, na justiça e na bondade.Meditatio
Tanto Paulo como Jesus nos alertam para a presença do mal em nós. Jesus chama-nos hipócritas. Paulo fala, de modo incisivo e dramático, do mal com que continua a debater-se dentro de si mesmo. A linha de divisão entre o bem e o mal passa pelo nosso coração. Por isso, a luta contra o mal não se trava fora, mas dentro de nós. Se, por um lado, nos sentimos fascinados e atraídos pelo bem, por outro lado, também sentimos o apelo e a sedução do mal. Paulo, que bem conhece essa luta, chega a exclamar: «Que homem miserável sou eu!» (v. 24). Mas não se limita a contemplar o seu drama. Ergue os olhos para o céu e descortina o olhar amoroso de Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Limitar-nos a contemplar a nossa miséria, seria expor-nos à depressão. O crente dá-se naturalmente conta das suas limitações e do seu pecado com uma agudeza superior à de quem não tem fé. É por isso que os santos sempre se julgaram grandes pecadores. Mas também reconheceram, e reconhecem, que o remédio para a sua situação é Jesus, nossa paz e reconciliação, que veio colocar-se no coração da nossa aventura humana. Assim, mesmo no mais profundo abismo, podemos sentir-nos filhos de Deus. Se o cristão faz a experiência dolorosa da sua condição de pecador, também sabe que essa não é a última palavra sobre a sua condição. Por isso, do seu coração, pode brotar sempre a acção de graças, porque toda a nossa existência é agora eucaristia ao Pai, por meio de Jesus Cristo.
Agradeçamos ao Senhor por estarmos conscientes da nossa incapacidade para fazermos o bem, porque ela nos leva a unir-nos cada vez mais a Ele, nosso Salvador e nossa força. «Cristo faz-nos acreditar que, apesar do pecado, dos fracassos e da injustiça, a redenção é possível, oferecida e já está presente» no mundo (Cst 12).Oratio
Pai misericordioso, recebe em sacrifício o nosso coração limitado e fraco, o nosso coração dilacerado na luta contra o mal, o nosso coração pecador. Perdoa-nos termos confiado mais em nós do que em Ti, e termos caído tantas vezes. Ajuda-nos a que, pela penitência e pela caridade, nos afastemos do caminho do mal, sejamos livres do pecado, e Te façamos oblação do nosso coração contrito. Experimentando a tua solícita misericórdia, queremos fazer da nossa vida uma eucaristia de louvor, de bênção, de acção de graças, de súplica, de oferta. Aceita a nossa disponibilidade e o nosso zelo para colaborarmos no regresso de todos os teus filhos pródigos. Amen.
Contemplatio
Nosso Senhor cumula o convertido de carícias. Enche o seu coração com os mais doces sentimentos de alegria para o adoçar da amargura da penitência. Reserva a este pobre coração partido pelo arrependimento o festim delicioso das suas consolações. Longe de lhe reprovar o seu passado, mostra-se com ele cheio de doces delicadezas, porque já não é um pecador, mas um filho ternamente amado. Esta conversão alegra o Coração de Jesus, e se o filho re
encontrado continua a ser generoso, se é sobretudo amoroso, este regresso pode ser o ponto de partida não somente de uma vida correcta e virtuosa, mas de uma santidade deslumbrante. Mas para isso é preciso sempre que Nosso Senhor encontre no coração do convertido um grande impulso de generosidade. Consideremos o convertido da parábola. Logo que reconhecida a sua falta, o seu coração contrito e humilhado experimentará o sentimento profundo da sua indignidade. A acção segue imediatamente a resolução. «Levantar-me-ei, diz, e irei ter com o meu pai», e não podendo conter-se, levanta-se e vai exprimir ao seu pai a sua indignidade e pedir um lugar de simples criado. Esta generosidade, é preciso tê-la sempre, de outro modo a pessoa arrasta-se primeiro para a tibieza e depois cai ainda mais baixo. Meditemos também no acolhimento feito à generosidade do arrependimento: o pai não deixa ao filho senão o tempo para confessar a sua falta, depois aperta-o ao coração, perdoa-lhe e cumula-o com os seus dons. Que tocante e encorajadora parábola! (Leão Dehon, OSP 4, p. 124s.).Actio
Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«Graças a Deus, por Jesus Cristo, Senhor nosso!» (Rm 7, 25). -
Tempo Comum - Anos Ímpares - XXX Semana - Segunda-feira
Tempo Comum - Anos Ímpares - XXX Semana - Segunda-feira
25 de Outubro, 2021Lectio
Primeira leitura: Romanos 8, 12-17
Irmãos: somos devedores, mas não à carne, para vivermos de acordo com a carne. 13É que, se viverdes de acordo com a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito fizerdes morrer as obras do corpo, vivereis. 14De facto, todos os que se deixam guiar pelo Espírito, esses é que são filhos de Deus. 15Vós não recebestes um Espírito que vos escravize e volte a encher-vos de medo; mas recebestes um Espírito que faz de vós filhos adoptivos. É por Ele que clamamos: Abbá, ó Pai! 16Esse mesmo Espírito dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus. 17Ora, se somos filhos de Deus, somos também herdeiros: herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo, pressupondo que com Ele sofremos, para também com Ele sermos glorificados.
Pelo baptismo, o crente em Cristo vive uma vida nova, a vida dos «filhos de Deus» (v. 16). Ser cristão é ser filho de Deus, filho adoptivo, porque Filho unigénito é um só, Jesus Cristo. Mas, ser filho adoptivo de Deus significa ser verdadeiro filho, participante da vida divina, graças ao Filho unigénito. Trata-se de um maravilhoso mistério, que é o mistério da vida de Deus, que é o mistério da vida de Jesus, Filho unigénito do Pai, e que é a vida dos crentes. É um mistério a contemplar de coração jubiloso e agradecido.
Sendo filho de Deus, o crente em Cristo é habilitado e chamado a viver como filho de Deus, na liberdade e na confiança própria dos filhos. Por isso, pode clamar: Abbá, ó Pai! (v. 15), tal como fazia Jesus. A palavra abbá pode traduzir-se por «papá», «paizinho», o que nos deixa entrever a extrema confiança e ternura com que Jesus se dirigia ao Pai. É a atitude com que Jesus nos ensinou a dirigir-nos também ao Pai: «Quando orardes, dizei: Abbá! (Lc 11, 2).
Paulo termina a sua reflexão acrescentando: «se somos filhos de Deus, somos também herdeiros» (v. 17). Isto quer dizer que, como filhos, somos chamados a participar na herança do Filho, na vida eterna, total e definitiva participação na vida divina.Evangelho: Lucas 13, 10-17
Naquele tempo, 10Ensinava Jesus numa sinagoga em dia de sábado. 11Estava lá certa mulher doente por causa de um espírito, há dezoito anos: andava curvada e não podia endireitar-se completamente. 12Ao vê-la, Jesus chamou-a e disse-lhe: «Mulher, estás livre da tua enfermidade.» 13E impôs-lhe as mãos. No mesmo instante, ela endireitou-se e começou a dar glória a Deus. 14Mas o chefe da sinagoga, indignado por ver que Jesus fazia uma cura ao sábado, disse à multidão: «Seis dias há, durante os quais se deve trabalhar. Vinde, pois, nesses dias, para serdes curados e não em dia de sábado.» 15Replicou-lhe o Senhor: «Hipócritas, não solta cada um de vós, ao sábado, o seu boi ou o seu jumento da manjedoura e o leva a beber? 16E esta mulher, que é filha de Abraão, presa por Satanás há dezoito anos, não devia libertar-se desse laço, a um sábado?» 17Dizendo isto, todos os seus adversários ficaram envergonhados, e a multidão alegrava-se com todas as maravilhas que Ele realizava.
Jesus prossegue a caminhada para Jerusalém, onde se irá manifestar e onde irá realizar a sua missão salvífica. Lucas coloca ao longo desta caminhada os ensinamentos de Jesus aos discípulos. Eles são chamados a percorrer o mesmo caminho do Mestre, a partirem de Jerusalém (cf. 24, 47; Act 1, 8).
O milagre da cura da mulher curvada é narrado apenas por Lucas. Jesus realiza-a ao sábado, provocando a indignação do chefe da sinagoga. O Senhor aproveita o ensejo para reafirmar o essencial da mensagem evangélica: o amor de Deus, revelado por Jesus, libertando o homem da Lei, que, tendo sido dada para lhe garantir a liberdade, acabara por torná-lo escravo. O amor de Deus é absolutamente gratuito: Jesus curou a mulher sem que ela o pedisse (v. 12). Com o seu gesto, Jesus afirma que o sábado está ao serviço da vida: para quem ama a Deus, deixar de fazer o bem, significa fazer o mal. E é efectivamente "mal" o desprezo do chefe da sinagoga (v. 14); e são "mal" os pensamentos dos adversários de Jesus, para quem o anúncio do reino se torna vergonha (v. 17ª).
A palavra de Jesus realiza o que diz. Os seus gestos nada têm a ver com o espectáculo que davam os taumaturgos orientais. Jesus liberta do espírito maligno, origem do mal, que deforma a imagem do homem (cf. Gn 1, 26ss.), tornando-o escravo, incapaz de erguer os olhos para o Criador (cf. Sl 121, 1; 123, 1). Restituído à dignidade da relação vital com Deus, o homem é cheio de alegria e dá glória ao seu Senhor e Salvador exaltando as suas obras maravilhosas (vv. 13b.17b).Meditatio
No mundo actual fala-se muito de liberdade, exige-se liberdade. As leituras de hoje levam-nos a meditar sobre esse valor. E é bom que o façamos, para melhor o entendermos, desejarmos, exigirmos, vivermos, respeitarmos. Na primeira leitura, Paulo convida-nos a viver de acordo com o Espírito, a ultrapassar o espírito de escravos, a vivermos na liberdade que nos é dada pelo Espírito, a clamar "Abbá!", quando nos dirigimos a Deus. De facto, chamamo-nos - «e, realmente, o somos!» - filhos de Deus (1 Jo 3, 1).
No evangelho vemos Jesus libertar uma mulher que «doente por causa de um espírito, há dezoito anos, que andava curvada e não podia endireitar-se completamente» (v. 11). «Mulher, estás livre da tua enfermidade» (v. 12), diz-lhe Jesus, que se indigna com os reparos do chefe da sinagoga, preocupado com a falta de observância do sábado (v. 14).
Deus quer para nós a verdadeira liberdade, aquela de que Paulo indica a condição, à primeira vista contraditória: «todos os que se deixam guiar pelo Espírito, esses é que são filhos de Deus» (v. 14). A verdadeira liberdade não é libertinagem, não é espírito de independência, mas docilidade ao Espírito de Deus, na confiança e na simplicidade. Obedecendo ao Espírito de Deus, somos libertados da escravidão do mundo e do pecado.
Podemos ser escravos de muita coisa: da moda, do conformismo, não só quanto ao modo de vestir, mas também de viver. Muitas pessoas não têm coragem de viver como gostariam, e conformam-se ao espírito do mundo, do «homem velho», como escreveu Paulo (Ef 4, 22). Os cristãos são chamados a inventar um modo novo de viver, e a não ser escravos do que se faz ou não se faz, a encontrar caminhos e meios, ainda que inéditos, para fazer o bem, para ser filhos de Deus na liberdade, com imensa confiança no Pai. Podem enganar-se nas suas tentativas. Mas, se actuarem com o Espírito de Deus, o erro não irá longe, será corrigido e tornar-se-á fecundo de bem, conforme ao desígnio de Deus.
Um cristão há-de ser livre, não só diante dos costumes do mundo, mas também no modo como vive a sua condição de filho de Deus. Cada
vocação é irrepetível. Não há duas iguais. Mais do que imitar este ou aquele santo, devemos procurar o nosso próprio caminho de santidade, segundo o nosso carisma, isto é, conforme o dom que recebemos do Espírito e as orientações que nos dá. É este o verdadeiro pluralismo cristão.Oratio
Senhor, ensina-me a viver como teu filho, como homem livre; ensina-me a tender à cura perfeita, pela confiança no teu poder divino. Infunde em mim o teu Espírito Santo, que seja o farol dos meus passos, tantas vezes incertos e lentos. Dá-me, cada dia, o pão da tua Palavra, que me fortaleça no caminho íngreme e sinuoso da vida. Suporta com paciência e misericórdia os meus erros. Sê o meu refúgio e o meu descanso, a minha Providência em todas as necessidades e crises. Ensina-me os valores e ideais que dão sentido à vida. Sê o meu Pai, cheio de bondade e de carinho. E que eu viva e me comporte sempre como teu filho. Amen.
Contemplatio
Aprendamos de Nosso Senhor que não podemos merecer a liberdade dos filhos de Deus senão pela obediência, e as alegrias puras das graças do céu senão pelas mortificações e pelas privações desta vida. Nosso Senhor deixa-se conduzir por S. José e levar pela sua divina Mãe, de Nazaré a Belém, para obedecer a um príncipe adorador dos ídolos, Ele que é o Rei dos reis e a luz do mundo. Poderia depor César Augusto do trono onde a sua mão o colocou; obedece-lhe, no entanto, e logo que o seu édito aparece. A obediência é-lhe tão querida que assim há-de seguir toda a sua vida e há-de conduzi-lo à morte: Fez-se obediente até à morte e morte de cruz (Fl 2, 8). (Leão Dehon, OSP 4, p. 580).
Actio
Repete muitas vezes e vive a palavra:
«Os que se deixam guiar pelo Espírito, são filhos de Deus» (Rm 8, 14). -
Tempo Comum - Anos Ímpares - XXX Semana - Terça-feira
Tempo Comum - Anos Ímpares - XXX Semana - Terça-feira
26 de Outubro, 2021Lectio
Primeira leitura: Romanos 8, 18-25
Irmãos: estou convencido de que os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que há-de revelar-se em nós. 19Pois até a criação se encontra em expectativa ansiosa, aguardando a revelação dos filhos de Deus. 20De facto, a criação foi sujeita à destruição - não voluntariamente, mas por disposição daquele que a sujeitou - na esperança 21de que também ela será libertada da escravidão da corrupção, para alcançar a liberdade na glória dos filhos de Deus. 22Bem sabemos como toda a criação geme e sofre as dores de parto até ao presente. 23Não só ela. Também nós, que possuímos as primícias do Espírito, nós próprios gememos no nosso íntimo, aguardando a adopção filial, a libertação do nosso corpo. 24De facto, foi na esperança que fomos salvos. Ora uma esperança naquilo que se vê não é esperança. Quem é que vai esperar aquilo que já está a ver? 25Mas, se é o que não vemos que esperamos, então é com paciência que o temos de aguardar.
Justificados pela graça de Deus, por meio da fé, no poder do Espírito Santo, tornámo-nos filhos de Deus, co-herdeiros com Cristo. Esta é a nossa realidade actual. As consequências dessa realidade são o que Paulo chama «a glória que há revelar-se em nós» (v. 18). A vida cristã decorre entre um "já" e um "ainda não". Este "já", por vezes, é marcado por diversas provações «os sofrimentos do tempo presente», dúvidas, angústias, doenças... Mas, desde já, entrevemos um futuro de luz e de paz!
A própria criação partilha e vive esta tensão da humanidade e de cada um de nós: «até a criação se encontra em expectativa ansiosa, aguardando a revelação dos filhos de Deus» (v. 19).
«Foi na esperança que fomos salvos», conclui o Apóstolo (v. 24). A nossa salvação "já" está adquirida, tal como a nossa filiação divina. Mas "ainda" devemos esperar, com paciência, a sua plena e definitiva realização.Evangelho: Lucas 13, 18-21
Naquele tempo, disse Jesus: «A que é semelhante o Reino de Deus e a que posso compará-lo? 19É semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e deitou no seu quintal. Cresceu, tornou-se uma árvore e as aves do céu vieram abrigar-se nos seus ramos.» 20Disse ainda: «A que posso comparar o Reino de Deus? 21É semelhante ao fermento que certa mulher tomou e misturou com três medidas de farinha, até ficar levedada toda a massa.»
Depois de se ter manifestado como senhor do tempo, ao curar a mulher curvada em dia de sábado, Jesus manifesta-se como o «hoje» da salvação que se realiza no amor. O reino de Deus está no meio de nós. As duas parábolas do texto evangélico que escutamos hoje revelam-nos duas características desse reino: a sua grande expansão e a sua força transformadora.
Entre as várias narrativas parabólicas que Lucas coloca ao narrar a caminhada de Jesus para Jerusalém, apenas estas duas se referem ao reino de Deus. Esse reino tem uma grande expansão no mundo, graças à pregação dos discípulos. Os modestos começos do ministério de Jesus têm um grande desenvolvimento: a sua palavra que ecoa no mundo inteiro e da qual todos recebem vida, é comparável à árvore cósmica de Daniel (4, 7ª-9), cuja imagem é evocada no crescimento do arbusto de mostarda (vv. 18s.).
Outra característica do reino de Deus é a sua força intrínseca, que realiza um crescimento qualitativo no mundo. Como um pouco de fermento escondido na massa inerte de farinha provoca o seu crescimento, assim o reino de Deus, pela evangelização animada pelo poder do Espírito Santo, transforma todo o mundo, sem qualquer discriminação.Meditatio
Paulo abre uma maravilhosa perspectiva de futuro à vida cristã: «estou convencido de que os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que há-de revelar-se em nós» (v. 18). É o dom da esperança que nos ampara, no meio dos sofrimentos e lutas do caminho da vida. «Foi na esperança que fomos salvos», diz o Apóstolo (v. 24). Fomos salvos por Cristo morto e ressuscitado. Mas as consequências da salvação ainda não se manifestaram plenamente em nós. A própria criação «se encontra em expectativa ansiosa, aguardando a revelação dos filhos de Deus» (v. 19). A vida cristã decorre entre um "já" e um "ainda não". Entretanto, a acção redentora de Deus continua a realizar-se no mundo, quase sempre de modo discreto, pelo que temos dificuldade em a observar. O modo como o Reino cresce no mundo é descrito por Jesus no evangelho com duas parábolas, uma para o homem e outra para a mulher. Lucas gosta de anotar estas delicadezas do Senhor para com as mulheres. Isso quer dizer que o Senhor convida todos, homens e mulheres, à paciência e à esperança. O Reino de Deus parece coisa pouca, quase nada, mas encerra uma força poderosa. O grão de mostarda mal se vê, mas encerra uma força vital que o faz crescer até se tornar um grande arbusto, onde os pássaros podem poisar. O fermento escondido pela mulher na farinha parece coisa pouca. Mas fá-la fermentar e dá-lhe a capacidade de se tornar pão. O mesmo acontece na nossa vida: devemos acolher o Reino, a Palavra, que é, como palavra, pouca coisa, ar em movimento, mas que é capaz de transformar a nossa vida, desde que tenhamos paciência e confiança. Paciência porque a transformação não acontece de um momento para o outro; confiança porque sabemos que irá acontecer, graças ao poder de Deus em nós. O Reino de Deus foi inaugurado pela presença, pela palavra e pelos actos de Jesus. Mas só se realizará plenamente quando o Filho do homem entregar tudo e todos a Deus, seu Pai. O "Reino de Deus" é uma realidade escatológica, de que Jesus é uma antecipação e uma realização pessoal. Tudo o resto é apenas índice e figura do Reino. Como afirma o Vaticano II, a Igreja é apenas «gérmen e início do Reino de Deus» (LG 5). Aderindo totalmente e com alegria à Pessoa de Jesus, contemplando o Lado aberto do Crucificado e o mistério do Coração de Cristo, testemunhamos o primado do Seu Reino cf. Cst 13).
Oratio
Senhor Jesus, Tu és o verdadeiro fermento, que quer levedar cada um dos homens, e a humanidade inteira, transformando-os em Reino de Deus. Para isso vieste ao mundo, viveste a nossa vida e morreste por nós. Para isso, quiseste ficar connosco na Eucaristia, até ao fim dos tempos. Obrigado, Senhor Jesus! Que nos deixemos tr
ansformar por Ti, e nos tornemos Contigo semente e fermento do Reino.
Não é fácil semear, como não é fácil amassar e fazer crescer a massa. Dá-me coragem para não desertar, dá-me força para perseverar, dá-me zelo para fazer florir o teu amor nos corações que ainda permanecem ázimos. Dá-me esperança para entrever, com os meus irmãos e irmãs, a tua glória. Amen.Contemplatio
É verdade que a presença sacramental de Jesus em nós cessa com a dissolução das santas espécies; mas o Salvador permanece em nós pela sua acção, pela sua influência vital, segundo a sua palavra tão formal: «Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, permanece em mim e eu nele». Permanece em nós para nos transformar n' Ele. Não se deve confundir a vida e o alimento. A vida é um estado, o alimento é alguma coisa de passageiro. O pão que comemos transforma-se na substância do nosso corpo. Traz-lhe uma nova dose de vida e de forças. O mesmo na comunhão: Jesus o pão celeste, o Pão vivificante deixe em breve de estar presente de uma presença terrestre e exterior; mas permanece em nós e nós permanecemos n' Ele de uma maneira toda celeste e muito real; é o que se chama a presença espiritual de Jesus nos seus fiéis. Dura tanto que pela sua fé e na união do Espírito Santo, permanecemos em Cristo. Há esta diferença entre o alimento corporal e o alimento espiritual que, no primeiro, é o pão que é transformado em nós; ao passo que, no segundo, somos nós que temos a felicidade de sermos transformados em Jesus, tanto quanto o permitam as nossas disposições e a nossa fraqueza. «Como o fermento, misturado na massa, a levanta e a transforma, diz S. Cirilo de Alexandria, assim Jesus, sob o véu da sua pequena hóstia, atrai a si o homem todo inteiro, para o encher com a sua graça; e assim Cristo permanece em nós e nós n' Ele» (Lv. 4). (Leão Dehon, OSP 4, p. 247s.).
Actio
Repete muitas vezes e vive a palavra:
«O Reino de Deus é semelhante ao fermento» (cf. Lc 13, 21). -
Tempo Comum – Anos Ímpares – XXX Semana – Quarta-feira
Tempo Comum – Anos Ímpares – XXX Semana – Quarta-feira
27 de Outubro, 2021Tempo Comum – Anos Ímpares – XXX Semana – Quarta-feira
Lectio
Primeira leitura: Romanos 8, 26-30
Irmãos: é o Espírito que vem em auxílio da nossa fraqueza, pois não sabemos o que havemos de pedir, para rezarmos como deve ser; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis. 27E aquele que examina os corações conhece as intenções do Espírito, porque é de acordo com Deus que o Espírito intercede pelos santos. 28Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados, de acordo com o seu desígnio. 29Porque àqueles que Ele de antemão conheceu, também os predestinou para serem uma imagem idêntica à do seu Filho, de tal modo que Ele é o primogénito de muitos irmãos. 30E àqueles que predestinou, também os chamou; e àqueles que chamou, também os justificou; e àqueles que justificou, também os glorificou.
Paulo recomenda a oração, sem a qual não há vida verdadeiramente cristã. Para o cristão, a oração, mais do que um dever a cumprir, é uma necessidade que vem do dom recebido de Deus, da vida nova que decorre do baptismo, é um acto de abandono e de confiança n´Aquele que podemos chamar Abbá, Pai! O próprio Espírito, derramado em nossos corações, no baptismo, não só «vem em auxílio da nossa fraqueza» (v. 26) para rezarmos, e rezarmos convenientemente, Ele próprio «intercede por nós com gemidos inefáveis» (v. 26). A oração é fruto do Espírito Santo em nós, é oração do Espírito Santo em nós: «é de acordo com Deus que o Espírito intercede pelos santos» (v. 27). Temos, pois, dois intercessores diante do Pai: Jesus, o único mediador, e o Espírito, o outro consolador. Por isso, nunca estamos sozinhos na oração. A presença e a assistência de Jesus e do Espírito tornam eficaz a nossa oração. A oração permite-nos tomar consciência dos dons recebidos e dos que havemos de receber, progredindo na fé, conforme o itinerário resumido pelo Apóstolo no v. 30: «Àqueles que predestinou, também os chamou; e àqueles que chamou, também os justificou; e àqueles que justificou, também os glorificou».
Evangelho: Lucas 13,22-30
Naquele tempo: Jesus percorria cidades e aldeias, ensinando e caminhando para Jerusalém. 23Disse-lhe alguém: «Senhor, são poucos os que se salvam?» Ele respondeu-lhes: 24«Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque Eu vos digo que muitos tentarão entrar sem o conseguir. 25Uma vez que o dono da casa se levante e feche a porta, ficareis fora e batereis, dizendo: ‘Abre-nos, Senhor!’ Mas ele há-de responder-vos: ‘Não sei de onde sois.’ 26Começareis, então, a dizer: ‘Comemos e bebemos contigo e Tu ensinaste nas nossas praças.’ 27Responder-vos-á: ‘Repito-vos que não sei de onde sois. Apartai-vos de mim, todos os que praticais a iniquidade.’ 28Lá haverá pranto e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac, Jacob e todos os profetas no Reino de Deus, e vós a serdes postos fora. 29Hão-de vir do Oriente, do Ocidente, do Norte e do Sul, sentar-se à mesa no Reino de Deus. 30E há últimos que serão dos primeiros e primeiros que serão dos últimos.»
O sumário lucano do v. 22 introduz uma nova etapa da viagem de Jesus para Jerusalém. Jesus não responde directamente à pergunta com que abre a nova secção (v. 23), indicando o número dos que se salvam. Mas exorta a estar prontos e solícitos para acolher o Reino que vem. É urgente um compromisso total de todo o nosso ser e forças, como faríamos, se tivéssemos de entrar por uma porta estreita (v. 24). «Hoje» é o momento para esse compromisso: a salvação é o dom de Deus a que se adere fazendo o bem, e não simplesmente reclamando laços familiares com Jesus (vv. 25s.).
A imagem do banquete escatológico, em que participam todos os povos da terra (v. 29), manifesta a salvação oferecida a todos os homens e acolhida por muitos pagãos. Estes, os «últimos» a receber o anúncio do Evangelho, serão os «primeiros» a entrar no reino de Deus, enquanto Israel, o primeiro a ouvi-lo, se verá excluído dele, se não o acolher (v. 30). A salvação não é questão de pertença étnica, mas de fé em Jesus. Não é o ser filhos de Abraão que assegura a salvação, mas o realizar as obras de Abraão (cf. Jo 8, 39) que, na esperança da redenção futura, acreditou e, pela fé foi reconhecido como justo (cf. Tg 2, 23).Meditatio
A primeira leitura leva-nos a contemplar o projecto de Deus acerca do homem: «Àqueles que Ele de antemão conheceu, também os predestinou para serem uma imagem idêntica à do seu Filho» (v. 29). Somos, pois, chamados a tornar-nos semelhantes ao Filho predilecto de Deus, para que nos possa amar com Cristo e n´Ele. Tudo está ordenado para a realização deste projecto: «tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus» (v. 28), que foram chamados de acordo com o seu projecto de amor. É um pensamento de Deus estabelecido desde sempre: Ele «predestinou-nos». Isto significa que, desde o princípio, fomos destinados a tornar-nos semelhantes ao Filho: «Àqueles que predestinou, também os chamou; e àqueles que chamou, também os justificou; e àqueles que justificou, também os glorificou.» (v. 30). Este projecto de Deus deve suscitar a nossa admiração e tornar-se, em nós, uma fonte de confiança e de generosidade constantes. Deus ama-nos, quer que sejamos perfeitos, santos, unidos a Ele em estreitíssima comunhão. É quanto basta para que o seu projecto se torne realidade. Deus pensa sempre nesse projecto e inspira-nos o que havemos de fazer para progredir nesse caminho, dá-nos a força necessária, dá-nos a luz e dá-nos o desejo de corresponder aos seus dons.
Um projecto tão grandioso não está ao alcance das possibilidades humanas. Por nós mesmos, nunca seríamos capazes de nos tornar semelhantes a Jesus. Mas Deus dá-nos esse desejo, e o Espírito vem em ajuda da nossa fraqueza, para manifestarmos esse anseio: «o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis» (v. 26). Assim quando nos damos conta de que a santidade está para além das nossas capacidades, e deixamos que o Espírito Santo gema em nós, porque somos fracos, porque somos pobres, começa a realizar-se a nossa santidade. E podemos progredir com grande confiança em Deus, que nos predestinou para nos tornarmos semelhantes ao Filho, que quer trabalhar em nós por meio do sofrimento do desejo e, depois, na generosidade da realização.
No evangelho, alguém pergunta a Jesus: «Senhor, são poucos os que se salvam?» (v. 23) Jesus não responde à pergunta, mas acrescenta: «Esforçai-vos por entrar pela porta e
streita» (v. 24). O Senhor queria que essa pessoa não ficasse apenas pela especulação, mas assumisse uma atitude de vida. O desejo do Coração de Jesus é que todos se empenhem em entrar no projecto de amor e salvação idealizado por Deus em favor dos homens, projecto tão maravilhosamente descrito por Paulo.Oratio
Bendito sejas, Pai Santo, pelo teu projecto de amor para cada um de nós, realizado no teu Filho Jesus Cristo, morto e ressuscitado para nossa salvação. Bendito sejas pela alegria e pela confiança que esse projecto suscita em nós, pois estamos certos de que o completarás em nós. Abandonamo-nos ao teu Espírito Santo. Que Ele aperfeiçoe em nós a imagem de Jesus, resplendor da tua glória, para Te darmos plena alegria, e glorificarmos no meio dos irmãos. Amen.
Contemplatio
Não estamos na terra senão para aqui continuarmos a vida santa que Jesus aqui levou. No baptismo, fizemos profissão de vivermos da sua vida, isto é, de o formarmos em nós, segundo a expressão de S. Paulo: até que Cristo se forme entre vós! (Gl 4, 19). Devemos apropriar-nos das suas virtudes, dos seus sentimentos, do seu espírito, das suas disposições e inclinações totalmente divinas. A vida e o reino de Jesus nos nossos corações diviniza-nos. «Nosso Senhor, diz o P. Eudes, desce e habita em nós pela graça, a fim de nos transformar em si mesmo. Agarra-nos interiormente pelas mãos todo-poderosas do Espírito Santo, como uma pequena hóstia que quer consagrar, para a oferecer consigo à glória do seu Pai celeste: sacrifício admirável, consagração deificante, preciosa e inefável elevação! Faz de nós seres sobrenaturais; de terrestres, torna-nos celestes, e de pobres nadas, de pecadores indignos, faz cristãos, santos, filhos de Deus» (P. Eudes, A vida interior). Unidos ao Coração de Jesus, tornamo-nos membros vivos de Cristo. Participamos na luz do sol da Verdade. O amor do seu Coração abrasa o nosso. Há algo de mais nobre, de mais sublime do que esta vida? (Leão Dehon, OSP 3, p. 514)
Actio
Repete muitas vezes e vive a palavra:
«Tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus» (Rm 8, 28) -
S. Simão e S. Judas, Apóstolos
S. Simão e S. Judas, Apóstolos
28 de Outubro, 2021Os apóstolos, que hoje celebramos, ocupam uma posição bastante discreta nos evangelhos. Simão é cognominado "zelote" por Lucas, talvez porque pertencia ao grupo antirromano dos zelotes. Mateus e Marcos qualificam-no como "cananeu" (10, 3; 3, 18). O apóstolo Judas, cognominado "Tadeu" por Mateus e Marcos (10, 3; 3, 18), é qualificado por Lucas como "filho de Tiago" (6, 16) e, portanto, primo do Senhor. É este Judas que, na última ceia, diz a Jesus: "Porque te hás-de manifestar a nós e não te manifestarás ao mundo?»" (Jo 14, 22). Uma das Cartas Católicas, na qual se previne os cristãos contra os falsos doutores que se haviam infiltrado nas comunidades, é-lhe atribuída. De acordo com uma tradição oriental, os dois apóstolos terão levado o Evangelho até ao Cáucaso, onde teriam sido martirizados. A sua festa, celebrada no Oriente desde o século VI, passou a ser celebrada em Roma no século IX.
Lectio
Primeira leitura: Efésios 2, 19-22
Irmãos: Já não sois estrangeiros nem imigrantes, mas sois concidadãos dos santos e membros da casa de Deus, 20edificados sobre o alicerce dos Apóstolos e dos Profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus. 21É nele que toda a construção, bem ajustada, cresce para formar um templo santo, no Senhor. 22É nele que também vós sois integrados na construção, para formardes uma habitação de Deus, pelo Espírito.
Na perspetiva de Paulo, o ministério de Cristo e o da Igreja estão intimamente ligados entre si. A unidade e a paz que há entre os cristãos, de origem pagã, ou deorigem hebraica, é dom de Deus Pai, por meio de Cristo Senhor, no Espírito Santo. A Igreja é como que um grande edifício, um templo santo, morada de Deus entre os homens. Os apóstolos, nossos pais na fé, com os profetas, são o fundamento desse edifício, onde nos sentimos "concidadãos dos santos e membros da casa de Deus" (v. 19). A "pedra angular" é Cristo (v. 20). Nesta perspetiva cristológica, a eclesiologia de Paulo torna-se particularmente clara. A presença, a função e o ministério dos apóstolos assume toda a sua importância. A Igreja é, pois, una, santa, católica e apostólica.
Evangelho: Lucas 6, 12-19
Naqueles dias, Jesus foi para o monte fazer oração e passou a noite a orar a Deus. 13Quando nasceu o dia, convocou os discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de Apóstolos: 14Simão, a quem chamou Pedro, e André, seu irmão; Tiago, João, Filipe e Bartolomeu; 15Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado o Zelote; 16Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, que veio a ser o traidor. 17Descendo com eles, deteve-se num sítio plano, juntamente com numerosos discípulos e uma grande multidão de toda a Judeia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e de Sídon, 18que acorrera para o ouvir e ser curada dos seus males. Os que eram atormentados por espíritos malignos ficavam curados; 19e toda a multidão procurava tocar-lhe, pois emanava dele uma força que a todos curava.
Jesus dá particular atenção ao grupo dos Doze: escolhe-os (Lc 6, 12-19), institui-os como colégio (Mc 3, 13-19) e envia-os em missão (Mt 10, 1-15). Lucas anota que Jesus prepara a escolha dos Doze com uma noite de oração (6, 12). Antes de os escolher, Jesus chama os seus discípulos: o chamamento, a vocação, está sempre na origem de toda a instituição e ministério eclesial. Depois de os chamar, Jesus impõe-lhes o nome de apóstolos. A nota de Lucas pretende certamente exprimir a importância do colégio dos Doze na Igreja que Jesus está para fundar.
Meditatio
A festa dos santos apóstolos Simão e Judas oferecem-nos ensejo para refletirmos e tornarmos mais clara consciência da Igreja, que é simultaneamente corpo de Cristo e templo do Espírito Santo. São duas dimensões imprescindíveis. Não se pode receber o Espírito Santo sem pertencer ao corpo de Cristo. A razão é clara: o Espírito Santo é o Espírito de Cristo, que se recebe no corpo de Cristo. A Igreja, todavia, tem um aspeto visível. Por isso, Cristo escolheu os Doze e continua a escolher os seus sucessores, para formar a estrutura visível do seu corpo, quase em continuação da Incarnação. Pertencendo ao corpo de Cristo, podemos receber o seu Espírito e ser intimamente unidos a Ele num só corpo e num só Espírito.
Um outro aspeto que esta festa nos permite colher é a relação entre a oração e a missão. Jesus demora-se em oração antes de decidir a escolha dos Doze. É preciso rezar para discernir o projeto de Deus. É preciso rezar em ordem às grandes decisões da vida pessoal e comunitária. Nesta perspetiva, a oração não é um momento separado do resto da vida, mas uma atitude prévia à nossa experiência de vida pessoal e eclesial. Rezar antes de iniciar a missão pessoal e/ou comunitária significa confiá-la Àquele que é o seu primeiro responsável, o dono da vinha, o pastor do rebanho, o Senhor do povo.
"Reconhecemos que da oração assídua depende... a fecundidade do nosso apostolado." (Cst 76).Oratio
Senhor Jesus, na festa de S. Simão e S. Judas, quero pedir-te a graça de, como os santos apóstolos, me tornar teu familiar e amigo. Então virás, com o Pai e com o Espírito Santo estabelecer em mim a tua morada. Que eu seja todo para ti, para o teu amor, para o apostolado, cooperação na tua obra redentora no coração do mundo. Ámen.
Contemplatio
Os dois apóstolos, que deviam ter-se conhecido na sua juventude em Caná, terminaram juntos o seu apostolado na Pérsia. Lá quiseram obrigá-los a oferecer sacrifícios ao Sol; preferiram dar a sua vida por Jesus Cristo. A sua morte foi ainda para ambos um ato de caridade, no seu objeto e nas suas circunstâncias. S. Simão estava num templo onde queriam obrigá-lo a sacrificar aos ídolos. Um anjo disse-lhe: «Far-te-ei sair do templo e farei ruir sobre eles todo o edifício». - «Não, respondeu Simão, deixai-os viver. Pode ser que alguns deles venham a converter-se». Enfim, um anjo disse a ambos: «Que escolheis? Ou a morte para vós ou o extermínio deste povo ímpio?» Os dois apóstolos exclamaram: «Misericórdia para este povo! Que o martírio seja a nossa herança». A sua morte foi uma semente de conversões. Unidos na sua vida, foram-no na morte, e são-no também no culto que lhes é prestado. A Igreja honra-os no mesmo dia. Os seus corpos reuniram-se a S. Pedro em Roma. Devo imitá-los no seu amor por Jesus, na sua fidelidade e no seu zelo pela salvação do próximo. (L. Dehon, OSP 4, p. 402s.).
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
"Sois concidadãos dos santos
e membros da casa de Deus" (Ef 2, 19).----
S. Simão e S. Judas, Apóstolos (28 Outubro) -
Tempo Comum – Anos Ímpares – XXX Semana – Quinta-feira
Tempo Comum – Anos Ímpares – XXX Semana – Quinta-feira
29 de Outubro, 2021Tempo Comum – Anos Ímpares – XXX Semana – Quinta-feira
Lectio
Primeira leitura: Romanos 8, 31b-39
Irmãos: Se Deus está por nós, quem pode estar contra nós? 32Ele, que nem sequer poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não havia de nos oferecer tudo juntamente com Ele? 33Quem irá acusar os eleitos de Deus? Deus é quem nos justifica! 34Quem irá condená-los? Jesus Cristo, aquele que morreu, mais, que ressuscitou, que está à direita de Deus é quem intercede por nós. 35Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? 36De acordo com o que está escrito: Por causa de ti, estamos expostos à morte o dia inteiro, fomos tratados como ovelhas destinadas ao matadouro. 37Mas em tudo isso saímos mais do que vencedores, graças àquele que nos amou. 38Estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem as potestades, 39nem a altura, nem o abismo, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus, Senhor nosso.
Paulo, ao concluir o capítulo oitavo da carta aos Romanos, oferece-nos um hino ao amor de Deus revelado em Cristo Jesus. Foi a experiência desse amor que o transformou de perseguidor em apóstolo. Na sua reflexão, mais uma vez, o Apóstolo parte do mistério pascal de Cristo: «Ele, que nem sequer poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não havia de nos oferecer tudo juntamente com Ele», escreve Paulo (v. 32). Nestas palavras ecoa a narrativa do sacrifício de Isaac (Gn 22, 1-22), que ilumina o sacrifício de Cristo. O Apóstolo fez experiência desse amor. Também nós somos chamados a fazê-la. E, como ele, também nós poderemos exclamar «quem poderá separar-nos do amor de Cristo?» (v. 35). Esse amor justifica-nos diante de Deus e da parte de Deus; realiza a nossa comunhão com Deus em Cristo Jesus; leva-nos a vencer tudo quanto poderia separar-nos de Deus e de Cristo; dá-nos confiança para prosseguirmos o nosso caminho de fé, de esperança e de caridade; dá-nos a certeza de que a vitória de Deus já começou na nossa vida e que irá aperfeiçoar-se à medida que avançarmos para a meta. Daí a conclusão entusiasta de Paulo: «Em tudo isso saímos mais do que vencedores, graças àquele que nos amou» (v. 37). É a experiência de quem se confiou plenamente ao amor de Deus, manifestado e comunicado em Cristo Jesus.
Evangelho: Lucas 13, 31-35
Naquele dia, aproximaram se alguns fariseus, que disseram a Jesus: «Vai-te embora, sai daqui, porque Herodes quer matar-te.» 32Respondeu-lhes: «Ide dizer a essa raposa: Agora estou a expulsar demónios e a realizar curas, hoje e amanhã; ao terceiro dia, atinjo o meu termo. 33Mas hoje, amanhã e depois devo seguir o meu caminho, porque não se admite que um profeta morra fora de Jerusalém.»
Herodes, com os chefes religiosos de Israel, querem matar Jesus. O Senhor, alertado, com ou sem recta intenção, por alguns deles, reafirma a sua fidelidade ao mandato recebido do Pai: anunciar o tempo da salvação definitiva (cf. 2 Cor 6, 2). A expulsão dos demónios e as curas são sinais dessa salvação já presente (v. 32). Não há maldade humana capaz de mudar os desígnios de Deus.
Lucas nota como Jesus está consciente de que vai ao encontro da morte cruenta (cf. Lc 9, 22; 9, 44; 17, 25; 18, 31-33), sorte idêntica à dos profetas (vv. 33-34ª; cf. 6, 22s.). Tal irá acontecer exactamente em Jerusalém, cujo nome curiosamente significa «Cidade da paz». Jesus anuncia a ruína dessa cidade (v. 35ª), uma ruína material (será destruída pelos romanos), mas também uma ruína espiritual, pois, recusando Jesus, não acolhe a realização das promessas.
Mas o evangelista entrevê na aclamação triunfal de Jesus, ao entrar na cidade (cf. Lc 19, 28-39), o acolhimento do Salvador por Israel, no fim dos tempos, quando hebreus e pagãos, convertidos ao cristianismo, aclamarem juntos o Senhor. Verdadeiramente «os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis» (Rm 11, 29).Meditatio
Para Paulo, a santidade não é um conjunto de virtudes, mas união com Deus, estar em comunhão com o Deus santo. Deus é santo, é o três vezes santo. «Vós, Senhor, sois verdadeiramente santo, sois a fonte de toda a santidade», reza a Igreja (Oração eucarística II). Deus santo é O totalmente Outro. Para chegar a Ele, precisamos de ser transformados à sua imagem, isto é, de tornar-nos santos. Mas, tornar-nos santos, não é resultado do nosso esforço moral, que jamais nos poderá erguer ao nível de Deus. Para que nos tornemos santos, é preciso que Deus actue e nos torne semelhantes a Ele. A santificação é, antes de mais nada, obra da misericórdia de Deus em nós. É o que diz Paulo. Deus tudo fez para nos levar para junto de Si, para nos pôr em comunhão com Ele, para sermos santos: «nem sequer poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós; como não havia de nos oferecer tudo juntamente com Ele?» (v. 32). É por isso que temos confiança, não em nós, mas no amor de Deus que nos ergue até Si, nos santifica, nos dá aquela santidade que nem poderíamos imaginar se, na sua bondade, não nos viesse dá-la. Paulo exclama: «Em tudo isso saímos mais do que vencedores, graças àquele que nos amou» (v. 27). A santidade é a maior das vitórias. No Apocalipse está escrito que o prémio é prometido àquele que tiver vencido. Nós somos mais do que vencedores, porque Cristo venceu e nos faz partilhar a sua vitória. Aceitou morrer, e o Pai reussuscitou-O, reconciliou-nos Consigo e deu-nos a possibilidade de nos aproximarmos d´Ele, de partilharmos a sua vida divina. O caminho para a santidade consiste em abrir-nos à acção santificante de Deus, ao seu amor maior que todo e qualquer obstáculo: «nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem as potestades, nem a altura, nem o abismo, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus, Senhor nosso», escreve Paulo (v. 38-39). Para progredir na santidade devemos aprofundar constantemente a fé neste amor que Deus nos dá, que tem por nós, que infunde em nós. Os Santos acreditaram neste amor, reconheceram-no em todos os benefícios e em todas as exigências de Deus. As próprias provações, como «a tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada», de que fala Paulo (v. 35), foram transformados por Deus, por meio da cruz de Jesus, em manifestações do seu amor por nós, do nosso amor por Ele.
Oratio
Pai, que és verdadeiramente santo e fonte de toda a santidade, faz-me olhar de modo positivo tudo quanto me humilha, tudo quanto aparentemente se opõe aos meus projectos, porque tudo isso se pode tornar inst
rumento para aprofundar a comunhão Contigo e tornar-me santo. És Tu que tudo fazes. Que eu me abra ao amor que me dás, para, em tudo e sempre, ser mais que vencedor. Amen.Contemplatio
A maior parte não tem coragem para se vencer nem fidelidade para bem administrar os dons de Deus. Quando entramos no caminho da virtude, caminhamos no princípio na obscuridade, mas se seguirmos constante e fielmente a graça, chegamos infalivelmente a uma grande luz quer para nós quer para os outros. Nós quereríamos ser santos num dia, e não temos a paciência de esperar o curso normal da graça. Isto vem do nosso orgulho e da nossa cobardia. Limitemo-nos a ser fiéis a cooperar nas graças que Deus nos apresenta; e ele não faltará em nos conduzir ao cumprimento dos seus desígnios. O principal ponto da vida espiritual consiste de tal modo em dispor-se à graça pela pureza de coração, que duas pessoas que se consagram ao mesmo tempo ao serviço de Deus, uma dando-se totalmente às boas obras, e a outra aplicando-se inteiramente a purificar o seu coração e a arrancar o que nela se opõe à graça, esta chegará duas vezes mais cedo à perfeição do que aquela. Assim o nosso maior cuidado deve ser, não tanto o de lermos livros espirituais, mas sim o de darmos muita atenção às inspirações divinas que bastam, com um pouco de leitura e com sermos extremamente fiéis a correspondermos às graças que nos são oferecidas. – Devemos ainda pedir muitas vezes a Deus que nos faça reparar antes da morte todas as perdas de graças que provocámos, e que nos faça chegar ao cume dos méritos aonde desejava conduzir-nos segundo a sua primeira intenção, que nós até agora frustrámos pelas nossas infidelidades: enfim que ele nos perdoe os pecados de outros dos quais fomos a causa, e que repare também nos outros as perdas de graças que sofreram por nossa falta (P. Luís Lallemant). (Leão Dehon, OSP 3, p. 544s.).
Actio
Repete muitas vezes e vive a palavra:
«Quem poderá separar-nos do amor de Cristo?» (Rm 8, 35).