Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus – Ano B [atualizado]

ANO B

SOLENIDADE DE SANTA MARIA, MÃE DE DEUS

Dia Mundial da Paz

Tema da Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus

 

Oito dias depois da celebração do Natal de Jesus, a liturgia convida-nos a olhar para Maria, a mãe de Deus (“Theotókos”), solenemente designada com este título no Concílio de Éfeso, em 431. Com o seu “sim” tornou possível a presença de Jesus nas nossas vidas e no nosso mundo.

Mas este dia é também o primeiro dia do ano civil: é o início de uma caminhada que queremos percorrer de mãos dadas com esse Deus que nos ama, que nos abençoa e que conduzirá os nossos passos, com cuidado de Pai, ao longo deste Ano Novo.

Também celebramos o Dia Mundial da Paz: em 1968, o Papa Paulo VI propôs aos homens de boa vontade que, no primeiro dia de cada novo ano, se rezasse pela paz no mundo. Hoje, portanto, pedimos a Deus que nos dê a paz e que faça de cada um de nós testemunha e arauto da reconciliação e da paz.

As leituras que a liturgia deste dia nos propõe abraçam esta diversidade de temas e de evocações.

A primeira leitura oferece-nos, através de uma antiga fórmula de bênção, a certeza da presença contínua de Deus ao nosso lado nos caminhos que percorremos todo os dias. Ele será sempre para nós fonte de Vida e de paz.

Na segunda leitura evoca-se o amor e o cuidado de Deus, mil vezes manifestados na história dos homens. Ele enviou o seu Jesus ao nosso encontro para nos libertar da escravidão e para nos tornar seus “filhos”. É nessa situação privilegiada de “filhos” livres e amados que podemos dirigir-nos a Deus e chamar-lhe “abbá” (“papá”).

O Evangelho mostra como a presença de Deus na nossa história é fonte de alegria e de esperança para todos os homens e mulheres, mas particularmente para os pobres e os marginalizados. Sugere ainda que Maria, a mãe de Jesus, é o modelo do crente que, em silêncio e sem espalhafato, acolhe as propostas de Deus, guarda-as no coração e deixa-se guiar por elas.

 

LEITURA I – Números 6,22-27

O Senhor disse a Moisés:
«Fala a Aarão e aos seus filhos e diz-lhes:
Assim abençoareis os filhos de Israel, dizendo:
‘O Senhor te abençoe e te proteja.
O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face
e te seja favorável.
O Senhor volte para ti os seus olhos
e te conceda a paz’.
Assim invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel,
e Eu os abençoarei».

 

CONTEXTO

O texto situa-nos no Sinai, frente à montanha onde se celebrou a aliança entre Deus e o seu Povo… No contexto das últimas instruções de Javé a Moisés, antes de Israel levantar o acampamento e iniciar a caminhada em direcção à Terra Prometida, é apresentada uma fórmula de bênção, que os “filhos de Aarão” (sacerdotes) deviam pronunciar sobre a comunidade.

Provavelmente trata-se de uma fórmula litúrgica utilizada no Templo de Jerusalém para abençoar a comunidade, no final das celebrações litúrgicas, antes de o Povo regressar a suas casas… Essa bênção é aqui apresentada como um dom de Deus, no Sinai.

A “bênção” (“beraka”) é concebida, no universo dos povos semitas, como uma comunicação de vida, real e eficaz, que atinge o “abençoado” e que lhe transmite vigor, força, êxito, felicidade. É um dom que, uma vez pronunciado, não pode ser retirado nem anulado. Aqui, essa comunicação de vida – fruto da generosidade e do amor de Deus – derrama-se sobre os membros da comunidade por intermédio dos sacerdotes (no Antigo Testamento, os intermediários entre o mundo de Javé e a comunidade israelita).

 

MENSAGEM

Esta “bênção” apresenta-se numa tríplice fórmula, sempre em crescendo (no texto hebraico, a primeira afirmação tem três palavras; a segunda, cinco; a terceira, sete). Em cada uma das fórmulas, é pronunciado o nome de Javé… Ora, pronunciar três vezes o nome do Deus da aliança é dar uma nova atualidade à aliança, às suas promessas e às suas exigências; é lembrar aos israelitas que é do Deus da Aliança que recebem a vida nas suas múltiplas manifestações e que tudo é um dom de Deus.

A cada uma das invocações, correspondem dois pedidos de bênção: “que Javé te abençoe (isto é, que te comunique a sua vida) e te proteja”; “que Javé faça brilhar sobre ti a sua face (hebraísmo que se pode traduzir como ‘que te mostre um rosto sorridente e favorável’) e te conceda a sua graça”; que Javé dirija para ti o seu olhar (hebraísmo que significa ‘olhe para ti com benevolência’, ‘te acolha’) e te conceda a paz” (em hebraico, ‘shalom’ – no sentido de bem-estar, harmonia, felicidade plena).

Este texto lembra ao israelita que tudo é um dom do amor de Javé e que o Deus da aliança está ao lado do seu Povo em cada dia e em cada passo do caminho, oferecendo-lhe a Vida plena e a felicidade em abundância.

 

INTERPELAÇÕES

  • Temos à nossa frente um novo ano. Não sabemos, para já, o que ele nos trará… Provavelmente conheceremos, nesta nova etapa, as vicissitudes que são inerentes à nossa condição humana: alegrias e tristezas, esperanças e desilusões, encantos e desencantos, momentos de festa e momentos de desânimo… Mas, no meio de tudo isso, de uma coisa podemos estar seguros: não caminhamos sozinhos, abandonados à nossa sorte. Esse Deus que conduz a história dos homens, que nos criou com amor e que sempre se interessou pela nossa vida e pela nossa história, vai continuar a olhar para nós com o olhar terno de um Pai e o sorriso amoroso de uma Mãe; vai, em cada dia, consolar o nosso coração e guiar-nos em direção à Vida. Esta certeza deve acompanhar-nos em cada passo deste caminho que hoje começa.
  • É de Deus que tudo recebemos: vida, saúde, força, amor e aquelas mil e uma pequeninas coisas que enchem a nossa vida e que nos dão instantes plenos. Tendo consciência dessa presença contínua de Deus ao nosso lado, do seu amor e do seu cuidado, somos gratos por isso? No nosso diálogo com Ele, sentimos a necessidade de O louvar e de Lhe agradecer por tudo o que Ele nos oferece? Agradecemos todos os dons que Ele derramou sobre nós no ano que acaba de terminar?
  • A “bênção” de Deus de que fala este texto do livro dos Números não cai do céu como uma chuva mágica que transforma toda a nossa vida, quer queiramos quer não. A oferta de vida que Deus nos faz, para ter efeitos práticos na nossa vida, tem de ser acolhida com amor e gratidão. Temos de estar disponíveis para acolher os dons de Deus e para nos deixarmos transformar por Ele. Temos de dar ouvidos a Deus, temos de acolher as suas indicações, desafios e propostas; e então, efetivamente, trilharemos caminhos de Vida nova, de felicidade e de paz.

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 66 (67)

 Refrão: Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção.

Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção,
resplandeça sobre nós a luz do seu rosto.
Na terra se conhecerão os seus caminhos
e entre os povos a sua salvação.

Alegrem-se e exultem as nações,
porque julgais os povos com justiça
e governais as nações sobre a terra.

 

Os povos Vos louvem, ó Deus,
todos os povos Vos louvem.
Deus nos dê a sua bênção,
e chegue o seu temor aos confins da terra.

 

LEITURA II – Gálatas 4,4-7

Irmãos:
Quando chegou a plenitude dos tempos,
Deus enviou o seu Filho,
nascido de uma mulher e sujeito à Lei,
para resgatar os que estavam sujeitos à Lei
e nos tornar seus filhos adotivos.
E porque sois filhos,
Deus enviou aos nossos corações
o Espírito de seu Filho, que clama:
«Abbá! Pai!»
Assim, já não és escravo, mas filho.
E, se és filho, também és herdeiro, por graça de Deus.

 

CONTEXTO

Entre as comunidades cristãs do norte da Galácia manifestou-se, pelos anos 55/56, uma grave crise… À região gálata chegaram pregadores cristãos de origem judaica, que punham em causa a validade e a legitimidade do Evangelho anunciado por Paulo. Este era acusado de pregar um Evangelho mutilado, distante do Evangelho pregado pelos apóstolos de Jerusalém… Para estes pregadores (“judaizantes”), a fé em Cristo devia ser complementada pelo cumprimento rigoroso da Lei de Moisés, nomeadamente pelo rito da circuncisão.

Paulo foi avisado da situação quando estava em Éfeso. Não o preocupava que a sua pessoa fosse posta em causa; preocupava-o o dano que este tipo de discurso podia trazer às comunidades cristãs… Paulo estava convencido que o movimento religioso iniciado por Jesus de Nazaré não era uma religião formalista e ritual, uma religião de práticas exteriores, como o judaísmo farisaico do seu tempo, que se preocupava com questões formais e secundárias; além disso, estava convencido de que a salvação não tinha a ver com conquistas humanas, como se a salvação fosse conseguida à custa dos atos heroicos do homem, mas era um dom de Deus.

Alarmado pela gravidade da situação, Paulo escreveu aos gálatas. Com alguma dureza justificada pela gravidade do problema, Paulo diz-lhes que o cristianismo é liberdade e que a ação de Cristo libertou os homens da escravidão da Lei… Os gálatas devem, portanto, fazer a sua escolha: pela escravidão, ou pela liberdade; no entanto – não deixa de observar Paulo – é uma estupidez ter experimentado a liberdade e querer voltar à escravidão…

No texto que nos é proposto, Paulo recorda aos gálatas a encarnação de Cristo e o objetivo da sua vinda ao mundo: fazer dos que a Ele aderem “filhos de Deus” livres.

 

MENSAGEM

Paulo recorda aqui aos gálatas algo de fundamental: Cristo veio a este mundo para libertá-los, definitivamente, do jugo da Lei; a consequência da ação redentora de Cristo é que os homens deixaram de ser escravos e passaram a ser “filhos” que partilham a vida de Deus.

A palavra-chave é, aqui, a palavra “filho”, aplicada tanto a Cristo como aos cristãos. Cristo, o “Filho”, foi enviado ao mundo pelo Pai com uma missão concreta: libertar os homens de uma religião de ritos estéreis e inúteis, que não potenciava o encontro entre Deus e os homens; e Cristo, identificando os homens com Ele, levou-os a um novo tipo de relacionamento com Deus e fê-los “filhos” de Deus. Por ação de Cristo, os homens deixaram de ser escravos (que cumprem obrigatoriamente regras e leis) e passaram a relacionar-se com Deus como “filhos” livres e amados, herdeiros com Cristo da vida eterna. Depois desta “promoção”, fará algum sentido querer voltar a ser escravo da religião das leis e dos ritos?

A nova situação dos homens dá-lhes o direito de chamar a Deus “abbá” (“papá”). Paulo utiliza esta palavra aqui (bem como na Carta aos Romanos), apesar de os judeus nunca designarem Deus desta forma. Ela expressa uma relação muito próxima, muito íntima, do género daquela que uma criança tem com o seu pai: exprime a confiança absoluta, a entrega total, o amor sem limites. A insistência de Paulo nesta palavra deve ter a ver com o Jesus histórico: Jesus adotou-a para expressar a sua confiança filial em Deus e a sua entrega total à sua causa. Ora, é este tipo de relação que os cristãos, identificados com Cristo, são convidados a estabelecer com Deus.

Gl 4,4 é o único lugar, nos escritos paulinos, em que o apóstolo se refere à mãe de Jesus; “Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher”. De facto, nesta passagem Paulo parece mais interessado em sublinhar a solidariedade de Cristo com o género humano do que em deter-se na figura de Nossa Senhora. No entanto, nesta afirmação breve e densa, aparece, na sua plenitude, a glorificação de Maria como Mãe de Jesus. Pelo seu “sim” a Deus, ela tornou possível a presença do Filho de Deus na nossa história. Temos, nós também, a possibilidade de ser “filhos de Deus” porque Maria ousou dizer “sim” ao projeto de Deus.

 

INTERPELAÇÕES

  • A experiência cristã é fundamentalmente uma experiência de encontro com um Deus que é “abbá” – isto é, que é um “papá” muito próximo, com quem nos identificamos, a quem amamos, a quem nos entregamos e em quem confiamos plenamente. Era assim que Jesus sentia Deus e foi essa experiência de Deus que Ele nos comunicou. É esta proximidade libertadora e confiante que temos com o nosso Deus? É esse o testemunho que procuramos transmitir a todos aqueles que nos questionam sobre a nossa fé?
  • Paulo dá a entender que o essencial, na experiência cristã, não é o cumprimento de regras e obrigações, mas sim a nossa identificação com esse Deus bom que olha para nós com a ternura e o amor de um Pai muito querido. Às vezes, no entanto, na nossa experiência de fé, privilegiamos o cumprimento de ritos externos e de tradições vazias e estéreis. Podemos, nesse caso, estar a perder a oportunidade de viver algo de marcante e transformador: a experiência gozosa de nos sentirmos filhos livres de um Deus que nos ama.
  • A constatação de que somos “filhos” de Deus leva-nos a uma outra constatação fundamental: estamos unidos a todos os outros homens – “filhos” de Deus como nós – por laços fraternos. É a mesma vida de Deus que circula em todos nós… O que é que esta constatação implica, em termos concretos? A que é que ela nos obriga? Faz algum sentido marginalizar os nossos irmãos por causa da sua raça, estatuto social, ideologia, ou qualquer outra diferença? Sentimos que aquilo que acontece aos outros nossos irmãos – de bom ou de mau – é algo que nos diz respeito? Sentimo-nos responsáveis por cada pessoa que Deus colocou no nosso caminho?

 

ALELUIA – Hebreus 1,1-2

Aleluia. Aleluia.

Muitas vezes e de muitos modos
falou Deus antigamente aos nossos pais pelos Profetas.
Nestes dias, que são os últimos,
Deus falou-nos por seu Filho.

 

EVANGELHO – Lucas 2,16-21

Naquele tempo,
os pastores dirigiram-se apressadamente para Belém
e encontraram Maria, José
e o Menino deitado na manjedoura.
Quando O viram, começaram a contar
o que lhes tinham anunciado sobre aquele Menino.
E todos os que ouviam
admiravam-se do que os pastores diziam.
Maria conservava todas estas palavras,
meditando-as em seu coração.
Os pastores regressaram, glorificando e louvando a Deus
por tudo o que tinham ouvido e visto,
como lhes tinha sido anunciado.
Quando se completaram os oito dias
para o Menino ser circuncidado,
deram-Lhe o nome de Jesus,
indicado pelo Anjo,
antes de ter sido concebido no seio materno.

 

CONTEXTO

O texto do Evangelho que a liturgia nos oferece neste primeiro dia do ano é a continuação daquele que foi lido na noite de Natal: uns pastores que escutaram o anúncio do nascimento de Jesus dirigiram-se a Belém e encontraram o Menino, deitado numa manjedoura de uma gruta onde os animais se acolhiam para passar a noite.

Continuamos no domínio do chamado “Evangelho da Infância de Jesus”. O objetivo do evangelista não é fornecer-nos um relato de acontecimentos reais que rodearam o nacimento de Jesus, mas sim oferecer-nos uma catequese sobre a identidade do Menino do presépio e a missão de que ele foi investido por Deus.

Os pastores – personagens centrais no evangelho deste dia – eram, de acordo com a mentalidade da época, pessoas pouco recomendáveis. A literatura rabínica descreve-os como gente violenta, ignorante e desonesta, que levava os rebanhos para propriedades alheias e roubava parte dos produtos que o rebanho proporcionava. Eram também vistos como pessoas que não praticavam os preceitos da Lei de Deus. Pertenciam à categoria dos pobres e marginalizados, que viviam à margem da comunidade do Povo santo de Deus. Para Lucas, contudo, os pastores são destinatários privilegiados da proposta que o Menino de Belém vem trazer ao mundo e aos homens. É uma ideia muito cara a Lucas: a opção preferencial de Deus vai para os pequenos, os pobres, os desprezados, aqueles que a vida maltrata e a sociedade despreza.

 

MENSAGEM

Com a chegada de Jesus, atingimos o âmago do projeto salvífico de Deus… Naquele Menino do presépio de Belém, a proposta libertadora que Deus tinha para nos oferecer veio ao nosso encontro e materializou-se no meio dos homens. Aliás, o próprio nome que foi dado ao Menino, por indicação do anjo que anunciou o seu nascimento, aponta nesse sentido (“Jesus” significa “Javé salva”). O Menino do presépio é o “Salvador”, “o Messias Senhor”.

O que parece estranho é que a “boa notícia” da chegada de “um Salvador”, seja dada, em primeira mão, a gente improvável: esses pastores que a sociedade palestina tinha em tão pouca consideração e considerava longe de Deus. Lucas está a afirmar, dessa forma, que a proposta libertadora que Jesus traz se destina de forma especial aos pobres e marginalizados, àqueles que a teologia oficial excluía e condenava. Deus aproxima-se deles em primeiro lugar para nos dizer que os mais desgraçados, os mais abandonados, os mais esquecidos têm um lugar privilegiado no seu coração de Pai e de Mãe.

No texto evangélico que a liturgia deste dia nos propõe, Lucas compraz-se em descrever a forma como os pastores respondem à chegada de Jesus, o Salvador. Diz-nos, em primeiro lugar, que eles, depois de escutarem a “boa nova” do nascimento do libertador, se dirigem “apressadamente” ao encontro do Menino. A palavra “apressadamente” sublinha a ânsia com que os pobres e os marginalizados esperam a ação libertadora de Deus em seu favor. Aqueles que vivem numa situação intolerável de sofrimento e de opressão reconhecem Jesus como o único Salvador e apressam-se a ir ao seu encontro. É d’Ele e de mais ninguém que brota a libertação por que os oprimidos anseiam. A disponibilidade de coração para acolher a sua proposta é a primeira coisa que Deus pede.

Em segundo lugar, Lucas descreve a forma como os pastores reagem ao encontro com Jesus. Começam por glorificar e louvar a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido: é a alegria pela libertação que se converte em ação de graças ao Deus libertador. Depois, esse louvor torna-se testemunho: quem faz a experiência do encontro com o Deus libertador tem obrigatoriamente de dar testemunho, a fim de que os outros homens possam participar da mesma experiência gratificante.

Neste dia em que celebramos a Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, devemos reparar também na atitude de Maria: ela “conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração” – diz Lucas. Maria mantém-se em silêncio, mas escuta, guarda e medita… Atenta, ela lê os sinais da presença amorosa de Deus na história dos homens, acolhe no seu coração os projetos de Deus, procura entender os acontecimentos maravilhosos que testemunha e acomodar a sua vida aos desafios de Deus.

A atitude meditativa de Maria, que interioriza e aprofunda os acontecimentos, complementa a atitude “missionária” dos pastores, que testemunham com exuberância a ação salvadora de Deus expressa na Encarnação do Menino de Belém. Estas duas atitudes definem as coordenadas essenciais daquilo que deve ser a existência do crente.

 

INTERPELAÇÕES

  • Naquele Menino frágil que os pastores encontram deitado numa manjedoura de uma gruta de Belém, Deus desce à nossa história e abraça a nossa frágil humanidade. Ele traz-nos a salvação e a paz. Não sejamos insensatos a ponto de colocar a nossa esperança de salvação nas ideologias, na clarividência dos líderes, no poder do dinheiro, na força das armas, na embriaguez dos aplausos. A salvação verdadeira vem de Jesus e da proposta irrecusável que Ele nos trouxe. Hoje, ao olhar para o Menino do presépio, podemos decidir-nos a viajar com Ele e a fazer dele a nossa referência; hoje, ao contemplar o Deus que se vestiu de fragilidade para nos apontar caminhos novos de realização e de plenitude, podemos decidir-nos por uma vida mais digna, mais fraterna, mais solidária. Estamos disponíveis, neste Ano Novo, para um novo começo, com Jesus?
  • É bem singular a lógica de Deus na sua aproximação ao mundo e aos homens… Ele não apresenta o seu “cartão de visita” aos poderosos e influentes, mas sim a uns pobres pastores de fama duvidosa. Os que estão em primeiro lugar, no coração paterno e materno de Deus, são aqueles filhos que mais necessitam de ternura e de amor. No nosso mundo aumenta todos os dias o imenso cortejo dos homens e mulheres descartáveis, para os quais não há lugar à mesa da dignidade e da abundância; a cada instante há mais irmãos nossos arrumados em campos de refugiados, sem perspetivas nem futuro; a cada passo há mais seres humanos esquecidos e desamparados, sem cuidados e sem amor. Nós, os que conhecemos a lógica de Deus e do seu amor seremos peças desta engrenagem de indiferença e de sofrimento? Podemos aceitar que o mundo se construa deste jeito? Que podemos fazer pelos nossos irmãos e irmãs que não têm vez, nem voz, nem direitos, nem vida?
  • Os pastores, maravilhados pela “boa notícia” da chegada da salvação e da paz, reagiram com o louvor e a ação de graças. Sabemos ser gratos ao nosso Deus pelos seus dons, pelo seu cuidado, pelo seu amor, pelo seu empenho em nos libertar da escravidão e em nos ensinar os caminhos da paz?
  • Os pastores, tocados pelo projeto libertador de Deus, tornaram-se “testemunhas” desse projeto. Sentimos também o imperativo do testemunho? Temos consciência de que a experiência da libertação é para ser passada aos nossos irmãos que ainda a desconhecem?
  • Maria, a mãe de Jesus, guardava todas estas coisas “e meditava-as no seu coração”. Guardava-as porque não é possível olvidar os gestos incríveis que traduzem o amor e a bondade de Deus pelos seus filhos e filhas; meditava-as porque queria percebê-las plenamente e conformar a sua vida com o projeto de Deus. No meio da agitação, do ruído, das correrias destes dias, temos conseguido reservar momentos para guardar, meditar e tirar conclusões desta história extraordinária que é Deus vir ao encontro dos homens para lhes oferecer a salvação e a paz?

 

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA A SOLENIDADE DE SANTA MARIA, MÃE DE DEUS
(adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

Ao longo dos dias da semana anterior à Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

 

2. PALAVRA DE VIDA.

Existe melhor cumprimento que dizer a uma mãe: “o seu filho é parecido consigo?” Maria preferia seguramente que lhe dissessem: “É parecida com o seu Filho!” Na Anunciação, ao dizer “faça-se segundo a tua Palavra”, Maria falava a língua do seu Filho que afirmará: “Eu vim para fazer a vontade de meu Pai!” Ao cantar o Magnificat, Maria rezava como o seu Filho Jesus que exclamará: “Pai, Eu te dou graças, porque escondeste estas coisas aos sábios e as revelaste aos mais pequeninos!” Pela sua atenção aos esposos de Canaã, Maria levava o olhar do seu Filho Jesus às pessoas que terão necessidade de salvação. Ao pé da cruz, Maria sentia os sofrimentos do seu Filho que dava a maior prova de amor. A sua oração com os apóstolos na manhã de Pentecostes juntava-se ao dom do Espírito concedido pelo seu Filho à sua Igreja. Decididamente, Maria assemelha-se bem ao seu Filho e, assim, a Deus de quem ela é Mãe.

 

3. UM PONTO DE ATENÇÃO.

Desenvolver a oração universal… Visto que é o primeiro domingo do ano, fazer da oração de intercessão (a oração universal) um momento de memória. Pode-se recordar juntos os acontecimentos importantes do ano decorrido. Podem ser evocados, quer para dizer obrigado ao Senhor se foram sinais ou portadores de fraternidade, de paz e de partilha, quer para pedir perdão quando provocaram violência, ódio e injustiça no mundo. No final desta oração, pode-se ler o texto da antiga segunda leitura (Col 3,12-19), apresentando-o como um convite feito a cada um para praticar as virtudes evangélicas.

 

4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…

Com Maria, aprender a contemplar e bendizer… Voltemo-nos para Maria que festejamos hoje. Maria, nosso modelo e nossa Mãe. Maria não cessou de “dizer bem”, ela era incapaz de “dizer mal”! Maria dizia bem, sem cessar, ela louvava Deus, ela bendizia-O no seu Magnificat. E mesmo sem compreender, Maria tinha confiança. Maria ensina-nos a contemplar e a bendizer: por ela, com ela, desejemos um ano em que saibamos contemplar a obra de Deus e bendizê-l’O.

 

UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS

Proposta para Escutar, Partilhar, Viver e Anunciar a Palavra

Grupo Dinamizador:
José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
www.dehonianos.org

 

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