Missão do Luau – o regresso à escola

▬ O ano escolar angolano teve início este mês, e o município do Luau (leste de Angola) teve bons motivos para eternizar o dia 16 de Fevereiro de 2009 com a reabertura da Escola da Missão. Depois de longos anos de guerra e consequente destruição do edifício, a escola que os monges beneditinos, os primeiros missionários do Luau, construíram no início da década de 60 reabriu as suas portas para receber a geração pós-tratado de paz. São 25 anos que separam a última aula (1984) desta primeira (16 de Fevereiro de 2009). E em atitude de louvor, a 27 de Fevereiro realizou-se a celebração da Missa do Espírito Santo com os alunos, pais, professores e algumas entidades civis.
Como se disse, esta escola ficou situada num cenário de guerra e por isso teve de encerrar, porque toda a população se refugiou no Congo ou na Zâmbia. Consequência disto foram os graves danos que sofreu e o grande tempo de abandono. A profunda necessidade de construir escolas levou a JRS (Serviço Jesuíta aos Refugiados) a reabilitar a escola, mas ficaram longe de ver a sua conclusão. Como uma das prioridades da Missão Católica do Luau é o empenho no trabalho educativo, achámos por bem dar um contributo ao município na educação das crianças. Ainda hoje se vê, em várias escolas, crianças a terem aulas nos espaços limítrofes ao próprio edifício ou levando para as aulas a sua própria cadeira, porque não há estruturas suficientes. E mesmo que se resolvesse agora essa questão, surgia outra: onde encontrar professores para tantas solicitações? A falta de professores formados leva a que quem tenha mais que a sétima classe seja colocado como professor do ensino primário, embora, este ano, quem queira terminar a nona classe já o pode fazer; projecta-se ainda que em poucos anos também será possível frequentar o décimo segundo ano sem que se tenha de ir para a capital da província (Luena, a 350 km) ou para outra província (Saurimo, a 316km).
Dado este contexto, a Missão Católica do Luau, com os Sacerdotes do Coração de Jesus e as irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, empenhou-se em reabilitar a escola número 54, que fica situada mesmo em frente à igreja do Luau. Elaborou-se um projecto a ser financiado pela empresa petrolífera ESSO, que depois de alguns meses de análise da proposta aceitou. E quando nos preparávamos para começar os trabalhos apareceu um fundo estatal com essa finalidade. Deste modo, em diálogo com a empresa financiadora do projecto e, para que este não se perdesse, apostou-se num outro edifício: a antiga Escola da Missão. Assim, em vez de uma escola a Missão Católica arrancará com duas: a número 54 e a número 79 que se situa no terreno da casa da missão e que toma o nome de Escola Santa Teresinha (também padroeira da paróquia).
Em Janeiro de 2008, iniciaram-se os trabalhos com uma equipa de trabalhadores locais, sob a orientação e execução dos mestres Pe. Joaquim, Pe. Jorge e, a partir de Novembro, com o apoio do Ir. David. Ao mesmo tempo que se moldava a escola, dava-se formação à população nos âmbitos da construção civil, serralharia, electricidade e canalização como promoção humana e como apoio remuneratório à sua família. Só é pena que o acesso aos materiais tenha de ser feito apenas na capital, o que significou grande esforço da nossa parte para reunir os necessários materiais. Mas, com empenho e sacrifício, construímos esta belíssima escola, com três salas de aulas (entre 65mt2 e 90mt2) que comportam 45 alunos cada, já acima dos limites pedagógicos para o primeiro ciclo; tem também uma secretaria e uma sala de professores que carecem de materiais de apoio ao ensino. Em edifício anexo e ainda em fase de construção, estão os balneários que pretendem também deixar asseados os alunos, intuindo-lhes uma educação sanitária e epidemiológica (uma questão de consciencialização que aos poucos terá benefícios no combate à doença).
Cabe-nos a direcção e ensino de ambas as escolas, aproveitando para formar com qualidade professores e alunos. Neste sentido, elevar os níveis académicos significou começar com professores com pouco tempo de serviço e com as primeiras turmas: iniciação (pré-escolar) e primeira classe. Este ano entraram 135 crianças para a primeira classe, divididas em 3 turmas; desde o primeiro dia mostram o rosto sorridente desta grande etapa na educação no município. Quanto ao ano de iniciação, aguardamos que terminem os trabalhos de reabilitação, para podermos começar com mais novas turmas. Mesmo assim, temos verificado que há muitas outras crianças em idade escolar que nunca foram à escola e que, pelas circunstâncias da falta de infra-estruturas e de professores (consequência do estado de refugiado devido à guerra), talvez nunca mais chegarão a ter acesso. Por isso, e com o incentivo da empresa patrocinadora, iniciaremos no tempo «pós-laboral» planos de alfabetização, entre outros.
Acabada de inaugurar, o aumento do número de salas é já um requisito para que num futuro próximo possamos acolher mais crianças e dar continuidade às que já frequentam para terminarem as classes seguintes. Neste plano projecta-se incluir uma biblioteca e uma sala de informática. Para a biblioteca já se está a trabalhar; em Agosto próximo, receberemos jovens voluntários (ALVD) que, em parceria em a Fundação Evangelização e Culturas, irão montar a única biblioteca neste município. Assim, «Ensinar para aprender no Luau» coaduna-se muito bem à situação local, já que o projecto engloba a dinamização de ateliers culturais e artísticos. Para a formação em informática iremos brevemente fazer cursos, tendo como público-alvo, primeiramente, quem trabalha ou precisa de trabalhar com estes meios. Quanto a este projecto, como a qualquer um dos outros, estamos receptivos a ajudas quer de meios físicos quer de gente para dar formação.

» David Mieiro, scj