Events in Dezembro 2021

  • 01ª semana do Advento - Quarta-feira - Anos Ímpares

    01ª semana do Advento - Quarta-feira - Anos Ímpares


    1 de Dezembro, 2021

    Tempo do Advento Primeira Semana - Quarta-feira

    Lectio
    Primeira leitura: Is. 25, 6-10a
    6*No monte Sião, o Senhor do universo prepara para todos os povos um banquete de carnes gordas, acompanhadas de vinhos velhos, carnes gordas e saborosas, vinhos velhos e bem tratados. 7Neste monte, Ele arrancará o véu de luto que cobre todos os povos, o pano que encobre todas as nações. 8*Aniquilará a morte para sempre. O Senhor Deus enxugará as lágrimas de todas as faces, e eliminará o opróbrio que pesa sobre o seu povo, sobre toda a nação. Foi o Senhor quem o proclamou. 9Dir-se-á naquele dia: «Este é o nosso Deus, nele confiámos e Ele nos salva. Este é o Senhor em quem confiámos. Congratulemo-nos e rejubilemos com a sua salvação. 1 DA mão do Senhor repousará sobre este monte.»
    o banquete simboliza a comunhão, o diálogo, a festa, a vitória. O banquete anunciado por Isaías celebrará a derrota, por Deus, dos poderes que subjugam o homem, mas também a realeza universal do mesmo Deus. Esse banquete será oferecido em Sião, símbolo da eleição de Israel.
    Como era costume, o Rei, ao ser entronizado, oferece presentes aos convidados.
    O primeiro é a sua presença, e a sua manifestação aos povos: «arrancará o véu de luto que cobre todos os povos, o pano que encobre todas as nações» (v. 7). Outro presente será a aniquilação da morte. Finalmente, o próprio Deus passará a enxugar as lágrimas de todas as faces, a consolar todos os que sofrem. É o terceiro dom, um dom personalizado.
    Esta esperança baseia-se unicamente na promessa de Deus, e não em cálculos humanos: «Foi o Senhor quem o prodsrnoo» (v. 8). É uma esperança segura. Por isso, irrompe o hino de louvor, ainda antes da realização da promessa da salvação. Deus não falha: «Congratulemo-nos e rejubilemos com a sua sstvsçêo. (v. 9).

    Evangelho: Mt. 15, 29-37

    29Naquele tempo, Jesus foi para junto do mar da Galileia. Subiu ao monte e sentou-se. 3DVieram ter com Ele numerosas multidões, transportando coxos, cegos, aleijados, mudos e muitos outros, que lançavam a seus pés. Ele curou-os, 31 *de sorte que as multidões ficaram maravilhadas ao ver os mudos a falar, os aleijados escorreitos: os coxos a andar e os cegos com vista. E davam glória ao Deus de Israel. 32*Jesus, chamando os discípulos, disse-lhes: «Tenho compaixão desta gente, porque há já três dias que está comigo e não tem que comer. Não quero despedi-los em jejum, pois receio que desfaleçam pelo caminho.» 330s discípulos disseram-lhe: «Onde iremos buscar, num deserto, pães suficientes para saciar tão grande multidão?» 34Jesus perguntou-lhes: «Quantos pães tendes?» Responderam: «Sete, e alguns peixinhos.» 350rdenou à multidão que se sentasse. 36Tomou os sete pães e os peixes, deu graças, partiu-os e dava-os aos discípulos, e estes, à multidão. 37*Todos comeram e ficaram saciados; e, com os bocados que sobejaram, encheram sete cestos.
    Mateus apresenta-nos um magnifico quadro em que Jesus que cura os doentes e dá a todos o pão, sinal do banquete messiânico. Assim revela a sua compaixão para com a multidão que O seguiam. Os discípulos nem tinham reparado na fome e falta de meios daquela gente. Por isso, antes de fazer o milagre, Jesus chama-os e convida-os a participar da sua compaixão para com os pobres e carenciados.
    Mateus narrara, pouco antes, uma viagem de Jesus a terra estrangeira (15, 21), o que nos permite pensar que a multidão fosse formada, pelo menos em boa parte, por pagãos. O evangelista, que sabe que a missão universal é pós-pascal, quer sublinhar que a compaixão de Deus, manifestada em Jesus, abrange todos os povos. Na primeira multiplicação dos pães (Mt 14, 13-21), Jesus tinha-se revelado o bom pastor de Israel. Agora, também os pagãos são convidados para o banquete messiânico.
    Os pães que sobejam mostram que nesse banquete há sempre lugar para todos. O número 7 dos cestos do pão que sobejou, bem como o número 4.000 dos que comeram, simbolizam, mais uma vez, o tema da salvação universal, que Jesus tem em mente.

    Meditatio
    Todos nós sentimos um forte desejo de felicidade. Foi Deus que pôs em nós esse desejo, para que O procurássemos. Por isso quer satisfazer-nos.
    Na liturgia de hoje, Deus promete-nos o fim das nossas penas e muita felicidade. De facto as leituras são uma ilustração coerente do rosto de Deus, que vem curar a humanidade ferida e satisfazer o nosso desejo de salvação. Desejamos essa salvação, mas só Deus no-Ia pode dar, iluminando os nossos corações ameaçados pelo não conhecimento d ' Ele e pelo desânimo. Reconhecemo-nos a nós mesmos no meio da multidão de pobres e doentes que se acotovelam ao redor de Jesus, pois n ' Ele descobrem Deus hóspede da humanidade, que cura os doentes e a todos oferece uma refeição, símbolo do banquete eterno para o qual vem convidar todos os homens. Por isso, todos nos sentimentos também convidados a proclamar o poder do Hóspede divino, que vence a dor e a morte, que prepara o banquete para todos os povos, e a contemplar o seu rosto. De facto, a misericórdia divina assume para nós os contornos do rosto e dos gestos de Jesus que cura os doentes e sacia as multidões famintas que O seguem. Na compaixão de Jesus, torna-se visível, para nós, o rosto de um Deus, médico que cura a nossa humanidade cansada e doente. Nele encontramos o divino e generoso Hóspede que nos acolhe à sua mesa e declara quanto somos importantes e preciosos aos seus olhos.
    Ao lermos este evangelho no Advento, podemos ver nele alguns símbolos da Incarnação. Jesus fez-se homem porque teve compaixão dos homens e lhes quis dar de comer. Para poder dar-nos a sua carne e o seu sangue, pediu a colaboração da Virgem Maria. Mais tarde pedirá aos Apóstolos para estarem disponíveis, isto é, para darem o que têm para que Ele possa multiplicar o pouco de que dispõem e responder aos grande problemas do mundo.
    O mesmo quer continuar a fazer nos nossos dias. Por isso nos mostra as necessidades do mundo de hoje, nos sensibiliza para elas e nos pergunta: «Quantos pães tendes?» Pede-nos para pormos à disposição de todos o pouco que temos, pede¬nos disponibilidade, para continuar a sua obra de salvação, de libertação.

    "A nossa união com Cristo" (Cst. 18), "no seu amor pelo Pai e pelos homens" (Cst. 17) manifesta-se, não só "na escuta da Palavra e na partilha do Pão" (Cst. 17), mas também "na disponibilidade e no amor para com todos" (Cst. 18).
    Foi na disponibilidade e no amor para com todos que o Pe. Dehon realizou a sua "solidariedade" afectiva e efectiva com Cristo. Daí o seu apostolado, caracterizado por uma extrema atenção aos homens, especialmente aos mais desprotegidos e pela solicitude em remediar activamente as insufici&ec
    irc;ncias pastorais da Igreja do seu tempo" (Cst. 5). Foi assim que realizou o "carisma profético" de oblato na "oblação reparadora de Cristo ao Pai pelos homens" (Cst. 6), fazendo de "toda a sua vida ... uma missa permanente' (Cst. 5), um dom para Deus e um dom para os homens.

    Oratio
    Senhor Jesus, queremos juntar-nos àqueles que, há dois mil anos, e ao longo dos séculos, procuraram em Ti a saúde, a consolação e o alimento que sacia para a vida eterna. Sara as nossas feridas do passado, os nossos males do presente e fortalece-nos para o futuro. Consola-nos com o teu amor, mata-nos a fome com o teu pão de cada dia, e com o Pão eucarístico. Sacia-nos com o teu Espírito.
    Aumenta em nós a feliz esperança, a tensão para o banquete da vida plena e definitiva que, com o Pai, preparas para todos os povos.
    Nós Te bendizemos pela tua compaixão para com os pobres e sofredores, aos
    quais revelas o amor misericordioso do Pai.
    Nós Te bendizemos pelo pão de cada dia, sinal da tua solicitude por nós. Nós Te bendizemos pelo Pão da Eucaristia, alimento das nossas almas.
    Aumenta em nós a caridade para que, na partilha e no serviço, possamos ser verdadeiras testemunhas do teu imenso coração de pastor, que cuida e apascenta as suas ovelhas.

    Contemplatio
    «A terceira virtude que é preciso honrar no Sagrado Coração, diz ainda o P.
    Cláudio de la Colornbíêre, é a sua compaixão muito sensível pelas nossas misérias, o seu amor imenso por nós apesar destas mesmas misérias, e, apesar destes movimentos e impressões, a sua igualdade inalterável causada por uma conformidade tão perfeita à vontade de Deus, que não podia ser perturbada por nenhum aconteci mente».
    Não foi na misericórdia do seu Coração que ele nos visitou: Per viscera misericordiae in qulbus visitavit nos (Lc 1, 78). Quando Jesus encontra doentes, mortos, o seu Coração não pode resistir às lágrimas daqueles que os envolvem. Emudecido de piedade, cura-os, dá-lhes a vida: misericordia motus(lc 7, 13).
    Vendo a multidão sem provisões para a sua refeição, tem compaixão dela: misereor super turbam (Lc 10, 33).
    «Este Coração está ainda, quanto isso ainda possa ser, nos mesmos sentimentos, observa o P. Cláudio de la Colombíere, está sempre ardente de amor pelos homens, sempre aberto para espalhar todas as espécies de graças e de bênçãos, sempre tocado pelos nossos males, sempre pressionado pelo desejo de nos dar a participar nos seus tesouros e a dar-se a si mesmo a nós, sempre disposto a nos receber, e a nos servir de asilo, de morada e de paraíso, desde esta vida».
    Mantendo-me unido ao Coração de Jesus e meditando nos seus mistérios, participarei cada vez mais nas suas virtudes (leão Dehon, OSP 3, p. 668s.).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: « Tenho compaixão desta gente» ele 15, 32).

  • 01ª semana do Advento - Sexta-feira - Anos ímpares

    01ª semana do Advento - Sexta-feira - Anos ímpares


    3 de Dezembro, 2021

    Tempo do Advento Primeira Semana - Sexta-feira

    Lectio
    Primeira leitura: Is. 29, 17-24

    Assim fala o Senhor Deus:17Dentro de muito pouco tempo, o Líbano converter¬se-e em pomar, e o pomar será como uma floresta.18Nesse dia, os surdos ouvirão as palavras do livro, e, livres da obscuridade e das trevas, os olhos dos cegos verão.190s oprimidos voltarão a alegrar-se no Senhor, e os pobres exultarão no Santo de Israel. 20Foi eliminado o tirano e desapareceu o cínico, e todos os que buscam a iniquidade serão exterminados: 21 *os que acusam de crime os inocentes, os que procuram enganar o juiz, os que por uma coisa de nada condenam os outros. 22Por isso, o Senhor fala aos descendentes de Jacob -Ele que resgatou Abraão: «Daqui em diante, Jacob não será mais envergonhado, o seu rosto não mais ficará corado. 23Quando os seus filhos virem o que Eu fiz por eles, bendirão o meu nome, bendirão o Santo de Jacob e temerão o Deus de Israel. 240s espíritos desencaminhados compreenderão, e os que protestavam, aprenderão a lição.»
    A locução «nesse di~> (v. 18) introduz o anúncio de uma mudança profunda realizada pelo Senhor no seu povo que se tinha deixado perverter, caindo numa situação de cegueira e de incompreensão. Isaías canta essa mudança, essa passagem das trevas à luz, provocada pelas maravilhas que o Senhor realiza, destruindo os projectos escondidos em que o povo incrédulo baseava a sua sabedoria (cf. Is 29, 15). A acção de Deus realiza-se na natureza (v. 17), nas enfermidades físicas (v. 18) e no campo moral e religioso, onde reina a injustiça (vv. 19-21).
    A salvação provoca o júbilo dos «humíldes» (v. 19), isto ~ daqueles que confiam no Senhor e perseveram na espera da salvação que vem dele. Com a alegria dos carenciados e dos últimos, e com o desaparecimento dos violentos, dos cínicos e dos enganadores, a obra do Senhor atinge o vértice, porque nela os crentes reconhecem¬no como o redentor de Abraão e de Jacob: «livres da obscuridade e das trevas, os olhos dos cegos verão» (v. 18).

    Evangelho: Mt. 9, 27-31

    Naquele tempo: 27*Jesus pôs-se a caminho e seguiram-n 'O dois cegos, gritando: «Filho de David, tem misericórdia de nôst» 28Ao chegar a casa, os cegos aproximaram-se dele, e Jesus disse-lhes: «Credes que tenho poder para fazer isso?» Responderam-lhe: «Cremos, Senhor!» 29Então, tocou-lhes nos olhos, dizendo: «Seja-vos feito segundo a vossa fé.» 30E os olhos abriram-se-Ihes. Jesus advertiu-os em tom severo: «Vede lá, que ninguém o saiba.» 31Mas eles, saindo, divulgaram a sua fama por toda aquela terra.
    Um dos sinais da salvação anunciada pelos profetas para indicar o Messias é dar vista aos cegos (cf. Is 29, 18ss; 35, 10). A narrativa da cura dos dois cegos revela a tendência de Mateus para reduzir os elementos descritivos e dar relevo ao tema da autoridade de Jesus e da fé do discípulo ou do miraculado. A fé daquele que procura a cura junto de Jesus manifesta-se, em primeiro lugar, no seguimento (v. 27) e torna-se súplica insistente, confiante.
    Os dois cegos devem entrar em casa para se aproximarem de Jesus, quase a sugerir que, para chegar à luz da fé, é preciso entrar na comunidade dos crentes. Aproximar-se de Jesus é necessariamente entrar em comunhão com a sua Pessoa e escutar a sua Palavra. Jesus faz como que um exame à fé dos cegos, isto é, à confiança que têm no seu poder salvador (v. 28).
    A palavra de cura que Jesus dirige aos cegos é semelhante à que dirigiu ao centurião (Mt 8, 13) e parece estabelecer uma certa proporcionalidade entre a fé e a cura. Mas oferece sobretudo um ensinamento à comunidade para que ultrapasse a necessária prova da fé na oração, reconhecendo que a ajuda concedida é resultado da escuta da súplica de um coração sincero.

    Meditatio
    Isaías anunciou para os tempos messiânicos que, «livres da obscuridade e das trevas, os olhos dos cegos verão: Jesus realiza a palavra do profeta curando vários cegos, também os dois de que nos fala o evangelho de hoje. Ao recuperaram a vista, podem contemplar o mundo criado por Deus e as suas belezas. Mas aconteceu neles algo de mais profundo, uma verdadeira transformação, realizada pelo acolhimento da Boa Nova na fé: passaram a ver toda a realidade, e a si mesmos, com olhos novos. Antes de chegarem à fé, tinham uma visão distorcida do mundo, de si mesmos, dos outros e da história. A Boa Nova fê-los darem-se conta da sua cegueira e da necessidade que tinham de ser curados.
    Quem julga ver, permanece cego, permanece no pecado, como lembra João (9, 41). O Evangelho abre-me os olhos, faz-me tomar consciência de que não vejo. Mas, se tenho a dita de me encontrar com o Senhor, se acreditar n ' Ele e invocar a sua misericórdia para a minha cegueira, recebo d ' Ele o dom da vista. É a fé que me abre os olhos, e é a misericórdia de Cristo, isto é, o movimento do seu coração em direcção aos miseráveis, que O leva a fazer o milagre. A liturgia de hoje mostra-nos a relação entre olhos e coração.
    Quando chego à fé, começo a ver, inicialmente de modo algo confuso, mas, depois, cada vez mais claramente, a acção do Senhor na minha história e na dos meus irmãos e irmãs. A fé faz-se descobrir os sinais luminosos das visitas de Deus à minha vida, em todos os seus momentos, mesmo naqueles em que, à primeira vista, só vejo trevas e marcas negativas.
    Como os cegos do evangelho, vejo-me envolvido na compaixão de Cristo, acolhido na sua casa, tocado pela sua mão misericordiosa. Mas o evangelho também me faz ver, de modo diferente os outros e os acontecimentos, e ensina-me a estimar aquilo que o mundo espontaneamente não aprecia: os humildes, os pobres, os oprimidos.
    Lemos nas nossas Constituições: «Sequiosos de intimidade com o Senhor, procuramos os sinais da sua presença na vida dos homens, onde actua o seu amor salvador. Partilhando as nossas alegrias e sofrimentos, Cristo identificou-Se com os pequenos e com os pobres, aos quais anuncia a Boa Nova. "Em verdade vos digo: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a Mim que o fizestes" (Mt 25,40). "0 Espírito do Senhor está sobre Mim ... enviou-Me para anunciar a Boa Nova aos pobres, a libertação aos cativos, a vista aos cegos, a liberdade aos oprimidos, a proclamar um ano de graça do Senhor" (Lc 4,18-19) (n. 28).
    Este número, que nos orienta de maneira esplêndida, para o apostolado dos "pequenos" e dos "pobres", começa com uma experiência contemplativa: "Sequiosos de intimidade com Senhor". A fé, leva-nos a haurir o amor oblativo na sua fonte, no Coração de Cristo. Por meio da "oração de intimidade", reconhecemos (isto é, fazemos experiência de vida) e cremos (isto é, aderimos com todo o nosso ser) "ao amor que Deus tem por nós" (1 Jo 4, 16). E, se a experiência contemplativa for autêntic
    a, sentimos a necessidade de irradiar este amor entre os irmãos, isto é, de viver "a oração perene" (ou caridade perene), de acordo com a exortação de Jesus: é preciso "rezar (= amar) sempre, sem desfalecer" (Lc 18, 1). É a passagem espontânea da contemplação à acção e o regresso da acção à contemplação, naquele único amor oblativo, que anima tanto a acção como a contemplação. É, pois, um desejo espontâneo de amor, que procura "os sinais da presença" do Senhor "na vida dos homens, onde actua o seu amor" (Cst. 28).

    Oratio
    Pai misericordioso, cura o meu coração e ilumina-o pela graça do Espírito Santo. Tu és a luz; e, à tua luz, vemos a luz!
    Senhor Jesus Cristo, luz do mundo, cura a minha cegueira, para que possa contemplar as maravilhas do amor do Pai entre nós.
    Espírito santo, luz dos corações, renova os nossos olhos para compreendermos que não vês como nós vemos, mas o que Deus ama.
    Santíssima Trindade, dá-nos um olhar puro, para que possamos ver-Te, contemplar as tuas obras no nosso mundo e viver como filhos da luz.
    Meu Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, dá-nos um coração cheio do teu amor, um coração aberto aos pobres e aos humildes para que possamos louvar os teus desígnios de amor e de justiça. Amen.
    Contemplatio
    o Coração de Jesus transborda de ternura e de compaixão por todos os que sofrem, por todos os que penam, por todos os que têm fome, por todos os que estão doentes. É um coração de pai, um coração de mãe, um coração de pastor.
    Jesus é o nosso pai como Deus, como Salvador, mas é-o também como Pontífice, como padre. É nosso pastor, é o Bom Pastor por excelência. É o seu coração de padre que sofre quando nós sofremos.
    Mais do que S. Paulo, pode dizer: «Quem de vós está a sofrer sem que eu não esteja também?» (2Cor 11, 29).
    Isaías descreveu-o sob este aspecto: «Fui enviado, diz o Messias, para evangelizar os pobres, para consolar os aflitos, para levantar os que sucumbem sob o peso da fadiga e do sofrimento, para restituir a vista aos cegos e o ouvido aos surdos» (Is 61).
    Nosso Senhor tem o coração todo cheio do sentimento da sua missão. Chama a si todos os que sofrem: «Vinde a mim vós todos os que estais em aflição e Eu vos aliviarei» (Mt 11).
    Ele sabe o que é sofrer, conheceu o exílio, a perseguição, a fome; tem sempre diante dos olhos os grandes sofrimentos que lhe estão reservados para o fim da sua vida.
    Assim deve ser o padre. Deve procurar aqueles que sofrem, visitá-los, consolá¬los. Se não os pode curar, pode consolá-los, encorajá-los à paciência; pode dar-lhes um conselho de higiene e oferecer-lhe remédios. Deve estar para eles mais do que para os que têm saúde. (Leão Dehon, OSP 2, p. 564).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Filho de David, tem misericórdia de nos»

    S. Francisco Xavier, Presbítero

    S. Francisco Xavier, Presbítero


    3 de Dezembro, 2021

    Francisco Xavier nasceu a 7 de Abril de 1506, no castelo da sua família, perto de Pamplona, Espanha. Fez os seus estudos académicos na Universidade de Paris, onde, em 1530, era já professor. Motivado por Inácio de Loiola, seu aluno e amigo, abandonou a prometedora carreia que iniciara, juntando-se a ele para fundar a Companhia de Jesus. Ordenado sacerdote, foi enviado para a Índia. Desembarcou em Goa em 1542. Seguem dez anos de intensos trabalhos, que constituem uma das mais gloriosas epopeias, na História missionária da Igreja. Evangeliza as zonas costeiras da Índia, vai a Malaca, às Molucas e ao Japão. Acaba por falecer na ilha de Sanchão, às portas da China, que pretendia evangelizar. A sua vida foi marcada pelo amor de Deus e pelo zelo apostólico. Foi canonizada em 1622. É um dos padroeiros da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, Dehonianos.
    Lectio
    Primeira leitura: 1 Coríntios 9, 16-19.22-23

    Irmãos: anunciar o Evangelho, não é para mim motivo de glória, é antes uma obrigação que me foi imposta: ai de mim, se eu não evangelizar! 17Se o fizesse por iniciativa própria, mereceria recompensa; mas, não sendo de maneira espontânea, é um encargo que me está confiado. 18Qual é, portanto, a minha recompensa? É que, pregando o Evangelho, eu faço-o gratuitamente, sem me fazer valer dos direitos que o seu anúncio me confere. 19De facto, embora livre em relação a todos, fiz-me servo de todos, para ganhar o maior número. 20Fiz-me judeu com os judeus, para ganhar os judeus; com os que estão sujeitos à Lei, comportei-me como se estivesse sujeito à Lei - embora não estivesse sob a Lei - para ganhar os que estão sujeitos à Lei; 21com os que vivem sem a Lei, fiz-me como um sem Lei - embora eu não viva sem a lei de Deus porque tenho a lei de Cristo - para ganhar os que vivem sem a Lei. 22Fiz-me fraco com os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para salvar alguns a qualquer custo. 23E tudo faço por causa do Evangelho, para dele me tornar participante.

    Mais uma vez, Paulo se vê obrigado a defender, não tanto a sua pessoa, mas a sua ação de apóstolo no meio da comunidade cristã de Corinto. Havia quem o acusasse de interesse próprio no exercício do seu ministério: busca de bens materiais, afirmação pessoal. O Apóstolo reage afirmando que, para ele, evangelizar é "um dever". Quem livremente se põe ao serviço de um senhor, não pode furtar-se a esse serviço. É o que acontece com Paulo. Por isso afirma: «ai de mim, se eu não evangelizar!» (v. 16b).
    S. Francisco Xavier também estava consciente de que o chamamento ao apostolado é um encargo confiado por Deus. Vive a sua vocação e missão com inquebrantável e total fidelidade, total desinteresse e extraordinário elo apostólico.
    Evangelho: Marcos 16, 15-20

    Naquele tempo, Jesus apareceu aos one Apóstolos e disse-lhes: «Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura. 16Quem acreditar e for baptizado será salvo; mas, quem não acreditar será condenado. 17Estes sinais acompanharão aqueles que acreditarem: em meu nome expulsarão demónios, falarão línguas novas, 18apanharão serpentes com as mãos e, se beberem algum veneno mortal, não sofrerão nenhum mal; hão-de impor as mãos aos doentes e eles ficarão curados.» 19Então, o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi arrebatado ao Céu e sentou-se à direita de Deus. 20Eles, partindo, foram pregar por toda a parte; o Senhor cooperava com eles, confirmando a Palavra com os sinais que a acompanhavam.

    O mandato de Cristo, "Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura." (v. 15), destina-se aos Apóstolos e a todos os batizados, clérigos, religiosos ou leigos. "O Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi arrebatado ao Céu e sentou-se à direita de Deus. Eles, partindo, foram pregar por toda a parte" (vv. 19-20). Os Onze acolheram o mandato com prontidão. Ao realizá-lo deram-se conta de que, Aquele que subira ao céu, Jesus, na verdade continuava com eles, acompanhando-os, cooperando com palavras e prodígios (cf. vv. 17-18). É consolador para os evangelizadores saberem que não estão sós, que o Senhor caminham com eles e que podem contar com o seu poder para vencer os obstáculos, demónios e todos os males.
    Meditatio

    O ministério apostólico de S. Francisco Xavier, com o dinamismo com que o exerceu, é espantoso. Em 1542, foi mandado para as Índias, ou para os confins do mundo, como então se dizia. Chegou lá, depois de uma longa e perigosa viagem. Lançou-se imediatamente na evangelização de cidades e aldeias, em permanentes viagens, sem temer intempéries nem outros perigos. Apenas dois anos, após a chegada à Índia, foi a Ceilão e às Molucas. Regressou à Índia para confirmar os resultados da sua evangelização, para organizar e dar novo impulso à obra dos seus companheiros. Mas não ficou por aí. Tinham-no informado que o Japão era um reino muito importante e partiu para lá, pensando que a sua conversão poderia influir positivamente na evangelização de todo o Extremo Oriente. Prosseguiu, no reino do Sol nascente, as suas viagens e o anúncio do Evangelho. Ao regressar desse país, projeta evangelizar a China. Ao procurar realizar esse intento, é surpreendido pela morte, na ilha de Sanchão, no ano de 1552. Em aproximadamente dez anos, percorreu milhares de quilómetros, com os meios e as dificuldades que mal podemos imaginar, dirigindo-se a numerosos povos, que falavam diferentes línguas. O segredo da sua coragem e do seu dinamismo era a oração e a união com Cristo, na união ao mistério de Deus que quer comunicar com todos os homens.
    Também Jesus teve que ultrapassar uma distância infinita para vir até nós e estar connosco: deixou o Pai, como diz o evangelho de João, para vir ao mundo. Continuou a sua viagem durante o seu ministério de apenas três anos, indo ao encontro das pessoas para lhes anunciar a Boa Nova do Reino, não se limitando a esperar que O procurassem. Hoje, se queremos que o evangelho chegue aos nossos contemporâneos, não basta esperá-los na igreja. É preciso procura-los onde eles estão. É preciso "sair das sacristias" como dizia o P. Dehon aos sacerdotes do seu tempo.
    S. Francisco Xavier deixou-se iluminar pelo Espírito Santo, permitiu a Cristo habitar no seu coração inquieto e foi conduzido por Deus Pai através dos caminhos do mundo, capaz de tudo "naquele que me dá força". A nossa fé, tantas vezes opaca e apagada, recebe luz e paixão do grande missionário e santo, que hoje celebramos. Para receber o amor de Deus é preciso transmiti-lo. Para o receber ainda mais é preciso dá-lo aos outros de modo ainda mais fiel e generoso.
    Oratio

    S. Francisco Xavier, ficaríeis certamente espantado com os meios de transportes e as possibilidades de comunicação que, hoje, temos no mundo: nenhum país se encontra a mais de trinta horas de voo e a comunicação telemática é praticamente instantânea. Alcança-nos de Deus um pouco do teu zelo apostólico e do teu dinamismo, para que o Evangelho chegue, efetivamente a todos os homens. Alcança-nos de Deus uma fé viva que nos leve a um testemunho generoso e alegre da Boa Notícia de que Deus a todos chama para serem seus filhos. Ámen.
    Contemplatio

    O primeiro projeto de Xavier e dos seus companheiros era de irem para a Palestina para aí trabalharem na conversão dos infiéis. Tinham o secreto desejo do martírio. Mas a guerra que reinava entre Veneza e os Turcos pôs obstáculo aos seus desígnios. Puseram-se à disposição do Papa que lhes confiou o cuidado de pregarem missões em Roma, depois logo, a pedido do rei de Portugal, Xavier partiu para as Índias. Que zelo que ele mostrou! Em Goa, tomou alojamento entre os pobres no hospital. Recusou o apartamento que lhe era oferecido pelo vice-rei. Missionou na cidade, depois percorreu todas as Índias, a custo das maiores fadigas. A sua missão tornou-se semelhante à dos apóstolos, pela extensão e pela rapidez dos seus sucessos. Empregava os meios de que eles mesmos se tinham servido para converterem o mundo idólatra: a oração, a humildade, o desinteresse, a mortificação. Era ajudado pelo dom dos milagres. Sto. Inácio enviou-lhe companheiros. Deixou às Índias cristandades florescentes, depois passou ao Japão, onde teve também grandes sucessos, mas a custo das mesmas fadigas e de grandes humilhações. Morreu como missionário na ilha de Sanchão, perto da China. Qual é o nosso zelo? Fazemos o que podemos pelo próximo, segundo a nossa vocação? (Leão Dehon, OSP 4, p.520s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Tudo posso n´Aquele que me dá força" (Fl 4, 13).

     

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    S. Francisco Xavier, Presbítero (3 de Dezembro)

  • 01ª semana do Advento - Sábado - Anos ímpares

    01ª semana do Advento - Sábado - Anos ímpares


    4 de Dezembro, 2021

    Tempo do Advento Primeira Semana - Sábado

    Lectio
    Primeira leitura: Is. 30, 19-21.23-26

    19Povo de Sião, que habitas em Jerusalém, já não chorarás mais, porque o Senhor terá piedade de ti quando ouvir a tua súplica, e, mal te ouça, logo te responderá. 20Embora o Senhor te dê o pão da angústia e a água da tribulação, já não se esconderá mais o teu mestre. Tu o verás com os teus próprios olhos. 210uvirás atrás de ti esta palavra, quando tiveres de caminhar para a direita ou para a esquerda: «Este é o caminho a seguir.»
    23Então o Senhor te enviará as chuvas para a sementeira que semeares na terra, e o pão que a terra produzir será nutritivo e saboroso. Naquele dia, o teu gado pastará em amplas pastagens. 240s bois e os jumentos que lavrarem a terra comerão uma forragem salgada, remexida com a pá e a forquilha. 25No dia da grande mortandade, em que desabarão as fortalezas, haverá torrentes de água abundante em todas as montanhas e colinas. 26No dia em que o Senhor curar a ferida do seu povo, e tratar da chaga que lhe foi infligida, a lua refulgirá como um sol, e o sol brilhará sete vezes mais.
    o profeta assegura à comunidade reunida em acção culto, depois da tribulação, a eficácia da oração feita ao Senhor. Se souber esperar e confiar, será certamente ouvida. A súplica a Deus não livra de dificuldades. Mas fará experimentar a quem está atribulado a verdade do Deus do êxodo, um Deus atento, presente e actuante em favor do seu povo.
    A comunidade poderá viver na presença do Senhor, que está no meio dela, e que será o seu Mestre. Assim, não se deixará seduzir por falsas sabedorias, como acontecera muitas vezes no passado. O ensino do Senhor não excluirá uma dura disciplina, «o pão da angústia e a água da trtooteção. (v 20), como já aconteceu no deserto. A lei de Deus já não será vista como um peso, uma imposição, mas como uma guia segura no caminho da vida (v. 22) e como experiência de verdadeira libertação e de plenitude, expressa pelas imagens da abundância de pastagens e de água.
    O ensinamento divino levará a verificar como foi útil a correcção divina, que não deixa o povo da aliança nas trevas da falsidade, mas o cura com a luz do seu amor (v. 26).

    Evangelho: Mt. 9, 35-10, 1.6-8

    Naquele tempo: 35*Jesus percorria as cidades e as aldeias, ensinando nas sinagogas, proclamando o Evangelho do Reino e curando todas as enfermidades e doenças. 36*Contemplando a multidão, encheu-se de compaixão por ela, pois estava cansada e abatida, como ovelhas sem pastor. 37*Disse, então, aos seus discípulos: «A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. 38Rogai, portanto, ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a sua messe.»l* Depois chamou a Si os doze discípulos e deu-lhes poder de expulsar os espíritos malignos e de curar todas as enfermidades e doenças.
    6Ide, primeiramente, às ovelhas perdidas da casa de Israel. 7*Pelo caminho, proclamai que o Reino do Céu está perto. 8Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demónios. Recebestes de graça, dai de graça.
    Jesus prepara os Doze para a missão, fazendo-os participar da sua compaixão pelas multidões que alimenta e pelos doentes que acolhe e cura, e ensinando-os a rezar para que o Dono da messe mande trabalhadores para a sua messe. Este mandato de oração há-de recordar aos discípulos que não são donos da messe, mas simples trabalhadores que partilham a missão que Jesus recebeu do Pai. Por isso, não devem ser presumidos nem desanimar, porque só o Dono da messe dispõe dos tempos e da fecundidade da missão.
    Depois de escolher os missionários (cf. Mt 10, 2-5), antes de os enviar, Jesus dá¬lhes instruções adequadas. O seu campo de acção deve limitar-se a Israel. Assim é significada a prioridade teológica de Israel enquanto povo da Promessa, que a Igreja deve respeitar. O seu estilo de acção deve ser o de Jesus: generosidade sem medida (v. 8b), em total sintonia com o seu Mestre. São enviados a proclamar a proximidade do reino dos céus (v. 7), a dar sinais concretos (curas, exorcismos: v. 8a) da libertação integral do homem, em nome d ' Aquele que realiza a vinda do reino de Deus à vida da humanidade.

    Meditatio
    No mistério da Incarnação, que nos preparamos para celebrar, tornam-se realidade as palavras de Isaías: «já não se esconderá mais o teu mestre. Tu o verás com os teus próprios olho. (v. 20). O Invisível torna-se visível: «quem me vê, vê o Pe», diz Jesus. E tudo muda. Deus que antes falava da nuvem, do trovão. A sua presença era visualizada na nuvem que vinha e ia. Agora, Deus torna-se presente no meio de nós, de modo estável, na pessoa de Jesus, verdadeiro Emanuel, Deus connosco.
    Isaías lembra-nos que a prece dirigida a Deus é sempre ouvida. Jesus ensina¬nos a rezar, não só pelos nossos pequenos interesses, mas pelos interesses do seu coração. Rezamos, não para convencer a Deus, que sempre nos escuta, mas para nos dispormos para o encontro com Ele. Ele quer libertar-nos, renovar para nós as maravilhas do êxodo, fazer-se nosso bom samaritano para nos aliviar os sofrimentos, curar as feridas e reacender a esperança.
    Hoje convida-nos particularmente a pedir ceifeiros para a sua messe. E seu grande interesse é que a messe não se perca por falta de trabalhadores: «Rogai, portanto, ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a sua messe. (v. 38). As necessidades da evangelização são enormes, e os recursos humanos das comunidades são geralmente muito escassos. Se soubermos ler a situação com os olhos de Jesus, não desanimaremos, mas sentir-nos-emos motivados a corresponder ao convite do Senhor. Perceberemos que a força da missão cristã não está nos recursos humanos, mas na oração confiante e perseverante, e na fidelidade ao mandato recebido.

    A oração também me ensinará que a missão não é propaganda de ideias e de certos costumes de vida, mas participação no anúncio e na praxe de libertação de Jesus, que torna visíveis no mundo as entranhas de misericórdia de Deus Pai.
    Para o Leão Dehon, e para nós, a actividade missionária assume particular importância (cf. Cst. 33); é um modo privilegiado de viver "o nosso carisma profético" que "nos coloca ao serviço da missão salvífica do Povo de Deus no mundo de hoje (cf. LG 12)" (Cst. 27) e nos insere no "movimento de amor redentor" (Cst. 21) "na missão eclesial", e nos permite, de modo muito especial, "desenvolver as riquezas da nossa vocação" (Cst. 34) de oblatos-reparadores. Por isso, damos a nossa quota-parte no serviço da messe, e estamos todos presentes ao "ministério
    de evangelização, pelo qual (os missionários) dão aos homens esta prova de amizade: estar no meio deles ao serviço da Boa Nova" (Cst. 33), para que haja Natal no coração de todos os homens e mulheres da terra.
    Oratio
    Senhor Jesus, acende em mim a compaixao do teu Coração diante das multidões, dos que sofrem no corpo ou no espírito, dos que jazem nas trevas ou andam dispersos como ovelhas sem pastor.
    É verdade que todos têm os seus pastores ou chefes políticos. Mas não têm pastores que lhes orientem as almas, que lhes apontem o Bom Pastor e os ajudem a chegar à luz da fé. Na verdade, a messe é grande e os trabalhadores são poucos. Que eu sinta a necessidade e a urgência de viver a dimensão missionária do meu baptismo, e da minha vocação específica, para cooperar na obra de redenção que realizas no coração do mundo. Abençoa o Santo Padre, os Bispos, os Sacerdotes, os Religiosos e os Leigos missionários para que cumpram com generosidade e fidelidade o mando de evangelizar. Concede à tua Igreja muitas e santas vocações missionárias. Amen.

    Contemplatio
    Um dos deveres do padre é cultivar as vocações, favorecê-Ias, prepará-Ias.
    Nisto ainda o Coração sacerdotal de Jesus é o seu modelo.
    Jesus desejou e favoreceu as vocações
    E antes de mais, como desejou as vocações! Tinha percorrido as cidades e as aldeias, pregando nas sinagogas e curando os doentes. Tinha visto estas multidões sem educação, sem direcção. Tinha piedade delas. «São como um rebanho sem pastor», dizia. A miséria moral e física deprimia estas multidões. E Jesus dizia aos seus discípulos: «Como a seara é grande! Pedi pois ao Senhor para enviar trabalhadores para a sua seara».
    Ama as crianças, abençoa-as, e a sua bênção faz germinar vocações.
    Chama as crianças, testemunha-lhes amizade. «Deixai-as vir a mim», diz aos apóstolos.
    Um adolescente de boa família vem ter com Ele. Jesus queria fazer dele um apóstolo: «Vai, diz-lhe, vem o que tens e segue-me». O jovem resiste à graça e Jesus entristeceu-se (Mc 10).
    Um menino seguia Nosso Senhor e os apóstolos e levava as suas pequenas provisões. A tradição diz-nos que era Marcial, o apóstolo do Languedoc (Jo 6).
    Um dia, Nosso Senhor pega numa criança: «Eis o vosso modelo, sede simples como crianças». E acrescentava:

    «Quem receber as crianças em meu nome, a mim recebe».
    Que encorajamentos para nós para nos ocuparmos com as crianças, para nos dedicarmos a elas, para procurarmos entre elas as vocações e favorecê-Ias! Um padre que não se interessa pelas vocações tem verdadeiramente o espírito apostólico? (Leão Dehon, OSP 2, p. 567).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Mandai, Senhor, trabalhadores para a vossa messe»

  • Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 17 Dezembro

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 17 Dezembro


    17 de Dezembro, 2021

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 17 Dezembro

    Lectio

    Primeira leitura: Génesis 49,2.8-10

    Naqueles dias, Jacob chamou os filhos e disse-lhes: 2 Ajuntai-vos para escutar, filhos de Jacob. Para escutar Israel, vosso pai.
    8*A ti, Judá, teus irmãos te louvarão. A tua mão fará curvar o pescoço dos teus inimigos. Os filhos de teu pai inclinar-se-ão diante de ti! 9Tu és um leãozinho, Judá; quando regressas, ó meu filho, com a tua presa! Ele deita-se. É o repouso do leão e da leoa; quem ousará despertá-lo? 10*0 ceptro não escapará a Judá, nem a autoridade à sua descendência, até que venha aquele a quem pertence o comando e ao qual obedecerão os povos.
    Jacob moribundo reúne a família e pronuncia palavras consideradas sagradas e proféticas sobre o futuro dos seus doze filhos e da descendência deles. Refere-se especialmente a Judá, pai da tribo homónima, na qual haveria de nascer o Messias (cf. vv. 8- 10). Esta profecia, que remonta ao tempo de Isaías (século VIII-VII), é misteriosa, mas exalta a superioridade de Judá entre os seus irmãos por causa da sua força real, semelhante à do leão, e pelo «ceptro» e pela autoridade (v. 1Qa), que exercerá sobre as tribos de Israel e sobre todos os seus inimigos. Trata-se de uma alusão à monarquia davídica, que receberá o ceptro do Ungido do Senhor, que trará a salvação esperada. Essa profecia irá realizar-se quando o verdadeiro rei anunciado, a quem pertence o ceptro, a autoridade e o reino, dominar sobre todos os povos. Este rei ideal e definitivo aparecerá no Messias, de que fala o Apocalipse: «Venceu o leão da tribo de Judá» (Apoc 5,5). Só ele possui o ceptro de Deus, cujo reino não é um domínio, um poder, mas serviço e amor em favor de todos os povos, que lhe deverão obediência filial.

    Evangelho: Mateus 1,1-17

    1 *Genealogia de Jesus Cristo, filho de David, filho de Abraão. 2Abraão gerou Isaac; Isaac gerou Jacob; Jacob gerou Judá e seus irmãos; 3Judá gerou, de Tamar, Peres e Zera; Peres gerou Hesron; Hesron gerou Rame; 4Rame gerou Aminadab; Aminadab gerou Nachon; Nachon gerou Salmon; 5Salmon gerou, de Raab, Booz; Booz gerou, de Rute, Obed; Obed gerou Jessé; 6Jessé gerou o rei David. David, da mulher de Urias, gerou Salomão; 7Salomão gerou Roboão; Roboão gerou Abias; Abias gerou Asa; 8Asa gerou Josafat; Josafat gerou Jorão; Jorão gerou Uzias; 9Uzias gerou Jotam; Jotam gerou Acaz; Acaz gerou Ezequias; 10Ezequias gerou Manassés; Manassés gerou Amon; Amon gerou Josias; 11Josias gerou Jeconias e seus irmãos, na época da deportação para Babilónia. 12Depois da deportação para Babilónia, Jeconias gerou Salatiel; Salatiel gerou Zorobabel; 13Zorobabel gerou Abiud. Abiud gerou Eliaquim; Eliaquim gerou Azur; 14Azur gerou Sadoc; Sadoc gerou Aquim; Aquim gerou Eliud; 15Eliud gerou Eleázar; Eleázar gerou Matan; Matan gerou Jacob. 16Jacob gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama Cristo. 17*Assim, o número total das gerações é, desde Abraão até David, catorze; de David até ao exílio da Babilónia, catorze; e, desde o exílio da Babilónia até Cristo, catorze.
    Mateus abre o seu evangelho com a narração das origens humanas de Jesus: a «Genealogia de Jesus Cristo» (v. 1), que começa em Adão e termina em «José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama Cristo» (v. 16). O evangelista divide a história da salvação, que tem o seu ponto culminante em Jesus-Messias, em três grandes períodos:
    Abraão, David, o exílio. Apesar da monotonia e do carácter artificial da sucessão dos nomes, o texto tem importante valor teológico, pois nos oferece a genealogia humana dAquele que será o protagonista do Evangelho. Confirmam-se as promessas dos profetas, segundo as quais Jesus é descendente de Abraão e de David e, portanto, possui as bênçãos e a glória dos antepassados.

    Meditatio
    o projecto de Deus foi longamente preparado, como mostra a genealogia com que Mateus inicia o seu evangelho. Cristo veio na plenitude dos tempos, uma plenitude, à primeira vista, desconcertante: o tempo nada fazia esperar de bom, o lugar do nascimento é uma pequena aldeia, José, embora sendo da descendência de David, era um modesto trabalhador desconhecido. Mas Deus é senhor do impossível e realiza os seus planos, quando nada o fazia prever.
    A primeira leitura é uma profecia de Jacob que fala do ceptro de Judá, que promete um vencedor: «um leãozinho, Judá», um dominador: «Os filhos de teu pai inclinar-se-ão diante de ti!». Judá é o elo que liga a primeira leitura ao evangelho. Cristo é filho de Judá. O segundo Adão entrou na aventura humana, marcada pelo pecado, pelo sofrimento e pela morte, por causa da desobediência dos nossos primeiros pais, não para punir a humanidade, mas para a transformar e reconduzir à amizade com Deus, como estava previsto no primeiro projecto. Toda a história de Israel é testemunho do anúncio da vinda de um redentor, que os homens esperam para receber a promessa: toda a lei está grávida de Cristo, diria Agostinho de Hipona. Em Jesus, Deus fez-se efectivamente homem, e o sonho tornou-se realidade. O Deus-connosco fez Deus- para-nós, apesar das nossas infidelidades e do nosso fraco acolhimento.
    Fazemos parte desta história, que nos liga a Abraão e a David, fio de ouro que muitas vezes quebrámos com o nosso pecado e que Deus volta a ligar em Jesus, aproximando-nos cada vez mais do seu coração. E Ele, que conheces as fragilidades do espírito humano, sabe compreender e perdoar a nossa fraqueza, mas espera a conversão do nosso coração e o reconhecimento dAquele a quem pertence toda a realeza e a quem todos os povos devem obediência, fidelidade e amor.
    Cristo, Verbo eterno de Deus, assumiu a carne humana, da estirpe de David. Fez-Se intimamente próximo de nós homens: pela sua humanidade, ergueu a sua tenda no meio das nossas (cf. Jo 1,14); tornou-Se nosso companheiro da caminhada terrena, peregrino connosco rumo à pátria celeste, em tudo igual a nós, com as nossas fragilidades, os nossos sofrimentos, excepto o pecado; mas carregou sobre Si os nossos pecados e ofereceu-Se em sacrifício por eles. Assim alcançou a vitória: «venceu o Leão da tribo de Judá, o rebento da dinastia de David» (Apoc 5, 5). Mas este vencedor é um Cordeiro imolado, não um leão que devora a presa. E todavia é verdadeiramente o leão de Judá, o vencedor. Mas a sua vitória não foi obtida de maneira humana. Venceu-a com o sacrifício de si mesmo. E a sua vitória continua a realizar-se: Cristo, de Lado aberto e Coração trespassado, continua a atrair todos os homens. É, na verdade, o vencedor prometido, que vem da tribo de Judá.

    Oratio
    Senhor, Deus de Abraão, de Isaac Deus e de Jacob, Deus de Jesus Cristo e nosso Deus, prometeste a Judá um reino eterno e uma realeza sobre todos os povos. Toda a história humana, por meio do povo eleito e, depois, por meio da Igreja, é herdeira das bênçãos de Israel, e está orientada para Cristo, esperado das nações. Que cada um de nós se torne instrumento válido para levar até Ele todo o irmão e irmã que encontrar na vida. Faz que os homens, de todas as raças e cores, saibam ultrapassar as divisões e reencontrar-se unidos por uma renovada esperança na vinda do Salvador e por uma forte confiança de que a sua mensagem de salvação e de vida é válida para todos, sem qualquer distinção.
    Senhor da história e dos povos, enche-nos do teu poder e faz que vivamos vigilantes reconhecendo os sinais dos tempos e a tua passagem silenciosa pelas aventuras quotidianas da nossa história. Que, sobretudo, reconheçamos no teu Filho Jesus, descendente de uma estirpe humana, o Messias esperado. Amen.

    Contemplatio
    o patriarca Jacob dizia-o abençoando o seu filho Judá: «O ceptro não sairá de Judá, dizia, até que venha aquele que deve vir e será o desejado de todos os povos» (Gen 41). Nós o sabemos, Israel esperava o Messias e todos os povos desejavam um Salvador. Nós o possuímos, nós, este Salvador, no tabernáculo, e não vamos ter com ele!
    Quer a nossa visita para acender nos nossos corações o fogo dos santos desejos.
    A minha alma é esta Jerusalém descrita por Jeremias (Lam 1), toda desolada, devastada, sem energia e sem força. Irei ao sacrário receber os eflúvios da sabedoria e da força divinas.
    «Sião, dizia: O Senhor me abandona e me esquece. - Não, responde o Senhor, é que uma mãe pode esquecer o seu filho e o fruto das suas entranhas? E mesmo que uma mãe pudesse esquecer o seu filho, eu nunca vos esqueceria» (Is 49, 14).
    Nós temos, portanto, no sacrário, uma mãe e mais do que uma mãe. Donde vem que não vamos com mais confiança ao Coração eucarístico de Jesus?
    Quem sou eu? Um bebé que precisa de ser aleitado com leite real. O Salvador está lá para mo dar. O profeta prometeu-o: «Tu terás o leite real, dizia a Sião, e tu saberás que sou o teu Salvador, o teu Redentor e a tua força (Is 60).
    Tenho lá no sacrário o pão dos fortes, o maná que deleita e que alimenta. Se não negligencio este banquete, este alimento divino, crescerei em força e em graça. É a intenção de Nosso Senhor.
    Como bebés, diz S. Pedro, desejai e saboreai o leite espiritual, para que a graça da salvação cresça em vós (1 Pd 2, 2).
    Crescei, diz-nos S. Paulo, até ao desenvolvimento do homem perfeito, para que não sejais mais como crianças sem vontade; cumpri os vossos deveres por amor, a fim de crescerdes sem cessar em Cristo que é o vosso chefe (Ef 4, 13).
    Irei, portanto, ao sacrário buscar o leite da sabedoria e o espírito de caridade ao coração de Cristo (Leão Dehon, OSP 1, p. 640s.).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Ó Sapiência, vem ensinar-nos o caminho da vida» (da liturgia).

  • Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 18 Dezembro

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 18 Dezembro


    18 de Dezembro, 2021

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 18 Dezembro

    Lectio

    Primeira leitura: Jeremias 23, 5-8

    5Dias virão em que farei brotar de David um rebento justo que será rei, governará com sabedoria e exercerá no país o direito e a justiça -oráculo do SENHOR. 6Nos seus dias, Judá será salvo e Israel viverá em segurança. Então será este o seu nome: «O SENHOR -é-nossa-Justiçaf» 7Por isso, eis que chegarão dias -oráculo do SENHOR- em que já não dirão: «Viva o SENHOR que tirou do Egipto os filhos de Israel.» BMas sim: «Viva o SENHOR que tirou e reconduziu a linhagem de Israel do país do Norte e de todos os países, para onde os dispersara, e os fez habitar na sua própria terra.»

    Jeremias vive num momento muito difícil da história de Israel. Os seus textos são fortemente dramáticos. Mas, na página que lemos hoje, apresenta-nos uma profecia cheia de esperança, com dois oráculos: o primeiro anuncia um rei sábio, descendente de David que, como «rebento justo», guiará o povo como um pastor (vv. 5-6); o segundo é uma declaração do fim do exílio e da dispersão do povo, que regressará para «habitar na sua própria terra» (vv. 7-8). A profecia coloca-nos diante de uma intervenção de Deus que é sinal da sua fidelidade à promessa feita a David (cf. 2 Sam 7, 12-16), e faz a unidade do povo, guiado por um verdadeiro rei (cf. Is 11, 1-9; Zc 3, 8), que realiza um reino de paz e de justiça. Por isso, será chamado «Senhor-nossa-justiça» (v. 6). Todas as características deste sucessor de David são atribuídas ao Messias, que governará o povo com o direito da sua Palavra e com a justiça do seu amor misericordioso (v. 5). O segundo anúncio trata da libertação do exílio e do regresso à Terra, descritos como um novo êxodo, profecia da libertação realizada pelo Messias, que reconduzirá todo o exilado e o introduzirá na terra da paz sabática.

    Evangelho: Mateus 1, 18-25

    1B*Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava desposada com José; antes de coabitarem, notou-se que tinha concebido pelo poder do Espírito Santo. 19*José, seu esposo, que era um homem justo e não queria difamá-Ia, resolveu deixá-Ia secretamente. 20*Andando ele a pensar nisto, eis que o anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo. 21 *Ela dará à luz um filho, ao qual darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados.» 22Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: 23*Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho; e hão-de chamá-lo Emanuel, que quer dizer: Deus connosco. 24Despertando do sono, José fez como lhe ordenou o anjo do Senhor, e recebeu sua esposa. 25*E, sem que antes a tivesse conhecido, ela deu à luz um filho, ao qual ele pôs o nome de Jesus.

    Mateus descreve-nos a anunciação do nascimento de Jesus a José, filho de David. Maria, noiva de José, encontra-se grávida por obra do Espírito Santo. Enquanto José pensa despedi-Ia secretamente, o Anjo revela-lhe em sonhos o projecto de Deus:
    Maria dará à luz o Salvador esperado. José, homem justo cf. v. 19), acolhe com fé e simplicidade o projecto de Deus, recebe Maria como esposa, e reconhece legalmente o filho que está para nascer, transmitindo-lhe todos os direitos próprios de um descendente de David. Ao dar-lhe o nome de Jesus, que qualifica a sua missão, cumpre a vontade de Deus. Mesmo fora dos laços de sangue, Jesus é da linhagem de David, como demonstra Mateus ao citar Is 7, 14: «Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho; e hão-de chamá-lo Emanuel, que quer dizer: Deus connosco» (v. 23).
    Deus, para realizar o seu desígnio de amor e de salvação, serviu-se dos homens que veneram a sua vontade, muitas vezes misteriosa. José é um deles. Vivendo na fé e no escondimento, colaborou com Deus na história da salvação. No filho de Maria e de José, que está para nascer, Deus revela-se Emanuel, «Deus connosco».

    Meditatio
    o evangelho de hoje mostra-nos a realização da profecia de Jeremias: «farei brotar de David um rebento justo - diz o Senhor - ». José, filho de David recebe o anúncio desse nascimento próximo, também anunciado por Isaías: «Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho».
    Ao mesmo tempo, verificamos que o cumprimento desta promessa, tão longamente preparado, não se realiza sem um drama pessoal e muito doloroso. José pensava ter de renunciar a Maria, ter de renunciar a casar com Ela. Os grandes dons de Deus são geralmente precedidos de grandes sofrimentos. Deus quer alargar-nos o coração, demasiado pequeno para receber os seus dons. Uma vocação não se realiza sem drama e sofrimento: seja a vocação matrimonial, sejam as diversas vocações de consagração e de serviço na Igreja. Não ter em conta, ou esquecer essa realidade explica provavelmente muitos fracassos na fidelidade à própria vocação.
    A ligação entre a primeira leitura e o evangelho é feita pelo «rebento justo» que floresce no tronco de David e «que será rei e governará com sabedoria». Este rei misterioso que nasce por obra do Espírito, é o Messias que «salvará o povo dos seus pecados». Mas Deus serve-se de José, homem simples e de fé profunda, para levar por diante a história da salvação centrada em Jesus. José não põe entraves ao projecto de Deus, entra no mistério mesmo sem o compreender completamente, acredita no seu criador e colabora com docilidade e confiança.
    O homem justo não é aquele que teoriza, mas aquele que lê os acontecimentos da vida à luz da Palavra de Deus.
    Estar disposto a obedecer a Deus, é uma condição prévia para entrar em diálogo com Ele e "entrar" nos seus projectos em favor dos homens. Maria e José, verdadeiros pobres, tinham essa disposição. Por isso, puderem ser chamados a colaborar e colaboraram efectivamente no grandioso projecto da nossa salvação realizado em Jesus Cristo, Morto e Ressuscitado.
    É também essa disponibilidade que nos é proposta pelas Constituições: "O ... caminho" de Cristo, de total obediência e disponibilidade à vontade do Pai, "é o nosso caminho" (n. 12).
    Contemplar e reviver a obediência de Cristo, introduz-nos no mistério de Deus:
    Em "Cristo ... Senhor ... o Pai revelou-nos o Seu amor" (Cst. 9). Jesus manifesta o Seu amor filial ao Pai não só com palavras, mas com toda a vida. A obediência de Cristo, o mistério da Sua Oblação são exactamente as primeiras realidades que devem interessar à nossa vida es
    piritual de "Oblatos, Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus": "Caminhai na caridade - exorta-nos S. Paulo -como Cristo nos amou e se entregou a Si mesmo por nós, oferecendo-Se a Deus em sacrifício de suave odor' (Ef 5,2; TOB).
    José e Maria são exemplo luminoso para nós. Sejam também nossos intercessores.

    Oratio
    Senhor Jesus, filho de David, que Te fizeste homem e vieste para meio de nós, graças à disponibilidade obediente e generosa da Virgem Maria, e cresceste em Nazaré sob o olhar vigilante de José, homem justo, ajuda-nos a reconhecer na tua vinda a Alegre Notícia da salvação e da vida nova.
    Tu, que és o rebento justo, florescido no coração de cada homem, faz com que o teu reino de justiça e de paz, com a riqueza dos seus valores humanos, se expanda como luz no meio dos povos. Que a figura simples e laboriosa de José nos faça compreender que, para além dos laços de sangue, aprecias toda a paternidade, que é reflexo da do Pai que está no Céu. Que nos faça também perceber que o homem rico de fé, e disponível para o cumprimento da tua vontade, Te é sempre agradável e que, por isso, fazes dele colaborador no teu projecto de salvação.
    Dá-nos a graça de, como José, estarmos sempre prontos a acolher, com sinceridade e alegria, tudo quanto nos pedes, mesmo que por caminhos que não entendemos. Para isso, está connosco, sê o nosso Emanuel! Amen.

    Contemplatio
    S. José é para nós um modelo e um protector. A sua pureza, a sua inocência, a sua humildade são modelos oferecidos às almas que aspiram à piedade. Pela sua pureza, foi julgado digno de ser o esposo de Maria. Pela sua humildade, mereceu a glória de ser o pai adoptivo de Jesus. Pela sua inocência, tornou-se digno da união e da intimidade que devia ter com Jesus e a sua mãe em Nazaré.
    Meditando nas suas virtudes, os padres aprenderão com que respeito cheio de amor deve tratar-se com Jesus no altar. Os fiéis aprenderão a comungar piedosamente.
    Como S. José tinha Jesus nos seus braços, apertava-o sobre o seu coração, o padre tem-no no altar nas suas mãos. O padre e o fiel recebem-no não no seu peito, mas no seu coração.
    S. José vestia-o, conduzia-o, guardava-o; aprendamos dele a tratar com uma piedosa ternura no altar e no banco da comunhão.
    A doce e amável familiaridade com a qual José vivia junto de Jesus no Egipto e em Nazaré, é um exemplo da intimidade na qual Nosso Senhor queria viver connosco. José conversava com Jesus amigavelmente; Jesus era sempre o objecto do seu pensamento; no trabalho, na refeição, estavam unidos.
    O cuidado de José era de contentar Jesus e sabia que o fazia ocupando-se do seu Pai e da sua bondade.
    Dirijamo-nos a S. José para obtermos as graças preciosas que nos ensinarão a conversar com Jesus menino. (Leão Dehon, OSP 3, p. 235s.).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Senhor, vem libertar-nos» (da Liturgia).

  • Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 19 Dezembro

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 19 Dezembro


    19 de Dezembro, 2021

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 19 Dezembro

    Lectio

    Primeira leitura: Juízes 13,2-7. 24-25a

    Naqueles dias, 2*vivia um homem de Sorá, da tribo de Dan, cujo nome era Manoé; sua esposa era estéril, não tinha ainda concebido filhos. 30 anjo do SENHOR apareceu a esta mulher e disse-lhe: «Já viste que és estéril e ainda não deste à luz; mas vais conceber e dar à luz um filho. 4Doravante abstém-te, não bebas vinho nem qualquer bebida alcoólica; não comas nada impuro, 5*porque vais conceber e dar à luz um filho. A navalha não há-de tocar a sua cabeça, pois o menino vai ser consagrado a Deus desde o seio materno; ele mesmo vai começar a salvar Israel das mãos dos filisteus.» 6A mulher voltou e disse ao marido: «Um homem de Deus veio ter comigo; o seu aspecto era semelhante ao de um anjo do SENHOR, muito respeitável. Não lhe perguntei de onde ele era, nem ele me revelou o seu nome. 7Disse-me ele: 'Eis que vais conceber e dar à luz um filho; doravante não bebas vinho nem bebida alcoólica; não comas nada de impuro, pois esse jovem será consagrado ao SENHOR desde o seio materno até ao dia da sua morte. '»
    24*A mulher deu à luz um filho e pôs-lhe o nome de Sansão; o menino cresceu e o SENHOR abençoou-o. 25Foi em Maané-Dan, entre Sorá e Estaol, que o espírito do SENHOR começou a agitar Sansão.
    o nascimento de certos personagens, que tiveram grande importância na história do Povo de Israel, é relatado na Bíblia segundo um determinado género literário que se tornou clássico. Lembremos o nascimento de Isaac (Gen 11, 30; 18, 10-11; 30, 22-24) e o nascimento de Samuel (1 Sam 5.20). Hoje lemos o nascimento de Sansão. Nestes casos, Deus escolhe pessoas humildes e «fracas», como se verifica pela esterilidade das mães. O filho que nasce é claramente um dom de Deus, com uma missão salvífica em favor do povo. Aos chamados, Deus apenas pede uma total colaboração, uma alegre simplicidade e uma completa fidelidade ao projecto de salvação.
    Uma mulher que «não tinha ainda concebido» (v. 2), e o seu marido Manoé, geram um filho, Sansão, um nazireu «consagrado ao Senhor» (v. 5.7) que é profecia do que acontecerá com João Baptista e, sobretudo, com Jesus, filho da virgem de Nazaré, esposa de José.

    Evangelho: Lucas 1, 5-25

    5*No tempo de Herodes, rei da Judeia, havia um sacerdote chamado Zacarias, da classe de Abias, cuja esposa era da descendência de Aarão e se chamava Isabel. 6Ambos eram justos diante de Deus, cumprindo irrepreensivelmente todos os mandamentos e preceitos do Senhor. 7*Não tinham filhos, pois Isabel era estéril, e os dois eram de idade avançada. BOra, estando Zacarias no exercício das funções sacerdotais diante de Deus, na ordem da sua classe, 9*coube-lhe, segundo o costume sacerdotal, entrar no santuário do Senhor para queimar o incenso. 10Todo o povo estava da parte de fora em oração, à hora do incenso. 11 Então, apareceu-lhe o anjo do Senhor, de pé, à direita do altar do incenso. 12*Ao vê-lo, Zacarias ficou perturbado e encheu-se de temor. 13*Mas o anjo disse-lhe: «Não temas, Zacarias: a tua súplica foi atendida. Isabel, tua esposa, vai dar-te um filho e tu vais chamar-lhe João. 14*Será para ti motivo de regozijo e de júbilo, e muitos se alegrarão com o seu nascimento. 15*Pois ele será grande diante do Senhor e não beberá vinho nem bebida alcoólica; será cheio do Espírito Santo já desde o ventre da sua mãe 16e reconduzirá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus. 17*lrá à frente, diante do Senhor, com o espírito e o poder de Elias, para fazer volver os corações dos pais a seus filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, a fim de proporcionar ao Senhor um povo com boas disposições.» 18*Zacarias disse ao anjo: «Como hei-de verificar isso, se estou velho e a minha esposa é de idade avançada?» 19*0 anjo respondeu: «Eu sou Gabriel, aquele que está diante de Deus, e fui enviado para te falar e anunciar esta Boa-Nova. 20Vais ficar mudo, sem poder falar, até ao dia em que tudo isto acontecer, por não teres acreditado nas minhas palavras, que se cumprirão na altura própria.» 210 povo, entretanto, aguardava Zacarias e admirava-se por ele se demorar no santuário. 22Quando saiu, não lhes podia falar e eles compreenderam que havia tido uma visão no santuário. Fazia-lhes sinais e continuava mudo. 23*Terminados os dias do seu serviço, regressou a casa. 24Passados esses dias, sua esposa Isabel concebeu e, durante cinco meses, permaneceu oculta. 25*Dizia ela: «O Senhor procedeu assim para comigo, nos dias em que viu a minha ignomínia e a eliminou perante os homens.»
    A narrativa do nascimento de João Baptista oferece-nos pormenores que encontramos já no Antigo Testamento, nomeadamente no nascimento de Sansão: aparição do anjo, perturbação e temor na pessoa visitada, comunicação da mensagem celeste; um sinal de reconhecimento.
    A narrativa da anunciação a Zacarias deve também ler-se tendo presente a da anunciação do nascimento de Jesus. Encontramos algumas semelhanças, mas também diferenças essenciais: Zacarias é visitado no templo e Maria é visitada em sua casa, em Nazaré; Zacarias revela-se incrédulo e Maria, cheia de fé; João Baptista nasce de uma mulher estéril, enquanto Jesus nasce de uma virgem; João «será cheio do Espírito Santo já desde o ventre da sua mãe» (v. 15) e «muitos se alegrarão com o seu nascimento» (v. 14); Jesus será concebido por obra do Espírito Santo (Lv 1, 35) e todos se hão-de alegrar com o seu nascimento (Mt 2, 13); Zacarias ficará mudo; Maria entoa o Magnificat em casa de Isabel Na plenitude dos tempos só há lugar para o acolhimento da palavra de Deus e para a fé simples e jubilosa.

    Meditatio
    o nascimento de Sansão, tal como o de João Baptista, mostra-nos que Deus é capaz de vencer dificuldades humanamente inultrapassáveis: a mulher de Manoé é estéril, Isabel é estéril e avançada nos anos. Assim, Deus mostra que nada se pode opor à sua vontade de salvar os homens. Por meio de Sansão, salva Israel da opressão dos filisteus; por meio de João Baptista, liberta espiritualmente aqueles que se mostram disponíveis, proporcionando para Si «um povo com boas disposições», isto é, realiza a libertação espiritual daqueles que acolherem a sua iniciativa divina.
    O acolhimento da iniciativa divina é preparado pela conversão pessoal, isto é, pela aceitação da libertação do pecado. Essa libertação manifesta-se na mudança das nossas relações com os outros que passam a caracterizar-se pela liberdade, pela caridade e não pela opressão.

    A Igreja, no Advento, faz-nos contemplar as maravilhas de Deus para suscitar em nós a esperança: Deus
    é Senhor do impossível, Deus vence as maiores dificuldades porque quer salvar-nos.
    O evangelho faz-nos ver claramente estas verdades: Zacarias e Isabel são «justos». Cumprem rigorosamente os mandamentos e preceitos do Senhor. Mas vivem numa certa desilusão. Sofrem intimamente pela ausência de filhos, e, apesar das suas orações, já não têm esperança de os gerar. Por isso é que o anjo começa por dizer a Zacarias: «a tua súplica foi atendida» (v. 13). Zacarias acolhe o anúncio com cepticismo: «Gomo hei-de verificar isso, se estou velho e a minha esposa é de idade avançada?» (v. 18). Esta falta de fé e de esperança, ou esta falta de esperança que leva à falta de fé, exige outro sinal. Será um sinal muito duro, mas necessário:
    Zacarias ficará mudo até que se cumpra a palavra do Senhor (cf. v. 20).
    Zacarias e Isabel recebem um filho que não será para eles, mas que se votará a Deus, irá para o deserto e estará ao serviço de todo o povo. A provação preparou para essa graça, dispondo-os a viver um total desapego em relação ao filho.
    Abramo-nos à esperança que vem de Deus, e não ponhamos obstáculos à realização dos seus projectos de salvação.
    Vivamos com Maria a nossa preparação para o Natal. Como escreveu João Paulo II: "Maria apareceu cheia de Cristo no horizonte da história da salvação" (RM 3). "Na noite da espera, Maria é a estrela da manhã", é "a aurora" que anuncia o dia, o surgir do sol. Maria é espera cheia de esperança e amorosa confiança, além de segura certeza da presença do Redentor no Seu seio».

    Oratio
    Senhor, só Tu és grande, e as tuas obras são magníficas: és o Senhor da vida e da história; envias-nos fiéis mensageiros com alegres notícias; ergues-te como sinal de esperança; és luz para todos os povos. Vem ao nosso encontro e mostra-nos o teu rosto para contemplarmos a tua glória o teu amor surpreendente e admirável.
    Tu, que deste vida a mulheres estéreis, e realizas-te prodígios por meio do teu Espírito naqueles que em Ti creram, renova o nosso coração cansado e desanimado. Então cumpriremos a tua vontade e amaremos todos quantos se cruzarem connosco no caminho da vida.
    Dá-nos a graça de saborearmos a tua presença em nós e connosco, como a saboreou a Virgem de Nazaré, a mulher do silêncio e da interioridade. Amen.

    Contemplatio
    O sacerdote Zacarias era um homem de oração e de penitência. O seu fervor era grande, quando era o seu turno de oferecer o incenso no Santo dos santos. Sentia que era então o representante de todo o povo de Israel e pedia a Deus a salvação para o povo e a redenção. O anjo Gabriel veio ter com ele, como tinha vindo ter com Daniel, apareceu-lhe à direita do altar e disse-lhe: «Não temas, Zacarias, a tua oração foi atendida. O Salvador virá em breve e o filho que Deus vai dar-te será o seu precursor. Via preparar-lhe os caminhos, há-de converter uma parte do povo. Será poderoso em palavras como Elias e exortará eficazmente o povo à penitência».
    Zacarias era apoiado pelas orações dos piedosos frequentadores do templo.
    No entanto, teve alguma dúvida, e o anjo Gabriel repreendeu-o anunciando-lhe o castigo pelo qual expiaria esta dúvida. Mas a misericórdia divina não retirava a sua promessa, e a salvação ia chegar.
    Rezemos com Zacarias e com o povo piedoso. Peçamos misericórdia.
    Humilhemo-nos. Confessemos os nossos pecados e os do nosso povo. S. Gabriel, o anjo das misericórdias divinas, recebe as nossas orações e leva-as ao trono de Deus. Quando as nossas orações e as nossas penitências forem suficientes, a bondade divina dará à sua Igreja uma nova efusão das graças da redenção. Rezemos ao anjo Gabriel para apoiar as nossas súplicas (Leão Dehon, OSP 3, p. 301 s.).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «A tua súplica foi atendida» (Lc 1, 13b).

  • Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 20 Dezembro

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 20 Dezembro


    20 de Dezembro, 2021

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 20 Dezembro

    Lectio

    Primeira leitura: Isaías 7,10-14

    Naqueles dias: 100 Senhor mandou dizer de novo a Acaz: 11«Pede ao Senhor teu Deus um sinal, quer no fundo dos abismos, quer lá no alto dos céus.» 12*Acaz respondeu: «Não pedirei tal coisa, não tentarei o Senhor.» 131saías respondeu: «Escuta, herdeiro de David: Não vos basta já ser molestos para os homens, senão que também ousais sê-lo para o meu Deus? 14*Por isso, o Senhor, por sua conta e risco, vos dará um sinal. Olhai: a jovem está grávida e dará à luz um filho, e há-de pôr¬lhe o nome de Emanuel.

    Em 735 a. C., Acaz, jovem rei de Jerusalém, vê vacilar o seu trono devido à aproximação de exércitos inimigos, que pressionam as fronteiras de Judá. Enquanto ele procura alianças humanas, Isaías insiste em que deve confiar apenas em Deus. Desafia mesmo o rei a pedir um «sinal» da assistência divina. Acaz recusa a proposta: «Não pedirei tal coisa, não tentarei o Senhor» (v. 12). Esta recusa, porém, baseia-se numa falsa religiosidade. Isaías denuncia a hipocrisia do rei, acrescentando que, apesar da sua recusa, o próprio Deus lhe iria dar o sinal: «a jovem está grávida e dará à luz um filho, e há-de pôr-lhe o nome de Emanuel» (v. 14).

    As palavras do profeta referem-se a Ezequias, o filho de Acaz, que a rainha está para dar à luz e cujo nascimento é visto, naquele particular momento histórico, como presença salvífica de Deus em favor do povo angustiado. Mas, na realidade, as palavras de Isaías referem-se a um rei Salvador, no qual toda a tradição cristã, servindo-se da tradução dos Setenta, viu uma profecia do nascimento virginal de Jesus, filho de Maria.

    Evangelho: Lucas 1, 26-38

    26*Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, 27*a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria. 28*Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, Ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» 29*Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação. 30Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. 31*Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. 32Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, 33reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.» 34*Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» 35*0 anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. 36Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, 37*porque nada é impossível a Deus.» 38*Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela.

    A anunciação a Maria é aurora do maior acontecimento da história humana, a Incarnação do Filho de Deus. O texto bíblico mostra que estamos perante a realização das promessas de Deus aos Patriarcas e renovadas a David (cf. 2 Sam 7, 14.16; 1 Cron 17, 12-14; Is 7,10-14), e contém uma rica teologia do mistério de Cristo. Jesus é, de facto visto, como rei e filho de David (<

    A confirmação da intervenção celeste, por obra do Espírito Santo, na sua condição virginal, abre o coração de Maria à vontade de Deus e à plena adesão ao projecto universal da salvação com as simples palavras que mudaram o curso da história humana: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (v. 38). O sim de Maria abre caminho à nossa salvação.

    Meditatio

    A Incarnação é uma iniciativa de Deus em favor de rebeldes, que são os homens pecadores. A primeira leitura realça esse facto.

    «Pede um sinai», diz Deus a Acaz, pela boca de Isaías. O rei, fingindo razões de fé, responde que não quer tentar a Deus. Na verdade, mostra a sua má vontade. E é nesta circunstância que Deus promete um sinal: «Não vos basta já ser molestos para os homens, senão que também ousais sê-lo para o meu Deus? Por isso, o Senhor, por sua conta e risco, vos dará um sinal. Olhai: a jovem está grávida e dará à luz um filho, e há-de pôr-lhe o nome de Emanuel»

    A salvação é obra do amor misericordioso de Deus, que se antecipa ao movimento dos homens.

    O anúncio do oráculo de Isaías está ligado ao texto evangélico de Lucas, por causa da interpretação profética que a Igreja fez dele referindo-o ao nascimento histórico do Filho de Deus, Salvador de todos os homens. A sua vinda mudou a história profana em história da salvação, elevando à comunhão com Deus a vida de cada homem, pela mediação de Jesus de Nazaré. Deus revela-se e alcança-se, não tanto pela contemplação da criação, pela investigação filosófica ou pela experiência religiosa universal, mas por Jesus, filho de Maria, que se proclama "Filho", enviado pelo Pai, em total dependência de amor a Ele, acolhido e dado ao mundo pela Virgem Mãe.

    É nesta história que irrompe Deus transcendente e misericordioso, inserindo-se na história dos homens para os salvar, transportando-os para um nível superior do Espírito, na fé e no amor. Nós os crentes, tornados amigos de Jesus, somos introduzidos na comunhão com Deus Pai, pelo aprofundar da fé e do amor, vividos na fidelidade ao Evangelho. Esta vida de unidade com o Senhor alcança-se pela interiorização da palavra de Deus, como fez a Virgem Maria.

    A vida de hoje é uma permanente conspiração contra a vida interior. Tudo concorre para nos dispersar. Se não conseguirmos recolher-nos, e reflectir sobre Cristo em profundidade, não conseguiremos chegar à verdade e à fé. Maria guia-nos e é exemplo para nós nesse caminho: «Feliz Aquela que acreditou».

    A iniciativa da nossa salvação pertence totalmente a Deus. Mas a Virgem de Nazaré dispõe-se a colaborar: «
    Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra». Maria não responde de modo orgulhoso e fingido como Acaz. Acolhe a iniciativa de Deus sem pretensões pessoais. O seu único desejo é servir.

    A experiência materna de Maria é, sobretudo, uma experiência de fé, de disponibilidade total para a Palavra de Deus, como ela manifesta nas palavras: "Ecce ancilla".

    Na obra do Pe Dehon, O ano com o Coração de Jesus, lemos uma meditação para o dia 25 de Março com estes títulos: "Ecce venio, regra de vida de Jesus"; "Ecce an cilla , regra de vida de Maria", "Ecce venio, Ecce ancilla Domini». E o Fundador anota: «Estas palavras traçam a regra da nossa vida" (OSP 3, 328-330). Que a intercessão da Virgem nos alcance a graça de uma disponibilidade semelhante para com Deus e para com os seus projectos de salvação da humanidade.

    Oratio

    Pai, hoje quero inspirar-me nas palavras que S. Bernardo põe na boca de Maria para Te rezar: «Faça-se em mim segundo a tua palavra». O Verbo realize em mim a tua palavra! O Verbo, que estava em Deus, se faça carne da minha carne, segundo a tua palavra!

    Não seja palavra que passa velozmente, logo que proferida, mas palavra concebida para permanecer, revestida de carne e não de ar que corre! Que não ressoe, só aos meus ouvidos, esta palavra; vejam-na os meus olhos, toquem-na as minhas mãos, carreguem-na os meus ombros! Não seja uma palavra escrita e muda, mas incarnada e viva; não seja uma palavra escrita com letras fixas num pergaminho morto, mas estampada sob forma humana no meu coração; traçada não por uma pena, mas pelo Espírito Santo!

    Outrora, muitas vezes e de muitos modos, falaste aos patriarcas e aos profetas, e diz-se que as tuas palavras vem dos ouvidos de uns, aos lábios de outros e às mãos de outros mais. Para mim, peço que se faça no meu ser segundo a tua palavra. Não quero uma palavra que pregue e proclame. Quero um verbo que se doe silenciosamente, que incarne pessoalmente e que desça sobre mim cordialmente. Que se faça para o mundo inteiro, e particularmente para mim, segundo a tua palavra (cf. Bernardo de Claraval, Homilias sobre Nossa Senhora, 4, 11).

    Contemplatio

    Ecce Venio, Ecce Ancilla Domini. Estas palavras traçam a regra da nossa vida.

    Nestas palavras encontra-se toda a vocação das almas consagradas ao Sagrado Coração, com o seu fim, os seus deveres, as suas promessas. Este sentimento, esta disposição, estas palavras ditas e sentidas bastam em todas as situações, em todos os acontecimentos, para o presente e para o futuro.

    Eis que venho, ó meu Deus, para fazer a vossa vontade. Estou aqui, pronto para fazer ou para sofrer, a empreender ou a sacrificar tudo o que pedirdes de mim.

    A vontade de Deus faz-se conhecer em todo o instante; e se em algum momento a obscuridade e a incerteza preenchem o coração e o espírito, perseveremos com paciência e confiança neste estado, até que agrade à sabedoria e à bondade divinas deixar luzir de novo a sua luz.

    Uma alma oferecida, uma vítima, sabe que nada tem a escolher nem a decidir por si, a sua escolha está feita, a sua sorte fixada. Quando, como, em que circunstância há-de cumprir-se o seu sacrifício, tudo isto está à livre escolha daquele ao qual ela pertence inteiramente.

    Assim, portanto, pratiquemos o abandono total, o deixar fazer, olhando para aquele que caminhou à frente no mesmo caminho, que o tornou praticável, que deixou atrás de si os rastos sangrentos dos seus passos.

    Os cabelos da nossa cabeça estão contados. Deus vela mesmo pelas necessidades dos pássaros, não nos esquecerá. Terá cuidado de nós por todas as nossas necessidades em tempo conveniente. Se nos dermos a Ele, dar-se-á também a nós e então o que é que nos há-de poder faltar? Quando Maria se deu pelo Ecce an cilla , recebeu a sua graça suprema: O Verbo fez-se carne e habitou no seu seio. (Leão Dehon, OSP 3, p. 329s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Ecce Venio, Ecce Ancilla Domini».

  • Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 21 Dezembro

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 21 Dezembro


    21 de Dezembro, 2021

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 21 Dezembro

    Lectio

    Primeira leitura: Cântico dos Cânticos 2,8-14

    8Eis a voz de meu amado! Ei-Io que chega, correndo pelos montes, saltando sobre as colinas. O meu amado é semelhante a um gamo ou a um filhote de gazela. Ei-Io que espera, por detrás do nosso muro, olhando pelas janelas, espreitando pelas frinchas.10Fa/a o meu amado e diz-me: Levanta-te! Anda, vem daí, Ó minha bela amada! 11 Eis que o ln vemo já passou, a chuva parou e foi-se embora; 12despontam as flores na terra, chegou o tempo das canções, e a voz da rola já se ouve na nossa terra; 13*a figueira faz brotar os seus figos e as vinhas floridas exalam perfume. Levanta-te! Anda, vem daí, Ó minha bela amada! 14Minha pomba, nas fendas do rochedo, no escondido dos penhascos, deixa-me ver o teu rosto, deixa-me ouvir a tua voz. Pois a tua voz é doce e o teu rosto, encantador.

    o texto do Cântico dos Cânticos celebra delicadamente o amor entre a esposa e o esposo. Esse amor, descrito de forma tão ousada e inspirada, é considerado um dom de Deus. O nosso texto descreve o regresso do esposo a casa, depois de prolongada ausência à busca de pastagens para o rebanho, durante o Invemo. A alegria da esposa pelo regresso do seu amado, e a grande ternura manifestada, são tão intensas que as palavras utilizadas, cheias de inspiração poética, e as imagens primaveris tão expressivas, parecem insuficientes para descrever a sua emoção.

    Na tradição da Igreja, a imagem do esposo e da esposa foi sempre entendida como símbolo da relação entre Deus e o povo (cf. Os 1-3; Is 62, 4-5; Jer 3, 1-39) e entre Cristo e a Igreja (cf. Mc 2, 19-20; Ef 5, 25-26; 2 Cor 11, 2; Apoc 21, 9). Deus é o esposo do poema e Israel, a esposa. E, porque o amor de Deus pelo seu povo se prolonga no amor de Cristo pela sua Igreja, o esposo é Cristo e a esposa é a Igreja. O liturgia utiliza esta simbologia nupcial entre Cristo e Maria e entre Cristo e o crente: a Virgem é figura da Igreja que vai alegre ao encontro de Cristo-esposo que vem. O mesmo sucede com todo o membro da comunidade cristã que vive na expectativa de acolher o Senhor para O deixar falar-lhe ao coração.

    Evangelho: Lucas 1, 39-45

    39*Por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, a uma cidade da Judeia. 40Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. 41 *Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 42Então, erguendo a voz, exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. 43*E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? 44Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio. 45Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor.»

    A narrativa da visitação de Maria à prima Isabel, que vivia em Ain Karin, nas montanhas da Judeia, é uma página rica de referências bíblicas, de humanidade e de espiritualidade. Maria percorre o caminho feito antes pela Arca da Aliança, quando David a fez transportar para Jerusalém (cf. 2 Sam 6, 2-11). É o mesmo caminho que Jesus fará quando se dirigir corajosamente para Jerusalém, a fim de realizar a sua missão (cf. Lc 9, 51). É sempre Deus que, em diferentes momentos da história, vai ao encontro do homem para o salvar.

    A narrativa da visitação está ligada ao da anunciação, não só pelo clima humano, cheio de gestos de serviço, mas porque se torna a verificação do «sinal» dado pelo Anjo a Maria (cf. Lc 1, 36-37). O salto de João no seio da mãe representa a exultação de todo o Israel pela vinda do Salvador (vv. 41.44). As palavras de bênção, inspiradas pelo Espírito, dirigidas por Isabel a Maria, são prova do especial agrado de Deus pela Virgem. A salvação que leva no segredo da sua maternidade é fruto da sua fé na palavra de Deus: «Feliz aquela que acreditou no cumprimento das palavras do Senhor» (v.45; Lc 8, 19-21). É sempre Maria que precede e que, solicitamente se dá a todos, em tudo: a maior faz-se dom para a mais pequena, como Jesus para o Baptista.

    Meditatio

    O encontro de Maria e Isabel, a mãe de Jesus e a mãe de João, é ocasião para um único cântico de louvor e de acção de graças a Deus pela sua presença salvífica no meio dos homens. Agora, cabe-nos a nós abrir os corações à iniciativa fecunda do Espírito, corresponder ao dom de Deus e dar-lhe graças. O tempo de Natal é tempo de alegria porque Deus se fez nosso companheiro ao dar-nos o seu Filho, e porque nos tornámos todos irmãos e filhos do mesmo Pai.

    É curioso e, em certo sentido, até chocante que festejemos o nascimento de Jesus celebrando a Eucaristia, memorial da sua paixão e morte. E todavia é uma prática correctíssima porque é o dom da morte de Cristo, o mistério da sua morte e da sua ressurreição que nos dá o sentido do seu nascimento. É também graças à sua morte e ressurreição que podemos celebrar plenamente o seu nascimento.

    É na Eucaristia que podemos compreender plenamente o Antigo e o Novo Testamento e, portanto, o sentido da vida terrena de Jesus, do seu nascimento e dos acontecimentos que o precederam. A Visitação alcança significado pleno na Eucaristia porque, contemplando o Menino do presépio, contemplamos o amor de Deus que se dá a nós: «Um filho nos foi dado DUm Menino nasceu para nós ».

    O nascimento de Jesus está orientado para o dom de Si mesmo. É a doação que começa e será plena quando Jesus der a sua vida por nós na cruz.

    Pensando neste dom total de Jesus, podemos celebrar melhor o seu nascimento, acolhê-lo como dom, que se consumará na morte.

    A Eucaristia também nos permite celebrar o Natal, não como simples lembrança de um acontecimento passado há dois mil anos, mas como uma realidade actual e presente a cada um de nós. O Deus connosco, o Emanuel, é uma realidade actual, que podemos viver: Jesus torna-se presente e vem a cada um de nós, graças à Eucaristia.

    Ainda graças à Eucaristia, podemos unir-nos à Virgem Mãe que leva em si o seu Menino; podemos ir ao encontro dos outros, conscientes dessa presença em nós, que pode despertar também neles a mesma presença.

    A presença de Cristo, pela Incarnação no seio de Maria, pô-Ia a caminho da casa de Isabel, para a confortar e servir. A visitação foi ensejo para Deus encher de

    Espírito Santo Isabel e João. A Eucaristia, que torna presente Cristo em nós, lança¬nos "incessantemente, pelos caminhos do mundo ao serviço do Evangelho" (Cst. 82), para que haja Natal em todos os corações (Leão Dehon, OSP.

    Oratio

    Senhor Jesus, que por nosso amor, assumiste carne humana no seio virginal de Maria, e, por amor, Te fazes nosso alimento e companheiro de jornada na Euc
    aristia, dá-nos de graça de Te acolhermos agradecidos e exultarmos de santa alegria. Concede-nos também a graça de, como Maria que e levou ao encontro de Isabel e de João, também nós Te levemos a todos quantos encontrarmos nos caminhos da nossa vida.

    Faz-nos escutar a tua voz, e concede-nos a graça de Te respondermos na oração. Sobretudo, faz com que nos deixemos envolver na acção poderosa do Espírito que reza em nós. Assim, renovados interiormente, exultantes de alegria e cheios de generosidade, saberemos dar-te, e dar-nos contigo, aos irmãos, especialmente aos mais pobres e desprotegidos. Amen.

    Contemplatio

    Maio seu pequeno coração começou a bater Jesus quis provar o seu amor e expandir os seus benefícios. João Baptista e toda a sua família são os primeiros que experimentam este amor ardente de Jesus que Maria traz.

    Cada pulsar do Coração de Jesus tem, por assim dizer, o seu eco no de Maria, de modo que o amor nestes dois corações torna-se o mesmo, toma o mesmo objecto, a mesma intensidade e transborda sobre os homens.

    Jesus já testemunhou o seu amor ao seu Pai pelo seu acto de oblação; cumulou a sua mãe com dons maravilhosos; santificou S. José, seu pai adoptivo. Quer levar graças de eleição ao seu precursor S. João Baptista. Ele arrasta Maria nesta viagem misteriosa. O amor dá asas aos dois. Maria, toda inebriada pelo zelo ardente e diligente de Jesus, corre, voa através dos montes e dos vales: abiit in montana cum festinatione. É uma caminhada de cem quilómetros que se faz provavelmente em três dias.

    Jesus deu-se ao seu Pai e às almas, pelo seu acto de oblação. Ele arde de ardor por começar a redenção. Incendeia Maria com o seu zelo. Os seus dois corações fazem um só. Que amor eles nos testemunham, e que lição de zelo para nós!

    Jesus e Maria levam imensas bênçãos. João Baptista estremece no seio de sua mãe sob a bênção de Jesus. É o estremecimento do amor e do zelo. Ele queria já anteceder os anos, e pregar o amor de Deus e o arrependimento dos pecados cometidos.

    Isabel e Zacarias profetizam. Zacarias é curado do seu mutismo. Todas as graças estão reunidas: santificação e vocação do precursor, cura miraculosa, dom de profecia. Que munificência!

    Jesus passa fazendo o bem: transiit benefaciendo. Ah! Como a sua bondade é grande e como esta primeira manifestação está cheia de promessas! Jesus veio, portanto, à terra para abrir as fontes de todas as graças, e Maria é como o carro de fogo que transporta o Messias.

    A sua bondade não pede uma imensa confiança e um imenso reconhecimento? (Leão Dehon, OSP 2, p. 208).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Bendito é o fruto do teu ventre, Ó Maria»

  • Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 22 Dezembro

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 22 Dezembro


    22 de Dezembro, 2021

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 22 Dezembro

    Lectio

    Primeira leitura: 1 Samuel 1, 24-28

    Naqueles dias, 24* Ana tomou Samuel consigo e, levando também três novilhos, uma medida de farinha e um odre de vinho, conduziu-o ao templo do SENHOR em Silo. O menino era ainda muito pequeno. 251mo/aram um novilho e apresentaram o menino a EIi. 26Ana disse-lhe: «Ouve, meu senhor, por tua vida: eu sou aquela mulher que esteve aqui a orar ao SENHOR, na tua presença. 27Eis o menino por quem orei. O SENHOR ouviu a minha súplica. 28*Por isso, o ofereço ao SENHOR, a fim de que só a Ele sirva todos os dias da sua vida.» E ele prostrou-se ali diante do SENHOR.

    Ana pedira a Deus a graça de um filho. Deus concedeu-lha. Por isso, vai ao templo de Silo agradecer o dom da maternidade, levando com ela alguns dons e, sobretudo, o filho, Samuel, para o oferecer ao Senhor: «a fim de que só a Ele sirva todos os dias da sua vida» (v. 28). Depois de imolar um novilho, em sacrifício de acção de graças e de louvor ao Senhor, apresenta o filho ao sacerdote EIi, lembrando-lhe o episódio e a oração que fizera na sua presença, uns anos antes, e narrando-lhe como o Senhor a tinha escutado. «Por isso, o ofereço ao SENHOR», conclui a mulher (v. 28).

    Esta narrativa bíblica é profecia daquilo que Deus, de modo ainda mais maravilhoso, irá realizar em Maria. Como no caso de Isaac (cf. Gn 18, 9-14), de Sansão (cf. Jz 13, 2-25) e de João Baptista (cf. Lc 1, 5-25), o nascimento de um filho, por obra de Deus, de uma mulher estéril, foi sinal de uma vocação especial, como acontece com Samuel, destinado a tornar-se o primeiro grande profeta de Israel (cf. Act 3, 24) e guia espiritual do povo.

    Evangelho: Lucas 1, 46-56

    Naquele tempo, 46*Maria disse: «A minha alma glorifica o Senhor 47e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. 48Porque pôs os olhos na humildade da sua serva. De hoje em diante, me chamarão bem-aventurada todas as gerações. 49*0 Todo-poderoso fez em mim maravilhas. Santo é o seu nome. 50*A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem. 51 *Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. 52Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. 53*Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. 54*Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, 55*como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência, para sempre.» 56*Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois regressou a sua casa.

    o Magnificat é uma das mais belas orações do Novo Testamento, com várias reminiscências do Antigo Testamento (cf. 1 Sam 2, 1-18; SI 110, 9; 102, 17; 88, 11;

    106, 9; Is 41, 8-9). É o cântico dos pobres, dos simples e humildes, sempre prontos a acolher e a admirar-se com as iniciativas de Deus ..

    É significativo que este cântico tenha sido posto nos lábios de Maria, a criatura mais digna do louvor a Deus, que nasce no culminar da história da salvação, e que é imagem da Igreja, sempre guiada por Deus, que usa de amor e de misericórdia para com todos, especialmente para com os pobres e pequenos.

    O texto divide-se em duas partes: Maria dá glória a Deus pelas maravilhas realizadas na sua humilde vida, tornando-a colaboradora da salvação realizada por Cristo, seu Filho (vv. 46-49). Depois, exalta a misericórdia de Deus pelos critérios extraordinários e impensáveis com que confunde as situações humanas, expressas por seis verbos: «Manifestou, dispersou, derrubou, exaltou, despediu, acolheuD », que reflectem o modo de agir forte e paterno de Deus em favor dos últimos e dos carenciados (vv. 50-53). Finalmente, recorda o cumprimento fiel das promessas de Deus, feitas aos Pais e mantidas em relação a Israel (vv. 54-55). Deus realiza sempre grandes coisas na história dos homens, mas apenas se serve daqueles que se fazem pequenos e querem servi-lo com fidelidade, no escondimento e no silêncio adorante.

    Meditatio

    As leituras de hoje falam-nos da acção de graças de duas mães: Ana e Maria.

    Ana agradece com três novilhos, uma medida de farinha, um odre de vinho e, sobretudo, com o dom do próprio filho, a graça da maternidade. Samuel, devolvido ao Senhor, torna-se um laço vivo entre Ana e Deus.

    Maria também dá graças ao Senhor, com grande efusão de alma: «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Seivedor», Jesus ainda não tinha nascido. Mas a Virgem já dava graças por Ele e O oferecia a Deus¬Pai, porque tinha dado início à obra da salvação, santificando João Baptista no seio de sua mãe.

    Ana e Maria, cheias de alegria, agradecem o dom da vida que está nelas, sinal da bondade de Deus. Ao mesmo tempo, com simplicidade e pureza de coração, entregam-se ao Senhor porque «a sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem» (v. 50).

    É bom que também nós nos demos conta de que a pobreza e a simplicidade de coração são condições essenciais para agradar a Deus e ser cheios da sua riqueza. Os frutos das obras de Deus desenvolvem-se no silêncio e na calma, não na agitação ou na violência. Deus actua com discrição e no segredo. Não se podem forçar os tempos do Espírito.

    Como Maria, somos convidados, na proximidade do Natal, a partilhar esta delicadeza do Senhor, confiando todos os nossos projectos e a nossa vida Àquele que nos amou por primeiro e quer o nosso bem. Ofereçamos-lhe o nosso louvor, porque Ele «escolheu o que era louco aos olhos do mundo para confundir os sábios, escolheu aquilo que no mundo era fraco para confundir os fortesDpara que ninguém possa gloriar-se diante de Deus» (1 Cor 1, 27-29).

    O louvor e a acção de graças, como as outras dimensões da oração, nascem do silêncio que possibilita a escuta do Senhor que fala, e que possibilita dar-nos contas das maravilhas que faz em nós e à nossa volta. O barulho e a agitação dispersam, distraem. Um salmista rezava: "Ponde, Senhor, vigilância à minha boca, guardai a porta dos meus lábios" (SI 141(140),3). O tempo de Natal implica sempre alguma agitação. É natural, mas há que ter o cuidado de não perdermos o essencial.

    As nossas Constituições lembram: "Como Jesus gostava de se entreter com o Pai, também nós reservaremos momentos de silêncio e de solidão para nos deixarmos renovar na intimidade com Cristo e nos unirmos ao seu amor pelos homens".

    Muitas pessoas do nosso tempo, também religiosos, perderam o sentido do silêncio; parece terem medo dele. Desperdiçaram um grande valor, um dom importante, e correm o risco de perder a si mesmos. Pelo silêncio, entramos na profundidade de nós mesmos, conhecemos as nossas verdadeiras exigências, aceitamo-Ias e, com a ajuda do Espírito, realizamo-Ias.

    Demasiadas pessoas andam imersas em tagarelices, rumores, músicas, imagens; estão sem defesas, sem refúgio interior; an
    dam fora de si, alienados. Por isso, não se reconhecem, nem reconhecem o que Deus faz e quer fazer nelas. Por isso, não cantam os louvores de Deus! Nem vistam os que precisam, porque não ouvem os seus gritos!

    Oratio

    Senhor, nosso Deus, que pusestes nos lábios de Ana e de Maria a oração de louvor e de acção de graças, e que fizestes germinar nos seus corações a alegria, fruto da tua visita amorosa e paterna, dá-nos a graça de, também nós, descobrirmos e praticarmos na oração as atitudes de louvor e de reconhecimento pelas maravilhas que gratuitamente fizeste e continuas a fazer em nós e à nossa volta, na Igreja e no mundo.

    Queres que vivamos na alegria, pela experiência do teu amor de Pai misericordioso e fiel. Ajuda-nos a dispormos, pelo silêncio e pela solidão, para acolhermos essa experiência, a única capaz de transformar a nossa vida, de nos pôr generosamente ao serviço do teu projecto de salvação, ao serviço de quem precisa de nós, de escrevermos o nosso próprio Magnificat. Na oração de louvor e de acção de graças, dar-nos-emos conta de que as riquezas que nos confias são mais importantes e mais numerosas do que as nossas carências, e que os dons que pões nas nossas mãos, e nas dos nossos irmãos, são sinal de cuidas de nós com amor de Pai. Amen.

    Contemplatio

    Jesus e Maria rezavam sempre no fundo do seu coração. Jesus no-lo diz: «É preciso rezar sempre e sem cesser» (Lc 18, 1).

    Alguns versículos do Evangelho traem a oração íntimactle Maria.

    Quando o arcanjo Gabriel desce a Nazaré, Maria revela-nos a sua alma: «Ecce ancilla Domini, fiat mihi secundum verbum tuum: sou a serva do Senhor, que me seja feito segundo a vossa palavra!».

    Eis, portanto, a disposição habitual de Maria na sua oração, é a humildade e o abandono: o que Deus quer, e é tudo. É a suprema santidade.

    O Magnificat diz-nos mais amplamente os sentimentos da oração de Maria. É um cântico lírico à glória de Deus. É o louvor, o reconhecimento, a humildade. Nada de preocupação pessoal; Deus é bom, isso lhe basta, rejeita os orgulhosos e abençoa os humildes. Repara também, protesta contra os soberbos e os avarentos. O amor puro e acção de graças são a nota dominante: «A minha alma glorifica o Senhor!» (Pe. Dehon, OSP 3, p. 177s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «A minha alma glorifica o Senhor!» (Lc 1,46)

  • Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 23 Dezembro

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 23 Dezembro


    23 de Dezembro, 2021

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 23 Dezembro

    Lectio

    Primeira leitura: Malaquias 3, 1-4. 23-24

    Assim fala o Senhor Deus: 1 *«Eis que Eu vou enviar o meu mensageiro, a fim de que ele prepare o caminho à minha frente. E imediatamente entrará no seu santuário o Senhor que vós procurais e o mensageiro da aliança que vós desejais. Ei-lo que chega! Diz o SENHOR do universo. 2*Quem suportará o dia da sua chegada? Quem poderá resistir, quando ele aparecer? Porque ele é como o fogo do fundidor e como a barrela das lavadeiras. 3Ele sentar-se-á como fundidor e purificador. Purificará os filhos de Levi e os refinará como se refinam o ouro e a prata. E assim eles serão para o SENHOR os que apresentam a oferta legítima. 4Então, a oferta de Judá e de Jerusalém será agradável ao SENHOR como nos dias antigos, como nos anos de outrora.

    23 Eis que vou enviar-vos o profeta Elias, antes que chegue o dia do SENHOR, dia grande e terrível. 24*Ele fará com que o coração dos pais se aproxime dos filhos, e o coração dos filhos se aproxime dos seus pais, para que Eu não tenha de vir castigar a terra com o anátema.»

    Na segunda metade do século V a. C., o culto e a pureza religiosa do povo estavam em decadência por causa dos casamentos mistos dos regressados do exílio de Babilónia que, ainda por cima, viviam impunes e tranquilos. Os observantes interrogavam-se: onde está a justiça de Deus? O profeta responde, em nome de Deus, denunciando o pecado dos sacerdotes e a violação da lei do culto pelo povo. Ao mesmo tempo, anuncia como eminente a vinda do «dia do SENHOR, dia grande e terrível» (v. 23). O próprio Senhor há purificar o templo, que está a ser reconstruído, purificará os sacerdotes e pronunciará o seu juízo sobre os maus.

    Mas o Senhor far-se-á preceder por um mensageiro, identificado com o profeta Elias (v. 23; Sir 48, 10-11), que Lhe preparará o caminho, purificará o povo dos seus pecados e o reconduzirá reconciliado às tradições dos pais.

    A profecia de Malaquias, lida no contexto do Novo Testamento, refere-se à vinda de Cristo, precedida pela do precursor, João Baptista, que preparará o povo para o encontro com o Messias, «o mensageiro da aliança» (v. 1), que todos esperam.

    Evangelho: Lucas 1, 57-66

    Naquele tempo, 57chegou o dia em que Isabel devia dar à luz e teve um filho. 580s seus vizinhos e parentes, sabendo que o Senhor manifestara nela a sua misericórdia, rejubilaram com ela. 59Ao oitavo dia, foram circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome do pai, Zacarias. 60*Mas, tomando a palavra, a mãe disse: «Não; há-de chamar-se João.» 61 Disseram-lhe: «Não há ninguém na tua família que tenha esse nome.» 62*Então, por sinais, perguntaram ao pai como queria que ele se chamasse. 63Pedindo uma placa, o pai escreveu: «O seu nome é João.» E todos se admiraram. 64 imediatamente a sua boca abriu-se, a língua desprendeu-se-lhe e começou a falar, bendizendo a Deus. 65*0 temor apoderou-se de todos os seus vizinhos, e por toda a montanha da Judeia se divulgaram aqueles factos. 66*Quantos os ouviam retinham-nos na memória e diziam para si próprios: «Quem virá a ser este menino?» Na verdade, a mão do Senhor estava com ele.

    A profecia de Malaquias realiza-se em João Baptista. Lucas descreve-nos a alegria dos parentes e vizinhos com o parto de Isabel (vv. 57-58) e com a circuncisão do menino, com a imposição do nome, ao oitavo dia (vv. 59-66).

    O evangelista, com alguns pormenores, faz-nos notar no nascimento e na escolha do nome a intervenção prodigiosa de Deus, que actua de modo extraordinário na vida daquele menino: a alegria pelo evento inesperado (v. 58); o significado do nome «João» (vv. 60.63), que quer dizer. «Deus faz graça e usa misericórdia», nome cheio de promessas para o futuro; o espanto dos presentes, com um respeitoso temor, e a divulgação dos factos por toda a montanha da Judeia (v. 65); a palavra readquirida por Zacarias que bendiz e louva a Deus, como sinal de que se cumpriu tudo o que foi dito pelo Senhor (v. 64); finalmente, a reacção de todos quantos tomavam conhecimento do nascimento da criança, e perguntavam: «Quem virá a ser este menino?» (v. 66) e a do próprio Lucas que conclui o relato com a seguinte nota: «Na verdade, a mão do Senhor estava com ele» (v. 66).

    Esta narrativa mostra que estão maduros os tempos, que o Messias está próximo. Há que preparar-se para recebê-lo, como João, e reconhecer na história uma nova e radical forma de relação entre Deus e o homem.

    Meditatio

    À primeira vista, a profecia de Malaquias, que lemos hoje, pode parecer-nos pouco adequada para preparar o Natal. De facto, fala de uma espantosa purificação, e com uma linguagem terrível: Quem suportará o dia da chegada do Senhor? Quem poderá resistir, quando ele aparecer? Porque «ele é como o fogo do fundidor e como a barrela das lavadeiras. Ele sentar-se-á como fundidor e purificador. Purificará os filhos de Levi e os refinará como se refinam o ouro e a prata». Mas, pensando bem, damo¬nos conta de que é uma leitura muito adequada, porque precisamos realmente de uma boa purificação para acolhermos o Senhor. Jesus não é um boneco para brincar. É o Filho de Deus, que havemos de receber com sentimentos de adoração. Se o nascimento de João encheu os vizinhos de temor, que dizer do nascimento de Jesus. Lucas diz-nos que os pastores, ao verem o Anjo, «tiveram muito medo».

    Precisamos de ser purificados pelo Senhor para acolhermos dignamente o Menino Jesus. Essa purificação é feita por amor, ainda que Deus use severidade. Precisamos de ser purificados de todo o orgulho, de toda a soberba, porque Deus só dá a sua graça aos humildes.

    Mas as leituras de hoje também nos podem levar a reflectir sobre uma outra realidade: Deus, em todas as épocas, envia os seus mensageiros, tal como enviou Elias e João Baptista. É por meio desse mensageiros que Ele quer guiar a humanidade. Nos nossos tempos não têm faltado sinais concretos e modos eloquentes da sua Palavra, por meio de pessoas como João XXIII, a Madre Teresa de Calcutá, João Paulo II, ou por meio de eventos como O Vaticano II. Essas pessoas e eventos, sendo instrumentos do Espírito, erguem "antenas" que nos permitem vislumbrar um mundo novo. Há, de facto novidades que é preciso saber olhar e respeitar, sem ceder a nostalgias do passado ou a sonhos de futuro, que são fugas da realidade.

    Os tempos de silêncio e ascese ajudam-nos a descobrir Deus na história e no coração de cada homem, bem como a presença do Espírito de Cristo que ilumina e guia o nosso caminho. Há que deixar-se conduzir!

    Lemos no n. 10 das Constituições: «Com a sua solidariedade para com os homens, qual novo Adão, Ele revelou o amor de Deus e anunciou o Reino: este mundo novo já presente em germe nos esforços hesitantes dos homens, encontrará a sua realização, para
    além de todas as expectativas, quando, por Jesus, Deus for tudo em todos». Depois as Constituições citam dois textos bíblicos que é bom recordar:

    "Sabemos que toda a criação geme e sofre como que dores de parto até ao presente. Não só ela, mas também nós, que possuímos as primícias do Espírito, gememos em nós mesmos, aguardando a adopção, a redenção do nosso corpo" (Rom 8,22-23). "E quando tudo lhe estiver sujeito, então também o próprio Filho Se submeterá Àquele que Lhe sujeitou todas as coisas, para que Deus seja tudo em todos" (1 Cor 15,28)>>.

    O mundo novo já está presente em germe nos esforços hesitantes dos homens (cf. Cst n. 10). Esses esforços, os nossos e os de todos os homens são "incertos", é verdade. Mas temos confiança de que estão impregnados pela "graça" e pela "verdade" do Verbo feito carne, isto é, pelo Seu amor (Jo 1, 14). De facto, é "da sua plenitude que todos nós recebemos, graça sobre graça" (Jo 1, 16), isto é, amor para correspondermos ao Seu amor. Essa correspondência passa também pela nossa solidariedade com Ele na construção de um mundo novo.

    Oratio

    Pai, Senhor da vida e da história! Os primeiros cristãos diziam. «A salvação está agora mais perto de nós do que no momento em que abraçámos a fé» (Rm 13, 11). Nós, hoje, vivemos muitas vezes sem pensar na tua vinda, distraídos com mil fogos-fátuos que nos encandeiam. Desperta em nós a fé e a esperança para que não nos esqueçamos da tua presença no meio de nós, escondido por detrás do rosto de tantos irmãos, e que, por meio dos teus mensageiros, orientas os nossos passos para a luz e para a paz.

    Dá-nos um coração purificado, livre e sensível à acção do teu Espírito, para que possamos actuar como Tu queres, encontrar-Te neste Natal, e estar prontos para, no dia da tua última vinda, confessarmos que és o nosso pai e amigo, que és o nosso Salvador. Amen.

    Contemplatio

    João Baptista era um anjo pela sua pureza. O evangelho e os profetas dão-lhe este belo título: «Enviarei o meu anjo diante do Messias», tinha dito o Senhor na profecia de Malaquias (3, 1).

    Nosso Senhor mesmo faz a aplicação desta profecia: «Foi dele, diz, que o profeta disse: Enviarei um anjo diante de vós para vos preparar os caminhos» (Mt 11, 10).

    S. João Baptista é, portanto, para nós um admirável modelo de pureza. Ensina¬nos os meios de conservar as nossas almas puras. Estes meios são a oração, o afastamento do mundo e a mortificação.

    Ainda não tinha nascido quando Jesus e Maria foram visitá-lo na Judeia.

    Estremece no seio de sua mãe. É abençoado e santificado pela presença de Jesus e a visita de Maria.

    É um amigo para Jesus, di-lo ele mesmo: «O amigo do esposo, diz, alegra-se quando escuta a voz do seu amigo, é por isso que hoje estou alegre» (Jo 3, 29). Quando Jesus menino volta do Egipto, visita o seu pequeno amigo passando na

    Judeia. Cada ano, nos dias de Páscoa, estão juntos em Jerusalém. Reencontram-se no Jordão. S. João conhece a missão do seu amigo e parente, proclama a sua missão: «Eis, diz, o Cordeiro de Deus, eis aquele que apaga os pecados do mundo».

    Pregam um ao outro, mas S. João envia os seus discípulos a Cristo. Recebe as suas graças de Jesus e conduz as almas a Jesus.

    Tal deve ser a nossa união com Jesus e Maria. Maria dar-nos-á Jesus. Sede amigos para Jesus pela vossa assiduidade, pelo vosso afecto, pela vossa confiança. Conduzamos-lhe as almas, não procuremos em nada reter a sua afeição por nós, admiremos nisto o desapego de S. João. Ide a Jesus, diz a todos, nada sou senão uma voz que prega no deserto, não sou digno de desatar os seus sapatos. (Leão Dehon, OSP 3, p. 689).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Vinde, vinde, não tardeis, Senhor Jesus». (da Liturgia).

  • Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 24 Dezembro

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 24 Dezembro


    24 de Dezembro, 2021

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 24 Dezembro

    Lectio

    Primeira leitura: 2 Samuel 7, 1-5. 8b-12. 14a. 16

    1 *Quando o rei se instalou em sua casa, e o SENHOR lhe deu paz, livrando-o dos seus inimigos, 2disse David ao profeta Natan: «Não vês que eu moro num palácio de cedro, enquanto a arca de Deus está abrigada numa tenda?» 3Natan respondeu¬lhe: «Pois bem, faz o que te dita o coração, porque o SENHOR está contigo!» 4Mas, naquela mesma noite, o SENHOR falou a Natan, dizendo-lhe: 5*«Vai dizer ao meu servo David: Diz o SENHOR: "És tu que me vais construir uma casa para Eu habitar?

    8*Eu tirei-te das pastagens onde apascentavas as tuas ovelhas, para fazer de ti o chefe de Israel, meu povo. 9Estive contigo em toda a parte por onde andaste; exterminei diante de ti todos os teus inimigos e fiz o teu nome tão célebre como o nome dos grandes da terra. 10*Fixarei um lugar para Israel, meu povo; nele o instalarei, e ali habitará, sem jamais ser inquietado; e os filhos da iniquidade não mais o oprimirão, como outrora, 11 *no tempo em que Eu estabelecia juízes sobre o meu povo, Israel. A ti concedo uma vida tranquila, livrando-te de todos os teus inimigos. Além disso, o SENHOR faz hoje saber que será Ele próprio quem edificará uma casa para ti. 12*Quando chegar o fim dos teus dias, e repousares com teus pais, manterei depois de ti a descendência que nascerá de ti e consolidarei o seu reino.

    14Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho.

    16*A tua casa e o teu reino permanecerão para sempre diante de mim, e o teu trono estará firme para sempre".»

    Natan exerce a sua missão profética num período em que o reino de Judá goza de paz e de notável prosperidade. David vive num palácio luxuoso e pretende construir uma «casa» para Deus, uma casa onde acolher a Arca da Aliança. O profeta opõe-se a esse projecto, porque Deus tem um plano bem maior para David e para a sua descendência. O próprio Deus dará a David, não uma casa de pedra, mas uma casa estável e duradoura, uma estirpe real: «o SENHOR faz hoje saber que será Ele próprio quem edificará uma casa para ti .. A tua casa e o teu reino permanecerão para sempre diante de mim, e o teu trono estará firme para sempre» (w. 11.16).

    O Senhor recorda a David quanto fez por ele e promete à sua dinastia uma duração perene: chamou-o do meio dos rebanhos de Isaí para fazer dele pastor de Israel (cf. 1 Sam 16, 11-13); fê-lo vitorioso sobre os inimigos e estará sempre com ele; a sua glória, e a da sua descendência, serão grandes porque terá uma progenitura divina; o rei e o povo serão abençoados pelo senhor e terão uma «casa» estável e tranquila, uma dinastia que durará séculos.

    A mensagem é clara: a salvação não vem de um templo construído com pedras ou por mãos humanas, mas da aliança com Deus, a Quem tudo pertence, o homem e a história.

    Evangelho: Lucas 1, 67-79

    Naquele tempo, 67*Zacarias,pai de João Baptista, ficou cheio do Espírito Santo e profetizou com estas palavras: 68*«Bendito o Senhor, Deus de Israel, que visitou e redimiu o seu povo 69*e nos deu um Salvador poderoso na casa de David, seu servo, 70conforme prometeu pela boca dos seus santos, os profetas dos tempos antigos; 71 para nos libertar dos nossos inimigos e das mãos de todos os que nos odeiam, 72*para mostrar a sua misericórdia a favor dos nossos pais, recordando a sua sagrada aliança; 73*e o juramento que fizera a Abraão, nosso pai, que nos havia de conceder esta graça: 74de o servirmos um dia, sem temor, livres das mãos dos nossos inimigos, 75em santidade e justiça, na sua presença, todos os dias da nossa vida. 76*E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque irás à sua frente a preparar os seus caminhos, 77para dar a conhecer ao seu povo a salvação pela remissão dos seus pecados, 78*graças ao coração misericordioso do nosso Deus, que das alturas nos visita como sol nascente, 79*para iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte e dirigir os nossos passos no caminho da paz.»

    o cântico de Zacarias exalta a realização das promessas feitas por Deus.

    Zacarias, sacerdote da Antiga Lei, mas cheio de Espírito Santo, entoa um cântico cheio de reminiscências bíblicas. Bendiz o Senhor por ter visitado o seu povo, por ter inaugurado a Nova Aliança, que terá João como precursor e que satisfaz séculos de expectativas.

    O cântico divide-se em duas partes: a primeira sintetiza a história da salvação, evidenciando a misericórdia de Deus para com os pais e a sua perene fidelidade à Aliança, que se realizará plenamente no Messias (vv. 68-75); a segunda refere-se à figura do Baptista, «profeta do Altíssimo» (v. 76), destinado a preparar o caminho ao Senhor com a pregação da redenção e da salvação universal, que se actuará na pessoa de Jesus, por meio do perdão dos pecados, fruto da sua imensa bondade.

    O cântico exalta a Cristo, sol da ressurreição, gerado antes da aurora, que ilumina todos os que estão nas trevas e nas sombras da morte. Ele é a paz destinada aos que sabem dar louvor e glória a Deus. Ele, Verbo do Pai, é a luz e a vida dos homens.

    Meditatio

    Estamos na vigília do Natal. A Igreja lê e medita as profecias rnessrarucas, dando graças e louvando a Deus pela iminente chegada do Salvador. O dom que estamos para receber do Pai foi preparado com grande amor, durante muito tempo.

    Há que viver intensamente esta vigília, não nos deixando dispersar por coisas certamente interessantes, mas secundárias. A vinda histórica do Messias confirma que Deus escolheu a sua «casa» no meio de nós, no corpo de Jesus, seu Filho (cf. Jo 1, 14). Agora vive com o seu povo, não de modo passageiro, mas de modo estável (cf. Apoc 7, 15; 12,2; 13,6; 21, 3). Se, no Antigo Testamento, o seu lugar ideal era o templo e a tenda (cf. Ex 25, 8; 40, 35; Ez 37,27), agora a sua presença concretiza-se na própria vida do homem e na carne visível de Jesus, que a comunidade do primeiros discípulos tocou e contemplou na fé (cf. 1 Jo 1, 1-4).

    Cristo é a revelação e a luz do Pai, mas de modo escondido e humilde; algo de interior que, apenas os homens de fé, como os profetas, os santos e Maria, podem compreender. A sua glória há-de manifestar com poder apenas quando, elevado na cruz, atrair a Si todos os homens (cf. Jo 12, 32). Isto pode parecer um paradoxo, mas tudo se torna luminoso se pensarmos que «Deus é emor» (1 Jo 4, 10) e a sua maior manifestação acontece quando se revela o maior amor.

    Jesus é para nós o centro da história, a nossa morada e a plenitude de todas as nossas mais profundas aspirações. Com Maria, e com a sua intercessão, abramos o coração ao Dom que Deus nos quer dar esta noite.

    O dom do Pai, no Natal, perpetua-se na Eucaristia, sacramento da presença de Cristo no meio de nós, sob as espécies simples do pão e do vinho, e por meio das pala
    vras, ainda mais simples: "Isto é o Meu corpo ... Isto é o Meu sangue ... " (cf. Mt 26, 26.28). A Eucaristia, para além de actualizar no tempo a Última Ceia e o Sacrifício da cruz, perpetua a Incarnação, de que é substancial continuidade e expansão sacramental. A Eucaristia torna presente na terra, insere na história do mundo e na nossa vida o Cristo glorioso e sempre em estado de vítima. O sacerdócio de Cristo é eterno: "Um sacerdócio eterno" (Heb 7, 24).

    Oratio

    Senhor, nosso Deus, Tu és verdadeiramente amor, amor gratuito, amor oblativo. Manifestas esse amor a David e ao povo de Israel. É um amor forte, um amor preocupado, não em receber, mas em dar. David, pobre e fraco, tornou-se um rei rico e poderoso, bem instalado no seu palácio. Quis retribuir-te com o presente de uma «casa» para habitares, um templo sumptuoso que substituísse a tenda que acolhia a Arca da Aliança. Não aceitaste, porque és um Deus-Amor, um Deus que não previu receber, mas apenas dar. Por isso, prometeste a David um dom ainda maior, uma casa estável e duradoura, uma estirpe real, um filho que será simultaneamente «Filho do Altíssimo», Jesus Cristo, Senhor.

    Tudo isso acontece em Maria, no mistério da Incarnação. Dá-nos a graça de descobrirmos, cada vez mais, esse inefável mistério para o contemplarmos e adorarmos, como o contemplou e adorou Maria, quando gerou Cristo no seu seio e O deu à luz no presépio de Belém. Amen.

    Contemplatio

    A presença eucarística de Nosso Senhor é uma extensão da Incarnação

    Não se encontrando mais sobre esta terra a humanidade santa, a fonte da graça parece esgotada, ou transportada para uma distância incomensurável de nós. Porque, saibamo-lo bem, toda a graça é o produto do Sagrado Coração de Jesus, brota d' Ele como o sangue material; identifica-se com o seu sangue e o seu amor. Mas, se este Coração se afastava de nós, mesmo que nos deixasse os outros sacramentos, que solidão nos seria feita aqui em baixo! Que isolamento! Que vazio! O nosso terno irmão, o nosso amigo já não estaria lá connosco! O seu Coração de homem já não escutaria de perto os nossos suspiros e as nossas lágrimas! Em que nos tornaríamos?

    Mas o seu terno Coração soube tudo arranjar, e a fim de permanecer sempre connosco, inventou o sacramento do amor. Não vemos Jesus, mas Ele está lá; só as fracas aparências eucarísticas nos separam d'Ele, e temos a fé para as penetrar, e temos um coração que voa para o Coração de Jesus, tornado mais do que nunca o Coração do nosso irmão e do nosso amigo. É assim que o Coração de Jesus cumpre a sua promessa: «Não vos deixarei órfãos». É assim que a Eucaristia continua o mistério da Incarnação e multiplica por toda a parte Belém e Nazaré. A Eucaristia torna mesmo Nosso Senhor mais perto de nós do que o mistério da Incarnação, e quando reflectimos bem nisto vemos que Ele não se afastou do homem pela Ascensão senão para estar mais perto dele pela Eucaristia, porque as condições da vida mortal não permitiam ao Salvador tornar-se presente em todos os pontos do espaço, em todo o coração que o amasse e que desejasse a sua visita, mas a sua vida gloriosa permite¬lhe a omnipresença do amor; o seu Coração está em toda a parte, encontramo-lo em todos os santuários, e se a nossa ligeireza e a nossa indiferença não impedissem as efusões deste amor insaciável no dom de si mesmo, ser-nos-ia permitido como aos primeiros crentes de o guardar nas nossas casas e de o levar sempre no nosso coração. Tal teria sido a condescendência deste Coração generoso, se a Igreja não tivesse tomado, de algum modo contra Ele mesmo, o cuidado do respeito que Lhe é devido.

    Mas se este privilégio não nos é concedido, nós podemos sem grande fadiga, e quando queremos, a toda a hora do dia e da noite, aproximar-nos do Coração eucarístico, falar-lhe, abrir-lhe todo o nosso coração, atraí-lo a nós e fazer d'Ele tudo o que quisermos. Porque, na santa Eucaristia, o seu Coração tornou-se dependente de nós, mais ainda do que não o era em Belém e em Nazaré. É certamente fácil pegar numa criança, abraçá-Ia e acariciá-Ia, mas é ainda bem mais fácil pegar num bocadinho de pão, colocá-lo onde se quiser. E quando se pensa que sob esta débil aparência o Coração de Jesus mesmo está lá; quando se pensa neste amor que quis até este ponto tornar-se dependente de nós, como não chorar, como fazia o santo Cura de Ars exclamando: «Faço d' Ele o que quero, coloco-o onde quero!» Porque o privilégio de dispor da humanidade santa tornou-se um dos mais preciosos privilégios que possam ter as mãos sacerdotais. Mas é meditando na vida eucarística escondida que nos será dado aprofundar este prodígio de amor. Para hoje, basta-nos verificar este primeiro ponto.

    Pela santa Eucaristia, a Incarnação multiplica-se sobre todos os pontos da terra habitável; em toda a parte aonde nos é dado dirigir os nossos passos, encontramos o Coração do nosso irmão e do nosso amigo, sempre pronto a nos receber, sempre pronto a nos consolar, sempre pronto a nos cumular de graças, a nos iluminar, a nos levantar e a nos perdoar. Assim, nesta Incarnação nova, é sobretudo o Coração de Jesus que está presente; Ele esconde todo o resto, a sua divindade, a sua humanidade, a fim de melhor deixar ver o seu Coração; e se os olhos do corpo não podem ver, como o vêem os olhos do coração e como sabem penetrar os véus que o envolvem! Ah! Porque não nos é dado multiplicar também o nosso coração para o dar a este Coração que se multiplica por nós! Pelo menos, arranquemos os nossos pensamentos, as nossas afeições ao mundo, a nós mesmos, para os dar todos ao único Coração que nos ama, e se não podemos superá-lo nem mesmo igualá-lo em amor, ao menos que todo o nosso amor lhe pertença, todo, absolutamente todo; e ainda, depois disto, digamos que não somos senão servos inúteis (Pe. Dehon, OSP 2, p.419).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Bendito o Senhor, Deus de Israel, que visitou e redimiu o seu povo». (Lc 1, 68).

  • Tempo do Natal - 3º dia da Oitava do Natal > Festa de S. João

    Tempo do Natal - 3º dia da Oitava do Natal > Festa de S. João


    27 de Dezembro, 2021

    Tempo do Natal - 3º dia da Oitava do Natal > Festa de S. João

    Lectio

    Primeira leitura: 1 João 1,1-4

    Caríssimos: 1*0 que existia desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos e as nossas mãos tocaram relativamente ao Verbo da Vida, 2* de facto, a Vida manifestou-se; nós vimo-Ia, dela damos testemunho e anunciamo-vos a Vida eterna que estava junto do Pai e que se manifestou a nós- 3*0 que nós vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também vós estejais em comunhão connosco. E nós estamos em comunhão com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. 4*Escrevemo-vos isto para que a nossa alegria seja completa.

    No breve prólogo à sua Primeira Carta, S. João expõe os critérios para entrarmos em comunhão com Deus. Oferece-nos também um itinerário de fé, e indica as defesas a usar contra o pecado.

    João fundamenta a fé cristã no «Verbo da vida», de que dá testemunho, indicando, e descrevendo de modo sintético, as suas etapas essenciais. Mas, ao contrário do Prólogo do seu evangelho, onde acentua o «Verbo», aqui acentua a «vida», que Jesus possui e dá. Tudo começa com a experiência pessoal do apóstolo, no contacto com Jesus: «o que ouvimos, o que vimos, o que contemplámos e as nossas mãos tocaram relativamente ao Verbo da Vida» (v. 1). Esta experiência torna-se testemunho e exemplo coerente (v. 2), anúncio corajoso, que gera comunhão entre aqueles que o escutam e abraçam a fé, e comunhão com o próprio Pai e com o seu Filho Jesus (v. 3). Esta comunhão, por sua vez, gera a alegria do coração (v. 4).

    A palavra «nós» põe-nos diante da tradição da escola joânica, que desenvolve o testemunho do discípulo amado, fundado na «vida divina» tornada visível em Jesus.

    Evangelho: João 20, 2-8

    2*No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo, o querido de Jesus, e disse-lhes: «O Senhor foi levado do túmulo e não sabemos onde o puseram.» 3pedro saiu com o outro discípulo e foram ao túmulo. 4Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo correu mais do que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. 5Inc/inou¬se para observar e reparou que os panos de linho estavam espalmados no chão, mas não entrou. 6*Entretanto, chegou também Simão Pedro, que o seguira. Entrou no túmulo e ficou admirado ao ver os panos de linho espalmados no chão, 7* ao passo que o lenço que tivera em volta da cabeça não estava espalmado no chão juntamente com os panos de linho, mas de outro modo, enrolado noutra posição. 8Então, entrou também o outro discípulo, o que tinha chegado primeiro ao túmulo. Viu e começou a crer.

    João dá-nos neste texto uma síntese dos acontecimentos verificados na manhã da Páscoa, em que são protagonistas Maria Madalena, Pedro e ele próprio. A noite espiritual em que tinham mergulhado os apóstolos está para dar lugar à experiência de fé, que começa junto ao túmulo vazio, sinal da presença do Ressuscitado (v. 2). Ao receberem a notícia de que fora retirada a pedra do sepulcro, e de que o corpo de Jesus lá não estava, Pedro e João foram verificar o que sucedera. A sua corrida revela amor e veneração, e faz pensar na Igreja que procura sinais visíveis do Senhor, especialmente quando se encontra em dificuldade e não consegue vê-lo. João chega primeiro do que Pedro ao sepulcro, devido à sua intuição amorosa de discípulo amado, mas é Pedro quem entra por primeiro, devido à sua função eclesial (vv. 5- 7). Depois de observar a ordem das várias coisas que se encontravam no sepulcro, e a paz que nele reinava, o discípulo amado abre-se à visão da fé, acreditando nos sinais visíveis do Senhor: «Viu e começou a crer» (v. 8). Ainda não é a fé plena na Ressurreição. Isso só acontecerá quando o seu espírito se abrir à inteligência das Escrituras (cf. Lc 24, 45), quando vir a pessoa do Senhor e receber o dom do Espírito Santo, isto é, quando tiver percorrido todo o itinerário da fé.

    Meditatio

    S. João é uma figura de fundamental importância na Igreja primitiva. De facto, é o discípulo amado que ensina a contemplar em Jesus, o Filho de Deus feito homem, para nos revelar o rosto do Pai e o caminho que leva à comunhão com Ele. Por esta razão, João é chamado teólogo. Os seus escritos levam a acreditar em Jesus Messias e Filho de Deus (cf. Jo 20, 31). O seu símbolo é a águia porque, como refere uma sentença rabínica, a águia é a única ave que consegue fixar o sol sem cegar. Para João, o sol é Cristo. A sua presença na comunidade descobre-se pela contemplação e pela inteligência da Palavra de vida. A vida, na sua realidade mais profunda, é «a Vida eterna que estava junto do Pai e que se manifestou a nós». Jamais contemplaremos suficientemente este mistério de vida que se tornou perceptível para nós em Jesus, Filho de Deus, a vida eterna que estava junto do PaiO

    S. João faz-nos compreender quanta profundidade se encontra na pessoa do Filho, na sua união com o Pai, na sua comunhão com Eleffi Incarnação tem por objectivo tornar-nos participantes nessa comunhão divina: estamos «em comunhão com o Pai e com o seu Filho, Jesus Cristo». A Incarnação aconteceu em vista da comunhão. Isto é espantoso. A carne é causa de divisão! Por causa dela, estamos num lugar e não noutro. Podemos chegar até às pessoas queridas pelo pensamento. Mas a carne impede-nos estar em comunhão com elas. E quantas discussões, litígios e divisões por causa dos bens materiais! O Filho de Deus, ao assumir a nossa carne, tornou-a meio de comunhão. Tudo o que assumiu se tornou instrumento de comunhão com Deus e entre nós. Na Eucaristia, onde a carne de Cristo se põe ao serviço da comunhão, fazemos a comunhão, isto é, recebemos a comunhão com o Pai e a comunhão entre nós. Para isso, Cristo teve de sacrificar a sua carne, teve de entregá-Ia aos inimigos, para fazer dela um sacrifício agradável, um sacrifício perfeito. Então, a vida mostrou toda a sua força.

    O evangelho de hoje leva-nos até à Páscoa, mostra-nos a meta alcançada: a vida venceu a morte e manifestou-se. O que João viu foi esta vitória da vida, manifestada no sepulcro pelas ligaduras, pelo sudário. O corpo de Cristo já não está no sepulcro, porque a vida triunfou. Mas Jesus incarnado está sempre connosco, porque a vitória sobre a morte foi alcançada para nós.

    Uma outra lição que podemos tirar do evangelho de hoje é o respeito pelos carismas, que são muitos na Igreja, para bem da mesma Igreja. João, que tem o carisma da profecia, é respeitado Pedro, que tem o carisma da instituição. O respeito pelo
    s carismas, e a partilha na busca comum dos dons do Espírito, permite-nos penetrar no mistério, reconhecer os sinais do Ressuscitado.

    Com S. João, também nós somos chamados a "conhecer", isto é, fazer experiência de vida e a "crer", isto é, a aderir com todo o coração e com toda a nossa pessoa, "ao amor que Deus nos tem"? (1 Jo 4, 16), amor manifestado no Verbo Incarnado. Esse inefável "amor que Deus nos tem ... !", de que João é «doutor», no dizer do Pe. Dehon, é o grande mistério para todo o cristão e, em particular, para todo o oblato-SCJ.

    É este mistério que queremos proclamar diante da Eucaristia, diante do Crucificado de Lado aberto, diante da nossa vocação de Oblatos-Sacerdotes do Coração de Jesus.

    Oratio

    Senhor Jesus Cristo, que revelaste a João, teu discípulo amado, os misteriosos segredos da Palavra, dá-nos também a nós, hoje, e a toda a Igreja, uma nova inteligência espiritual das Escrituras. Assim poderemos iluminar, cada vez mais, a nossa vida espiritual, e aprender a tua ciência sublime.

    Concede à Igreja pastores sábios e santos, capazes de colher o sentido espiritual e profundo das Escrituras e introduzir o povo de Deus na tua intimidade. Assim todos poderemos conhecer o teu Coração, o teu pensamento, a profundidade do teu Espírito e o modo como conduzes a história da Igreja.

    Por intercessão do teu discípulo amado, faz-nos experimentar o amor do teu Coração, e torna-nos assíduos e delicados no teu serviço. Sempre, e em toda a parte, queremos, como S. João, realizar a tua vontade sobre nós. Ajuda-nos!

    Contemplatio

    S. João teve com Jesus os laços mais íntimos: foi seu parente, seu discípulo, seu amigo, seu herdeiro. Tiago e João eram filhos de Salomé, parente de Maria. Eram chamados irmãos de Jesus. Era costume chamar irmãos os parentes próximos. João deve ter conhecido Jesus menino.

    Ligou-se a Ele, primeiro como discípulo com Santo André (Jo 1, 37). Tendo ouvido João Baptista chamar Jesus Cordeiro de Deus, deleitou-se com esse nome, meditava-o sem cessar, e lembra-o muitas vezes no Apocalipse.

    S. João está sempre junto de Jesus. Quando Jesus toma aparte alguns apóstolos, para os mais belos milagres, para a transfiguração, para a agonia, S. João está sempre.

    Senta-se junto de Jesus. S. Pedro sabe bem que João é o amigo e que, por meio dele, pode conhecer os segredos que Jesus não revela a todos.

    S. João pode narrar em pormenor os discursos de Jesus depois da Ceia porque os ouviu melhor que os outros.

    S. João ama como é amado. Segue Jesus por todo o lado (Petrus vidit iI/um sequentem). Segui-Io-á até ao Calvário. Assiste à morte de Jesus, ao golpe misterioso da lança, à sepultura. Vê de perto o lado de Jesus aberto. Abraça-o, sem dúvida, como um dia havia de fazer S. Francisco (Haurietis aquas in gáudio).

    S. João é o herdeiro de Jesus, que lhe legou a sua mãe e necessariamente com ela as habitações de Nazaré e as lembranças.

    Jesus disse a Pedro que João devia esperá-lo e recebe-lo na terra. Hão rever-se em Patmos. João reencontrará lá o divino Cordeiro de lado aberto: Agnum occisum ... quem pupugerunt.

    Ó divina amizade, que merece contemplação e admiração eterna! (Leão Dehon, OSP 4, p. 591s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    « O Verbo fez carne, e nós vimos a sua glória» (Jo 1, 14).

  • Tempo do Natal - 4º dia da Oitava do Natal

    Tempo do Natal - 4º dia da Oitava do Natal


    28 de Dezembro, 2021

    Tempo do Natal - 4º dia da Oitava do Natal

    Lectio

    Primeira leitura: 1João 1, 5-2, 2

    Caríssimos:5*Eis a mensagem que ouvimos de Jesus e vos anunciamos: Deus é luz e nele não há nenhuma espécie de trevas. 6*Se dizemos que temos comunhão com Ele, mas caminhamos nas trevas, mentimos, e não praticamos a verdade. 7*Pelo contrário, se caminhamos na luz, do mesmo modo que Ele, que está na luz, então temos comunhão uns com os outros e o sangue do seu Filho Jesus purifica-nos de todo o pecado. 8*Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós. 9*Se confessamos os nossos pecados, Deus é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a iniquidade. 10Se dizemos que não somos pecadores, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós.

    1*Filhinhos meus, escrevo-vos estas coisas para que não pequeis; mas, se alguém pecar, temos junto do Pai um advogado, Jesus Cristo, o Justo, 2*pois Ele é a vítima que expia os nossos pecados, e não somente os nossos, mas também os de todo o mundo.

    A festa dos Santos Inocentes, colocada tão perto do Natal, realça não só o dom do martírio, mas também a grande verdade que a morte do inocente revela: a maldade do pecador, como Herodes, semeia ódio e morte, enquanto o amor do justo inocente, como Jesus, traz frutos de vida e salvação. S. João também nos apresenta o mundo divido em duas partes: a luz, o mundo de Deus, e as trevas, o mundo de Satanás. Quem caminha na luz e pratica a verdade (cf. vv. 7-8), vive em comunhão com Deus e com os irmãos, e é purificado de todo o pecado pelo sangue de Jesus derramado na cruz. Quem, pelo contrário, caminhas nas trevas e não pratica a verdade (cf. vv. 6.8), engana-se a si mesmo, não vive em comunhão com Cristo nem com os irmãos, está longe da salvação. Os verdadeiros crentes reconhecem, diante de Deus, o seu pecado, confessam-nos e confiam no Senhor «fiel e justo» (v. 9), são salvos. Os maus, pelo contrário, que não reconhecem os seus pecados, tornam vão o sacrifício de Cristo, e a sua Palavra de vida não os pode transformar interiormente.

    Ao terminar, João exorta os cristãos a recorrerem a Jesus como advogado junto do Pai (cf. v. 1), porque é Ele que expia os pecados dos fiéis e os da humanidade inteira. O cristão não deve pecar, mas, se pecar, o melhor que tem a fazer é reconhecer o seu pecado e confiar na misericórdia d´Aquele que o pode livrar da pobreza moral e restituí-lo à comunhão com Deus.

    Evangelho: Mateus 2, 13-18

    13*Depois de os Magos partirem, o anjo do Senhor apareceu, em sonhos, a José e disse-lhe: «Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egipto e fica lá até que eu te avise, pois Herodes procurará o menino para o matar.» 14*E ele levantou-se, de noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egipto, 15*permanecendo ali até à morte de Herodes. Assim se cumpriu o que o Senhor anunciou pelo profeta: Do Egipto chamei o meu filho. 16*Então Herodes, ao ver que tinha sido enganado pelos magos, ficou muito irado e mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o seu território, da idade de dois anos para baixo, conforme o tempo que, diligentemente, tinha inquirido dos magos. 17Cumpriu-se, então, o que o profeta Jeremias dissera: 18*Ouviu-se uma voz em Ramá, uma lamentação e

    Caixa de texto: Tempo do Natal 28|Dezembro > Festa dos Santos Inocentes
    um grande pranto: É Raquel que chora os seus filhos e não quer ser consolada, porque já não existem.

    Mateus narra uma das provações da família de Nazaré. Depois de os Magos partirem, advertidos pelo Anjo do Senhor, José e Maria tiveram de fugir com o Menino para o Egipto, para escaparem ao ódio de Herodes. Na sua loucura, tinha decidido matar todos os recém- nascidos em Belém (cf. vv. 14-16). A Sagrada Família vive uma dolorosa perseguição, que a leva a fugir da sua terra e a lança numa aventura cheia de incertezas.

    Mateus sugere que a Sagrada Família não goza de qualquer privilégio em relação às outras. Jesus é um Deus no meio de nós, mas a sua glória esconde-se numa aparente derrota. Não O buscam apenas os Magos. Também Herodes O procura. Mas suas intenções são diferentes: os Magos querem adorá-lo; Herodes quer matá-lo. Jesus é sinal de contradição desde o seu nascimento.

    Na realidade, a narrativa evangélica evidencia um outro tema: a aventura humana de Jesus, desde a sua infância, é lida à luz da história de Moisés e do seu povo. Tanto o nascimento de Moisés, como o de Jesus, coincidem com a matança de meninos hebreus inocentes (Ex 1, 8-2,10 e Mt 2, 13-14); ambos se dirigem para o Egipto (Ex 3, 10; 4, 19 e Mt 2, 13-14); ambos realizam a palavra: «do Egipto chamei o meu filho» (Ex 4, 22; Os 11, 1 e Mt 2, 15). Finalmente a profecia de Raquel que chora os seus filhos (Jer 31, 15) recorda-nos que Jesus permanece o Messias procurado e recusado, em quem se realizam as promessas de Deus e as esperanças dos homens.

    Meditatio

    Causa-nos um certo choque celebrar o martírio dos Inocentes apenas três dias depois do Natal, festa da família, da alegria e da paz. Mas esta festa ajuda-nos a compreender mais profundamente o Natal de Cristo.

    Contemplámos o Menino do presépio, que, como sabemos não é um menino qualquer. Pretende tornar-se rei de todos os corações; por isso, não pode deixar de encontrar resistência e oposição. Apresenta-se como Luz do mundo, mas as trevas não se deixam iluminar, sem luta, sem sofrimento. A festa dos Inocentes mostra-nos que essa luta começa muito cedo.

    Essa luta começa dentro de nós, como vemos na primeira leitura. Porque somos pecadores, estamos de algum modo do lado de Herodes, recusamos o Salvador e precisamos de conversão para acolhe
    r a luz que nos perturba. «Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós», escreve S. João. Hoje começa a obra da nossa salvação e a primeira coisa a fazer é reconhecer que precisamos de ser salvos.

    O evangelho narra precisamente a fuga da Sagrada Família para o Egipto e a matança dos Inocentes. Mateus, partindo dos dados históricos, recompõe-os, lendo-os na fé e transfigurando-os à luz do mistério que encerram: o Menino Jesus, que se entrega nas mãos dos homens, não é alguém que foge do inimigo por medo, mas é o verdadeiro vencedor, porque é na sua obediência livre que revela ao homem o rosto do Pai e o amor gratuito com que se entregou a nós. Se o mundo recusa a Cristo, o derrotado não é Cristo, mas o mesmo mundo. Se a recusa de Cristo e a sua marginalização são momentos de humilhação que revelam a sua fraqueza humana, são também o início do seu triunfo, por causa da glorificação que dará ao Pai.

    Também nós podemos recusar Cristo e ser culpados de pecado, renegando o amor de Deus. Mas acreditamos que, apesar de tudo, os nossos pecados não são um obstáculo permanente à comunhão com Deus, graças à sua misericórdia a que podemos recorrer.

    Sigamos o convite do Pe. Dehon: «Sigamos os pastores e vamos ao presépio beber uma vida nova, uma força nova para doravante seguirmos com coração a direcção da graça... Lancemos um olhar também para as pequenas vítimas imoladas por Herodes, os santos Inocentes. Deixemo-nos imolar pela espada do sacrifício, da obediência e da abnegação» (OSP 4, p. 598-599).

    Oratio

    Senhor Jesus, que por nós Te fizeste homem, que por nós morreste e ressuscitaste, Tu és o nosso único advogado junto do Pai quando pecamos e nos afastamos de Ti. Muitas vezes quebramos a Aliança contigo, e outras tantas a restabeleceste, sem Te cansar, manifestando a riqueza da tua bondade e do teu perdão. Não deixes de ser o nosso defensor. Sê também o defensor da nossa humanidade que massacra tantos inocentes, crianças, jovens, adultos e idosos, homens e mulheres.

    Tu, que experimentaste a situação dos refugiados, tem compaixão dos milhões de homens e mulheres que, ainda nos nossos dias, têm que abandonar as suas terras, os seus países, para escaparam às diferentes formas de perseguição, às guerras, aos massacres, aos genocídios.

    Pela tua Incarnação, pela tua Morte e Ressurreição, concede ao nosso mundo a graça de encontrar o caminho da justiça e da paz. Amen.

    Contemplatio

    Jesus menino quis distribuir as suas primeiras palmas a crianças. É um ramo de mártires em flores que ele colheu para si, quase no dia seguinte ao seu nascimento.

    O Coração de Jesus ama as crianças. Ele devia manifestá-lo solenemente mais tarde ao chamar para junto de si numerosas crianças para as abençoar, apesar da repugnância dos seus apóstolos. «Deixai vir a mim as criancinhas, devia dizer-lhes. Eu amo as crianças e aqueles que se lhes assemelham, e amaldiçoo aqueles que as escandalizam.

    Mas o Coração de Jesus tem modos de amor que a natureza não compreende sem o socorro da graça. Jesus menino sabe que a palma do martírio será uma das maios belas recompensas do seu céu. Ele entrevê antecipadamente esta guarda de honra cantada por S. João, e que estará vestida de branco com uma palma na mão e que há-de seguir por toda a parte o Cordeiro divino, o Rei dos mártires no céu. Ele quer inserir aí crianças, porque as ama, e permite a perseguição de Herodes e o massacre dos inocentes de Belém. É o primeiro grupo de santos do Novo Testamento, que vai esperar no Limbo a ressurreição de Jesus e a abertura do céu. As gotas de sangue da Circuncisão e as lágrimas do presépio fizeram germinar e florir este ramo de mártires.

    Oh! Como nós devemos amar sobrenaturalmente as crianças! Como as devemos amar para as formar na virtude e sobretudo para lhes ensinar a conhecer o Sagrado Coração de Jesus! (Pe. Dehon, OSP 2, p. 223).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «O sangue de Jesus purifica-nos de todo o pecado» (1 Jo 1, 7).

  • Tempo do Natal - 5º dia da Oitava do Natal

    Tempo do Natal - 5º dia da Oitava do Natal


    29 de Dezembro, 2021

    Tempo do Natal - 5º dia da Oitava do Natal

    Lectio

    Primeira leitura: 1João 2, 3-11

    Caríssimos:3*Sabemos que o conhecemos por isto: se guardamos os seus mandamentos. 4*Quem diz: «Eu conheço-o», mas não guarda os seus mandamentos é um mentiroso, e a verdade não está nele; 5*ao passo que quem guarda a sua palavra, nesse é que o amor de Deus é verdadeiramente perfeito; por isto reconhecemos que estamos nele. 6*Quem diz que permanece em Deus também deve caminhar como Ele caminhou. 7*Caríssimos, não vos escrevo um mandamento novo, mas um mandamento antigo, que já tínheis desde o princípio: este mandamento antigo é a palavra que ouvistes. 8*É, contudo, um mandamento novo o que vos escrevo .o que é verdade nele e em vós. pois as trevas passaram e a luz verdadeira já brilha. 9*Quem diz que está na luz, mas tem ódio a seu irmão, ainda está nas trevas. 10Quem ama o seu irmão permanece na luz e não corre perigo de tropeçar. 11Mas quem tem ódio ao seu irmão está nas trevas e nas trevas caminha, sem saber para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos.

    O caminho para conhecer a Deus e permanecer nele é, pela negativa, «não pecar» (cf 1 Jo 1, 5-2,2) e, pela positiva, guardar os mandamentos, especialmente o do amor a Deus ( vv. 3-6) e aos irmãos 8vv. 8-11). O conhecimento de Deus comporta, pois, exigências de vida, ao contrário da gnose, filosofia religiosa popular do tempo de Jesus, que apenas exigia a libertação do mundo visível. Opondo-se a essa doutrina, que excluía o pecado e a existência de qualquer moral, João afirma que o verdadeiro conhecimento de Deus deve ser autenticado pela observância dos mandamentos. De facto, quem guardar a «sua palavra» (v. 5) experimenta o amor de Deus e mora nele, porque vive como Jesus viveu, e tem dentro de si uma realidade interior que o impele a imitar a Cristo, cujo exemplo de vida é precisamente o amor (v. 6).

    Este mandamento do amor é novo e antigo: «novo», porque gera vida nova e deve sempre redescobrir-se; «antigo», porque foi ensinado desde o início do anúncio cristão. O verdadeiro critério de discernimento do espírito de Deus é o amor fraterno, porque ninguém pode estar na luz de Deus e odiar o próprio irmão.

    Evangelho: Lucas 2, 22-35

    22*Quando se cumpriu o tempo da sua purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor, 23*conforme está escrito na Lei do Senhor: Todo o primogénito varão será consagrado ao Senhor 24e para oferecerem em sacrifício, como se diz na Lei do Senhor, duas rolas ou duas pombas. 25*Ora, vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão; era justo e piedoso e esperava a consolação de Israel. O Espírito Santo estava nele. 26*Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não morreria antes de ter visto o Messias do Senhor. 27Impelido pelo Espírito, veio ao templo e, quando os pais trouxeram o menino Jesus, a fim de cumprirem o que ordenava a Lei a seu respeito, 28Simeão tomou-o nos braços e bendisse a Deus, dizendo: 29*«Agora, Senhor, segundo a vossa palavra, deixareis ir em paz o vosso servo, 30*porque meus olhos viram a Salvação 31que oferecestes a todos os povos, 32*Luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo.» 33Seu pai e sua mãe estavam admirados com o que se dizia dele. 34*Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua

    Caixa de texto: Tempo do Natal 29|Dezembro
    mãe: «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; 35*uma espada trespassará a tua alma. Assim hão-de revelar-se os pensamentos de muitos corações.»

    A apresentação de Jesus no templo tem como horizonte teológico o quadro da antiga aliança que dá lugar à nova aliança, pelo reconhecimento do menino Jesus como o Messias sofredor, o Salvador universal dos povos. A narrativa está cheia de referências bíblicas (cf. Ml 3; 2 Sam 6; Is 49, 6), e compõe-se de duas partes: a apresentação da cena (vv. 22-24) e a profecia de Simeão (vv. 25-35).

    Maria e José, obedientes à lei hebraica, entram no templo como membros simples e pobres do povo de Deus, para oferecerem o primogénito ao Senhor e para purificação da mãe (cf. Ex 13, 2-16; Lv 12, 1-8). A oferta do Menino revelam confiança e abandono em Deus, antecipação da verdadeira oferta do Filho ao Pai, que se realizará no Calvário. O centro da cena é a profecia de Simeão, homem justo e piedoso que esperava a consolação de Israel (cf. v. 25). Guiado pelo Espírito, vai ao templo e, reconhecendo em Jesus o Messias esperado, saúda-o festivamente e faz uma confissão de fé: realizaram-se as antigas profecias; ele viu o Salvador, a glória de Israel, a luz e salvação de todos os povos. Mas essa luz terá o reflexo do sofrimento, porque Jesus há-de ser «sinal de contradição» (v. 34) e a própria Mãe será envolvida o destino de sofrimento do Filho (v. 35).

    Meditatio

    A contemplação do encontro de Simeão com o Menino Jesus, deixa-nos entrever a alegria imensa de quem vê realizar-se um desejo antigo, próprio e de todo o povo. Simeão contempla e recebe nos braços o Messias de Israel, Aquele que traz consolação, salvação, luz e glória a Israel.

    As palavras «impelido pelo Espírito, veio ao templo» podem trazer inspiração para a nossa vida. Simeão é um homem dócil ao Espírito Santo e, por isso, pode ter a alegria de encontrar o Messias, tomá-lo nos braços e bendizer a Deus. Homem justo e temente a Deus, observava, não os mandamentos, mas também as inspirações de Deus. Estava atento à voz do Espírito para, em todas as circunstâncias, fazer a vontade de Deus. Assim caminhava na luz, para conhecer a Jesus, como ensina S. João. Coube-lhe a honra de oferecer a Deus aquele menino. Fê-lo certamente com o arrebate que notamos no seu hino. Mas estava ain
    da longe de compreender plenamente o alcance do seu gesto. Escreve o Pe. Dehon: «Enquanto que o velho Simeão o oferece assim, Deus não vê nas mãos do sacerdote senão o Coração do seu Filho, que se oferece a si mesmo, este Coração animado de uma generosidade infinita, este Coração tão grande pelo amor, que é pequeno fisicamente. O santo ancião não compreende toda a excelência deste dom que ele faz a Deus da parte dos homens; adivinha-o um pouco, entrevê-o profeticamente. O Coração de Jesus compreende todo o valor desta oferenda, é ao mesmo tempo o doador e o dom, o Sacerdote e a oblação» (OSP 3, p. 218).

    Cristo entregava-se para glória e alegria do Pai e para salvação da humanidade. Amar a exemplo de Cristo, significa entregar-se, esquecer-nos de nós mesmos, procurar os interesses dos outros até ao sacrifício dos próprios interesses. A atitude evangélica de quem se coloca na verdade é o dom de si mesmo a Deus e aos irmãos. A vida cristã é amor que se dá a todos com generosidade.

    O fundamento deste amor é a própria Trindade, a comunhão que une o Pai e o Filho.

    Isto faz-nos compreender que o amor cristão não se limita à comunidade cristã, em que cada um de nós vive, porque o amor fundado sobre o amor do Pai e vivido em plenitude entre os irmãos na fé é um elemento de dinamismo apostólico. Com quanto maior profundidade se viver a fé e o amor, mais nos sentimos impelidos ao testemunho. Onde reinar esse amor recíproco, os discípulos tornam-se sinal histórico e concreto de Deus-Amor no mundo.

    Oratio

    Senhor Jesus, a tua vida escondida, e confundida com a da gente comum, é para nós um exemplo de simplicidade e de pobreza. Como qualquer primogénito do teu povo, quiseste ser apresentado ao templo e oferecido a Deus, para cumprires a Lei. Fizeste-te reconhecer como Salvador universal por Simeão, um homem justo e aberto à novidade do Espírito. É aos simples e aos humildes que Te costumas revelar, e não aos sábios e orgulhosos.

    Nós Te pedimos que, apesar da nossa miséria e da nossa incapacidade em nos darmos conta da passagem do teu Espírito na nossa vida, nos dês a graça de Te reconhecermos como nossa luz e como luz do mundo.

    Nós Te louvamos e bendizemos, com o velho Simeão, pela realização das tuas promessas. Ajuda-nos a viver tudo quanto nos ensinaste, especialmente o amor fraterno. E que toda a nossa vida seja oblação ao Pai, em favor da humanidade, pela qual Tu próprio Te ofereceste. Amen.

    Contemplatio

    Simeão, homem justo e temente a Deus, esperava a consolação de Israel. O Espírito Santo, que estava nele, tinha-lhe dito que não morreria sem ver o Cristo do Senhor. Ele esperava, era a sua vida, e a sua confiança era inabalável.

    Mas será que eu peço e espero o reino de Nosso Senhor? Quão depressa fico sem coragem! Uma decepção, uma oração aparentemente infrutífera, uma demora da Providência, e deixo-me abater. Rezar, esperar, ter confiança, isto é a vida cristã.

    É um dia de alegria para Simeão. Naquele dia, os seus pressentimentos realizam-se. Vem ao Templo, encontra uma criança com a sua mãe. É o redentor! O vidente compreendeu- o.

    E quando recebe Jesus nos seus trémulos braços, não consegue conter as lágrimas: «Agora posso morrer, diz, vi a salvação...» A terra já não tem encanto para ele. Os seus olhos já não se interessariam por mais nada. Viu o Senhor, irá esperá-lo no silêncio dos limbos.

    Oh! Porque é que não sei esperar e perseverar na oração? Alegrias profundas viriam recompensar-me e encorajar-me.

    Como Simeão é belo quando, com os olhos banhados de lágrimas, ergue com os seus trémulos braços o menino Jesus para o céu, cantando o seu Nunc dimittis! Viu o Senhor, é ter vivido muito, é viver muito ainda. «Agora, diz, podeis, Senhor, deixar ir em paz o vosso servo... O túmulo não me assusta, certo como estou de já não estar muito tempo separado de vós... Permiti que vá anunciar aos vossos santos que já não têm muito tempo que esperar por vós, porque os meus olhos viram a salvação que preparastes para os povos, a luz que deve iluminar as nações e a glória de Israel vosso povo» (Leão Dehon, OSP 3, p. 126).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Quem ama o seu irmão permanece na luz» (1 Jo 2, 10).

  • Tempo do Natal - 6º dia da Oitava do Natal

    Tempo do Natal - 6º dia da Oitava do Natal


    30 de Dezembro, 2021

    Tempo do Natal - 6º dia da Oitava do Natal

    Lectio

    Primeira leitura: 1 João 2, 12-17

    12*Eu vo-lo escrevo, filhinhos: Os vossos pecados estão-vos perdoados pelo nome de Jesus. 13*Eu vo-lo escrevo, pais: Vós conheceis aquele que existe desde o princípio. Eu vo-lo escrevo, jovens: Vós vencestes o maligno. 14Eu vo-lo escrevi, filhinhos: Vós conhecestes o Pai. Eu vo-lo escrevi, pais: vós conheceis aquele que existe desde o princípio. Eu vo-lo escrevi, jovens: Vós sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós, e vós vencestes o Maligno. 15*Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. 16*Pois tudo o que há no mundo ..a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e o estilo de vida orgulhoso . não vem do Pai, mas sim do mundo. 17*Ora, o mundo passa e também as suas concupiscências mas quem faz a vontade de Deus permanece para sempre.

    João dirige-se afectuosamente à comunidade cristã para que seja coerente com o projecto de salvação e com as opções que fez em relação a Deus e ao mundo. Assim poderá manifestar o seu amor para com Deus.

    Escrevendo aos filhos, exorta-os a reflectir sobre a situação actual de salvação em que vivem, pois obtiveram o perdão dos pecados (v. 12) e conheceram o Pai (v. 14ª). Escrevendo aos pais, recorda-lhes que conheceram Jesus, «aquele que existe desde o princípio» (v. 13), por meio da Palavra, pelo que se exige deles uma fé madura que não os deixe ser seduzidos pelo mundo. Aos jovens recorda que aderiram a Jesus e venceram o mal (v. 13), e que a sua fortaleza espiritual, reforçada pela palavra de Deus, os exclui de compromissos com as fáceis atracções do mundo (v. 14).

    Este projecto de vida espiritual resume-se numa vida separada da lógica do mundo, entendido como reino do mal que se opõe a Deus. Deus e mundo são duas realidades opostas. João menciona alguns aspectos que pertencem à transitoriedade do mundo, inimigo de Deus: «a concupiscência da carne», isto é, as tendências más que existem no homem decaído e inclinado ao pecado; «a concupiscência dos olhos», isto é, a cobiça que pode entrar pelos olhos, tal como a avidez pelos bens terrenos; «o estilo de vida orgulhoso», isto é, o orgulho fundado na concepção materialista da vida.

    A separação do mundo tem, para os cristãos, uma razão de ser: vivem no mundo, mas sabem que, enquanto o mundo passa, Deus permanece (v. 17).

    Evangelho: Lucas 2, 36-40

    36Quando os pais de Jesus levaram o Menino a Jerusalém, a fim de o apresentarem ao Senhor, estava no templo uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, a qual era de idade muito avançada. Depois de ter vivido casada sete anos, após o seu tempo de donzela, 37*ficou viúva até aos oitenta e quatro anos. Não se afastava do templo, participando no culto noite e dia, com jejuns e orações. 38*Aparecendo nessa mesma ocasião, pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém. 39Depois de terem cumprido tudo o que a Lei do Senhor determinava, regressaram à Galileia, à sua cidade de Nazaré. 40*Entretanto, o menino crescia e robustecia-se, enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele.

    Caixa de texto: Tempo do Natal 30|Dezembro
    O texto do evangelho que lemos hoje é a conclusão do episódio da apresentação de Jesus ao templo. Consta de duas partes: o testemunho da profetiza Ana (vv. 36-38) e o regresso da Sagrada Família a Nazaré (vv. 39-40).

    De acordo com a lei dos hebreus, para garantir a verdade de um facto, exigia-se a deposição de duas testemunhas. Depois do testemunho de Simeão, vem o de Ana. É outra "pobre de Deus", típica representante daqueles que aguardavam a redenção de Israel. Louva o Senhor porque reconheceu no Menino Jesus, apresentado ao templo, o Messias esperado, e espalhou a notícia entre aqueles que viviam disponíveis para o evento da salvação (v. 38).

    A cena conclui-se com a observação de Lucas sobre o crescimento de Jesus, em Nazaré: «o menino crescia e robustecia-se, enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele» (v. 40). Diz-se muito pouco sobre a vida oculta de Jesus. Mas, o pouco que se diz, é suficiente para captarmos o espírito e apreciarmos o ambiente onde viveu o Salvador: os seus pais eram obedientes e fiéis à Lei, Jesus crescia em sabedoria, cheio como estava dos dons da graça de que o Pai o cumulava (cf. v. 52; 1 Sam 2, 26). Estamos perante uma comunidade que se abre ao reino de Deus, no respeito pela vontade do Pai.

    Meditatio

    A profetiza Ana, uma anciã com 84 anos, número bíblico que simboliza a perfeição (resulta de 12×7), pois está no fim dos seus dias, sugere uma comparação com o ano civil que também está a terminar. Ana, depois de 7 anos de casamento, permaneceu no templo, servindo a Deus dia e noite com jejuns e orações. Por isso mereceu a graça do encontro com o Salvador. O nosso ano civil também está muito velho, e termina com o encontro do Senhor no Natal. Esse encontro é tanto mais belo e frutuoso quanto tiver sido cuidada a preparação. Mas, apesar de toda a nossa infidelidade, o Senhor, na sua infinita bondade e misericórdia, vem até nós, e dá-se a conhecer como nosso Salvador. Por isso, também nós, como Ana e, afinal, como Maria e todos os que esperavam a salvação de Israel, podemos entoar hinos de louvor e gratidão ao Senhor.

    Este encontro com o Senhor traz-nos a salvação, insere-nos numa nova forma de vida, com a qual havemos de ser coerentes, para manifestarmos o nosso amor a Deus. A vocação cristã, a que fomos chamados, compromete-nos a viver no mundo a serviço do homem, para testemunhar a Cristo e levar a todos a sua mensagem de salvação. Vivemos no mundo, mas sem nos confundirmos com ele, nem cedermos a compromissos
    com ele. Caso contrário, negamos o espírito de humildade, de pobreza, de caridade que deve animar a nossa vida de crentes. Só o coração que se esvaziar do mundo, das suas propostas de vida transitórias e da avidez pelos seus bens efémeros, podem ser cumulado do amor do Pai (cf. 1 Jo 2, 15).

    O discípulo de Jesus jamais será aceite pelo mundo, por causa da sua opção de vida, contrária às propostas e interesses mundanos. Os crentes, por causa da sua eleição e da sua opção de vida por Cristo, são considerados estranhos e inimigos do mundo. Por isso é que o homem de fé é odiado e recusado. O mundo recusa os discípulos porque não são seus. Perturbam a sua paz, desmascaram o seu orgulho, acusam o seu conformismo. Mas, se Cristo permanece sinal de contradição para quem segue a lógica do amor, também é certo que tanta oposição se torna critério de autenticidade e de solidez para os discípulos de Cristo.

    Como cristãos e, mais ainda, como religiosos, estamos "no mundo", mas não somos "do mundo" (cf. Jo 17, 11-14). As nossas Constituições dizem-nos que estamos inseridos no mundo, "segundo a nossa vocação específica" (n. 61), isto é, que devemos conservar e viver a nossa identidade de oblatos, servindo o Senhor noite e dia, e servindo os homens, segundo o nosso carisma específico e a missão a que somos chamados. Se assim não for, condenamo- nos à esterilidade em relação a nós mesmos, à Igreja, ao mundo, e esvaziamos de significado a nossa missão (cf. ET 52).

    A vivência da nossa vocação e missão não está livre de oposições. Sabemos quantas dificuldades o Pe. Dehon teve que enfrentar durante a sua longa vida e como elas acabaram por revelar a autenticidade e a solidez da sua santidade e do seu carisma. Escreve na meditação para o último dia do ano: «O ano teve, sem dúvida, sofrimentos e tristezas. Seria heróico agradecer a Deus essas provações que, nos seus desígnios sobre nós, têm a finalidade de nos purificar e santificar... Bendigamos a Deus e pensemos nas alegrias eternas que hão-de recompensar as provações actuais» (OSP 4, p. 604).

    Oratio

    Senhor Jesus, Tu quiseste viver numa família humana sem aparência, prestígio ou riqueza, a tua experiência humana. A tua vida de criança foi marcada pela fragilidade e pelo crescimento normal. Trabalhaste para ganhar o pão de cada dia. Viveste no escondimento e na reflexão silenciosa a preparação para a vida pública. Assim experimentaste a condição humana e venceste o orgulho do mundo.

    Dá-nos a graça de acolhermos, com alegria e gratidão, a nossa fragilidade humana, a nossa história, a nossa família, a terra onde nascemos. Dá-nos a graça de aceitarmos a nossa fragilidade espiritual, sem todavia renunciarmos à busca permanente da tua sabedoria e da tua Palavra.

    Dá-nos a graça de sermos coerentes com a opção que fizemos por Ti, no Baptismo, na profissão religiosa. Que, jamais, a pretexto de inserção no mundo, nos deixemos confundir com ele, com os seus ideais e interesses. Que, a pretexto de não-violência, jamais desçamos a compromissos com o mundo, entendido como conjunto de forças que se opõem a Ti e ao teu Reino.

    Que, tendo-Te aceitado como Salvador e Senhor da nossa vida, aceitemos também partilhar um destino semelhante ao teu. Amen.

    Contemplatio

    Ana, filha de Fanuel, mulher venerável, cheia de anos e de graças, também estava lá. Tinha o costume de rezar longamente todos os dias no Templo, e esperava como Simeão a vinda do Messias.

    Como Simeão, ela reconheceu o menino divino e sua mãe, e isto foi para ela a mesma alegria e a mesma acção de graças. Exultava e anunciava a boa nova a todas as pessoas piedosas que esperavam a redenção de Israel.

    E eu, eu recebo Nosso Senhor na sagrada comunhão. Recebo-o mesmo mais intimamente que Simeão. Vem dar-me a sua graça. Qual é o meu fervor para o receber? Como é que lhe testemunhei até aqui a minha alegria, o meu respeito, o meu reconhecimento?

    Ana, toda entusiasmada, falava de Jesus a todas as pessoas: loquebatur de illo omnibus. Quais são as minhas conversas depois das minhas comunhões? São edificantes, caridosas, sobrenaturais?

    Transportado de amor depois das minhas comunhões, devia estar resolvido a viver glorificando Jesus e a morrer amando-o.

    Simeão repete a Maria a profecia de Isaías: «O Cristo será para a santificação de muitos em Israel, mas será para outros uma pedra de escândalo» (Is 8,14). É manifesto. Cristo é causa de salvação e de ressurreição para aqueles que o reconhecem, que o amam e que o servem. É causa de ruína para aqueles que o rejeitam.

    A indiferença não é colocada aqui. Jesus é a vida. Todas as bênçãos são prometidas àqueles que o seguem e que o amam. É preciso estar com ele ou com o mundo. Os povos e as famílias, como os particulares, encontrarão o caminho da paz e dos favores divinos no seguimento de Jesus e no seu serviço.

    Estas palavras do profeta são graves. Há dois caminhos oferecidos à nossa escolha: de um lado o caminho das bênçãos, com o seu traçado marcado no Evangelho: «Bem- aventurados os pobres, bem-aventurados os puros, bem-aventurados os que choram, os que perdoam, os que sofrem perseguição». Do outro lado, o caminho que afasta de Cristo. Tem este traçado: amor pelo ouro, pelo luxo, pelo prazer e pelo mundo. - Sois vós quem eu escolhi, meu Salvador, é o vosso caminho, é o vosso amor, é o vosso Coração, mesmo que deva encontrar as contradições e as perseguiç&otilde
    ;es!

    Simeão predisse a Maria a dor e a espada. Ela terá uma grande parte na paixão de Jesus. Sofrerá, ela também, por nós e pela nossa salvação. Ó Maria, como queria consolar-vos e partilhar das vossas mágoas para as aliviar! Até aqui, aumentei-as com as minhas faltas, perdoai-me. Vou-me esforçar por vos consolar com a minha paciência, com os meus sacrifícios e com as minhas mortificações.

    Com Simeão, alegro-me por possuir muitas vezes Jesus na sagrada comunhão. Agarro-me ao bom Mestre, que é sempre contradito. Contentarei o seu divino Coração com as minhas práticas quotidianas de reparação e de amor (Leão Dehon, OSP 3, p. 127s.)

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:

    «Quem faz a vontade de Deus permanece para sempre» (1 Jo 2, 17).

  • Tempo do Natal - 7º dia da Oitava do Natal

    Tempo do Natal - 7º dia da Oitava do Natal


    31 de Dezembro, 2021

    Tempo do Natal - 7º dia da Oitava do Natal

    Lectio

    Primeira leitura: 1 João 2, 18-21

    18*Meus filhos, estamos na última hora. Ouvistes dizer que há-de vir um Anticristo; pois bem, já apareceram muitos anticristos; por isso reconhecemos que é a última hora. 19*Eles saíram de entre nós, mas não eram dos nossos, porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido connosco; mas aconteceu assim para que ficasse claro que nenhum deles é dos nossos. 20*Vós, porém, tendes uma unção recebida do Santo e todos estais instruídos. 21Não vos escrevi por não saberdes a verdade, mas porque a sabeis, e também que da verdade não vem nenhuma mentira.

    S. João exorta a comunidade cristã à vigilância pela iminência da «última hora» da história, marcado por um violento ataque do «anticristo», símbolo de todas as forças hostis a Deus e personificadas nos heréticos. O tempo final da história não deve ser entendido em sentido cronológico mas teológico, isto, como tempo decisivo e último da vinda de Cristo, tempo de luta, de perseguição e de provação para a fé da comunidade. O agudizar das dificuldades indica que o fim está próximo. Vislumbra-se já no horizonte o perfil de um mundo novo. O sinal mais evidente vem dos heréticos que difundem a mentira. Embora tivessem pertencido à comunidade, mostram-se agora seus inimigos, ao abandonarem a Igreja e ao criar-lhe dificuldades.

    É duro verificar que Deus possa permitir a Satanás encontrar instrumentos da sua acção dentro da própria comunidade eclesial. Mas, a esses instrumentos, opõem-se os verdadeiros discípulos de Jesus, aqueles que receberam «a unção do Santo» (cf. v. 20), isto é, a palavra de Cristo e o seu Espírito que, pelo baptismo, lhes ensina a verdade completa (cf. Jo 14, 26). Essa verdade refere-se a Jesus, o Verbo de Deus feito carne, como professa o Apóstolo, e não um Jesus aparentemente humano, figura de uma realidade apenas espiritual, como dizem os hereges docetas.

    Evangelho: João 1, 1-18

    1*No princípio já existia o Verbo; o Verbo estava em Deus; o Verbo era Deus. 2No princípio Ele estava em Deus; 3*por Ele é que tudo começou a existir; sem Ele nada veio à existência. 4*Nele é que estava a Vida de tudo o que veio a existir. E a Vida era a Luz dos homens. 5A Luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a receberam. 6*Apareceu um homem enviado por Deus, que se chamava João. 7Este vinha como testemunha, para dar testemunho da Luz e todos crerem por meio dele. 8Ele não era a Luz, mas vinha para dar testemunho da Luz. 9*O Verbo era a luz verdadeira, que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina. 10*Ele estava no mundo e por Ele o mundo veio à existência, mas o mundo não o reconheceu. 11*Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. 12*Mas, a quantos o receberam, aos que nele crêem, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. 13*Estes não nasceram de laços de sangue, nem de um impulso da carne, nem da vontade de um homem, mas sim de Deus. 14*E o Verbo fez-se homem e veio habitar connosco. E nós contemplámos a sua glória,

    Caixa de texto: Tempo do Natal 31|Dezembro
    a glória que possui como Filho Unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade. 15*João deu testemunho dele ao clamar: «Este era aquele de quem eu disse: 'O que vem depois de mim passou-me à frente, porque existia antes de mim.'» 16*Sim, todos nós participamos da sua plenitude, recebendo graças sobre graças. 17*É que a Lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram-nos por Jesus Cristo. 18*A Deus nunca ninguém o viu. O Filho Unigénito, que é Deus e que está no seio do Pai, foi Ele quem o deu a conhecer.

    Ao contrário dos evangelhos da infância, o prólogo de S. João não narra os acontecimentos históricos do nascimento e da infância de Jesus. De forma poética, descreve a origem do Verbo na eternidade de Deus e a sua pessoa divina no amplo quadro bíblico do projecto de salvação, que Deus traz para o homem.

    Começa pela preexistência do Verbo (vv. 1-5), real e em comunhão de vida com o Pai; o Verbo pode falar-nos do Pai porque possui a eternidade, a personalidade e a divindade (v. 1). Depois fala da vinda histórica do Verbo para meio dos homens (vv. 6-13), de cuja luz deu testemunho João Baptista (vv. 6-8); a luz põe o homem perante a necessidade de fazer uma opção de vida: recusá-la ou acolhê-la, permanecer na incredulidade ou aderir à fé (vv. 9-11); o acolhimento favorável tem por consequência a filiação divina, que não procede da carne ou do sangue, isto é de possibilidades humanas (vv. 12-13). Finalmente, a Incarnação do Verbo (v. 14) como ponto central do prólogo. Este Verbo já tinha entrado na história humana por meio da criação, mas agora vem habitar entre os homens de um modo activo: «O Verbo fez-se homem», na fragilidade de Jesus de Nazaré, para mostrar o amor infinito de Deus. Nele, a humanidade crente pode contemplar a glória do Senhor, a glória de Jesus, o Revelador perfeito e escatológico da Palavra que nos faz livres, o verdadeiro Mediador humano-divino entre o Pai e humanidade, o único que nos manifesta Deus e no-lo faz conhecer (vv. 17-18).

    Meditatio

    «Todos nós participamos da sua plenitude, recebendo graças sobre graças», diz-nos João no Prólogo do seu evangelho. Vamos partir desta frase para n os colocarmos numa atitude de acção de graças, neste último dia do ano. Ao longo dele, fomos recebendo cada dia graça sobre graça, cada um segundo as suas necessidades e capacidades de receber. E, as graças que recebemos este ano, preparam as que havemos de receber no ano que vai começar.

    Recebemos a graça do perdão misericordioso de Deus para os nossos pecados e para termos coragem de avançar no caminho da santidade. Recebemos luz para avançarmos, dia a dia no ano que termina. Essa luz também n&at
    ilde;o deixará de brilhar sobre nós no ano que começa. A luz é o próprio Filho de Deus feito homem: «Eu sou a Luz do mundo». Essa luz é-nos dada como força e como amor, sobretudo na Eucaristia. Há que acolhê-la de coração aberto e disponível para todos os dons e surpresas de Deus.

    A falta dessa abertura levou alguns cristãos, logo na primitiva Igreja, à heresia. Não aceitavam que Deus se pudesse fazer homem e, mais ainda, homem pobre, homem frágil. Ao longo da história, e ainda em nossos dias, não faltam falsos profetas e mestres de falsidade, que se servem do nome de Cristo para propagar as suas ideias e doutrinas. Muitas vezes, provêm das próprias comunidades cristãs. Há que distinguir o verdadeiro do falso. A verdadeira doutrina traz alegria e paz interior.

    O dom e o mistério de pertencer à Igreja têm como única garantia a fidelidade à Palavra de Cristo, em humilde e permanente busca da verdade. Recusar a Igreja é recusar a Cristo, a verdade e a vida (cf. Jo 14, 6). Recusar a Igreja é não acreditar no Evangelho e na Palavra de Jesus, é viver nas trevas, no não-sentido. O verdadeiro discípulo de Jesus é aquele que, tendo recebido a unção do Espírito Santo, se deixa conduzir suavemente pela sua acção e pela sua verdade, reconhecendo os caminhos de Deus, esperando a sua vinda sem alarmismos nem fantasias milenaristas. A Incarnação de Cristo impregnou toda a história e toda a vida dos homens, porque só nele reside a plenitude da vida e toda a aspiração de felicidade e o homem entrou de pleno direito entre os familiares de Deus.

    O fim do ano civil recorda-nos que a história humana é guiada por Deus. Para Ele a nossa gratidão e a nossa súplica de vida nova que sempre nos quer oferecer.

    Escreve o Pe. Dehon: «O fim do ano é imagem do fim da vida; lembra-nos esse fim. Entremos nos sentimentos de Ezequias, que vendo-se à beira da morte, se humilhava e

    deplorava as suas faltas... Mas não será também preciso dar graças a Nosso Senhor pelos benefícios que recebemos este ano? Ele suportou-nos, perdoou-nos, abençoou as nossas obras. O seu Coração abriu-se largamente a nós. Não será justo sermos reconhecidos?» (Leão Dehon, OSP 4, p. 603s.).

    Oratio

    Senhor, quero hoje rezar-te com Ângela de Foligno:

    «Meu Deus, faz-me digna de conhecer o altíssimo mistério da tua ardente caridade, o mistério profundíssimo da tua Incarnação. Fizeste-te homem por nós. Desta carne começa a vida da nossa eternidade... Ó amor que todo Te dás! Aniquilaste-te a Ti mesmo, desfizeste-te a Ti, para me fazeres a mim; assumiste os farrapos de um servo vilíssimo, para me dares o manto real e a veste divina...

    Por isto que entendo, que compreendo com toda mim mesma - que Tu nasceste em mim - sê bendito, ó Senhor! Ó abismo de luz! Toda a luz está em mim, se eu vejo isto, se compreendo isto: que Tu nasceste em mim. Na verdade, esta inteligência é uma meta: a meta da alegria... Ó Deus, não criado, torna-me digna de me afundar neste abismo de amor, de sustentar em mim o ardor da tua caridade. Faz-me digna de compreender a inefável caridade que nos comunicaste quando, por meio da Incarnação, nos manifestas-te Jesus Cristo como teu Filho, quando Jesus Cristo Te manifestou a nós como Pai.

    Ó abismo de amor! A alma que Te contempla eleva-se admiravelmente acima da terra, eleva-se acima de si mesma e paira, pacificada, no mar da serenidade».

    Contemplatio

    S. João é o pregador do amor. Todo o seu evangelho está neste espírito. A sua primeira página é uma elevação de amor para o Verbo incarnado. «Nós vimos, diz, o Filho de Deus cheio de graça e de glória». Só ele descreve as núpcias tocantes de Caná, o colóquio com a Samaritana, a grande promessa da Eucaristia, a parábola do bom Pastor, a ressurreição de Lázaro, o lava-pés e os discursos tão ternos do Bom Mestre durante a Ceia e depois da Ceia. Narra a abertura do Coração de Jesus.

    As suas epístolas pregam a caridade: «Deus é caridade... amou-nos primeiro... deu- nos o seu Filho por nosso amor. Portanto, amemo-lo também da nossa parte». E sem cessar repete: «Amemo-nos uns aos outros».

    Vivendo junto de Maria e da Eucaristia, caminha para a consumação do amor. Chega à união mística mais intensa com Nosso Senhor, às visões, às revelações. O céu está aberto para ele. Descreve-o inteiramente. Mas sobretudo o Cordeiro triunfante retém o seu olhar: o Cordeiro sempre ferido no Coração e imolado, o Cordeiro que é bem o laço de amor entre Deus e nós.

    Avancemos humilde e progressivamente no amor com S. João (Leão Dehon, OSP 3, p. 404s.)

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Participamos da plenitude do Verbo; dele recebemos graças sobre graças». (Jo 1, 16).

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