O que devemos fazer?

O Evangelho deste terceiro domingo do Advento mostra-nos João Baptista a dar resposta ao que a multidão, mas também os publicanos e os soldados, lhe perguntavam: que devemos fazer? Custa imaginar que esta gente toda tenha endereçado ao profeta uma pergunta como esta, mas a sua autoridade deveria ser muito reconhecida e tida em conta naquela época.

João Baptista era um profeta que falava com clareza e coragem, sem procurar obsessivamente a estima dos homens. A sua resposta toca nas feridas destes grupos sociais, mas não se afasta da verdade em nenhum momento. Com efeito, ficamos a saber quais eram os “pecados ou vícios sociais” dos publicanos, dos soldados e também da multidão.

Esta é uma pergunta que atravessa a humanidade e dá conta da abertura ao bem e da vontade de o alcançar por parte do ser humano. Em bom rigor, só um ser verdadeiramente livre e seduzido pelo bem se pode perguntar pelo que deve fazer. Só alguém que está consciente de que a liberdade se constrói a cada decisão é que se interroga pelo que deve fazer. Apesar disto, esta é também uma pergunta que ganha uma força renovada sempre que o ser humano se vê numa situação em que precisa de alterar o sentido da sua marcha, porque chegou a um beco sem saída.

À luz desta pergunta evangélica, é bastante curioso este pequeno excerto da Laudato si’: «devemos examinar as nossas vidas e reconhecer de que modo ofendemos a criação de Deus com as nossas acções e com a nossa incapacidade de agir. Devemos fazer a experiência duma conversão, duma mudança do coração» (LS 218). Não seria difícil de imaginar estas palavras na boca flamejante de João Baptista, especialmente na boca de um João Baptista do século XXI, também ele apostado em preparar os caminhos do Senhor e endireitar as suas veredas. A época de João Baptista não conhecia nem imaginava sequer que o planeta pudesse ficar doente, mas o certo é que ele se apresenta como um homem austero e, portanto, com uma pegada ecológica muito reduzida, vivendo daquilo que a natureza lhe dava para comer e vestir. João Baptista é um profeta que colocou a mudança de mentalidade e de valores no centro da sua acção apostólica, recordando que a conversão é necessária, é pedida a todos e ninguém está dispensado dela. Para nós, hoje, a conversão é, sem sombra de dúvidas, uma conversão ecológica, porque precisamos de reformular a nossa relação com a natureza e dar-lhe uma nova direcção.

“Que devemos fazer?”, em contexto de uma impressionante degradação ecológica, pode ter como resposta este «devemos pensar também em abrandar um pouco a marcha, pôr alguns limites razoáveis e até mesmo retroceder antes que seja tarde» (LS 193). Cada um deve descobrir quais são os caminhos de mudança de vida que se abrem diante de si e ousar percorrê-los com entusiasmo e audácia.

José Domingos Ferreira, scj

plugins premium WordPress