Movimentos estivais…

Para muitos de nós, as férias são um tempo para suspendermos as actividades normais e nos dedicarmos a outras que, ao longo do ano, ficam guardadas na gaveta, à espera de dias melhores. Por outro lado, as férias são também o momento em que deixamos os espaços em que nos movemos ordinariamente e vamos em busca de outros lugares e ambientes, que nos encham com a sua novidade sempre surpreendente.

A mudança de rotinas e de ambientes liberta da ansiedade acumulada, ajuda a descansar e possibilita que sintonizemos com a nossa voz interior, tantas vezes silenciada pelas solicitações externas e os muitos afazeres. Seja monte ou praia, rio ou mar, cidade ou aldeia, frio ou calor, ninguém ignora o efeito que o ambiente natural exerce sobre cada um de nós. O barulho da água a correr entre rochas traz-nos paz, da mesma forma que o canto dos pássaros nos cativa pela sua beleza gratuita. A sombra das árvores abriga e protege, enquanto as cores das flores nos cativam e prendem o nosso olhar.

Entre as muitas influências que nos modelam, cada um de nós é fruto dos espaços que conheceu e desfrutou ao longo da sua vida. Somos o resultado das relações que cultivamos com a natureza e temos todos um lugar onde verdadeiramente nos sentimos em casa e ao qual, como verdadeiros filhos pródigos, sempre gostamos de regressar. O ser humano “é espírito e vontade, mas é também natureza” (LS 6). Por isso, “é preciso cuidar dos espaços comuns, dos marcos visuais e das estruturas urbanas que melhoram o nosso sentido de pertença, a nossa sensação de enraizamento, o nosso sentimento de «estar em casa» dentro da cidade que nos envolve e une. É importante que as diferentes partes duma cidade estejam bem integradas e que os habitantes possam ter uma visão de conjunto em vez de se encerrarem num bairro, renunciando a viver a cidade inteira como um espaço próprio partilhado com os outros. Toda a intervenção na paisagem urbana ou rural deveria considerar que os diferentes elementos do lugar formam um todo, sentido pelos habitantes como um contexto coerente com a sua riqueza de significados. Assim, os outros deixam de ser estranhos e podemos senti-los como parte de um «nós» que construímos juntos. Pela mesma razão, tanto no meio urbano como no rural, convém preservar alguns espaços onde se evitem intervenções humanas que os alterem constantemente” (LS 151).

As férias são um descanso merecido, mas também um dom de Deus. Descansar e agradecer tornam-se então as duas atitudes que podem colorir este tempo de uma forma mais plena. Acrescentemos-lhe o respeito: não só o respeito uns pelos outros – já de si muito importante –, mas também o respeito pelos lugares e espaços que atravessaremos. Também eles têm uma história e uma identidade, que importa preservar e deixar às gerações futuras.

José Domingos Ferreira, scj

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