Uma missão: viver
A chegada do mês de Outubro, na tradição católica, traz-nos sempre esta mensagem de que somos missão. Tomar consciência que temos um encargo, um propósito, uma incumbência é também reconhecer que somos também aquilo que recebemos de Outro: uma missão.
Olhemos para a vida e acolhamo-la como uma missão e um privilégio. Penso frequentemente, para mim mesmo, que antes de mim havia vida, depois de mim continuará a haver vida, e que, portanto, é um privilégio imenso ter sido chamado a mergulhar neste rio da existência hoje, aqui e agora.
Abrir-se ao presente deste chamamento, mergulhados no imenso caudal de vida que nos rodeia: eis um grande desafio para viver, com esperança e fraternidade, o privilégio desta hora como uma missão.
Aceitemos, então, Outubro como mês missionário lembrando assim o grande desafio da existência: encontrar e acolher propósitos para tudo e para todos. Este trabalho é, por excelência, espiritual e exigente, porque nos faz confrontar com as representações que temos de Deus, do mundo e dos outros que nos rodeiam.
Neste trabalho, creio que somos convidados a descobrir uma vontade de Deus, dador de vida, que se cruza e dialoga com as nossas vontades para construir missões pessoais onde cada um procura com autenticidade ser também ele dador de mais vida.
Para semear vida num peregrinar constante de autenticidade
A missão, a que cada um é chamado vai-se concretizando então nas diferentes missões assumidas ao longo da vida. Por elas se tece, entre a vontade de Deus e as nossas vontades e circunstâncias, a possível beleza de uma relação de amizade que se alicerça na liberdade e na confiança.
As várias missões que nos definem e que nós vamos construindo põem-nos a caminho como peregrinos desejosos de dar vida à vida e numa busca continua de autenticidade.
Neste momento, gosto sempre de lembrar que, ao pensar a sua missão, Jesus se define diante dos apóstolos e das irmãs de Betânia como o caminho, a verdade e a vida que leva ao Pai.
Convidados que somos a colocar os nossos passos nos passos de Cristo, façamos a mesma experiência espiritual de Jesus na nossa vida pessoal aceitando-a como caminho, como um peregrinar de verdade e autenticidade e muito particularmente como dadores de vida, em cada gesto, palavra ou trabalho.
Assim a missão de cada um dos discípulos de Jesus é trazer, ao nosso mundo de hoje, este caminho que leva ao Pai: tomar a vida como um peregrinar na verdade para semear vida por onde se vai.
Na sua mensagem para este Outubro missionário, o Papa Francisco convida-nos a esse peregrinar através das palavras do Evangelho: “Ide e convidai todos para o banquete, todos os que encontrardes… Os servos reuniram todos os que encontraram, maus e bons, e a sala do banquete encheu-se” (Mt 22, 9-10). Ir e fazer da vida uma missão exige uma consciência de se ser caminho. Da mesma forma, convidar outros para o banquete só pode nascer do desejo de ser vida com o jeito autêntico e verdadeiro de Jesus: “com alegria, magnanimidade, benevolência; sem imposição, coerção nem proselitismo; mas sempre com proximidade, compaixão e ternura, que refletem o modo de ser e de agir de Deus.” (Papa Francisco, Mensagem para o Dia Mundial das Missões 2024).
E concluo…
Acolhamos, então, a nossa vida como uma Missão. Somos chamados, escolhidos e amados e é um privilégio viver mergulhados neste rio de vida tão diverso que nos envolve e nos torna continuamente presente Aquele que nunca se impõe: Deus Amor.
Procuremos, em cada uma das nossas “missões diárias”, um simples suplemento de consciência, o de sermos pessoas a caminho, que o querem percorrer com verdade e semeando vida à sua volta.
E são tantos os missionários que, ao jeito de Jesus, são caminho, verdade e vida!
Obrigado a todos os que acolhem a missão de viver a vida como um dom e que lhe respondem com um grande obrigado que são as missões que assumem e desempenham.
Padre Armando Baptista, scj