26º Domingo do Tempo Comum - Ano B [atualizado]


29 de Setembro, 2024

ANO B

26.º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Tema do 26.º Domingo do Tempo Comum

A liturgia do 26.º Domingo do Tempo Comum apresenta várias sugestões para que os crentes possam purificar a sua opção e viver como autênticos discípulos de Jesus. Uma das mais significativas pede-lhes que não se considerem donos exclusivos do bem e da verdade, mas sejam capazes de reconhecer e aceitar a presença e a ação do Espírito de Deus através das pessoas de boa vontade que, independentemente da sua situação e enquadramento eclesial, são sinais vivos do amor de Deus no meio do mundo.

A primeira leitura, a partir de um episódio ocorrido enquanto o Povo de Deus caminhava pelo deserto do Sinai, convida-nos a reconhecer e a acolher a ação do Espírito de Deus no mundo e na vida dos homens, mesmo quando essa ação se concretize através de pessoas que nos parecem “improváveis”. O verdadeiro crente aceita sempre a iniciativa de Deus, seja como for que ela se apresente, e acolhe-a com um coração agradecido.

No Evangelho Jesus desafia os discípulos a porem de lado os interesses pessoais e de grupo e a viverem na lógica do Reino de Deus. Exorta-os a não serem uma comunidade fechada, sectária, intransigente, ciumenta, arrogante, e a acolherem de braços abertos todos aqueles que se dispõem a trabalhar por um mundo mais humano e mais livre; exorta-os também a não excluírem da dinâmica comunitária os pequenos e os pobres; pede-lhes, finalmente, que arranquem da própria vida todos os sentimentos e atitudes que são incompatíveis com a opção pelo Reino.

Na segunda leitura, um “mestre” cristão do séc. I, previne os crentes de que apostar a vida nos bens materiais é um mau negócio: eles desaparecem e não asseguram Vida definitiva. De resto, a obsessão com os bens materiais é fonte de injustiças e de sofrimento; e Deus nunca abençoará quem, por cobiça e ambição, explora e fere os seus irmãos.

 

LEITURA I – Números 11,25-29

Naqueles dias,
o Senhor desceu na nuvem e falou com Moisés.
Tirou uma parte do Espírito que estava nele
e fê-lo poisar sobre setenta anciãos do povo.
Logo que o Espírito poisou sobre eles,
começaram a profetizar;
mas não continuaram a fazê-lo.
Tinham ficado no acampamento dois homens:
um deles chamava-se Eldad e o outro Medad.
O Espírito poisou também sobre eles,
pois contavam-se entre os inscritos,
embora não tivessem comparecido na tenda;
e começaram a profetizar no acampamento.
Um jovem correu a dizê-lo a Moisés:
«Eldad e Medad estão a profetizar no acampamento».
Então Josué, filho de Nun,
que estava ao serviço de Moisés desde a juventude,
tomou a palavra e disse:
«Moisés, meu senhor, proíbe-os».
Moisés, porém, respondeu-lhe:
«Estás com ciúmes por causa de mim?
Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta
e que o Senhor infundisse o seu Espírito sobre eles!»

 

CONTEXTO

O “Livro dos Números” é assim designado na versão grega da Bíblia Hebraica pelas frequentes listas de censos, de registos e de listas, que aparecem ao longo do livro (começando inclusive com os números do recenseamento do Povo de Deus, tribo por tribo, feito por Moisés por mandato de Deus – cf. Nm 1,1-47). Apresenta, sem grande preocupação de coerência e de lógica, um conjunto de tradições sobre a estadia no deserto dos hebreus libertados do Egipto. São tradições de origem diversa, que os teólogos das escolas javista, elohista e sacerdotal utilizaram com fins catequéticos.

No seu estado atual, o livro está dividido em três partes. A primeira narra os últimos dias da estadia do Povo de Deus no Sinai, junto do “monte da Aliança” (cf. Nm 1,1-10,10); a segunda descreve a caminhada do Povo pelo deserto, em diversas etapas, desde o Sinai à planície de Moab, num trajeto geográfico difícil de seguir e de identificar (cf. Nm 10,11-21,35); a terceira apresenta a comunidade dos filhos de Israel instalada na planície de Moab, preparando a sua entrada na Terra Prometida (cf. 22,1-36,13).

Mais do que uma crónica de viagem do Povo de Deus desde o Sinai, até às portas da Terra Prometida, o Livro dos Números é um livro de catequese. Pretende mostrar que a essência de Israel é ser um Povo reunido à volta de Deus e da Aliança. Com algum idealismo, os autores do Livro dos Números vão descrevendo como, por ação de Javé, esse grupo informe de nómadas libertado do Egipto foi ganhando progressivamente uma consciência nacional e religiosa, até chegar a formar a “assembleia santa de Deus”. Ao longo do percurso geográfico pelo deserto, Israel vai fazendo também uma caminhada espiritual, durante a qual se vai libertando da mentalidade de escravo, para adquirir uma cultura de liberdade e de maturidade. O autor mostra como, por ação de Deus (que está sempre presente no meio do Povo que caminha para a Terra Prometida), Israel vai progressivamente amadurecendo, renovando-se, transformando-se, alargando os horizontes, tornando-se um Povo mais responsável, mais consciente, mais adulto e mais santo.

O episódio que a liturgia deste vigésimo sexto domingo comum nos apresenta como primeira leitura acontece pouco depois da partida do Sinai. Num lugar chamado Tabera (cf. Nm 11,3), o Povo revoltou-se por não ter comida em abundância e murmurou contra Javé. Moisés, cansado e desiludido, queixou-se ao Senhor de não conseguir aguentar o fardo da condução deste Povo rebelde (cf. Nm 11,11-15); então, Javé propôs a Moisés escolher setenta anciãos que, depois de ungidos pelo Espírito de Deus, ajudariam nas tarefas inerentes à condução do Povo (cf. Nm 11,16-24). É precisamente neste ponto que começa o nosso texto.

 

MENSAGEM

Os “anciãos” (em hebraico: “tzequenîm”) eram uma instituição no universo político e social do Povo de Deus. Eram os “chefes de família” que formavam, em cada cidade, uma espécie de “conselho” e que presidiam à comunidade. Possuíam um prestígio ímpar e participavam ativamente nas deliberações e tomadas de decisão importantes. Alguns veem nesta “instituição” o embrião do futuro “Sinédrio”.

Ora, o livro dos Números faz remontar à época do deserto a instituição dos “anciãos” como figura de referência comunitária: por indicação de Deus, foram designados setenta anciãos para ajudar Moisés na governação do Povo. Porquê setenta? Trata-se de um número simbólico para expressar a totalidade. Eles representam a totalidade do Povo.

Particularmente sugestiva é a descrição da forma como se deu a designação dos setenta anciãos: Deus tirou “uma parte” do Espírito que estava em Moisés e derramou-o sobre os anciãos designados. Entenda-se: Moisés possuía a plenitude do Espírito enquanto dirigia sozinho o Povo de Deus; porém, quando a responsabilidade da governação foi dividida com os setenta anciãos, também o Espírito que repousava em Moisés foi repartido por todos. A descrição, ainda que bizarra, dá a ideia, por um lado, da unidade do Espírito e, por outro, da partilha do mesmo Espírito por todos aqueles que Deus chama a uma missão em benefício da comunidade.

A presença do Espírito de Deus nos anciãos manifesta-se na capacidade de profetizar. Contudo, o exercício profético destes “anciãos” não se traduz na comunicação à comunidade de uma mensagem escrita ou falada, na linha dos grandes profetas pregadores e escritores que Israel conhecerá mais tarde; mas exprime-se por manifestações extáticas – arrebatamento, delírio coletivo, êxtase, exaltação – que eram percecionadas pela comunidade como sinais da presença e da força de Deus. Com os seus gestos e palavras arrebatados, esses anciãos-profetas mostram ao Povo que Deus está ali; e isso é, para o Povo, garantia de que Deus continua interessado em Israel e a conduzir Israel.

A história tem, contudo, um epílogo inesperado: Eldad e Medad, dois anciãos que faziam parte da lista dos setenta escolhidos, mas que não estavam presentes no momento da receção do Espírito, começaram também a profetizar. Josué, ajudante de Moisés, interpreta isso como uma usurpação de competências que lesa a autoridade da liderança; e pede a Moisés que lhe ponha cobro… A resposta que Moisés dá a Josué é a resposta de um homem magnânimo, livre, de espírito aberto: “estás com ciúmes por causa de mim? Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor infundisse o seu Espírito sobre eles!” (vers. 29). A reação de Moisés mostra que ele não está minimamente preocupado em guardar para si próprio os mecanismos de controle do poder; a sua única preocupação é que esse Povo que avança dificilmente pelo deserto em direção à liberdade possa fazer uma experiência forte de Deus e sinta a presença e a ajuda de Deus. Assim, “quantos mais, melhor”: quantos mais membros do Povo experimentarem e sinalizarem a presença de Deus, mais facilmente a comunidade irá atrás de Deus e das suas propostas.

O carisma profético não é um bem particular, propriedade pessoal de determinado líder; é um dom que Deus distribui como entender. Moisés aceita que Deus atue onde quer, como quer, e através de quem quer; aceita que Deus, na sua soberana liberdade e generosidade, escolha os seus colaboradores, até os mais “improváveis” para concretizar o seu projeto para o mundo e para os homens.

O desejo expresso por Moisés – um Povo inteiro que recebe o Espírito de Deus e que é animado por Ele – concretizar-se-á muitos anos mais tarde, no dia do Pentecostes, quando o Espírito de Deus se derramar sobre a totalidade do Povo da Nova Aliança (cf. At 2,16-21).

 

INTERPELAÇÕES

  • A imagem fundamental que o livro dos Números nos deixa – e que também está presente, de alguma forma, na primeira leitura deste vigésimo sexto domingo comum – é a imagem de um Povo que enfrenta as vicissitudes e crises do seu caminho histórico sob o olhar atento, solícito e cheio de amor do seu Deus. Israel não caminha sozinho pelo deserto da vida, apenas entregue ao acaso de um jogo de sorte ou azar; caminha com Deus, guiado por Deus, alimentado por Deus, levado ao colo por Deus… Ora, o caminho do Povo de Deus não terminou com a chegada à Terra da Promessa, mas continua hoje, neste tempo histórico que nos toca viver. Ao longo do caminho, continuamos a deparar-nos a cada passo com obstáculos de todo o tipo, que nos assustam, que nos roubam as forças, que nos impedem de avançar; mas, hoje como ontem, continuamos a contar com a presença de Deus, com a proteção de Deus, com a orientação de Deus, com o cuidado paternal de Deus. Nos momentos mais difíceis e decisivos, quando a tentação do desânimo nos roubar as forças, nos apertar o coração e nos encher os olhos de lágrimas, temos de levantar os olhos e de descobrir a presença de Deus ao nosso lado. Como é que enfrentamos o caminho que todos os dias temos de percorrer? Confiamos em Deus e sentimos que Ele nos acompanha com amor e cuidados de Pai?
  • O episódio do livro dos Números que escutamos este domingo refere o dom do Espírito a “setenta anciãos do Povo”. Os setenta anciãos representam a totalidade do Povo de Deus. O Povo de Deus é um Povo que vive e caminha animado pelo Espírito. Portanto, o Espírito de Deus não é privilégio exclusivo de alguns, não está reservado aos membros da hierarquia, mas é um dom que Deus oferece a todos. Ora, se o Espírito de Deus está presente e atua em todos os membros do Povo de Deus, a comunidade cristã deve ser o lugar e o espaço onde todos têm voz, onde todos devem participar nas tomadas de decisão, onde todos devem ser escutados no processo de descoberta dos caminhos e dos desafios de Deus. É isso que acontece de facto nas nossas comunidades cristãs? Estamos disponíveis para percorrer, em Igreja, um caminho de sinodalidade?
  • Mais: o Espírito de Deus não se cinge às fronteiras que definimos, às regras que inventamos ou aos interesses que defendemos pessoalmente… Na sua liberdade, Ele atua como quer e em quem quer. Nenhuma Igreja tem o monopólio do Espírito, nenhuma instituição pode controlá-lo ou acorrentá-lo. Por vezes, somos testemunhas da ação do Espírito no mundo através de pessoas em que não apostaríamos. Não temos que sentir-nos melindrados ou ciumentos se Deus age no mundo através de pessoas que não pertencem à nossa Igreja, ou mesmo através de pessoas cujas vidas não são política ou religiosamente corretas; temos é de reconhecer a presença de Deus nos gestos de amor, de paz, de justiça, de solidariedade, de partilha que todos os dias testemunhamos e agradecer ao nosso Deus a sua presença, a sua ação, o seu amor pelos homens e pelo mundo. Aceitamos, não apenas sem ciúmes, mas até com alegria e esperança, que o Espírito de Deus possa agir para além das fronteiras em que nos movemos, enquanto crentes?
  • A constatação de que ninguém tem o exclusivo do Espírito convida-nos a pôr de lado qualquer atitude de fanatismo, de intransigência ou de intolerância face às perspetivas diferentes com que somos confrontados. Os preconceitos, os tiques autoritários, as condenações à priori, os julgamentos apressados, os rótulos que colocamos nas pessoas, podem ser maneiras de amordaçar o Espírito. Como lidamos com as opiniões e perspetivas que não coincidem com a nossa forma de ver as coisas? Conseguimos abordar cada opinião diferente sem preconceitos, dispostos a perceber o ponto de vista do outro?
  • Moisés, o líder que levou o Povo de Deus até às portas da Terra da Promessa, foi capaz de reconhecer a sua debilidade e a sua incapacidade de “fazer tudo” e aceitou a ajuda da comunidade. Não teve medo de perder o controle do processo, nem dificuldade em aceitar a partilha das tarefas que o Senhor lhe tinha confiado. Com o seu exemplo, ele anima os responsáveis das nossas comunidades – tantas vezes sobrecarregados por uma imensidade de tarefas e funções – a aceitar a ajuda dos irmãos, a partilhar com outros a responsabilidade de conduzir a comunidade. Quando achamos que só nós somos capazes de fazer tudo bem, quando sentimos que a intervenção de outras pessoas é uma ameaça ao nosso poder, quando queremos controlar tudo porque não estamos dispostos a renunciar à nossa forma muito pessoal de ver as coisas, podemos estar a impedir os outros de crescer e a dificultar a ação do Espírito. Já pensámos nisso?

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 18 (19)

Refrão: Os preceitos do Senhor alegram o coração.

A lei do Senhor é perfeita,
ela reconforta a alma.
As ordens do Senhor são firmes,
dão sabedoria aos simples.

O temor do Senhor é puro
e permanece eternamente;
Os juízos do Senhor são verdadeiros,
todos eles são retos.

Embora o vosso servo se deixe guiar por eles
e os observe com cuidado,
quem pode, entretanto, reconhecer os seus erros?
Purificai-me dos que me são ocultos.

Preservai também do orgulho o vosso servo,
para que não tenha poder algum sobre mim:
então serei irrepreensível
e imune de culpa grave.

 

LEITURA II – Tiago 5,1-6

Agora, vós, ó ricos, chorai e lamentai-vos,
por causa das desgraças que vão cair sobre vós.
As vossas riquezas estão apodrecidas
e as vossas vestes estão comidas pela traça.
O vosso ouro e a vossa prata enferrujaram-se,
e a sua ferrugem vai dar testemunho contra vós
e devorar a vossa carne como fogo.
Acumulastes tesouros no fim dos tempos.
Privastes do salário os trabalhadores
que ceifaram as vossas terras.
O seu salário clama;
e os brados dos ceifeiros
chegaram aos ouvidos do Senhor do Universo.
Levastes na terra uma vida regalada e libertina,
cevastes os vossos corações para o dia da matança.
Condenastes e matastes o justo
e ele não vos resiste.

 

CONTEXTO

O mestre cristão do séc. I, “servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo” (Tg 1,1), que escreveu a “Carta de Tiago” para desafiar os seus irmãos na fé a viverem de forma autêntica o seu compromisso com Jesus e com o Evangelho, oferece-nos este domingo, como segunda leitura, um anúncio profético de castigo para os ricos. É uma das mais violentas condenações dos ricos que encontramos na Sagrada Escritura. Lembra alguns textos proféticos do Antigo Testamento (cf. Am 2,6-8; 5,11; 6,1-7; 8,4-8; Is 5,8-10; Jr 5,26-28; 22,13-14).

O texto integra e conclui um bloco (cf. Tg 4,11-5,6) onde o autor da Carta elenca, de forma muito prática, atitudes que devem ser evitadas por aqueles que pretendem viver com verdade os compromissos assumidos no dia em que foram batizados: falar mal dos irmãos (cf. Tg 4,11-12), viver no orgulho e na autossuficiência face a Deus (cf. Tg 4,13-17), viver para os bens materiais e praticar injustiças contra os pobres (cf. Tg 5,1-6).

Este “aviso” aos ricos deve ser colocado no quadro geral de uma época de profundas desigualdades e injustiças: ao lado de uma riqueza desmesurada e sem limites, vive e sofre a miséria mais aguda. A exploração do pobre e a violência contra os humildes eram, na época, fenómenos demasiado frequentes e que os cristãos conheciam bem. Aparentemente, os “ricos” referidos nesta admoestação são pessoas de fora e não pessoas que fazem parte da comunidade cristã.

 

MENSAGEM

A primeira parte do nosso texto (vers. 1-3), refere-se ao destino infeliz que espera os ricos. Como numa visão profética, o autor contempla o final dos tempos e descreve a sorte daqueles cujo objetivo principal na vida foi o acumular bens. Será que os bens, o poder, a consideração que eles gozaram neste mundo lhes servirá de alguma coisa, quando chegar o juízo final, o momento em que se joga o destino definitivo do homem?

Obviamente que não. Esses bens nos quais os ricos depositam agora toda a sua segurança e esperança são perecíveis (“as vossas riquezas estão apodrecidas e as vossas vestes estão comidas pela traça. O vosso ouro e a vossa prata enferrujaram-se…” – vers. 2-3a); é completamente insensato basear neles toda a existência. Quando eles desaparecerem, que ficará? Pior ainda: os bens materiais serão uma testemunha de acusação, que denunciará o orgulho e a autossuficiência dos ricos, a leviandade com que viveram, as injustiças e as violências que eles praticaram para os acumular (vers. 3b.c). Então, o destino final dos ricos será o mesmo dos bens que eles endeusaram: desaparecerão numa nuvem de nada. Os ricos, os que apostaram tudo nos bens precários, não terão acesso à Vida plena e eterna.

Na segunda parte do nosso texto (vers. 4-6), o autor refere-se à origem dos bens acumulados pelos ricos. A análise que faz não admite dúvidas nem meios-termos: a riqueza provém sempre da exploração dos pobres. Como exemplo, o autor cita o não pagamento dos salários devidos aos trabalhadores que ceifaram os campos dos ricos (vers. 4). Trata-se de um pecado que a Lei condena de forma veemente (cf. Lv 19,13; Dt 24,14-15). Não pagar o salário ao trabalhador é condená-lo à morte, bem como a toda a sua família (vers. 6). Os luxos e os prazeres dos ricos vivem assim da morte dos pobres.

Naturalmente, Deus não pode pactuar com a injustiça e, por isso, não ficará indiferente ao sofrimento do pobre e do oprimido. O clamor dos injustiçados sobe da terra até junto de Deus e faz com que Deus atue. Com ironia mordaz, o autor compara o rico ao cevado que, engordando, apressa o dia da sua própria matança (vers. 5): os ricos, vivendo no luxo e nos prazeres à custa do sangue dos pobres, estão a preparar para si próprios um destino de desgraça e de castigo.

A linguagem do autor da Carta de Tiago é violenta e sarcástica, bem ao estilo dos pregadores da época. Mas, para além da veemência das palavras e do colorido das imagens utilizadas, fica esta mensagem essencial: quem vive para os bens materiais e coloca neles o sentido da sua existência, dificilmente terá disponibilidade para acolher os dons de Deus e para acolher essa Vida plena que Deus quer oferecer aos homens. Por outro lado, Deus não tolera a exploração, a opressão do pobre; e quem conduzir a sua vida por caminhos de injustiça, não poderá fazer parte da família de Deus.

 

INTERPELAÇÕES

  • Os bens materiais são intrinsecamente maus? É claro que não. Os bens materiais são coisas ou objetos que usamos para satisfazer as nossas necessidades e para tornar mais confortável a nossa vida. O problema não está nos bens em si, mas na forma como lidamos com eles. Para muitas pessoas, os bens tornam-se uma obsessão. Põem neles a sua segurança e a sua realização. Ter mais e mais é, para elas, o grande objetivo, o critério decisivo para definir o êxito da sua existência. O autor da Carta de Tiago denuncia veementemente este tipo de aposta e de visão: “as vossas riquezas estão apodrecidas e as vossas vestes estão comidas pela traça”. São bens perecíveis, precários, que não garantem vida eterna. Colocar neles toda a esperança é uma aposta que revela vistas curtas, uma compreensão muito rasteira e materialista da existência. O ouro, a conta bancária, o carro de luxo, a casa de sonho, o equipamento de tecnologia de última geração, dão-nos satisfações imediatas e, talvez, um certo estatuto aos olhos do mundo; mas não saciam a nossa sede de Vida eterna. Como é que vemos os bens materiais? Que espaço ocupam eles nas nossas vidas? Até que ponto as nossas opções e comportamentos são condicionados pelo desejo de acumular bens materiais?
  • A priorização dos bens materiais conduz, muitas vezes, à exploração dos irmãos e torna-se fonte de injustiça. Acumular bens à custa da miséria e da exploração dos irmãos é, na perspetiva do autor da Carta de Tiago, um crime abominável e que Deus não deixará impune: “privastes do salário os trabalhadores que ceifaram as vossas terras. O seu salário clama; e os brados dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor do Universo”. Deus não aprova aqueles que não pagam o salário justo aos seus trabalhadores, mesmo que depois ofereçam somas consideráveis para a construção de uma igreja; Deus não fica do lado de quem especula com bens de primeira necessidade, mesmo que essa pessoa esteja envolvida nos nossos grupos paroquiais; Deus não entende e não abençoa quem inventa esquemas para não pagar impostos, mesmo que essa pessoa use o dinheiro que economizou para “pagar promessas” ou organizar as festas do padroeiro da paróquia. O desejo imoderado dos bens materiais alguma vez nos levou a cometer injustiças ou nos impediu de cumprir as obrigações que temos para com os nossos irmãos?
  • A obsessão com os bens materiais pode fazer-nos esquecer uma coisa fundamental: os bens vêm de Deus e são colocados por Deus à disposição de todos os seus filhos. Servem para que todos os filhos e filhas de Deus – e não apenas algumas – tenham uma vida digna. Trabalhamos para ter os bens necessários para viver, e isso está certo. Mas quando nos deixamos levar pela tentação de acumular mais do que o necessário, estamos a sonegar recursos que se destinam a todos. O açambarcamento egoísta de bens é uma injustiça que se dirige contra os outros filhos e filhas de Deus. Estamos conscientes disso? Estamos disponíveis para partilhar o pouco ou o muito que temos para que todos tenham o necessário para viver dignamente?

 

ALELUIA – cf. Jo 17,17b.a

Aleluia. Aleluia.

A vossa palavra, Senhor, é a verdade;
santificai-nos na verdade.

 

EVANGELHO – Marcos 9,38-43.45.47-48

Naquele tempo,
João disse a Jesus:
«Mestre,
nós vimos um homem a expulsar os demónios em teu nome
e procurámos impedir-lho, porque ele não anda connosco».
Jesus respondeu:
«Não o proibais;
porque ninguém pode fazer um milagre em meu nome
e depois dizer mal de Mim.
Quem não é contra nós é por nós.
Quem vos der a beber um copo de água, por serdes de Cristo,
em verdade vos digo que não perderá a sua recompensa.
Se alguém escandalizar algum destes pequeninos
que creem em Mim,
melhor seria para ele que lhe atassem ao pescoço
uma dessas mós movidas pró um jumento
e o lançassem ao mar.
Se a tua mão é para ti ocasião de escândalo, corta-a;
porque é melhor entrar mutilado na vida
do que ter as duas mãos e ir para a Geena,
para esse fogo que não se apaga.
E se o teu pé é para ti ocasião de escândalo, corta-o;
porque é melhor entrar coxo na vida
do que ter os dois pés e ser lançado na Geena.
E se um dos teus olhos é para ti ocasião de escândalo,
deita-o fora;
porque é melhor entrar no reino de Deus só com um dos olhos
do que ter os dois olhos e ser lançado na Geena,
onde o verme não morre e o fogo não se apaga».

 

CONTEXTO

Estamos ainda em Cafarnaum (cf. Mc 9,33), a cidade de pescadores situada na margem ocidental do Lago de Tiberíades, base de onde Jesus partia e chegava durante o seu ministério na Galileia. Jesus está “em casa” (provavelmente a casa de Pedro) rodeado pelos discípulos. A ida para Jerusalém está próxima, mas os discípulos continuam a dar mostras de não terem interiorizado os valores do Reino. Pouco antes Jesus tinha-lhes falado sobre os critérios que definem quem tem o primeiro lugar na comunidade do Reino (cf. Mc 9,33-34); e tinha-os convidado a viver de olhos voltados para os mais pequeninos, os mais débeis, os mais abandonados (cf. Mc 9,35-37). Será que a “lição” de Jesus tornou as coisas mais claras e varreu definitivamente do coração dos discípulos as pretensões de triunfos humanos, de prestígio, de honrarias, de privilégios?

Aparentemente não. João falou a Jesus de uma intervenção dos discípulos junto de um homem desconhecido, mas que pretendia atuar em nome de Jesus. Marcos conta-nos como é que Jesus reagiu à ação unilateral dos seus discípulos naquele caso concreto.

Mas o texto do Evangelho que a liturgia nos propôs neste vigésimo sexto domingo comum não se fica por aí. Acrescenta alguns outros versículos onde Marcos juntou “ditos” de Jesus sobre outras matérias. Provavelmente são “palavras” de Jesus, inicialmente independentes e pronunciadas em contextos diversos. Une-as o facto de serem exigências que os discípulos devem ter em conta se quiserem integrar a comunidade do Reino de Deus.

 

MENSAGEM

Num primeiro momento, ouvimos João expor a Jesus a situação que tinha acontecido um pouco antes e a forma como os discípulos lidaram com ela: “Mestre, nós vimos um homem a expulsar os demónios em teu nome e procurámos impedir-lho, porque ele não anda connosco”. Na opinião de João, a atuação dos discípulos parece perfeitamente justificável: a utilização do nome de Jesus por parte de alguém que não pertence ao grupo é um abuso que não pode ser tolerado (vers. 38-41). João parece muito decidido e cheio de certezas. Nem sequer está a pedir a opinião de Jesus; está apenas a informá-lo de algo que os discípulos decidiram e fizeram.

Este quadro deixa-nos perplexos. Antes de mais, porque João fala de forma impositiva e arrogante, como se o grupo tivesse o direito de tomar as decisões que achasse bem sem consultar o “Mestre”. Mas, mais grave ainda, porque a atuação dos discípulos apresenta laivos de autoritarismo e sectarismo que parecem estar em contradição total com aquilo que era a proposta de Jesus. Em que é que a ação daquele exorcista anónimo beliscava o “bom nome” de Jesus ou prejudicava o projeto do Reino? O que era mais importante: o prestígio do grupo ou a libertação dos seres humanos das cadeias que os impediam de ter Vida?

Tudo se torna mais claro se tivermos em conta que aqueles discípulos andavam permanentemente obcecados com os primeiros lugares, os postos de importância, as honras, os privilégios, os sonhos de poder e domínio. Tinham apostado tudo no seguimento de Jesus e queriam ter o exclusivo de Jesus para serem compensados pelo investimento feito. Por isso, não estavam dispostos a partilhar Jesus com eventuais concorrentes. Aquele desconhecido que atuava em nome de Jesus poderia vir a revelar-se um concorrente que lhes disputaria os primeiros lugares na estrutura política do Reino. Portanto, era preciso neutralizá-lo. Sejamos claros: os discípulos de Jesus apenas estavam preocupados em proteger os seus interesses pessoais ou de grupo. A atitude que tomaram mostra sectarismo, intransigência, intolerância, ciúmes, mesquinhez, inveja. Ora, esses valores são incompatíveis com o projeto do Reino e com o dinamismo do Reino.

Jesus, com paciência infinita, procura levar os discípulos a ultrapassar esta visão sectária e egoísta da missão: “não o proibais; porque ninguém pode fazer um milagre em meu nome e depois dizer mal de Mim. Quem não é contra nós é por nós” (vers. 39-40). A Jesus só o preocupa a libertação do homem de tudo aquilo que o desumaniza e lhe rouba a Vida. Quem luta pela justiça e faz obras em favor do homem, está do lado de Jesus e vive na dinâmica do Reino, mesmo que não esteja formalmente dentro de determinado grupo. Quem for capaz de fazer qualquer gesto, por mais humilde que seja, em favor de um seu irmão, pertence à comunidade do Reino e está vinculado a Jesus (vers. 41).

A comunidade de Jesus não pode ser uma comunidade fechada, exclusivista, monopolizadora, que amua e sente ciúmes quando alguém de fora faz o bem; nem pode sentir-se atingida nos seus privilégios e direitos pelo facto de o Espírito de Deus atuar fora das fronteiras institucionalmente definidas… A comunidade de Jesus deve ser uma comunidade que põe, acima dos seus interesses, a preocupação com o bem do homem; e deve ser uma comunidade que sabe acolher, apoiar e estimular todos aqueles que atuam em favor da libertação dos irmãos. O bem dos irmãos deve ser o fator decisivo, não a defesa de interesses pessoais ou corporativos.

Depois disto, a “lição” de Jesus orienta-se para outras temáticas (vers. 42-48). Como dissemos atrás, Marcos junta aqui diversos “ditos” de Jesus que nem sempre apresentam uma linha de continuidade temática

O primeiro desses “ditos” é um aviso àqueles que “escandalizam” os “pequeninos” (vers. 42). Na nossa cultura, “escandalizar” é protagonizar um mau exemplo ou um facto revoltante que melindra ou fere a suscetibilidade daqueles que testemunham essa ação. Na linguagem de Marcos, no entanto, “escandalizar” tem um significado um tanto diferente… O verbo grego “scandalidzô” está relacionado, em Marcos, com ser “pedra de tropeço”, com ser obstáculo para que alguém tome determinada atitude. Neste contexto, “escandalizar” seria fazer algo que impedisse alguém de aderir a Jesus, de seguir Jesus. Os “pequeninos” de que Jesus fala são os membros da comunidade que estão numa situação de dependência, de debilidade, de necessidade… Os membros da comunidade do Reino devem, portanto, abster-se de qualquer atitude que possa afastar alguém (especialmente os pequenos, os débeis, os pobres) da adesão a Jesus e ao caminho que Ele veio propor. Fazer algo que afaste uma dessas pessoas de Cristo e da comunidade é algo verdadeiramente inadmissível e impensável (a quem fizer isso, “melhor seria que lhe atassem ao pescoço uma dessas mós movidas por um jumento e o lançassem ao mar” – vers. 42).

O segundo “dito” de Jesus (vers. 43-48) refere-se à absoluta necessidade de arrancar da própria vida todos os sentimentos e atitudes que são incompatíveis com a opção por Cristo e pela sua proposta. Quando Jesus fala em cortar a mão (a mão é, nesta cultura, o órgão da ação, através do qual se concretizam os desejos que nascem no coração) ou de cortar o pé ou de arrancar o olho que é ocasião de pecado (o olho é, nesta cultura, o órgão que dá entrada aos desejos), está a sublinhar, com toda a veemência, a necessidade de atuar, lá onde as ações más do homem têm origem e eliminar na fonte as raízes do mal. Estando em jogo o destino último do homem, não se pode protelar ou adiar “cortes” importantes nas atitudes de egoísmo e de autossuficiência que afastam os homens de Deus e da Vida plena.

Há ainda, neste segundo “dito”, referências sucessivas a um castigo na “Geena”, “onde o verme não morre e o fogo não se apaga”, para aqueles que recusarem cortar com as atitudes e os sentimentos incompatíveis com o seguimento de Jesus. A palavra “Geena” vem do hebraico “Ge Hinnon” (“Vale do Hinnon”). Refere-se a um vale situado a sudoeste de Jerusalém, onde eram enterrados os mortos e onde, dia e noite, era queimado o lixo produzido pelos habitantes da cidade. Era considerado, portanto, um lugar maldito, impuro, tenebroso, que convinha evitar. Jesus usa aqui a imagem do “Ge Hinnon”, para falar de uma vida perdida, frustrada, destruída, maldita, sem sentido. Quem não for capaz de cortar com o egoísmo, o orgulho, a autossuficiência, é como se, em lugar de viver num lugar livre e feliz, estivesse condenado a viver no “Ge Hinnon”.

O que é que une estes “ditos” de Jesus e porque é que eles foram agrupados neste lugar? Marcos entendeu-os como indicações dirigidas aos discípulos sobre a necessidade de purificarem os seus critérios de vida e os seus valores, de forma a poderem integrar a comunidade do Reino. Os discípulos que não conformarem as suas vidas pelas orientações dadas por Jesus, não podem seguir atrás d’Ele no caminho para Jerusalém – isto é, no caminho que leva à cruz e à Vida nova da ressurreição.

 

INTERPELAÇÕES

  • A cada momento encontramos homens e mulheres de boa vontade que trabalham por um mundo mais justo e mais humano. São como aquele exorcista anónimo de que se fala no Evangelho deste domingo, que age para libertar os homens das escravidões que os prendem. Alguns deles são gente “improvável”, que não se identifica com nenhum grupo religioso, que não entra nas nossas igrejas, que não se revê na nossa moral católica, mas que, com generosidade e entrega, vai abrindo caminho ao Reino de Deus e à sua justiça. Como olhamos para esses irmãos que talvez se declarem agnósticos ou até mesmo ateus, mas que são capazes de gestos enormes de humanidade, de solidariedade, de compromisso, de entrega, de partilha, de amor? Com ciúme? Com ressentimento? Com hostilidade? Com desconfiança? Com admiração? Com gratidão? Aceitamos – com Jesus – que quem não é contra nós é por nós?
  • A reação dos discípulos diante daquele homem que “expulsava demónios” em nome de Jesus, revela ciúme, inveja, intolerância, fanatismo, intransigência, mesquinhez… Mas Jesus não cauciona a atitude dos discípulos. Quando intervém, deixa claro que não admite uma comunidade de discípulos fechada, exclusiva, apostada na defesa de interesses egoístas em detrimento do bem do ser humano, desconfiada em relação a tudo aquilo que está fora do espaço limitado em que o grupo se move, mais voltada para a proibição e a condenação do que para o acolhimento e a misericórdia, com tiques de autoritarismo e que se considera dona absoluta da verdade… Temos a posição de Jesus bem clara e definida? Como lidamos, enquanto Igreja de Jesus, com “o mundo”, essa realidade que nos desafia, que nem sempre nos entende, e que muitas vezes não concorda connosco? Posicionamo-nos decididamente contra o mundo, ou pretendemos aceitar o desafio de ser, no meio do mundo, “sal” que dá sabor e “luz” que ilumina e aquece?
  • Os discípulos de Jesus, no caso relatado no Evangelho deste domingo, parecem mais apostados em defender os seus interesses pessoais e corporativos do que em construir o Reino de Deus; parecem mais preocupados com a salvaguarda do seu estatuto e do seu prestígio do que em cuidar da libertação dos seres humanos escravos do sofrimento e da morte. Esta “tentação” pode hoje tornar-se presente de diversas formas nas nossas comunidades cristãs… Quando condenamos alguém pela forma como vive, estamos a defender a integridade da fé e os valores do Evangelho, ou estamos a impor a nossa visão pessoal do mundo e da vida? Quando julgamos aqueles que desafiam a comunidade a purificar-se e a procurar novos caminhos para responder aos desafios de Deus, estamos a manter a unidade da fé e a comunhão eclesial, ou estamos a defender o nosso comodismo, a nossa tranquilidade, o nosso bem-estar?
  • Com expressões algo radicais (“se a tua mão é para ti ocasião de escândalo, corta-a”; “se o teu pé é para ti ocasião de escândalo, corta-o”; “se um dos teus olhos é para ti ocasião de escândalo, deita-o fora”), Jesus exige dos discípulos o corte radical com os valores, os sentimentos, as atitudes que são incompatíveis com a opção pelo Reino. O verdadeiro discípulo de Jesus não vive acomodado e conformado, apenas preocupado com o seu bem-estar e a sua tranquilidade; mas está sempre atento e vigilante, procurando detetar e eliminar da sua existência tudo aquilo que lhe impede o acesso à Vida plena. Naturalmente, a renúncia ao egoísmo, ao comodismo, ao orgulho, aos esquemas pessoais, à vontade de poder e de domínio, ao apelo do êxito, é um processo difícil e doloroso; mas é também um processo libertador e gerador de Vida nova. O que é que precisamos de “cortar” da nossa vida, para nos identificarmos mais com Jesus e para merecermos integrar a comunidade do Reino?
  • O apelo de Jesus à sua comunidade no sentido de não “escandalizar” (afastar da comunidade do Reino) os pequenos, faz-nos pensar na forma como lidamos, enquanto pessoas e enquanto comunidade, com os pobres, os humildes, as crianças, os mais vulneráveis, aqueles que têm uma fé pouco consistente, aqueles que a vida marcou negativamente, aqueles que a sociedade marginaliza e rejeita… Eles descobrem, connosco, a alegria de integrar a comunidade de Jesus, ou o sofrimento de serem rejeitados, incompreendidos e magoados?

 

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 26º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

Ao longo dos dias da semana anterior ao 26º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. BILHETE DE EVANGELHO.

Quando Jesus chama, pede para deixar tudo para O seguir. Quando Jesus fala do Reino, anuncia um mundo totalmente novo. Quando Jesus pede para amar, propõe um regresso radical. Mas será necessário tempo aos seus discípulos para compreender tudo isso, e sobretudo para vivê-lo. Eles conhecerão hesitações, procurarão compromissos, porão condições. Ora, para Jesus, nada deve ser obstáculo à entrada no Reino de Deus. Jesus coloca o homem face à sua liberdade, ele deve escolher. Se ele escolheu o Reino, deve aceitar as suas exigências, que se resumem numa única palavra AMAR. O homem é convidado a amar com todo o seu ser: as suas mãos para partilhar, os seus pés para reencontrar, os seus olhos para olhar. Cabe ao homem fazer com que todo o seu ser responda à sua vontade de amar.

3. À ESCUTA DA PALAVRA.

“Mestre, nós vimos um homem a expulsar os demónios em teu nome e procurámos impedir-lho, porque ele não anda connosco»”. João quer delimitar as fronteiras do grupo dos discípulos, pôr em ordem, classificar os bons de um lado, os maus de outro, separar aqueles que estão “em regra” daqueles que estão à margem. Esta tentação de erguer barreiras entre os homens em nome de Deus é uma tentação mortal. É a tentação de todos aqueles que pretendem agir em nome de Deus, que se declaram, eles e apenas eles, detentores da Verdade e reivindicam serem eles os únicos verdadeiros fiéis de Deus. Todos os outros, que não pensam, que não agem como eles devem ser rejeitados, condenados. Essa tentação gera o fanatismo. Isso não é em vista do espírito! É uma realidade bem concreta no nosso mundo e também na história, antiga e atual, de praticamente todas as religiões. Mas Jesus conduz-nos para além disso. Sem dúvida diz Ele: “Eu sou a Verdade”, mas não reivindica qualquer poder. Recusa entrar no jogo de João: “Não impeçais este homem de expulsar os demónios em meu nome”. Porquê? Porque Jesus veio para reunir na unidade os filhos de Deus dispersos e, como dirá São Paulo, para destruir a barreira que separava os Judeus e os pagãos, para fazer a paz e reconciliar todos os homens com Deus e entre eles.

4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…

Com Maria, humilde serva… Para nos ajudar a amar sem orgulho, em quase início de mês de outubro, mês do Rosário: peçamos o apoio e a intercessão de Maria. Ela que foi a humilde serva do Senhor, pode ensinar-nos a humildade, o serviço, a disponibilidade, o amor.

 

UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA

Grupo Dinamizador:
José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
www.dehonianos.org

 

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