Prot. N. 0084/2019
Eluru, 1 de março de 2019
Consagração, ministério e comunidade: O nosso caminho
Carta para o dia 14 de março, 176.º aniversário do nascimento do P. Leão Dehon
Aos membros da Congregação
A todos os membros da Família Dehoniana
No dia 19 de dezembro de 2018 lembrávamos os 150 anos da ordenação presbiteral do P. Leão Dehon. Na carta que enviámos para felicitar-vos no Natal, dizíamos que “o seu ministério na Igreja foi uma contínua aprendizagem a caminhar com os outros e para os outros”. A proximidade com a data de seu nascimento dá-nos, mais uma vez, a oportunidade de continuar a agradecer a Deus o dom da sua vida, da sua vocação e do seu ministério.
No seu contínuo desejo de aprender, reconhecemos o seu constante desejo de procurar e de viver a vontade de Deus, a sua grande paixão. Por ocasião deste novo aniversário, parece apropriado considerar que o ministério presbiteral que recebeu não significou para Dehon o fim de seu desejo inquieto pela vontade divina. De fato, o nosso Fundador não ficou paralisado pelo clericalismo conformista que também hoje, como então, está à espreita. Pelo contrário, sentiu-se chamado a continuar a mergulhar na dinâmica da graça batismal que o ligara para sempre à vida trinitária.
Da sua intimidade com o Senhor, consciente dos méritos e limitações da Igreja em que viveu, atento aos desafios políticos, sociais e económicos do momento, ele acabou por compreender que o Senhor, a quem queria tanto agradar, o chamava à vida religiosa. Quanto bem nos faz considerar a dinâmica vocacional que aconteceu na vida do nosso Fundador! Foi uma jornada interior que lhe permitiu integrar vocação, ministério e comunidade. Somente depois de muita oração e discernimento, encorajado por ilustres homens e mulheres de seu tempo aos quais recorreu com humildade para pedir orientação e conselho, ele entendeu que Deus o chamava a tomar parte, com outros, num caminho de fé, inspirado na contemplação atenta do Coração trespassado do Salvador. É aí que nascem os Sacerdotes Oblatos do Coração de Jesus.
Devemos reconhecer que o nosso itinerário pessoal e a nossa consagração religiosa adquirem mais identidade e sentido na medida em que entramos no itinerário vocacional de P. Dehon. Ao longo desse caminho, foi-se formando nele um coração de pai e de irmão. Nós que hoje vivemos a nossa consagração a Deus a partir da vida religiosa, quer como presbíteros, quer como irmãos, devemos continuar a acolher como uma seiva indispensável a herança carismática que nos foi dada.
No entanto, estamos conscientes de que, em muitas ocasiões, o desenvolvimento adequado do nosso itinerário vocacional é afetado pela forma como respondemos às necessidades, tarefas e compromissos que emergem da realidade eclesial, da sociedade ou mesmo dos nossos interesses mais pessoais. Diante de tanta urgência, estejamos atentos para que nossa identidade não seja reduzida a uma simples função ministerial ou profissional. Se assim fosse, acabaríamos por privar a Igreja da genuína vocação que recebemos para viver a nossa vida religiosa.
Nesse sentido, vale a pena lembrar que, há vinte e cinco anos, a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica publicava “A vida fraterna em comunidade”. Ao longo dos anos, este documento ajudou muitas comunidades religiosas a renovarem-se e a concentrarem-se no contributo que se espera delas para a vida da Igreja:
Peritos em comunhão, os religiosos são chamados a ser, na comunidade eclesial e no mundo, testemunhas e artífices daquele projeto de comunhão que está no vértice da história do homem segundo Deus. Antes de tudo, com a profissão dos conselhos evangélicos, que liberta de qualquer impedimento o fervor da caridade, eles tornam-se, comunitariamente, sinal profético da íntima união com Deus sumamente amado. Além disso, pela cotidiana experiência de uma comunhão de vida, de oração e de apostolado, como componente essencial e distintivo da sua forma de vida consagrada, fazem-se “sinal de comunhão fraterna (VFC 10).
Relendo este texto, vemos como o Espírito nos impele incessantemente a encarnar aqui e agora o quanto Ele nos deu no nosso carisma dehoniano. Que a nossa oblação diária, expressa em palavras e ações, seja uma declaração sincera e um acento distintivo da nossa disponibilidade partilhada para o anúncio do Evangelho:
Com frequência os religiosos distinguem-se pela cor do seu hábito; o hábito da nossa alma diante de Deus deve ser o amor e, se forem precisos dois, o segundo seria a compaixão. Sem isso não existe o Oblato; é absolutamente necessário (Cahiers Falleur 1/48).
Desejamo-vos uma boa celebração deste novo aniversário. Que esta festa continue a estimular-nos no nosso caminho conjunto, e que o Senhor nos conceda a graça de vocações com o desejo de descobrir o caminho que o P. Dehon inaugurou para nós.
In Corde Iesu,
Pe. Carlos Luis Súarez Codorniú, scj
Superior Geral
e seu Conselho