2025 é o ano de comemoração do centenário da morte do Pe. Dehon. Entre os muitos acontecimentos previstos, aquele que agora é relatado é a visita aos lugares dehonianos, ocorrida na semana da Páscoa e que juntou um grupo de 15 dehonianos.
Na terça-feira, dia 22 de Abril, de manhã bem cedo, juntamo-nos no aeroporto de Lisboa e apanhámos o avião para Bruxelas, aonde chegamos por volta das 11 horas. À nossa espera, estava o Aymeric, o guia do nosso primeiro dia, bem como o autocarro com o seu motorista, um português chamado Joaquim Valente, que nos acompanhou, de forma entusiasta, nos três dias.
Arrancámos assim que pudemos e fomos em direcção ao centro da cidade, escutando as explicações do guia, que iluminavam os diferentes edifícios, avenidas, jardins, palácios… Quando saímos do autocarro, tínhamos como objectivo almoçar e assim provar um pouco da gastronomia belga e suas deliciosas bebidas fermentadas, originalmente desenvolvidas em mosteiros e abadias.
Depois do almoço, fomos passear pelo centro de Bruxelas. A pé… para ajudar na digestão. Bruxelas é uma cidade onde somos constantemente expostos à tentação do chocolate e da cerveja, sem que exista um protector que nos preserve desse excesso de exposição. Digo isto porque nós transitámos pelas Galerias Reais Saint Hubert. Obviamente visitámos a Catedral de S. Miguel e S. Gúdula, uma catedral imponente, de estilo gótico, habitada por um impressionante órgão de tubos (este é o custo de me porem a escrever um artigo deste tipo…). Mas também fomos à Grande Praça, onde nos vimos rodeados daqueles impressionantes edifícios do século XV em diante, que tornam aquele lugar tão distinto dos restantes. Visitámos o Manneken Pis, que não deixa de ser um peculiar fenómeno de popularidade, e não concluímos a nossa visita à capital belga sem umas fotos diante do Atomium.
Seguimos então para a comunidade dehoniana em Bruxelas, onde, após uma visita guiada ao museu missionário, nos reunimos no quarto onde faleceu o padre Dehon para um momento de oração sentida. Foi naquele lugar que, há 100 anos, depois de uma vida muito intensa e criativa, faleceu o nosso fundador. A nossa presença ali era um sinal da extraordinária fecundidade da vida do Pe. Dehon. Depois celebrámos a eucaristia e, no final, os confrades da comunidade brindaram-nos com um beberete, onde pudemos confraternizar em amena cavaqueira (para os que não sabem francês, podem sempre recorrer à acentuação aguda da expressão: amená cavaqueirrá. Às vezes resulta…). No final, deslocamo-nos para o hotel, onde, depois de depositar as nossas malas e bagagem, fomos jantar. O dia em Bruxelas estava feito e – em linguagem veterotestamentária – era tudo muito bom.
Veio o segundo dia. Não deixámos o hotel sem antes nos determos exaustivamente na sala do pequeno-almoço. Só depois de tirarmos as nossas ilações degustativas, abalámos para S. Quintino. O dia estava chuvoso e tristonho, mas o ambiente no autocarro era bastante alegre e jovial. A viagem era longa, mas deu para nos apercebermos da bela conjugação de campos agrícolas, pastagens, florestas, lagos e canais, terrenos pantanosos… A paisagem natural era digna de contemplação demorada. Particularmente apelativos eram aqueles campos amarelos e este foi um tema de debate entre nós: “definitivamente não são girassóis”, “é soja…”, “não, não tem nada a ver com soja”, “é couve-nabiça. Só pode ser”, “estais errados. É colza”. Ponto final na discussão…
Chegámos a S. Quintino e a chuva não se cansava de cair. Parámos para tomar café, que é a forma elegante e polida de dizer que era necessário aliviar os reservatórios que estavam prestes a transbordar. Coincidência ou não, neste trânsito entre o autocarro e o café, passámos mesmo em frente a uma entrada com o título “Salle Saint Joseph”, que é aquilo que resta do Patronato S. José, obra pioneira fundada pelo Pe. Dehon para a educação e promoção da juventude. De seguida, fomos visitar o Colégio São João, também ele fundado pelo Pe. Dehon e sob o qual nasceu a congregação. Hoje é um colégio que pertence à diocese, mas podemos constatar que não se envergonham da sua origem e conservam ainda muitos sinais dos inícios.
A chuva empurrou-nos para o restaurante, porque não havia muito mais que se pudesse fazer fora. Depois da saborosa refeição, demos uma saltada a Soissons, onde visitámos a imponente e monumental catedral. Ali estão enterrados vários bispos do tempo do Pe. Dehon. De facto, só não encontrei o D. Thibaudier…
Terminada a visita, regressámos a S. Quintino e fomos para a Igreja de S. Martinho, construída pelo Pe. Dehon e nas mãos da congregação até hoje. A Igreja de S. Martinho está em obras profundas. Aliás, há mais de cem anos que não sofria uma intervenção tão abrangente como esta. A celebração de um centenário deve ser sempre o juízo final do pó e das teias de aranha…
Diante do túmulo do Pe. Dehon, ainda que no meio de pranchas e poeira, rezámos juntos a partir do “Testamento Espiritual” que ele nos deixou e onde nos recorda aquilo que considerava essencial para nós. Seguiu-se a eucaristia, na nossa comunidade ali instalada a uns bons… 10 metros de distância. Terminada a missa e as despedidas dos confrades, abalámos para o hotel em S. Quintino, depois de jantar.
Veio o terceiro dia. Saímos de S. Quintino e fomos para La Capelle. O tempo continuava algo enfadonho, mas não nos deixamos abater, até porque havia sempre alguém que perguntava “aqueles campos amarelos são o quê?”.
Em La Capelle, como que invadimos a casa onde nasceu o Pe. Dehon e aí nos encontramos com os confrades que acompanham todas as comunidades cristãs, num raio de uns vinte quilómetros. Falaram-nos um pouco sobre o Pe. Dehon, mostraram-nos o pequeno museu dehoniano que ali existe e, após a celebração da eucaristia, brindaram-nos com uma mesa bem cheia, que nos fez pensar se ainda valia a pena ir almoçar.
Acabamos por fazer o nosso discernimento e despedimo-nos em direcção ao restaurante. Fomos a pé para renovar o apetite, uma vez que o restaurante distava apenas uns 200 metros. Assim que entramos, apercebemo-nos que ali estava um grupo de pessoas idosas, na sua maioria mulheres, que ficaram espantadas com um grupo composto exclusivamente por homens. Em pouco tempo, ficámos a saber que uma delas era neta de portugueses e o próprio motorista era natural de Famalicão.
Depois do almoço, ainda demos uma saltada à igreja paroquial e ao cemitério de La Capelle. Depois regressamos ao aeroporto de Bruxelas. Com a compra dos últimos chocolates e cervejas e o embarque no avião para Lisboa, terminou esta aventura pelos lugares dehonianos. E foi tudo muito bom!
José Domingos Ferreira, scj