Então, durante a manhã do dia 2 de Agosto, sábado, todo o grupo teve uma manhã com o P. Elias Ciscato, o maior etnólogo de toda esta região: costumes, tradições, elementos culturais…dos Macuas…
Ficou-nos uma frase importante: “para entrar numa cultura, há que ser pacientes como o pescador”. Antes de começar a falar outras coisas a um moçambicano, há que perguntar primeiro: Salema (cumprimento habitual de origem muçulmana) em Nampula. Ehali? (Como está a sua saúde?).
Durante a tarde, tivemos uma reunião com os padres dehonianos, na sua residência, junto à Igreja de S. Pedro, uma das comunidades de Napipine para ajustar o nosso projecto à realidade local: encontros de adolescentes, jovens, aulas de música (viola e flauta), teatro, retiros, celebrações, visitas aos hospitais, sessões cinematográficas, conferências nas universidades…
Mas o nosso “prato forte” é organizar a biblioteca de Ciências da Educação a partir dos quase mil kilos de livros que enviámos para Nampula para este Centro Cultural Napipine, rua 5010, casa 3.
Napipine tem quatro comunidades cristãs: S. Pedro, Murrapaníua, Nahene e Nairuku. No domingo de manhã, fomos à Eucaristia a Murrapaníua.
Podemos dizer que são uns 10 kms daqui, mas as ruas cheias de buracos e grandes regos vazios, levaram-nos a dar cada tombo no jeep (Que o diga o Eduardo, Elmano e o Paulo que iam atrás no jeep). Mesmo assim, ainda vimos a carregar camiões de lixo para deitarem nestes regos.
Mas não é tudo tão mau. As pessoas são uma “beleza de alma”. Ao aproximarmo-nos da igreja, apareceram quatro homens com um crachá no peito que dizia: equipa de acolhimento. Pegaram nas nossas violas, nos sacos e levaram tudo.
Que acolhimento!!! Sim Senhor.
A Eucaristia presidida pelo P. Elias Ciscato começou com a apresentação de cada um dos voluntários. Ao final de cada apresentação, os homens batiam palmas e as mulheres ululavam com a língua. Que maravilha!
As danças iniciais, do ofertório e de acção de graças foram uma maravilha e embelezaram a eucaristia de tal maneira que a eucaristia foi uma autêntica obra de arte viva, em movimento
O P. Elias tinha previsto fazer a homilia. Mas quando chegou a altura, disse-me: “vai e faz a homilia”. Isto aqui não há cerimónias. Não se pode dizer como na Europa: “não faço, porque não preparei”. Aqui é preciso estar disponível e servir o povo de Deus.
Depois da Eucaristia, os voluntários dividiram-se em dois grupos: um grupo orientou um encontro para cerca de 100 adolescentes e o outro grupo de 70 jovens foi orientado por uma segunda equipa.
Assim foi o domingo com muitas emoções de experiências de fé. Os oito voluntários que estão comigo nunca tinham vindo a Moçambique. Portanto, imaginem.
Na segunda-feira, dia 4 de Agosto, fomos visitar a comunidade de Alto Molocuè. Eram vários os objectivos que tínhamos na mente:
– os voluntários queriam conhecer o Alto Molocuè;
– conhecer os padres;
– conhecer as voluntárias que estão a trabalhar lá por um ano: Sónia e Vera.
– ver a biblioteca.
Assim, partimos às oito da manhã: passámos por Namaíta (que significa homens que cortam cabeças), por Murrupula (cabeça de vento), Ligonha (o rio divide o distrito do Molocuè do de Nampula), por Sazuzo, Niwureacu, rio Metuge, Namiroe e Mwimae. Por volta das 12.00 horas chegamos a Molocuè.
As instalações são boas. Fiquei fascinado com a biblioteca, onde estavam a trabalhar a Sónia e a Vera. Que arrumação, que ordem, que harmonia! Era hora de almoço, mas ainda estava um estudante a consultar a biblioteca.
Imaginem a sensação de quem andou a pedir livros, arrumou-os, levou-os a um transitário em caixas e agora vê-os na biblioteca, e ao serviço da população. Não há preço que pague esta alegria.
Os padres da casa receberam-nos com uma delicadeza e espontaneidade que já não é habitual em muito lado. Lá almoçamos todos. Mas o mais animado era o P. Choncho, missionário aqui em Moçambique há mais de 50 anos.
Atenção! Alto Molocué foi a primeira missão dos dehonianos em Moçambique em 1947.
Lá convivemos. As voluntárias Vera e Sónia mataram saudades com uns chocolatesitos que trouxemos da capital portuguesa.
Hoje, terça-feira, 5 de Agosto, começámos algumas actividades: de manhã, um grupo foi ao hospital psiquiátrico, o segundo grupo, antes de começar a mexer na biblioteca, foi ao aeroporto buscar mais 150 quilos de livros que ainda não tinham sido levantados. Depois de algumas burocracias, lá viemos com os livros.
Mas sobre este arranque destas actividades falarei numa terceira crónica.
Um abraço.
| Adérito Barbosa, scj e os 8 voluntários |