RESET…

Quando escreveu a encíclica Laudato si’, o papa Francisco estava consciente de que, embora tivesse crescido a sensibilidade ecológica das populações, ela era ainda «insuficiente para mudar os hábitos nocivos de consumo, que não parecem diminuir; antes, expandem-se e desenvolvem-se» (LS 55).

Olhando para os mais jovens, reconhecia ainda que eles «têm uma nova sensibilidade ecológica e um espírito generoso, e alguns deles lutam admiravelmente pela defesa do meio ambiente, mas cresceram num contexto de altíssimo consumo e bem-estar que torna difícil a maturação doutros hábitos. Por isso, – alertava então o Papa – estamos perante um desafio educativo» (LS 209).

O caminho para superarmos eficazmente esta tão grave crise cultural e ecológica passa pela «maturação doutros hábitos», que não nos tornem tão dependentes e submissos ao que o mercado nos oferece e impõe. O «desafio educativo», perante o qual nos encontramos, é o de darmos corpo a uma nova forma de habitarmos este mundo e nos relacionarmos com todos os seres vivos: uma nova forma marcada pelo cuidado, pelo respeito, pela sobriedade e pela moderação.

Mais do que estar à espera que os outros mudem ou pensar que o problema ecológico o devem resolver os governos e os cientistas, importa compreender que «uma mudança nos estilos de vida poderia chegar a exercer uma pressão salutar sobre quantos detêm o poder político, económico e social». Nós podemos fazer alguma coisa! Nós temos um poder em nossas mãos e somos responsáveis pela forma como o exercemos em cada dia! Dito doutra forma, quando conseguimos que se deixe de adquirir determinados produtos, estamos a exigir uma «mudança do comportamento das empresas, forçando-as a reconsiderar o impacto ambiental e os modelos de produção. É um facto que, quando os hábitos da sociedade afectam os ganhos das empresas, estas vêem-se pressionadas a mudar a produção. Isto lembra-nos a responsabilidade social dos consumidores. Comprar é sempre um acto moral, para além de económico» (LS 206).

Neste sentido, estes tempos de clausura – é incrível como esta palavra ganhou um novo vigor! – que estamos a viver são uma oportunidade de ouro para gerar novos hábitos, mais amigos e cuidadosos para com o ambiente. Não se trata apenas de configurar novos hábitos, mas também de erradicar da nossa vida todos aqueles gestos e costumes que se têm revelado nocivos e prejudiciais. Este período de isolamento social vai durar o tempo suficiente para podermos operar a transformação que se impõe. Temos tempo de sobra para dar morte ao homem velho e preparar o nascimento do homem novo: e o facto de tudo isto coincidir com o mistério pascal cristão parece ser mais do que uma coincidência! Assim sendo, é cada vez menor o espaço para nos refugiarmos em desculpas e justificações.

José Domingos Ferreira, scj

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