Notícias de Nampula – Moçambique

Depois de voar mais de dez mil quilómetros (onze horas para Maputo e mais duas horas para Nampula), finalmente, cheguei a Nampula num avião da LAM que fazia o seu voo de inauguração Maputo – Nampula, via Beira (aqui o bispo da diocese é o arcebispo Claudio Dalla Zuanna, dehoniano). Batemos palmas, porque estávamos a inaugurar o avião, mas não houve champanhe. É que já tinha sido o baptismo do avião na véspera numa cerimónia oficial.

Estou cá em Nampula para mais uma sessão de acompanhamento de doutoramento dos alunos na Universidade Católica de Moçambique. Sim. A cultura de um povo é a raiz do seu desenvolvimento. Por isso, realizamos este esforço todo.

Como fico sempre cá no “bairro do pó”, em Napipine (em contraste com o cimento da cidade), tive o privilégio de concelebrar na missa dos crismas aqui na paróquia de S. Pedro, onde estavam presentes mais de mil pessoas. Os crismandos eram só trezentos! Como as pessoas não cabiam todas na igreja, foi necessário improvisar um alpendre, para assim todas participarem dignamente. A cerimónia começou esta manhã às oito horas e terminou perto das treze. Cerimónia linda! Quem vem da Europa cronometrada, fica extasiado com este kairós (experiência de graça africana).

Homilia linda, em português e macua, em que o bispo tentava convencer que o crisma não é o fim da vida cristã, mas é preciso continuar a catequese como jovens e adultos.

Cantos lindos, a lembrar as celebrações africanas nos Estados Unidos. Danças lindas no Kyrie, ofertório e acção de graças. Cores das roupas lindas, com capulanas e lenços de todas as cores.

Ofertas das pessoas, lindas. Desde cabritos, galinhas, ovos (para mata-bicho), capulanas, perfumes, cebolas, ananás… Um grupo da comunidade ofereceu um envelope com algum dinheiro, dizendo que era para o bispo comprar gasolina para o carro. O bispo respondeu em tom de brincadeira, dizendo: vou pedir boleia e assim guardo o dinheiro para mim. Todos se riram. O pároco, Pe. Elia Ciscato, quando viu o cabrito a entrar na igreja perguntou: agora os cabritos também vão para a igreja? É que a igreja estava a fazer de sacristia, já que a celebração foi ao ar livre.

Ao fim da missa, uma mulher que estava a guardar os cabritos, as galinhas e os ovos perguntou-me pelas chaves do carro do bispo para guardar os animais. Respondi-lhe que não era o secretário, nem o motorista do bispo. Pouco convencida lá me deixou vir para casa para vos escrever estas linhas.

Quando acabou a missa, os representantes das comunidades vieram almoçar com o bispo e com os párocos.

Aí durante o almoço um velho contou uma história: um régulo mandou matar todos os velhos, porque não serviam para nada. Então uma jovem escondeu a sua avó na montanha para não ser morta. Assim todos os idosos foram dizimados. No entanto, uma grande cobra atacou o régulo e enrolou-se nele, colocando a cabeça junto da cara do régulo. Que fazer? Os jovens não sabiam que fazer. Então a jovem foi consultar a avó. Esta disse: apanhai muitas rãs e colocai-as perto da cobra. Assim fizeram. Quando a cobra viu as rãs, desenrolou-se do régulo e foi comer as rãs. O régulo perguntou quem teve a ideia de o salvar. Responderam que tinha sido a única velha viva. Então o régulo percebeu que os velhos são a sabedoria e necessários para a sociedade. A partir daí, protegeu e defendeu sempre as pessoas idosas.

Nampula, 18 de Novembro de 2012

Adérito Gomes Barbosa, scj

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