Livres como os pássaros…

A liberdade é um dos grandes valores da nossa sociedade contemporânea. Quase de maneira instintiva, reagimos negativamente a tudo aquilo que sentimos que atenta contra ela. Somos muito sensíveis ao esforço de libertação de pessoas, grupos e sociedades. Manifestamos pouca tolerância para atitudes, estilos e até regimes políticos totalitários. Em Portugal, temos um “Dia da Liberdade”, que vivemos como feriado nacional. No fundo, aspiramos a ser cada vez mais livres.

A questão é que essa liberdade é frágil – tantas vezes é mais aparente que real – e hoje está seriamente ameaçada. Não pretendo elencar todos os obstáculos que se lhe erguem e entravam. Quero apenas ressaltar que a crise ecológica afecta – e de maneira considerável – o modo como vivemos e nos sentimos livres. Com efeito, tendo em conta que o ser humano também é uma criatura deste mundo, que tem direito a viver e ser feliz e, além disso, possui uma dignidade especial, não podemos deixar de considerar os efeitos da degradação ambiental, do modelo actual de desenvolvimento e da cultura do descarte sobre a vida das pessoas” (LS 43).

Não há liberdade humana sem a natureza ou em luta contra ela. Vivemos demasiado tempo sob a crença que, separando natureza e humanidade, seríamos mais livres. Esquecemo-nos que a nossa liberdade se encontra sempre situada e a natureza é o nível mais básico para o seu exercício e consciência. Por isso, esta crise ecológica constitui também uma redução drástica da nossa liberdade efectiva, porque estamos a atentar e a debilitar um dos âmbitos da sua possibilidade. O deterioro da natureza afecta directamente a qualidade de vida. Aliás, o papa Francisco é muito claro, quando diz que  “entre os componentes sociais da mudança global, incluem-se os efeitos laborais dalgumas inovações tecnológicas, a exclusão social, a desigualdade no fornecimento e consumo da energia e doutros serviços, a fragmentação social, o aumento da violência e o aparecimento de novas formas de agressividade social, o narcotráfico e o consumo crescente de drogas entre os mais jovens, a perda de identidade. São alguns sinais, entre outros, que mostram como o crescimento nos últimos dois séculos não significou, em todos os seus aspectos, um verdadeiro progresso integral e uma melhoria da qualidade de vida. Alguns destes sinais são ao mesmo tempo sintomas duma verdadeira degradação social, duma silenciosa ruptura dos vínculos de integração e comunhão social” (LS 46).

Em suma, cuidar da natureza é promover a nossa liberdade e garantir que as gerações futuras possam beneficiar dela. No final de contas, o empenho e o cuidado que colocarmos no cuidado da criação é um investimento com um grande retorno. Não se trata apenas de uma sensibilidade, é também uma questão de humanidade.

 

José Domingos Ferreira, scj

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