Presença Dehoniana em Moçambique (2)

A presença dehoniana em Moçambique está entrelaçada com a história da Província da Itália do Norte e da Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus.

Em 1946 toda a região da Alta Zambézia foi conferida pela Santa Sé à Província da Itália do Norte como território de missão. Por exigência do Estado português, para que os missionários italianos pudessem entrar em Moçambique, era necessário que conhecessem a língua portuguesa. O Estado português exigia também que a Congregação fundasse seminários em Portugal destinados a preparar missionários para as missões, de tal modo que se reduzisse ao máximo a presença de missionários estrangeiros em Moçambique.

Em Outubro de 1946 partem os primeiros missionários para Lisboa para estudar português: Pe. Pedro Comi, Agostinho de Ruschi, Luís Pezzota eRafael Pizzi.

Em finais de Dezembro chegavam a Lisboa o Pe. Canova e o Pe. Colombo para iniciarem a Congregação em Portugal, tendo também como objectivo o envio de dehonianos para as missões de Moçambique.

A 20 de Março de 1947 aqueles quatro missionários italianos chegam à cidade da Beira onde são recebidos por D. Sebastião de Resende que os acolheu amavelmente e lhes confiou toda a vasta zona da Alta Zambézia, de língua Lomwé. O centro desta missão é o Alto Molocuè. A tarefa inicial dos missionários foi estudar a língua.

Em Junho de 1947 dão início à missão de Nauela. Seguiu-se Gurué, Pebane, Ile, Mualama, Invinha. Com a chegada de novos missionários, em 1948 os dehonianos aceitam a missão de Molumbo. Em 1951 o Pe. Losappio é nomeado pároco da paróquia da Sagrada Família, em Quelimane, capital da Zambézia.

A 6 de Outubro de 1954 é criada a diocese de Quelimane, sendo primeiro bispo D. Francisco Nunes Teixeira. Nos anos seguintes dá-se a fundação de novas missões: Gilé, Namarrói, Alto Ligonha, Nabúri, Mulevala.

A evangelização é evidentemente a tarefa primordial dos missionários. Mas a este objectivo juntam-se outras iniciativas de cariz social: criação de escolas, formação de professores, ensino de artes, etc. Em 1972 começa a funcionar a Escola de Artes e Ofícios, no Guruè, com cursos de mecânica, carpintaria, sapataria, alfaiataria, artesanato.

 

A formação de catequistas foi uma estratégia fundamental para o sucesso da evangelização e que depois, durante o período de guerra civil, veio a garantir a continuidade das comunidades cristãs, visto que os missionários estavam impedidos de circular pelas aldeias.

 

Outra preocupação que caracterizou o trabalho missionário diz respeito às vocações. Era necessário pensar no futuro, favorecendo o surgimento de vocações autóctones para que a animação das comunidades não ficasse apenas dependente dos missionários estrangeiros. Para isso, em 1960, criou-se o seminário de Milevane. Em 1963 começa a funcionar, também em Milevane, o noviciado que em 1971 é transferido para Namarrói. Em 1967 abre-se uma casa no Maputo destinada a acolher os estudantes de Filosofia.

 

Entretanto a situação política e social em Moçambique deteriorava-se cada vez mais. O domínio colonial português estava preso por um fio. A população queria libertar-se desta situação e a revolta fazia-se sentir. A presença dos estrageiros era mal vista. O poder militar das tropas portuguesas tentava acalmar os ânimos. Perante esta situação de tensão social os missionários tinham de fazer opções. Algumas congregações religiosos viram-se forçadas aabandonar o território. Em Maio de 1971 os missionários dehonianos reuniram-se com o Superior Geral, Pe. Albert Bourgeois, para debater a situação e tomaropções. E a decisão foi permanecer em Moçambique, ao lado do povo. Um decisão de alto risco e que veio a comportar enormes sacrifícios para os missionários.

 

Entretanto em Portugal dava-se o 25 de Abril que precipitou a fuga das colónias dos cidadãos portugueses. Para o povo de Moçambique parecia abrir-se um futuro de paz e de esperança. Os missionários partilhavam destes sentimentos. A 25 de Junho de 1975 foi proclamada a independência de Moçambique. A 24 de Julho desse ano o novo governo moçambicano nacionaliza todas as escolas particulares, colégios, hospitais das missões e seminários. Esfuma-se a esperança que a independência tinha suscitado no coração de muitos. Rebenta a guerra civil que na Zambézia só chegou em Agosto de 1982. Segue-se um tempo de perseguições, ocupação das instalações da missão, destruição dos seminários e escolas, raptos… As igrejas são transformadas em espaços para a realização de comícios e encontros políticos com as populações. Os missionários refugiam-se como podem e ficam muito limitados nos seus movimentos, pois as viaturas são destruídas e queimadas. Era assim a situação na Zambézia e também noutras províncias durante vários anos.

 

Entretanto a situação política vai-se acalmando o que permite retomar alguma actividade missionária. Em 1985 reabriu a casa de Maputo para os seminaristas. Em 1988 é reaberto o noviciado que passa a funcionar no Guruè. Nesse mesmo ano começa a funcionar a casa de formação em Quelimane. Em 1991 abre-se o actual seminário na zona de Sococo (Quelimane).

 

A 4 de Outubro de 1992 é finalmente assinado o acordo de paz entre a Renamo e a Frelimo. Aos poucos os missionários tomam conta das anteriores missões e começa um período de reorganização e reestruturação de tudo aquilo que tinha sido feito ao longo de dezenas de anos e que a guerra destruira em pouco anos.

Em Fevereiro de 1994 abre-se o novo seminário dehoniano na Matola, destinado à formação dos jovens religiosos.

Em 1996 o governo de Moçambique restitui a Escola de Artes e Ofícios do Guruè, em quase completa degradação. Depois dos trabalhos de recuperação e reestruturação começa a funcionar com novo nome: Centro Polivalente Leão Dehon. Em 1998 abre-se aí a Escola Básica Industrial com cursos teóricos e práticos em serralharia-mecânica, carpintaria, electricidade e informática. Actualmente este importante Centro dá emprego a uma centena de operários contribuindo assim para o sustento de muitas famílias do Guruè.

 

É também 1996 que o governo devolve também à Congregação o antigo Seminário de Milevane, em estado deplorável de destruição. Os missionários empreenderam rapidamente a recuperação do grande edifício que &
eacute; transformado em centro pastoral para acolher retiros, cursos de formação, jornadas de estudo, etc.

A 19 de Junho de 1998 é criada a nova Província de Moçambique que até então dependia da Província da Itália do Norte. Isto significa que os dehonianos em Moçambique podem caminhar por seus próprios pés, com actividades pastorais bem definidas, casas de formação dos candidatos devidamente estruturadas e um número considerável de dehonianos moçambicanos.

Ultimamente as dioceses também se reorganizaram. A “missão” passou a paróquia e muitas delas são confiadas aos sacerdotes diocesanos que entretanto vão surgindo na diocese de Quelimane.

 

Actualmente a presença dehoniana em Moçambique concentra-se em 8 comunidades religiosas. Os sacerdotes são 25, quase metade deles missionários italianos. Há 1 irmão que vive com o Bispo de Lixinga. 7 seminaristas estudam Filosofia na Matola. Em Milevane 3 noviços fazem a sua preparação em vista da profissão religiosa. Na África do Sul estão 7 jovens religiosos a fazer o estudo da Teologia, integrados na casa internacional de formação que acolhe religiosos dehonianos de várias proveniências. Há ainda 3 jovens religiosos a fazerem o estágio integrados em comunidades de Moçambique.

 

Vários missionários portugueses trabalharam anos e anos em Moçambique. Uns regressaram a Portugal e outros viveram nas missões quase até ao fim dos seus dias. São eles: o Pe. Manuel Gouveia, Pe. José Alves, Pe. José Diomário.

 

 

Zeferino Policarpo, scj

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