Events in Dezembro 2021

  • S. Francisco Xavier, Presbítero

    S. Francisco Xavier, Presbítero


    3 de Dezembro, 2021

    Francisco Xavier nasceu a 7 de Abril de 1506, no castelo da sua família, perto de Pamplona, Espanha. Fez os seus estudos académicos na Universidade de Paris, onde, em 1530, era já professor. Motivado por Inácio de Loiola, seu aluno e amigo, abandonou a prometedora carreia que iniciara, juntando-se a ele para fundar a Companhia de Jesus. Ordenado sacerdote, foi enviado para a Índia. Desembarcou em Goa em 1542. Seguem dez anos de intensos trabalhos, que constituem uma das mais gloriosas epopeias, na História missionária da Igreja. Evangeliza as zonas costeiras da Índia, vai a Malaca, às Molucas e ao Japão. Acaba por falecer na ilha de Sanchão, às portas da China, que pretendia evangelizar. A sua vida foi marcada pelo amor de Deus e pelo zelo apostólico. Foi canonizada em 1622. É um dos padroeiros da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, Dehonianos.
    Lectio
    Primeira leitura: 1 Coríntios 9, 16-19.22-23

    Irmãos: anunciar o Evangelho, não é para mim motivo de glória, é antes uma obrigação que me foi imposta: ai de mim, se eu não evangelizar! 17Se o fizesse por iniciativa própria, mereceria recompensa; mas, não sendo de maneira espontânea, é um encargo que me está confiado. 18Qual é, portanto, a minha recompensa? É que, pregando o Evangelho, eu faço-o gratuitamente, sem me fazer valer dos direitos que o seu anúncio me confere. 19De facto, embora livre em relação a todos, fiz-me servo de todos, para ganhar o maior número. 20Fiz-me judeu com os judeus, para ganhar os judeus; com os que estão sujeitos à Lei, comportei-me como se estivesse sujeito à Lei - embora não estivesse sob a Lei - para ganhar os que estão sujeitos à Lei; 21com os que vivem sem a Lei, fiz-me como um sem Lei - embora eu não viva sem a lei de Deus porque tenho a lei de Cristo - para ganhar os que vivem sem a Lei. 22Fiz-me fraco com os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para salvar alguns a qualquer custo. 23E tudo faço por causa do Evangelho, para dele me tornar participante.

    Mais uma vez, Paulo se vê obrigado a defender, não tanto a sua pessoa, mas a sua ação de apóstolo no meio da comunidade cristã de Corinto. Havia quem o acusasse de interesse próprio no exercício do seu ministério: busca de bens materiais, afirmação pessoal. O Apóstolo reage afirmando que, para ele, evangelizar é "um dever". Quem livremente se põe ao serviço de um senhor, não pode furtar-se a esse serviço. É o que acontece com Paulo. Por isso afirma: «ai de mim, se eu não evangelizar!» (v. 16b).
    S. Francisco Xavier também estava consciente de que o chamamento ao apostolado é um encargo confiado por Deus. Vive a sua vocação e missão com inquebrantável e total fidelidade, total desinteresse e extraordinário elo apostólico.
    Evangelho: Marcos 16, 15-20

    Naquele tempo, Jesus apareceu aos one Apóstolos e disse-lhes: «Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura. 16Quem acreditar e for baptizado será salvo; mas, quem não acreditar será condenado. 17Estes sinais acompanharão aqueles que acreditarem: em meu nome expulsarão demónios, falarão línguas novas, 18apanharão serpentes com as mãos e, se beberem algum veneno mortal, não sofrerão nenhum mal; hão-de impor as mãos aos doentes e eles ficarão curados.» 19Então, o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi arrebatado ao Céu e sentou-se à direita de Deus. 20Eles, partindo, foram pregar por toda a parte; o Senhor cooperava com eles, confirmando a Palavra com os sinais que a acompanhavam.

    O mandato de Cristo, "Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura." (v. 15), destina-se aos Apóstolos e a todos os batizados, clérigos, religiosos ou leigos. "O Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi arrebatado ao Céu e sentou-se à direita de Deus. Eles, partindo, foram pregar por toda a parte" (vv. 19-20). Os Onze acolheram o mandato com prontidão. Ao realizá-lo deram-se conta de que, Aquele que subira ao céu, Jesus, na verdade continuava com eles, acompanhando-os, cooperando com palavras e prodígios (cf. vv. 17-18). É consolador para os evangelizadores saberem que não estão sós, que o Senhor caminham com eles e que podem contar com o seu poder para vencer os obstáculos, demónios e todos os males.
    Meditatio

    O ministério apostólico de S. Francisco Xavier, com o dinamismo com que o exerceu, é espantoso. Em 1542, foi mandado para as Índias, ou para os confins do mundo, como então se dizia. Chegou lá, depois de uma longa e perigosa viagem. Lançou-se imediatamente na evangelização de cidades e aldeias, em permanentes viagens, sem temer intempéries nem outros perigos. Apenas dois anos, após a chegada à Índia, foi a Ceilão e às Molucas. Regressou à Índia para confirmar os resultados da sua evangelização, para organizar e dar novo impulso à obra dos seus companheiros. Mas não ficou por aí. Tinham-no informado que o Japão era um reino muito importante e partiu para lá, pensando que a sua conversão poderia influir positivamente na evangelização de todo o Extremo Oriente. Prosseguiu, no reino do Sol nascente, as suas viagens e o anúncio do Evangelho. Ao regressar desse país, projeta evangelizar a China. Ao procurar realizar esse intento, é surpreendido pela morte, na ilha de Sanchão, no ano de 1552. Em aproximadamente dez anos, percorreu milhares de quilómetros, com os meios e as dificuldades que mal podemos imaginar, dirigindo-se a numerosos povos, que falavam diferentes línguas. O segredo da sua coragem e do seu dinamismo era a oração e a união com Cristo, na união ao mistério de Deus que quer comunicar com todos os homens.
    Também Jesus teve que ultrapassar uma distância infinita para vir até nós e estar connosco: deixou o Pai, como diz o evangelho de João, para vir ao mundo. Continuou a sua viagem durante o seu ministério de apenas três anos, indo ao encontro das pessoas para lhes anunciar a Boa Nova do Reino, não se limitando a esperar que O procurassem. Hoje, se queremos que o evangelho chegue aos nossos contemporâneos, não basta esperá-los na igreja. É preciso procura-los onde eles estão. É preciso "sair das sacristias" como dizia o P. Dehon aos sacerdotes do seu tempo.
    S. Francisco Xavier deixou-se iluminar pelo Espírito Santo, permitiu a Cristo habitar no seu coração inquieto e foi conduzido por Deus Pai através dos caminhos do mundo, capaz de tudo "naquele que me dá força". A nossa fé, tantas vezes opaca e apagada, recebe luz e paixão do grande missionário e santo, que hoje celebramos. Para receber o amor de Deus é preciso transmiti-lo. Para o receber ainda mais é preciso dá-lo aos outros de modo ainda mais fiel e generoso.
    Oratio

    S. Francisco Xavier, ficaríeis certamente espantado com os meios de transportes e as possibilidades de comunicação que, hoje, temos no mundo: nenhum país se encontra a mais de trinta horas de voo e a comunicação telemática é praticamente instantânea. Alcança-nos de Deus um pouco do teu zelo apostólico e do teu dinamismo, para que o Evangelho chegue, efetivamente a todos os homens. Alcança-nos de Deus uma fé viva que nos leve a um testemunho generoso e alegre da Boa Notícia de que Deus a todos chama para serem seus filhos. Ámen.
    Contemplatio

    O primeiro projeto de Xavier e dos seus companheiros era de irem para a Palestina para aí trabalharem na conversão dos infiéis. Tinham o secreto desejo do martírio. Mas a guerra que reinava entre Veneza e os Turcos pôs obstáculo aos seus desígnios. Puseram-se à disposição do Papa que lhes confiou o cuidado de pregarem missões em Roma, depois logo, a pedido do rei de Portugal, Xavier partiu para as Índias. Que zelo que ele mostrou! Em Goa, tomou alojamento entre os pobres no hospital. Recusou o apartamento que lhe era oferecido pelo vice-rei. Missionou na cidade, depois percorreu todas as Índias, a custo das maiores fadigas. A sua missão tornou-se semelhante à dos apóstolos, pela extensão e pela rapidez dos seus sucessos. Empregava os meios de que eles mesmos se tinham servido para converterem o mundo idólatra: a oração, a humildade, o desinteresse, a mortificação. Era ajudado pelo dom dos milagres. Sto. Inácio enviou-lhe companheiros. Deixou às Índias cristandades florescentes, depois passou ao Japão, onde teve também grandes sucessos, mas a custo das mesmas fadigas e de grandes humilhações. Morreu como missionário na ilha de Sanchão, perto da China. Qual é o nosso zelo? Fazemos o que podemos pelo próximo, segundo a nossa vocação? (Leão Dehon, OSP 4, p.520s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Tudo posso n´Aquele que me dá força" (Fl 4, 13).

     

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    S. Francisco Xavier, Presbítero (3 de Dezembro)

  • 02º Domingo do Tempo do Advento – Ano C

    02º Domingo do Tempo do Advento – Ano C


    5 de Dezembro, 2021

    ANO C
    2º DOMINGO DO TEMPO DO ADVENTO

    Tema do 2º Domingo do Tempo do Advento

    Podemos situar o tema deste domingo à volta da missão profética. Ela é um apelo à conversão, à renovação, no sentido de eliminar todos os obstáculos que impedem a chegada do Senhor ao nosso mundo e ao coração dos homens. Esta missão é uma exigência que é feita a todos os baptizados, chamados – neste tempo em especial – a dar testemunho da salvação/libertação que Jesus Cristo veio trazer.
    O Evangelho apresenta-nos o profeta João Baptista, que convida os homens a uma transformação total quanto à forma de pensar e de agir, quanto aos valores e às prioridades da vida. Para que Jesus possa caminhar ao encontro de cada homem e apresentar-lhe uma proposta de salvação, é necessário que os corações estejam livres e disponíveis para acolher a Boa Nova do Reino. É esta missão profética que Deus continua, hoje, a confiar-nos.
    A primeira leitura sugere que este “caminho” de conversão é um verdadeiro êxodo da terra da escravidão para a terra da felicidade e da liberdade. Durante o percurso, somos convidados a despir-nos de todas as cadeias que nos impedem de acolher a proposta libertadora que Deus nos faz. A leitura convida-nos, ainda, a viver este tempo numa serena alegria, confiantes no Deus que não desiste de nos apresentar uma proposta de salvação, apesar dos nossos erros e dificuldades.
    A segunda leitura chama a atenção para o facto de a comunidade se dever preocupar com o anúncio profético e dever manifestar, em concreto, a sua solidariedade para com todos aqueles que fazem sua a causa do Evangelho. Sugere, também, que a comunidade deve dar um verdadeiro testemunho de caridade, banindo as divisões e os conflitos: só assim ela dará testemunho do Senhor que vem.

    LEITURA I – Bar 5,1-9

    Leitura do Livro de Baruc

    Jerusalém, deixa a tua veste de luto e aflição
    e reveste para sempre a beleza da glória que vem de Deus.
    Cobre-te com o manto da justiça que vem de Deus
    e coloca sobre a cabeça o diadema da glória do Eterno.
    Deus vai mostrar o teu esplendor
    a toda a criatura que há debaixo do céu;
    Deus te dará para sempre este nome:
    «Paz da justiça e glória da piedade».
    Levanta-te, Jerusalém,
    sobe ao alto e olha para o Oriente:
    vê os teus filhos reunidos desde o Poente ao Nascente,
    por ordem do Deus Santo,
    felizes por Deus Se ter lembrado deles.
    Tinham-te deixado, caminhando a pé, levados pelos inimigos;
    mas agora é Deus que os reconduz a ti,
    trazidos em triunfo, como filhos de reis.
    Deus decidiu abater todos os altos montes e as colinas seculares
    e encher os vales, para se aplanar a terra,
    a fim de que Israel possa caminhar em segurança,
    na glória de Deus.
    Também os bosques e todas as árvores aromáticas
    darão sombra a Israel, por ordem de Deus,
    porque Deus conduzirá Israel na alegria,
    à luz da sua glória,
    com a misericórdia e a justiça que d’Ele procedem.

    AMBIENTE

    O “livro de Baruc” é um texto de autor desconhecido, embora se apresente como tendo sido redigido por Baruc, “secretário” de Jeremias, durante o exílio na Babilónia (cf. Bar 1,1-2). No entanto, a crítica interna revela (pelos dados pessoais que não quadram com aquilo que conhecemos de Jeremias, bem como pelo desenvolvimento de ideias e de perspectivas que são claramente posteriores à época do exílio) que é impossível atribuir esta obra ao “secretário” de Jeremias. O mais provável é que seja um texto escrito durante o séc. II a.C. na diáspora judaica. O autor convida os habitantes de Jerusalém a celebrar uma liturgia penitencial e exorta-os à reconciliação com Jahwéh.
    O texto que nos é proposto está inserido na 4ª parte do livro, integrado numa exortação e consolação a Jerusalém – muito ao estilo do Deutero-Isaías. Depois de convidar à confissão dos pecados (cf. Bar 1,15-3,8), o autor manifesta a certeza de que Israel, iluminado pela luz da sabedoria, voltará ao “temor de Deus” (cf. Bar 3,9-4,4). Seguir-se-á o perdão; por isso, o profeta convida Jerusalém a ter coragem (cf. Bar 4,5-37) e a alegrar-se com a atitude misericordiosa de Jahwéh, em favor do seu Povo pecador (cf. Bar 5,1-9).

    MENSAGEM

    O profeta começa por comparar Jerusalém infiel a uma mulher de luto, desanimada e aflita, sem razões para ter esperança. No entanto, a mensagem fundamental deste texto é: “esse tempo de luto terminou; Deus perdoou-te todas as tuas faltas e quer devolver-te a vida e a esperança”. Para dar corpo a essa promessa de um futuro novo, o autor fala do regresso dos “filhos” exilados, utilizando a linguagem do Deutero-Isaías e apresentando esse regresso como um novo êxodo da terra da escravidão (do pecado?) para a Jerusalém nova da justiça e da piedade. Tal acção resulta – apenas – do amor de Deus, sempre disposto a perdoar o afastamento dos filhos rebeldes e a reatar com eles uma história de libertação e de salvação.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão sobre este texto pode fazer-se de acordo com as seguintes coordenadas:

    • O Advento é um tempo favorável para o êxodo da terra da escravidão para a terra da liberdade. Neste tempo somos especialmente confrontados com as cadeias que ainda nos prendem e convidados a percorrer esse caminho de regresso que a bondade e a ternura de Deus vão aplanar, a fim de que possamos regressar à cidade nova da alegria e da liberdade. Em termos pessoais, quais são as escravidões que ainda nos prendem e nos impedem de acolher o Senhor que vem?

    • As nossas comunidades são, verdadeiramente, oásis de justiça, de fraternidade, de comunhão, de partilha e de serviço? Que falta fazer, a nível comunitário, para acolher o dom de Deus e tornar realidade essa cidade da justiça e da piedade?

    • “Vê os teus filhos… estão cheios de alegria porque Deus se lembrou deles” (Bar 5,5). É nesta atmosfera de alegria e de confiança serena na acção salvadora do nosso Deus que somos convidados a viver este tempo de mudança e a preparar a vinda do Senhor às nossas vidas.

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 125 (126)

    Refrão 1: Grandes maravilhas fez por nós o Senhor:
    por isso exultamos de alegria.

    Refrão 2: O Senhor fez maravilhas em favor do seu povo.

    Quando o Senhor fez regressar os cativos de Sião,
    parecia-nos viver um sonho.
    Da nossa boca brotavam expressões de alegria
    e de nossos lábios cânticos de júbilo.

    Diziam então os pagãos:
    «O Senhor fez por eles grandes coisas».
    Sim, grandes coisas fez por nós o Senhor,
    estamos exultantes de alegria.

    Fazei regressar, Senhor, os nossos cativos,
    como as torrentes do deserto.
    Os que semeiam em lágrimas
    recolhem com alegria.

    À ida, vão a chorar,
    levando as sementes;
    à volta, vêm a cantar,
    trazendo os molhos de espigas.

    LEITURA II – Filip 1,4-6.8-11

    Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses

    Irmãos:
    Em todas as minhas orações,
    peço sempre com alegria por todos vós,
    recordando-me da parte que tomastes na causa do Evangelho,
    desde o primeiro dia até ao presente.
    Tenho plena confiança
    de que Aquele que começou em vós tão boa obra
    há-de levá-la a bom termo até ao dia de Cristo Jesus.
    Deus é testemunha
    de que vos amo a todos no coração de Cristo Jesus.
    Por isso Lhe peço que a vossa caridade
    cresça cada vez mais em ciência e discernimento,
    para que possais distinguir o que é melhor
    e vos torneis puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo,
    na plenitude dos frutos de justiça
    que se obtêm por Jesus Cristo,
    para louvor e glória de Deus.

    AMBIENTE

    A Carta aos Filipenses é, talvez, a mais afectuosa das cartas de Paulo. É dirigida a uma comunidade a que Paulo se afeiçoou, que ama Paulo, que o ajuda e que se preocupa com ele.
    No momento em que escreve, Paulo está na prisão (em Éfeso?). Dos Filipenses, recebeu dinheiro e o envio de Epafrodito, um membro da comunidade, encarregado de ajudar Paulo em tudo o que fosse necessário. Enviando de volta Epafrodito, Paulo agradece, dá notícias, informa a comunidade sobre a sua própria sorte e exorta os Filipenses à fidelidade ao Evangelho.
    O texto da segunda leitura faz parte da “acção de graças” com que Paulo inicia a carta: ele agradece a Deus a fidelidade dos Filipenses e o seu empenho na difusão do Evangelho.

    MENSAGEM

    Paulo começa por manifestar a sua comoção pelo empenho dos Filipenses na difusão do Evangelho e na ajuda àqueles que se empenham no anúncio da Boa Nova (e de forma especial ao próprio Paulo, prisioneiro por causa do seu testemunho). Paulo sente uma grande ternura por esta comunidade atenta às necessidades dos evangelizadores, solidária com todos os que dão a sua vida à causa do Evangelho.
    Depois, Paulo pede a Deus que aumente a caridade dos Filipenses (apesar de ser uma comunidade modelo, nem tudo era perfeito a este nível: Paulo tem que pedir a duas senhoras para fazerem as pazes e não dividirem a comunidade – cf. Flp 4,2-3). A vivência da caridade é fundamental para que os Filipenses possam aguardar, puros e irrepreensíveis, o dia da vinda de Cristo.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão sobre o texto da segunda leitura pode ter em conta os seguintes pontos:

    • A essência da Igreja de Jesus é ser missionária. “Ide e anunciai” – diz Jesus. Para que Jesus venha, para que a sua proposta de salvação chegue a todos os povos da terra, é necessário este compromisso contínuo com a evangelização. As nossas comunidades sentem este imperativo missionário? Sentem a necessidade de fazer Jesus nascer para todos os povos? Estão atentas às necessidades e são solidárias com aqueles que dão a sua vida à causa do anúncio de Jesus? É com ternura e carinho que acolhemos os catequistas das crianças, dos jovens, dos adultos da nossa comunidade?

    • Só é possível acolher, com um coração puro e irrepreensível, o Senhor que vem se a caridade for, entre nós, uma realidade viva. Mas, frequentemente, a vida das nossas comunidades cristãs é marcada pelas divisões, pelas murmurações, pelas lutas pelo poder, pelas tentativas de manipular, pelos interesses mesquinhos e egoístas, pelas guerras de sacristia… Será possível “esperar com coração puro e irrepreensível o Senhor que vem” num contexto de divisão? Será possível à comunidade ser o espaço onde Jesus nasce, se não se aceitam todas as pessoas e em especial os pequenos e os pobres?

    • É possível que a nossa comunidade não seja, ainda, um modelo de perfeição: somos um grupo de irmãos com os nossos limites e defeitos… Sem desânimo, devemos ter presente que somos uma comunidade “a caminho”, em processo de construção. O que é importante é que saibamos acolher o Senhor que vem e deixar que Ele nos conduza à plenitude da vida e do amor.

    ALELUIA – Lc 3,4.6

    Aleluia. Aleluia.

    Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas
    e toda a criatura verá a salvação de Deus.

    EVANGELHO – Lc 3,1-6

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

    No décimo quinto ano do reinado do imperador Tibério,
    quando Pôncio Pilatos era governador da Judeia,
    Herodes tetrarca da Galileia,
    seu irmão Filipe tetrarca da região da Itureia e Traconítide
    e Lisânias tetrarca de Abilene,
    no pontificado de Anás e Caifás,
    foi dirigida a palavra de Deus
    a João, filho de Zacarias, no deserto.
    E ele percorreu toda a zona do rio Jordão,
    pregando um baptismo de penitência
    para a remissão dos pecados,
    como está escrito no livro dos oráculos do profeta Isaías:
    «Uma voz clama no deserto:
    ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.
    Sejam alteados todos os vales
    e abatidos os montes e as colinas;
    endireitem-se os caminhos tortuosos
    e aplanem-se as veredas escarpadas;
    e toda a criatura verá a salvação de Deus’».

    AMBIENTE

    O texto de hoje segue-se imediatamente ao “evangelho da infância”, na versão lucana. Aqui começa, oficialmente, o Evangelho – isto é, o anúncio da Boa Nova de Jesus. Antes de começar a descrever a acção libertadora e salvadora de Jesus no meio dos homens, Lucas vai apresentar João Baptista, o profeta que veio preparar a chegada do Messias de Deus.

    MENSAGEM

    Lucas, como compete a alguém que “tudo investigou cuidadosamente desde a origem” (Lc 1,3), começa por situar o quadro de João Baptista num determinado enquadramento histórico. Nomeia 7 personagens (desde o imperador Tibério César, até ao sumo sacerdote Caifás), num esforço de situar no tempo os acontecimentos da salvação (estaremos aí pelos anos 27/28). Ele sugere, assim, que esta aventura do Deus que vem ao encontro dos homens para lhes apresentar um projecto de salvação e de felicidade não é uma lenda, perdida nas brumas do tempo e da memória dos homens… Mas é uma história concreta, com acontecimentos concretos, que podem ser ligados a um determinado momento histórico e a uma terra concreta.
    Num segundo momento, Lucas apresenta a figura de João Baptista. Ele é “uma voz que grita no deserto” e que convida a preparar os caminhos do coração para que Jesus, o Messias de Deus, possa ir ao encontro de cada homem. Lucas começa por sugerir que a missão profética de João lhe é confiada por Deus: o chamamento de João é apresentado com as mesmas palavras do chamamento de Jeremias (cf. Jer 1,1, no texto grego), para marcar o carácter profético do seu anúncio. Depois, Lucas situa num espaço geográfico a actividade profética de João: ele prega em “toda a zona do rio Jordão” (Mateus e Marcos, situam-no no deserto)… Trata-se de uma região bastante povoada, sobretudo depois das construções de Herodes e de Arquelau: o anúncio profético de João destina-se aos homens, que são convidados a acolher o Messias que está para fazer a sua aparição no mundo. Finalmente, concretiza-se o âmbito da missão: João “proclama um baptismo de conversão (“baptisma metanoias”), para a remissão dos pecados”… A palavra “metanoias” sugere uma revolução total da mentalidade que leva a uma transformação total da forma de pensar e de agir… Para acolher o Messias que está para chegar, é necessário um processo de conversão que leve a um re-equacionar a vida, as prioridades, os valores; só nos corações verdadeiramente transformados, o Messias encontrará lugar.
    O Evangelho de hoje conclui-se com uma citação tomada do Deutero-Isaías (cf. Is 40,3-5), onde serve para anunciar aos exilados na Babilónia a libertação e o regresso a casa, num novo e triunfal êxodo. Lucas sugere, desta forma, que está para chegar a libertação: é necessário, no entanto, que os destinatários do projecto libertador de Deus aceitem percorrer esse caminho, se deixem transformar e acolham “a salvação de Deus”.

    ACTUALIZAÇÃO

    Elementos para a reflexão e a actualização da Palavra:

    • João é o profeta, cujo anúncio prepara o coração dos homens para acolher o Messias. A dimensão profética está sempre presente na comunidade dos baptizados. A todos nós, constituídos profetas pelo baptismo, Deus chama a dar testemunho de que o Senhor vem e a preparar os caminhos por meio dos quais Jesus há-de chegar ao coração do mundo e dos homens.

    • Preparar o caminho do Senhor é convidar a uma conversão urgente, que elimine o egoísmo, que destrua os esquemas de injustiça e de opressão, que derrote as cadeias que mantêm os homens prisioneiros do pecado… Preparar o caminho do Senhor é um re-orientar a vida para Deus, de forma a que Deus e os seus valores passem a ocupar o primeiro lugar no nosso coração e nas nossas prioridades de vida.

    • Esse processo de conversão é um verdadeiro êxodo, que nos transportará da terra da opressão para a terra nova da liberdade, da graça e da paz. Só quem aceita percorrer esse “caminho” experimentará a “salvação de Deus”.

    • A preocupação de Lucas em situar concretamente, no espaço e no tempo, os acontecimentos da salvação chama a atenção aos profetas que anunciam a “vinda do Senhor”, no sentido de encarnar o seu anúncio no contexto cultural e político onde estão inseridos, a ir ao encontro do homem concreto, com a sua linguagem, os seus problemas concretos, as suas ânsias, os seus dramas, sonhos e esperanças. A linguagem com que o profeta anuncia a salvação não pode ser uma linguagem desencarnada, mas tem se ser uma linguagem viva, questionante, interpelativa.

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 2º DOMINGO DO ADVENTO
    (adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao 2º Domingo do Advento, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. GESTO PARA O INÍCIO DA CELEBRAÇÃO.
    Para sublinhar o apelo à conversão, bem presente no Evangelho, pode-se escolher a aspersão como rito penitencial. O cântico de entrada poderá acompanhar também o rito de aspersão com água benzida, em sinal de conversão e penitência.

    3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

    No final da primeira leitura:
    “Deus de alegria, de justiça e de paz, bendito és Tu, porque nunca Te esqueces. Não esqueceste as tuas promessas, mas realizaste-as plenamente pela missão do teu Filho Jesus, que nos reúne na nova Jerusalém.
    Nós Te pedimos: conduz as tuas comunidades na alegria, à luz da tua glória, dá-nos como segurança a tua misericórdia e a tua justiça”.

    No final da segunda leitura:
    “Pai, nós Te damos graças pela acção que começaste nas nossas comunidades e em cada um de nós, e que Tu continuas fielmente até ao dia de Cristo.
    Nós Te pedimos: que o teu Espírito nos guie, para que possamos caminhar sem vacilar até ao dia de Cristo, que Ele nos faça progredir no conhecimento da tua vontade”.

    No final do Evangelho:
    “Deus fiel, proclamamos a infinita paciência que puseste em acção ao longo dos séculos para preparar a vinda do teu Filho à nossa humanidade. Nós Te damos graças pelo envio dos profetas até João Baptista.
    Nós Te pedimos por todas as nossas comunidades: aplanai os caminhos que nos ligam uns aos outros e nos abrem o caminho para Ti”.

    4. BILHETE DE EVANGELHO.
    No ano 15 do Reino de Tibério, o povo de Israel tinha sido bem posto à prova… Quantos caminhos de ocupação! Quantas ravinas de divisões! Quantas montanhas de incompreensões! João Baptista anuncia um futuro melhor, mas pede que se participe na sua realização: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas… e toda a criatura verá a salvação de Deus”. Assim, João Baptista revela o verdadeiro rosto de Deus que vem salvar a humanidade, mas quer ter necessidade desta humanidade para que ela coopere na sua salvação. E a conversão, que é apelo de Deus, é ao mesmo tempo apelo do homem. O profeta é o enviado de Deus, é o seu porta-voz. João Baptista, o último dos profetas da Antiga Aliança, é ao mesmo tempo o precursor do Salvador, prepara o caminho da sua vinda, convida os homens a preparar o seu coração para acolher Aquele que vem fazer novas todas as coisas, Aquele que vem mudar a paisagem do mundo e, sobretudo, o coração do homem.

    5. À ESCUTA DA PALAVRA.
    A enumeração é solene. Todos os grandes responsáveis estão em cena: o poder central, com o imperador Tibério e o seu prefeito Pôncio Pilatos; o poder local, com Herodes, Filipe e L
    isânias; o poder religioso, com os sumo-sacerdotes Anás e Caifás. Em face deles, um homem semi-nu, sem qualquer poder humano. Um homem que será joguete do poder, João, filho de Zacarias. Três anos mais tarde, um outro homem, semi-nu, em face dos mesmos poderosos, as mãos trespassadas pelos pregos, Jesus, filho de Maria. Que resta dos poderosos de então? Nada, apenas ruínas, recordações dos seus nomes e, mesmo assim, não por causa deles, mas de João e de Jesus, que cruzaram os seus caminhos. Em face, João. Morto, ele também. Mas um dia, a Palavra de Deus foi-lhe dirigida no deserto: “Preparai os caminhos do Senhor, endireitai as suas veredas”. Esta voz ressoa nos nossos ouvidos, não já nos desertos de areia, mas no deserto dos nossos corações, muitas vezes demasiado desertos de esperança, de alegria, de amor. Há sempre entre os homens passagens tortuosas que tornam tão difícil a comunhão, montanhas demasiado altas que impedem de nos vermos, ravinas demasiado profundas que impedem a reconciliação e a paz. A voz de João ressoa ainda nos nossos ouvidos, para que a Palavra possa penetrar sempre nos nossos corações. João desapareceu, mas a Palavra, eterna, feita carne, está sempre presente, porque Jesus ressuscitou, está vivo para sempre. Sobre ele a morte não tem mais nenhum poder, nem qualquer outro poder, político, militar, económico e mesmo religioso! Esta Palavra é dada a nós, hoje. Quando deixamos a Palavra iluminar o nosso caminho e comemos o Pão da Vida – as duas mesas da liturgia eucarística – é Jesus vivo que vem endireitar os nossos caminhos, preencher as nossas ravinas interiores. Então, tornamo-nos porta-vozes da Palavra. Vendo-nos, os homens podem pressentir, pelo menos, a salvação de Deus.

    6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
    Pode-se escolher a Oração Eucarística II. Exprime bem o tema do caminho, da marcha, presente nas leituras.

    7. PALAVRAS PARA O CAMINHO…
    Na primeira leitura, o profeta anuncia que Deus dará ao seu povo para sempre este nome: “Paz da justiça e glória da piedade”. Ao longo da próxima semana, procurar fazer a paz, construir a paz, fazer nascer a paz, no nosso coração e à nossa volta, procurar pronunciar muitas vezes palavras de paz e de esperança… Diz o salmista: “Da nossa boca brotavam expressões de alegria e de nossos lábios cânticos de júbilo”. Os nossos cânticos são pobres e vazios, se não transfigurarem a nossa vida no quotidiano…
    Ajudemo-nos uns aos outros… “Discernir o mais importante” será mais fácil para alguns, em pequena equipa, que saberá partilhar na confiança. É uma maneira de nos ajudarmos uns aos outros a progredir espiritualmente, a prepararmo-nos para viver o Natal de outra maneira. Afinal, à maneira de Jesus!

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
    Tel. 218540900 – Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org

  • Solenidade da Imaculada Conceição – Ano C

    Solenidade da Imaculada Conceição – Ano C


    8 de Dezembro, 2021

    ANO C
    SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO DA VIRGEM SANTA MARIA

    Tema da Solenidade da Imaculada Conceição

    Na Solenidade da Imaculada Conceição somos convidados a equacionar o tipo de resposta que damos aos desafios de Deus. Ao propor-nos o exemplo de Maria de Nazaré, a liturgia convida-nos a acolher, com um coração aberto e disponível, os planos de Deus para nós e para o mundo.
    A segunda leitura garante-nos que Deus tem um projecto de vida plena, verdadeira e total para cada homem e para cada mulher – um projecto que desde sempre esteve na mente do próprio Deus. Esse projecto, apresentado aos homens através de Jesus Cristo, exige de cada um de nós uma resposta decidida, total e sem subterfúgios.
    A primeira leitura mostra (recorrendo à história mítica de Adão e Eva) o que acontece quando rejeitamos as propostas de Deus e preferimos caminhos de egoísmo, de orgulho e de auto-suficiência… Viver à margem de Deus leva, inevitavelmente, a trilhar caminhos de sofrimento, de destruição, de infelicidade e de morte.
    O Evangelho apresenta a resposta de Maria ao plano de Deus. Ao contrário de Adão e Eva, Maria rejeitou o orgulho, o egoísmo e a auto-suficiência e preferiu conformar a sua vida, de forma total e radical, com os planos de Deus. Do seu “sim” total, resultou salvação e vida plena para ela e para o mundo.
    LEITURA I – Gen 3,9-15.20

    Leitura do Livro do Génesis

    Depois de Adão ter comido da árvore,
    o Senhor Deus chamou-o e disse-lhe: «Onde estás?»
    Ele respondeu:
    «Ouvi o rumor dos vossos passos no jardim
    e, como estava nu, tive medo e escondi-me».
    Disse Deus:
    «Quem te deu a conhecer que estavas nu?
    Terias tu comido dessa árvore, da qual te proibira comer?»
    Adão respondeu:
    «A mulher que me destes por companheira
    deu-me do fruto da árvore e eu comi».
    O Senhor Deus perguntou à mulher:
    «Que fizeste?»
    E a mulher respondeu:
    «A serpente enganou-me e eu comi».
    Disse então o Senhor à serpente:
    «Por teres feito semelhante coisa,
    maldita sejas entre todos os animais domésticos
    e entre todos os animais selvagens.
    Hás-de rastejar e comer do pó da terra
    todos os dias da tua vida.
    Estabelecerei inimizade entre ti e a mulher,
    entre a tua descendência e a descendência dela.
    Esta te esmagará a cabeça
    e tu a atingirás no calcanhar».
    O homem deu à mulher o nome de ‘Eva’,
    porque ela foi a mãe de todos os viventes.

    AMBIENTE

    O relato jahwista de Gn 2,4b-3,24 sobre as origens da vida e do pecado (ao qual pertence o texto que hoje nos é proposto como primeira leitura) é, de acordo com a maioria dos comentadores, um texto do séc. X a.C., que deve ter aparecido em Judá na época do rei Salomão. Apresenta-se num estilo exuberante e vivo e parece ser obra de um catequista popular, que ensina recorrendo a imagens sugestivas, coloridas e fortes.
    Não podemos, de forma nenhuma, ver neste texto uma reportagem jornalística de acontecimentos passados na aurora da humanidade. A finalidade do autor não é científica ou histórica, mas teológica: mais do que ensinar como o mundo e o homem apareceram, ele quer dizer-nos que na origem da vida e do homem está Jahwéh e que na origem do mal e do pecado estão as opções erradas do homem. Trata-se, portanto, de uma página de catequese.
    Esta longa reflexão sobre as origens da vida e do mal que desfeia o mundo está estruturada num esquema tripartido, com duas situações claramente opostas e uma realidade central que aparece como charneira e ao redor da qual giram a primeira e a terceira parte… Na primeira parte (cf. Gn 2,4b-25), o autor descreve a criação do paraíso e do homem; apresenta a criação de Deus como um espaço ideal de felicidade, onde tudo é bom e o homem vive em comunhão total com o criador e com as outras criaturas. Na segunda parte (cf. Gn 3,1-7), o autor descreve o pecado do homem e da mulher; mostra como as opções erradas do homem introduziram na comunhão do homem com Deus e com o resto da criação factores de desequilíbrio e de morte. Na terceira parte (cf. Gn 3,8-24), o autor apresenta o homem e a mulher confrontados com o resultado das suas opções erradas e as consequências que daí advieram, quer para o homem, quer para o resto da criação.
    Na perspectiva do catequista jahwista, Deus criou o homem para a felicidade… Então, pergunta ele, como é que hoje conhecemos o egoísmo, a injustiça, a violência que desfeiam o mundo? A resposta é: algures na história humana, o homem que Deus criou livre e feliz fez escolhas erradas e introduziu na criação boa de Deus dinamismos de sofrimento e de morte.
    O nosso texto pertence à terceira parte do tríptico. Os personagens intervenientes são Deus (que “passeia no jardim à brisa do dia” – vers. 8a), Adão e Eva (que se esconderam de Deus por entre o arvoredo do jardim – vers. 8b).

    MENSAGEM

    A nossa leitura começa com a “investigação” de Deus… Antes de proferir a sua acusação, Deus – o acusador e juiz – investiga, descobre e estabelece os factos.
    Primeira pergunta feita por Deus ao homem: “onde estás?” A resposta do homem é já uma confissão da sua culpabilidade: “ouvi o rumor dos vossos passos no jardim e, como estava nu, tive medo e escondi-me” (vers. 9-10). A vergonha e o medo são sinal de uma perturbação interior, de uma ruptura com a anterior situação de inocência, de harmonia, de serenidade e de paz. Como é que o homem chegou a esta situação? Evidentemente, desobedecendo a Deus e percorrendo caminhos contrários àqueles que Deus lhe havia proposto. A resposta do homem trai, portanto, o seu segredo e a sua culpa.
    Depois desta constatação, a segunda pergunta feita por Deus ao homem é meramente retórica: “terias tu comido dessa árvore, da qual te proibira de comer?” (vers. 11). A árvore em causa – a “árvore do conhecimento do bem e do mal” – significa o orgulho, a auto-suficiência, o prescindir de Deus e das suas propostas, o querer decidir por si só o que é bem e o que é mal, o pôr-se a si próprio em lugar de Deus, o reivindicar autonomia total em relação ao criador. A situação do homem, perturbado e em ruptura, é já uma resposta clara à pergunta de Deus… É evidente que o homem “comeu da árvore proibida” – isto é, escolheu um caminho de orgulho e de auto-suficiência em relação a Deus. Daí a vergonha e o medo.
    Ao defender-se, o homem acusa a mulher e, ao mesmo tempo, acusa veladamente o próprio Deus pela situação em que está (“a mulher que me deste por companheira deu-me do fruto da árvore e eu comi” – vers. 12). Adão representa essa humanidade que, mergulhada no egoísmo e na auto-suficiência, esqueceu os dons de Deus e vê em Deus um adversário; por outro lado, a resposta de Adão mostra, igualmente, uma humanidade que quebrou a sua unidade e se instalou na cobardia, na falta de solidariedade, no ódio. Escolher caminhos contrários aos de Deus não pode senão conduzir a uma vida de ruptura com Deus e com os outros irmãos.
    Vem, depois, a “defesa” da mulher: “a serpente enganou-me e eu comi” (vers. 13). Entre os povos cananeus, a serpente estava ligada aos rituais de fertilidade e de fecundidade. Os israelitas deixavam-se fascinar por esses cultos e, com frequência, abandonavam Jahwéh para seguir os rituais religiosos dos cananeus e assegurar, assim, a fecundidade dos campos e dos rebanhos. Na época em que o autor jahwista escreve a serpente era, pois, o “fruto proibido”, que seduzia os crentes e os levava a abandonar a Lei de Deus. A “serpente” é, neste contexto, um símbolo literário de tudo aquilo que afastava os israelitas de Jahwéh. A resposta da “mulher” confirma tudo aquilo que até agora estava sugerido: é verdade, a humanidade que Deus criou prescindiu de Deus, ignorou as suas propostas e enveredou por outros caminhos. Achou, no seu egoísmo e auto-suficiência, que podia encontrar a verdadeira vida à margem de Deus, prescindindo das propostas de Deus.
    Diante disto, não são precisas mais perguntas. Está claramente definida a culpa de uma humanidade que pensou poder ser feliz em caminhos de egoísmo e de auto-suficiência, totalmente à margem dos caminhos que foram propostos por Deus.
    Que tem Deus a acrescentar? Pouco mais, a não ser condenar como falsos e enganosos esses cultos e essas tentações que seduziam os israelitas e os colocavam fora da dinâmica da Aliança e dos mandamentos (vers. 14-15). O nosso catequista jahwista sabe que a serpente é um animal miserável, que passa toda a sua existência mordendo o pó da terra. O autor vai servir-se deste dado para pintar, plasticamente, a condenação radical de tudo aquilo que leva os homens a afastar-se dos caminhos de Deus e a enveredar por caminhos de egoísmo e de auto-suficiência.
    O que é que significa a inimizade e a luta entre a “descendência” da mulher e a “descendência” da serpente? Provavelmente, o autor jahwista está, apenas, a dar uma explicação etiológica (uma “etiologia” é uma tentativa de explicar o porquê de uma determinada realidade que o autor conhece no seu tempo, a partir de um pretenso acontecimento primordial, que seria o responsável pela situação actual) para o facto de a serpente inspirar horror aos humanos e de toda a gente lhe procurar “esmagar a cabeça”; mas a interpretação judaica e cristã viu nestas palavras uma profecia messiânica: Deus anuncia que um “filho da mulher” (o Messias) acabará com as consequências do pecado e inserirá a humanidade numa dinâmica de graça.
    Atenção: o autor sagrado não está a falar de um pecado cometido nos primórdios da humanidade pelo primeiro homem e pela primeira mulher; mas está a falar do pecado cometido por todos os homens e mulheres de todos os tempos… Ele está apenas a ensinar que a raiz de todos os males está no facto de o homem prescindir de Deus e construir o mundo a partir de critérios de egoísmo e de auto-suficiência. Não conhecemos bem este quadro?

    ACTUALIZAÇÃO

    • Um dos mistérios que mais questiona os nossos contemporâneos é o mistério do mal… Esse mal que vemos, todos os dias, tornar sombria e deprimente essa “casa” que é o mundo, vem de Deus, ou vem do homem? A Palavra de Deus responde: o mal nunca vem de Deus… Deus criou-nos para a vida e para a felicidade e deu-nos todas as condições para imprimirmos à nossa existência uma dinâmica de vida, de felicidade, de realização plena.

    • O mal resulta das nossas escolhas erradas, do nosso orgulho, do nosso egoísmo e auto-suficiência. Quando o homem escolhe viver orgulhosamente só, ignorando as propostas de Deus e prescindindo do amor, constrói cidades de egoísmo, de injustiça, de prepotência, de sofrimento, de pecado… Quais os caminhos que eu escolho? As propostas de Deus fazem sentido e são, para mim, indicações seguras para a felicidade, ou prefiro ser eu próprio a fazer as minhas escolhas, à margem das propostas de Deus?

    • O nosso texto deixa também claro que prescindir de Deus e caminhar longe dele leva o homem ao confronto e à hostilidade com os outros homens e mulheres. Nasce, então, a injustiça, a exploração, a violência. Os outros homens e mulheres deixam de ser irmãos, para passarem a ser ameaças ao próprio bem-estar, à própria segurança, aos próprios interesses. Como é que eu me situo face aos meus irmãos? Como é que eu me relaciono com aqueles que são diferentes, que invadem o meu espaço e interesses, que me questionam e interpelam?

    • O nosso texto ensina, ainda, que prescindir de Deus e dos seus caminhos significa construir uma história de inimizade com o resto da criação. A natureza deixa de ser, então, a casa comum que Deus ofereceu a todos os homens como espaço de vida e de felicidade, para se tornar algo que eu uso e exploro em meu proveito próprio, sem considerar a sua dignidade, beleza e grandeza. O que é que a criação de Deus significa para mim: algo que eu posso explorar de forma egoísta, ou algo que Deus ofereceu a todos os homens e mulheres e que eu devo respeitar e guardar com amor?
    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 97 (98)

    Refrão: Cantai ao Senhor um cântico novo:
    o Senhor fez maravilhas.

    Cantai ao Senhor um cântico novo,
    pelas maravilhas que Ele operou.
    A sua mão e o seu santo braço
    Lhe deram a vitória.

    O Senhor deu a conhecer a salvação
    revelou aos olhos das nações a sua justiça.
    Recordou-Se da sua bondade e fidelidade
    em favor da casa de Israel.

    Os confins da terra puderam ver
    a salvação do nosso Deus.
    Aclamai o Senhor, terra inteira,
    exultai de alegria e cantai.
    LEITURA II – Ef 1,3-6.11-12

    Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios

    Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo,
    que do alto dos Céus nos abençoou
    com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo.
    N’Ele nos escolheu, antes da criação do mundo,
    para sermos santos e irrepreensíveis,
    em caridade, na sua presença.
    Ele nos predestinou, conforme a benevolência da sua vontade,
    a fim de sermos seus filhos adoptivos, por Jesus Cristo,
    para louvor da sua glória
    e da graça que derramou sobre nós, por seu amado Filho.
    Em Cristo fomos constituídos herdeiros,
    por termos sido predestinados,
    segundo os desígnios d’Aquele que tudo realiza
    conforme a decisão da sua vontade,
    para sermos um hino de louvor da sua glória,
    nós que desde o começo esperámos em Cristo.

    AMBIENTE

    A cidade de Éfeso, capital da Província romana da Ásia, estava situada na costa ocidental da Ásia Menor. O seu importante porto e a sua numerosa população faziam dela uma cidade florescente. Paulo passou em Éfeso na sua segunda viagem missionária (cf. Act 18,19-21) e, durante a sua terceira viagem missionária, fez de Éfeso o quartel-general, a partir do qual evangelizou toda a zona ocidental da Ásia Menor.
    A nossa Carta aos Efésios é, provavelmente, um dos exemplares de uma “carta circular” enviada a várias igrejas da Ásia Menor, numa altura em que Paulo está na prisão (em Roma?). O seu portador é um tal Tíquico. Estamos por volta dos anos 58/60.
    Alguns vêem nesta carta uma espécie de síntese da teologia paulina, numa altura em que a missão do apóstolo está praticamente terminada no oriente. O tema mais importante da Carta aos Efésios é aquilo que o autor chama “o mistério”: trata-se do projecto salvador de Deus, definido e elaborado desde sempre, escondido durante séculos, revelado e concretizado plenamente em Jesus, comunicado aos apóstolos e, nos “últimos tempos”, tornado presente no mundo pela Igreja.
    O texto que nos é hoje proposto aparece no início da carta. É parte de um hino litúrgico que deve ter circulado nas comunidades cristãs antes de ser enxertado aqui por Paulo. Este hino dá graças pela acção do Pai (cf. Ef 1,3-6), do Filho (cf. Ef 1,7-12) e do Espírito Santo (cf. Ef 1,13-14), no sentido de oferecer aos homens a salvação.

    MENSAGEM

    A acção de graças dirige-se a Deus, pois Ele é a fonte última de todas as graças concedidas aos homens. Essas graças atingiram os homens através do Filho, Jesus Cristo.
    Qual é então, segundo este hino, a acção do Pai?
    O Pai, no seu amor, elegeu-nos desde sempre (“antes da criação do mundo”). Elegeu-nos para quê? A resposta é: “para sermos santos e irrepreensíveis”. A palavra “santo” indica a situação de alguém que foi separado do mundo e consagrado a Deus, para o serviço de Deus; a palavra “irrepreensível” era usada para falar das vítimas oferecidas em sacrifício a Deus, que deviam ser imaculadas e sem defeito… Significa, pois, uma santidade (isto é, uma consagração a Deus) verdadeira e radical.
    Além de nos eleger, o Pai predestinou-nos “para sermos seus filhos adoptivos”. Através de Cristo, o Pai ofereceu-nos a sua vida e integrou-nos na sua família na qualidade de filhos. O fim desta acção de Deus é o louvor da sua glória.
    “Eleição” e “adopção como filhos” resultam do imenso amor de Deus pelos homens – um amor que é gratuito, incondicional e radical.
    E Jesus Cristo, o Filho, que papel teve neste processo?
    Nos vers. 7-10 (que, no entanto, a liturgia deste dia não conservou), o autor do hino refere-se ao sangue derramado de Cristo e ao seu significado redentor. A morte de Jesus na cruz é o sinal evidente do espantoso amor de Deus pelos homens; e dessa forma, Deus ensinou-nos a viver no amor, no amor total e radical. Através de Cristo, Deus derramou sobre nós a sua graça, tornando-nos pessoas novas e diferentes, capazes de viver no amor. Assim, Deus manifestou-nos o seu projecto de salvação (que o hino chama “o mistério”) e que consiste em levar-nos a uma identificação plena com Jesus (na sua ilimitada capacidade de amar e de dar vida), a uma unidade e harmonia totais com Jesus. Identificando-nos com Cristo e ensinando-nos a viver no amor total e radical, Deus reconciliou-nos consigo, com todos os outros e com a própria natureza. Da acção redentora de Cristo nasceu, pois, um Homem Novo, capaz de um novo tipo de relacionamento (não marcado pelo egoísmo, pelo orgulho, pela auto-suficiência, mas marcado pelo amor e pelo dom da vida) com Deus, com os outros homens e mulheres e com toda a criação.
    Dessa forma (e voltamos agora a retomar o texto que a liturgia deste dia nos propõe), em Cristo fomos constituídos filhos de Deus e herdeiros da salvação, conforme o projecto de Deus preparado desde toda a eternidade em nosso favor (vers. 11-12).

    ACTUALIZAÇÃO

    • O nosso texto afirma, de forma clara, que Deus tem um projecto de vida plena e total para os homens, um projecto que desde sempre esteve na mente de Deus. É muito importante termos isto em conta: não somos um acidente de percurso na evolução inexorável do cosmos, mas somos actores principais de uma história de amor que o nosso Deus sempre sonhou e que Ele quis escrever e viver connosco… No meio das nossas desilusões e dos nossos sofrimentos, da nossa finitude e do nosso pecado, dos nossos medos e dos nossos dramas, não esqueçamos que somos filhos amados de Deus, a quem Ele oferece continuamente a vida definitiva, a verdadeira felicidade.

    • De acordo com o nosso texto, Deus “elegeu-nos… para sermos santos e irrepreensíveis”. Já vimos que “ser santo” significa ser consagrado para o serviço de Deus. O que é que isto implica em termos concretos? Entre outras coisas, implica tentar descobrir o plano de Deus, o projecto que Ele tem para cada um de nós e concretizá-lo dia a dia com verdade, fidelidade e radicalidade. No meio das solicitações do mundo e das exigências da nossa vida profissional, social e familiar, temos tempo para Deus, para dialogar com Ele e para tentar perceber os seus projectos e propostas? E temos disponibilidade e vontade de concretizar as suas propostas, mesmo quando elas não são conciliáveis com os nossos interesses pessoais?

    • O nosso texto afirma, ainda, a centralidade de Cristo nesta história de amor que Deus quis viver connosco… Jesus veio ao nosso encontro, cumprindo com radicalidade a vontade do Pai, e oferecendo-Se até à morte para nos ensinar a viver no amor. Como é que assumimos e vivemos essa proposta de amor que Jesus nos apresentou? Aprendemos com Ele a amar sem excepção e com radicalidade?
    ALELUIA – cf. Lc 1,28

    Aleluia. Aleluia.

    Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco,
    bendita sois Vós entre as mulheres.
    EVANGELHO – Lc 1,26-38

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

    Naquele tempo,
    o Anjo Gabriel foi enviado por Deus
    a uma cidade da Galileia chamada Nazaré,
    a uma Virgem desposada com um homem chamado José.
    O nome da Virgem era Maria.
    Tendo entrado onde ela estava, disse o anjo:
    «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo».
    Ela ficou perturbada com estas palavras
    e pensava que saudação seria aquela.
    Disse-lhe o Anjo:
    «Não temas, Maria,
    porque encontraste graça diante de Deus.
    Conceberás e darás à luz um Filho,
    a quem porás o nome de Jesus.
    Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo.
    O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David;
    reinará eternamente sobre a casa de Jacob
    e o seu reinado não terá fim».
    Maria disse ao Anjo:
    «Como será isto, se eu não conheço homem?»
    O Anjo respondeu-lhe:
    «O Espírito Santo virá sobre ti
    e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra.
    Por isso, o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus.
    E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice
    e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril;
    porque a Deus nada é impossível».
    Maria disse então:
    «Eis a escrava do Senhor;
    faça-se em mim segundo a tua palavra».

    AMBIENTE

    O texto que nos é hoje proposto pertence ao “Evangelho da Infância” na versão de Lucas. De acordo com os biblistas actuais, os textos do “Evangelho da Infância” pertencem a um género literário especial, chamado homologese. Este género não pretende ser um relato jornalístico e histórico de acontecimentos; mas é, sobretudo, uma catequese destinada a proclamar certas realidades salvíficas (que Jesus é o Messias, que Ele vem de Deus, que Ele é o “Deus connosco”). Desenvolve-se em forma de narração e recorre às técnicas do midrash haggádico (uma técnica de leitura e de interpretação do texto sagrado usada pelos rabbis judeus da época de Jesus). A homologese utiliza e mistura tipologias (factos e pessoas do Antigo Testamento encontram a sua correspondência em factos e pessoas do Novo Testamento) e aparições apocalípticas (anjos, aparições, sonhos), para fazer avançar a narração e para explicitar determinada catequese sobre Jesus. O Evangelho que nos é hoje proposto deve ser entendido a esta luz: não interessa, pois, estar aqui à procura de factos históricos; interessa, sobretudo, perceber o que é que a catequese cristã primitiva nos ensina, através destas narrações, sobre Jesus.
    A cena situa-nos numa aldeia da Galileia, chamada Nazaré. A Galileia, região a norte da Palestina, à volta do Lago de Tiberíades, era considerada pelos judeus uma terra longínqua e estranha, em permanente contacto com as populações pagãs e onde se praticava uma religião heterodoxa, influenciada pelos costumes e pelas tradições pagãs. Daí a convicção dos mestres judeus de Jerusalém de que “da Galileia não pode vir nada de bom”. Quanto a Nazaré, era uma aldeia pobre e ignorada, nunca nomeada na história religiosa judaica e, portanto (de acordo com a mentalidade judaica), completamente à margem dos caminhos de Deus e da salvação.
    Maria, a jovem de Nazaré que está no centro deste episódio, era “uma virgem desposada com um homem chamado José”. O casamento hebraico considerava o compromisso matrimonial em duas etapas: havia uma primeira fase, na qual os noivos se prometiam um ao outro (os “esponsais”); só numa segunda fase surgia o compromisso definitivo (as cerimónias do matrimónio propriamente dito)… Entre os “esponsais” e o rito do matrimónio, passava um tempo mais ou menos longo, durante o qual qualquer uma das partes podia voltar atrás, ainda que sofrendo uma penalidade. Durante os “esponsais”, os noivos não viviam em comum; mas o compromisso que os dois assumiam tinha já um carácter estável, de tal forma que, se surgia um filho, este era considerado filho legítimo de ambos. A Lei de Moisés considerava a infidelidade da “prometida” como uma ofensa semelhante à infidelidade da esposa (cf. Dt 22,23-27)… E a união entre os dois “prometidos” só podia dissolver-se com a fórmula jurídica do divórcio. José e Maria estavam, portanto, na situação de “prometidos”: ainda não tinham celebrado o matrimónio, mas já tinham celebrado os “esponsais”.

    MENSAGEM

    Depois da apresentação do “ambiente” do quadro, Lucas apresenta o diálogo entre Maria e o anjo.
    A conversa começa com a saudação do anjo. Na boca deste, são colocados termos e expressões com ressonância vétero-testamentária, ligados a contextos de eleição, de vocação e de missão. Assim, o termo “ave” (em grego, “kaire”) com que o anjo se dirige a Maria é mais do que uma saudação: é o eco dos anúncios de salvação à “filha de Sião” – uma figura fraca e delicada que personifica o Povo de Israel, em cuja fraqueza se apresenta e representa essa salvação oferecida por Deus e que Israel deve testemunhar diante dos outros povos (cf. 2 Re 19,21-28; Is 1,8; 12,6; Jer 4,31; Sof 3,14-17). A expressão “cheia de graça” significa que Maria é objecto da predilecção e do amor de Deus. A outra expressão “o Senhor está contigo” é uma expressão que aparece com frequência ligada aos relatos de vocação no Antigo Testamento (cf. Ex 3,12 – vocação de Moisés; Jz 6,12 – vocação de Gedeão; Jer 1,8.19 – vocação de Jeremias) e que serve para assegurar ao “chamado” a assistência de Deus na missão que lhe é pedida. Estamos, portanto, diante do “relato de vocação” de Maria: a visita do anjo destina-se a apresentar à jovem de Nazaré uma proposta de Deus. Essa proposta vai exigir uma resposta clara de Maria.
    Qual é, então, o papel proposto a Maria no projecto de Deus?
    A Maria, Deus propõe que aceite ser a mãe de um “filho” especial… Desse “filho” diz-se, em primeiro lugar, que ele se chamará “Jesus”. O nome significa “Deus salva”. Além disso, esse “filho” é apresentado pelo anjo como o “Filho do Altíssimo”, que herdará “o trono de seu pai David” e cujo reinado “não terá fim”. As palavras do anjo levam-nos a 2 Sm 7 e à promessa feita por Deus ao rei David através das palavras do profeta Nathan. Esse “filho” é descrito nos mesmos termos em que a teologia de Israel descrevia o “messias” libertador. O que é proposto a Maria é, pois, que ela aceite ser a mãe desse “messias” que Israel esperava, o libertador enviado por Deus ao seu Povo para lhe oferecer a vida e a salvação definitivas.
    Como é que Maria responde ao projecto de Deus?
    A resposta de Maria começa com uma objecção… A objecção faz sempre parte dos relatos de vocação do Antigo Testamento (cf. Ex 3,11; 6,30; Is 6,5; Jer 1,6). É uma reacção natural de um “chamado”, assustado com a perspectiva do compromisso com algo que o ultrapassa; mas é, sobretudo, uma forma de mostrar a grandeza e o poder de Deus que, apesar da fragilidade e das limitações dos “chamados”, faz deles instrumentos da sua salvação no meio dos homens e do mundo.
    Diante da “objecção”, o anjo garante a Maria que o Espírito Santo virá sobre ela e a cobrirá com a sua sombra. Este Espírito é o mesmo que foi derramado sobre os juízes (Oteniel – cf. Jz 3,10; Gedeão – cf. Jz 6,34; Jefté – cf. Jz 11,29; Sansão – cf. Jz 14,6), sobre os reis (Saul – cf. 1 Sm 11,6; David – cf. 1 Sm 16,13), sobre os profetas (cf. Maria, a profetisa irmã de Aarão – cf. Ex 15,20; os anciãos de Israel – cf. Nm 11,25-26; Ezequiel – cf. Ez 2,1; 3,12; o Trito-Isaías – cf. Is 61,1), a fim de que eles pudessem ser uma presença eficaz da salvação de Deus no meio do mundo. A “sombra” ou “nuvem” leva-nos, também, à “coluna de nuvem” (cf. Ex 13,21) que acompanhava a caminhada do Povo de Deus em marcha pelo deserto, indicando o caminho para a Terra Prometida da liberdade e da vida nova. A questão é a seguinte: apesar da fragilidade de Maria, Deus vai, através dela, fazer-Se presente no mundo para oferecer a salvação a todos os homens.
    O relato termina com a resposta final de Maria: “eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”. Afirmar-se como “serva” significa, mais do que humildade, reconhecer que se é um eleito de Deus e aceitar essa eleição, com tudo o que ela implica – pois, no Antigo Testamento, ser “servo do Senhor” é um título de glória, reservado àqueles que Deus escolheu, que Ele reservou para o seu serviço e que Ele enviou ao mundo com uma missão (essa designação aparece, por exemplo, no Deutero-Isaías – cf. Is 42,1; 49,3; 50,10; 52,13; 53,2.11 – em referência à figura enigmática do “servo de Jahwéh”). Desta forma, Maria reconhece que Deus a escolheu, aceita com disponibilidade essa escolha e manifesta a sua disposição de cumprir, com fidelidade, o projecto de Deus.

    ACTUALIZAÇÃO

    • A liturgia deste dia afirma, de forma clara e insofismável, que Deus ama os homens e tem um projecto de vida plena para lhes oferecer. Como é que esse Deus cheio de amor pelos seus filhos intervém na história humana e concretiza, dia a dia, essa oferta de salvação? A história de Maria de Nazaré (bem como a de tantos outros “chamados”) responde, de forma clara, a esta questão: é através de homens e mulheres atentos aos projectos de Deus e de coração disponível para o serviço dos irmãos, que Deus actua no mundo, que Ele manifesta aos homens o seu amor, que Ele convida cada pessoa a percorrer os caminhos da felicidade e da realização plena. Já pensamos que é através dos nossos gestos de amor, de partilha e de serviço que Deus Se torna presente no mundo e transforma o mundo?

    • Outra questão é a dos instrumentos de que Deus Se serve para realizar os seus planos… Maria era uma jovem mulher de uma aldeia obscura dessa “Galileia dos pagãos” de onde não podia “vir nada de bom”. Não consta que tivesse uma significativa preparação intelectual, extraordinários conhecimentos teológicos, ou amigos poderosos nos círculos de poder e de influência da Palestina de então… Apesar disso, foi escolhida por Deus para desempenhar um papel primordial na etapa mais significativa na história da salvação. A história vocacional de Maria deixa claro que, na perspectiva de Deus, não são o poder, a riqueza, a importância ou a visibilidade social que determinam a capacidade para levar a cabo uma missão. Deus age através de homens e mulheres, independentemente das suas qualidades humanas. O que é decisivo é a disponibilidade e o amor com que se acolhem e testemunham as propostas de Deus.

    • Diante dos apelos de Deus ao compromisso, qual deve ser a resposta do homem? É aí que somos colocados diante do exemplo de Maria… Confrontada com os planos de Deus, Maria responde com um “sim” total e incondicional. Naturalmente, ela tinha o seu programa de vida e os seus projectos pessoais; mas, diante do apelo de Deus, esses projectos pessoais passaram naturalmente e sem dramas a um plano secundário. Na atitude de Maria não há qualquer sinal de egoísmo, de comodismo, de orgulho, mas há uma entrega total nas mãos de Deus e um acolhimento radical dos caminhos de Deus. O testemunho de Maria é um testemunho questionante, que nos interpela fortemente… Que atitude assumimos diante dos projectos de Deus: acolhemo-los sem reservas, com amor e disponibilidade, numa atitude de entrega total a Deus, ou assumimos uma atitude egoísta de defesa intransigente dos nossos projectos pessoais e dos nossos interesses egoístas?

    • É possível a alguém entregar-se tão cegamente a Deus, sem reservas, sem medir os prós e os contras? Como é que se chega a esta confiança incondicional em Deus e nos seus projectos? Naturalmente, não se chega a esta confiança cega em Deus e nos seus planos sem uma vida de diálogo, de comunhão, de intimidade com Deus. Maria de Nazaré foi, certamente, uma mulher para quem Deus ocupava o primeiro lugar e era a prioridade fundamental. Maria de Nazaré foi, certamente, uma pessoa de oração e de fé, que fez a experiência do encontro com Deus e aprendeu a confiar totalmente n’Ele. No meio da agitação de todos os dias, encontro tempo e disponibilidade para ouvir Deus, para viver em comunhão com Ele, para tentar perceber os seus sinais nas indicações que Ele me dá dia a dia?

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
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  • 03º Domingo do Tempo do Advento – Ano C

    03º Domingo do Tempo do Advento – Ano C


    12 de Dezembro, 2021

    ANO C
    3º DOMINGO DO TEMPO DO ADVENTO

    Tema do 3º Domingo do Tempo do Advento

    O tema deste 3º Domingo pode girar à volta da pergunta: “e nós, que devemos fazer?” Preparar o “caminho” por onde o Senhor vem significa questionar os nossos limites, o nosso egoísmo e comodismo e operar uma verdadeira transformação da nossa vida no sentido de Deus.
    O Evangelho sugere três aspectos onde essa transformação é necessária: é preciso sair do nosso egoísmo e aprender a partilhar; é preciso quebrar os esquemas de exploração e de imoralidade e proceder com justiça; é preciso renunciar à violência e à prepotência e respeitar absolutamente a dignidade dos nossos irmãos. O Evangelho avisa-nos, ainda, que o cristão é “baptizado no Espírito”, recebe de Deus vida nova e tem de viver de acordo com essa dinâmica.
    A primeira leitura sugere que, no início, no meio e no fim desse “caminho de conversão”, espera-nos o Deus que nos ama. O seu amor não só perdoa as nossas faltas, mas provoca a conversão, transforma-nos e renova-nos. Daí o convite à alegria: Deus está no meio de nós, ama-nos e, apesar de tudo, insiste em fazer caminho connosco.
    A segunda leitura insiste nas atitudes correctas que devem marcar a vida de todos os que querem acolher o Senhor: alegria, bondade, oração.

    LEITURA I – Sof 3,14-18a

    Leitura da Profecia de Sofonias

    Clama jubilosamente, filha de Sião;
    solta brados de alegria, Israel.
    Exulta, rejubila de todo o coração, filha de Jerusalém.
    O Senhor revogou a sentença que te condenava,
    afastou os teus inimigos.
    O Senhor, Rei de Israel, está no meio de ti
    e já não temerás nenhum mal.
    Naquele dia, dir-se-á a Jerusalém:
    «Não temas, Sião,
    não desfaleçam as tuas mãos.
    O Senhor teu Deus está no meio de ti,
    como poderoso salvador.
    Por causa de ti, Ele enche-Se de júbilo,
    renova-te com o seu amor,
    exulta de alegria por tua causa,
    como nos dias de festa».

    AMBIENTE

    O profeta Sofonias prega em Jerusalém, durante a primeira fase do reinado de Josias (séc. VII a.C.). Nas décadas anteriores, o rei ímpio Manassés abriu o país aos costumes dos povos vizinhos, erigiu altares aos deuses estrangeiros (chegando a colocar no templo de Jerusalém a imagem da deusa Astarte), dedicou-se à adivinhação e à magia e multiplicou as injustiças, sobretudo contra os mais pobres e mais débeis. Entretanto, subiu ao trono o rei Josias, que procurou alterar este estado de coisas e promover uma verdadeira reforma religiosa; mas, na época em que Sofonias exerce o seu ministério profético, os erros de Manassés ainda se fazem sentir.
    Neste contexto, Sofonias ataca a idolatria cultual, as injustiças, o materialismo, a despreocupação religiosa, os abusos da autoridade: todo este quadro configura uma situação de grave infidelidade à “aliança”; Deus não irá, diz o profeta, pactuar com esta situação.
    No entanto, a intenção de Sofonias não é somente anunciar o castigo… A sua mensagem é, antes de mais, um apelo à conversão, primeiro passo para a salvação. O que o profeta pede ao seu Povo é que se volte de novo para Jahwéh, assuma as suas responsabilidades para com Deus e viva de acordo com os compromissos assumidos no âmbito da “aliança”. O texto que vamos ver, no entanto, está incluído nas “promessas de salvação”: aí, o profeta traça o quadro desse tempo novo de alegria e de felicidade, que há-de suceder-se à conversão de Judá.

    MENSAGEM

    O texto que hoje nos é proposto é um convite à alegria, porque foi revogada a sentença que condenava Judá. O amor de Deus pelo seu Povo venceu. A partir de agora, Deus residirá no meio do seu Povo; e essa nova comunhão entre Jahwéh e Judá é uma garantia de segurança, de felicidade e de vida em plenitude. Mais: o amor de Deus – esse amor que nada consegue desmentir nem apagar – vai renovar o coração do Povo e fazer com que Judá volte para os caminhos da “aliança”; e o próprio Deus Se alegrará com essa transformação.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão e actualização da Palavra podem fazer-se à volta dos seguintes pontos:

    • Nunca é demais sublinhar a essência de Deus: o amor. Neste texto, o amor de Deus não só introduz na relação com o Povo um dinamismo de perdão; mas esse amor faz ainda mais: provoca a própria conversão do Povo. Esta consciência de que Deus nos ama, muito para além das nossas falhas e fraquezas, e que o seu amor nos transforma, nos torna menos egoístas e mais humanos, é uma das mais belas constatações que os crentes podem fazer.

    • O que renova o mundo e o transforma não é o medo, mas o amor. O medo provoca insegurança, pessimismo, angústia, sofrimento, bloqueamento; o amor é que faz crescer, é que cria dinamismos de superação, é que nos torna mais humanos, é que nos faz confiar, é que potencia o encontro e a comunhão… Devemos ter isto bem presente quando formos chamados a anunciar o Evangelho e a proclamar a proposta de salvação que o nosso Deus faz aos homens.

    • Também é necessário sublinhar a constatação de que Deus não desiste de vir ao nosso encontro e de residir no meio de nós. Ele tem uma proposta de salvação que quer, a todo o custo, apresentar-nos. Não é uma constatação consoladora, frente às dificuldades, às angústias, às inseguranças que dia a dia preenchem a nossa existência?

    • Finalmente, convém notar o apelo à alegria… A constatação de que Deus nos ama e que reside no meio de nós com uma proposta de salvação e de felicidade para todos os que O acolhem não pode provocar senão uma imensa alegria no coração dos crentes. Damos sempre testemunho dessa alegria? Será que as nossas comunidades são espaços onde se nota a alegria pelo amor e pela presença de Deus?

    SALMO RESPONSORIAL – Is 12,2-3.4bcd.5-6

    Refrão 1: Exultai de alegria,
    porque é grande no meio de vós o Santo de Israel.

    Refrão 2: Povo do Senhor, exulta e canta de alegria.

    Deus é o meu Salvador,
    tenho confiança e nada temo.
    O Senhor é a minha força e o meu louvor.
    Ele é a minha salvação.

    Tirareis água com alegria das fontes da salvação.
    Agradecei ao Senhor, invocai o seu nome;
    anunciai aos povos a grandeza das suas obras,
    proclamai a todos que o seu nome é santo.

    Cantai ao Senhor, porque Ele fez maravilhas,
    anunciai-as em toda a terra.
    Entoai cânticos de alegria, habitantes de Sião,
    porque é grande no meio de vós o Santo de Israel.

    LEITURA II – Filip 4,4-7

    Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses

    Irmãos:
    Alegrai-vos sempre no Senhor.
    Novamente vos digo: alegrai-vos.
    Seja de todos conhecida a vossa bondade.
    O Senhor está próximo.
    Não vos inquieteis com coisa alguma;
    mas em todas as circunstâncias,
    apresentai os vossos pedidos diante de Deus,
    com orações, súplicas e acções de graças.
    E a paz de Deus, que está acima de toda a inteligência,
    guardará os vossos corações e os vossos pensamentos
    em Cristo Jesus.

    AMBIENTE

    Paulo, na prisão, recebeu a ajuda fraterna dos Filipenses. Retribui com uma carta em que manifesta o seu afecto pela comunidade cristã de Filipos. Depois de agradecer a Deus pela sensibilidade dos Filipenses ao anúncio do Evangelho (cf. Flp 1,11), de informar a comunidade sobre a sua situação pessoal (cf. Flp 1,12-26), de dirigir exortações várias à comunidade (cf. Flp 1,27-2,18), de dar notícias sobre Timóteo e Epafrodito (cf. Flp 2,19-30) e de denunciar as acusações que lhe fazem os seus adversários (cf. Flp 3,1-21), Paulo – consciente de que ainda nem tudo é perfeito nesta comunidade exemplar – apresenta um conjunto de recomendações diversas de carácter prático. Este texto contém algumas dessas recomendações.

    MENSAGEM

    A primeira e mais importante recomendação de Paulo é um convite à alegria. Trata-se de algo tão fundamental, que Paulo repete duas vezes no espaço de um versículo: “alegrai-vos”. A palavra aqui utilizada (o verbo “khairô”) leva-nos a essa “alegria” (“khara”) que os anjos anunciam aos pastores, a propósito do nascimento de Jesus em Belém. É, portanto, uma alegria que resulta da presença salvadora do Senhor Jesus no meio dos homens. Depois, Paulo acrescenta outras recomendações: a bondade, a confiança, a oração (de súplica e de acção de graças). São estas algumas das atitudes que devem acompanhar o cristão que espera a vinda próxima do Senhor: alegria, porque a sua libertação plena está a chegar; tolerância e mansidão para com os irmãos; serena confiança em Deus; diálogo com Deus, agradecendo-Lhe os dons e apresentando-Lhe as suas dores e dificuldades.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão deste texto pode tocar os seguintes aspectos:

    • A alegria, constitutiva da experiência cristã, deve estar especialmente presente neste tempo de espera do Senhor. Não é uma alegria que resulta dos êxitos desportivos da nossa equipa, nem do nosso êxito profissional, nem do aumento da nossa conta bancária, mas é uma alegria pela presença iminente do Senhor nas nossas vidas, como proposta libertadora. É a certeza da presença libertadora do Senhor que a nossa alegria deve anunciar aos homens nossos irmãos.

    • A bondade e a indulgência com que acolhemos os que nos rodeiam têm de ser, também, distintivos de quem espera o Senhor. Será possível que Deus nasça quando o caminho do nosso coração está fechado com cadeias de intolerância, de prepotência, de incompreensão?

    • A espera do Senhor faz-se, também, num diálogo contínuo com Ele. Não é possível estar disponível para O acolher, quando estamos indiferentes e não partilhamos com Ele, a cada instante, as nossas alegrias e as nossas dificuldades, os nossos sonhos e as nossas esperanças. Não é possível acolher alguém com quem não comunicamos e de quem não nos sentimos próximos.

    ALELUIA – Is 61,1

    Aleluia. Aleluia.

    O Espírito do Senhor está sobre mim:
    enviou-me a anunciar a Boa Nova aos pobres.

    EVANGELHO – Lc 3,10-18

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

    Naquele tempo,
    as multidões perguntavam a João Baptista:
    «Que devemos fazer?»
    Ele respondia-lhes:
    «Quem tiver duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma;
    e quem tiver mantimentos faça o mesmo».
    Vieram também alguns publicanos para serem baptizados
    e disseram:
    «Mestre, que devemos fazer?»
    João respondeu-lhes:
    «Não exijais nada além do que vos foi prescrito».
    Perguntavam-lhe também os soldados:
    «E nós, que devemos fazer?»
    Ele respondeu-lhes:
    «Não pratiqueis violência com ninguém
    nem denuncieis injustamente;
    e contentai-vos com o vosso soldo».
    Como o povo estava na expectativa
    e todos pensavam em seus corações
    se João não seria o Messias,
    ele tomou a palavra e disse a todos:
    «Eu baptizo-vos com água,
    mas está a chegar quem é mais forte do que eu,
    e eu não sou digno de desatar as correias das suas sandálias.
    Ele baptizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo.
    Tem na mão a pá para limpar a sua eira
    e recolherá o trigo no seu celeiro;
    a palha, porém, queimá-la-á num fogo que não se apaga».
    Assim, com estas e muitas outras exortações,
    João anunciava ao povo a Boa Nova».

    AMBIENTE

    O Evangelho de hoje vem na sequência daquele que reflectimos no passado domingo: o profeta João Baptista indica, com pormenores concretos e a grupos concretos, como proceder para percorrer esse caminho de “metanoia” e preparar a “vinda do Senhor”.

    MENSAGEM

    A primeira parte do Evangelho de hoje (vers. 10-14) é uma secção própria de Lucas. Pôr as pessoas as perguntar “o que devemos fazer” é habitual em Lucas (cf. Act 2,37; 16,30; 22,10): sugere uma abertura à proposta de salvação que vem de Deus. João Baptista propõe, então, três atitudes concretas para quem quer fazer a experiência de conversão e de encontro com o Senhor que vem: ao povo em geral, João Baptista recomenda a sensibilidade às necessidades de quem nada tem e a partilha dos bens; aos publicanos, pede que não explorem, que não se deixem convencer por esquemas de enriquecimento ilícito, que não despojem ilegalmente os mais pobres; aos soldados, pede que não usem de violência, que não abusem do seu poder contra fracos e indefesos… Repare-se como João Baptista põe em relevo os “crimes contra o irmão”: tudo aquilo que atenta contra a vida de um só homem é um crime contra Deus; quem o comete, está a fechar o seu coração e a sua vida à proposta libertadora que Cristo veio trazer.
    Na segunda parte do Evangelho (vers. 15-18), João Baptista anuncia a chegada do baptismo no Espírito Santo, contraposto ao baptismo “na água” de João. O baptismo de João é, apenas, uma proposta de conversão; mas o baptismo de Jesus consiste em receber essa vida de Deus que actua no coração do homem, transforma o homem velho em homem novo, faz do homem egoísta e fechado em si um homem novo, capaz de partilhar a vida e amar como Jesus. Faz-se, aqui, referência a essa transformação que Cristo operará no coração de todos os que estão dispostos a acolher a sua proposta de libertação: começará, para eles, uma nova vida, uma vida purificada (fogo), uma vida de onde o pecado e o egoísmo foram eliminados, uma vida segundo Deus. Para Lucas, este anúncio do profeta João concretizar-se-á plenamente no dia de Pentecostes.

    ACTUALIZAÇÃO

    Elementos para a reflexão e actualização da Palavra:

    • “E nós, que devemos fazer?” A expressão revela a atitude correcta de quem está aberto à interpelação do Evangelho. Sugere-se aqui a disponibilidade para questionar a própria vida, primeiro passo para uma efectiva tomada de consciência do que é necessário transformar.

    • Os bens que temos à nossa disposição são sempre um dom de Deus e, portanto, pertencem a todos: ninguém tem o direito de se apropriar deles em seu benefício exclusivo. As desigualdades chocantes, a indiferença que nos leva a fechar o coração aos gritos de quem vive abaixo do limiar da dignidade humana, o egoísmo que nos impede de partilhar com quem nada tem, são obstáculos intransponíveis que impedem o Senhor de nascer no meio de nós. As nossas comunidades e nós próprios damos testemunho desta partilha que é sinal do Reino proposto por Jesus?

    • Os publicanos eram aqueles que extorquiam dinheiro de modo duvidoso, despojando os mais pobres e enriquecendo de forma ilícita. Que dizer dos modernos esquemas imorais (às vezes lícitos, mas imorais) de enriquecimento rápido? Que dizer da corrupção, do branqueamento de dinheiro sujo, da fuga aos impostos, das taxas exageradas cobradas por certos serviços, das falcatruas? Será possível prejudicar conscientemente um irmão ou a comunidade inteira e acolher “o Senhor que vem”?

    • “Não exerçais violência sobre ninguém”… E os actos de violência, que tantas vezes atingem inocentes e derramam sangue ou, ao menos, provocam sofrimento e injustiça? E os actos gratuitos de terrorismo, ainda que sejam mascarados de luta pela libertação? E a exploração de quem trabalha, a recusa de um salário justo, ou a exploração de imigrantes estrangeiros? E as prepotências que se cometem nos tribunais, nas repartições públicas, na própria casa e, tantas vezes, nas recepções das nossas igrejas? Neste quadro, é possível acolher Jesus?

    • Ser cristão é ser baptizado no Espírito, quer dizer, é ser portador dessa vida de Deus que nos permite testemunhar Jesus e a sua proposta. O que é que conduz a nossa caminhada e motiva as nossas opções – o Espírito, ou o nosso egoísmo e comodismo?

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 3º DOMINGO DO ADVENTO
    (adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao 3º Domingo do Advento, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. GESTO PARA O INÍCIO DA CELEBRAÇÃO.
    Convidar a assembleia à alegria… Sem ler o texto, mas fazendo-lhe referência, o presidente poderá alimentar a sua palavra de abertura com o apelo que Paulo lança aos Filipenses na segunda leitura: “Irmãos: alegrai-vos sempre no Senhor. Novamente vos digo: alegrai-vos. O Senhor está próximo”.

    3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

    No final da primeira leitura:
    “A nossa felicidade está em Ti, Senhor nosso Deus. Nós Te dirigimos as nossas orações e os nossos gritos de alegria, porque vieste habitar no meio de nós por Jesus teu Filho, o Ressuscitado.
    Nós Te pedimos por todos os homens nossos irmãos que a obscuridade do mal e do ódio mergulhou na tristeza: que a salvação venha até eles”.

    No final da segunda leitura:
    “Pai, nós Te damos graças pela alegria que nos dás e que vem de Jesus, porque está completamente próximo de nós, como Luz nas trevas e Paz nas inquietudes da existência.
    Nós Te pedimos: que a paz do teu Espírito guarde os nossos corações e as nossas inteligências em Cristo Jesus”.

    No final do Evangelho:
    “Deus fiel, bendito és Tu pela Boa Nova anunciada por João Baptista e pelo caminho de conversão que ele abria aos teus fiéis. Bendito és Tu pelo baptismo no Espírito Santo que Jesus nos deu.
    Doravante, é a Jesus que nós pedimos: «Que devemos fazer?» Nós Te pedimos: que o teu Espírito nos faça conhecer a tua vontade”.

    4. BILHETE DE EVANGELHO.
    Deus não pede a mesma coisa aos cobradores de impostos e aos soldados, mas pede a todos para fazerem algo que manifeste mais justiça, mais generosidade, mais paz… É no momento em que os homens se deixam baptizar na água do Jordão que perguntam o que devem fazer. Se vêm encontrar João Baptista, é porque procuram converter-se, procuram tornar-se homens novos. Aceitam viver outra coisa a fim de se tornarem outros. Mas vem o dia, anuncia o Percursor, em que a conversão não é apenas obra do homem, mas acção comum de Deus e dos homens: vem Aquele que baptizará no Espírito Santo e no fogo para fazer surgir um mundo novo e varrer o velho mundo. A Boa Nova que João Baptista anuncia ao povo é precisamente a intervenção de Deus em pessoa pela vinda do Messias que vai comprometer a humanidade nesta renovação radical, fruto da Aliança Nova selada entre Deus e a humanidade, Aliança com os dois parceiros da salvação: Deus e o homem.

    5. À ESCUTA DA PALAVRA.
    “Que devemos fazer?” Esta questão é posta três vezes a João Baptista, pelas multidões, pelos publicanos, pelos soldados. João não parece ser muito exigente nas respostas. Nada de extraordinário. Não pede para saírem do real das suas vidas. Por exemplo, exorta as multidões à partilha com os mais pobres. Hoje, dir-nos-ia para transformarmos a festa comercial de Natal numa ocasião de partilha mais generosa. A atenção ao quotidiano sugerir-nos-á como partilhar! Não são necessárias coisas extraordinárias. Basta deixar iluminar pela Boa Nova de Jesus a nossa vida de todos os dias…

    6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
    Neste domingo que convida à alegria, pode-se escolher a Oração Eucarística II da Missa com Crianças: “Sim, bendito seja o teu enviado, o amigo dos pobres e dos pequenos… Ele veio arrancar do coração do homem o mal que impede a amizade, o ódio que impede de ser feliz…”

    7. PALAVRAS PARA O CAMINHO…
    • No dia 8 de Dezembro, a Igreja festejou a Imaculada Conceição da Virgem Maria. O que Paulo recomenda na segunda leitura, Maria viveu-o desde a primeira hora. Viveu sempre na alegria do Senhor: “A minha alma glorifica o Senhor, o meu espírito exulta em Deus, meu Salvador”. A sua serenidade era conhecida por todos, não andava inquieta com nada: “Fazei o que Ele vos disser”. E a paz de Deus guardou o seu coração e a sua inteligência no seu Filho Jesus: “A sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração”. Ao longo da próxima semana, na espera do 4º domingo do Advento e da narração da visita de Maria a Isabel, conservemos no nosso coração a alegria e a paz recebidas nesta Eucaristia e, por intercessão de Maria, “em qualquer circunstância”, rezemos para fazer chegar a Deus os nossos pedidos.
    • Uma partilha concreta. Embora menos habitual que durante a Quaresma, pode ser proposto um “gesto de partilha” para esta semana, na linha das palavras de João Baptista. Na paróquia, ou pessoalmente, prever a natureza desta partilha (dinheiro, tempo, acolhimento no momento das festas) e os seus beneficiários.

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
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  • 04º Domingo do Tempo do Advento – Ano C

    04º Domingo do Tempo do Advento – Ano C


    19 de Dezembro, 2021

    ANO C
    4º DOMINGO DO TEMPO DO ADVENTO

    Tema do 4º Domingo do Tempo do Advento

    Nestes últimos dias antes do Natal, a mensagem fundamental da Palavra de Deus gira à volta da definição da missão de Jesus: propor um projecto de salvação e de libertação que leve os homens à descoberta da verdadeira felicidade.
    O Evangelho sugere que esse projecto de Deus tem um rosto: Jesus de Nazaré veio ao encontro dos homens para apresentar aos prisioneiros e aos que jazem na escravidão uma proposta de vida e de liberdade. Ele propõe um mundo novo, onde os marginalizados e oprimidos têm lugar e onde os que sofrem encontram a dignidade e a felicidade. Este é um anúncio de alegria e de salvação, que faz rejubilar todos os que reconhecem em Jesus a proposta libertadora que Deus lhes faz. Essa proposta chega, tantas vezes, através dos limites e da fragilidade dos “instrumentos” humanos de Deus; mas é sempre uma proposta que tem o selo e a força de Deus.
    A primeira leitura sugere que este mundo novo que Jesus, o descendente de David, veio propor é um dom do amor de Deus. O nome de Jesus é “a Paz”: Ele veio apresentar uma proposta de um “reino” de paz e de amor, não construído com a força das armas, mas construído e acolhido nos corações dos homens.
    A segunda leitura sugere que a missão libertadora de Jesus visa o estabelecimento de uma relação de comunhão e de proximidade entre Deus e os homens. É necessário que os homens acolham esta proposta com disponibilidade e obediência – à imagem de Jesus Cristo – num “sim” total ao projecto de Deus.

    LEITURA I – Miq 5,1-4a

    Leitura da Profecia de Miqueias

    Eis o que diz o Senhor:
    «De ti, Belém-Efratá,
    pequena entre as cidades de Judá,
    de ti sairá aquele que há-de reinar sobre Israel.
    As suas origens remontam aos tempos de outrora,
    aos dias mais antigos.
    Por isso Deus os abandonará
    até à altura em que der à luz
    aquela que há-de ser mãe.
    Então voltará para os filhos de Israel
    o resto dos seus irmãos.
    Ele se levantará para apascentar o seu rebanho
    pelo poder do Senhor,
    pelo nome glorioso do Senhor, seu Deus.
    Viver-se-á em segurança,
    porque ele será exaltado até aos confins da terra.
    Ele será a paz».

    AMBIENTE

    O profeta Miqueias viveu e exerceu o seu ministério em Judá, nos sécs. VIII/VII a.C.. É originário de um meio campesino e conhece bem os problemas dos pequenos agricultores, vítimas de latifundiários sem escrúpulos. Por outro lado, a sua terra natal (Moreset Gat) está rodeada de fortalezas militares; e a presença nessas fortalezas de militares e de funcionários reais faz com que os habitantes dessa região conheçam um quadro de violência, de roubos, de impostos excessivos, de trabalhos forçados… O mais grave é que os opressores consideram que Deus está do seu lado e invocam as grandes tradições religiosas de Israel para justificar a opressão.
    O livro de Miqueias começa por descrever (cap. 1-3) os graves pecados de Israel e de Judá sublinhando, sobretudo, os pecados sociais, apresentando-os como infidelidade grave aos compromissos assumidos no âmbito da “aliança” e denunciando esta “teologia da opressão”. No entanto, o texto que nos é hoje proposto está integrado na segunda parte do livro (que a maior parte dos comentadores admite não vir de Miqueias, mas sim de um profeta anónimo da época do exílio na Babilónia), onde se apresenta um conjunto de oráculos de salvação, destinados a animar a esperança do Povo (cap. 4-5).

    MENSAGEM

    O texto que nos é proposto retoma as promessas messiânicas. Num quadro de injustiça e de sofrimento – e, portanto, de frustração e de desânimo – o profeta anuncia a chegada de um personagem, no futuro, que reinará sobre o Povo de Deus. Esse personagem, enviado por Deus, será da descendência davídica, supondo-se, portanto, que poderá restaurar esse tempo de paz, de justiça e de abundância que o Povo de Deus conheceu na época ideal do rei David. A última frase desta leitura (“Ele será a Paz”) define o conteúdo concreto desta esperança: a palavra “shalom” aqui utilizada significa tranquilidade, ausência de violência e de conflito, mas também bem-estar, abundância de vida, numa palavra, felicidade plena.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão deste texto pode fazer-se de acordo com os seguintes pontos:

    • A releitura cristã vê nesta promessa de Deus veiculada por Miqueias uma referência a Jesus, o descendente de David, nascido em Belém. A missão de Jesus não passa, no entanto, pela instauração do trono político de David (um reino que se impõe pela força, pela riqueza, pelas jogadas políticas e diplomáticas), mas sim pela proposta de um reino de paz e de amor no coração dos homens.

    • Os cristãos, seguidores de Jesus, são a comunidade que aceitou o convite para integrar esse “reino” de paz e de amor que Jesus veio propor. É esse o “reino” que nos esforçamos por construir? Somos, verdadeiramente, comprometidos com a causa da paz, preocupamo-nos em eliminar tudo aquilo que destrói a vida ou a dignidade de qualquer homem ou qualquer mulher? Como reagimos diante das injustiças, das arbitrariedades, do sofrimento, da miséria: com conformismo e medo, ou com o espírito profético de membros da comunidade do “reino” de Jesus?

    • A mensagem deste texto faz-nos constatar, também, a presença contínua de Deus na história humana. Apesar do egoísmo e do pecado dos homens, Deus continua a preocupar-Se connosco, a querer indicar-nos que caminhos percorrer para encontrar a felicidade. A vinda de Cristo, Aquele que é “a Paz”, insere-se nesta dinâmica.

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 79 (80)

    Refrão 1: Senhor nosso Deus, fazei-nos voltar,
    mostrai-nos o vosso rosto e seremos salvos.

    Refrão 2: Mostrai-nos, Senhor, o vosso rosto
    e seremos salvos.

    Pastor de Israel, escutai,
    Vós estais sobre os Querubins, aparecei.
    Despertai o vosso poder
    e vinde em nosso auxílio.

    Deus dos Exércitos, vinde de novo,
    olhai dos céus e vede, visitai esta vinha;
    protegei a cepa que a vossa mão direita plantou,
    o rebento que fortalecestes para Vós.

    Estendei a mão sobre o homem que escolhestes,
    sobre o filho do homem que para Vós criastes.
    Nunca mais nos apartaremos de Vós,
    fazei-nos viver e invocaremos o vosso nome.

    LEITURA II – Heb 10,5-10

    Leitura da Epístola aos Hebreus

    Irmãos:
    Ao entrar no mundo, Cristo disse:
    «Não quiseste sacrifício nem oblações,
    mas formaste-Me um corpo.
    Não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado.
    Então Eu diss
    e: ‘Eis-Me aqui;
    no livro sagrado está escrito a meu respeito:
    Eu venho, ó Deus, para fazer a tua vontade’».
    Primeiro disse: «Não quiseste sacrifícios nem oblações,
    não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado».
    E no entanto, eles são oferecidos segundo a Lei.
    Depois acrescenta: «Eis-Me aqui:
    Eu venho para fazer a tua vontade».
    Assim aboliu o primeiro culto
    para estabelecer o segundo.
    É em virtude dessa vontade
    que nós fomos santificados
    pela oblação do corpo de Jesus Cristo,
    feita de uma vez para sempre.

    AMBIENTE

    A “Carta aos Hebreus” é um texto anónimo, escrito, provavelmente, pouco antes do ano 70 e destinado a uma comunidade cristã constituída maioritariamente por cristãos vindos do judaísmo. É uma comunidade que já não é de fundação recente e onde o entusiasmo inicial parece ter dado lugar a uma fé “morninha” e pouco comprometida; a perspectiva de novas dificuldades provoca o desânimo; e começa a haver um real perigo de desvios doutrinais.
    A “carta” é uma apresentação do mistério de Cristo, sublinhando especialmente a dimensão sacerdotal da sua missão. Recorrendo à linguagem litúrgica judaica, o autor apresenta Jesus como o “sumo sacerdote” da nova “aliança”, que faz a mediação entre Deus e os homens. Na sequência, o autor aproveita para reflectir sobre a condição cristã que deriva da missão sacerdotal de Cristo: os crentes, postos em relação com o Pai por Cristo sacerdote, são inseridos nesse Povo sacerdotal que é a comunidade cristã e devem fazer da sua vida um contínuo sacrifício de louvor, de acção de graças e de amor.
    O texto que nos é proposto pertence à terceira parte da carta (Heb 5,11-10,39). Aí, o autor reflecte sobre os traços primordiais do sacerdócio de Cristo.

    MENSAGEM

    No mundo vétero-testamentário, quem queria celebrar a sua comunhão com Deus, ou manifestar a sua entrega absoluta a Deus, ou obter o perdão dos seus pecados, oferecia em sacrifício um animal, que o sacerdote entregava nas mãos de Jahwéh… No entanto, a inutilidade e a ineficácia destes sacrifícios tinha sido já afirmada pelos profetas (cf. Is 1,11-13; Jr 6,20; 7,22; Os 6,6; Am 5,21-25; Miq 6,6-8), porque se tratava de ritos externos, que nem sempre correspondiam a uma atitude sincera do coração do oferente.
    Pondo na boca de Jesus as palavras de um salmista (cf. Sl 40,7-9), o autor da “Carta aos Hebreus” afirma que, no mundo da nova “aliança”, não é já o sacrifício de animais que realiza a comunhão com Deus, a entrega absoluta do crente a Deus, o perdão dos pecados; é a encarnação de Jesus, a entrega total da vida do próprio Cristo, o seu respeito absoluto pelo projecto e pela vontade do Pai que permitem a aproximação e a relação do homem com Deus. Quem quiser descobrir o Pai e aproximar-se d’Ele, olhe para Jesus; porque Jesus ensinou-nos, com a sua obediência ao projecto do Pai, como deve ser essa relação de filiação com Deus.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão pode tocar, entre outros, os seguintes pontos:

    • A encarnação de Jesus e o seu “eis-Me aqui, Pai” correspondem ao projecto de Deus de aproximar os homens de Si, de estabelecer com eles uma relação de filiação e de amor. Nestes dias em que preparamos o Natal, somos convidados a contemplar a acção de um Deus que ama de tal forma os homens que envia ao nosso encontro o Filho, a fim de nos conduzir à comunhão com Ele.

    • O encontro com Deus não é feito a partir de rituais externos (as prendas, a comida, os cânticos, as procissões, as orações, as liturgias solenes, o incenso, os paramentos sumptuosos), mas é feito a partir de Cristo, o Filho que entrega a vida, a fim de que o projecto do Pai se torne presente na vida dos homens e de que os homens, aprendendo o amor e a entrega total, aceitem tornar-se “filhos de Deus”.

    • O encontro com Cristo significa aprender com Ele a obediência e a disponibilidade ao projecto de Deus. Como nos situamos, diante desta proposta: contam mais os nossos interesses pessoais (ainda que legítimos), ou o projecto de Deus?

    ALELUIA – Mt 1,38

    Aleluia. Aleluia.

    Eis a escrava do Senhor:
    faça-se em mim segundo a vossa palavra.

    EVANGELHO – Lc 1,39-47

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

    Naqueles dias,
    Maria pôs-se a caminho
    e dirigiu-se apressadamente para a montanha,
    em direcção a uma cidade de Judá.
    Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel.
    Quando Isabel ouviu a saudação de Maria,
    o menino exultou-lhe no seio.
    Isabel ficou cheia do Espírito Santo
    e exclamou em alta voz:
    «Bendita és tu entre as mulheres
    e bendito é o fruto do teu ventre.
    Donde me é dado
    que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor?
    Na verdade, logo que chegou aos meus ouvidos
    a voz da tua saudação,
    o menino exultou de alegria no meu seio.
    Bem-aventurada aquela que acreditou
    no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito
    da parte do Senhor».

    AMBIENTE

    O texto que nos é proposto faz parte do chamado “Evangelho da Infância”. Os estudos actuais falam do “Evangelho da Infância” como um género literário especial, que se pode chamar “homologese”: é um género que não pretende ser um relato fidedigno sobre acontecimentos, mas antes uma catequese destinada a proclamar as realidades salvíficas que a fé prega sobre Jesus (que Ele é o Messias, o Filho de Deus, o Deus connosco). Desenvolve-se em forma de narração e recorre às técnicas do midrash haggádico (uma técnica de leitura e de interpretação do Antigo Testamento usada pelos rabbis judeus na época em que foi escrito o Novo Testamento). A “homologese” utiliza, de preferência, tipologias: factos e pessoas do Antigo Testamento encontram a sua correspondência em factos e pessoas do Novo Testamento. Pelo meio, misturam-se elementos apocalípticos (aparições, anjos, sonhos), destinados a fazer avançar a narração e a explicitar as ideias teológicas e a catequese sobre Jesus. É esta mistura de elementos que podemos encontrar no Evangelho de hoje: mais do que uma informação “jornalística” sobre factos concretos, trata-se de uma catequese sobre Jesus, feita a partir de um conjunto de referências tiradas da mensagem e das promessas do Antigo Testamento.

    MENSAGEM

    A primeira referência vai para a indicação de que, à saudação de Maria, o menino (João Baptista) saltou de alegria no seio da mãe. Trata-se, evidentemente, de uma indicação teológica: para Lucas, Jesus é o Deus que vem ao encontro dos homens, e que tem uma mensagem de salvação/libertação que
    concretiza as promessas feitas por Deus aos antepassados; logo, a presença de Jesus provoca a alegria, o estremecimento gozoso de todos aqueles que esperam a concretização das promessas de Deus e que vêem na chegada de Jesus a realização das promessas de um mundo de justiça, de amor, de paz e de felicidade para todos os homens. Através de Jesus, Deus vai oferecer a salvação a todos; e isso provoca um estremecimento incontrolável de alegria, por parte de todos os que anseiam pela concretização das promessas de Deus.
    Temos, depois, a resposta de Isabel à saudação de Maria: “Bendita és tu entre as mulheres”. Trata-se de palavras que aparecem no “cântico de Débora” (cf. Jz 5,24) para celebrar Jael, a mulher que, apesar da sua fragilidade, foi o instrumento de Deus para libertar o Povo das mãos de Sísera, o opressor. Maria é, assim, apresentada – apesar da sua fragilidade – como o instrumento de Deus para concretizar a salvação/libertação dos homens.
    Finalmente, temos a resposta de Maria: “a minha alma enaltece o Senhor…”. A resposta de Maria retoma um salmo de acção de graças (cf. Sl 34,4), destinado a dar graças a Jahwéh porque protege os humildes e os salva, apesar da prepotência dos opressores. É um salmo de esperança e de confiança, que exalta a preocupação de Deus para com os pobres que são vítimas da injustiça e da opressão. Sugere-se, claramente, que a presença de Jesus, através dessa mulher simples e frágil que é Maria, é um sinal do amor de Deus, preocupado em trazer a libertação a todos os que são vítimas da prepotência e da injustiça dos homens. Com Jesus, chegou esse tempo novo de libertação, de paz e de felicidade anunciado pelos profetas.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão deste texto pode ter em conta os seguintes pontos:

    • A presença de Jesus neste mundo é, claramente, a concretização das promessas de salvação e de libertação feitas por Deus ao seu Povo. Com Jesus, anuncia-se a eliminação da opressão, da injustiça, de tudo aquilo que rouba e que limita a vida e a felicidade dos homens. Jesus, ao “nascer” entre nós, tem por missão propor um mundo onde a justiça, os direitos humanos, a dignidade, a vida e a felicidade das pessoas são absolutamente respeitados. Dizer que Jesus, hoje, nasce no nosso mundo significa propor esta mensagem libertadora e salvadora.

    • Nós, que somos no mundo o rosto vivo de Jesus, propomos esta boa notícia? Os pobres, os que sofrem, todos os que são vítimas de opressão e suspiram ansiosamente por um mundo novo encontram no nosso anúncio esta proposta? Esta mensagem libertadora é a nossa proposta fundamental, ou dispersamo-nos em propostas laterais (o dinheiro que a comunidade tem em caixa para construir novas igrejas, a apresentação dos novos paramentos, as “bocas” que atirámos aos nossos opositores na comunidade, as questões de organização), que dizem muito pouco acerca do essencial?

    • O “estremecimento” de alegria de João Baptista no seio de Isabel é o sinal de que o mundo espera com ânsia uma proposta verdadeiramente libertadora. Nós, os cristãos, somos verdadeiramente o veículo desta mensagem?

    • A proposta libertadora de Deus para os homens alcança o mundo através da fragilidade de uma mulher (recordar o contexto social de uma sociedade patriarcal, onde a mulher pertence à classe dos que não gozam de todos os direitos civis e religiosos) que aceita dizer “sim” a Deus. É necessário ter consciência de que é através dos nossos limites e da nossa fragilidade que Deus alcança os homens e propõe o seu projecto ao mundo.

    • Maria, após ter conhecimento de que vai acolher Jesus no seu seio, parte ao encontro de Isabel e fica com ela, solidária com ela, até ao nascimento de João. Temos consciência de que acolher Jesus é estar atento às necessidades dos irmãos, partir ao seu encontro, partilhar com eles a nossa amizade e ser solidário com as suas necessidades?

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 4º DOMINGO DO ADVENTO
    (adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao 4º Domingo do Advento, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. GESTO PARA A LITURGIA DA PALAVRA.
    Aproxima-se a noite da Palavra que se fez carne. No início da liturgia da Palavra, pode-se levar o leccionário em procissão, acompanhado de música que favoreça um clima de escuta e de pequenas velas que se podem colocar à volta do ambão. No fim da celebração, as velas podem ser levadas para junto do presépio, sublinhando-se assim a relação entre a Palavra proclamada no ambão e o Verbo que vem no Natal.

    3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

    No final da primeira leitura:
    “Deus fiel, nós Te bendizemos pela obra que cumpriste ao longo dos séculos. Nos momentos de inquietude, apoiaste o teu povo através dos profetas e anunciaste-lhe o envio do Messias.
    Confiamos-Te o nosso mundo, onde tantos homens vivem ainda na insegurança. Que a tua paz se estenda até aos confins da terra”.

    No final da segunda leitura:
    “Cristo Jesus, damos-Te graças pela tua vinda ao nosso mundo. Nela descobrimos o cumprimento das antigas oblações, porque Te ofereceste a Ti mesmo, dizendo: «Eis-Me aqui. Eu venho, ó Deus, para fazer a tua vontade».
    Pela Eucaristia, Tu nos envolves na tua oblação. Santifica-nos pelo teu Espírito, abre os nossos corações à procura da tua vontade de salvação”.

    No final do Evangelho:
    “Deus nosso Pai, nós Te louvamos pela felicidade que nos dás com a tua visita. Felizes aqueles que acreditam no cumprimento das palavras que nos diriges nas leituras de cada domingo.
    Confiamos-Te os casais jovens que preparam a vinda de um filho e todas as pessoas que se dedicam totalmente ao cuidado dos seus filhos”.

    4. BILHETE DE EVANGELHO.
    Jesus poderia ter nascido em Nazaré, mas o recenseamento decretado pelo imperador Augusto obriga Maria e José a deslocarem-se: é em Belém que nasce o Messias. Jesus poderia ter nascido na sala comum, mas aí não havia lugar para Ele: é na manjedoira que Ele nasce. A notícia poderia ter sido anunciada aos grandes deste mundo e aos religiosos da época: é aos pastores que é anunciado o nascimento do Salvador. Compreendemos o seu medo, mas o mensageiro de Deus dá-lhes confiança. O sinal da vinda de Deus ao meio d
    os homens poderia ter sido um sinal maravilhoso, extraordinário, mas é o menino nascido numa manjedoira que é o sinal oferecido aos pastores, primeiras testemunhas do Emanuel, Deus connosco. O silêncio da noite e a serenidade do presépio parecem ser perturbados pela numerosa turba celestial que louva Deus. Com o menino de Belém, a glória de Deus manifesta-se e a paz é oferecida aos homens que Deus ama.

    5. À ESCUTA DA PALAVRA.
    A Palavra, evidentemente, está no centro da festa de Natal, pois “a Palavra de Deus fez-se carne e habitou entre nós”. Dizemos “Palavra do Senhor”, “Palavra da salvação”! Convite a anunciar a Palavra de Deus… Diz a sabedoria popular com razão: “A palavra é de prata, mas o silêncio é de oiro”. Deus, melhor do que ninguém, conhece e põe em prática este provérbio! Quando envia a Palavra aos homens, começa por um silêncio… Os anjos anunciam, José e Maria fazem silêncio… assim como menino recém-nascido, após os normais gritos do nascimento… O coração do Natal é, acima de tudo, um grande silêncio. Aparte o episódio dos 12 anos de Jesus na sua adolescência, os Evangelhos não nos transmitem qualquer palavra de Jesus durante cerca de 30 anos. E, para terminar, o silêncio de Jesus na cruz… E agora, hoje, muitas vezes Deus continua a calar-se… Deus quer, antes de mais, dar-nos o seu silêncio, estabelecer entre Ele e nós um espaço de silêncio… Falamos demasiado… Eis porque Deus começa por se calar, para que o seu próprio silêncio se torne mensagem, convite a nos tornarmos atentos à sua presença. Nesta noite de Natal, procuremos estar unidos ao silêncio de José, de Maria e de Jesus. Assim, talvez ouçamos, nós também, no fundo do nosso coração, uma música muito doce, como um murmúrio de Deus que vem dizer-nos que, nesta noite, é dentro de nós que Ele quer nascer!

    6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
    Pode-se escolher a Oração Eucarística III. Está bem presente o tema da oblação de Cristo, evocada na segunda leitura.

    7. PALAVRA PARA O CAMINHO…
    Desde a concepção de Jesus, são duas mulheres que testemunham, antes de qualquer outro, a sua esperança enfim cumprida: Isabel e Maria. São ainda mulheres as primeiras a testemunhar o segundo nascimento de Jesus na manhã de Páscoa! Felizes aquelas que acreditaram no cumprimento das palavras que lhes foram ditas da parte do Senhor! Em vésperas de Natal, sejamos apressados, como Maria: ponhamo-nos a caminho rapidamente! E que algo faça mexer e estremecer em nós: as palavras que nos foram ditas da parte do Senhor, vamos levá-las aos irmãos que vivem sem esperança.

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
    Tel. 218540900 – Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org

  • Missa da meia-noite do Natal do Senhor – Ano C

    Missa da meia-noite do Natal do Senhor – Ano C


    24 de Dezembro, 2021

    ANO C
    NATAL DO SENHOR – MISSA DA MEIA-NOITE

    Tema da “missa da meia-noite” do Natal do Senhor

    O tema desta Eucaristia pode resumir-se na expressão “o povo que andava nas trevas viu uma grande luz”.
    A primeira leitura anuncia a chegada de um menino, da descendência de David, dom de Deus para o Povo, que eliminará as causas objectivas de sofrimento, de injustiça e de morte, e inaugurará uma era de alegria, de felicidade e de paz sem fim.
    O Evangelho apresenta a concretização da promessa profética: Jesus, o menino de Belém, é o Deus que vem ao encontro dos homens para lhes oferecer – sobretudo aos mais pobres e débeis – a salvação. Não se trata de uma salvação imposta, mas de uma salvação oferecida com ternura e amor.
    A segunda leitura lembra que acolher a salvação de Deus, tornada presente na história dos homens em Jesus, significa renunciar aos valores do mundo, sempre que eles estejam em contradição com a proposta do menino de Belém.

    LEITURA I – Is 9,1-6

    Leitura do Livro de Isaías

    O povo que andava nas trevas viu uma grande luz;
    para aqueles que habitavam nas sombras da morte
    uma luz começou a brilhar.
    Multiplicastes a sua alegria,
    aumentastes o seu contentamento.
    Rejubilam na vossa presença,
    como os que se alegram no tempo da colheita,
    como exultam os que repartem despojos.
    Vós quebrastes, como no dia de Madiã,
    o jugo que pesava sobre o povo,
    o madeiro que ele tinha sobre os ombros
    e o bastão do opressor.
    Todo o calçado ruidoso da guerra
    e toda a veste manchada de sangue
    serão lançados ao fogo e tornar-se-ão pasto das chamas.
    Porque um menino nasceu para nós,
    um filho nos foi dado.
    Tem o poder sobre os ombros
    e será chamado «Conselheiro admirável, Deus forte,
    Pai eterno, Príncipe da paz».
    O seu poder será engrandecido numa paz sem fim,
    sobre o trono de David e sobre o seu reino,
    para o estabelecer e consolidar por meio do direito e da justiça,
    agora e para sempre.
    Assim o fará o Senhor do Universo.

    AMBIENTE

    O texto que nos é apresentado faz parte dos “oráculos messiânicos” atribuídos ao profeta Isaías. Não é seguro se se trata de um texto de Isaías, ou de um texto posterior à época do profeta, enxertado pelos editores finais da obra na mensagem de Isaías.
    Se for de Isaías, pode pertencer à fase final da actividade do profeta (inícios do séc. VII a.C.). Por essa altura, o rei Ezequias, ignorando os avisos de Isaías, continua a jogar no xadrez político internacional e a alinhar em alianças contra os assírios, enviando embaixadas ao Egipto, à Fenícia e à Babilónia, a fim de consolidar uma frente anti-assíria. O profeta, desiludido com essas iniciativas (que considera um abandono de Deus e um colocar a confiança e a esperança, não em Jahwéh, mas nos exércitos estrangeiros), começa a sonhar com um tempo novo, sem imperialismos, sem guerra nem armas, e onde reinam a justiça e o direito.
    O “menino” aqui anunciado, da descendência de David, pode também estar em relação com o “sinal do Emanuel” de que o profeta fala ao rei Acaz em Is 7,14-17. Seja como for, é um texto que dá fôlego à corrente messiânica e que alimenta a esperança de Israel num futuro novo de paz e de felicidade para o Povo de Deus.

    MENSAGEM

    Para descrever esse tempo novo de alegria e de felicidade que, no futuro, Jahwéh prepara para o seu Povo, o profeta utiliza imagens muito sugestivas: será como no tempo da colheita, quando todo o Povo dança feliz pela abundância dos alimentos; será como após uma caçada coroada de êxito, quando os caçadores dividem com alegria a presa.
    Porquê esta alegria, celebrada na festa? Porque a guerra, a injustiça, a violência e a opressão foram vencidos e vai ser inaugurada uma nova era, de vida, de abundância, de paz e de felicidade para todos.
    Quem é responsável por esta “nova ordem”? Na linguagem de Isaías, é “um menino”, enviado por Deus com a missão de restaurar o trono de David, que reinará no direito e na justiça (“mishpat/zedaqa”: estas palavras evocam, na linguagem profética, uma sociedade onde as decisões dos tribunais fundamentam uma recta ordem social, onde os direitos de todos são respeitados e onde não há lugar para a exploração e a injustiça). O quádruplo nome desse “menino” evoca títulos de Deus ou qualidades divinas: o título “conselheiro maravilhoso” celebra a capacidade de conceber desígnios prodigiosos e é um atributo de Deus – cf. Is 25,1; 28,29; o título “Deus forte” é um nome do próprio Deus – cf. Dt 10,17; Jr 32,18; Sl 24,8; o título “príncipe da paz” leva também a Jahwéh, aquele que é “a Paz” – cf. Is 11,6-9; Mi 5,4; Zac 9,10; Sl 72,3.7. Quanto ao título “Pai eterno”, é um título do rei – cf. 1 Sm 24,12 – e é um título dado ao faraó pelos seus vassalos, nomeadamente nas cartas de Tell el-Amarna. Fica, assim, claro que esse “menino” é um dom de Deus ao seu Povo e que, com ele, Deus residirá no meio do seu Povo, outorgando-lhe a justiça e a felicidade para sempre.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão e actualização da mensagem deste texto podem fazer-se de acordo com as seguintes coordenadas:

    ¨ É Jesus que dá sentido a esta “profecia messiânica”. Ele é o “menino” anunciado por Isaías, dom de Deus aos homens para inaugurar o mundo do direito e da justiça, da paz e da felicidade para todos. O nascimento de Jesus significa que, efectivamente, este “reino” incarnou no meio dos homens. Jesus chamou a este mundo proposto por Deus, “reino de Deus”. Em que medida este “reino”, semeado por Jesus, foi acolhido pelos homens e se tornou uma realidade viva, a crescer na nossa história?

    ¨ E nós, cristãos, que acolhemos Jesus como a concretização das promessas de Deus, lutamos pela efectivação deste “reino” de justiça e de paz? Como lidamos com tudo o que é exploração, injustiça, egoísmo, violência e morte? Qual a mensagem que propomos a esse mundo que exalta e cultiva a exploração, o egoísmo e a injustiça?

    ¨ Reparemos no “jeito de Deus”: Ele não Se serve da força e do poder para intervir na história e realizar a salvação; mas é através de um “menino”, na sua fragilidade e dependência, que Deus propõe aos homens um projecto revolucionário de salvação/libertação. Temos consciência de que é na simplicidade e na humildade que Deus age no mundo? E nós? Seguimos os passos de Deus e respeitamos a sua lógica quando queremos propor algo aos nossos irmãos?

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 95 (96)

    Refrão: Hoje nasceu o nosso salvador, Jesus Cristo, Senhor.

    Cantai ao Senhor um cântico novo,
    cantai ao Senhor, terra inteira,
    cantai ao Senhor, bendizei o seu nome.

    Anunciai dia a dia a sua salvação,
    publicai entre as nações a sua glória,
    em todos os povos as suas maravilhas.

    Alegrem-se os céus, exulte a terra,
    ressoe o mar e tudo o que ele contém,
    exultem os campos e quanto neles existe,
    alegrem-se as árvores das florestas.

    Diante do Senhor que vem,
    que vem para julgar a terra:
    julgará o mundo com justiça
    e os povos com fidelidade.

    LEITURA II – Tito 2,11-14

    Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo a Tito

    Caríssimo:
    Manifestou-se a graça de Deus,
    fonte de salvação para todos os homens.
    Ele nos ensina a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos,
    para vivermos, no tempo presente,
    com temperança, justiça e piedade,
    aguardando a ditosa esperança e a manifestação da glória
    do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo,
    que Se entregou por nós,
    para nos resgatar de toda a iniquidade
    e preparar para Si mesmo um povo purificado,
    zeloso das boas obras.

    AMBIENTE

    A “Carta a Tito” dirige-se, presumivelmente, a esse Tito que foi convertido por Paulo (cf. Tt 1,4), que acompanhou o apóstolo ao Concílio de Jerusalém (cf. Ga 2,1-2), que esteve com Paulo em Éfeso e que, por duas vezes, foi enviado por Paulo a Corinto com missões delicadas, numa altura que o ânimo dos coríntios estava exaltado contra Paulo (cf. 2 Cor 7,6-7; 8,16-17). O autor desta carta sugere que Paulo, na parte final da sua vida, teria confiado a Tito a animação da Igreja de Creta (cf. Tt 1,5).
    A “Carta a Tito”, no geral, parece ser um texto tardio, quando a preocupação fundamental das comunidades cristãs já não se centrava na vinda iminente do Senhor, mas em definir a conduta dos cristãos no tempo presente. Depois de apresentar uma série de conselhos práticos (para os anciãos, para os jovens, para os escravos – cf. Tt 2,1-10), o autor da carta procura fundamentar a prática cristã nos sólidos fundamentos da fé. É neste contexto que aparece a leitura que nos é proposta.

    MENSAGEM

    Porque é que os anciãos, os jovens e os escravos (isto é, a totalidade dos membros da comunidade crente) devem pautar a sua vida pelas referências cristãs? Porque “manifestou-se a graça (“kharis”) de Deus, fonte de salvação para todos os homens. Ele nos ensina a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos para vivermos, (…) com temperança, justiça e piedade, aguardando (…) a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo” (Tt 2,12-13).
    O amor de Deus – tantas vezes e de tantas formas manifestado na história – tem, pois, um projecto de salvação que foi apresentado aos homens na vida, nas palavras, nos gestos e na morte/ressurreição de Jesus Cristo. Esse projecto convida-nos a ter um olhar crítico sobre os valores que o mundo propõe e a ser sensíveis aos valores apresentados por Deus, em Jesus. Acolher esse projecto de amor e viver em consequência é a forma de aguardar, na esperança, a vinda de Jesus.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão e actualização da segunda leitura de hoje podem fazer-se a partir dos seguintes pontos:

    ¨ Temos consciência do amor de Deus e que a incarnação de Jesus é o sinal mais expressivo desse amor por nós?

    ¨ Aprendemos, com Jesus, a ter um olhar crítico sobre os valores que o mundo nos propõe e a confrontar, dia a dia, a nossa vida com os valores do Evangelho?

    ¨ É assumindo e percorrendo caminhos de simplicidade, de justiça e de comunhão com Deus que aguardamos a “vinda” de Jesus?

    ALELUIA – Lc 2,10-11

    Aleluia. Aleluia.

    Anuncio-vos uma grande alegria:
    Hoje nasceu o nosso salvador, Jesus Cristo, Senhor.

    EVANGELHO – Lc 2,1-14

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

    Naqueles dias,
    saiu um decreto de César Augusto,
    para ser recenseada toda a terra.
    Este primeiro recenseamento efectuou-se
    quando Quirino era governador da Síria.
    Todos se foram recensear, cada um à sua cidade.
    José subiu também da Galileia, da cidade de Nazaré,
    à Judeia, à cidade de David, chamada Belém,
    por ser da casa e da descendência de David,
    a fim de se recensear com Maria, sua esposa,
    que estava para ser mãe.
    Enquanto ali se encontravam,
    chegou o dia de ela dar à luz,
    e teve o seu Filho primogénito.
    Envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura,
    porque não havia lugar para eles na hospedaria.
    Havia naquela região uns pastores que viviam nos campos
    e guardavam de noite os rebanhos.
    O Anjo do Senhor aproximou-se deles
    e a glória do Senhor cercou-os de luz;
    e eles tiveram grande medo.
    Disse-lhes o Anjo: «Não temais,
    porque vos anuncio uma grande alegria para todo o povo:
    nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador,
    que é Cristo Senhor.
    Isto vos servirá de sinal:
    encontrareis um Menino recém-nascido,
    envolto em panos e deitado numa manjedoura».
    Imediatamente juntou-se ao Anjo
    uma multidão do exército celeste,
    que louvava a Deus, dizendo:
    «Glória a Deus nas alturas
    e paz na terra aos homens por Ele amados».

    AMBIENTE

    É duvidoso que Quirino, como governador, tenha ordenado um recenseamento na época em que Jesus nasceu (só por volta do ano 6 d.C. é que ele se tornou governador da Síria, embora possa ter sido “legado” romano na Síria entre 12 e 8 a.C. Pode, realmente, nessa altura, ter ordenado um recenseamento que teve efeitos práticos na Palestina por volta dos anos 6/7 a.C., altura do nascimento de Jesus). De qualquer forma, Lucas não está a escrever “história”, mas a fazer teologia e a apresentar uma catequese sobre Jesus, o Filho de Deus prometido, que veio ao encontro dos homens para lhes apresentar uma proposta de salvação.
    Com estas indicações de carácter histórico, Lucas está interessado em situar o nascimento de Jesus numa época e num espaço concreto, sugerindo que não se trata de um acontecimento lendário, mas de algo perfeitamente integrado na história e na vida dos homens.

    MENSAGEM

    A primeira indicação vem da referência a Belém como o lugar efectivo do nascimento de Jesus… Lucas sugere, assim, que este Jesus é o Messias, da descendência de David, anunciado pelos profetas (cf. Miq 5,1). Fica, desde já, claro que o nascimento de Jesus se integra no plano de salvação que Deus tem para os homens – plano que os profetas anunciaram e cuja realização o Povo de Deus aguardava ansiosamente.
    São também importantes os elementos que definem a simplicidade do quadro do nascimento – a manjed
    oira, a falta de lugar na hospedaria, os panos que envolvem a criança, as testemunhas do acontecimento (os pastores): é na pobreza, na simplicidade, na fragilidade que Deus vem ao encontro dos homens para lhes propor um projecto de salvação e de felicidade. Não é um projecto imposto do alto de um trono, pela força de um ceptro ou pelo poder das armas, do dinheiro ou da comunicação social; mas é uma proposta que chega ao coração dos homens através da simplicidade, da fraqueza e da ternura de um “menino”. É assim que Deus entra na nossa história; é assim a lógica de Deus.
    Finalmente, detenhamo-nos nas “testemunhas” do nascimento: os pastores. Trata-se de gente considerada violenta e marginal, que invadia com os rebanhos as propriedades alheias e que tinha fama de se apropriar da lã, do leite e das crias dos rebanhos. Os pastores eram, com frequência, colocados ao lado dos publicanos e dos cobradores de impostos, todos incapazes de reconhecer a quem tinham prejudicado e, portanto, incapazes de oferecer uma reparação. Lucas coloca, precisamente, estes marginais como as “testemunhas” que acolhem a chegada de Jesus ao mundo. É para estes pecadores e marginalizados que a chegada de Jesus é uma “boa notícia”, recebida com alegria: chegou a salvação/libertação; a partir de agora os pobres, os débeis, os marginalizados e os pecadores são convidados a integrar essa comunidade dos filhos amados de Deus. Sugere-se que Deus não os rejeita nem marginaliza, mas quer apresentar-lhes uma proposta de salvação que os leve a integrar a comunidade da Nova Aliança, a comunidade do Reino.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão deste texto pode seguir as seguintes indicações:

    ¨ O menino de Belém leva-nos a contemplar o incrível amor de um Deus que Se preocupa com a vida e a felicidade dos homens e que envia o próprio Filho ao encontro dos homens para lhes apresentar um projecto da salvação/libertação. Nesse menino de Belém, Deus grita-nos a radicalidade do seu amor por nós.

    ¨ O presépio apresenta-nos a lógica de Deus que não é, tantas vezes, igual à lógica dos homens: a salvação de Deus não se manifesta na força das armas, na autoridade prepotente, nos gabinetes ministeriais, nos conselhos das empresas, nos salões onde se concentram as estrelas do “jet-set”, mas numa gruta de pastores onde brilha a fragilidade, a ternura, a simplicidade, a dependência de um bebé recém-nascido. Qual é a lógica com que abordamos o mundo – a lógica de Deus ou a lógica dos homens?

    ¨ A presença libertadora de Jesus neste mundo é uma “boa notícia” que devia encher de felicidade os pobres, os débeis, os marginalizados, e dizer-lhes que Deus veio ao seu encontro para lhes propor a salvação/libertação. É essa a proposta que nós, os seguidores de Jesus, passamos ao mundo? Nós, Igreja, não estaremos demasiado ocupados a discutir questões laterais (poderiam abundar exemplos…), esquecendo o essencial (o anúncio libertador aos pobres)?

    ¨ Jesus – o Jesus da justiça, do amor, da fraternidade e da paz – já nasceu de forma efectiva na vida de cada um de nós, nas nossas famílias, nas nossas comunidades cristãs, nas nossas casas religiosas?

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
    Tel. 218540900 – Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org

  • Missa do dia do Natal do Senhor – Ano C

    Missa do dia do Natal do Senhor – Ano C


    25 de Dezembro, 2021

    ANO C
    NATAL DO SENHOR – MISSA DO DIA

    Tema da “missa do dia” do Natal do Senhor

    O tema desta Eucaristia pode girar à volta da expressão “a Palavra fez-se carne e habitou entre nós”.
    A primeira leitura anuncia a chegada de Deus ao meio do seu Povo. Ele é o rei que traz a paz e a salvação, proporcionando ao Povo de Deus uma era de felicidade sem fim. O profeta convida, pois, a substituir a tristeza pela alegria e pelos gritos de vitória.
    A segunda leitura apresenta, em traços largos, o plano salvador de Deus. Insiste, sobretudo, que esse projecto alcança o seu ponto mais alto com o envio de Jesus, a “Palavra” de Deus que os homens devem escutar e acolher.
    O Evangelho desenvolve o tema esboçado na segunda leitura e apresenta a “Palavra” viva de Deus, tornada pessoa em Jesus. Sugere que a missão do Filho/“Palavra” é completar a criação primeira, eliminando tudo aquilo que se opõe à vida e criando condições para que nasça o homem novo, o homem da vida em plenitude, o homem que vive uma relação filial com Deus.

    LEITURA I – Is 52,7-10

    Leitura do Livro de Isaías

    Como são belos sobre os montes
    os pés do mensageiro que anuncia a paz,
    que traz a boa nova, que proclama a salvação
    e diz a Sião: «o teu Deus é Rei».
    Eis o grito das tuas sentinelas que levantam a voz.
    Todas juntas soltam brados de alegria,
    porque vêem com os próprios olhos
    o Senhor que volta para Sião.
    Rompei todas em brados de alegria, ruínas de Jerusalém,
    porque o Senhor consola o seu povo,
    resgata Jerusalém.
    O Senhor descobre o seu santo braço à vista de todas as nações,
    e todos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus.

    AMBIENTE

    O Deutero-Isaías, autor deste texto, é um profeta que exerce a sua missão entre os exilados da Babilónia, procurando consolar e manter acesa a esperança no meio de um povo desiludido e decepcionado, porque a libertação tarda. Os capítulos que recolhem a sua mensagem (Is 40-55) chamam-se, por isso, “Livro da Consolação”.
    Este texto está integrado na segunda parte do “Livro da Consolação” (Is 49-55). Aí, o profeta (que na primeira parte – Is 40-48 – havia, sobretudo, anunciado a libertação do cativeiro e um “novo êxodo” do Povo de Deus, rumo à Terra Prometida) fala da reconstrução e da restauração de Jerusalém. O profeta garante que Deus não Se esqueceu da sua cidade em ruínas e vai voltar a fazer dela uma cidade bela e cheia de vida, como uma noiva em dia de casamento. É neste quadro que podemos situar a primeira leitura de hoje.

    MENSAGEM

    À cidade em ruínas, chega o mensageiro que traz a “boa notícia” da paz (“shalom”: paz, bem-estar, harmonia, felicidade). Ele anuncia a “salvação” e proclama o reinado de Deus sobre o seu Povo e a sua cidade. Terminou, portanto, o sofrimento e a opressão. “Salvação” e “reinado de Deus” estão em paralelo: a “salvação” chega porque Deus se assume como Rei. Ele não reinará à maneira dos reis que conduziram o Povo por caminhos de morte e de desgraça; mas exercerá a realeza de forma a proporcionar a “salvação”, isto é, inaugurando uma era de paz, de bem-estar e de felicidade sem fim.
    O poeta põe as sentinelas da cidade a olhar todas nessa direcção por onde deverá chegar o Senhor. O grito das sentinelas não é de alarme, mas é de alegria contagiante: eles vêem o próprio Senhor regressar ao encontro da sua cidade. Com Deus, Jerusalém voltará a ser uma cidade bela e harmoniosa, cheia de alegria e de festa. O poeta convida as próprias pedras da cidade em ruínas a cantar em coro, porque a redenção chegou. E essa salvação será testemunhada por toda a terra, como se o mundo estivesse de olhos postos na acção vitoriosa de Deus em favor do seu Povo.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão deste texto profético poderá fazer-se a partir dos seguintes elementos:

    ¨ A alegria pela libertação do cativeiro da Babilónia e pela “salvação” que Deus oferece ao seu Povo e à sua cidade anuncia essa outra libertação, plena e total, que Deus vai oferecer ao seu Povo através de Jesus. O nascimento de Jesus – o Deus que veio ao encontro do seu Povo e da sua cidade com uma proposta de salvação – diz-nos que a opressão terminou e que o “reinado de Deus” alcançou a nossa história.

    ¨ A alegria contagiante das sentinelas e os brados de contentamento das próprias pedras da cidade convidam-nos a acolher na alegria o Deus que veio visitar-nos: com a sua presença no meio de nós, começa a concretizar-se essa libertação plena prometida por Deus. É essa alegria que nos anima?

    ¨ As sentinelas atentas que, nas montanhas em redor de Jerusalém, identificam a chegada do Deus libertador são um modelo para nós: convidam-nos a ler, atentamente, os sinais e a anunciar ao mundo a chegada de Jesus. Somos sentinelas atentas que descobrem os sinais do Senhor nos caminhos da história e anunciam o seu “reinado”?

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 97 (98)

    Refrão: Todos os confins da terra
    viram a salvação do nosso Deus.

    Cantai ao Senhor um cântico novo
    pelas maravilhas que Ele operou.
    A sua mão e o seu santo braço
    Lhe deram a vitória.

    O Senhor deu a conhecer a salvação,
    revelou aos olhos das nações a sua justiça.
    Recordou-Se da sua bondade e fidelidade
    em favor da casa de Israel.

    Os confins da terra puderam ver
    a salvação do nosso Deus.
    Aclamai o Senhor, terra inteira,
    exultai de alegria e cantai.

    Cantai ao Senhor ao som da cítara,
    ao som da cítara e da lira;
    ao som da tuba e da trombeta,
    aclamai o Senhor, nosso Rei.

    LEITURA II – Heb 1,1-6

    Leitura da Epístola aos Hebreus

    Muitas vezes e de muitos modos
    falou Deus antigamente aos nossos pais, pelos Profetas.
    Nestes dias, que são os últimos,
    falou-nos por seu Filho,
    a quem fez herdeiro de todas as coisas
    e pelo qual também criou o universo.
    Sendo o Filho esplendor da sua glória
    e imagem da sua substância,
    tudo sustenta com a sua palavra poderosa.
    Depois de ter realizado a purificação dos pecados,
    sentou-Se à direita da Majestade no alto dos Céus
    e ficou tanto acima dos Anjos
    quanto mais sublime que o deles
    é o nome que recebeu em herança.
    A qual dos Anjos, com efeito, disse Deus alguma vez:
    «Tu és meu Filho, Eu hoje Te gerei?»
    E ainda:
    «Eu serei para Ele um Pai,
    e Ele será para Mim um Filho»?
    E de novo,
    quando introduziu no mundo o seu Primogénito, disse:
    «Adorem-
    n’O todos os Anjos de Deus».

    AMBIENTE

    A “Carta aos Hebreus” é um sermão, mais do que uma carta, onde um autor anónimo procura voltar a despertar a fé da comunidade crente, afectada pela falta de entusiasmo, pelas dificuldades e pelas doutrinas heréticas. Destinado a uma comunidade cristã constituída maioritariamente por cristãos vindos do judaísmo, utiliza a linguagem litúrgica judaica para apresentar Jesus: Ele é, fundamentalmente, o “sumo-sacerdote” da Nova Aliança, Aquele que veio ao mundo para realizar a comunhão definitiva entre Deus e os homens.
    O texto que nos é proposto como primeira leitura pertence ao prólogo do sermão. Nesse prólogo, o pregador apresenta-nos uma visão global, uma orientação e as coordenadas fundamentais que vai desenvolver ao longo do sermão.

    MENSAGEM

    A segunda leitura resume a história da salvação. Deus é o sujeito, o primeiro protagonista de tudo. Esse Deus, que criou e deu forma a tudo o que existe, tem um projecto de salvação para o homem; por isso, falou em palavras humanas, rompeu as distâncias, aproximou-Se do homem. Numa primeira fase, Ele falou através dos seus porta-vozes – os profetas – apresentando aos homens a sua proposta de salvação; mas, no nosso tempo, falou-nos através do seu próprio Filho, fazendo d’Ele a Palavra plena, definitiva, perfeita, que nos diz o caminho da salvação.
    O Filho identifica-Se plenamente com o Pai e, como o Pai, tem um senhorio pleno sobre toda a realidade. Ele é superior aos anjos, pois é esplendor da glória do Pai, imagem do ser do Pai, a reprodução exacta e viva da substância do Pai. Os homens devem, portanto, estar atentos ao Filho/Palavra, pois Ele transmite de forma perfeita a proposta salvadora que o Pai quer fazer aos homens.

    ACTUALIZAÇÃO

    Na reflexão e actualização da Palavra, convém ter em conta os seguintes elementos:

    ¨ Celebrar o nascimento de Jesus é, em primeiro lugar, contemplar o amor de um Deus que rompeu as distâncias e veio ao encontro do homem, apesar da infidelidade e das recusas do homem. No dia de Natal, nunca será demais insistir nisto: o Deus em quem acreditamos é o Deus do amor e da relação, que continua a nascer no mundo, a apostar no homem, a querer dialogar com ele, a encontrar-Se com ele, e que não desiste de um projecto de felicidade para o homem que criou.

    ¨ Jesus Cristo é a Palavra viva e definitiva de Deus, que revela aos homens o caminho da salvação. Celebrar o seu nascimento é acolher essa Palavra. “Escutar” essa Palavra é acolher o projecto que Jesus veio apresentar-nos e fazer dela a nossa referência, o critério fundamental que orienta as nossas opções. A Palavra viva de Deus (Jesus) é, de facto, a nossa referência e orienta as nossas opções? Os valores do Evangelho são os nossos valores? É preciso escutar essa Palavra viva e ver nela a Palavra perfeita, plena e definitiva com que Deus nos diz que caminho percorrer.

    ALELUIA

    Aleluia. Aleluia.

    Santo é o dia que nos trouxe a luz.
    Vinde adorar o Senhor.
    Hoje, uma grande luz desceu sobre a terra.

    EVANGELHO – Jo 1,1-18

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

    No princípio era o Verbo
    e o Verbo estava com Deus
    e o Verbo era Deus.
    No princípio, Ele estava com Deus.
    Tudo se fez por meio d’Ele
    e sem Ele nada foi feito.
    N’Ele estava a vida
    e a vida era a luz dos homens.
    A luz brilha nas trevas
    e as trevas não a receberam.
    Apareceu um homem enviado por Deus, chamado João.
    Veio como testemunha,
    para dar testemunho da luz,
    a fim de que todos acreditassem por meio dele.
    Ele não era a luz,
    mas veio para dar testemunho da luz.
    O Verbo era a luz verdadeira,
    que, vindo ao mundo, ilumina todo o homem.
    Estava no mundo,
    e o mundo, que foi feito por Ele, não O conheceu.
    Veio para o que era seu
    e os seus não O receberam.
    Mas, àqueles que O receberam e acreditaram no seu nome,
    deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.
    Estes não nasceram do sangue,
    nem da vontade da carne, nem da vontade do homem,
    mas de Deus.
    E o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós.
    Nós vimos a sua glória,
    glória que Lhe vem do Pai como Filho Unigénito,
    cheio de graça e de verdade.
    João dá testemunho d’Ele, exclamando:
    «É deste que eu dizia:
    ‘O que vem depois de mim passou à minha frente,
    porque existia antes de mim’».
    Na verdade, foi da sua plenitude que todos nós recebemos
    graça sobre graça.
    Porque, se a Lei foi dada por meio de Moisés,
    a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo.
    A Deus, nunca ninguém O viu.
    O Filho Unigénito, que está no seio do Pai,
    é que O deu a conhecer.

    AMBIENTE

    A Igreja primitiva recorreu, frequentemente, a hinos para celebrar, expressar e anunciar a sua fé. O prólogo ao Evangelho de João que hoje nos é proposto é um bom exemplo disso mesmo. Não é certo se este hino foi composto por João, ou se o autor do Quarto Evangelho usou um primitivo hino cristão conhecido da comunidade joânica, adaptando-o de forma a que ele servisse de prólogo a esse texto tão peculiar que é o Evangelho segundo João. O que é certo é que o hino cristológico que chegou até nós expressa, em forma de confissão, a fé da comunidade joânica em Cristo enquanto Palavra, a sua origem eterna, a sua procedência divina, a sua influência no mundo e na história, possibilitando a quantos O aceitam ser “filhos de Deus”. Essas grandes linhas aqui enunciadas vão ser desenvolvidas depois pelo evangelista ao longo da sua obra.

    MENSAGEM

    Ao usar a expressão “no princípio”, João enlaça o seu Evangelho com o relato da criação (cf. Gn 1,1), oferecendo-nos assim, desde logo, uma chave de interpretação para o seu escrito. Aquilo que ele vai narrar sobre Jesus está em relação com a obra criadora de Deus: em Jesus vai acontecer a definitiva intervenção criadora de Deus no sentido de dar vida ao homem e ao mundo… A actividade de Jesus, enviado do Pai, consiste em fazer nascer um homem novo; a sua acção coroa a obra criadora iniciada por Deus “no princípio”.
    João começa por apresentar a “Palavra” (“Lógos”). A “Palavra” é – de acordo com o autor do Quarto Evangelho – uma realidade anterior ao céu e à terra, implicada já na primeira criação. Esta “Palavra” apresenta-se, assim, com as características que o Livro dos Provérbios atribuía à “sabedoria”: pré-existência (cf. Prov 8,22-24) e colaboração com Deus na obra da criação (cf. Prov 8,24-30). No entanto, essa “Palavra” não só estava junto de Deus e colaborava com Deus, mas “era Deus”. Identifica-se totalmente com Deus,
    com o ser de Deus, com a obra criadora de Deus. É como que o projecto íntimo de Deus, que se expressa e se comunica como “Palavra”. Deus faz-Se inteligível através da “Palavra”. Essa “Palavra” é geradora de vida para o homem e para o mundo, concretizando o projecto de Deus.
    A “Palavra” veio ao encontro dos homens, fez-Se “carne” (pessoa). João identifica claramente a “Palavra” com Jesus, o “Filho único, cheio de amor e de verdade”, que veio ao encontro do homem. Nessa pessoa (Jesus), “cheio de amor e de verdade”, podemos contemplar o projecto ideal de homem, o homem que nos é proposto como modelo por Deus, a meta final da criação de Deus.
    Essa “Palavra” “montou a sua tenda no meio de nós”. O verbo “skênéô” (“montar a tenda”), aqui utilizado, alude à “tenda do encontro” que, na caminhada pelo deserto, os israelitas montavam no meio ou ao lado do acampamento e que era o local onde Deus residia no meio do seu Povo (cf. Ex 27,21; 28,43; 29,4…). Agora, a “tenda de Deus”, o lugar onde Ele habita no meio dos homens, é o homem/Jesus. Quem quiser encontrar Deus e receber d’Ele vida em plenitude (salvação), é para Jesus que se tem de voltar.
    A função dessa “Palavra” está ligada ao binómio vida/luz: comunicar ao homem vida em plenitude; ou, por outras palavras, trata-se de acender a luz que ilumina o caminho do homem, possibilitando-lhe encontrar a vida verdadeira, a vida plena, livre, total.
    Jesus Cristo vai, no entanto, deparar-Se com a oposição à vida/luz que Ele traz. Ao longo do Evangelho, João irá contando essa história do confronto da vida/luz com o sistema injusto e opressor que pretende manter os homens prisioneiros do egoísmo e do pecado (e que João identifica com a Lei. Os dirigentes judeus que enfrentam Jesus são o rosto visível dessa Lei). Recusar a vida/luz significa preferir continuar a caminhar nas trevas (na mentira, na escravidão), independentemente de Deus; significa recusar chegar a ser homem pleno, criação acabada.
    Mas o acolhimento da “Palavra” implica a participação na vida de Deus. João diz mesmo que acolher a “Palavra” significa tornar-se “filho de Deus”. Começa, para quem acolhe a “Palavra”/Jesus, uma nova relação entre o homem e Deus, aqui expressa em termos de filiação: Deus dá vida em plenitude ao homem, oferecendo-lhe, assim, uma qualidade de vida que potencia o seu ser e lhe permite crescer até à dimensão do homem novo, do homem acabado e perfeito. Isto é uma “nova criação”, um novo nascimento, que não provém da carne e do sangue, mas de Deus.
    A incarnação de Jesus significa, portanto, a oferta que Deus faz à humanidade da vida em plenitude. Sempre existiu no homem o anseio da vida plena, conforme o projecto original de Deus; mas, na realidade, esse anseio fica muitas vezes frustrado pelo domínio que o egoísmo, a injustiça, a mentira e a opressão (o pecado) exercem sobre o homem. Toda a obra de Jesus consistirá em capacitar o homem para a vida nova, a vida plena, a fim de que ele possa realizar em si mesmo o projecto de Deus – a semelhança com o Pai.

    ACTUALIZAÇÃO

    Perspectivas para a reflexão e actualização do texto:

    ¨ A transformação da “Palavra” em “carne” (em menino do presépio de Belém) é a espantosa aventura de um Deus que ama e que, por amor, aceita revestir-Se da nossa fragilidade para nos dar vida em plenitude. Neste dia, somos convidados a contemplar, numa atitude de serena adoração, esse incrível passo de Deus, expressão extrema de um amor sem limites.

    ¨ Acolher a “Palavra” é deixar que Jesus nos transforme, nos dê a vida plena, a fim de nos tornarmos verdadeiramente “filhos de Deus”. O presépio que hoje contemplamos é, apenas, um quadro bonito e terno, ou uma interpelação a acolher a “Palavra”, de forma a crescermos até à dimensão do homem novo?

    ¨ Hoje, como ontem, a “Palavra” continua a confrontar-se com os sistemas geradores de morte e a procurar eliminar na origem tudo o que rouba a vida plena e a felicidade do homem. Sensíveis à “Palavra”, embarcados na mesma aventura de Jesus – a “Palavra” viva de Deus – como nos situamos diante de tudo aquilo que rouba a vida ao homem? Podemos pactuar com a mentira, o oportunismo, a corrupção, a violência, a exploração dos pobres, a miséria, as limitações aos direitos do homem, a destruição da dignidade dos mais fracos?

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
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  • Festa da Sagrada Família – Ano C

    Festa da Sagrada Família – Ano C


    26 de Dezembro, 2021

    ANO C
    Domingo dentro da Oitava do Natal
    FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA DE JESUS, MARIA E JOSÉ

    Tema da Festa da Sagrada Família

    As leituras deste domingo complementam-se ao apresentar as duas coordenadas fundamentais a partir das quais se deve construir a família cristã: o amor a Deus e o amor aos outros, sobretudo a esses que estão mais perto de nós – os pais e demais familiares.
    O Evangelho sublinha, sobretudo, a dimensão do amor a Deus: o projecto de Deus tem de ser a prioridade de qualquer cristão, a exigência fundamental, a que todas as outras se devem submeter. A família cristã constrói-se no respeito absoluto pelo projecto que Deus tem para cada pessoa.
    A segunda leitura sublinha a dimensão do amor que deve brotar dos gestos de todos os que vivem “em Cristo” e aceitaram ser Homem Novo. Esse amor deve atingir, de forma mais especial, todos os que connosco partilham o espaço familiar e deve traduzir-se em determinadas atitudes de compreensão, de bondade, de respeito, de partilha, de serviço.
    A primeira leitura apresenta, de forma muito prática, algumas atitudes que os filhos devem ter para com os pais. É uma forma de concretizar esse amor de que fala a segunda leitura.

    LEITURA I – Sir 3,3-7.14-17a (gr. 2-6.12-14)

    Leitura do Livro de Ben-Sirá

    Deus quis honrar os pais nos filhos
    e firmou sobre eles a autoridade da mãe.
    Quem honra seu pai obtém o perdão dos pecados
    e acumula um tesouro quem honra sua mãe.
    Quem honra o pai encontrará alegria nos seus filhos
    e será atendido na sua oração.
    Quem honra seu pai terá longa vida,
    e quem lhe obedece será o conforto de sua mãe.
    Filho, ampara a velhice do teu pai
    e não o desgostes durante a sua vida.
    Se a sua mente enfraquece, sê indulgente para com ele
    e não o desprezes, tu que estás no vigor da vida,
    porque a tua caridade para com teu pai nunca será esquecida
    e converter-se-á em desconto dos teus pecados.

    AMBIENTE

    O livro de Ben-Sira (também chamado “Eclesiástico”), de onde foi extraída a primeira leitura deste domingo, é um livro sapiencial e que, como todos os livros sapienciais, pretende apresentar uma reflexão de carácter prático sobre a arte de bem viver e de ser feliz. Estamos no início do séc. II a.C., numa época em que o helenismo tinha começado o seu trabalho pernicioso, no sentido de minar a cultura e os valores tradicionais de Israel. Jesus Ben-Sira, o autor deste livro, avisa os israelitas para não deixarem perder a identidade cultural e religiosa do seu Povo. Procura, então, apresentar uma síntese da religião tradicional e da sabedoria de Israel, sublinhando a grandeza dos valores judaicos e demonstrando que a cultura judaica não fica a dever nada à brilhante cultura grega.

    MENSAGEM

    O texto apresenta uma série de indicações práticas que os filhos devem ter em conta nas relações com os pais.
    Uma palavra sobressai: o verbo “honrar”. Ele leva-nos ao decálogo do Sinai (cf. Ex 20,12), onde aparece no sentido de “dar glória”. “Dar glória” a uma pessoa é dar-lhe toda a sua importância; “dar glória aos pais” é, assim, reconhecer a sua importância como instrumentos de Deus, fonte de vida.
    Ora, reconhecer que os pais são a fonte, através da qual Deus nos dá a vida, deve conduzir à gratidão; e essa gratidão tem consequências a nível prático. Implica ampará-los na sua velhice e não os desprezar nem abandonar; implica assisti-los materialmente – sem inventar qualquer desculpa – quando já não podem trabalhar (cf. Mc 7,10-11); implica não fazer nada que os desgoste; implica escutá-los, ter em conta as suas orientações e conselhos; implica ser indulgente para com as limitações que a idade traz.
    Dado o contexto da época em que Ben-Sira escreve, é natural que, por detrás destas indicações aos filhos, esteja também a preocupação com o manter bem vivos os valores tradicionais, esses valores que os mais antigos preservam e que passam aos jovens.
    Como recompensa desta atitude de “honrar” os pais, Jesus Ben-Sira promete o perdão dos pecados, a alegria, a vida longa e a atenção de Deus.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão e actualização do texto podem fazer-se à volta dos seguintes dados:

    ¨ Sentimo-nos gratos aos nossos pais porque eles aceitaram ser, em nosso favor, instrumentos de Deus criador? Lembramo-nos de lhes demonstrar essa gratidão?

    ¨ Apesar da preocupação moderna com os direitos humanos e o respeito pela dignidade das pessoas, a nossa civilização cria, com frequência, situações de abandono e de marginalização, cujas vítimas são, muitas vezes, aqueles que já não têm uma vida considerada produtiva, ou aqueles a quem a idade ou a doença trouxeram limitações. Que motivos justificam o desprezo e abandono daqueles a quem devemos “honrar”?

    ¨ É verdade que a vida de hoje é muito exigente a nível profissional e que nem sempre é possível a um filho estar presente ao lado de um pai que precisa de cuidados ou de acompanhamento especializado. No entanto, a situação é muito menos compreensível se o afastamento de um pai do convívio familiar resulta do egoísmo do filho, que não está para “aturar o velho”…

    ¨ O capital de maturidade e de sabedoria de vida que os mais idosos possuem é considerado por nós uma riqueza ou um estorvo à nossa modernidade?

    ¨ Face à invasão contínua de valores estranhos que, tantas vezes, põem em causa a nossa identidade cultural e religiosa, o que significam os valores que recebemos dos nossos “pais”? Avaliamos com maturidade a perenidade desses valores?

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 127 (128)

    Refrão 1: Felizes os que esperam no Senhor
    e seguem os seus caminhos.

    Refrão 2: Ditosos os que temem o Senhor,
    ditosos os que seguem os ses caminhos.

    Feliz de ti, que temes o Senhor
    e andas nos ses caminhos.
    Comerás do trabalho das tuas mãos,
    serás feliz e tudo te correrá bem.

    Tua esposa será como videira fecunda
    no íntimo do teu lar;
    teus filhos serão como ramos de oliveira
    ao redor da tua mesa.

    Assim será abençoado o homem que teme o Senhor.
    De Sião te abençoe o Senhor:
    vejas a prosperidade de Jerusalém,
    todos os dias da tua vida.

    LEITURA II – Col 3,12-21

    Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses

    Irmãos:
    Como eleitos de Deus, santos e predilectos,
    revesti-vos de sentimentos de misericórdia,
    de bondade, humildade, mansidão e paciência.
    Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente,
    se algum tiver razão de queixa contra outro.
    Tal como o Senhor vos perdoou,
    assim deveis fazer vós também.
    Acima de t
    udo, revesti-vos da caridade,
    que é o vínculo da perfeição.
    Reine em vossos corações a paz de Cristo,
    à qual fostes chamados para formar um só corpo.
    E vivei em acção de graças.
    Habite em vós com abundância a palavra de Cristo,
    para vos instruirdes e aconselhardes uns aos outros
    com toda a sabedoria;
    e com salmos, hinos e cânticos inspirados,
    cantai de todo o coração a Deus a vossa gratidão.
    E tudo o que fizerdes, por palavras ou por obras,
    seja tudo em nome do Senhor Jesus,
    dando graças, por Ele, a Deus Pai.
    Esposas, sede submissas aos vossos maridos,
    como convém no Senhor.
    Maridos, amai as vossas esposas
    e não as trateis com aspereza.
    Filhos, obedece em tudo a vossos pais,
    porque isto agrada ao Senhor.
    Pais, não exaspereis os vossos filhos,
    para que não caiam em desânimo.

    AMBIENTE

    Paulo estava na prisão (possivelmente em Roma, anos 61/63) quando escreveu aos colossenses. Algum tempo antes, Paulo havia recebido notícias pouco animadoras sobre a comunidade de Colossos. Essas notícias falavam da perigosa tendência de alguns doutores locais, que ensinavam doutrinas erróneas e afastavam os colossenses da verdade do Evangelho. Essas doutrinas misturavam práticas legalistas, práticas ascéticas, especulações sobre os anjos e achavam que toda esta mistura confusa de elementos devia completar a fé em Cristo e comunicar aos crentes um conhecimento superior dos mistérios cristãos e uma vida religiosa mais autêntica.
    Sem refutar essas doutrinas de modo directo, Paulo afirma a absoluta suficiência de Cristo e assinala o seu lugar proeminente na criação e na redenção dos homens.
    O texto da segunda leitura pertence à segunda parte da carta. Depois de constatar a supremacia de Cristo na criação e na redenção (primeira parte), Paulo avisa os colossenses de que a união com Cristo traz consequências a nível de vivência prática (segunda parte): implica a renúncia ao “homem velho” do egoísmo e do pecado, e o “revestir-se do homem novo”.

    MENSAGEM

    Em termos mais concretos, viver como “homem novo” implica cultivar um conjunto de virtudes que resultam da união do cristão com Cristo: misericórdia, bondade, humildade, paciência, mansidão. Lugar especial ocupa o perdão das ofensas do próximo, a exemplo do que Cristo sempre fez. Estas virtudes são exigências e manifestações da caridade, que é o mais fundamental dos mandamentos cristãos.
    Catálogos de virtudes como este apareciam também na ética dos gregos; o que é novo aqui é a fundamentação: tais exigências resultam da íntima relação do cristão com Cristo; viver “em Cristo” implica viver, como Ele, no amor total, no serviço, na disponibilidade e no dom da vida.
    Uma vez apresentado o ideal da vida cristã nas suas linhas gerais, Paulo aplica o que acabou de dizer à vida familiar. Às mulheres, recomenda o respeito para com os maridos; aos maridos, convida a amar as esposas, evitando o domínio tirânico sobre elas; aos filhos, recomenda a obediência aos pais; aos pais, com intuição pedagógica, pede que não sejam excessivamente severos para com os filhos, pois isso pode impedir o desenvolvimento normal das suas capacidades.
    É desta forma que, no espaço familiar, se manifesta o Homem Novo, o homem que vive segundo Cristo.

    ACTUALIZAÇÃO

    Na reflexão, ter em conta os dados seguintes:

    ¨ Viver “em Cristo” implica fazer do amor a nossa referência fundamental e deixar que ele se manifeste em gestos concretos de bondade, de perdão, de compreensão, de respeito pelo outro, de partilha, de serviço… É este o quadro em que se desenvolvem as nossas relações com aqueles que nos rodeiam?

    ¨ A nossa primeira responsabilidade vai para com aqueles que connosco partilham, de forma mais chegada, a vida do dia a dia (a nossa família). Esse amor, que deve revestir-nos sempre, traduz-se numa atenção contínua àquele que está ao nosso lado, às suas necessidades e preocupações, às suas alegrias e tristezas? Traduz-se em gestos sentidos e partilhados de carinho e de ternura? Traduz-se num respeito absoluto pela liberdade e pelo espaço do outro, por um deixar o outro crescer sem o sufocar? Traduz-se na vontade de servir o outro, sem nos servirmos do outro?

    ¨ As mulheres não gostam de ouvir Paulo pedir-lhes a “submissão” aos maridos… No entanto, não devem ser demasiado severas com Paulo: ele é um homem do seu tempo, e não podemos exigir dele a mesma linguagem com que, nos nossos dias, falamos destas coisas. Apesar de tudo, convém lembrar que Paulo não se esquece de pedir aos maridos que amem as mulheres e não as tratem com aspereza: sugere, desta forma, que a mulher tem, em relação ao marido, igual dignidade.

    ALELUIA – Col 3,15a.16a

    Aleluia. Aleluia.

    Reine em vossos corações a paz de Cristo,
    habite em vós a sua palavra.

    EVANGELHO – Lc 2,41-52

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

    Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém,
    pela festa da Páscoa.
    Quando Ele fez doze anos,
    subiram até lá, como era costume nessa festa.
    Quando eles regressavam, passados os dias festivos,
    o Menino Jesus ficou em Jerusalém,
    sem que seus pais o soubessem.
    Julgando que Ele vinha na caravana,
    fizeram um dia de viagem
    e começaram a procurá-l’O entre os parentes e conhecidos.
    Não O encontrando,
    voltaram a Jerusalém, à sua procura.
    Passados três dias,
    encontraram-n’O no templo,
    sentado no meio dos doutores,
    a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas.
    Todos aqueles que O ouviam
    estavam surpreendidos com a sua inteligência e as suas respostas.
    Quando viram Jesus, seus pais ficaram admirados;
    e sua Mãe disse-Lhe:
    «Filho, porque procedeste assim connosco?
    Teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura».
    Jesus respondeu-lhes:
    «Porque Me procuráveis?
    Não sabíeis que Eu devia estar na casa de meu Pai?»
    Mas eles não entenderam as palavras que Jesus lhes disse.
    Jesus desceu então com eles para Nazaré
    e era-lhes submisso.
    Sua Mãe guardava todos estes acontecimentos em seu coração.
    E Jesus ia crescendo em sabedoria, em estatura e em graça,
    diante de Deus e dos homens.

    AMBIENTE

    O Evangelho que nos é proposto é o final do “Evangelho da infância” de Lucas. Ora, já sabemos que a finalidade do “Evangelho da infância” não é fazer uma reportagem sobre os primeiros anos da vida de Jesus, mas sim fazer catequese sobre Jesus; nessa catequese, diz-se quem é Jesus e apresentam-se algumas coordenadas teológicas que vão, depois, ser desenvolvidas no resto do Evangelho.
    A “catequese” de hoje situa-nos em Jerusalém. A Lei judaica pedia que os home
    ns de Israel fossem três vezes por ano a Jerusalém, por alturas das três grandes festas de peregrinação (Páscoa, Pentecostes e Festa das Cabanas – cf. Ex 23,17-17). Ainda que os rabinos não considerassem obrigatória esta lei até aos treze, muitos pais levavam os filhos antes dessa idade. Jesus tem doze anos e, de acordo com o texto de Lucas, foi com Maria e José a Jerusalém celebrar a Páscoa.
    É neste ambiente de Jerusalém e do Templo que Lucas situa as primeiras palavras pronunciadas por Jesus no Evangelho. Elas são, sem dúvida, o centro do nosso relato.

    MENSAGEM

    A chave deste episódio está, portanto, nas palavras pronunciadas por Jesus quando, finalmente, se encontra com Maria e José: “porque me procuráveis? Não sabíeis que Eu devia estar na casa de meu Pai?”
    O significado (a catequese) da resposta à pergunta de Maria é que Deus é o verdadeiro Pai de Jesus. Daqui deduz-se que as exigências de Deus são, para Jesus, a prioridade fundamental, que ultrapassa qualquer outra exigência. A sua missão – a missão que o Pai Lhe confia – vai obrigá-l’O a romper os laços com a própria família (cf. Mc 3,31-35).
    É possível que haja ainda, aqui, uma referência à paixão/morte/ressurreição de Jesus: tanto o episódio de hoje, como os factos relativos à morte/ressurreição, são situados num contexto pascal; em ambas as situações Jesus é abandonado – aqui por Maria e José e, mais tarde, pelos discípulos – por pessoas que não compreendem que a sua prioridade é o projecto do Pai; em ambas as situações, Jesus é procurado (cf. Lc 24,5) e tem de explicar que a finalidade da sua vida é cumprir aquilo que o Pai tinha definido (cf. Lc 24,7.25-27.45-46). Lucas apresenta aqui a chave para entender toda a vida de Jesus: Ele veio ao mundo por mandato de Deus Pai e com um projecto de salvação/libertação. Àqueles que se perguntam porque deve o Messias percorrer determinado caminho, Lucas responde: porque é a vontade do Pai. Foi para cumprir a vontade do Pai que Jesus veio ao nosso encontro e entrou na nossa história.
    Atente-se, ainda, em duas questões um tanto marginais, mas que podem servir também para a nossa reflexão e edificação: em primeiro lugar, reparemos no entusiasmo que Jesus tem pela Palavra de Deus e pelas questões que ela levanta; em segundo lugar, a “declaração de independência” de Jesus pode ajudar-nos a compreender que a família não é o lugar fechado, onde cada pessoa cresce em horizontes limitados e fechados, mas é o lugar onde nos abrimos ao mundo e aos outros, onde nos armamos para partir à conquista do mundo que nos rodeia.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão do Evangelho de hoje deve ter em conta as seguintes questões:

    ¨ Para Jesus, a prioridade fundamental a que tudo se subjuga (até a família) é o projecto de Deus, o plano que Deus tem para cada pessoa. Se os planos dos pais e os planos de Deus entram em choque, quais devem prevalecer?

    ¨ Anima-nos o mesmo entusiasmo de Jesus pela Palavra de Deus? Somos capazes de esquecer outros interesses legítimos para nos dedicarmos à escuta, à reflexão e à discussão da Palavra? Vemos nela um meio privilegiado de conhecer o projecto que Deus tem para nós?

    ¨ Maria e José não fizeram cenas diante da resposta “irreverente” de Jesus. Aceitaram que o jovem Jesus não lhes pertencia exclusivamente: Ele tinha a sua identidade e a sua missão próprias. É assim que nos situamos face àqueles com quem partilhamos a experiência familiar?

    ¨ A nossa família potencia o nosso crescimento, abrindo-nos horizontes e levando-nos ao encontro do mundo, ou fecha-nos num espaço cómodo mas limitado, onde nos mantemos eternamente dependentes?

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA A FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA
    (adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    A semana anterior ao domingo da Festa da Sagrada Família inclui o Dia de Natal. É o tempo oportuno para a celebração do mistério do Verbo que habitou no meio de nós. É um tempo propício para meditar a Palavra de Deus servida no Natal e na Festa da Sagrada Família. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. ATENÇÃO AOS PEQUENOS GESTOS.
    O “Glória a Deus”, cântico dos anjos, é por excelência o hino do tempo de Natal. Deve ser um hino que se canta. Nesse sentido, sempre que possível, evitar recitar o Glória a Deus, procurar antes cantar todo o Hino de Glória.
    A Sagrada Família viveu ao ritmo do amor trinitário. No grande momento da doxologia (Por Cristo, com Cristo, em Cristo…), no final da Oração Eucarística, que deveria ser cantada, procurar manter bem elevado o pão e o vinho, até ao fim do “Ámen” da assembleia (muitas vezes, o “Ámen” não é dito com entusiasmo de fé e, frequentemente, o presidente da assembleia já “arrumou” o pão e o vinho antes do “Ámen”…).
    Os finais das orações “Por Nosso Senhor Jesus Cristo…” não são apêndices da oração, mas o seu coroamento. Nesse sentido, em vez de baixar os braços nesse momento, o presidente deve mantê-los erguidos (ou mesmo levantá-los um pouco mais) até ao final do “Ámen” da assembleia.

    3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração. Exemplo para o final do Evangelho:

    “Deus nosso Pai, nós Te recomendamos os pais e as famílias, na sua missão de educar e de guiar os filhos na realização das suas vocações.
    Nós Te pedimos que o teu Espírito sustente a nossa fé no teu Filho Jesus e este amor sem limites que pedes para termos entre nós.
    Nós Te bendizemos pelo novo templo que deste ao teu Povo. É o teu próprio Filho Jesus, que nos reúne e constitui em família, que nos permite estar contigo.
    Recomendamos-Te as nossas famílias, com todas as dificuldades da educação cristã e do diálogo entre pais e filhos nas situações actuais”.

    4. BILHETE DE EVANGELHO.
    A fidelidade é a manifestação da fé. Maria e José cumprem fielmente a peregrinação anual a Jerusalém, aí se associam a Jesus. Este fará, vinte anos mais tarde, a sua peregrinação, a sua Páscoa, e andará de novo “perdido” durante três dias, antes de ser “reencontrado”, desta vez pelos seus discípulos, na manhã de Páscoa. O
    questionamento faz parte da fé. Maria e José estão “estupefactos” e interrogam Jesus: “Porque nos fizeste isto?” E não compreendem a resposta do seu filho. Maria “guardava tudo isso no seu coração”, sem dúvida para não esquecer. A meditação permite entrar no pensamento de Deus para se lhe submeter. Se Jesus, voltando a Nazaré, era submisso a seus pais, estes aceitarão submeter-se à vontade de Deus. Maria disse o “sim” da anunciação, para que tudo se realizasse segundo a vontade de Deus. Um “sim” que ela voltará a dizer ao pé da cruz, mesmo no questionamento… Maria e José realizaram uma verdadeira peregrinação efectuando, não somente a caminhada de Nazaré a Jerusalém, mas sobretudo a caminhada do questionamento ao acto de fé.

    5. À ESCUTA DA PALAVRA.
    Rezamos para que o Senhor nos dê a graça de praticar, a exemplo da Santa Família, as virtudes familiares. Não é fácil, parece mesmo irrealista esta oração… Como imitar a santidade de Jesus, o Filho de Maria? Maria estava sem pecado, José era um homem justo, perfeitamente ajustado à vontade de Deus. Em plenitude, nenhuma família pode viver como a Família de Nazaré, bem sabemos! Mas o modelo que nos é apresentado por Lucas é o modelo da família concreta de Nazaré, com o acompanhamento de todas as etapas de crescimento do filho Jesus, com toda a atenção e cuidado de Maria e José, com momentos de zanga dos pais quando Jesus ficou com os doutores no templo… Uma família perseverante e confiante! Assim, a Família de Nazaré torna-se muito próxima de nós. É a mesma missão para as nossas famílias: oferecer a cada filho um lugar de crescimento, um lugar de enraizamento onde a seiva da vida possa buscar a sua força, para que os frutos cheguem à maturidade. É uma tarefa árdua, longa, difícil, com alegrias e tristezas, conquistas e fracassos… Podemos pedir a Jesus, Maria e José para nos acompanharem neste caminho: eles passaram por isso e compreendem-nos bem!

    6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
    Pode-se escolher a Oração Eucarística I, com as variantes próprias da Festa de Natal e a evocação mais desenvolvida dos santos que são “nossa família”: Maria, José, Ana e Joaquim, Isabel, Zacarias, João Baptista, Santos Apóstolos e Mártires…

    7. PALAVRA PARA O CAMINHO…
    · No final do Evangelho, Lucas diz que “Maria guardava todos estes acontecimentos no seu coração”. Noutra passagem, Jesus diz que aquele que está na boa terra é o que escuta a palavra com um coração leal e bom, a guarda no coração e produz frutos… Esta palavra de Jesus aplica-se à sua mãe. Voltamos para as nossas famílias. Serão santas, se o nosso coração, como o de Maria, for leal e bom; se, como Maria, guardarmos a Palavra de Jesus; se, com a mesma perseverança de Maria, produzirmos frutos para a maior glória de Deus. É uma semana importante, com a passagem de ano (embora o verdadeiro início de ano para os cristãos seja o 1º Domingo do Advento!), a Festa da Mãe de Deus e o Dia Mundial da Paz. Que a Palavra de Deus seja companhia e luz para os nossos corações, nas nossas famílias, no nosso mundo. Façamos por isso…
    · Sempre em conversão… Viver verdadeiramente o “espírito de família” e o amor fraterno não é fácil: é preciso converter-se continuamente… Esta semana, procuremos ir ao encontro de alguma pessoa com quem não temos tido grande relacionamento fraterno. Não é fácil, mas é o apelo de Deus, sempre exigente e pleno de felicidade…

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