02ª semana do Advento – Quinta-feira

Tempo do Advento Segunda Semana – Quinta-feira

Lectio

Primeira leitura: Isaías 41, 13-20

13porque Eu, o Senhor, teu Deus tomo-te pela mão, e digo-te: ‘Não tenhas medo, Eu mesmo te ajudarei!’ 14*Não tenhas medo, pobre vermezinho de Jacob, mísero insecto de Israel. Eu próprio te ajudarei. -oráculo do Senhor. O teu redentor é o Santo de Israel. 15Farei de ti uma grade aguçada, nova e armada de dentes; trilharás as montanhas e as triturarás. Reduzirás a palha as colinas. 16Tu as joeirarás e o vento levá-Ias-á, e o vendaval as espalhará. Exultarás, então, no Senhor, gloriar-te-ás no Santo de Isreei» 170s pobres e os necessitados buscam água e não a encontram. Têm a língua ressequida pela sede. Mas Eu, o Senhor, os atenderei; Eu, o Deus de Israel, não os abandonarei.18Farei brotar rios nos morros escalvados e fontes do fundo dos vales. Transformarei o deserto num reservatório e a terra árida em arroios de água. 19P1antarei no deserto cedros e acácias, murtas e oliveiras. Farei crescer na terra seca o cipreste, ao lado do ulmeiro e do buxo, 20para que vejam e saibam, considerem e compreendam, de uma vez por todas, que é a mão do Senhor que faz estas coisas, que o Santo de Israel as realizou.

No contexto social do Antigo Testamento, havia a figura do "resgatador" (go ‘el), parente que, devido à proximidade de sangue, tinha a função de resgatar outro parente caído na escravidão ou obrigado a alienar uma propriedade para pagar uma dívida. A função de "resgatador" podia também resultar de uma aliança: uma pessoa comprometia-se a resgatar outra caída nas referidas situações, ou a vingá-Ia, caso fosse morta. O Senhor resgata Israel porque lhe estava ligado por uma familiaridade ou solidariedade parental fundadas na criação e, mais ainda, na libertação do Egipto e no dom da Aliança e da Terra. O povo pode e deve, pois, contar com o Senhor, que quer salvá-lo dos inimigos e enchê-lo de alegria e de benefícios.

O povo deve, portanto, reconhecer-se entre os sedentos que em vão procuram água, mas a quem o Senhor vai ao encontro para os saciar. Para esse povo, Deus prepara um novo êxodo através de um deserto, que cobre de luxuriante vegetação e rega por meio de rios de água como o Éden (v. 18). Nesse encantador jardim, o povo de Deus irá reencontrar o seu Deus: verá, reflectirá e finalmente compreenderá a obra do Senhor (v. 20).

Recorrendo ao tema da criação, Isaías lembra que a acção salvífica de Deus não será exclusiva de Israel, mas aberta a todos os povos.

Evangelho: Mateus 11, 11-15

Naquele tempo disse Jesus á multidão: 11 *Em verdade vos digo: Entre os nascidos de mulher, não apareceu ninguém maior do que João Baptista; e, no entanto, o mais pequeno no Reino do Céu é maior do que ele. 12*Desde o tempo de João

Baptista até agora, o Reino do Céu tem sido objecto de violência e os violentos apoderam-se dele à força. i3porque todos os profetas e a Lei anunciaram isto até João. i4E, quer acrediteis ou não, ele é o Elias que estava para vir. i5Quem tem ouvidos, oiça!»

Mateus, depois de narrar o envio a Jesus de alguns discípulos de João, refere as palavras de Jesus sobre o mesmo João, prisioneiro de Herodes. Exalta a firmeza da fé e a grandeza do profeta, afirmando que não apareceu ninguém maior do que ele no mundo (v. 11). Mas quem se torna discípulo de Jesus entra numa nova ordem de salvação, na economia do reino, onde, mesmo o mais pequeno, é revestido da incomparável dignidade de filho de Deus (v. 11). Jesus dá ainda a entender que a missão de João não se esgota em anunciar o Messias, mas que, no Baptista, será antecipado o destino doloroso do Messias.

Finalmente Jesus convida-nos a uma compreensão profunda da missão e da pessoa de João Baptista, à luz da Lei e dos Profetas, isto é, do projecto de Deus testemunhado nas Escrituras. Uma leitura atenta e um bom discernimento (v. 15) levar-nos-ão a compreender que João está na charneira entre as duas economias, está entre a expectativa e a realização, que nele se realiza o regresso de Elias, objecto de esperança na tradição bíblico-judaica, como precursor imediato do Messias.

Meditatio

«Eu, o Senhor, teu Deus tomo-te pela mão, e digo-te: ‘Não tenhas medo, Eu mesmo te ajudarei! ‘ Não tenhas medo … Eu próprio te ajudarei». Estas palavras, ou outras semelhantes são frequentemente repetidas na Sagrada Escritura. São dirigidas a Israel ou a pessoas concretas que Deus escolhe chama para servir o seu povo. «Não tenhas medo; Eu estarei cootiço-, diz Deus a Moisés, quando o encarrega de ir libertar o seu povo do Egipto. «Não tenhas medo; Eu estarei contiço-, diz o Senhor a Josué quando o põe à cabeça de umas tribos nómadas, as de Israel, para conquistar cidades fortificadas. «Não tenhas medo; Eu estarei contiço», diz o Senhor a Paulo em várias circunstâncias da sua vida apostólica e especialmente quando, no cárcere, aguarda a morte.

É esta Presença, que tudo transforma, que esperamos no Natal. Deus vem ao encontro do seu povo e de cada um de nós. Torna-se Emanuel, Deus connosco. Vem na fraqueza da condição humana, para nos socorrer, não pelo poder e pela força, mas pela solidariedade e pela proximidade connosco. Sem esta presença e proximidade de Deus, cada um de nós não passaria de um «pobre verrnesinho».
O encontro com Deus, meu redentor, meu go ‘et, só é possível com a minha colaboração livre. Implica a minha opção de fé, a decisão de me abrir à compreensão profunda das Escrituras que me põem em contacto com a radical novidade do plano de Deus manifestado na vinda de Jesus. Só assim o meu coração se renova.

A figura do Baptista é uma severa provocação a reconhecer a enorme oportunidade que me é oferecida para entrar no Reino e acolher o dom imenso da dignidade de filho de Deus, que ultrapassa toda e qualquer outra dignidade.
O texto termina com um forte convite a não demorar, a não me deixar paralisar pelo medo, mas a ir lesto ao encontro d ‘ Aquele que vem ao meu encontro e do Reino que gratuitamente me oferece.

A presença de Deus, a presença do Filho de Deus, no meio de nós, como libertador e salvador, realiza-se actualmente, de modo muito especial, na Eucaristia. Ela é a nossa Tenda do encontro, o nosso Templo de Jerusalém.

Sob os véus eucarísticos, Jesus vive no meio de nós o amor nas suas exigências fundamentais de totalidade e eternidade: tudo e sempre. Também para nós realiza, para além de toda a expectativa, a Sua promessa de não nos deixar órfãos (cf. Jo 14, 18), por meio de tantas presenças, mas nenhuma delas é mais completa e pessoal do que a presença eucarística. Daí a importância da Eucaristia na vida da
Igreja, na vida das nossas comunidades, na vida de cada um de nós: «Toda a nossa vida cristã e religiosa encontra a sua fonte e o seu ponto culminante na Eucaristia (cf. LG 11). A celebração do Memorial da morte e ressurreição do Senhor constitui para nós o momento privilegiado da nossa fé e da nossa vocação de Sacerdotes do Coração de Jesus» (Cst 80).

Oratio

Senhor Jesus, eu Te agradeço por teres vindo ao meu encontro, não de modo triunfal, mas de modo humilde e pobre. Eu Te agradeço por teres querido meter-te em todas as nossas situações humanas, particularmente nas difíceis. A certeza de que estás comigo, especialmente nas horas mais difíceis, quando a minha vida é mais semelhante à tua cruz, dá-me força e confiança extraordinárias e enche-me de alegria em situações onde seria mais natural a desolação.

Eu Te agradeço por estares comigo. Que saiba também estar contigo. Como diria Inácio de Loiola, meteste-te connosco e pedes-nos para estarmos contigo na pobreza e na obediência à vontade de Deus. Amen.

Contemplatio

(João Baptista) é um homem grave, sério e firme, que compreendeu, quis, e que permanece imutavelmente agarrado à sua convicção e à sua resolução.
«Não é um homem mo/emente vesttdo-, um homem sensual, amigo dos salões e dos lugares de prazeres; é o maior dos filhos nascidos da mulher. – Desde os dias de João Baptista, o Reino dos céus é tomado de assalto; os bravos arrebatam-no» (Mt 11).

Jesus faz-se o panegirista da força de alma de João Baptista. Que lição de energia nos dão os dois! As grandes obras, os grandes empreendimentos e o reino dos céus não são para as canas, mas para os cedros. A energia e o carácter temperam-se na vida austera, no hábito de se vencer a si mesmo, no desapego do mundo, das suas vaidades e das suas molezas. O Coração de Jesus e o de João Baptista foram mais fortes do que a morte.

É este o caminho que segui até aqui? Que é que tenho de fazer para superar a corrente de uma vida mole e tíbia? Não é preciso bruscamente romper com um hábito ou uma relação?

E pelas almas para as quais tenho uma missão de educação, que fiz até ao presente? Formei-as para a obediência, para a austeridade, para o sacrifício? Tomarei conta das suas vidas como da minha.(Leão Dehon, OSP 3, p. 208)

Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Não tenhas medo, Eu mesmo te ajudareil» (Is 41, 13)

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