03º Domingo da Páscoa – Ano C [atualizado]

4 de Maio, 2025

ANO C

3.º DOMINGO DO TEMPO PASCAL

Tema do 3º. Domingo do Tempo Pascal

A liturgia do terceiro Domingo Pascal dirige uma vez mais o nosso olhar para o acontecimento capital que celebramos neste “grande domingo” que vai desde o dia de Páscoa até ao dia de Pentecostes: a ressurreição de Jesus. Convida-nos especialmente a descobrir como que é que a comunidade cristã deve agir para concretizar, no mundo e na vida dos homens, a obra salvadora de Jesus.

A primeira leitura mostra-nos como a comunidade cristã de Jerusalém testemunha a vida nova que brota de Jesus ressuscitado. Embora as autoridades judaicas tentem calá-los, os apóstolos estão decididos a oferecer a todos os habitantes de Jerusalém a “boa notícia” de Jesus. A verdade, a vitória definitiva de Deus sobre a morte e o pecado, têm de ser anunciados de cima dos telhados, a fim de que o mundo encontre nesse “evangelho” uma nova esperança.

Na segunda leitura Jesus, o “Cordeiro” imolado que venceu a morte e que trouxe aos homens a libertação definitiva, é aclamado pelos anjos, pelo povo de Deus, pela humanidade inteira, por todos os seres criados. Agora poderá concretizar-se o projeto de Deus de oferecer a sua salvação a todas as criaturas “que há no céu, na terra, debaixo da terra, no mar” e no universo inteiro. Somos convidados a associar-nos, também nós, a este cântico jubiloso.

O Evangelho oferece-nos uma parábola sobre a maneira de os discípulos de Jesus concretizarem a missão que lhes foi confiada. Chamados a libertar os seus irmãos do mar de sofrimento em que vivem mergulhados, os discípulos têm de contar com Jesus e de seguir as orientações de Jesus. Se ignorarem Jesus, cairão num ativismo estéril, sem sentido e sem objetivo; se agirem de acordo com as orientações de Jesus, serão verdadeiramente arautos da salvação de Deus.

 

LEITURA I – Atos 5,27b-32.40b-41

Naqueles dias,
o sumo sacerdote falou aos Apóstolos, dizendo:
«Já vos proibimos formalmente
de ensinar em nome de Jesus;
e vós encheis Jerusalém com a vossa doutrina
e quereis fazer recair sobre nós o sangue desse homem».
Pedro e os Apóstolos responderam:
«Deve obedecer-se antes a Deus que aos homens.
O Deus dos nossos pais ressuscitou Jesus,
a quem vós destes a morte, suspendendo-O no madeiro.
Deus exaltou-O pelo seu poder, como Chefe e Salvador,
a fim de conceder a Israel
o arrependimento e o perdão dos pecados.
E nós somos testemunhas destes factos,
nós e o Espírito Santo
que Deus tem concedido àqueles que Lhe obedecem».
Então os judeus mandaram açoitar os Apóstolos,
intimando-os a não falarem no nome de Jesus,
e depois soltaram-nos.
Os Apóstolos saíram da presença do Sinédrio cheios de alegria,
por terem merecido serem ultrajados
por causa do nome de Jesus.

 

CONTEXTO

O livro dos Atos dos Apóstolos, publicado na década de oitenta do primeiro século, é a segunda parte da obra de Lucas. Nele Lucas reflete sobre a fase final da história da salvação, aquilo que poderíamos chamar o “tempo da Igreja”: é o tempo em que Jesus deixa de estar fisicamente presente no mundo, mas em que a salvação de Deus continua a ser oferecida ao mundo através da comunidade dos discípulos de Jesus. Revestidos de Jesus, animados pelo mesmo Espírito que animava Jesus, os discípulos têm como missão continuar a obra que Jesus tinha começado. Eles são agora – com o seu testemunho, com o seu anúncio, com os seus gestos de cura e de libertação – o rosto visível do Deus salvador e libertador. O seu testemunho deve percorrer um “caminho” que vai de Jerusalém – no Antigo Testamento, o lugar onde devia manifestar-se definitivamente a salvação de Deus – até “aos confins da terra”, quer dizer, até Roma, o coração do mundo gentio. É precisamente esse o plano que Lucas desenvolve neste livro.

Na primeira parte do livro (cf. At 1,12-8,3), Lucas centra o seu olhar na comunidade cristã de Jerusalém. Depois da vinda do Espírito Santo (cf. At 2,1-13), os discípulos de Jesus decidiram assumir o risco de dar testemunho de Jesus e do seu projeto; deixaram a segurança da casa onde se escondiam, com medo das autoridades judaicas e começaram a dar falar de Jesus por toda a cidade. Esse testemunho era, no entanto, dado em condições de extrema dificuldade, por causa da oposição das autoridades judaicas.

A certa altura as autoridades religiosas judaicas, inquietas com a popularidade que os apóstolos estavam a alcançar, prenderam-nos (cf. At 5,17-18); contudo, uma intervenção de Deus libertou-os da prisão. Sem se deixarem intimidar, no dia seguinte eles estavam de novo no Templo a dar testemunho de Jesus (At 5,19-21). Os guardas do Templo, enviados pelo sumo sacerdote, trouxeram novamente os apóstolos à presença do Sinédrio (cf. At 5,22-26). Constituído por 71 membros, incluindo o sumo sacerdote, o Sinédrio era o Conselho supremo judaico, que tinha como função administrar a justiça, interpretando e aplicando a Torá, a Lei de Deus. É neste cenário que a primeira leitura neste terceiro domingo do tempo pascal nos situa.

 

MENSAGEM

O sumo sacerdote, dirigindo-se aos apóstolos, lembra-lhes a gravidade do seu procedimento. Eles tinham sido formalmente proibidos de dar testemunho de Jesus (cf. At 4,18); mas, além de não respeitarem a proibição, vão mais longe e acusam as autoridades judaicas de serem responsáveis pela morte de Jesus (vers. 28). A atuação dos apóstolos constitui um grave atentado contra a ordem social e contra as instituições respeitáveis que garantem essa ordem.

O autor dos Atos dos Apóstolos, no entanto, não parece dar importância especial à gravidade da acusação. O que lhe interessa é dar voz a Pedro e, através dele, formular o princípio básico que deve orientar os discípulos de Jesus ao longo do seu caminho histórico: “deve obedecer-se antes a Deus que aos homens” (vers. 29). A voz de Deus deve ser, para os discípulos de Jesus, a referência decisiva, a orientação fundamental, a verdade suprema.

Depois desta afirmação lapidar, Pedro formula, diante do Sinédrio, o kerigma cristão primitivo acerca de Jesus: “o Deus dos nossos pais ressuscitou Jesus, a quem vós destes a morte, suspendendo-O no madeiro. Deus exaltou-O pelo seu poder, como Chefe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e o perdão dos pecados. E nós somos testemunhas destes factos, nós e o Espírito Santo que Deus tem concedido àqueles que Lhe obedecem” (vers. 30-32). Esta fórmula não apresenta grandes novidades doutrinais em relação a outras formulações do kerigma cristão primitivo acerca de Jesus (apresentado de forma mais desenvolvida em At 2,17-36, 3,13-26 e 10,36-43): morte na cruz, ressurreição, exaltação à direita de Deus, a sua apresentação como salvador, o testemunho dos apóstolos por ação do Espírito. Neste contexto, apenas se acentua – mais do que noutras formulações – a responsabilidade do Sinédrio no escândalo da cruz e a contraposição entre a ação de Deus e a ação das autoridades judaicas em relação a Jesus.

Tudo considerado, a oposição das autoridades judaicas apenas serve para pôr em relevo a realidade sobre-humana da mensagem de Jesus, a sua força que não pode ser detida, o dinamismo dessa comunidade que, animada pelo Espírito, continua no mundo a missão de Jesus. Se Jesus foi rejeitado e morreu na cruz, é natural que os apóstolos, fiéis a Jesus e ao seu projeto, se defrontem com uma oposição semelhante. No entanto, os verdadeiros seguidores do projeto de Jesus, animados pelo Espírito, estão mais preocupados com a fidelidade ao caminho de Jesus do que às ordens ou interesses dos homens.

 

INTERPELAÇÕES

  • A morte de Jesus não foi um acidente infeliz, o resultado de uma circunstância fortuita; mas foi a conclusão de um longo processo de rejeição de um projeto que punha em causa os interesses egoístas dos senhores do mundo. Jesus sempre soube que o caminho que estava a percorrer conduzia à cruz; mas quis percorrê-lo até ao fim, pois estava consciente de que a proposta de Deus – de um mundo mais justo, mais humano, mais fraterno – tinha de ser apresentada aos homens, custasse o que custasse. Jesus foi condenado à morte porque nos seus olhos, nas suas palavras, nos seus gestos, no seu coração brilhava a verdade, a verdade de Deus, uma verdade que desmascarava a mentira em que os homens queriam viver. Entretanto, passaram-se vinte séculos, mas o cenário é o mesmo: a proposta libertadora de Jesus continua a ser rejeitada e combatida por aqueles que preferem viver na mentira. Os discípulos de Jesus, chamados a dar testemunho do Reino de Deus, não devem ficar surpreendidos nem inquietos com isso. Devem, com a força de Jesus, continuar a questionar e a pôr em causa tudo aquilo que gera opressão, sofrimento, escravidão e morte. Com a mesma frontalidade, com a mesma verdade, com a mesma confiança no Pai que Jesus tinha. Nós, os que optamos por seguir Jesus, estamos dispostos a isso?
  • Na leitura do livro dos Atos dos Apóstolos que a liturgia deste dia nos propõe, Pedro formula uma máxima que os discípulos de Jesus devem ter sempre presente, ao longo do seu caminho pela história: “deve obedecer-se antes a Deus do que aos homens”. Obedecer antes a Deus do que aos homens é a atitude de quem coloca Deus em primeiro lugar e decidiu construir toda a sua vida a partir de Deus. Depois dessa decisão fundamental, o crente está capacitado para enfrentar o medo, a mentira, as pressões, as intimidações, as promessas ilusórias, as tentações de todo o tipo… Sem se impressionar, mantém-se íntegro e fiel, conduzindo a sua vida à luz dos valores de Deus, mesmo que isso implique incompreensões ou perseguições. Sabe o que quer e nada o pode abalar. Já tomamos esta decisão de dar prioridade aos valores de Deus, de deixar-nos conduzir por Deus? Esforçamo-nos por discernir a voz de Deus no meio de tantas vozes que continuamente criam ruído de fundo à nossa volta e procuram seduzir-nos? Como reagimos diante de leis ou de ordens injustas ou moralmente inaceitáveis?
  • Em contexto difícil, os primeiros cristãos ousaram enfrentar todas as proibições e dar testemunho de Jesus. Consideraram que tudo o que Jesus tinha proposto era demasiado belo para cair no esquecimento. A proposta de Jesus tinha de ecoar no mundo e de chegar ao coração de todos os homens e mulheres. Nós, gente do séc. XXI, temos nas nossas mãos o mesmo tesouro que os nossos irmãos da comunidade cristã de Jerusalém entenderam partilhar com os seus concidadãos. Poderemos, por comodismo, por respeito humano, por medo, ou por outra qualquer razão, ocultá-lo dos nossos contemporâneos? Somos testemunhas de Jesus ressuscitado em todos os lugares onde a vida nos leva?

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 29 (30)

Refrão 1: Eu vos louvarei, Senhor, porque me salvastes.

Refrão 2: Aleluia.

Eu Vos glorifico, Senhor, porque me salvastes
e não deixastes que de mim se regozijassem os inimigos.
Tirastes a minha alma da mansão dos mortos,
vivificastes-me para não descer à cova.

Cantai salmos ao Senhor, vós os seus fiéis,
e dai graças ao seu nome santo.
A sua ira dura apenas um momento
e a sua benevolência a vida inteira.
Ao cair da noite vêm as lágrimas
e ao amanhecer volta a alegria.

Ouvi, Senhor, e tende compaixão de mim,
Senhor, sede Vós o meu auxílio.
Vós convertestes em júbilo o meu pranto:
Senhor meu Deus, eu Vos louvarei eternamente.

 

LEITURA II – Apocalipse 5,11-14

Eu, João, na visão que tive,
ouvi a voz de muitos Anjos,
que estavam em volta do trono, dos Seres Vivos e dos Anciãos.
Eram miríades de miríades e milhares de milhares,
que diziam em voz alta:
«Digno é o Cordeiro que foi imolado
de receber o poder e a riqueza, a sabedoria e a força,
a honra, a glória e o louvor».
E ouvi todas as criaturas
que há no céu, na terra, debaixo da terra e no mar,
e o universo inteiro, exclamarem:
«Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro
o louvor e a honra, a glória e o poder
pelos séculos dos séculos».
Os quatro Seres Vivos diziam: «Ámen!»;
e os Anciãos prostraram-se em adoração.

 

CONTEXTO

O livro do Apocalipse é uma reflexão de um “profeta” chamado João, exilado numa pequena ilha do mar Mediterrâneo chamada Patmos por causa da sua fé. Numa altura em que o imperador Domiciano está a levar a cabo em todo o império romano uma feroz perseguição contra os cristãos, João procura animar os seus irmãos na fé. Usando uma linguagem cifrada, carregada de símbolos (que era percetível para os cristãos, mas não para os seus perseguidores), João garante aos seus irmãos perseguidos que, depois de todos os sofrimentos que a perseguição os obriga a enfrentar, a vitória final será de Deus e de todos aqueles que se mantiverem fiéis ao projeto de Deus.

O livro do Apocalipse divide-se em duas partes. Na primeira (cf. Ap 2,1-3,22), nas sete cartas às sete igrejas, temos uma mensagem que convida à revisão de vida e à conversão. Na segunda (cf. Ap 4-22), temos uma leitura profética da história: o autor vai apresentar a história humana numa perspetiva de esperança, demonstrando que é Deus quem conduz a história e quem terá a última palavra no destino dos homens. No final, não será Domiciano a triunfar sobre Deus; mas será Deus a triunfar sobre Domiciano e sobre todos aqueles que tentam frustrar os projetos de Deus. Sendo assim, os cristãos perseguidos podem manter a esperança.

O texto que nos é proposto como segunda leitura neste terceiro domingo do tempo pascal, integra a segunda parte do livro. Essa segunda parte começa como uma visão onde nos são apresentadas as personagens centrais que vão intervir na história humana: Deus e “o cordeiro”. Deus, omnipotente e majestoso, está sentado no seu trono, rodeado pelo Povo de Deus e por toda a criação (cf. Ap 4,1-11). O “cordeiro” está de pé e tem os sinais de ter sido imolado; detém a totalidade do poder (“sete cornos”) e do conhecimento (“sete olhos”). Trata-se, evidentemente, de Cristo crucificado e ressuscitado, o Senhor do universo, aquele que venceu a morte e o pecado. Na mão direita de Deus está um livro, “escrito nas duas faces” (isto é, tudo nele é eloquente) e selado com sete selos” (Ap 5,1): é, simbolicamente, o “livro” onde está descrito o desígnio de Deus acerca da humanidade (cf. Ap 5,1-4). Esse livro vai ser lido e o seu conteúdo vai ser revelado; mas não é qualquer um que o pode fazer. O único que é digno de ler esse livro – ou seja, que pode revelar, proclamar, concretizar o projeto divino de salvação – é “o Leão da tribo de Judá, o rebento da dinastia de David” (Ap 5,5), o Messias de Deus, o Cristo que venceu a morte, o “Cordeiro” de Deus.

 

MENSAGEM

No centro da cena está o “Cordeiro”. Ele recebeu o livro da mão daquele que estava sentado no trono (Deus) e vai abri-lo para proclamar o projeto de Deus para o mundo e para os homens (cf. Ap 5,7).

Detenhamo-nos um pouco neste símbolo, o “Cordeiro”. A figura do “Cordeiro” é, na catequese tradicional de Israel, um símbolo com uma grande densidade teológica. Concentra e evoca três figuras: a do “servo de Javé” que, como manso cordeiro é levado ao matadouro (Is 53,6-7; cf. Jr 11,19; At 8,26-38); a do “cordeiro pascal”, cujo sangue foi, quando Deus decidiu tirar o seu povo do Egito, sinal eficaz de vitória sobre a escravidão (Ex 12,12-13.27;24,8; cf. Jo 1,29; 1 Cor 5,7; 1 Pe 1,18-19); e a do “cordeiro apocalíptico”, vencedor da morte, guia do rebanho, dotado de poder e de autoridade real (cf. 1Henoc, 89,41-46; 90,6-10.37; Testamento de José, 19,8; Testamento de Benjamim, 3,8; Targum de Jerusalém sobre Ex 1,5). O autor do Apocalipse recupera esta figura para, de uma maneira original e sintética, nos descrever o mistério de Cristo morto (imolado em favor de “muitos”, na linha do “servo de Javé”), ressuscitado (que nos libertou da escravidão da morte, na linha do “Cordeiro” pascal do Êxodo) e glorificado (colocado por Deus à sua direita e constituído Rei do mundo e da história, na linha do “Cordeiro” régio da literatura apocalítica).

Esse “Cordeiro” – imolado, libertador, rei – recebe, portanto, o “livro” das mãos de Deus. Nesse instante, inicia-se uma solene liturgia de entronização do “Cordeiro”. Todos os presentes participam nessa liturgia. Ouvem-se, em primeiro lugar, as vozes dos “quatro viventes” (que representam toda a criação) e dos vinte e quatro anciãos (que representam a totalidade do Povo de Deus): cantam a glória do “Cordeiro” que foi imolado, aquele que resgatou para Deus homens de toda a terra e que fez de toda essa gente resgatada um reino de sacerdotes (cf. Ap 5,8-10); logo se juntam ao coro os anjos que exaltam o “Cordeiro” e proclamam que Ele é “digno de receber o poder e a riqueza, a sabedoria e a força, a honra, a glória e o louvor” (Ap 5,11-12); e, ainda, se juntam ao coro “todas as criaturas que há no céu, na terra, debaixo da terra e no mar”, que proclamam que o “Cordeiro” é digno de receber “o louvor e a honra, a glória e o poder pelos séculos dos séculos”. É uma imensa liturgia cósmica, na qual a criação inteira celebra o Cristo imolado, ressuscitado, vencedor, e faz dele o centro do “cosmos”.

Terminado o cântico, o povo de Deus (“os anciãos”) prostra-se em adoração diante do “Cordeiro”. Ele é, para todos, o Rei do universo. Nós também somos convidados – especialmente neste tempo pascal – a participar nesta liturgia jubilosa e a prostrarmo-nos em adoração diante do “Cordeiro” que nos libertou do pecado e da morte.

 

INTERPELAÇÕES

  • João, o profeta de Patmos, põe no centro desta “liturgia cósmica” que se celebra junto do trono de Deus, o “Cordeiro”, Cristo ressuscitado. Ele é o único que é capaz de tomar na sua mão o “livro” que contém o plano de Deus para o mundo e para os homens e de o revelar; Ele é o único que é capaz de dar resposta às nossas dúvidas, às nossas incertezas, às nossas inquietações, aos pequenos e grandes dramas que preenchem a nossa existência; Ele é o único que pode apontar-nos o caminho que conduz à vida definitiva; Ele é aquele que ilumina a história dos homens com a luz de Deus. O “Cordeiro” está no centro de tudo e é para Ele que se voltam os olhos e os corações de todos os seres criados. Que lugar é que esse “Cordeiro” tem nas nossas vidas? Vivemos e caminhamos de olhos fixos n’Ele? O “Cordeiro” é, de facto, a referência fundamental à volta da qual toda a nossa vida se constrói? Escutamos e acolhemos no coração as palavras que Ele diz e deixamo-nos conduzir por elas? Os gestos que Ele fazia quando andava connosco pelos caminhos do mundo dizem-nos o que devemos fazer? Amamos Deus e os nossos irmãos como Ele amava? Lutamos, como Ele lutou, para fazer nascer um mundo mais justo, mais humano, mais fraterno?
  • João põe os anjos, o povo de Deus, todos os seres criados, a cantar o seu júbilo pela libertação que o “Cordeiro” – pela sua imolação, pela sua ressurreição, pela sua glorificação – lhes trouxe. O “Cordeiro” derrotou tudo aquilo que escraviza os seres criados, incluindo o pecado, a injustiça, a violência e a morte. No entanto, a natureza e a criação continuam a sofrer a opressão que resulta do egoísmo e da ambição dos homens; os países e os povos continuam a conhecer a escravidão que resulta da violência, da guerra, da fome, da corrupção; os mais pequenos e frágeis continuam a ser magoados pela injustiça, pela violência, pela maldade dos poderosos… O que precisamos de fazer, o que temos de transformar para que a libertação que o “Cordeiro” nos trouxe se torne efetiva, aqui e agora, e nos abra perspetivas de uma vida mais livre e mais feliz? Estamos disponíveis para seguir Jesus, o “Cordeiro”, no caminho que conduz à liberdade e à vida nova?
  • É muito bela a imagem da criação inteira a entoar um cântico de júbilo e de ação de graças pela ação salvadora e libertadora de Deus, concretizada através do “Cordeiro”. Esse cântico é a resposta de quem constata tudo o que Deus faz e se sente profundamente agradecido. Nós que beneficiamos da ação libertadora e salvadora de Deus, lembramo-nos de lhe mostrar o nosso agradecimento? Procuramos, por exemplo, no “Dia do Senhor”, juntarmo-nos com a nossa comunidade cristã para participar na liturgia eucarística, para proclamar o nosso cântico de ação de graças pelas maravilhas de Deus?

 

ALELUIA

Aleluia. Aleluia.

Ressuscitou Jesus Cristo, que criou o universo
e Se compadeceu do género humano.

 

EVANGELHO – João 21,1-19

Naquele tempo,
Jesus manifestou-Se outra vez aos seus discípulos,
junto do mar de Tiberíades.
Manifestou-Se deste modo:
Estavam juntos Simão Pedro e Tomé, chamado Dídimo,
Natanael, que era de Caná da Galileia,
os filhos de Zebedeu e mais dois discípulos de Jesus.
Disse-lhes Simão Pedro: «Vou pescar».
Eles responderam-lhe: «Nós vamos contigo».
Saíram de casa e subiram para o barco,
mas naquela noite não apanharam nada.
Ao romper da manhã, Jesus apresentou-Se na margem,
mas os discípulos não sabiam que era Ele.
Disse-lhes Jesus:
«Rapazes, tendes alguma coisa de comer?»
Eles responderam: «Não».
Disse-lhes Jesus:
«Lançai a rede para a direita do barco e encontrareis».
Eles lançaram a rede
e já mal a podiam arrastar por causa da abundância de peixes.
O discípulo predileto de Jesus disse a Pedro:
«É o Senhor».
Simão Pedro, quando ouviu dizer que era o Senhor,
vestiu a túnica que tinha tirado e lançou-se ao mar.
Os outros discípulos,
que estavam apenas a uns duzentos côvados da margem,
vieram no barco, puxando a rede com os peixes.
Quando saltaram em terra,
viram brasas acesas com peixe em cima, e pão.
Disse-lhes Jesus:
«Trazei alguns dos peixes que apanhastes agora».
Simão Pedro subiu ao barco
e puxou a rede para terra,
cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes;
e, apesar de serem tantos, não se rompeu a rede.
Disse-lhes Jesus: «Vinde comer».
Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar-Lhe:
«Quem és Tu?»,
porque bem sabiam que era o Senhor.
Jesus aproximou-Se, tomou o pão e deu-lho,
fazendo o mesmo com os peixes.
Esta foi a terceira vez
que Jesus Se manifestou aos seus discípulos,
depois de ter ressuscitado dos mortos.
Depois de comerem,
Jesus perguntou a Simão Pedro:
«Simão, filho de João, tu amas-Me mais do que estes?»
Ele respondeu-Lhe:
«Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo».
Disse-lhe Jesus: «Apascenta os meus cordeiros».
Voltou a perguntar-lhe segunda vez:
«Simão, filho de João, tu amas-Me?»
Ele respondeu-Lhe:
«Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo».
Disse-lhe Jesus: «Apascenta as minhas ovelhas».
Perguntou-lhe pela terceira vez:
«Simão, filho de João, tu amas-Me?»
Pedro entristeceu-se
por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez se O amava
e respondeu-Lhe:
«Senhor, Tu sabes tudo, bem sabes que Te amo».
Disse-lhe Jesus:
«Apascenta as minhas ovelhas.
Em verdade, em verdade te digo:
Quando eras mais novo,
tu mesmo te cingias e andavas por onde querias;
mas quando fores mais velho,
estenderás a mão e outro te cingirá
e te levará para onde não queres».
Jesus disse isto para indicar o género de morte
com que Pedro havia de dar glória a Deus.
Dito isto, acrescentou: «Segue-Me».

 

CONTEXTO

O capítulo 21 do Evangelho segundo João (de onde foi extraído o episódio que a liturgia deste terceiro domingo do tempo pascal nos propõe), apresenta significativas diferenças de linguagem, de estilo e até mesmo de teologia em relação aos vinte capítulos precedentes. Considera-se em geral que se trata de um apêndice acrescentado posteriormente, embora bastante cedo, pois aparece em todos os manuscritos mais antigos. A sua origem não é clara; no entanto, a existência de alguns traços tipicamente joânicos faz-nos pensar num complemento redigido por um membro da chamada “escola joânica”, criada em Éfeso à volta da figura do apóstolo João. O texto primitivo do Quarto Evangelho terminaria, provavelmente, com a conclusão de Jo 20,30-31.

A cena descrita é situada “junto do lago de Tiberíades”, também conhecido como Mar da Galileia. Não se explica como é que os discípulos de Jesus (que no final do capítulo 20 estavam em Jerusalém – cf. Jo 20,19-29) aparecem repentinamente na Galileia. A esta descontinuidade geográfica corresponde, no entanto, uma continuidade teológica: em Jo 20,19-29 Jesus ressuscitado tinha confiado aos discípulos uma missão (“assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós”); em Jo 21,1-14 os discípulos apresentam-se como comunidade em missão, atuando no cenário da vida quotidiana. Há indícios claros de que o episódio está carregado de simbolismo. Não se trata, com toda a certeza, de uma crónica factual de acontecimentos concretos, mas sim de uma catequese sobre a missão que a Igreja, após a partida de Jesus ao encontro do Pai, é chamada a concretizar no mundo. Reflete-se sobre a relação que essa “comunidade em missão” tem com Jesus, sobre o lugar de Jesus na atividade missionária da sua Igreja e também sobre as condições que é preciso assegurar para que a missão confiada aos discípulos dê frutos.

 

MENSAGEM

A primeira parte (vers. 1-14) é uma parábola sobre a missão da comunidade. Utiliza a linguagem simbólica e tem carácter de “sinal”, pois aponta para uma realidade que vai muito além da simples literalidade.

Começa por apresentar os discípulos: Simão Pedro, Tomé, Natanael, Tiago, João e mais dois não identificados (vers. 2). São sete; e o número sete é, na cultura hebraica, símbolo de totalidade, de plenitude. Eles representam a totalidade (“sete”) da comunidade de Jesus, empenhada na missão e disponível para ir ao encontro de todos os povos e nações.

Esta comunidade é apresentada a pescar. Ora, sob a imagem da pesca, os evangelhos sinópticos representam a missão que Jesus confia aos discípulos (“vinde comigo e farei de vós pescadores de homens” Mc 1,17). O “mar” era, na cultura judaica, o lugar onde estavam as forças maléficas que escravizam o homem e o impedem de ter vida em abundância. A missão dos discípulos de Jesus é, portanto, libertar os homens que vivem mergulhados no mar do sofrimento, da escravidão e da morte. Pedro toma a iniciativa de ir pescar, pois é ele que preside à missão. Os outros seguem-no incondicionalmente (vers. 3a). Aqui faz-se referência ao lugar proeminente que Pedro ocupava na animação da Igreja primitiva.

A pesca é feita durante a noite (vers. 3b). A noite é o tempo das trevas, da escuridão: significa a ausência de Jesus (“enquanto é de dia, temos de trabalhar, realizando as obras daquele que Me enviou: aproxima-se a noite, quando ninguém pode trabalhar; enquanto Eu estou no mundo, sou a luz do mundo” – Jo 9,4-5). Trabalhando “de noite”, com Jesus ausente, o trabalho desenvolvido pelos discípulos salda-se num rotundo fracasso (“sem Mim, nada podeis fazer” – Jo 15,5).

Umas horas depois chega a manhã e chega Jesus (vers. 4). Agora há luz, porque Jesus é a luz do mundo (“Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” – Jo 8,12). A presença de Jesus abre perspetivas novas ao trabalho que os discípulos levam a cabo. Jesus não está com eles no barco, mas sim em terra: não é Ele que lança as redes para a pesca; no “tempo da Igreja”, a ação de Jesus no mundo exerce-se por meio dos discípulos.

Concentrados no seu esforço inútil, os discípulos nem reconhecem Jesus quando Ele Se apresenta. O grupo está desorientado e dececionado pelo fracasso, posto em evidência pela pergunta de Jesus (“tendes alguma coisa de comer?” – vers. 5). Mas Jesus dá-lhes indicações e as redes enchem-se de peixes (vers. 6): o fruto deve-se à docilidade com que os discípulos seguem as indicações de Jesus. Sugere-se que o êxito da missão não se deve ao esforço humano, mas sim à presença viva e à Palavra do Senhor ressuscitado.

O surpreendente resultado da pesca faz com que um discípulo o reconheça (vers. 7a). Este discípulo – o discípulo amado – é aquele que está sempre próximo de Jesus, em sintonia com Jesus e que faz, de forma intensa, a experiência do amor de Jesus: só quem faz essa experiência é capaz de ler os sinais que identificam Jesus e perceber a sua presença por detrás da vida que brota da ação da comunidade em missão.

A refeição (pão e peixes assados nas brasas) com que Jesus acolhe os discípulos em terra (vers. 9) é um sinal do amor, do serviço, da solicitude de Jesus pela sua comunidade em missão no mundo: deve haver aqui uma alusão à Eucaristia, ao pão que Jesus oferece, à vida com que Ele todos os dias continua a alimentar a comunidade em missão.

O número dos peixes apanhados na rede (153) é de difícil explicação. É um número triangular, que resulta da soma dos números um a dezassete. O número dezassete não é um número bíblico; mas o dez e o sete são: ambos simbolizam a plenitude e a universalidade. Outra explicação é dada por São Jerónimo… Segundo ele, os naturalistas antigos distinguiam 153 espécies de peixes: assim, o número faria alusão à totalidade da humanidade (“peixes”), reunida na mesma Igreja. Em qualquer caso, significa totalidade e universalidade.

A história da pesca milagrosa no mar de Tiberíades, após a ressurreição de Jesus, é uma maravilhosa parábola sobre a missão da Igreja nascida de Jesus. Ao longo do caminho que a Igreja percorre pela história, Jesus tem de continuar a ser, a cada passo, o centro, a referência, o princípio e o fim. O projeto é d’Ele, a missão é d’Ele, as orientações veem d’Ele, os resultados dependem d’Ele. A comunidade de Jesus em missão tem de estar constantemente sintonizada com Jesus, tem de estar à escuta da Palavra e das orientações de Jesus; tem de fazer o que Jesus disser, de lançar as redes para onde Jesus mandar, de viver de acordo com o estilo e os valores que Jesus definiu. Uma Igreja que, algures no caminho, perdeu Jesus de vista, é uma Igreja que, independentemente do que fizer, nunca será sinal e testemunha da salvação de Deus juntos dos homens e mulheres que vivem mergulhados no mar do sofrimento e da morte.

A segunda parte do Evangelho deste domingo (vers. 15-19) traz-nos um diálogo entre Pedro e Jesus. Esse diálogo gira à volta de uma pergunta de Jesus, três vezes repetida: “Simão, filho de João, tu amas-Me?” (vers. 15.16.17). Aparentemente a pergunta de Jesus está relacionada com a missão que pretende atribuir a Pedro.

Durante a Paixão, em casa do sumo sacerdote, Pedro por três vezes negara conhecer Jesus (cf. Jo 18,15-18.25-27). Nessa altura, Pedro ainda não tinha aceitado ir com Jesus, de forma incondicional, no caminho do amor e da entrega. E agora? Agora, à tríplice pergunta de Jesus, Pedro responde com uma tríplice afirmação do seu amor. Ora, à medida que Pedro vai tomando consciência da importância do amor, Jesus vai-lhe confiando o seu rebanho: “apascenta as minhas ovelhas”. Quem está capacitado para presidir à comunidade cristã não é aquele que tem capacidade de liderança, ou aquele que tem uma boa preparação teológica; mas é aquele que ama muito a Jesus. Amando Jesus, estará pronto para cuidar, servir, alimentar, comunicar vida, talvez até dar a vida pelos seus irmãos. Quem ama Jesus, quem faz de Jesus o centro da sua vida, tratará com amor os seus irmãos. Na última ceia, Pedro tinha recusado que Jesus lhe lavasse os pés, pois não queria aceitar que o mais importante tivesse de servir humildemente (cf. Jo 13,8-9); mas agora Pedro ama verdadeiramente Jesus e não terá problema em servir e amar os seus irmãos, até às últimas consequências.

Pedro está, agora, preparado para seguir Jesus no caminho da entrega e do dom da vida por amor. Jesus refere-se a isso quando lhe diz: “em verdade, em verdade te digo: quando eras mais novo, tu mesmo te cingias e andavas por onde querias; mas quando fores mais velho, estenderás a mão e outro te cingirá e te levará para onde não queres”. Pedro morrerá na cruz, como Jesus e por amor a Jesus.

 

INTERPELAÇÕES

  • Esta “parábola” sobre um grupo de discípulos que se fartam de trabalhar sem conseguirem frutos que se vejam, faz-nos pensar naquilo que vemos todos os dias nessa Igreja que viaja pela história na barca de Pedro… Desenhamos organogramas complexos para dar conta da nossa “organização”, trabalhamos na preparação de elaborados planos pastorais, recorremos às tecnologias mais sofisticadas para apresentar a mensagem, lançamos mão de “truques” originais e sofisticados para captar a atenção das gentes, multiplicamos as nossas reuniões de programação, fazemos todo o tipo de cursos para adquirir as “ferramentas” que tornem mais eficaz a nossa intervenção no mundo, desenvolvemos um trabalho extenuante e nunca terminado… E, depois de todo esse esforço, os resultados ficam longe de todo o investimento feito: somos cada vez menos, as forças vão diminuindo, são sempre os mesmos a fazer as mesmíssimas coisas, cada dia há mais lugares vazios nas nossas celebrações, sentimo-nos confinados a um “nicho” que parece suscitar cada vez menos interesse nos nossos contemporâneos. Porquê? O que está a falhar? A mensagem de Jesus deixou de ter capacidade para interpelar os homens do séc. XXI?
  • O autor do Quarto Evangelho diz-nos claramente que o nosso ativismo e todos os nossos esforços serão inúteis se Jesus não estiver presente. Se Jesus não for a luz que nos ilumina e nos conduz, cansar-nos-emos para nada e navegaremos na escuridão, sem conseguir discernir o caminho; se não escutarmos as indicações de Jesus, seguiremos as nossas visões pessoais, tantas vezes limitadas e rasteiras, que não nos levam a lado nenhum; se não dialogamos com Jesus para conhecer o projeto que Ele tem para nós e para o mundo, estaremos apenas a tentar passar a nossa mensagem, a nossa própria visão do mundo, a nossa leitura sempre falível da vida, da história, e até mesmo do próprio Deus; se não tivermos sempre diante dos olhos o Evangelho de Jesus, cairemos facilmente na armadilha das ideologias, dos interesses egoístas, dos preconceitos, dos programas “modernos” mas vazios de sentido… Ao longo da viagem que estamos a fazer na barca de Pedro, onde anda Jesus? Distraímo-nos e esquecemo-lo, ou mantemos constantemente o contacto com Ele? Escutamos as indicações que Ele nos dá, ou fazemos questão de ser nós a determinar a direção em que vamos?
  • A missão é exigente e desgastante, o esforço enfraquece-nos. Os discípulos necessitam de se alimentar, de retemperar as forças. Jesus espera-os sempre na margem, prepara-lhes a mesa, convida-os a sentarem-se com Ele, mostra-lhes a sua solicitude, serve-lhes o pão eucarístico, o pão que alimenta para a vida eterna. O encontro com Jesus e com os irmãos à mesa da eucaristia é um acontecimento fundamental na vida e no caminho dos discípulos. O alimento que Jesus ressuscitado oferece aos seus sempre que eles se reúnem à volta da mesa da eucaristia, renova-lhes as forças. Alimentados pelo pão de Jesus, os discípulos podem voltar à faina e serem testemunhas, no meio dos homens, da salvação de Deus. Que lugar ocupa nas nossas vidas a eucaristia?
  • Entre os discípulos há um – o “discípulo predileto” de Jesus – que é o primeiro a reconhecer a presença do Senhor. Só ele consegue ver, nos sinais de vitalidade que brotam da missão comunitária, a indicação de que Jesus está por ali, a tornar fecundo o trabalho de todos. Este discípulo convida-nos a ver, nos sinais de esperança e de vida nova que acontecem à nossa volta, a presença salvadora e vivificadora do Ressuscitado; ensina-nos a olhar para os gestos de amor, de partilha, de doação, de serviço como manifestações desse dinamismo de amor que derrotou a morte e que é fonte de vida e de esperança para o mundo e para os homens. Somos capazes de reconhecer em todos os gestos de amor e bondade que testemunhamos os sinais de que Jesus ressuscitado continua a renovar o mundo e as nossas vidas? Somos, também nós, testemunhas de Jesus ressuscitado, com os nossos gestos?
  • Naquela maravilhosa conversa final entre Jesus e Pedro, fica bem clara uma ideia essencial: a vitalidade da fé não é um assunto de conhecimento de doutrina, de aceitação de dogmas, de rituais litúrgicos, de cumprimento das leis canónicas, mas sim de amor a Jesus. A pergunta que Jesus faz a Pedro (“tu amas-Me?”) é a questão mais decisiva a que um discípulo tem de responder. A fé cristã é, fundamentalmente, uma experiência de amor. Cremos realmente quando amamos Jesus, isto é, quando Jesus se vai convertendo no centro da nossa vida; e então passamos a escutá-lo, a viver ao seu estilo, a interessar-nos por aquilo que Ele quer, a construir toda a nossa existência à volta d’Ele. É então que a nossa vida se torna radicalmente outra. Confrontemo-nos, agora mesmo, com esta pergunta decisiva que Jesus nos dirige: “Tu amas-me?”

 

  • É porque Pedro ama Jesus que está pronto para animar e presidir à comunidade. Quem ama Jesus, procede como Ele e põe-se ao serviço dos seus irmãos. Na comunidade cristã, o essencial não é a exibição da autoridade, mas o amor que se faz serviço humilde, ao estilo de Jesus. Durante muito tempo, na comunidade de Jesus, interessamo-nos mais por tronos, privilégios, dignidades, vestes sumptuosas, poder hierárquico, do que pelo amor, pelo serviço, pela misericórdia, pelo acolhimento dos mais pobres e dos mais débeis. Isso faz algum sentido? Uma Igreja que copia e reproduz o estilo dos grandes do mundo será uma Igreja que caminha fielmente atrás de Jesus?

 

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 3º DOMINGO DO TEMPO PASCAL

(adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

Ao longo dos dias da semana anterior ao 3.º Domingo do Tempo Pascal, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. O RITO DE ASPERSÃO E A LEITURA DO EVANGELHO.

- Privilegiar o rito de aspersão… Durante todo o tempo pascal, que é um tempo batismal, procurar privilegiar o rito da aspersão: bênção da água, aspersão para lembrar o nosso Batismo, pedindo a Deus que nos mantenha fiéis ao Espírito que recebemos…

- O Evangelho dialogado… A cena descrita no Evangelho de hoje presta-se a uma leitura dialogada: narrador, Jesus, Pedro, os discípulos, o discípulo que Jesus amava.

3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.

Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

No final da primeira leitura:
Deus de nossos Pais, Tu que ressuscitaste o teu Filho Jesus, nós Te damos graças pelo testemunho do teu Espírito Santo e dos Apóstolos, que são os fundamentos da nossa fé em Jesus, nosso Salvador.

Nós Te pedimos: pelo teu Espírito, fortalece a nossa consciência para que tenhamos sempre a coragem de Te obedecer mais a Ti do que aos homens.

 

No final da segunda leitura:
Pai, nós Te damos graças com as multidões que estão junto de Ti: àquele que está sentado no Trono e ao Cordeiro, poder, sabedoria e força, bênção, honra, glória e louvor para sempre.

Nós Te pedimos pelos nossos irmãos e irmãs que sofrem e perdem a coragem, nas provações e nas perseguições. Que a visão do Cordeiro vencedor lhes permita erguer a cabeça.

 

No final do Evangelho:
Jesus ressuscitado, nós Te damos graças pelo perdão concedido a Pedro, pela continuação da pesca que confias à tua Igreja e pela refeição que nos preparas na outra margem, junto de Ti.

Quando Te declaramos «vamos contigo», mantém-nos firmes na nossa fé e fiéis a seguir-Te, nos caminhos onde Tu nos precedeste.

4. BILHETE DE EVANGELHO.

A vida retomou o seu ritmo para os apóstolos: reencontram a sua profissão, o seu barco e as redes, mesmo se a vida já não é como antes. Viram o Ressuscitado, Ele apareceu-lhes, reconheceram-n’O, o Espírito foi derramado sobre eles, mas a passagem do ver ao reconhecer não é evidente. João, já diante do túmulo vazio, viu e acreditou. É necessário o seu ato de fé proclamado – “É o Senhor!” – para que Pedro se lance à água para a pesca. Encontramos a espontaneidade tão humana de Pedro e, ao mesmo tempo, a sua espontaneidade de crente. Os discípulos fazem, nesse dia, a experiência da prodigalidade do amor de Deus: não conseguem arrastar as redes, dada a quantidade de peixe. Fazem também a experiência da universalidade da salvação: havia 153 grandes peixes, número que evoca, segundo S. Jerónimo, todas as espécies de peixes enumerados na época. É, então, graças a um sinal de que os discípulos reconhecem o Ressuscitado. Jesus Cristo não tem mais necessidade de dizer quem Ele é… Eles sabem que Ele é o Senhor.

5. À ESCUTA DA PALAVRA.

Este relato da última manifestação de Jesus ressuscitado aos seus apóstolos une três elementos: uma pesca milagrosa, uma refeição, a “investidura” de Pedro como pastor das ovelhas de Cristo. Este último capítulo do Evangelho de João é importante, porque nos faz voltar para o tempo da Igreja. Este relato da pesca milagrosa está mesmo no final do Evangelho, como que a dizer que as palavras de Jesus a Pedro, no texto de Lc 5,10, vão realizar-se agora: sem medo, doravante será pescador de homens. E no final do Evangelho de Mateus, Jesus diz para irem a todas as nações e fazer discípulos. No simbolismo dos 153 peixes, João quer dizer que é à totalidade das nações que os apóstolos são enviados. O tempo da missão apostólica começa. A refeição reenvia à refeição eucarística, mesmo se não há vinho. Mas não se faz sempre menção do vinho. Os discípulos de Emaús reconhecem Jesus apenas na fração do pão. Os primeiros cristãos chamavam à Eucaristia a “fração do pão”. Mas Jesus oferece peixe. Sabemos que este se tornou bem cedo o símbolo de Cristo. Em grego, as primeiras letras da expressão “Jesus, Filho de Deus, Salvador” formam a palavra “peixe” (“ichtus”). Desde então, oferecendo-lhes peixe, Jesus ressuscitado diz aos discípulos que é verdadeiramente com Ele, o Filho de Deus, o único Salvador de todos os homens, que estarão doravante em comunhão, cada vez que partirem o pão eucarístico. Enfim, Jesus sabia bem que a comunidade dos discípulos reunidos à sua volta deveria ter, depois da sua partida, um ponto visível de ligação, de autentificação. É a missão que Jesus confia a Pedro de ser o servidor e o garante da unidade da sua Igreja, de ser o pastor das suas ovelhas, a Ele, o Cristo. E este serviço só pode ser vivido no máximo amor. Pedro é escolhido, ele que negou três vezes o seu Mestre, para mostrar que, através de todas as fraquezas humanas dos pastores que se sucederão ao longo da história da Igreja, é Jesus que os guiará, o garante na fidelidade no nome do Pai.

6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.

Pode-se escolher a Oração Eucarística I, onde se alude à admissão na comunidade dos bem-aventurados Apóstolos e Mártires, de Pedro e de João, de João Baptista…

7. PALAVRA PARA O CAMINHO.

Manifestar a minha fé de batizado… Crer em Jesus ressuscitado implica testemunhá-l’O. Isso era verdade há 2000 anos. Ainda hoje continua a ser verdade… No concreto da minha vida quotidiana: família, trabalho, escola, escritório, fábrica, bairro… o que ouso arriscar em nome da minha fé em Cristo? Esta semana, se a ocasião se apresentar, com que palavra e com que ação vou manifestar o meu compromisso de batizado? «Pedro, tu amas-Me verdadeiramente?» Crer é verdadeiramente uma história de amor no quotidiano!

 

UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA

Grupo Dinamizador:
José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
www.dehonianos.org

 

Visualizar todo o calendário