Semana da Província – Mensagem Final

Depois da celebração solene das festas pascais reuniram-se, no Seminário Nossa Senhora de Fátima, Alfragide, 52 religiosos dehonianos, vindos das diversas comunidades, para a habitual Semana da Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus, realizada de 22 a 25 de abril. Reunimo-nos em espírito fraterno para conviver e refletirmos sobre o tema «Cuidar da Esperança», com o contributo de vários convidados, numa linha de Formação Permanente.

 

  1. Na terça-feira, dia 22, o Superior Provincial, Pe. Zeferino Policarpo, abriu a Semana da Província com palavras de acolhimento e de entusiasmo, desafiando cada confrade a disfrutar da presença uns dos outros e na experiência de comunhão em torno do Senhor ressuscitado, renovar em nós a Esperança, como virtude teologal e como valor fundante da nossa vida pessoal e consagrada. Também a presença do Pe. Cláudio Weber, Conselheiro Geral da Congregação, sinal de unidade e de comunhão com o «Nós Congregação», foi motivo de alegria e dirigiu-nos uma palavra de apreço e de incentivo em continuarmos a trilhar este caminho de partilha fraterna e de formação permanente, dom do Senhor ressuscitado à Província Portuguesa SCJ e fonte de esperança.

  2. A primeira intervenção coube ao Pe. Joaquim Garrido que nos convidou a refletir o tema «Ezequiel, o Profeta da Esperança». Como todos os profetas, também Ezequiel é alguém que a sociedade e os poderes instituídos não conseguem entender nem acolher as provocações que são feitas. Apresentando o mundo e os acontecimentos sob a perspetiva da lógica de Deus, Ezequiel aparece como um profeta estranho, polémico, misterioso até, que exerce a sua missão em dois momentos distintos: antes da queda de Jerusalém (por volta do ano 586 a. C.) e o Exílio em Babilónia. O profeta, de forma enérgica e veemente anuncia e exorta todo o povo a considerar Deus «como Senhor da vida», «como bom pastor», «como Senhor da terra»; «como presença constante e atuante no meio do seu povo» e «como criador de um coração novo». A exortação de Ezequiel é contundente: quando alguém sabe que pode assentar a sua vida na fidelidade de Deus, então pode ter esperança. Esta mensagem transpõe as fronteiras do tempo e do espaço. Na verdade, o nosso tempo não é pior que o tempo em que ele viveu. Se foi possível naquelas condições tão adversas ver a fidelidade de Deus, também nós podemos ter essa esperança. A crise constitui uma oportunidade que Deus oferece ao homem para voltar ao essencial.

  3. Com o Pe. Jacinto Farias tivemos a oportunidade de meditar o tema «A Esperança na Encíclica Spe Salvi, de Bento XVI». A apresentação pretendeu ser uma meditação sobre a esperança em duas partes distintas, mas complementares, pois visava, não uma simples leitura e apresentação do tema da esperança na Encíclica de Bento XVI, mas sim ver a esperança a partir do nosso estilo próprio de Sacerdotes do Coração de Jesus. Num primeiro momento, foi feita uma aproximação teológica acerca do «nosso estilo», no seguimento das reflexões desenvolvidas no seminário Antropologia Cordis, em Taubaté, em Fevereiro passado. Numa cultura, pelo menos a ocidental, em que o homem se encontra sem casa, sem rosto e sem coração a Igreja e a Congregação tem o desafio de restituir ao homem atual uma casa, um rosto e um coração e, portanto, um rumo e um caminho. Através da leitura atenta dos Escritos Espirituais do Padre Dehon, o nosso estilo próprio poderia articular-se em torno de dois conceitos: confiança e dom. Num segundo momento apresentaram-se alguns estímulos que nos oferece a Encíclica Spe Salvi para vivermos a esperança ao nosso estilo: o Amor que já nos precede na vida e missão; a vida eterna como experiência de encontro pessoal com Cristo, a morte como horizonte no qual se descobre a seriedade da existência e a afirmação de que há sempre um futuro como realidade positiva.

  4. Na quarta-feira, dia 23, foi dada a palavra aos nossos confrades religiosos de Alfragide: Antonino e Jorge André, Igor e Ando, Jorge Couto e Vitor Joaquim, Matias e Daniel, José Joaquim e Tiago que, coordenados pelo Pe. Manuel Barbosa, nos apresentaram o essencial da Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Europa, do Papa João Paulo II, de 2003, sobre Jesus Cristo, vivo na sua Igreja, fonte de esperança para a Europa. Estudada e refletida no itinerário formativo deste ano letivo, cada capítulo foi preparado, por grupos, para ser apresentado na Semana da Província. Se é verdade que se podem notar sinais preocupantes de crise e desânimo, também é possível vislumbrar sinais evidentes de esperança como, por exemplo, o compromisso da Igreja em viver o primado da evangelização, a concentração na sua missão espiritual, a consciência cada vez mais alargada da coresponsabilidade de todos os batizados na missão da Igreja, um novo fervor pela missão ad gentes… . O Evangelho da Esperança é assim confiado à Igreja neste novo milénio e também nós, dehonianos, centrados no mistério de Cristo, nos é confiada a missão de anunciar, celebrar e servir o evangelho da esperança aos nossos irmãos.

  5. Depois do intervalo, foi a vez de exercitarmos e estimularmos o nosso discurso sobre a esperança. Em grupos, procurámos escrever uma carta da esperança a um determinado destinatário: a um jovem dehoniano, a um dehoniano em crise, a um missionário, a um idoso dehoniano, a um pároco dehoniano, a uma família, a uma comunidade dehoniana, a um seminarista, a um benfeitor dehoniano, a um doente. Cada carta foi verdadeiramente uma epifania da esperança quer na forma quer nas palavras reproduzidas. Apresentadas durante a adoração ao Santíssimo adquiriram o valor de oração e de interpelação pessoal muito interessante, que a comissão que preparou a Semana, de alguma forma, quer divulgar.

  6. Da parte da tarde tivemos dois convidados que na sua vida pessoal e profissional contactam com situações de fronteira, nas quais a esperança precisa urgentemente ser semeada e cultivada. Em tom de partilha, o Dr. Manuel Matias, Presidente da Cooperativa de solidariedade social «Pelo Sonho é que vamos» (Casa Abrigo), apresentou a dura e difícil situação por que passam muitas famílias confrontadas com a violência doméstica, a pobreza e a desagregação. Foi contundente a sua análise da fragilidade destas pessoas diante de sistemas injustos e até iníquos, que muitas vezes as impedem vislumbrar uma luz no horizonte. O seu testemunho m
    ostrou-nos que, como cristãos católicos, alhearmo-nos destes dramas é fecharmos as portas da esperança a muitos dos nossos contemporâneos. Em seguida foi a vez do Dr. Licínio Lima, Sub-Diretor da Direção-Geral da Reinserção e Serviços Prisionais, ligado ao Ministério da Justiça, nos apresentar a situação problemática da prisão e dos sistemas de reinserção social atuais. A prisão, decorrente de um sistema penitenciário, por si só, parece não ter capacidade de regenerar a pessoa, pelo que se torna urgente para os cristãos levar o silêncio, a espiritualidade, e o próprio Deus para esses meios. Foi uma partilha interessante que nos abre perspetivas de missão e e nos interpelaram no sentido de termos um olhar mais atento e alargado que faça das dificuldades da vida terreno fértil onde semear a Esperança.

  7. Neste clima de partilha foi continuado o discurso e apresentada, pelo Superior Provincial e por alguns confrades por ele indicados, a situação da nossa Província a vários níveis: pastoral paroquial, missionária, vocacional, juvenil, entre outras. Concluiu-se que, a partir de novos modos de encarar a missão e do empenho de todos, os dehonianos têm motivos para ter esperança.

  8. E como Semana da Província é sinónimo de convívio fraterno e tempo de distensão houve oportunidade de realizar um passeio na quinta-feira, dia 24 de abril, por terras alentejanas de Marvão e Castelo de Vide. Nesta linda terra, celebrámos a Eucaristia na Igreja Matriz de Santa Maria da Devesa.

  9. Na sexta-feira, dia 25 de abril, fomos presenteados com a conferência do Pe. Cláudio Weber, Conselheiro Geral, intitulada «A esperança na vida e na missão da Congregação». Partindo da experiência pessoal de formação e percurso de serviço na Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus apresentou-nos o espírito teologal da nossa Regra de Vida. Imbuída de expressões e conteúdos de esperança impele-nos a uma “esperança ativa”, amadurecida na oração e no testemunho quotidiano. Citando os papas Bento XVI e Francisco, indicou-nos sinais de esperança da Congregação que podem ser sintetizados no tema do próximo Capitulo Geral: «Misericordiosos, em comunidade, com os pobres».

 

A Semana da Província encerrou com a firme convicção de que temos, de facto, muitos motivos de esperança a nível pessoal, comunitário e provincial. Como Sacerdotes do Coração de Jesus também a nossa missão tem futuro e pode tornar-se para os dias de hoje verdadeira profecia da esperança. A todos os confrades que ficaram nas comunidades para assegurar os serviços comunitários manifestamos a nossa gratidão por nos terem permitido este tempo de formação permanente e a certeza partilhada de que é possível ainda e sempre a alegria, o entusiasmo e a esperança.

 

Alfragide, 25 de Abril de 2014

Os participantes na Semana da Província 2014 

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