Mensagens no funeral de D. António de Sousa Braga

Palavras do Superior Geral por ocasião do falecimento de D. António de Sousa Braga, Bispo-Emérito de Angra

Queridos irmãos,

No passado dia 22 de Agosto, chegou a Páscoa definitiva para o D. António de Sousa Braga, Bispo de Angra (Açores). Ele desejava-a ardentemente, visto que a sua vida estava colocada de forma permanente nas mãos do Sagrado Coração de Jesus. Por ele viveu e por ele morreu.

Atrevo-me a definir o D. António como “o muito bom Padre António”. Um homem verdadeiramente cordial. Quantos o conhecemos pudemos testemunhar a sua bondade em todo o tempo e lugar. Uma bondade que se manifestava na prontidão do acolhimento a qualquer pessoa que a ele se aproximasse; na sua atitude de escuta; nas sus palavras e conselhos de ânimo acompanhadas de um sorriso e um aperto de mãos.

D. António deixou uma marca profunda no nosso Colégio Internacional em Roma, primeiro como estudante de teologia e laureado de sociologia. Posteriormente como Conselheiro Geral.

Nos anos da renovação pós-conciliar foi encarregue do trabalho técnico do inquérito CIRIS que o P. Bourgeois lançou à Congregação. Com esse inquérito, pretendia-se e conseguiu-se conhecer em profundidade o estado da Congregação quanto à sua vivência, acolhimento e estima dos valores Dehonianos para depois plasmá-los nas novas Constituições SCJ. D. António trabalhou nesse processo com intensidade extraordinária. Contou com a colaboração de alguns jovens estudantes, e pôde apresentar um bom resultado ao Superior Geral e à Congregação.

Em Portugal entre outros cargos, exerceu o de Superior Provincial. Eram tempos bons. A Província Portuguesa crescia. As vocaciones floresciam. As atividades pastorais aumentavam. D. António foi um estímulo para potenciar tudo isto e, além disso, promover o trabalho conjunto entre as Províncias de Portugal e Espanha, especialmente com a realização das Semanas Ibéricas.

Foi eleito Conselheiro Geral do P. Virginio Bressanelli (1991). Foram sempre apreciadas positivamente a sua presença e atuação nos distintos Capítulos e Conferências provinciais a que assistiu.

Foi chamado pelo Papa a exercer o serviço de Bispo de Angra (Açores) no ano de 1996.  Durante 20 anos exerceu este ministério com dedicação e entrega total, deixando sempre o valor do seu testemunho de vida e da sua palavra afável. Fez-se tudo para todos e potenciou o seu trabalho a partir do carisma dehoniano, vivido e partilhado sem descanso.

A doença fez-se presente na vida. Devido à sua gravidade, apresentou a sua demissão ao Papa no ano 2016. Os seus últimos anos, viveu-os na nossa comunidade de Alfragide, em Lisboa. Abdicou de todo protagonismo, mas em tudo o que pôde fazer ao serviço da

evangelização, fê-lo. A sua vida era um testemunho eficaz do “ser dehoniano” em qualquer circunstância.

Aos SCJ da Província de Portugal, aos seus companheiros no episcopado, aos seus familiares e amigos, as nossas condolências e proximidade na oração.

Fraternalmente, In Corde Iesu
Curitiba, 24 de Agosto de 2022.
P. Carlos Luis Suárez Codorniú, scj Superior geral

 

Palavras do Superior Provincial na Missa Exequial de D. António de Sousa Braga, Bispo-Emérito de Angra

“Eu sou uma graça de Deus”.

Estas palavras muito simples e intensas de D. António pronunciadas por ocasião da celebração dos seus 50 anos de sacerdócio, sintetizam muito bem o seu percurso de vida e aquilo que ele representa para as pessoas que o conheceram, ou que por algum motivo contactaram com ele.

Sendo natural da Ilha de Santa Maria, em 1954, com 13 anos, deixou-se entusiasmar pelo testemunho de um sacerdote dehoniano italiano que passou por aquela terra e embarcou com outros dois amigos numa aventura missionária que o empenhou durante toda a sua vida.

Naquela altura a presença dos dehonianos em Portugal estava a dar os primeiros passos e, dessa forma, D. António acompanhou todo o percurso da nossa Província, primeiro como seminarista, apercebendo-se das dificuldades dos inícios, e depois como religioso, assumindo serviços de responsabilidade como Superior Provincial e como formador. A sua boa formação teológica, a integração do espírito do Concílio Vaticano II, a formação em sociologia e a sua plena identificação com o carisma dehoniano conferiram ao D. António um estilo único, pautado pela abertura ao Espírito e pelo compromisso na vida da congregação e da Igreja.

De aspeto muito simples e austero consigo próprio, D. António marcou profundamente a nossa Província pelo estilo que conferiu à formação de tantos religiosos onde a liberdade e a responsabilidade deixavam espaço à criatividade e iniciativa de cada um. Dessa forma formaram-se muitos religiosos e leigos que, na Província e na Igreja, olham hoje para a sua vida e missão como uma oportunidade de concretização do Evangelho.

Nos cargos de Superior Provincial e Conselheiro Geral manifestou sempre uma grande lucidez, abertura e coragem, como fruto da sua boa preparação e da sua sensibilidade para com a Congregação e a Igreja.

Tendo sido nomeado Bispo de Angra, onde, como verdadeiro pastor, procurou acompanhar um rebanho disperso por nove ilhas, ele manteve sempre um vínculo muito estreito com a Congregação, visitando constantemente a comunidade dehoniana de Ponta Delgada e mostrando sempre muito interesse em acompanhar a vida da nossa, da sua Província. Tendo resignado como Bispo de Angra em 2016, quis regressar a uma comunidade dehoniana, a Alfragide, com a qual foi partilhando a sua vida, a sua sensibilidade, o seu testemunho. No dia-a-dia, surpreendia-nos com a sua boa disposição, com a alegria pela visita dos confrades, com os passos importantes dados pela Província.

Com a sua morte apagou-se aquele sorriso simples, aquela boa disposição e aquela capacidade e paciência para escutar, mas estamos certos de que junto de Deus ele intercederá por nós.

A vida de D. António Braga foi um grande dom para a nossa Província e para a nossa Congregação, pela sua própria vida e por aquilo que ele ajudou a construir. Hoje agradecemos a Deus tudo o que recebemos através dele e pedimos a Deus que não nos deixe perder esta simplicidade, sensibilidade social, capacidade de ver em profundidade, que eram tão evidentes no Pe. Dehon, no D. António Braga e que fazem parte da nossa forma dehoniana de estar no mundo e na Igreja.

Neste momento quero agradecer ao nosso confrade D. José Ornelas, Presidente da Conferência Episcopal, por ter presidido a esta celebração, bem como a D. Ivo Scapolo, Núncio Apostólico em Portugal e todos os bispos presentes. Agradeço ao Pe. Hélder, Administrador Diocesano dos Açores o facto de estar cá a representar todos os cristãos da diocese de Angra, agradeço aos sacerdotes, confrades, paroquianos, amigos e familiares do D. António, membros da família dehoniana, todos os que quiseram estar presentes na celebração, e a todos os que se empenharam na preparação das celebrações destes dias.

Uma palavra de agradecimento também à paróquia de Alfragide por nos ter acolhido nesta que é a sua Casa. D. António foi pároco nos inícios da existência desta paróquia. Nos últimos anos da sua vida celebrou aqui muitas vezes. Tenho a certeza que seria a sua vontade que esta celebração tivesse lugar precisamente aqui, na igreja paroquial de Alfragide, uma comunidade cristã que ele ajudou a construir.

Uma palavra muito especial de agradecimento à comunidade religiosa de Alfragide. As nossas comunidades são organismos vivos de pessoas concretas que podem viver em diferentes etapas da vida. A presença de D. António foi uma graça e uma bênção na comunidade de Alfragide ao longo dos últimos anos, por ser uma referência que não nos deixava esquecer aquilo que é essencial da vida da Província e da Congregação, mas devo agradecer também profundamente ao Pe. Paulo Coelho e à comunidade de Alfragide pela forma como cuidou, acompanhou e acarinhou o D. António ao longo destes anos. Bem-haja pelo vosso testemunho cristão e dehoniano de fraternidade.

Em 1954, D. António deixou a sua ilha de S. Maria para embarcar na aventura de Deus, nestes dias essa viagem chegou a porto seguro. Que a alegria da contemplação do coração de Deus lhe traga a paz e que o brilho que o seu testemunho deixou no nosso coração nos ajude a fazer as nossas viagens com a liberdade e a responsabilidade daqueles que acreditam.

Pe. João Nélio Simões Pereira, scj
Superior Provincial

 

 

RTP Açores – Igreja de Santo Espírito encheu no último adeus a Dom António (Vídeo)

 

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