Notícias de Jerusalém

Depois de uns meses de estadia na cidade de Jerusalém – a da terra e não ainda a do céu – acho que é tempo de escrever uma pequena nota sobre aquilo que é a minha vida por estes lados.
Sou um entre os 22 estudantes de um pouco todo o mundo (verdadeiramente de todos os continentes e das partes mais remotas…) que, vindos de Roma, do Pontifício Instituto Bíblico, fazem aqui um semestre de estudo, correspondente ao primeiro semestre da Licenciatura em Sagrada Escritura, em Roma.
No Pontifício Instituto Bíblico de Jerusalém, temos uma vida comum de oração, de estudo e de convívio. Quanto às aulas, na sua maioria, são ministradas por professores judeus da Universidade Hebraica de Jerusalém, na Universidade; e, no que ao Novo Testamento se refere, são ministradas por Jesuítas, na sede do Pontifício Instituto Bíblico.
Esta é uma experiência interessante, sobretudo porque nos proporciona uma vida de partilha com a vida e a cultura judaicas. Há dias, o fundador deste programa, o Card. Carlo M. Martini, Arcebispo Emérito de Milão (Itália), dizia que, quando fundou este programa, era porque estava convencido que é necessário conhecer e amar a realidade judaica, ter um contacto com esta terra, para se estudar a Bíblia.
A grande vantagem de se estudar em Israel tem exactamente a ver com o conhecimento da realidade da terra: a geografia e a história, sobretudo arqueológica, desta terra que Deus, outrora, prometera ao Povo Eleito. Por isso, o curso é composto de algumas viagens, onde se conjuga o estudo da história e a vivência da fé. Muito significativa para todos nós foi a viagem à Galileia, onde ficámos durante quatro dias, percorrendo os lugares onde Jesus passou, lugares esses santificados também por tantos e tantos peregrinos que nestes lugares passaram, sinal da sua fé.
Por estarmos numa comunidade jesuíta e também em homenagem aos nossos colegas deste ano que vêm da Índia, do Japão e da China, celebrámos São Francisco Xavier e o seu exemplo de missionário por essas terras. A festa litúrgica e o convívio que se lhe seguiu foram momentos apreciados por todos e, sobretudo, uma oportunidade de partilhar a vivência de um grande modelo de fé.
O próximo momento alto será o dia de Natal, se Deus quiser, em Belém, para a Missa da Meia-Noite, com o Patriarca Latino de Jerusalém e, pela manhã do dia 25, na gruta de São Jerónimo, patrono dos biblistas, com o Card. Carlo M. Martini.
Uma última palavra para me referir a este homem de Igreja que, um pouco, todos conhecemos dos livros e que, depois de longo tempo de serviço à Igreja, como professor, reitor, arcebispo, se retirou para Jerusalém, onde segue uma vida de oração e de estudo. Aqui, no Bíblico, em Jerusalém, é uma pessoa discreta e muito simples, mas de um testemunho muito forte. A sua presença no meio de nós é também ela um dom de Deus e, sobretudo, um exemplo para nós, de uma vida de trabalho e de amor à Sagrada Escritura, que nem a idade nem o sofrimento da doença conseguem parar.
A todos desejo uma preparação muito calorosa para o Santo Natal que se avizinha.

| Ricardo Freire, scj |
 

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