A ida de D. José Ornelas Carvalho para a Diocese de Setúbal envolveu uma “longa conversa com o Papa Francisco”, e uma alteração nos planos do até agora superior-geral dos Dehonianos, que estava prestes a partir para Angola em missão.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, o novo bispo sadino confidenciou que a mudança para Angola já tinha sido “aceite” pelo superior-geral da congregação em Roma, quando chegou do Vaticano a indicação da sua nomeação episcopal.
“Eu tinha começado a sonhar, a fazer os meus planos e a arrumar malas nesse sentido, depois chegou esta notícia”, realçou o prelado, frisando que a acolheu “com gosto” e com vontade de dar “o seu melhor”.
“Nunca disse que não a uma proposta e um pedido que me viesse da Igreja, e sendo que este vinha diretamente do Papa Francisco, menos ainda”, acrescentou.
Apesar disso, D. José Ornelas Carvalho não deixou de “escrever ao Papa pedindo-lhe orientação” acerca do que deveria decidir, já que “tinha uma missão e agora recebera outra”.
Todos estes factos passaram-se sensivelmente há cerca de dois meses, quando pela primeira vez a Santa Sé se referiu ao sucessor de D. Gilberto Reis à frente da Diocese de Setúbal.
Assim que Francisco recebeu a comunicação, telefonou ao novo bispo português e agendou para o mesmo dia uma audiência, que foi marcada por “uma longa conversa”.
“Ele dá sempre um tom muito familiar tratando a gente por tu, e no fim disse-me: ‘eu não te imponho, mas peço-te que vás para Setúbal, queres ir em missão, a tua missão vai ser em Setúbal’. E eu vou com gosto e alegria, não se fala mais no assunto”, adiantou D. José Ornelas Carvalho, destacando ainda o conhecimento que o Papa revelou da realidade sadina.
“Particularmente das dificuldades sociais em que se encontra neste momento a diocese, das dificuldades da emigração” e também de “uma Igreja Católica que precisa de refazer a sua vocação missionária na Europa”, complementou.
A ordenação episcopal e tomada de posse na Diocese de Setúbal estão marcadas para o dia 25 de outubro.
O até agora superior-geral dos Dehonianos, de 61 anos, diz que vai abraçar o novo projeto de forma “serena e sem ilusões, antes de mais sobre si próprio”.
“Habituado a um outro ambiente, de uma congregação, onde há um ritmo próprio de orientar, de decidir”, o novo bispo sadino está consciente que tem “muito para aprender”.
No entanto, olha já com grande “afeto” para as gentes de Setúbal e para a região, que lhe lembra a sua Madeira natal, pela “geografia do mar, do rio e da serra”.
Mostra-se ainda entusiasmado por poder ir ao encontro de uma diocese jovem, com todas as “dificuldades mas também potencialidades” que isso representa.
“Não trago projetos na mala mas uma grande vontade e abertura para conhecer, para fazer e para dialogar, para ir à procura deles, isso sim”, reforça o novo bispo português, que espera contar com a “colaboração” de todas as pessoas da Diocese de Setúbal, desde as comunidades aos sacerdotes e religiosos, passando pelos bispos que o antecederam no cargo.
“É uma coisa muito simpática ter os meus dois predecessores na diocese, D. Gilberto Reis e D. Manuel Martins, vivos e muito numa atitude que sempre foi profética nesta Igreja, e que certamente para mim é uma honra e um desafio continuar e que espero ser digno dela”, conclui.