Events in Novembro 2021

  • Solenidade de todos os Santos - Ano B

    Solenidade de todos os Santos - Ano B


    1 de Novembro, 2021

    ANO B
    SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS

    1 de Novembro

    Breves introduções às leituras:

    Primeira leitura: Como descrever a felicidade dos mártires e dos santos na sua condição celeste, invisível? Para isso, o profeta recorre a uma visão.
    Salmo responsorial: O salmo de hoje proclama as condições de entrada no Templo de Deus. Ele anuncia também a bem-aventurança dos corações puros. Nós somos este povo imenso que marcha ao encontro do Deus santo.
    Segunda leitura: Desde o nosso baptismo, somos chamados filhos de Deus e o nosso futuro tem a marcada da eternidade.
    Evangelho: Que futuro reserva Deus aos seus amigos, no seu Reino celeste? Ele próprio é fonte de alegria e de felicidade para eles.

    LEITURA I - Ap 7,2-4.9-14

    Leitura do Apocalipse de São João

    Eu, João, vi um Anjo que subia do Nascente,
    trazendo o selo do Deus vivo.
    Ele clamou em alta voz
    aos quatro Anjos a quem foi dado o poder
    de causar dano à terra e ao mar:
    «Não causeis dano à terra, nem ao mar, nem às árvores,
    até que tenhamos marcado na fronte
    os servos do nosso Deus».
    E ouvi o número dos que foram marcados:
    cento e quarenta e quatro mil,
    de todas as tribos dos filhos de Israel.
    Depois disto, vi uma multidão imensa,
    que ninguém podia contar,
    de todas as nações, tribos, povos e línguas.
    Estavam de pé, diante do trono e na presença do Cordeiro,
    vestidos com túnicas brancas e de palmas na mão.
    E clamavam em alta voz:
    «A salvação ao nosso Deus, que está sentado no trono,
    e ao Cordeiro».
    Todos os Anjos formavam círculo
    em volta do trono, dos Anciãos e dos quatro Seres Vivos.
    Prostraram-se diante do trono, de rosto por terra,
    e adoraram a Deus, dizendo:
    «Amen! A bênção e a glória, a sabedoria e a acção de graças,
    a honra, o poder e a força
    ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amen!».
    Um dos Anciãos tomou a palavra e disse-me:
    «Esses que estão vestidos de túnicas brancas,
    quem são e de onde vieram?».
    Eu respondi-lhe:
    «Meu Senhor, vós é que o sabeis».
    Ele disse-me:
    «São os que vieram da grande tribulação,
    os que lavaram as túnicas
    e as branquearam no sangue do Cordeiro».

    Breve comentário

    As primeiras perseguições tinham feito cruéis destruições nas comunidades cristãs, ainda tão jovens. Iriam estas comunidades desaparecer, acabadas de fundar? As visões do profeta cristão trazem uma mensagem de esperança nesta provação. É uma linguagem codificada, que evoca Roma, perseguidora dos cristãos, sem a nomear directamente, aplicando-lhe o qualificativo de Babilónia. A revelação proclamada é a da vitória do Cordeiro. Que paradoxo! O próprio Cordeiro foi imolado. Mas é o Cordeiro da Páscoa definitiva, o Ressuscitado. Ele transformou o caminho de morte em caminho de vida para todos aqueles que O seguem, em particular pelo martírio, e eles são numerosos; participam doravante ao seu triunfo, numa festa eterna.

    SALMO RESPONSORIAL - Salmo 23 (24)

    Refrão: Esta é a geração dos que procuram o Senhor.

    Do Senhor é a terra e o que nela existe,
    o mundo e quantos nele habitam.
    Ele a fundou sobre os mares
    e a consolidou sobre as águas.

    Quem poderá subir à montanha do Senhor?
    Quem habitará no seu santuário?
    O que tem as mãos inocentes e o coração puro,
    o que não invocou o seu nome em vão.

    Este será abençoado pelo Senhor
    e recompensado por Deus, seu Salvador.
    Esta é a geração dos que O procuram,
    que procuram a face de Deus.

    LEITURA II - 1Jo 3,1-3

    Leitura da Primeira Epístola de São João

    Caríssimos:
    Vede que admirável amor o Pai nos consagrou
    em nos chamar filhos de Deus.
    E somo-lo de facto.
    Se o mundo não nos conhece,
    é porque O não conheceu a Ele.
    Caríssimos, agora somos filhos de Deus
    e ainda não se manifestou o que havemos de ser.
    Mas sabemos que, na altura em que se manifestar,
    seremos semelhantes a Deus,
    porque O veremos tal como Ele é.
    Todo aquele que tem n'Ele esta esperança
    purifica-se a si mesmo,
    para ser puro, como ele é puro.

    Breve comentário

    Segunda mensagem de esperança. Ela responde às nossas interrogações sobre o destino dos defuntos. Que vieram a ser? Como sabê-lo, pois desapareceram dos nossos olhos? E nós próprios, que viremos a ser?
    A resposta é uma dedução absolutamente lógica: se Deus, no seu imenso amor, faz de nós seus filhos, não nos pode abandonar. Ora, em Jesus, vemos já a que futuro nos conduz a pertença à família divina: seremos semelhantes a Ele.

    ALELUIA - Mt 11,28

    Aleluia. Aleluia.

    Vinde a Mim, vós todos os que andais cansados e oprimidos
    e Eu vos aliviarei, diz o Senhor.

    EVANGELHO - Mt 5,1-12

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

    Naquele tempo,
    ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-Se.
    Rodearam-n'O os discípulos
    e Ele começou a ensiná-los, dizendo:
    «Bem-aventurados os pobres em espírito,
    porque deles é o reino dos Céus.
    Bem-aventurados os humildes,
    porque possuirão a terra.
    Bem-aventurados os que choram,
    porque serão consolados.
    Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça,
    porque serão saciados.
    Bem-aventurados os misericordiosos,
    porque alcançarão misericórdia.
    Bem-aventurados os puros de coração,
    porque verão a Deus.
    Bem-aventurados os que promovem a paz,
    porque serão chamados filhos de Deus.
    Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça,
    porque deles é o reino dos Céus.
    Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa,
    vos insultarem, vos perseguirem
    e, mentindo, disserem todo o mal contra vós.
    Alegrai-vos e exultai,
    porque é grande nos Céus a vossa recompensa».

    AMBIENTE

    Depois de dizer quem é Jesus (cf. Mt 1,1-2,23) e de definir a sua missão (cf. Mt 3,1-4,16), Mateus vai apresentar a concretização dessa missão: com palavras e com gestos, Jesus propõe aos discípulos e às multidões o "Reino". Neste enquadramento, Mateus propõe-nos hoje um discurso de Jesus sobre o "Reino" e a sua lógica.
    Uma característica importante do Evangelho segundo Mateus reside na importância dada pelo evangelista aos "ditos" de Jesus. Ao longo do Evangelho segundo Mateus aparecem cinco longos discursos (cf. Mt 5-7; 10; 13; 18; 24-25), nos quais Mateus junta "ditos" e ensinamentos provavelmente p
    roferidos por Jesus em várias ocasiões e contextos. É provável que o autor do primeiro Evangelho visse nesses cinco discursos uma nova Lei, destinada a substituir a antiga Lei dada ao Povo por meio de Moisés e escrita nos cinco livros do Pentateuco.
    O primeiro discurso de Jesus - do qual o Evangelho que nos é hoje proposto é a primeira parte - é conhecido como o "sermão da montanha" (cf. Mt 5-7). Agrupa um conjunto de palavras de Jesus, que Mateus coleccionou com a evidente intenção de proporcionar à sua comunidade uma série de ensinamentos básicos para a vida cristã. O evangelista procurava, assim, oferecer à comunidade cristã um novo código ético, uma nova Lei, que superasse a antiga Lei que guiava o Povo de Deus.
    Mateus situa esta intervenção de Jesus no cimo de um monte. A indicação geográfica não é inocente: transporta-nos à montanha da Lei (Sinai), onde Deus Se revelou e deu ao seu Povo a antiga Lei. Agora é Jesus, que, numa montanha, oferece ao novo Povo de Deus a nova Lei que deve guiar todos os que estão interessados em aderir ao "Reino".
    As "bem-aventuranças" que, neste primeiro discurso, Mateus coloca na boca de Jesus, são consideravelmente diferentes das "bem-aventuranças" propostas por Lucas (cf. Lc 6,20-26). Mateus tem nove "bem-aventuranças", enquanto que Lucas só apresenta quatro; além disso, Lucas prossegue com quatro "maldições", que estão ausentes do texto mateano; outras notas características da versão de Mateus são a espiritualização (os "pobres" de Lucas são, para Mateus, os "pobres em espírito") e a aplicação dos "ditos" originais de Jesus à vida da comunidade e ao comportamento dos cristãos. É muito provável que o texto de Lucas seja mais fiel à tradição original e que o texto de Mateus tenha sido mais trabalhado.

    MENSAGEM

    As "bem-aventuranças" são fórmulas relativamente frequentes na tradição bíblica e judaica. Aparecem, quer nos anúncios proféticos de alegria futura (cf. Is 30,18; 32,20; Dn 12,12), quer nas acções de graças pela alegria presente (cf. Sl 32,1-2; 33,12; 84,5.6.13), quer nas exortações a uma vida sábia, reflectida e prudente (cf. Prov 3,13; 8,32.34; Sir 14,1-2.20; 25,8-9; Sl 1,1; 2,12; 34,9). Contudo, elas definem sempre uma alegria oferecida por Deus.
    As "bem-aventuranças" evangélicas devem ser entendidas no contexto da pregação sobre o "Reino". Jesus proclama "bem-aventurados" aqueles que estão numa situação de debilidade, de pobreza, porque Deus está a ponto de instaurar o "Reino" e a situação destes "pobres" vai mudar radicalmente; além disso, são "bem-aventurados" porque, na sua fragilidade, debilidade e dependência, estão de espírito aberto e coração disponível para acolher a proposta de salvação e libertação que Deus lhes oferece em Jesus (a proposta do "Reino").
    As quatro primeiras "bem-aventuranças" referidas por Mateus (vers. 3-6) estão relacionadas entre si. Dirigem-se aos "pobres" (as segunda, terceira e quarta "bem-aventuranças" são apenas desenvolvimentos da primeira, que proclama: "bem-aventurados os pobres em espírito"). Saúdam a felicidade daqueles que se entregam confiadamente nas mãos de Deus e procuram fazer sempre a sua vontade; daqueles que, de forma consciente, deixam de colocar a sua confiança e a sua esperança nos bens, no poder, no êxito, nos homens, para esperar e confiar em Deus; daqueles que aceitam renunciar ao egoísmo, que aceitam despojar-se de si próprios e estar disponíveis para Deus e para os outros.
    Os "pobres em espírito" são aqueles que aceitam renunciar, livremente, aos bens, ao próprio orgulho e auto-suficiência, para se colocarem, incondicionalmente, nas mãos de Deus, para servirem os irmãos e partilharem tudo com eles.
    Os "mansos" não são os fracos, os que suportam passivamente as injustiças, os que se conformam com as violências orquestradas pelos poderosos; mas são aqueles que recusam a violência, que são tolerantes e pacíficos, embora sejam, muitas vezes, vítimas dos abusos e prepotências dos injustos... A sua atitude pacífica e tolerante torná-los-á membros de pleno direito do "Reino".
    Os "que choram" são aqueles que vivem na aflição, na dor, no sofrimento provocados pela injustiça, pela miséria, pelo egoísmo; a chegada do "Reino" vai fazer com que a sua triste situação se mude em consolação e alegria...
    A quarta bem-aventurança proclama felizes "os que têm fome e sede de justiça". Provavelmente, a justiça deve entender-se, aqui, em sentido bíblico - isto é, no sentido da fidelidade total aos compromissos assumidos para com Deus e para com os irmãos. Jesus dá-lhes a esperança de verem essa sede de fidelidade saciada, no Reino que vai chegar.
    O segundo grupo de "bem-aventuranças" (vers. 7-11) está mais orientado para definir o comportamento cristão. Enquanto que no primeiro grupo se constatam situações, neste segundo grupo propõem-se atitudes que os discípulos devem assumir.
    Os "misericordiosos" são aqueles que têm um coração capaz de compadecer-se, de amar sem limites, que se deixam tocar pelos sofrimentos e alegrias dos outros homens e mulheres, que são capazes de ir ao encontro dos irmãos e estender-lhes a mão, mesmo quando eles falharam.
    Os "puros de coração" são aqueles que têm um coração honesto e leal, que não pactua com a duplicidade e o engano.
    Os "que constroem a paz" são aqueles que se recusam a aceitar que a violência e a lei do mais forte rejam as relações humanas; e são aqueles que procuram ser - às vezes com o risco da própria vida - instrumentos de reconciliação entre os homens.
    Os "que são perseguidos por causa da justiça" são aqueles que lutam pela instauração do "Reino" e são desautorizados, humilhados, agredidos, marginalizados por parte daqueles que praticam a injustiça, que fomentam a opressão, que constroem a morte... Jesus garante-lhes: o mal não vos poderá vencer; e, no final do caminho, espera-vos o triunfo, a vida plena.
    Na última "bem-aventurança" (vers. 11), o evangelista dirige-se, em jeito de exortação, aos membros da sua comunidade que têm a experiência de ser perseguidos por causa de Jesus e convida-os a resistir ao sofrimento e à adversidade. Esta última exortação é, na prática, uma aplicação concreta da oitava "bem-aventurança".
    No seu conjunto, as "bem-aventuranças" deixam uma mensagem de esperan&cced
    il;a e de alento para os pobres e débeis. Anunciam que Deus os ama e que está do lado deles; confirmam que a libertação está a chegar e que a sua situação vai mudar; asseguram que eles vivem já na dinâmica desse "Reino" onde vão encontrar a felicidade e a vida plena.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão e a partilha podem fazer-se à volta dos seguintes elementos:

    • Jesus diz: "felizes os pobres em espírito"; o mundo diz: "felizes vós os que tendes dinheiro - muito dinheiro - e sabeis usá-lo para comprar influências, comodidade, poder, segurança, bem-estar, pois é o dinheiro que faz andar o mundo e nos torna mais poderosos, mais livres e mais felizes". Quem é, realmente, feliz?

    • Jesus diz: "felizes os mansos"; o mundo diz: "felizes vós os que respondeis na mesma moeda quando vos provocam, que respondeis à violência com uma violência ainda maior, pois só a linguagem da força é eficaz para lidar com a violência e a injustiça". Quem tem razão?

    • Jesus diz: "felizes os que choram"; o mundo diz: "felizes vós os que não tendes motivos para chorar, porque a vossa vida é sempre uma festa, porque vos moveis nas altas esferas da sociedade e tendes tudo para serdes felizes: casa com piscina, carro com telefone e ar condicionado, amigos poderosos, uma conta bancária interessante e um bom emprego arranjado pelo vosso amigo ministro". Onde está a verdadeira felicidade?

    • Jesus diz: "felizes os que têm ânsia de cumprir a vontade de Deus"; o mundo diz: "felizes vós os que não dependeis de preconceitos ultrapassados e não acreditais num deus que vos diz o que deveis e não deveis fazer, porque assim sois mais livres". Onde está a verdadeira liberdade, que enche de felicidade o coração?

    • Jesus diz: "felizes os que tratam os outros com misericórdia"; o mundo diz: "felizes vós quando desempenhais o vosso papel sem vos deixardes comover pela miséria e pelo sofrimento dos outros, pois quem se comove e tem misericórdia acabará por nunca ser eficaz neste mundo tão competitivo". Qual é o verdadeiro fundamento de uma sociedade mais justa e mais fraterna?

    • Jesus diz: "felizes os sinceros de coração"; o mundo diz: "felizes vós quando sabeis mentir e fingir para levar a água ao vosso moinho, pois a verdade e a sinceridade destroem muitas carreiras e esperanças de sucesso". Onde está a verdade?

    • Jesus diz: "felizes os que procuram construir a paz entre os homens"; o mundo diz: "felizes vós os que não tendes medo da guerra, da competição, que sois duros e insensíveis, que não tendes medo de lutar contra os outros e sois capazes de os vencer, pois só assim podereis ser homens e mulheres de sucesso". O que é que torna o mundo melhor: a paz ou a guerra?

    • Jesus diz: "felizes os que são perseguidos por cumprirem a vontade de Deus"; o mundo diz: "felizes vós os que já entendestes como é mais seguro e mais fácil fazer o jogo dos poderosos e estar sempre de acordo com eles, pois só assim podeis subir na vida e ter êxito na vossa carreira". O que é que nos eleva à vida plena?

    ALGUMAS REFLEXÕES À LUZ DO EVANGELHO
    (adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")

    REFLEXÃO 1 - CELEBRAR OS SANTOS NA RESSURREIÇÃO

    As Bem-aventuranças revelam a realidade misteriosa da vida em Deus, iniciada no Baptismo. Aos olhos do mundo, o que os servidores de Deus sofrem, são efectivamente formas de morte: ser pobre, suportar as provas (os que choram) ou as privações (ter fome e sede) de justiça, ser perseguido, ser partidário da paz, da reconciliação e da misericórdia, num mundo de violência e de lucro, tudo isso aparece como não rentável, votado ao fracasso, consequentemente, à morte.
    Mas que pensa Cristo? Ele, ao contrário, proclama felizes todos os seus amigos que o mundo despreza e considera como mortos, consola-os, alimenta-os, chama-os filhos de Deus, introdu-los no Reino e na Terra Prometida.
    A Solenidade de Todos os Santos abre-nos assim o espírito e o coração às consequências da Ressurreição. O que se passou em Jesus realizou-se também nos seus bem amados, os nossos antepassados na fé, e diz-nos igualmente respeito: sob as folhas mortas, sob a pedra do túmulo, a vida continua, misteriosa, para se revelar no Grande Dia, quando chegar o fim dos tempos. Para Jesus, foi o terceiro dia; para os seus amigos, isso será mais tarde.

    REFLEXÃO 2 - O EVANGELHO NO PRESENTE.

    Os membros de uma mesma família têm traços do rosto comuns...
    As pessoas que partilham toda uma vida juntos acabam por se parecerem...
    Esta festa anual de Todos os Santos reúne inúmeros rostos que trazem em si a imagem e a semelhança de Deus.

    Um rosto de humanidade transfigurada. Enquanto vivos, os santos não se consideravam como tais, longe disso! Eles não esculpiam a sua efígie num fundo de auto-satisfação... Contrariamente àquilo que geralmente aparece nas imagens ditas piedosas e nas biografias embelezadas, eles não foram perfeitos, nem à primeira, nem totalmente, nem sobretudo sem esforço. Eles tinham fraquezas e defeitos contra os quais se bateram toda a vida. Alguns, como S. Agostinho, vieram de longe, transfigurados pelo amor de Deus que acolheram na sua existência. Quanto mais se aproximaram da luz de Deus, tanto mais viram e reconheceram as sombras da sua existência.
    Peregrinos do quotidiano, a maior parte deles não realizaram feitos heróicos nem cumpriram prodígios. É certo que alguns têm à sua conta realizações espectaculares, no plano humanitário, no plano espiritual, ou ainda na história da Igreja. Mas muitos outros, a maioria, são os santos da simplicidade e do quotidiano! Canoniza-se muito pouco estas pessoas do quotidiano!

    Um rosto com traços de Cristo.
    Encontramos em cada um dos santos e das santas um mesmo perfil. Poderíamos mesmo desenhar o seu retrato-robô comum. Por muito frequentar Cristo, deixaram-se modelar pelos seus traços.
    Como Jesus, os santos tiveram que viver muitas vezes em sentido contrário às ideias recebidas e aos comportamentos do seu tempo. Viver as Bem-aventuranças não é evidente: ser pobre de coração num mundo que glorifica o poder e o ter; ser doce num mundo duro e violento; ter o coração puro face à corrupção; fazer a paz quando outros declaram a guerra...
    Os santos foram pessoas "em marcha" (segundo uma tradução hebraizante de "bem-aventurado"), isto é, pessoas activas, apaixonadas pelo Evangelho... Os santos foram homens e mulheres corajosos, capazes de reagir e de afirmar a todo o custo aquilo que os fazia viver. Eles mostram-nos o caminho da verdade e da liberdade.
    Aqueles que frequentaram os santos - aqueles que os frequentam hoje - afirmam que, junto deles, sentimos que nos tornamos melhores. O seu ex
    emplo ilumina. A sua alegria é o seu testemunho mais belo. A sua felicidade é contagiosa.

    REFLEXÃO 3 - TER UM CORAÇÃO DE POBRE (Gérard Naslin)

    Eram quatro casais amigos à volta da mesma mesa. Os copos estavam bem cheios e os pratos bem guarnecidos. No meio da refeição, a conversa centra-se nos acontecimentos da actualidade: Fala-se dos estrangeiros e imigrantes. O debate aquece e cada um proclama o slogan tantas vezes repetido, o cliché veiculado pelos media... Todos parecem em uníssono.
    Entretanto, um dos convivas, que estava em silêncio há alguns minutos, abrindo a boca, disse: "Não estou de acordo convosco, e vou dizer-vos porquê. Para mim, todo o homem é uma história sagrada, eu acredito nisso, deixai-me dizê-lo". Imaginai o tempo de silêncio que se seguiu, enquanto os olhares e os garfos mergulharam nos pratos.
    Naquela noite, ao longo de uma refeição entre amigos, passou-se qualquer coisa que nos faz ver o que é o Reino de Deus: um homem só, ousava deixar a multidão para dizer: "Não estou de acordo!" em nome da sua fé no homem e, no caso preciso, em nome da sua fé em Deus.
    Não foi o que se passou no cimo de uma montanha da Palestina, há 2000 anos, quando um homem, Jesus de Nazaré, tendo diante de si os seus discípulos que tinham deixado a multidão para o seguir, "abrindo a boca", se pôs a instrui-los e lhes falou de felicidade, mas de modo nenhum como o mundo fala dela?!
    São estes discípulos que ele declara "bem-aventurados". São Lucas, no seu Evangelho, será ainda mais preciso, pois escreverá: "erguendo os olhos para os discípulos..." E que lhes disse Ele? "Bem-aventurados vós, os pobres de coração, porque vosso é o Reino de Deus!".
    Eis a força contestatária de Jesus. E as outras seis bem-aventuranças estão lá para ilustrar a primeira, a da pobreza do coração. Quanto à última, ela aparece como a conclusão: "Sim, se vós viveis dessa vida, esperai ser perseguidos, porque isso impedirá as pessoas de dormir; isso inquietá-las-á, e como as pessoas não gostam de ser inquietadas, vós sereis perseguidos".
    As bem-aventuranças, se as queremos tomar a sério e sobretudo vivê-las, colocam-nos em situação de contestação e fazem-nos assumir riscos. Sim, em certos momentos, fazem-nos dizer, e sobretudo viver, um "Não estou de acordo" em nome da nossa fé.
    Porque é que Jesus declara "felizes" os seus discípulos? Porque eles são pobres de coração, porque eles estão libertos de tudo o que poderia entravar a sua liberdade. Com efeito, a alegria é o fruto da liberdade.
    Mas de que pobreza fala Jesus? Fala da pobreza que permite crer, esperar e amar.

    O pobre é aquele que "faz crédito" em Deus.
    "Fazer crédito" ou dizer "credo", é a mesma coisa. Quando se fala de noivos, fala-se de duas pessoas que confiam entre si, que se fiam uma na outra, que "fazem crédito". A desconfiança torna a pessoa infeliz. Confiar é aceitar um certo abandono: aquele que grita em direcção a Deus no meio do seu sofrimento ou da sua confusão, é aquele que confia sempre em Deus.

    O pobre é também aquele que espera.
    O rico não pode esperar, está plenamente satisfeito. O pobre, esse, está sempre virado para um futuro que espera que seja melhor; e, depois, ele procura, porque pensa nunca ter totalmente encontrado. A sua vida é uma procura, e todos os sinais que ele encontra enchem-no de alegria e fazem-no avançar. O pobre é aquele que aceita ser criticado pela Palavra de Deus. Com efeito, pôr-se em questão só é possível para aquele que espera tornar-se melhor.

    O pobre é aquele que ama.
    Por não estar plenamente satisfeito consigo mesmo, o pobre está disponível para servir os seus irmãos. Não centrado em si próprio, abre os olhos e vê aqueles que esperam os seus gestos de amor; ouve os gritos dos seus irmãos e abre as suas mãos vazias para as estender àquele que tem necessidade. A sua pobreza fá-lo receber e, ao mesmo tempo, dar o pouco que tem.
    Jesus conhecia o coração do homem, e soube reconhecer no coração dos seus discípulos esta aspiração a crer, a esperar e a amar; é a razão pela qual ele os escolheu e chamou.
    As bem-aventuranças vão, em tantas situações, contra a corrente, porque um homem, um dia, ousou abrir a boca para dizer aos seus discípulos: "Sois do mundo, e ao mesmo tempo não sois do mundo... Vós não sois do mundo do cada um para si, do consumo, da violência, da vingança, do comprometimento... E face a este mundo deveis dizer: não estou de acordo! É certo que sereis perseguidos ou, pelo menos, rir-se-ão de vós, ou procurarão fazer-vos calar. Felizes sereis, porque fareis ver onde está a verdadeira felicidade. Chamar-vos-ão santos".
    Festejamos neste dia todos aqueles que tomam de tal modo a sério as bem-aventuranças que são hoje plenamente felizes.
    Queremos experimentar ser já felizes? Basta-nos ter um coração de pobre.

    REFLEXÃO 4 - A SANTIDADE DE MUITOS

    Fruto da conversão realizada pelo Evangelho é a santidade de muitos homens e mulheres do nosso tempo; não só daqueles que foram proclamados oficialmente santos pela Igreja, mas também dos que, com simplicidade e no dia a dia da existência, deram testemunho da sua fidelidade a Cristo. Como não pensar aos inumeráveis filhos da Igreja que, ao longo da história do continente europeu, viveram uma santidade generosa e autêntica no mais recôndito da vida familiar, profissional e social? «Todos eles, como "pedras vivas" aderentes a Cristo "pedra angular", construíram a Europa como edifício espiritual e moral, deixando aos vindouros a herança mais preciosa. O Senhor Jesus havia prometido: "Aquele que acredita em Mim fará também as obras que Eu faço; e fará obras maiores do que estas, porque Eu vou para o Pai" (Jo 14,12). Os santos são a prova viva da realização desta promessa, e ajudam a crer que isto é possível mesmo nos momentos mais difíceis da história». [nº 14 da Exortação Apostólica Ecclesia in Europa de João Paulo II]

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
    Tel. 218540900 - Fax: 218540909
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  • 32º Domingo do Tempo Comum - Ano B

    32º Domingo do Tempo Comum - Ano B


    7 de Novembro, 2021

    ANO B
    32º DOMINGO DO TEMPO COMUM

    Tema do 32º Domingo do Tempo Comum

    A liturgia do 32º Domingo do Tempo Comum fala-nos do verdadeiro culto, do culto que devemos prestar a Deus. A Deus não interessam grandes manifestações religiosas ou ritos externos mais ou menos sumptuosos, mas uma atitude permanente de entrega nas suas mãos, de disponibilidade para os seus projectos, de acolhimento generoso dos seus desafios, de generosidade para doarmos a nossa vida em benefício dos nossos irmãos.
    A primeira leitura apresenta-nos o exemplo de uma mulher pobre de Sarepta, que, apesar da sua pobreza e necessidade, está disponível para acolher os apelos, os desafios e os dons de Deus. A história dessa viúva que reparte com o profeta os poucos alimentos que tem, garante-nos que a generosidade, a partilha e a solidariedade não empobrecem, mas são geradoras de vida e de vida em abundância.
    O Evangelho diz, através do exemplo de outra mulher pobre, de outra viúva, qual é o verdadeiro culto que Deus quer dos seus filhos: que eles sejam capazes de Lhe oferecer tudo, numa completa doação, numa pobreza humilde e generosa (que é sempre fecunda), num despojamento de si que brota de um amor sem limites e sem condições. Só os pobres, isto é, aqueles que não têm o coração cheio de si próprios, são capazes de oferecer a Deus o culto verdadeiro que Ele espera.
    A segunda leitura oferece-nos o exemplo de Cristo, o sumo-sacerdote que entregou a sua vida em favor dos homens. Ele mostrou-nos, com o seu sacrifício, qual é o dom perfeito que Deus quer e que espera de cada um dos seus filhos. Mais do que dinheiro ou outros bens materiais, Deus espera de nós o dom da nossa vida, ao serviço desse projecto de salvação que Ele tem para os homens e para o mundo.

    LEITURA I - 1 Re 17,10-16

    Leitura do Primeiro Livro dos Reis

    Naqueles dias,
    o profeta Elias pôs-se a caminho e foi a Sarepta.
    Ao chegar às portas da cidade,
    encontrou uma viúva a apanhar lenha.
    Chamou-a e disse-lhe:
    «Por favor, traz-me uma bilha de água para eu beber».
    Quando ela ia a buscar a água, Elias chamou-a e disse:
    «Por favor, traz-me também um pedaço de pão».
    Mas ela respondeu:
    «Tão certo como estar vivo o Senhor, teu Deus,
    eu não tenho pão cozido,
    mas somente um punhado de farinha na panela
    e um pouco de azeite na almotolia.
    Vim apanhar dois cavacos de lenha,
    a fim de preparar esse resto para mim e meu filho.
    Depois comeremos e esperaremos a morte».
    Elias disse-lhe:
    «Não temas; volta e faz como disseste.
    Mas primeiro coze um pãozinho e traz-mo aqui.
    Depois prepararás o resto para ti e teu filho.
    Porque assim fala o Senhor, Deus de Israel:
    'Não se esgotará a panela da farinha,
    nem se esvaziará a almotolia do azeite,
    até ao dia em que o Senhor mandar chuva sobre a face da terra'».
    A mulher foi e fez como Elias lhe mandara;
    e comeram ele, ela e seu filho.
    Desde aquele dia, nem a panela da farinha se esgotou,
    nem se esvaziou a almotolia do azeite,
    como o Senhor prometera pela boca de Elias.

    AMBIENTE

    Encontramos no Livro dos Reis um conjunto de tradições ligadas à vida e à acção de uma figura central do profetismo bíblico: o profeta Elias. Essas tradições aparecem, de forma intermitente, entre 1 Re 17,1 e 2 Re 2,12.
    Elias (cujo nome significa "o meu Deus é o Senhor" - o que, por si só, constitui logo um programa de vida) actua no Reino do Norte (Israel) durante o século IX a.C., num tempo em que a fé jahwista é posta em causa pela preponderância que os deuses estrangeiros (especialmente Baal) assumem na cultura religiosa de Israel. Provavelmente, estamos diante de uma tentativa de abrir Israel a outras culturas, a fim de facilitar o intercâmbio cultural e comercial... Mas essas razões políticas não são entendidas nem aceites pelos círculos religiosos de Israel. O ministério profético de Elias desenvolve-se sobretudo durante o reinado de Acab (873-853 a.C.), embora a sua voz também se tenha feito ouvir no reinado de Ocozias (853-852 a.C.).
    Elias é o grande defensor da fidelidade a Jahwéh. Ele aparece como o representante dos israelitas fiéis que recusavam a coexistência de Jahwéh e de Baal no horizonte da fé de Israel. Num episódio dramático, o próprio profeta chegou a desafiar os profetas de Baal para um duelo religioso que terminou com um massacre de quatrocentos profetas de Baal no monte Carmelo (cf. 1 Re 18). Esse episódio é, certamente, uma apresentação teológica dessa luta sem tréguas que se trava entre os fiéis a Jahwéh e os que abrem o coração às influências culturais e religiosas de outros povos.
    Para além da questão do culto, Elias defende a Lei em todas as suas vertentes (veja-se, por exemplo, a sua defesa intransigente das leis da propriedade em 1 Re 21, no célebre episódio da usurpação das vinhas de Nabot): ele representa os pobres de Israel, na sua luta sem tréguas contra uma aristocracia e uns comerciantes todo-poderosos que subvertiam a seu bel-prazer as leis e os mandamentos de Jahwéh.
    O ciclo de Elias começa com o anúncio, diante do rei Acab, de uma seca que irá atingir Israel (cf. 1 Re 17,1). Essa seca é apresentada, não tanto como um castigo pelos pecados do rei, mas sobretudo como uma forma de mostrar que é Jahwéh (e não Baal, o deus cananeu das colheitas e da fertilidade, cujo culto era favorecido por Jezabel, a esposa fenícia de Acab) o verdadeiro senhor da vida que brota, cada ano, nos campos e nos rebanhos. A implacável seca leva, contudo, Elias para a cidade de Sarepta (hoje Sarafand), uma pequena cidade da costa fenícia, a cerca de 15 quilómetros a sul de Sídon. É aí que o nosso texto nos situa.

    MENSAGEM

    Elias chega a Sarepta e, correspondendo à indicação de Jahwéh, dirige-se a uma viúva da cidade. Pede-lhe água para beber e um pedaço de pão para comer. Nesse tempo dramático de fome e de seca, a mulher apenas tem um punhado de farinha e um pouco de azeite, que se prepara para comer com o filho, antes de se deitar à espera da morte; mas prepara o pão para Elias... E, por acção de Deus, durante todo o tempo que Elias aí permaneceu, nem a farinha se acabou na panela, nem o azeite faltou na almotolia.
    Trata-se de uma história de cariz popular que, contudo, apresenta interessantes ensinamentos...
    1. Com ela, o autor deuteronomista sugere que nessa luta entre Jahwéh e Baal pela supremacia, o Deus de Israel é o vencedor, pois é Ele que dá o trigo e o azeite de que o Povo se alimenta; mais, Jahwéh actua até em casa do seu "adversário" e entre os seus súbditos (Baal era o deus mais popular na Fenícia).
    2. O facto de os beneficiários da acção de Jahwéh serem uma viúva e um órfão (os exemplos clássicos, na Bíblia, dos pobres, dos débeis, dos desfavorecidos, dos marginalizados) sugere que Jahwéh tem uma especial predilecção pelos fracos, pelos pobres, por aqueles que nada têm, por aqueles que necessitam especialmente da protecção, da bondade e da misericórdia de Deus.
    3. O pão e o azeite que a mulher reparte com o profeta multiplicam-se milagrosamente. O facto mostra que, quando alguém é capaz de sair do seu egoísmo e tem disponibilidade para partilhar os dons recebidos de Deus, esses dons chegam para todos e ainda sobram. A generosidade, a partilha e a solidariedade não empobrecem, mas são geradoras de vida e de vida em abundância.
    4. A história sugere, ainda, que a graça de Deus é universal e se destina a todos os povos, sem distinção de raças, de fronteiras ou de crenças religiosas.

    ACTUALIZAÇÃO

    • A nossa história - como tantas outras histórias bíblicas - fala-nos da predilecção de Deus pelos desfavorecidos, pelos débeis, pelos pobres, pelos explorados, por aqueles que são colocados à margem da vida. Porquê? Porque Deus vê a história humana na perspectiva da luta de classes e escolhe um lado em detrimento do outro? Obviamente, não. No entanto, Deus opta preferencialmente pelos pobres porque, em primeiro lugar, eles vivem numa situação dramática de necessidade e precisam especialmente da bondade, da misericórdia e da ajuda de Deus; e, em segundo lugar, porque os pobres - sem bens materiais que os distraiam do essencial - estão sempre mais atentos e disponíveis para acolher os apelos, os desafios e os dons de Deus. Os "ricos", ao contrário, estão sempre preocupados com os seus bens, com os seus interesses egoístas, com os seus projectos e preconceitos e não têm espaço para acolher as propostas que Deus lhes faz. Isto deve lembrar-nos, permanentemente, a necessidade de sermos "pobres", de nos despirmos de tudo aquilo que pode atravancar o nosso coração e que pode impedir-nos de acolher os desafios e as propostas de Deus.

    • A mulher de Sarepta tinha, apenas, uma quantidade mínima de alimento, que queria guardar para si e para o seu filho; mas, desafiada a partilhar, viu esse escasso alimento ser multiplicado uma infinidade de vezes... A história convida-nos a não nos fecharmos em esquemas egoístas de acumulação e de lucro, esquecendo os apelos de Deus à partilha e à solidariedade com os nossos irmãos necessitados. Quando repartimos, com generosidade e amor, aquilo que Deus colocou à nossa disposição, não ficamos mais pobres; os bens repartidos tornam-se fonte de vida e de bênção para nós e para todos aqueles que deles beneficiam.

    • A nossa história prova que só Jahwéh dá ao homem vida em abundância. É um aviso que não podemos ignorar... Todos os dias somos confrontados com propostas de felicidade e de vida plena que, quase sempre, nos conduzem por caminhos de escravidão, de dependência, de desilusão. Não é à volta do dinheiro, do carro, da casa, do cargo que temos na empresa, dos títulos académicos que ostentamos, das honras que nos são atribuídas que devemos construir a nossa existência. Só Deus nos dá a vida plena e verdadeira; todos os outros "deuses" são elementos acessórios, que não devem afastar-nos do essencial.

    SALMO RESPONSORIAL - Salmo 145 (146)

    Refrão 1: Ó minha alma, louva o Senhor.

    Refrão 2: Aleluia.

    O Senhor faz justiça aos oprimidos,
    dá pão aos que têm fome
    e a liberdade aos cativos.

    O Senhor ilumina os olhos do cego,
    o Senhor levanta os abatidos,
    o Senhor ama os justos.

    O Senhor protege os peregrinos,
    ampara o órfão e a viúva
    e entrava o caminho aos pecadores.

    O Senhor reina eternamente;
    o teu Deus, ó Sião,
    é rei por todas as gerações.

    LEITURA II - Heb 9,24-28

    Leitura da Epístola aos Hebreus

    Cristo não entrou num santuário feito por mãos humanas,
    figura do verdadeiro,
    mas no próprio Céu,
    para Se apresentar agora na presença de Deus em nosso favor.
    E não entrou para Se oferecer muitas vezes,
    como sumo sacerdote que entra cada ano no Santuário,
    como sangue alheio;
    nesse caso, Cristo deveria ter padecido muitas vezes,
    desde o princípio do mundo.
    Mas Ele manifestou-Se uma só vez, na plenitude dos tempos,
    para destruir o pecado pelo sacrifício de Si mesmo.
    E, como está determinado que os homens morram uma só vez
    e a seguir haja o julgamento,
    assim também Cristo, depois de Se ter oferecido uma só vez
    para tomar sobre Si os pecados da multidão,
    aparecerá segunda vez, sem a aparência do pecado,
    para dar a salvação àqueles que O esperam.

    AMBIENTE

    No passado domingo, o autor da Carta aos Hebreus apresentava Cristo como o sumo-sacerdote por excelência, não na linha do sacerdócio levítico, mas na linha do sacerdócio de Melquisedec... Hoje, passamos a outra secção (cf. Heb 8,1-9,28), na qual o autor apresenta Cristo como o sacerdote perfeito e explica em que consiste essa perfeição e quais as suas consequências para a vida dos fiéis.
    Depois de refletir sobre a imperfeição do culto antigo (cf. Heb 8,1-6), a imperfeição da antiga Aliança (cf. Heb 8,7-13) e a ineficácia dos sacrifícios oferecidos no Templo de Jerusalém (cf. Heb 9,1-10), o autor passa a explicar aos cristãos a quem a Carta se destina porque é que o sacrifício oferecido por Cristo é perfeito (cf. Heb 9,11-14) e como é que, por esse sacrifício, Cristo se torna o mediador da Nova Aliança (cf. Heb 9,15-22). No último parágrafo desta secção (cf. Heb 9,23-28), o autor tira, para a vida dos fiéis, as consequências de tudo o que disse atrás, a propósito do sacerdócio perfeito de Cristo.
    Dirigindo-se a cristãos em dificuldade, que já perderam o entusiasmo inicial e que, diante das dificuldades, correm o risco de renunciar ao compromisso assumido no dia do Baptismo, o autor da Carta procura animá-los e revitalizar a sua experiência de fé.

    MENSAGEM

    No final da sua caminhada terrena com os homens, Cristo, o sacerdote perfeito, entrou no verdadeiro santuário que é o céu - a própria realidade de Deus, a comunhão com Deus. Vivendo em comunhão com o Pai, Ele continua a interceder pelos homens e a dispor o coração do Pai em favor dos homens (vers. 24).
    Mais: enquanto que o sumo-sacerdote da antiga Aliança tinha que entrar no santuário todos os anos (o autor refere-se ao Dia da Expiação - o "Yom Kippur" - o único dia do ano em que o sumo-sacerdote entrava no "Santo dos Santos" do Templo de Jerusalém, a fim de aspergir o "propiciatório" com o sangue de um animal imolado e obter, assim, o perdão de Deus para os pecados do Povo), Cristo entrou uma só vez no santuário perfeito, levando o seu próprio sangue, e obteve a redenção de toda a humanidade - desde a fundação do mundo, até ao final dos tempos. A entrega de Cristo, o seu sacrifício consumado no dom da vida, teve uma eficácia total e universal; com ela, Cristo conseguiu a destruição da condição pecadora do homem. A humanidade fica, a partir desse instante, definitivamente salva.
    Quando Cristo voltar a manifestar-Se, no final dos tempos (parusia), não será nem para oferecer um novo sacrifício, nem para condenar o homem; mas será para oferecer a salvação definitiva àqueles que Ele, com o seu sacrifício, libertou do pecado.

    ACTUALIZAÇÃO

    • A ideia de que Cristo nos libertou do pecado com o seu sacrifício domina este texto. O que é que o autor da Carta aos Hebreus quer dizer com isto? Cristo veio a este mundo para libertar o homem das cadeias de egoísmo e de pecado que o prendiam. Nesse sentido, Cristo pediu uma "metanoia" (transformação radical) do coração, da mente, dos valores, das atitudes do homem e propôs, com a sua palavra, com o seu exemplo, com a sua vida, que o homem passasse a percorrer o caminho do amor, da partilha, do serviço, do perdão, do dom da vida. A sua entrega na cruz é a lição suprema que Ele quis deixar-nos - a lição do amor que renuncia ao egoísmo e que se faz dom total aos irmãos, até às últimas consequências. Mais, a sua luta contra o pecado levou-O a confrontar-Se com as estruturas políticas, sociais ou religiosas geradoras de injustiça e de opressão; a sua morte, arquitetada pelos detentores do poder (as autoridades políticas e religiosas do país), foi, também, a consequência da sua luta contra as estruturas que oprimiam o homem e que geravam egoísmo e morte. Ele ofereceu, de facto, a sua vida em sacrifício para nos libertar do pecado. A sua ressurreição revelou que Deus aceitou o seu sacrifício e que não deixará mais que o pecado roube ao homem a vida. Aderir a Jesus, ser cristão, é procurar viver, dia a dia, no seguimento de Jesus e fazer da própria vida um dom de amor aos irmãos; é, também, lutar contra todas as estruturas que geram injustiça e pecado. Gastar a vida dessa forma é participar da missão de Jesus, é colaborar com Ele para eliminar o pecado.

    • As outras leituras deste domingo falam-nos de desapego, de partilha, de capacidade para "dar tudo". Cristo, com a entrega total da sua vida a Deus e aos homens, realizou plenamente esta dimensão. Ele mostrou-nos, com o seu sacrifício, qual é o dom perfeito que Deus quer e que espera de cada um dos seus filhos. Mais do que dinheiro ou outros bens materiais, Deus espera de nós o dom da nossa vida, ao serviço desse projeto de salvação que Ele tem para os homens e para o mundo.

    • A certeza de que Jesus Cristo, o sacerdote perfeito, venceu o pecado e está agora junto de Deus, intercedendo por nós e esperando o momento de nos oferecer a vida eterna, deve dar-nos confiança e esperança, ao longo da nossa caminhada diária pela vida. A Palavra de Deus que hoje nos é oferecida garante-nos que as nossas fragilidades e debilidades não podem afastar-nos da comunhão com Deus, da vida eterna; e, no final do nosso caminho, Jesus, o nosso libertador, lá estará à nossa espera para nos oferecer a vida definitiva.
    ALELUIA - Mt 5,3

    Aleluia. Aleluia.

    Bem-aventurados os pobres em espírito,
    porque deles é o reino dos Céus.

    EVANGELHO - Mc 12,38-44

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

    Naquele tempo,
    Jesus ensinava a multidão, dizendo:
    «Acautelai-vos dos escribas,
    que gostam de exibir longas vestes,
    de receber cumprimentos nas praças,
    de ocupar os primeiros assentos nas sinagogas
    e os primeiros lugares nos banquetes.
    Devoram as casas das viúvas
    com pretexto de fazerem longas rezas.
    Estes receberão uma sentença mais severa».
    Jesus sentou-Se em frente da arca do tesouro
    a observar como a multidão deixava o dinheiro na caixa.
    Muitos ricos deitavam quantias avultadas.
    Veio uma pobre viúva
    e deitou duas pequenas moedas, isto é, um quadrante.
    Jesus chamou os discípulos e disse-lhes:
    «Em verdade vos digo:
    Esta pobre viúva deitou na caixa mais do que todos os outros.
    Eles deitaram do que lhes sobrava,
    mas ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha,
    tudo o que possuía para viver».

    AMBIENTE

    O nosso texto situa-nos em Jerusalém, nos dias que antecedem a prisão, julgamento e morte de Jesus. Por esta altura, adensam-se as polémicas de Jesus com os representantes do Judaísmo oficial. A cada passo fica mais claro que o projecto do Reino (proposto por Jesus) é incompatível com a visão religiosa dos líderes judaicos. Num ambiente carregado de dramatismo, adivinha-se o inevitável choque decisivo entre Jesus e a instituição judaica e prepara-se o cenário da Cruz.
    Jesus tem consciência de que os líderes da comunidade judaica tinham transformado a religião de Moisés - com os seus ritos, exigências legais, proibições e obrigações - numa proposta vazia e estéril. Mal-servida e manipulada pelos seus líderes religiosos, a comunidade judaica tinha-se transformado numa figueira seca (cf. Mc 11,12-14. 20-26), onde Deus não encontrava os frutos que esperava (o culto verdadeiro e sincero, o amor, a justiça, a misericórdia). O próprio Templo - o espaço onde se desenrolavam abundantes ritos cultuais e sumptuosas cerimónias litúrgicas - tinha deixado de ser o lugar do encontro de Deus com a comunidade israelita e tinha-se tornado um lugar de exploração e de injustiça, "um covil de ladrões" (cf. Mc 11,15-19)...
    Jesus tem presente tudo isto quando ensina nos átrios do Templo, rodeado pelos discípulos. À sua volta desenrola-se esse folclore religioso, feito de ritos externos, de grandes gestos teatrais, frequentemente vazios de conteúdo. Os "doutores da Lei" (geralmente, do partido dos fariseus; estudavam e memorizavam as Escrituras e ensinavam aos seus discípulos as regras - ou "halakot" - que deviam dirigir cada passo da vida dos fiéis israelitas), com as suas vestes especiais e os traços característicos de quem se julgava com direito a todas as deferências, honras e privilégios, são mais um elemento no quadro desse culto de mentira que Jesus tem diante dos olhos.
    Em contraponto, Jesus repara no "átrio das mulheres", onde uma viúva deposita, no tesouro do Templo, a sua humilde oferta (dons voluntários eram feitos com frequência, tendo por finalidade, por exemplo, cumprir votos). As viúvas, no ambiente palestino de então (sobretudo quando não tinham filhos que as protegessem e alimentassem), eram o modelo clássico do pobre, do explorado, do débil.

    MENSAGEM

    O nosso texto compõe-se, portanto, de duas partes. Na primeira parte (vers. 38-40), Jesus faz incidir a atenção dos seus discípulos sobre o grupo dos doutores da Lei. Aparentemente, os doutores da Lei são figuras intocáveis da comunidade, com uma atitude religiosa irrepreensível. São estimados, admirados e adulados pelo povo, que os tem em alto conceito. Contudo, o olhar avaliador de Jesus não se detém nas aparências, mas penetra na realidade das coisas... Uma análise mais cuidada mostra que esses doutores da Lei são hipócritas e incoerentes: fazem as coisas, não por convicção, mas para serem considerados e admirados pelo povo; procuram os primeiros lugares, preocupam-se em afirmar a sua superioridade diante dos outros, exibem uma devoção de fachada, fazem do cumprimento dos ritos e regras da Lei um espectáculo para os outros aplaudirem... A sua vida é, portanto, um imenso repertório de mentira, de incoerência, de hipocrisia... Como se isso não bastasse, estes doutores da Lei aproveitam-se, frequentemente, da sua posição e da confiança que inspiram - como intérpretes autorizados da Lei de Deus - para explorar os mais pobres (aqueles que são os preferidos de Deus); servem-se da religião para satisfazer a sua avareza, não têm escrúpulos em aproveitar-se boa-fé das pessoas para aumentar os seus proveitos; exploram as viúvas, que lhes confiam a administração dos próprios bens, alinham em esquemas de corrupção e de exploração...
    Os doutores da Lei, com os seus comportamentos hipócritas, mostram que os ritos externos, os gestos teatrais, o cumprimento das regras religiosamente correctas não chegam para aproximar os homens de Deus e da santidade de Deus. Ao olhar para a atitude dos doutores da Lei, os discípulos de Jesus têm de estar conscientes de que este não é o comportamento que Deus pede àqueles que querem fazer parte da sua família.
    Na segunda parte (vers. 41-44), Jesus convida os discípulos a perceber a essência do verdadeiro culto, da verdadeira atitude religiosa. Em profundo contraste com o quadro dos doutores da Lei, Jesus aponta aos discípulos a figura de uma pobre viúva, que se aproxima de um dos treze recipientes situados no átrio do Templo, onde se depositavam as ofertas para o tesouro do Templo. A mulher deposita aí duas simples moedas (dois "leptá", diz o texto grego. O "leptá" era uma moeda de cobre, a mais pequena e insignificante das moedas judaicas); contudo, aquela quantia insignificante era tudo o que a mulher possuía. Ninguém, excepto Jesus, repara nela ou manifesta admiração pelo seu gesto. Apenas Jesus - que lê os factos com os olhos de Deus e sabe ver para além das aparências - percebe naquelas duas insignificantes moedas oferecidas a marca de um dom total, de um completo despojamento, de uma entrega radical e sem medida. O encontro com Deus, o culto que Deus quer passa por gestos simples e humildes, que podem passar completamente despercebidos, mas que são sinceros, verdadeiros, e expressam a entrega generosa e o compromisso total. O verdadeiro crente não é o que cultiva gestos teatrais e espampanantes, que impressionam as multidões e que são aplaudidos pelos homens; mas é o que aceita despojar-se de tudo, prescindir dos seus interesses e projectos pessoais, para se entregar completa e gratuitamente nas mãos de Deus, com humildade, generosidade, total confiança, amor verdadeiro. É este o exemplo que os discípulos de Jesus devem imitar; é esse o culto verdadeiro que eles devem prestar a Deus.

    ACTUALIZAÇÃO

    • Qual é o verdadeiro culto que Deus espera de nós? Qual deve ser a nossa resposta à sua oferta de salvação? A forma como Jesus aprecia o gesto daquela pobre viúva não deixa lugar a qualquer dúvida: Deus não valoriza os gestos espectaculares, cuidadosamente encenados e preparados, mas que não saem do coração; Deus não se deixa impressionar por grandes manifestações cultuais, por grandes e impressionantes manifestações religiosas, cuidadosamente preparadas, mas hipócritas, vazias e estéreis... O que Deus pede é que sejamos capazes de Lhe oferecer tudo, que aceitemos despojar-nos das nossas certezas, das nossas manifestações de orgulho e de vaidade, dos nossos projectos pessoais e preconceitos, a fim de nos entregarmos confiadamente nas suas mãos, com total confiança, numa completa doação, numa pobreza humilde e fecunda, num amor sem limites e sem condições. Esse é o verdadeiro culto, que nos aproxima de Deus e que nos torna membros da família de Deus. O verdadeiro crente é aquele que não guarda nada para si, mas que, dia a dia, no silêncio e na simplicidade dos gestos mais banais, aceita sair do seu egoísmo e da sua auto-suficiência e colocar a totalidade da sua existência nas mãos de Deus.

    • Como na primeira leitura, também no Evangelho temos um exemplo de uma mulher pobre (ainda mais, uma viúva, que pertence à classe dos abandonados, dos débeis, dos mais pobres de entre os pobres), que é capaz de partilhar o pouco que tem. Na reflexão bíblica, os pobres, pela sua situação de carência, debilidade e necessidade, são considerados os preferidos de Deus, aqueles que são objecto de uma especial protecção e ternura por parte de Deus. Por isso, eles são olhados com simpatia e até, numa visão simplista e idealizada, são retractados como pessoas pacíficas, humildes, simples, piedosas, cheias de "temor de Deus" (isto é, que se colocam diante de Deus com serena confiança, em total obediência e entrega). Este retrato, naturalmente um pouco estereotipado, não deixa de ter um sólido fundo de verdade: só quem não vive para as riquezas, só quem não tem o coração obcecado com a posse dos bens (falamos, naturalmente, do dinheiro, da conta bancária; mas falamos, igualmente, do orgulho, da auto-suficiência, da vontade de triunfar a todo o custo, do desejo de poder e de autoridade, do desejo de ser aplaudido e admirado) é capaz de estar disponível para acolher os desafios de Deus e para aceitar, com humildade e simplicidade, os valores do Reino. Esses são os preferidos de Deus. O exemplo desta mulher garante-nos que só quem é "pobre" - isto é, quem não tem o coração demasiado cheio de si próprio - é capaz de viver para Deus e de acolher os desafios e os valores do Reino.

    • A figura dos doutores da Lei está em total contraste com a figura desta mulher pobre. Eles têm o coração completamente cheio de si; estão dominados por sentimentos de egoísmo, de ambição e de vaidade, apostam tudo nos bens materiais, mesmo que isso implique explorar e roubar as viúvas e os pobres... Na verdade, no seu coração não há lugar para Deus e para os outros irmãos; só há lá lugar para os seus interesses mesquinhos e egoístas. Eles são a antítese daquilo que os discípulos de Jesus devem ser; não apreciam os valores do Reino e, dessa forma, não podem integrar a comunidade do Reino. Podem ter atitudes que, na aparência, são religiosamente correctas, ou podem mesmo ser vistos como autênticos pilares da comunidade do Povo de Deus; mas, na verdade, eles não fazem parte da família de Deus. Nunca é demais reflectirmos sobre este ponto: quem vive para si e é incapaz de viver para Deus e para os irmãos, com verdade e generosidade, não pode integrar a família de Jesus, a comunidade do Reino.

    • Jesus ensina-nos, neste episódio, a não julgarmos as pessoas pelas aparências. Muitas vezes é precisamente aquilo que consideramos insignificante, desprezível, pouco edificante, que é verdadeiramente importante e significativo. Muitas vezes Deus chega até nós na humildade, na simplicidade, na debilidade, nos gestos silenciosos e simples de alguém em quem nem reparamos. Temos de aprender a ir ao fundo das coisas e a olhar para o mundo, para as situações, para a história e, sobretudo, para os homens e mulheres que caminham ao nosso lado, com o olhar de Deus. É precisamente isso que Jesus faz.

    • Uma das críticas que Jesus faz aos doutores da Lei é que eles se servem da religião, da sua posição de intérpretes oficiais e autorizados da Lei, para obter honras e privilégios. Trata-se de uma tentação sempre presente, ontem como hoje... Em nenhum caso a nossa fé, o nosso lugar na comunidade, a consideração que as pessoas possam ter por nós ou pelas funções que desempenhamos podem ser utilizadas, de forma abusiva, para "levar a água ao nosso moinho" e para conseguir privilégios particulares ou honras que não nos são devidas. Utilizar a religião para fins egoístas é um comércio ilícito e abominável, e constitui um enorme contratestemunho para os irmãos que nos rodeiam.

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 32º DOMINGO DO TEMPO COMUM
    (adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao 32º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa... Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. BILHETE DE EVANGELHO.
    Naquele dia, no templo, havia muitos ricos e uma pobre viúva. Só Jesus repara nesta mulher cuja pobreza é dupla, financeira e afectiva. Os ricos fazem barulho com as suas mãos que depositam no tronco grandes somas. A mulher é mais discreta, só Jesus consegue ouvir cair as duas pequenas peças. Uma vez mais, Jesus não se contenta em ver as aparências, procura ver o coração. Ele vê que aquilo que distingue a pobre viúva dos ricos é o seu coração que motiva a primeira a tomar sobre a sua indigência, os segundos sobre o seu supérfluo. Parece que a mulher não contou, não negociou com Deus, ela deu tudo, tudo o que tinha para viver. Os ricos dão com boa consciência, a mulher dá com bom coração. É por isso, diz Jesus, que ela deu mais do que toda a gente, não em quantidade, mas em generosidade.

    3. À ESCUTA DA PALAVRA.
    Jesus discreto no templo... Vê os ricos, mas a sua atenção vira-se para a pobre viúva. Olhar curioso, inquiridor? Não! Como seu Pai, Jesus ultrapassa as aparências, vê o coração. A viúva deu toda a sua vida, tudo o que tinha. Não se questiona sobre como vai viver a seguir. Dá um salto no abandono total de si mesma ao Senhor. Ela é verdadeiramente filha de Abraão, o Pai da fé. Espera contra toda a esperança. Lança-se nos braços de Deus. Ao olhar esta pobre viúva, Jesus devia pensar certamente em si mesmo... Também nós somos reenviados a nós mesmos. Não se trata daquilo que damos no peditório, em cada domingo! Trata-se da nossa fé, da confiança que damos ao nosso Pai dos céus. Todos nós conhecemos momentos em que tudo escurece, em que não temos mais apoios, em que a nossa vida parece tremer. É então que se pode verificar a solidez da nossa fé, da nossa confiança. "Senhor, eu creio, mas vem em auxílio da minha pouca fé! Pai, entrego-me nas tuas mãos!"

    4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE...
    A oração silenciosa... Para nos colocarmos sob o olhar de Jesus, tomemos nesta semana tempo para a oração silenciosa. Esta não deve ser "vazia". É um tempo em que nos pomos na presença do Senhor e em que, depois de algumas palavras de louvor, o silêncio nos ajuda a sentir o olhar amoroso de Cristo.

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
    Tel. 218540900 - Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.org

  • 33º Domingo do Tempo Comum - Ano B

    33º Domingo do Tempo Comum - Ano B


    14 de Novembro, 2021

    ANO B
    33º DOMINGO DO TEMPO COMUM

    Tema do 33º Domingo do Tempo Comum

    A liturgia do 33º Domingo do Tempo Comum apresenta-nos, fundamentalmente, um convite à esperança. Convida-nos a confiar nesse Deus libertador, Senhor da história, que tem um projecto de vida definitiva para os homens. Ele vai - dizem os nossos textos - mudar a noite do mundo numa aurora de vida sem fim.

    A primeira leitura anuncia aos crentes perseguidos e desanimados a chegada iminente do tempo da intervenção libertadora de Deus para salvar o Povo fiel. É esta a esperança que deve sustentar os justos, chamados a permanecerem fiéis a Deus, apesar da perseguição e da prova. A sua constância e fidelidade serão recompensadas com a vida eterna.
    No Evangelho, Jesus garante-nos que, num futuro sem data marcada, o mundo velho do egoísmo e do pecado vai cair e que, em seu lugar, Deus vai fazer aparecer um mundo novo, de vida e de felicidade sem fim. Aos seus discípulos, Jesus pede que estejam atentos aos sinais que anunciam essa nova realidade e disponíveis para acolher os projectos, os apelos e os desafios de Deus.

    A segunda leitura lembra que Jesus veio ao mundo para concretizar o projecto de Deus no sentido de libertar o homem do pecado e de o inserir numa dinâmica de vida eterna. Com a sua vida e com o seu testemunho, Ele ensinou-nos a vencer o egoísmo e o pecado e a fazer da vida um dom de amor a Deus e aos irmãos. É esse o caminho do mundo novo e da vida definitiva.

     

    LEITURA I - Dan 12,1-3
    Leitura da Profecia de Daniel

    Naquele tempo, surgirá Miguel, o grande chefe dos Anjos,
    que protege os filhos do teu povo.
    Será um tempo de angústia,
    como não terá havido até então, desde que existem nações.
    Mas nesse tempo, virá a salvação para o teu povo,
    para aqueles que estiverem inscritos no livro de Deus.
    Muitos dos que dormem no pó da terra acordarão,
    uns para a vida eterna,
    outros para a vergonha e o horror eterno.
    Os sábios resplandecerão como a luz do firmamento
    e os que tiverem ensinado a muitos o caminho da justiça
    brilharão como estrelas por toda a eternidade.

     

    AMBIENTE

    Em 333 a.C., Alexandre da Macedónia derrotou Dario III, rei dos Persas, na batalha de Issos (Síria). A Palestina, até aí sob o domínio dos Persas, ficou integrada no império de Alexandre. Alexandre procurou impor a ideia da "oikouméne", quer dizer, a ideia de um mundo em que todos os homens eram uma só família, unidos sob uma só lei divina, em que todos os cidadãos do império eram cidadãos de uma mesma cidade e comungavam dos mesmos valores e da mesma cultura.
    Quando Alexandre morreu, em 323 a.C., o império foi disputado pelos seus generais. A Palestina foi, então, objecto de disputa entre os ptolomeus, que ocupavam o Egipto, e os selêucidas, que dominavam a Síria e a Mesopotâmia. Num primeiro momento, os ptolomeus asseguraram o domínio da Palestina e da Síria; mas o selêucida Antíoco III, aliado com Filipe V da Macedónia, acabou por vencer os ptolomeus (batalha das fontes do Jordão, ano 200 a.C.) e por conquistar o domínio da Palestina.

    Se o período ptolomaico tinha sido uma época de relativa benevolência para com a cultura judaica, a situação mudou radicalmente durante o reinado do selêucida Antíoco IV Epífanes (174-164 a.C.). Este rei, interessado em impor a cultura helénica em todo o seu império, praticou uma política de intolerância para com a cultura e a religião judaicas. A perseguição foi dura e as marcas da intolerância selêucida provocaram feridas muito graves no universo social e religioso judaico. Se muitos judeus renegaram a sua fé e assumiram os valores helénicos, muitos outros resistiram, defenderam a sua identidade cultural e religiosa. Uns optaram abertamente pela insurreição armada (como foi o caso de Judas Macabeu e dos seus heróicos seguidores); outros, contudo, optaram por fazer frente à prepotência dos reis helénicos com a sua palavra e os seus escritos.

    O Livro de Daniel surge neste contexto. O seu autor é um judeu fiel à cultura e aos valores religiosos dos seus antepassados, interessado em defender a sua cultura e a sua religião, apostado em mostrar aos seus concidadãos que a fidelidade aos valores tradicionais seria recompensada por Jahwéh com a vitória sobre os inimigos. Contando a história de um tal Daniel, um judeu exilado na Babilónia, que soube manter a sua fé num ambiente adverso de perseguição, o autor do Livro de Daniel pede aos seus concidadãos que não se deixem vencer pela perseguição de Antíoco IV Epífanes e que se mantenham fiéis à religião e aos valores dos seus pais. Neste livro, o autor garante-lhes que Deus está do lado do seu Povo e que recompensará a sua fidelidade à Lei e aos mandamentos. Estamos na segunda metade do séc. II a.C., pouco antes do desaparecimento de cena de Antíoco (que aconteceu em 164 a.C.).

    Com o livro de Daniel, inaugura-se a literatura apocalíptica. Num tempo de perseguição, o autor pretende - servindo-se de um género literário que recorre, frequentemente, a símbolos e a uma linguagem cifrada - restaurar a esperança e assegurar ao seu Povo a vitória de Deus e dos seus fiéis sobre os opressores.

     

    MENSAGEM

    Aos crentes perseguidos, o autor do livro anuncia a chegada iminente do tempo da intervenção salvadora de Deus para salvar o Povo fiel. Nesse sentido, ele refere-se à intervenção de "Miguel", o chefe do exército celestial, que Deus enviará para castigar os perseguidores e para proteger os santos. No imaginário religioso judaico, "Miguel" é concebido como um espírito celeste (uma espécie de anjo protector) que vela pelo Povo de Deus e que, por mandato divino, opera a libertação dos justos perseguidos, cujo nome está inscrito "no livro da vida" (vers. 1).

    Essa intervenção iminente de Deus não atingirá, na perspectiva do nosso autor, somente aqueles que ainda caminham na história; mas Deus irá, também, ressuscitar os que já morreram, a fim de lhes dar o prémio pela sua vida de fidelidade ou o castigo pelas maldades que praticaram (vers. 2). Em concreto, o autor estará a falar daquilo que costumamos chamar "o fim do mundo"? O que ele está a falar é de uma intervenção de Deus que porá fim ao mundo da injustiça, da opressão, da prepotência, de morte e que iniciará um mundo novo, de justiça, de felicidade, de paz, de vida verdadeira.

    Aqueles que, apesar da perseguição e do sofrimento, se mantiveram fiéis a Deus e aos seus valores, esses estão destinados à "vida eterna". O autor deste texto não explica directamente em que consistirá essa "vida eterna"; mas os símbolos utilizados ("resplandecerão como a luminosidade do firmamento"; "brilharão como as estrelas com um esplendor eterno" - vers. 3) evocam a transfiguração dos ressuscitados. Essa vida nova que os espera não será uma vida semelhante à do mundo presente, mas será uma vida transfigurada.
    É esta a esperança que deve sustentar os justos, chamados a permanecerem fiéis a Deus, apesar da perseguição e da prova. A sua vida não é - garante-nos o nosso autor - sem sentido e não está condenada ao fracasso; mas a sua constância e fidelidade serão recompensadas com a vida eterna. Embora sem dados muito concretos e sem definições muito claras, começa aqui a esboçar-se a teologia da ressurreição.

     

    ACTUALIZAÇÃO

    • A mensagem de esperança que o nosso texto nos deixa destinava-se a animar os crentes que sofriam a perseguição numa época e num contexto particulares. No entanto, é uma mensagem válida para os crentes de todas as épocas e lugares. A "perseguição" por causa da fidelidade aos valores em que acreditamos é uma realidade que todos conhecemos e que faz parte da nossa existência comprometida. Hoje, essa "perseguição" nem sempre é sangrenta; manifesta-se, muitas vezes, em atitudes de marginalização ou de rejeição, em ditos humilhantes, em atitudes provocatórias, na colagem de "rótulos" ("conservadores", "atrasados", "fora de moda"), em julgamentos apressados e injustos, em preconceitos e oposições... Contudo, é sempre uma realidade que faz sofrer o Povo de Deus. Este texto garante-nos que Deus nunca abandona o seu Povo em marcha pela história e que a vitória final será daqueles que se mantiverem fiéis às propostas e aos caminhos de Deus. Esta certeza constitui um "capital de esperança" que deve animar a nossa caminhada diária pelo mundo.
    • O Livro de Daniel põe, também, a questão da fidelidade aos valores verdadeiramente importantes, que estão para além das conveniências políticas e sociais, ou das imposições e perspectivas de quem dita a moda... Daniel, o personagem central do livro, é uma figura interpelante, que nos convida a não transigirmos com os valores efémeros, sobretudo quando eles põem em causa os valores essenciais. O cristão não é uma "cana agitada pelo vento" que, por interesse ou por cálculo, esquece os valores e as exigências fundamentais da sua fé; mas é "profeta" que, em permanente diálogo com o mundo e sem se alhear do mundo, procura dar testemunho dos valores perenes, dos valores de Deus.
    • A certeza da presença de Deus a acompanhar a caminhada dos crentes e a convicção de que a vitória final será de Deus e dos seus fiéis, permite-nos olhar a história da humanidade com confiança e esperança. O cristão não pode ser, portanto, um "profeta da desgraça", que tem permanentemente uma perspectiva negra da história e que olha o mundo com azedume e pessimismo; mas tem de ser uma pessoa alegre e confiante, que olha para o futuro com serenidade e esperança, pois sabe que, presidindo à história dos homens, está esse Deus que protege, que cuida e que ama cada um dos seus filhos.
    • O nosso texto garante a vida eterna àqueles que procuraram viver na fidelidade aos valores de Deus. A certeza de que a vida não acaba na morte liberta-nos do medo e dá-nos a coragem do compromisso. Podemos, serenamente, enfrentar neste mundo as forças da opressão e da morte, porque sabemos que elas não conseguirão derrotar-nos: no final da nossa caminhada por este mundo, está sempre a vida eterna e verdadeira, que Deus reserva para os que estão "inscritos no livro da vida".

     

    SALMO RESPONSORIAL - Salmo 15 (16)
    Refrão 1: Defendei-me, Senhor: Vós sois o meu refúgio.
    Refrão 2: Guardai-me, Senhor, porque esperei em Vós.

    Senhor, porção da minha herança e do meu cálice,
    está nas vossas mãos o meu destino.
    O Senhor está sempre na minha presença,
    com Ele a meu lado não vacilarei.

    Por isso o meu coração se alegra e a minha alma exulta
    e até o meu corpo descansa tranquilo.
    Vós não abandonareis a minha alma na mansão dos mortos,
    nem deixareis o vosso fiel sofrer a corrupção.

    Dar-me-eis a conhecer os caminhos da vida,
    alegria plena em vossa presença,
    delícias eternas à vossa direita.

     

    LEITURA II - Heb 10,11-14.18
    Leitura da Epístola aos Hebreus

    Todo o sacerdote da antiga aliança
    se apresenta cada dia para exercer o seu ministério
    e oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios,
    que nunca poderão perdoar os pecados.
    Cristo, ao contrário,
    tendo oferecido pelos pecados um único sacrifício,
    sentou-Se para sempre à direita de Deus,
    esperando desde então que os seus inimigos
    sejam postos como escabelo dos seus pés.
    Porque, com uma única oblação,
    Ele tornou perfeitos para sempre os que Ele santifica.
    Onde há remissão dos pecados,
    já não há necessidade de oblação pelo pecado.

     

    AMBIENTE

    Pela última vez, neste ano litúrgico, é-nos apresentado um texto da Carta aos Hebreus. Esta "Carta" (que, mais do que uma "carta", é uma "homilia") destina-se a comunidades cristãs que vivem dias complicados... À falta de entusiasmo de muitos dos seus membros na vivência do compromisso cristão, junta-se a hostilidade dos inimigos e as confusões causadas à fé comunitária por certos pregadores pouco ortodoxos que ensinam doutrinas estranhas e pouco cristãs. São, portanto, comunidades fragilizadas, cansadas e desalentadas, que necessitam de redescobrir o seu entusiasmo inicial, de revitalizar o seu compromisso com Cristo e de apostar numa fé mais coerente e mais empenhada.
    Nesse sentido, o autor da "Carta" apresenta-lhes o mistério de Cristo, o sacerdote por excelência, cuja missão é pôr os crentes em relação com o Pai e inseri-los nesse Povo sacerdotal que é a comunidade cristã. Uma vez comprometidos com Cristo, os crentes são chamados a fazer da sua vida um contínuo sacrifício de louvor, de entrega e de amor. Desta forma, o autor oferece aos cristãos um aprofundamento e uma ampliação da fé primitiva, capaz de revitalizar uma experiência de fé enfraquecida pela hostilidade do ambiente, pela acomodação, pela monotonia e pelo arrefecimento do entusiasmo inicial.
    O texto que nos é proposto é parte da conclusão da reflexão sobre o sacerdócio de Cristo (cf. Heb 10,1-18). Aí, o autor repete temas desenvolvidos nos capítulos precedentes, procurando, uma vez mais, pôr em relevo a dimensão salvadora da missão sacerdotal de Jesus. O objectivo é despertar no coração dos crentes uma resposta adequada ao amor de Deus, manifestado na acção de Jesus.

     

    MENSAGEM

    Os "sacrifícios pelo pecado" constituíam um dos pilares do culto israelita. Introduzidos no sistema cultual de Israel em época relativamente tardia (alguns autores duvidam mesmo da sua existência antes do Exílio na Babilónia), tinham a função de expiar os pecados do Povo e de refazer a comunhão entre os crentes e Deus. Ao oferecer, sobre o altar do Templo, a vida de um animal, o crente pedia a Jahwéh perdão pelo pecado, manifestava a sua intenção de continuar a pertencer à comunidade de Deus e mostrava a sua vontade de reatar essa relação com Deus que o pecado tinha interrompido. O autor da Carta aos Hebreus está convencido, no entanto, que os sacrifícios oferecidos pelo pecado não eram eficazes e não conseguiam, de forma duradoura, restabelecer essa corrente de vida e de comunhão entre o Povo e Deus. Tratava-se de ritos externos e superficiais, que nunca lograram transformar os corações duros e egoístas dos homens em corações capazes de viverem no amor a Deus e aos irmãos.
    Jesus, no entanto, com a entrega da sua vida, conseguiu concretizar esse objectivo de aproximar os homens de Deus. Ele obedeceu a Deus em tudo e ofereceu a sua vida em dom de amor aos homens. Com o seu exemplo e testemunho, Ele propôs aos homens um caminho novo, mudou os seus corações e ensinou-os a viverem numa total disponibilidade para com os projectos de Deus, na entrega total aos irmãos. Dessa forma, Jesus venceu a lógica do egoísmo e do pecado e colocou os homens no caminho certo para integrarem a família de Deus. O sacrifício de Jesus, oferecido de uma só vez, libertou, efectivamente, os homens de uma dinâmica de egoísmo e de pecado e permitiu-lhes aproximarem-se de Deus com um coração renovado. Assim, Ele "tornou perfeitos para sempre os que são santificados" (vers. 14).
    Cumprida a sua missão na terra, Jesus "sentou-Se para sempre à direita de Deus" (vers. 12). Esta imagem de triunfo e de glória mostra, não apenas como o caminho percorrido por Cristo é um caminho que tem a aprovação de Deus mas, sobretudo, qual é a "meta" final da caminhada do homem: a divinização, a comunhão com Deus, a pertença à família de Deus. Se o caminho da fidelidade aos projectos de Deus e da entrega por amor aos irmãos levou Jesus a sentar-Se à direita do Pai, também aqueles que seguem Jesus chegarão à mesma meta e sentar-se-ão, por sua vez, à direita de Deus.
    Desta forma, o autor da Carta aos Hebreus exorta os cristãos a viverem na fidelidade aos compromissos que assumiram com Cristo no dia do seu Baptismo. Quem, apesar das dificuldades, percorre o mesmo caminho de Cristo, está destinado a sentar-se "à direita de Deus" e a viver, para sempre, em comunhão com Deus.

     

    ACTUALIZAÇÃO

    • O pecado, consequência da nossa finitude, é sempre uma realidade que impede a comunhão plena com Deus e o acesso à vida verdadeira. É, portanto, algo que constitui um obstáculo à nossa realização plena, ao aparecimento do Homem Novo. Estaremos, em consequência, fatalmente condenados a não realizar a nossa vocação de comunhão com Deus e a não concretizar o nosso desejo de vida em plenitude? A segunda leitura deste domingo garante-nos que Deus não abandona o homem que faz, mesmo conscientemente, opções erradas. O nosso egoísmo, o nosso orgulho, a nossa auto-suficiência, o nosso comodismo, o nosso pecado não têm a última palavra e não nos afastam decisivamente da comunhão com Deus e da vida eterna; a última palavra é sempre do amor de Deus e da sua vontade de salvar o homem.
    • Jesus, o Filho amado de Deus, veio ao mundo para concretizar o projecto de Deus no sentido de nos libertar do pecado e de nos inserir numa dinâmica de vida eterna. Com a sua vida e com o seu testemunho, Ele ensinou-nos a vencer o egoísmo e o pecado e a fazer da vida um dom de amor a Deus e aos irmãos. No dia do nosso Baptismo, aderimos ao projecto de vida que Jesus nos apresentou e passámos a integrar a comunidade dos filhos de Deus. Resta-nos, agora, seguir os passos de Jesus e percorrer, dia a dia, esse caminho de amor e de serviço que Ele nos deixou em herança. É um compromisso sério e exigente, que necessita de ser continuamente renovado. O nosso compromisso com Jesus e com a sua proposta de vida exige que, como Ele, vivamos no amor, na partilha, no serviço, se necessário até ao dom total da vida; exige que lutemos, sem desanimar, contra tudo aquilo que rouba a vida do homem e o impede de chegar à vida plena; exige que sejamos, no meio do mundo, testemunhas de uma dinâmica nova - a dinâmica do amor. A nossa vida tem sido coerente com esse compromisso?
    • Cristo gastou toda a sua existência na luta contra tudo aquilo que escraviza o homem e lhe rouba o acesso à vida verdadeira. A sua morte na cruz foi uma consequência de ter enfrentado as forças do egoísmo e do pecado que oprimiam os homens. Contudo, a morte não O venceu e Ele "sentou-Se para sempre à direita de Deus". O seu triunfo garante-nos que uma vida feita dom de amor não é uma vida perdida e fracassada, mas é uma vida destinada à eternidade. Quem, como Ele, luta para vencer o pecado que escraviza os homens, há-de chegar à comunhão plena com Deus, à vida eterna. Esta certeza deve animar a nossa caminhada e dar-nos a coragem do compromisso. Ainda que as forças da morte nos ameacem, o exemplo de Cristo deve animar-nos a prosseguir o nosso combate contra o egoísmo, a injustiça, a opressão, o pecado.

     

    ALELUIA - Lc 21,36
    Aleluia. Aleluia.

    Vigiai e orai em todo o tempo,
    para poderdes comparecer diante do Filho do homem.

     

    EVANGELHO - Mc 13,24-32
    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

    Naquele tempo,
    disse Jesus aos seus discípulos:
    «Naqueles dias, depois de uma grande aflição,
    o sol escurecerá e a lua não dará a sua claridade;
    as estrelas cairão do céu
    e as forças que há nos céus serão abaladas.
    Então, hão-de ver o Filho do homem vir sobre as nuvens,
    com grande poder e glória.
    Ele mandará os Anjos,
    para reunir os seus eleitos dos quatro pontos cardeais,
    da extremidade da terra à extremidade do céu.
    Aprendei a parábola da figueira:
    quando os seus ramos ficam tenros e brotam as folhas,
    sabeis que o Verão está próximo.
    Assim também, quando virdes acontecer estas coisas,
    sabei que o Filho do homem está perto, está mesmo à porta.
    Em verdade vos digo:
    Não passará esta geração sem que tudo isto aconteça.
    Passará o céu e a terra,
    mas as minhas palavras não passarão.
    Quanto a esse dia e a essa hora, ninguém os conhece:
    nem os Anjos do Céu, nem o Filho;
    só o Pai».

     

    AMBIENTE

    O texto que nos é hoje proposto como Evangelho situa-nos em Jerusalém, pouco antes da paixão e morte de Jesus. É o terceiro dia da estadia de Jesus em Jerusalém, o dia dos "ensinamentos" e das polémicas mais radicais com os líderes judaicos (cf. Mc 11,20-13,1-2). No final desse dia, já no "Jardim das Oliveiras", Jesus oferece a um grupo de discípulos (Pedro, Tiago, João e André - cf. Mc 13,3) um amplo e enigmático ensinamento, que ficou conhecido como o "discurso escatológico" (cf. Mt 13,3-37).
    A maior parte dos estudiosos do Evangelho segundo Marcos consideram que este discurso, apresentado com uma linguagem profético-apocalíptica, descreve a missão da comunidade cristã no período que vai desde a morte de Jesus até ao final da história humana. É um texto difícil, que emprega imagens e linguagens marcadas pelas alusões enigmáticas, bem ao jeito do género literário "apocalipse". Não seria tanto uma reportagem jornalística de acontecimentos concretos, mas antes uma leitura profética da história humana. O seu objectivo seria dar aos discípulos indicações acerca da atitude a tomar frente às vicissitudes que marcarão a caminhada histórica da comunidade, até ao momento em que Jesus vier para instaurar, em definitivo, o novo céu e a nova terra.
    Os quatro discípulos referenciados no início do "discurso escatológico" representam a comunidade cristã de todos os tempos... Os quatro são, precisamente, os primeiros discípulos chamados por Jesus (cf. Mc 1,16-20) e, como tal, convertem-se em representantes de todos os futuros discípulos. O discurso escatológico de Jesus não seria, assim, uma mensagem privada destinada a um grupo especial, mas uma mensagem destinada a toda a comunidade crente, chamada a caminhar na história com os olhos postos no encontro final com Jesus e com o Pai.
    A missão que Jesus (que está consciente de ter chegado a sua hora de partir ao encontro do Pai) confia à sua comunidade não é uma missão fácil... Jesus está consciente de que os seus discípulos terão que enfrentar as dificuldades, as perseguições, as tentações que "o mundo" vai colocar no seu caminho. Essa comunidade em marcha pela história necessitará, portanto, de estímulo e de alento. É por isso que surge este apelo à fidelidade, à coragem, à vigilância... No horizonte último da caminhada da comunidade, Jesus coloca o final da história humana e o reencontro definitivo dos discípulos com Jesus.
    O "discurso escatológico" divide-se em três partes, antecedidas de uma introdução (cf. Mc 13,1-4). Na primeira parte (cf. Mc 13,5-23), o discurso anuncia uma série de vicissitudes que vão marcar a história e que requerem dos discípulos a atitude adequada: vigilância e lucidez. Na segunda parte, o discurso anuncia a vinda definitiva do Filho do Homem e o nascimento de um mundo novo a partir das ruínas do mundo velho (cf. Mc 13,24-27). Na terceira parte, o discurso anuncia a incerteza quanto ao "tempo" histórico dos eventos anunciados e insiste com os discípulos para que estejam sempre vigilantes e preparados para acolher o Senhor que vem (cf. Mc 13,28-37). O nosso texto apresenta-nos, precisamente, a segunda parte e alguns versículos da terceira parte do "discurso escatológico".

     

    MENSAGEM

    Os dois primeiros versículos do nosso texto referem-se - com imagens tiradas da tradição profética e apocalíptica - à queda desse mundo velho que se opõe a Deus e que persegue os crentes (vers. 24-25). Em Is 13,10, o obscurecimento do sol, da lua e das estrelas anuncia o dia da intervenção justiceira de Jahwéh para destruir o império babilónico e para libertar o Povo de Deus exilado numa terra estrangeira (cf. Is 34,4); em Jl 2,10, as mesmas imagens são usadas para descrever os acontecimentos do "dia do Senhor", o dia em que Jahwéh vai intervir na história para castigar os opressores e para salvar os seus eleitos. Ora, é esta linguagem que Marcos vai utilizar para descrever a falência dos impérios que lutam contra Deus e contra os seus santos. Trata-se de uma linguagem tradicional que, no entanto, é perfeitamente perceptível para leitores de Marcos. No mundo grego, por exemplo, o sol e a lua ("Élios", e "Selénê") eram adorados como deuses; e, no mundo romano, o imperador identificava-se como "o sol" (o imperador Nero, o primeiro perseguidor dos cristãos de Roma, fez erigir no palácio imperial uma estátua de bronze com trinta metros de altura que o representava como o deus "sol"). A mensagem é evidente: está para acontecer uma viragem decisiva na história; a velha ordem religiosa e política, os poderes que se opõem a Deus e que perseguem os santos, irão ser derrubados, a fim de darem lugar a um mundo novo, construído de acordo com os critérios e os valores de Deus. Marcos não se refere, aqui, àquilo que nós costumamos chamar "o fim do mundo"; mas refere-se, genericamente, à vitória de Deus sobre o mal que oprime e escraviza aqueles que optaram por Deus e pelas suas propostas.
    A queda desse mundo velho aparece associada à vinda do Filho do Homem (vers. 26). A imagem leva-nos a Dn 7,13-14, onde se anuncia a vinda de um "Filho do Homem" "sobre as nuvens do céu" para afirmar a sua soberania sobre "todos os povos, todas as nações e todas as línguas". O "Filho do Homem, cheio de poder e de glória, que virá "reunir os seus eleitos" (vers. 27), não pode ser outro senão Jesus. Com esta imagem, Marcos assegura aos crentes o triunfo definitivo de Cristo sobre os poderes opressores e a libertação daqueles que, apesar das perseguições, continuaram a percorrer com fidelidade os caminhos de Deus.
    A mensagem proposta por Marcos aos seus leitores é clara: espera-vos um caminho marcado pelo sofrimento e pela perseguição; no entanto, não vos deixeis afundar no desespero porque Jesus vem. Com a sua vinda gloriosa (de ontem, de hoje, de amanhã), cessará a escravidão insuportável que vos impede de conhecer a vida em plenitude e nascerá um mundo novo, de alegria e de felicidade plenas. O quadro destina-se, portanto, não a amedrontar, mas a abrir os corações à esperança: quando Jesus vier com a sua autoridade soberana, o mundo velho do egoísmo e da escravidão cairá e surgirá o dia novo da salvação/libertação sem fim.
    Na segunda parte do nosso texto (vers. 28-32), Jesus responde à questão posta pelos discípulos em Mc 13,4: "Diz-nos quando tudo isto acontecerá e qual o sinal de que tudo está para acabar".
    Para Jesus, mais importante do que definir o tempo exacto da queda do mundo velho é ter confiança na chegada do mundo novo e estar atento aos sinais que o anunciam. O aparecimento nas figueiras de novos ramos e de novas folhas acontece, sem falhas, cada ano e anuncia ao agricultor a chegada do Verão e do tempo das colheitas (vers. 28-29); da mesma forma, os crentes são convidados a esperar, com confiança, a chegada do mundo novo e a perceber, nos sinais de desagregação do mundo velho, o anúncio de que o tempo da sua libertação está a chegar. Certos da vinda do Senhor, atentos aos sinais que O anunciam, os crentes podem preparar o seu coração para O acolher, para aceitar os desafios que Ele traz, para agarrar as oportunidades que Ele oferece.
    Não há uma data marcada para o advento dessa nova realidade (vers. 32). De uma coisa, no entanto, os crentes podem estar certos: as palavras de Jesus não são uma bela teoria ou um piedoso desejo; mas são a garantia de que esse mundo novo, de vida plena e de felicidade sem fim, irá surgir (vers. 31).

    ACTUALIZAÇÃO

    • Ver os telejornais ou escutar os noticiários é, com frequência, uma experiência que nos intranquiliza e que nos deprime. Os dramas dessa aldeia global que é o mundo entram em nossa casa, sentam-se à nossa mesa, apossam-se da nossa existência, perturbam a nossa tranquilidade, escurecem o nosso coração. A guerra, a opressão, a injustiça, a miséria, a escravidão, o egoísmo, a exploração, o desprezo pela dignidade do homem atingem-nos, mesmo quando acontecem a milhares de quilómetros do pequeno mundo onde nos movemos todos os dias. As sombras que marcam a história actual da humanidade tornam-se realidades próximas, tangíveis, que nos inquietam e nos desesperam. Feridos e humilhados, duvidamos de Deus, da sua bondade, do seu amor, da sua vontade de salvar o homem, das suas promessas de vida em plenitude. A Palavra de Deus que hoje nos é servida abre, contudo, a porta à esperança. Reafirma, uma vez mais, que Deus não abandona a humanidade e está determinado a transformar o mundo velho do egoísmo e do pecado num mundo novo de vida e de felicidade para todos os homens. A humanidade não caminha para o holocausto, para a destruição, para o sem sentido, para o nada; mas caminha ao encontro da vida plena, ao encontro desse mundo novo em que o homem, com a ajuda de Deus, alcançará a plenitude das suas possibilidades.
    • Os cristãos, convictos de que Deus tem um projecto de vida para o mundo, têm de ser testemunhas da esperança. Eles não lêem a história actual da humanidade como um conjunto de dramas que apontam para um futuro sem saída; mas vêem os momentos de tensão e de luta que hoje marcam a vida dos homens e das sociedades como sinais de que o mundo velho irá ser transformado e renovado, até surgir um mundo novo e melhor. Para o cristão, não faz qualquer sentido deixar-se dominar pelo medo, pelo pessimismo, pelo desespero, por discursos negativos, por angústias a propósito do fim do mundo... Os nossos contemporâneos têm de ver em nós, não gente deprimida e assustada, mas gente a quem a fé dá uma visão optimista da vida e da história e que caminha, alegre e confiante, ao encontro desse mundo novo que Deus nos prometeu.
    • É Deus, o Senhor da história, que irá fazer nascer um mundo novo; contudo, Ele conta com a nossa colaboração na concretização desse projecto. A religião não é ópio que adormece os homens e os impede de se comprometerem com a história... Os cristãos não podem ficar de braços cruzados à espera que o mundo novo caia do céu; mas são chamados a anunciar e a construir, com a sua vida, com as suas palavras, com os seus gestos, esse mundo que está nos projectos de Deus. Isso implica, antes de mais, um processo de conversão que nos leve a suprimir aquilo que, em nós e nos outros, é egoísmo, orgulho, prepotência, exploração, injustiça (mundo velho); isso implica, também, testemunhar em gestos concretos, os valores do mundo novo - a partilha, o serviço, o perdão, o amor, a fraternidade, a solidariedade, a paz.
    • Esse Deus que não abandona os homens na sua caminhada histórica vem continuamente ao nosso encontro para nos apresentar os seus desafios, para nos fazer entender os seus projectos, para nos indicar os caminhos que Ele nos chama a percorrer. Da nossa parte, precisamos de estar atentos à sua proximidade e reconhecê-l'O nos sinais da história, no rosto dos irmãos, nos apelos dos que sofrem e que buscam a libertação. O cristão não pode fechar-se no seu canto e ignorar Deus, os seus apelos e os seus projectos; mas tem de estar atento e de notar os sinais através dos quais Deus Se dirige aos homens e lhes aponta o caminho do mundo novo.
    • É preciso, ainda, ter presente que este mundo novo - que está permanentemente a fazer-se e depende do nosso testemunho - nunca será uma realidade plena nesta terra (a nossa caminhada neste mundo será sempre marcada pela nossa finitude, pelos nossos limites, pela nossa imperfeição). O mundo novo sonhado por Deus é uma realidade escatológica, cuja plenitude só acontecerá depois de Cristo, o Senhor, ter destruído definitivamente o mal que nos torna escravos.

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 33º DOMINGO DO TEMPO COMUM
    (adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

    Ao longo dos dias da semana anterior ao 33º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa... Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.
    2. BILHETE DE EVANGELHO.
    Para Deus, não há passado nem futuro, há um eterno presente. Quando Jesus fala do seu regresso, coloca-o no hoje da sua Igreja. Eis porque, quando escreve o seu Evangelho, Marcos dirige-se a uma comunidade provada pelas perseguições, sem dúvida tentada pelo desespero, pela dúvida. Trata-se, pois, de redizer que Cristo, vitorioso da morte na manhã de Páscoa, é sempre vitorioso sobre todas as forças do mal. O seu regresso será, então, a manifestação do seu esplendor e do seu poder amoroso sobre as forças da morte. Para reavivar a sua esperança, os crentes são convidados a perscrutar os sinais que fazem ver que o Senhor voltará. A esperança dos cristãos manifesta-se em cada Eucaristia, quando afirmam que Cristo veio, vem e virá.

    3. À ESCUTA DA PALAVRA.

    "Naqueles dias, depois de uma grande aflição, o sol escurecerá e a lua não dará a sua claridade; as estrelas cairão do céu e as forças que há nos céus serão abaladas". O fim do mundo? Qual o sentido destas palavras? É preciso olhar mais de perto... O nosso mundo está criado. Ele não existiu sempre como o conhecemos. A terra conheceu transformações profundas e conhecerá outras, certamente. Aparece a vida, a morte, o desconhecido que mete medo... À sua própria maneira e inspirado por um modo particular de falar, o género apocalíptico, Jesus exprime esta realidade muito concreta do fim de todas as coisas. Mas não fica por aí. Estes cataclismos precederão a sua vinda com grande poder e com grande glória. E dá a comparação da figueira... Não se trata de uma realidade que reenvia à destruição e à morte, mas à vida, no seu aspecto de nascimento, de alegria, de luz. As forças da morte não terão a última palavra. O exemplo de Cristo na cruz... onde se revela o poder do amor de seu Pai. Doravante, pela fé, podemos ver o mal misteriosamente habitado por este amor. Os sobressaltos do cosmos e da história são as primícias, dolorosas sem dúvida, de uma transformação, de um nascimento que desembocará na luz da Vida.

     

    4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE...

    Virados para a vinda de Cristo... Os extractos da Escritura proclamados neste domingo recordam-nos que este momento virá e que nós não conhecemos nem o dia nem a hora... A convite destes textos, porque não suscitar diálogo e debate sobre este tema?
    Estou pronto? Estou pronta? À margem da dimensão escatológica da fé coloca-se a questão da vigilância, à qual o Advento nos interpelará de uma maneira forte. Cristo diz que ninguém conhece o momento do seu regresso... Perguntemo-nos, então, se estamos preparados para este encontro...

     

     

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS

    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
    Tel. 218540900 - Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org

  • Solenidade de Cristo, Rei do Universo - Ano B

    Solenidade de Cristo, Rei do Universo - Ano B


    21 de Novembro, 2021

    Solenidade de Cristo, Rei do Universo
    Ano B - XXXIV Domingo Comum

    TEMA

    No 34º Domingo do Tempo Comum, celebramos a Solenidade de Jesus Cristo, Rei e Senhor do Universo. A Palavra de Deus que nos é proposta neste último domingo do ano litúrgico convida-nos a tomar consciência da realeza de Jesus; deixa claro, no entanto, que essa realeza não pode ser entendida à maneira dos reis deste mundo: é uma realeza que se concretiza de acordo com uma lógica própria, a lógica de Deus. O Evangelho, especialmente, explica qual é a lógica da realeza de Jesus.
    A primeira leitura anuncia que Deus vai intervir no mundo, a fim de eliminar a crueza, a ambição, a violência, a opressão que marcam a história dos reinos humanos. Através de um "filho de homem" que vai aparecer "sobre as nuvens", Deus vai devolver à história a sua dimensão de "humanidade", possibilitando que os homens sejam livres e vivam na paz e na tranquilidade. Os cristãos verão nesse "filho de homem" vitorioso um anúncio da realeza de Jesus.
    Na segunda leitura, o autor do Livro do Apocalipse apresenta Jesus como o Senhor
    do Tempo e da História, o princípio e o fim de todas as coisas, o "príncipe dos reis da terra", Aquele que há-de vir "por entre as nuvens" cheio de poder, de glória e de majestade para instaurar um reino definitivo de felicidade, de vida e de paz. É, precisamente, a interpretação cristã dessa figura de "filho de homem" de que falava a primeira leitura.
    O Evangelho apresenta-nos, num quadro dramático, Jesus a assumir a sua condição de rei diante de Pontius Pilatus. A cena revela, contudo, que a realeza reivindicada por Jesus não assenta em esquemas de ambição, de poder, de autoridade, de violência, como acontece com os reis da terra. A missão "real" de Jesus é dar "testemunho da verdade"; e concretiza-se no amor, no serviço, no perdão, na partilha, no dom da vida.

    LEITURA I - Dan 7,13-14

    Contemplava eu as visões da noite, quando, sobre as nuvens do céu,
    veio alguém semelhante a um filho do homem.
    Dirigiu-Se para o Ancião venerável e conduziram-no à sua presença.
    Foi-lhe entregue o poder, a honra e a realeza,
    e todos os povos e nações O serviram.
    O seu poder é eterno, não passará jamais, e o seu reino não será destruído.

    AMBIENTE

    Já vimos, no domingo anterior, que o Livro de Daniel aparece na primeira metade do século II a.C., numa época em que o rei selêucida Antíoco IV Epífanes procurava impor, pela força, a cultura grega ao Povo de Deus. As imposições de Antíoco IV Epífanes foram, contudo, mal acolhidas e depararam com uma tenaz resistência, sobretudo por parte dos sectores mais tradicionais do judaísmo. Uns judeus optaram abertamente pela insurreição armada (como foi o caso de Judas Macabeu e dos seus heróicos seguidores); outros, contudo, optaram por fazer frente à prepotência dos reis helénicos com a sua palavra e os seus escritos.

    O Livro de Daniel surge neste contexto. O seu autor é um judeu fiel à cultura e aos valores religiosos dos seus antepassados, interessado em defender a sua religião, apostado em mostrar aos seus concidadãos que a fidelidade aos valores tradicionais seria recompensada por Jahwéh com a vitória sobre os inimigos. Contando a história de um tal Daniel, um judeu exilado na Babilónia, que soube manter a sua fé num ambiente adverso de perseguição, o autor do Livro de Daniel pede aos seus concidadãos que não se deixem vencer pela perseguição e que se mantenham fiéis à religião e aos valores dos seus pais. Neste Livro, o autor garante-lhes que Deus está do lado do seu Povo e que recompensará a sua fidelidade à Lei e aos mandamentos.
    O texto que nos é proposto integra a segunda parte do Livro de Daniel (Dan 7,1-
    12,13). Aí o autor, recorrendo à "figura" da "visão", apresenta-nos uma leitura profética da história, cuja finalidade é transmitir a esperança aos crentes perseguidos por causa da sua fé e dos seus valores tradicionais.
    Na primeira das "visões" propostas (Dan 7,1-28), o autor do Livro apresenta "quatro grandes animais" (o primeiro "era semelhante a um leão"; o segundo era "semelhante a um urso"; o terceiro era "parecido com uma pantera"; o quarto era "horroroso, aterrador e de uma força excepcional" e "tinha dez chifres", embora lhe tivesse depois nascido um outro "chifre mais pequeno" que "tinha olhos como homem e uma boca que proferia palavras arrogantes" - Dan 7,4-8). Esses "quatro animais" evocam a sucessão dos impérios humanos… O primeiro seria o império neo-babilónico, o segundo representaria o império dos medos, o terceiro referir-se-ia ao império persa e o quarto seria o império grego de Alexandre, do qual os reis selêucidas eram os herdeiros directos. Os "dez chifres" desse quarto animal referem-se a uma série de dez reis que se sucederam uns aos outros; e o décimo primeiro chifre, mais pequeno do que os outros, seria, seguramente, Antíoco IV Epífanes, o rei perseguidor do Povo de Deus.
    Em paralelo com o quadro histórico destes impérios - todos eles conotados com o
    mal, com o imperialismo, com a opressão, com a perseguição ao Povo de Deus - o autor coloca, numa outra cena, "um ancião" com os cabelos e as vestes brancos "como a neve; sentado num trono feito de chamas e servido "por milhares e dezenas de milhares", esse "ancião" decretou a morte do décimo primeiro "chifre", bem como o fim do poderio dos "quatro animais" (Dan 7,9-12). É precisamente aqui que começa a cena descrita pelo texto da nossa primeira leitura: a entronização do "Filho do Homem" (Dan 7,13-14).

    MENSAGEM

    A "visão" descrita por Daniel desde 7,1 amplia-se, agora, com o aparecimento de um "filho de homem". Ao contrário dos "animais" apresentados nos versículos anteriores (que vêm do mar - na simbólica judaica, o reino do mal, da desordem, do caos, das forças que se opõe a Deus e à felicidade do homem), esse "filho de homem" aparece "sobre as nuvens do céu" (vers. 13) e tem, portanto, uma origem transcendente. Ele vem de Deus e pertence ao mundo de Deus.
    O "filho de homem" recebe de Deus um reino com as dimensões do universo ("todos os povos e nações O serviram" - vers. 14) e um poder que não é limitado pelo tempo, nem pela finitude que caracteriza os reinos humanos ("o seu poder é eterno, não passará jamais, e o seu reino não será destruído" - vers. 14).
    Com o anúncio do aparecimento "sobre as nuvens" desse "filho de homem", o autor do Livro de Daniel anuncia aos crentes perseguidos por Antíoco IV Epífanes a chegada de um tempo em que Deus vai intervir no mundo, a fim de eliminar a crueza, a voracidade, a ferocidade, a violência (os reinos dos "quatro animais"), que oprimem os homens; em contrapartida, Deus vai devolver à história a sua dimensão de "humanidade", possibilitando que os homens sejam livres e vivam na paz e na tranquilidade.

    Para a teologia judaica, esse "filho de homem" que há-de chegar para instaurar o "reino de Deus" sobre a terra será o Messias (o "ungido") de Deus. A sua intervenção irá pôr fim à perseguição dos justos e possibilitar a vitória dos santos sobre as forças da opressão e da morte. É esta esperança que anima os corações dos crentes na época imediatamente anterior à chegada de Jesus.
    De acordo com vários textos neo-testamentários, Jesus aplicará esta imagem do "filho de homem que vem sobre as nuvens" à sua própria pessoa. Ao ser interrogado pelo sumo-sacerdote Caifás, Jesus assumirá claramente que é "o Messias, o Filho de Deus bendito", o "Filho do Homem sentado à direita do Poder", que virá "sobre as nuvens do céu" (Mc 14,61-62). A catequese cristã primitiva retomará esta imagem para sublinhar a glória de Cristo e o poder soberano de Cristo sobre a história humana (cf. Act 7,55-
    56). Para os cristãos, Cristo é, efectivamente, esse "filho de homem" anunciado em Dan 7, que irá libertar os santos das garras do poder opressor e instaurar o reino definitivo da felicidade e da paz.

    ACTUALIZAÇÃO

    ♦ O texto que nos é proposto como primeira leitura na Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, aparece inserido numa reflexão mais ampla sobre a história e sobre os valores sobre os quais são construídos os impérios humanos. Os reinos construídos pelos homens baseiam-se, frequentemente, num poder arrogante e são geradores de exploração, de miséria, de violência. Trata-se de uma realidade que os modernos impérios perpetuam e que, hoje como ontem, marca a história humana. A humanidade estará, irremediavelmente, condenada a viver sob o domínio da injustiça e da opressão? Nunca nos libertaremos desse ciclo de morte? Deus assiste, indiferente e de braços cruzados, a esta dinâmica de violência e de violação dos direitos mais elementares dos povos e das nações? O "profeta" autor do Livro de Daniel acredita que o reino do mal não será eterno e que Deus intervém na história para destruir essas forças de morte que impedem os homens de alcançar a liberdade, a paz, a vida plena. Numa época em que os imperialismos, os fundamentalismos, os colonialismos, a cegueira dos líderes das nações poderosas multiplicam o sofrimento de tantos homens e mulheres, a profecia de Daniel convida-nos à esperança e à confiança: Deus não abandona o seu Povo em marcha pela história e saberá derrubar todos os poderes humanos que impedem a realização plena do homem.

    ♦ O anúncio de um "filho de homem" que virá "sobre as nuvens" para instaurar um reino que "não será destruído" leva-nos a Jesus. Ele veio ao encontro dos homens para lhes propor uma nova ordem, em que os pobres, os débeis, os fracos, os marginalizados, aqueles que não podem fazer ouvir a sua voz nos grandes areópagos internacionais não mais serão humilhados e espezinhados. Jesus introduziu na história uma nova lógica, substituindo a lógica do orgulho e do egoísmo, por uma lógica de amor, de serviço, de doação. É verdade que, mais de dois mil anos depois do nascimento de Jesus, esse reino ainda não se tornou uma realidade plena na nossa história; contudo, o reino proposto por Jesus está presente na vida do mundo, como uma semente a crescer ou como o fermento a levedar a massa. Compete-nos a nós, discípulos de Jesus, fazer com que esse reino seja, cada vez mais, uma realidade bem viva, bem presente, bem actuante no nosso mundo.

    SALMO RESPONSORIAL - Salmo 92 (93)

    Refrão: O Senhor é rei num trono de luz.

    O Senhor é rei,
    revestiu-Se de majestade, revestiu-Se e cingiu-Se de poder.

    Firmou o universo, que não vacilará. É firme o vosso trono desde sempre, Vós existis desde toda a eternidade.

    Os vossos testemunhos são dignos de toda a fé, a santidade habita na vossa casa
    por todo o sempre.

    LEITURA II - Ap 1,5-8

    Jesus Cristo é a Testemunha fiel,
    o Primogénito dos mortos, o Príncipe dos reis da terra.
    Àquele que nos ama e pelo seu sangue nos libertou do pecado e fez de nós um reino de sacerdotes para Deus seu Pai,
    a Ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amen. Ei-l’O que vem entre as nuvens,
    e todos os olhos O verão, mesmo aqueles que O trespassaram;
    e por sua causa hão-de lamentar-se todas as tribos da terra. Sim. Amen.
    «Eu sou o Alfa e o Ómega», diz o Senhor Deus,
    «Aquele que é, que era e que há-de vir, o Senhor do Universo».

    AMBIENTE

    "Apocalipse" significa "manifestação de algo que está oculto". O nosso "Livro do Apocalipse" - do qual é retirado o trecho da nossa segunda leitura - é um livro que se apresenta como uma "revelação" sobre "as coisas que brevemente devem acontecer" (Ap 1,1) e que um tal João, exilado na ilha de Patmos (uma pequena ilha do Mar Egeu) por causa da sua fé, tem por missão comunicar aos seus irmãos na fé.
    Estamos na fase final do reinado do imperador Domiciano (à volta do ano 95). As comunidades cristãs da Ásia Menor vivem numa grave crise interna, resultante das heresias, da falta de entusiasmo, da tibieza, da indiferença, do medo de dar testemunha da própria fé. Por outro lado, há também uma crise que resulta de causas externas, sobretudo da violenta perseguição que o imperador ordenou contra os cristãos: muitos seguidores de Jesus eram condenados e assassinados e outros, cheios de medo, abandonavam o Evangelho e passavam para o lado do império. Na comunidade dizia-se: "Jesus é o Senhor"; mas lá fora, quem mandava mesmo, como senhor todo-poderoso, era o imperador de Roma.
    É neste contexto de crise, de perseguição, de medo e de martírio que vai ser escrito o Apocalipse. O objectivo do autor é levar os crentes a revitalizarem o seu compromisso com Jesus e a não perderem a esperança. Nesse sentido, o autor do livro começa por fazer um convite à conversão (primeira parte - Ap 1-3); passa, depois, a apresentar uma leitura profética da história humana, que dá conta da vitória final de Deus e dos

    seus fiéis sobre as forças do mal (segunda parte - Ap 4-22). Estes conteúdos são apresentados com o recurso sistemático ao símbolo (como é típico da literatura apocalíptica), o que torna este livro estranho e difícil mas, ao mesmo tempo, muito belo e interpelante.
    O texto da segunda leitura de hoje apresenta-nos alguns dos primeiros versículos do Livro do Apocalipse. Trata-se de uma espécie de introdução litúrgica, onde se apresenta o diálogo litúrgico entre um leitor e a comunidade cristã reunida para escutar uma proclamação. Neste diálogo, a comunidade é convidada a aceitar Cristo como o centro da história humana, a razão de ser da comunidade, a coordenada fundamental à volta da qual se estrutura e organiza toda a vida cristã.

    MENSAGEM

    O leitor começa por apresentar Jesus à comunidade reunida para celebrar o seu Senhor, recorrendo a três títulos cristológicos (vers. 5a) que deviam fazer parte da catequese da comunidade joânica: "testemunha fiel", "primogénito dos mortos", "príncipe dos reis da terra". Jesus é a "testemunha fiel" porque, com a sua vida, com as suas palavras, com os seus gestos de serviço, de amor e de doação, com a sua entrega até à morte, testemunhou, de forma perfeita, o que Deus queria revelar aos homens e mostrou aos homens o rosto do Deus-amor. Jesus é o "primogénito dos mortos", porque foi o primeiro a vencer a morte e o pecado e demonstrou-nos, com essa vitória, que quem vive nos caminhos de Deus não será vencido pela morte, mas está destinado à vida eterna. Jesus é o "príncipe dos reis da terra", porque inaugurou uma nova forma de ser e um reino novo, de vida e de felicidade sem fim.
    Depois de escutar esta proclamação, a comunidade, reconhecida, louva o seu Senhor: "àquele que nos ama e pelo seu sangue nos libertou do pecado e fez de nós um reino de sacerdotes para Deus seu Pai, a Ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amén" (vers. 5b-6). Os membros da comunidade cristã têm consciência de que a entrega de Jesus na cruz é expressão do amor sem medida com que Ele ama todos os homens… Porque ama, Jesus libertou os homens do egoísmo e do pecado; porque ama, Jesus convidou os homens a integrar um reino novo, de amor e de paz; porque ama, Jesus associou os homens à sua missão, tornando-os sacerdotes que oferecem a Deus o culto das suas próprias vidas. Jesus inseriu os homens numa dinâmica de vida nova, aproximou-os de Deus, convidou-os a integrar a família de Deus. A comunidade cristã, consciente desta realidade, manifesta no culto o seu reconhecimento.
    A "liturgia" prossegue com o leitor a recordar à comunidade reunida que Jesus há-de vir ao encontro dos seus, cheio de poder e majestade, a fim de inaugurar uma nova era de vida e de paz sem fim ("entre as nuvens" - vers. 7. A imagem é tirada do Antigo Testamento e está associada às manifestações de Deus. No Livro de Daniel - cf. Dan
    7,13 - o "filho de homem" que aparece sobre as nuvens está associado à vitória de Deus sobre os reinos e os poderes do mundo). Recorda-se, assim, aos crentes que a última palavra nunca é dos maus e dos perseguidores, mas sim de Deus. Por outro lado, todos os homens poderão ver o coração trespassado de Cristo (vers. 7a.b) e tomarão consciência de quanto Ele ama os homens. A vitória de Cristo concretizar-se- á através do seu amor, feito dom a todos os homens, sem excepção.
    A comunidade manifesta a sua adesão a Cristo e às verdades proclamadas respondendo: "sim. Amén" (vers. 7c).
    O leitor conclui a sua apresentação de Jesus, definindo-O como o princípio e o fim de
    todas as coisas (o "alfa" e o "ómega", a primeira e a última letra do alfabeto grego), Aquele que é Senhor da História e que abarca a totalidade do tempo ("Aquele que é, que era e que há-de vir" - vers. 8). Os cristãos que participam nesta "liturgia" percebem, assim, que podem confiar incondicionalmente nesse Jesus que é a

    referência fundamental da história humana; e percebem, também, que são convidados a fazer de Jesus o centro das suas vidas.

    ACTUALIZAÇÃO

    ♦ A figura de Jesus que é proposta à comunidade pelo autor do nosso texto é a figura do Senhor do Tempo e da História, princípio e fim de todas as coisas; é a figura do "príncipe dos reis da terra", que há-de vir "por entre as nuvens" cheio de poder, de glória e de majestade para instaurar um reino definitivo de felicidade, de vida e de paz. Esta imagem de Jesus apela à confiança e à esperança: sejam quais forem as circunvoluções e as derrapagens da história humana, o caminho dos homens não será um caminho sem saída, destinado ao fracasso; mas será um caminho que desembocará inevitavelmente nesse reino novo de vida e de paz sem fim que Jesus veio anunciar e propor.

    ♦ A acção de Jesus como Senhor da História não se concretizará, contudo, numa lógica de poder, de autoridade, de força, à imagem dos reis da terra. Na sua catequese, o autor do Livro do Apocalipse sublinha o amor de Jesus, manifestado no dom da vida para libertar os homens do egoísmo e do pecado, para os inserir numa dinâmica de vida nova, para os integrar na família de Deus. Jesus, o nosso rei, é um rei que ama os seus com um amor sem limites e que, por amor, ofereceu a sua vida em favor da liberdade e da realização plena do homem. Neste dia em que celebramos a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, somos convidados (com as comunidades a quem o Livro do Apocalipse se destinava) a agradecer pelo amor de Jesus que nos libertou do egoísmo e da morte; e somos convidados, também, a ter a mesma atitude de Jesus, substituindo os esquemas de egoísmo, de poder e de prepotência, pelo amor que se faz doação e serviço aos homens.

    ♦ Na apresentação feita pelo autor do Livro do Apocalipse, os crentes são convidados a ver Jesus como o centro da história e a fazerem d’Ele a coordenada fundamental à volta da qual se constrói a existência humana, em geral, e a existência cristã, em particular. Jesus é, efectivamente, o centro da história humana? Que impacto tem a sua proposta na construção do nosso mundo? Jesus está, efectivamente, no centro das nossas comunidades cristãs? Ele é a referência fundamental para os crentes? Os seus valores, os seus ensinamentos condicionam a vida dos crentes, a sua forma de ver o mundo, os compromissos que eles assumem com os outros homens?

    ALELUIA - Mc 11,9.10

    Aleluia. Aleluia.

    Bendito o que vem em nome do Senhor, bendito o reino do nosso pai David.

    EVANGELHO - Jo 18,33b-37

    Naquele tempo,
    disse Pilatos a Jesus:
    «Tu és o Rei dos judeus?» Jesus respondeu-lhe:

    «É por ti que o dizes,
    ou foram outros que to disseram de Mim?» Disseram-Lhe Pilatos:
    «Porventura eu sou judeu?
    O teu povo e os sumos sacerdotes é que Te entregaram a mim. Que fizeste?»
    Jesus respondeu:
    «O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam
    para que Eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui».
    Disse-Lhe Pilatos:
    «Então, Tu és Rei?» Jesus respondeu-lhe:
    «É como dizes: sou Rei.
    Para isso nasci e vim ao mundo,
    a fim de dar testemunho da verdade.
    Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz».

    AMBIENTE

    O Evangelho da Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, apresenta-nos uma cena do processo de Jesus diante de Pontius Pilatus, o governador romano da Judeia. Para trás havia já ficado o frente a frente de Jesus com os líderes judaicos, nomeadamente com Anás (sogro de Caifás, o sumo-sacerdote; Anás, apesar de ter deixado o cargo de sumo-sacerdote, continuava a ser um personagem muito influente e foi ele, provavelmente, quem liderou o processo contra Jesus - cf. Jo 18,12-14.19-24).
    Pontius Pilatus, o interlocutor romano de Jesus, governou a Judeia e a Samaria entre os anos 26 e 36. As informações de Flávio Josefo e de Fílon apresentam-no como um governante duro e violento, obstinado e áspero, culpado de ordenar execuções de opositores sem um processo legal. As queixas de excessiva crueldade apresentadas contra ele pelos samaritanos no ano 35 levaram Vitélio, o legado romano na Síria, a tomar posição e a enviá-lo a Roma para se explicar diante do imperador. Pontius Pilatus foi deposto do seu cargo de governador da Judeia logo a seguir.
    Curiosamente, o autor do Quarto Evangelho descreve Pontius Pilatus como um homem fraco, indeciso e volúvel, uma espécie de marioneta habilmente manobrada pelos líderes judaicos. Esta apresentação - que contradiz os dados deixados pelos historiadores da época - não deve ter grandes bases históricas: deve ser, apenas, uma tentativa de livrar os romanos de qualquer culpa no processo de Jesus. Na época em que o autor do Quarto Evangelho escreve (por volta do ano 100), não era conveniente para os cristãos acusar Roma, afirmando a sua responsabilidade no processo que levou Jesus à morte. Assim, os escritores cristãos da época preferiram branquear o papel do poder imperial e, por outro lado, fazer recair sobre as autoridades judaicas toda a culpa pela condenação de Jesus.

    MENSAGEM

    O interrogatório de Jesus começa com uma pergunta directa, posta por Pontius Pilatus (vers. 33b): «Tu és o Rei dos judeus?» Este início de interrogatório revela qual era a acusação apresentada pelas autoridades judaicas contra Jesus: Ele tinha pretensões messiânicas; pretendia restaurar o reino ideal de David e libertar Israel dos

    opressores. Esta linha de acusação vê em Jesus um agitador político empenhado em mudar o mundo pela força, que fundamenta as suas pretensões e a sua acção no poder das armas e na autoridade dos exércitos. Esta acusação tem fundamento? Jesus aceita-a?
    A resposta de Jesus situa as coisas na perspectiva correcta. Ele assume-se como o messias que Israel esperava e confirma, claramente, a sua qualidade de rei; no entanto, descarta qualquer parecença com esses reis que Pontius Pilatus conhece (vers. 36). Os reis deste mundo apoiam-se na força das armas e impõem aos outros homens o seu domínio e a sua autoridade; a sua realeza baseia-se na prepotência e na ambição e gera opressão, injustiça e sofrimento… Jesus, em contrapartida, é um prisioneiro indefeso, traído pelos amigos, ridicularizado pelos líderes judaicos, abandonado pelo povo; não se impõe pela força, mas veio ao encontro dos homens para os servir; não cultiva os próprios interesses, mas obedece em tudo à vontade de Deus, seu Pai; não está interessado em afirmar o seu poder, mas em amar os homens até ao dom da própria vida… A sua realeza é de uma outra ordem, da ordem de Deus. É uma realeza que toca os corações e que, em vez de produzir opressão e morte, produz vida e liberdade. Jesus é rei e messias, mas não vai impor a ninguém o seu reinado; vai apenas propor aos homens um mundo novo, assente numa lógica de amor, de doação, de entrega, de serviço.
    A declaração de Jesus causa estranheza a Pontius Pilatus. Ele não consegue
    entender que um rei renuncie ao poder e à força e fundamente a sua realeza no amor e na doação da própria vida. A expressão posta na boca de Pontius Pilatus «então, Tu és Rei» (vers. 37a) parece uma "deixa" de alguém para quem as declarações do seu interlocutor não são claras e que conserva a porta aberta a ulteriores explicações… Na sequência, Jesus confirma a sua realeza e define o sentido e o conteúdo do seu reinado.
    A realeza de que Jesus Se considera investido por Deus consiste em «dar testemunho
    da verdade» (vers. 37b). Para o autor do Quarto Evangelho, a "verdade" é a realidade de Deus. Essa "verdade" manifesta-se nos gestos de Jesus, nas suas palavras, nas suas atitudes e, de forma especial, no seu amor vivido até ao extremo do dom da vida. A "verdade" (isto é, a realidade de Deus) é o amor incondicional e sem medida que Deus derrama sobre o homem, a fim de o fazer chegar à vida verdadeira e definitiva. Essa "verdade" opõe-se à "mentira", que é o egoísmo, o pecado, a opressão, a injustiça, tudo aquilo que desfeia a vida do homem e o impede de alcançar a vida plena. A "realeza" de Jesus concretiza-se, por um lado, na luta contra o egoísmo e o pecado que escravizam o homem e que o impedem de ser livre e feliz; por outro lado, a realeza de Jesus consuma-se na proposição de uma vida feita amor e entrega a Deus e aos irmãos. Esta meta não se alcança através de uma lógica de poder e de força (que só multiplicam as cadeia de mentira, de injustiça, de violência); mas alcança-se através do amor, da partilha, do serviço simples e humilde em favor dos irmãos. É esse "reino" que Jesus veio propor; é a esse "reino" que Ele preside.
    A proposta de Jesus provoca uma resposta livre do homem. Quem escuta a voz de Jesus adere ao seu projecto e se compromete a segui-l’O, renuncia ao egoísmo e ao pecado e faz da sua vida um dom de amor a Deus e aos irmãos (vers. 37c). Passa, então, a integrar a comunidade do "Reino de Deus".

    ACTUALIZAÇÃO

    ♦ As declarações de Jesus diante de Pontius Pilatus não deixam lugar a dúvidas: Ele é "rei" e recebeu de Deus, como diz a primeira leitura, "o poder, a honra e a realeza" sobre todos os povos da terra. Ao celebrarmos a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, somos convidados, antes de mais, a descobrir e interiorizar esta realidade: Jesus, o nosso rei, é princípio e fim da história humana, está presente em cada passo da caminhada dos homens e

    conduz a humanidade ao encontro da verdadeira vida. Os inícios do séc. XXI estão marcados por uma profunda crise de liderança a nível mundial. Os grandes líderes das nações são, frequentemente, homens com uma visão muito limitada do mundo, que não se preocupam com o bem da humanidade e que conduzem as suas políticas de acordo com lógicas de ambição pessoal ou de interesses particulares. Sentimo-nos, por vezes, perdidos e impotentes, arrastados para um beco sem saída por líderes medíocres, prepotentes e incapazes… Esta constatação não deve, no entanto, lançar-nos no desânimo: nós sabemos que Cristo é o nosso rei, que Ele preside à história e que, apesar das falhas dos homens, continua a caminhar connosco e a apontar-nos os caminhos da salvação e da vida.

    ♦ No entanto, a realeza de Jesus não tem nada a ver com a lógica de realeza a que o mundo está habituado. Jesus, o nosso rei, apresenta-Se aos homens sem qualquer ambição de poder ou de riqueza, sem o apoio dos grupos de pressão que fazem os valores e a moda, sem qualquer compromisso com as multinacionais da exploração e do lucro. Diante dos homens, Ele apresenta-se só, indefeso, prisioneiro, armado apenas com a força do amor e da verdade. Não impõe nada; só propõe aos homens que acolham no seu coração uma lógica de amor, de serviço, de obediência a Deus e aos seus projectos, de dom da vida, de solidariedade com os pobres e marginalizados, de perdão e tolerância. É com estas "armas" que Ele vai combater o egoísmo, a auto-suficiência, a injustiça, a exploração, tudo o que gera sofrimento e morte. É uma lógica desconcertante e incompreensível, à luz dos critérios que o mundo avaliza e enaltece. A lógica de Jesus fará sentido? O mundo novo, de vida e de felicidade plena para todos os homens nascerá de uma lógica de força e de imposição, ou de uma lógica de amor, de serviço e de dom da vida?

    ♦ Nós, os que aderimos a Jesus e optámos por integrar a comunidade do Reino de Deus, temos de dar testemunho da lógica de Jesus. Mesmo contra a corrente, a nossa vida, as nossas opções, a forma de nos relacionarmos com aqueles com quem todos os dias nos cruzamos, devem ser marcados por uma contínua atitude de serviço humilde, de dom gratuito, de respeito, de partilha, de amor. Como Jesus, também nós temos a missão de lutar - não com a força do ódio e das armas, mas com a força do amor - contra todas as formas de exploração, de injustiça, de alienação e de morte… O reconhecimento da realeza de Cristo convida-nos a colaborar na construção de um mundo novo, do Reino de Deus.

    ♦ A forma simples e despretensiosa como Jesus, o nosso Rei, Se apresenta, convida-nos a repensar certas atitudes, certas formas de organização e certas estruturas que criamos… A comunidade de Jesus (a Igreja) não pode estruturar-se e organizar-se com os mesmos critérios dos reinos da terra… Deve interessar-se mais por dar um testemunho de amor e de solidariedade para com os pobres e marginalizados do que em controlar as autoridades políticas e os chefes das nações; deve preocupar-se mais com o serviço simples e humilde aos homens do que com os títulos, as honras, os privilégios; deve apostar mais na partilha e no dom da vida do que na posse de bens materiais ou na eficiência das estruturas. Se a Igreja não testemunhar, no meio dos homens, essa lógica de realeza que Jesus apresentou diante de Pontius Pilatus, está a ser gravemente infiel à sua missão.

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS
    PARA O 34º DOMINGO DO TEMPO COMUM
    (adaptadas de "Signes d’aujourd’hui")

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao 34º Domingo do Tempo Comum (Solenidade de Cristo Rei), procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. BILHETE DE EVANGELHO.
    Dois homens presentes para um processo: Pilatos e Jesus. O primeiro tem uma autoridade que vem dos homens, tem um poder sobre eles, é ele, em último grau, que decide sobre a vida de Jesus, libertação ou condenação à morte. Mas Pilatos exerce o seu poder sob o medo, a verdade mete-lhe medo. Face a este homem, Jesus apresenta-Se com a fraqueza de um condenado, a sua única força é o testemunho que presta à verdade. Jesus desarma Pilatos que pergunta: «que é a Verdade?». Este rei sem exército, com uma coroa de espinhos na cabeça, revestido de um manto vermelho, só pede uma coisa: que se escute a sua voz a fim de se pertencer como Ele à verdade. O drama que se desenrola no palácio de Pilatos é o drama da humanidade que procura onde está a verdade. Por vezes, ela vira-se para os poderosos deste mundo, que não sabem que só um pôde dizer «Eu sou a Verdade!» e que só a verdade nos pode tornar livres.

    3. À ESCUTA DA PALAVRA.
    «Eu vim ao mundo para dar testemunho da verdade». E que é a verdade? - pergunta Pilatos. E nós também… Tantas formas de ver a verdade, mesmo nas religiões… Cada um procura fabricar a sua pequena verdade pessoal… Porém, a verdade só se pode encontrar em Jesus. Ele veio para olhar os homens à luz do olhar de seu Pai, para testemunhar esse olhar. Jesus pôde dizer "Eu sou a Verdade", porque seu Pai encarregou-O de chegar a cada ser humano na última profundidade do ser. Só o olhar do Pai pode dizer a última verdade de cada ser. Este olhar só pode ser amor infinito. Eis porque Jesus não pode condenar ninguém, nem sequer Pilatos, nem os seus carrascos. Cristo Rei do universo? Sim, sob a condição de não se esquecer que o seu Reino não é somente o amor da verdade. É primeiramente a Verdade do Amor.

    4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…
    Balanço anual... Acabar um ano é também dar graças por tudo aquilo que pudemos viver. Individualmente, em família e em comunidade, fazer o balanço do ano que passou… Recordar alguns momentos concretos do ano litúrgico que marcaram o dinamismo do crescimento da fé, a nível pessoal e comunitário…

    Grupo Dinamizador
    Pe. Joaquim Garrido - Pe. Manuel Barbosa - Pe. Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 :: 1800-129 Lisboa - Portugal Tel: 218 540 900 :: Fax: 218 540 909
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  • 01º Domingo do Tempo do Advento – Ano C

    01º Domingo do Tempo do Advento – Ano C


    28 de Novembro, 2021

    ANO C
    1º DOMINGO DO TEMPO DO ADVENTO

    Tema do 1º Domingo do Tempo do Advento

    Neste 1º Domingo do Tempo do Advento, a Palavra de Deus apresenta-nos uma primeira abordagem à “vinda” do Senhor.
    Na primeira leitura, pela boca do profeta Jeremias, o Deus da aliança anuncia que é fiel às suas promessas e vai enviar ao seu Povo um “rebento” da família de David. A sua missão será concretizar esse mundo sonhado de justiça e de paz: fecundidade, bem-estar, vida em abundância, serão os frutos da acção do Messias.
    O Evangelho apresenta-nos Jesus, o Messias filho de David, a anunciar a todos os que se sentem prisioneiros: “alegrai-vos, a vossa libertação está próxima. O mundo velho a que estais presos vai cair e, em seu lugar, vai nascer um mundo novo, onde conhecereis a liberdade e a vida em plenitude. Estai atentos, a fim de acolherdes o Filho do Homem que vos traz o projecto desse mundo novo”. É preciso, no entanto, reconhecê-l’O, saber identificar os seus apelos e ter a coragem de construir, com Ele, a justiça e a paz.
    A segunda leitura convida-nos a não nos instalarmos na mediocridade e no comodismo, mas a esperar numa atitude activa a vinda do Senhor. É fundamental, nessa atitude, a vivência do amor: é ele o centro do nosso testemunho pessoal, comunitário, eclesial.

    LEITURA I – Jer 33,14-16

    Leitura do Livro de Jeremias

    Eis o que diz o Senhor:
    «Dias virão, em que cumprirei a promessa
    que fiz à casa de Israel e à casa de Judá:
    Naqueles dias, naquele tempo,
    farei germinar para David um rebento de justiça
    que exercerá o direito e a justiça na terra.
    Naqueles dias, o reino de Judá será salvo
    e Jerusalém viverá em segurança.
    Este é o nome que chamarão à cidade:
    ‘O Senhor é a nossa justiça’».

    AMBIENTE

    Estamos no ano décimo do reinado de Sedecias (587 a.C.). O exército babilónio de Nabucodonosor cerca Jerusalém e Jeremias está detido no cárcere do palácio real, acusado de derrotismo e de traição (cf. Jer 32,1). Parece o princípio do fim, a derrocada de todas as esperanças e seguranças do Povo. É neste contexto que o profeta, em nome de Jahwéh, vai proclamar a chegada de um tempo novo, no qual Deus vai “pensar as feridas” do seu povo e curá-las, proporcionar a Judá “abundância de paz e segurança” (Jer 33,6). A mensagem é tanto mais surpreendente quanto o futuro imediato parece sem saída e o próprio Jeremias é acusado de profetizar a inutilidade de resistir aos exércitos caldeus, a destruição de Jerusalém e o exílio de Sedecias (cf. Jer 32,3-5).

    MENSAGEM

    Nesse momento limite em que tudo parece comprometido, Jeremias anuncia a fidelidade de Jahwéh às promessas feitas a David (cf. 2 Sm 7): no futuro, Deus irá fazer surgir um descendente de David (“zemah zaddîq” – “rebento justo”), que assegurará a paz e a salvação a todo o povo. A palavra “zemah” (“rebento”) evoca a fecundidade e a vida em abundância (cf. Is 4,2; Ez 16,7). É o nome com que o profeta Zacarias designa o “Messias” (cf. Zac 3,8; 6,12).
    As palavras ligadas à área da “justiça” desempenham um papel fundamental neste anúncio de Jeremias. Diz-se que o descendente de David será “justo” e que a sua tarefa consistirá em assegurar a “justiça” e o “direito” (“mishpat” e “zedaqa”). A dupla “justiça/direito”, característica da linguagem profética, refere-se ao funcionamento recto da instituição responsável pela administração da justiça (tribunal) que possibilitará, por sua vez, uma correcta ordem social (“zedaqa”), fundamento da paz e da prosperidade. Sedecias nem garantiu a “justiça”, nem assegurou a paz; por isso, a catástrofe está iminente… Mas o rei futuro anunciado pelo profeta, da descendência de David, será o “ungido” de Deus. Terá por missão restaurar a “justiça” e transmitir a abundância de vida e de salvação ao Povo de Deus. Por isso, chamar-se-á “o Senhor é a nossa justiça” (“Jahwéh zidqenû”): por ele, Deus garante ao seu Povo um futuro fecundo, de justiça, de bem-estar, de salvação.
    Recordando as promessas de Deus, o profeta elimina a nostalgia de um passado mais ou menos distante, elimina o medo do presente e instaura o regime da esperança.

    ACTUALIZAÇÃO

    A actualização desta mensagem profética pode fazer-se de acordo com as seguintes coordenadas:

    • O ambiente em que estamos mergulhados potencia, tantas vezes, o medo, a frustração, o negativismo, a insegurança, o pessimismo… É possível acreditar no Deus da “justiça”, fiel à “aliança”, comprometido com os homens e continuar a olhar para o mundo nessa perspectiva negativa, como se Deus – o Deus da justiça e do amor – tivesse abandonado os homens e já não presidisse à nossa história?

    • De acordo com o Novo Testamento, esta “justiça” é comunicada pelo “Messias” a todos os membros do povo eleito (cf. Rom 1,17; 1 Cor 1,30; 2 Cor 5,21; Flp 3,9). Sentimo-nos, verdadeiramente, membros do povo messiânico, construtores desse mundo de justiça, de paz, de felicidade para todos? Qual é a atitude que define o nosso empenho: o compromisso sério com a justiça e a paz, ou o comodismo de quem prefere demitir-se das suas responsabilidades e passar ao lado da vida?

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 24 (25)

    Refrão: Para Vós, Senhor, elevo a minha alma.

    Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos,
    ensinai-me as vossas veredas.
    Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me,
    porque Vós sois Deus, meu Salvador.

    O Senhor é bom e recto,
    ensina o caminho aos pecadores.
    Orienta os humildes na justiça
    e dá-lhes a conhecer os seus caminhos.

    Os caminhos do Senhor são misericórdia e fidelidade
    para os que guardam a sua aliança e os seus preceitos.
    O Senhor trata com familiaridade os que O temem
    e dá-lhes a conhecer a sua aliança.

    LEITURA II – 1 Tes 3,12–4,2

    Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses

    Irmãos:
    O Senhor vos faça crescer e abundar na caridade
    uns para com os outros e para com todos,
    tal como nós a temos tido para convosco.
    O Senhor confirme os vossos corações
    numa santidade irrepreensível,
    diante de Deus, nosso Pai,
    no dia da vinda de Jesus, nosso Senhor,
    com todos os santos.
    Finalmente, irmãos,
    eis o que vos pedimos e recomendamos no Senhor Jesus:
    recebestes de nós instruções
    sobre o modo como deveis proceder para agradar a Deus,
    e assim estais procedendo;
    mas deveis progredir ainda mais.
    Conheceis bem as normas que vos demos
    da parte do Senhor Jesus.

    AMBIENTE

    A comunidade cristã de Tessalónica foi fundada por Paulo, Silvano e Timóteo durante a segunda viagem missionária de Paulo, aí pelo ano 50 (cf. Act 17,1ss). Durante o pouco tempo que lá passou, Paulo desenvolveu uma intensa actividade missionária, de que resultou uma comunidade numerosa e entusiasta, constituída na sua maioria por pagãos convertidos (cf. 1 Tess 1,9-10). No entanto, a obra de Paulo foi brutalmente interrompida pela reacção da colónia judaica… Paulo teve de fugir, deixando atrás de si uma comunidade em perigo, insuficientemente catequizada e quase desarmada num contexto de perseguição e provação. Preocupado, Paulo envia Timóteo a Tessalónica para saber notícias e encorajar na fé os tessalonicenses. Quando Timóteo regressa, encontra Paulo em Corinto e comunica-lhe notícias animadoras: a fé, a esperança e o amor dos tessalonicenses continuam bem vivos e até se aprofundaram com as provações (cf. 1 Tes 1,3; 3,6-8). Os tessalonicenses podem ser apontados como modelos aos cristãos das regiões vizinhas (cf. 1 Tes 1,7-8).

    MENSAGEM

    Apesar de tudo o que Deus já edificou no coração dos crentes de Tessalónica, a caminhada cristã destes não está concluída. Há que “progredir sempre” (1 Tes 4,1), sobretudo no amor para com todos (1 Tes 3,12). Só nesta atitude de não conformação será possível esperar a “vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Tes 3,13).

    ACTUALIZAÇÃO

    A confrontação deste texto com a vida pode ter em conta os seguintes elementos:

    • A caminhada cristã nunca é um processo acabado, mas uma construção permanente, que recomeça em cada novo instante da vida. O cristão não é aquele que é perfeito; mas é aquele que, em cada dia, sente que há um caminho novo a fazer e não se conforma com o que já fez, nem se instala na mediocridade. É nesta atitude que somos chamados a viver este tempo de espera do Messias.

    • Uma dimensão fundamental da nossa experiência cristã é a caridade: só aprofundando-a cada vez mais podemos sentir-nos identificados com Aquele que partilhou a vida com todos nós, até à morte na cruz; só praticando-a, podemos fazer uma verdadeira experiência de Igreja e construir uma comunidade de irmãos; só vivendo-a, podemos ser, para os homens que partilham connosco esta vasta casa que é o mundo, o rosto do Deus que ama.

    ALELUIA – Salmo 84,8

    Aleluia. Aleluia.

    Mostrai-nos, Senhor, a vossa misericórdia
    e dai-nos a vossa salvação.

    EVANGELHO – Lc 21,25-28.34-36

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

    Naquele tempo,
    disse Jesus aos seus discípulos:
    «Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas
    e, na terra, angústia entre as nações,
    aterradas com o rugido e a agitação do mar.
    Os homens morrerão de pavor,
    na expectativa do que vai suceder ao universo,
    pois as forças celestes serão abaladas.
    Então, hão-de ver o Filho do homem vir numa nuvem,
    com grande poder e glória.
    Quando estas coisas começarem a acontecer,
    erguei-vos e levantai a cabeça,
    porque a vossa libertação está próxima.
    Tende cuidado convosco,
    não suceda que os vossos corações se tornem pesados
    pela intemperança, a embriaguês e as preocupações da vida,
    e esse dia não vos surpreenda subitamente como uma armadilha,
    pois ele atingirá todos os que habitam a face da terra.
    Portanto, vigiai e orai em todo o tempo,
    para que possais livrar-vos de tudo o que vai acontecer
    e comparecer diante do Filho do homem».

    AMBIENTE

    Estamos já nos últimos dias da vida terrena de Jesus, após a sua entrada triunfal em Jerusalém. Jesus está a completar a catequese dos discípulos e, nesse contexto, anuncia-lhes tempos difíceis de perseguição e de martírio. Avisa-os, também, de que a própria cidade de Jerusalém será, proximamente, sitiada e destruída (cf. Lc 21,20-24). Ora, é neste contexto e nesta sequência que aparece o texto do Evangelho de hoje.

    MENSAGEM

    O vector fundamental à volta do qual se estrutura o Evangelho de hoje está na referência à vinda do Filho do Homem “com grande poder e glória” (Lc 21,27) e no convite a cobrar ânimo e a levantar a cabeça porque “a libertação está próxima” (Lc 21,28). A palavra “libertação” (“apolytrôsis” – “resgate de um cativo”) é uma palavra característica da teologia paulina (1 Cor 1,30; cf. Rom 3,24; 8,23; Col 1,14…), onde é usada para definir o resultado da acção redentora de Jesus em favor dos homens. O projecto de salvação/libertação da humanidade, concretizado nas palavras e nos gestos de Jesus, é apresentado como o “resgate” de uma humanidade prisioneira do egoísmo, do pecado, da morte. Trata-se, portanto, da libertação de tudo o que escraviza os homens e os impede de viver na dignidade de filhos de Deus.
    A mensagem proposta aos discípulos é clara: espera-vos um caminho marcado pelo sofrimento, pela perseguição (cf. Lc 21,12-19); no entanto, não vos deixeis afundar no desespero porque Jesus vem. Com a sua vinda gloriosa (de ontem, de hoje, de amanhã), cessará a escravidão insuportável que vos impede de conhecer a vida em plenitude e nascerá um mundo novo, de alegria e de felicidade plenas.
    Os “sinais” catastróficos apresentados não são um quadro do “fim do mundo”; são imagens utilizadas pelos profetas para falar do “dia do Senhor”, isto é, o dia em que Jahwéh vai intervir na história para libertar definitivamente o seu Povo da escravidão, inaugurando uma era de vida, de fecundidade e de paz sem fim (cf. Is 13,10; 34,4). O quadro destina-se, portanto, não a amedrontar, mas a abrir os corações à esperança: quando Jesus vier com a sua autoridade soberana, o mundo velho do egoísmo e da escravidão cairá e surgirá o dia novo da salvação/libertação sem fim.
    Há, ainda, um convite à vigilância (cf. Lc 21,34-36): é necessário manter uma atenção constante, a fim de que as preocupações terrenas e as cadeias escravizantes não impeçam os discípulos de reconhecer e de acolher o Senhor que vem.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão acerca do Evangelho de hoje pode tocar, entre outros, os seguintes pontos:

    • A realidade da história humana está marcada pelas nossas limitações, pelo nosso egoísmo, pelo destruição do planeta, pela escravidão, pela guerra e pelo ódio, pela prepotência dos senhores do mundo… Quantos milhões de homens conhecem, dia a
    dia, um quadro de miséria e de sofrimento que os torna escravos, roubando-lhes a vida e a dignidade… A Palavra de Deus que hoje nos é servida abre a porta à esperança e grita a todos os que vivem na escravidão: “alegrai-vos, pois a vossa libertação está próxima. Com a vinda próxima de Jesus, o projecto de salvação/libertação de Deus vai tornar-se uma realidade viva; o mundo velho vai converter-se numa nova realidade, de vida e de felicidade para todos”.

    • No entanto, a salvação/libertação que há-de transformar as nossas existências não é uma realidade que deva ser esperada de braços cruzados. É preciso “estar atento” a essa salvação que nos é oferecida como dom, e aceitá-la. Jesus vem; mas é necessário reconhecê-l’O nos sinais da história, no rosto dos irmãos, nos apelos dos que sofrem e que buscam a libertação. É preciso, também, ter a vontade e a liberdade de acolher o dom de Jesus, deixar que Ele nos transforme o coração e Se faça vida nos nossos gestos e palavras.

    • É preciso, ainda, ter presente, que este mundo novo – que está permanentemente a fazer-se e depende do nosso testemunho – nunca será um realidade plena nesta terra, mas sim uma realidade escatológica, cuja plenitude só acontecerá depois de Cristo, o Senhor, haver destruído definitivamente o mal que nos torna escravos.

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 1º DOMINGO DO ADVENTO
    (adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao 1º Domingo do Advento, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. GESTO PARA O INÍCIO DO ADVENTO.
    Com o 1º Domingo do Advento, começa o ano litúrgico. Para os cristãos, é esta a altura propícia para se desejar um bom ano. O 1º Domingo do Advento é o momento oportuno para apresentar o desenrolar de um ciclo litúrgico no seu conjunto. Descobrir este caminho de oração, comum aos católicos do mundo inteiro, permite falar também da importância da prática regular. É tempo para tomar boas resoluções para o novo ano, o ano litúrgico. Pode-se marcar o início do Advento com uma procissão de entrada mais solenizada, escolhendo um cântico bem adaptado, ou com um acto penitencial mais desenvolvido. Isto para além dos símbolos tradicionais do Advento que podem ser valorizados…

    3. COROA DO ADVENTO.
    Entre os símbolos tradicionais, temos a “coroa do Advento”, com as quatro velas. Colocadas numa coroa ou de outra maneira, elas significam a progressão para o Natal. Muitas vezes, acende-se a vela ao longo da celebração. Este gesto ganha importância se for bem realizado. Pode ser durante o cântico inicial, no final da procissão, por uma criança ou um jovem, por um padre ou qualquer outro “actor” da liturgia. Pode também ser efectuado pelo próprio presidente da celebração, depois da saudação litúrgica. Tomar-se-á sempre o tempo de um belo gesto, que pode ser acompanhado por um breve refrão a apelar à vinda do Senhor… É importante cuidar da beleza dos objectos (velas, suporte, coroa), de tamanho adaptado ao edifício e dispostos de maneira coerente no espaço próprio.

    4. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

    No final da primeira leitura:
    “Ó Deus fiel, bendito és Tu pelo olhar que podemos ter sobre a obra que realizaste ao longo dos séculos, sobre as promessas dos profetas e sobre a sua realização pelo descendente de David, o teu Filho Jesus.
    Nós Te confiamos os povos e os países vítimas da insegurança, mas também os bairros das nossas cidades e os habitantes que vivem no temor”.

    No final da segunda leitura:
    “Pai, nós Te damos graças pelas instruções recebidas dos Apóstolos da parte do Senhor Jesus e pelos progressos que nos deixas realizar.
    Ó Deus nosso Pai, nós Te pedimos: dá-nos, entre nós e em relação a todos os homens, um amor cada vez mais intenso, coloca-nos no caminho de uma santidade irrepreensível, até ao dia em que Nosso Senhor Jesus Cristo vier com todos os santos”.

    No final do Evangelho:
    “Ó Deus fiel, bendito és Tu pelas palavras de esperança que nos deste em Jesus, porque elas permitem-nos erguer a cabeça, mesmo nos momentos menos felizes.
    Nós Te pedimos: que o vosso Espírito nos mantenha vigilantes, numa oração perseverante, para que possamos estar firmes na presença de Jesus, teu Filho, e ressuscitar com Ele, quando vier com grande poder e glória”.

    5. BILHETE DE EVANGELHO.
    O sofrimento, as preocupações, o medo do futuro por vezes esmagam-nos e acabamos por baixar os braços.
    “Erguei-vos!”, diz-nos Jesus. Só podem esperar os que se mantêm de pé, prontos a pôr-se a caminho para construir com Deus um futuro melhor. O medo faz baixar a cabeça; vive-se então no momento presente, com medo dos golpes que será necessário ainda suportar.
    “Levantai a cabeça!”, diz-nos Jesus. Só podem esperar aqueles que olham no horizonte Aquele que vem para nos salvar. A fadiga acaba por adormecer, sem dúvida porque não se espera mais nada e não se quer mais lutar.
    “Tende cuidado convosco e vigiai!”, diz-nos Jesus. Só podem esperar aqueles que permanecem atentos aos sinais que Deus não cessa de manifestar. A falta de confiança destrói a relação, sem se saber do que falar.
    “Orai em todo o tempo”, diz-nos Jesus. Só podem esperar aqueles que entram em diálogo com Deus. A esperança nunca é passiva. Para esperar é preciso erguer-se, levantar a cabeça, estar atento e vigiar, orar: tais são os verbos activos que manifestam o que faz a grandeza do homem.

    6. À ESCUTA DA PALAVRA.
    Leitura do Livro de Jeremias: “Dias virão, em que cumprirei a promessa que fiz à casa de Israel e à casa de Judá”. Palavra do Senhor!
    Leitura do Evangelho: “Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas e, na terra, angústia entre as nações, aterradas com o rugido e a agitação do mar. Os homens morrerão de pavor, na expectativa do que vai suceder ao universo”. Palavra do Senhor!
    Na mesma celebração, proclama-se como Palavra do Senhor duas afirmações tão afastadas uma da outra! Como resolver esta contradição? Primeiro, sendo realistas. O universo conhece transformações constantes, tremores de terra, erupç
    ões vulcânicas, tsunamis, meteoritos… A sol e as estrelas, um dia, apagar-se-ão. No fundo, Jesus, com os conhecimentos e a mentalidade da sua época, chama a nossa atenção para essa realidade: o nosso mundo, um dia, acabará. Não somente o “nosso” mundo, mas primeiro o “meu” próprio mundo, no dia da minha morte. Jesus convida-nos a não esquecer o fim de todas as coisas. Diz-nos: “Vigiai”. Vigiai para que não vos instaleis neste tempo como se ele fosse durar sempre! Mas aí, no coração da nossa condição mortal, Deus diz-nos uma palavra que não passará. Esta Palavra é o próprio Jesus.
    Começamos hoje um novo ciclo litúrgico. Mas não é um ciclo fechado sobre si mesmo. Cada ano que passa aproxima-nos do nosso fim terrestre, mas é-nos dado também como o tempo durante o qual Jesus vem visitar-nos, dar-nos a sua presença de Ressuscitado. Segundo a bela palavra de Jeremias, oferece-nos a nós como “um rebento de justiça”, como a “promessa de felicidade” que se realizará em plenitude no fim dos tempos. Desde agora, está em acção no segredo dos corações, como o poder da vida que, secretamente, constrói um novo ser no seio materno. “Vigiai e orai em todo o tempo”, a fim de estardes de pé no Dia da sua Vinda na plenitude da Luz.

    7. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
    Pode-se escolher a Oração Eucarística IV. É a mais adaptada para o início do Advento, porque recapitula a história da salvação e a obra de Cristo: a história dos homens é uma “história santa”.

    8. PALAVRAS PARA O CAMINHO…
    Na segunda leitura, Paulo lança-nos um forte apelo: “Irmãos, o Senhor vos faça crescer e abundar na caridade uns para com os outros e para com todos”. Ao longo da próxima semana, procuremos ir ao encontro de alguém que já não tem força para esperar: esperar um trabalho, esperar uma saúde melhor, esperar uma reconciliação… Que lhe vamos dizer? O Advento é o tempo propício para ajudar a erguer-se de novo, o tempo de voltar a dar gosto à vida que germina…
    Uma palavra de amor para cada dia… Porque Jesus nos pede para “orar em todo o tempo”, porque não experimentar agradar a Deus, nosso Pai, dizendo-lhe mais especialmente o nosso amor filial em cada dia deste tempo do Advento? Bastam alguns minutos, mas pode-se também de modo mais prolongado cuidar deste tempo privilegiado.

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
    Tel. 218540900 – Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org

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