Solenidade da Santíssima Trindade - Ano C [atualizado]

15 de Junho, 2025

ANO C

SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE

Tema da Solenidade da Santíssima Trindade

Quem é Deus? Como é Ele? A liturgia da Solenidade da Santíssima Trindade convida-nos a mergulhar no mistério de Deus e a contemplar o Deus que, sendo unidade, é família de três Pessoas em perfeita comunhão de amor. Por isso, chamamos-Lhe “Santíssima Trindade”. Por amor, Ele criou os homens e as mulheres; e, por amor, Ele convida-os a vincularem-se com essa comunidade de amor que é a família trinitária.

Na primeira leitura, uma “figura” que se identifica como a “Sabedoria de Deus”, fala-nos do Deus criador. Garante-nos, com a autoridade de quem “viu” nascer a criação, que Deus tudo fez com bondade, solicitude e amor. Convida-nos a descobrir, na beleza e na harmonia das obras criadas, a marca de Deus. A catequese neotestamentária falará de Jesus como a “Sabedoria de Deus”.

Na segunda leitura Paulo, escrevendo aos cristãos de Roma, proclama-lhes o “Evangelho de Deus”. Diz-lhes que Deus, no seu amor gratuito e incondicional, “justifica” todos os seus filhos. O amor de Deus falará sempre mais alto do que o nosso pecado. Paulo lembra-nos também que é através de Jesus o que os dons de Deus se derramam sobre nós e nos oferecem a vida em plenitude.

No Evangelho Jesus despede-se dos discípulos. Garante-lhes, o entanto, que eles não ficarão sozinhos no mundo. Irão receber o “Espírito da verdade”, que os conduzirá para a verdade. O Espírito lembrará constantemente aos discípulos os ensinamentos de Jesus e ajudá-los-á a encontrar as respostas para os desafios novos que a vida lhes trará. Através do Espírito, os discípulos continuarão ligados a Jesus e, através de Jesus, ligados ao Pai.

 

LEITURA I – Provérbios 8,22-31

Eis o que diz a Sabedoria de Deus:
«O Senhor me criou como primícias da sua atividade,
antes das suas obras mais antigas.
Desde a eternidade fui formada,
desde o princípio, antes das origens da terra.
Antes de existirem os abismos e de brotarem as fontes das águas,
já eu tinha sido concebida.
Antes de se implantarem as montanhas e as colinas,
já eu tinha nascido;
ainda o Senhor não tinha feito a terra e os campos,
nem os primeiros elementos do mundo.
Quando Ele consolidava os céus,
eu estava presente;
Quando traçava sobre o abismo a linha do horizonte,
quando condensava as nuvens nas alturas,
quando fortalecia as fontes dos abismos,
quando impunha ao mar os seus limites
para que as águas não ultrapassassem o seu termo,
quando lançava os fundamentos da terra,
eu estava a seu lado como arquiteto,
cheia de júbilo, dia após dia,
deleitando-me continuamente na sua presença.
Deleitava-me sobre a face da terra
e as minhas delícias eram estar com os filhos dos homens».

 

CONTEXTO

O “Livro dos Provérbios” apresenta diversas coleções de ditos, de sentenças, de máximas, de provérbios (“mashal”) onde se cristaliza o resultado da reflexão e da experiência (“sabedoria”) de várias gerações de “sábios” antigos (israelitas e alguns não israelitas). O objetivo desses provérbios é definir uma espécie de “ordem” do mundo e da sociedade que, uma vez apreendida e aceite pelo indivíduo, o levará a uma integração plena no meio em que está inserido. Dessa forma, o indivíduo poderá viver sem traumas nem sobressaltos que destruam a sua harmonia interior e o incapacitem para dar o seu contributo à comunidade. Ficará, assim, de posse da chave para viver em harmonia consigo mesmo e com os outros, e assegurará uma vida feliz, tranquila e próspera.

O livro apresenta-se como tendo sido composto por Salomão (cf. Pr 1,1), o rei “sábio”, conhecido pelos seus dotes de governação, pelos seus dons literários, por numerosas sentenças sábias (cf. 1 Re 3,16-28; 5,7; 10,1-9.23), e que se tornou uma espécie de “padrão” da tradição sapiencial… Na realidade, não podemos aceitar, de forma acrítica, essa indicação: a leitura atenta do livro revela que estamos diante de coleções de proveniência diversa, compostas em épocas diversas. Alguns dos materiais apresentados no livro podem ser do séc. X a.C., a época de Salomão (embora isso não nos garanta que venham do próprio Salomão); outros, no entanto, são bem mais recentes.

O texto que nos é proposto como primeira leitura neste domingo da Santíssima Trindade integra uma secção que poderíamos intitular, genericamente, “instruções e advertências” (cf. Pr 1,8-9,18). Trata-se de um conjunto de exortações e de instruções de um pai/educador, convidando o filho a adquirir a “sabedoria”.

É neste contexto que o “sábio” autor deste livro, recorrendo a um artifício literário, põe a “sabedoria”, como se fosse uma pessoa, a fazer um discurso de apresentação de si própria. O discurso (cf. Pr 8) pretende convencer o candidato a “sábio” a amar e a abraçar a “sabedoria”. Na primeira parte desse discurso (cf. Pr 8,1-11), o autor apresenta o “púlpito” de onde a “sabedoria” vai discursar (o cume das montanhas, a encruzilhada dos caminhos, as entradas das cidades, os umbrais das casas), os destinatários da mensagem (todos os homens) e apela à escuta das palavras que vai pronunciar; na segunda parte (cf. Pr 8,12-21), o autor apresenta as “credenciais” da “sabedoria” (ela possui a ciência, a reflexão, o conselho, a equidade, a força) e o prémio reservado àqueles que a acolhem; na terceira parte (cf. Pr 8,22-31) – que é a que nos interessa diretamente – o autor reflete sobre a origem da sabedoria e a sua função no plano de Deus.

 

MENSAGEM

Este “hino” à sabedoria apresenta-se em duas estrofes. A primeira (vers. 22-26) trata da “origem” da sabedoria; a segunda (vers. 27-31), comenta a intervenção da sabedoria na obra da criação. O poema é muito belo e de uma grande densidade teológica.

De onde vem a “sabedoria”? O que é que ela própria diz sobre a sua origem? O “sábio autor desta reflexão põe na boca da sabedoria a palavra hebraica “qânâny” (“gerou-me”) para expressar a responsabilidade de Deus na origem da “sabedoria” (vers. 22). A sabedoria foi gerada por Deus. Mais: ela é a primeira das obras de Deus, apareceu antes de qualquer outra coisa: antes da terra (vers. 23), dos abismos, das fontes das águas (vers. 24), das montanhas, dos outeiros (vers. 25), da terra, dos campos (vers. 26).

O seguimento da reflexão assenta na conjunção “quando”, repetida por diversas vezes: “quando” Deus “consolidava os céus”, ela estava presente; “quando” Deus traçava sobre o abismo a linha do horizonte (vers. 27), ela admirava o desenho de Deus; “quando” Deus pendurava as nuvens nos céus e “fortalecia as fontes dos abismos” (vers. 28), ela presenciava o trabalho de Deus; “quando” Deus “impunha ao mar os seus limites” e “lançava os fundamentos da terra” (vers. 29), ela estava ao lado de Deus.

Mas a sabedoria não se limitou a assistir passivamente à criação de Deus: ela colaborou na obra criadora de Deus. Como? Ela estava ao lado de Deus criador como “arquiteto” ou “artesão” (“amon” – vers. 30). Sugere-se, assim, uma colaboração ativa da sabedoria na criação (algumas versões antigas, no entanto, preferem a leitura “amun” – “criança” – o que leva à ideia da “sabedoria” como uma “criança” feliz que brinca e se deleita no meio da obra criada pelo seu “tutor”, que é Deus).

Finalmente, a “sabedoria” afirma que o seu agrado é estar “junto dos filhos dos homens” (vers. 31). A obra criadora de Deus chega ao seu ponto mais alto com a criação do homem e da mulher; e a sabedoria, enquanto colaboradora de Deus na obra criadora, sente que o seu papel é ajudar os homens a chegarem à sua plena realização.

De que modo poderá a sabedoria ajudar os homens a encherem as suas vidas de significado? Se olharmos bem para este hino, vemos que ele está delimitado por três palavras: “Javé” (vers. 22), “sabedoria” (“eu” – vers. 30) e “homens” (vers. 31). A sabedoria ocupa o espaço entre Deus e os homens. Ela tem origem em Javé, está em íntima relação com Deus, mas destina-se aos homens e gosta de estar com os homens. Ela intermedeia entre Deus e os homens. A partir da realidade criada que viu nascer, a sabedoria mostra aos homens como chegar a Deus. Ao apontar aos homens a criação, ela “obriga” os homens a olharem para o criador e a descobrirem o criador; espevita a inteligência dos homens, leva-os a Deus, atrai-os para Deus, põe-nos em contacto com Deus. A “sabedoria”, presente desde sempre na criação, revela aos homens a grandeza e o amor do Deus criador.

A tradição judaica irá identificar esta “sabedoria” com a Tora (cf. Ba 3,38-4,1; Pirkê Rabbí Eliezer, III, 2). Mas os autores neotestamentários irão um pouco mais além. Paulo chama a Jesus “sabedoria de Deus” (1 Cor 1,24) e “sabedoria que vem de Deus” (1 Cor 1,30); considera também que Jesus, como a “sabedoria” de Pr 8, existe antes de todas as coisas e desempenhou um papel privilegiado na criação do mundo (cf. Cl 1,16-17). Paulo, contudo, não é o único a fazer esta leitura. O evangelista João, no “prólogo” do Quarto Evangelho, atribui ao “Lógos”/Palavra (Jesus) os traços da “sabedoria” criadora de Pr 8: Ele existia antes de todas as coisas criadas e estava com Deus (cf. Jo 1,1); e Ele teve um papel preponderante na criação, pois sem Ele “nada veio a existir” (Jo 1,3).

Mais tarde, na linha da catequese cristã primitiva, os Padres da Igreja verão nesta “sabedoria”, pré-criada e anterior à restante obra de Deus, traços de Jesus Cristo ou do Espírito Santo.

 

INTERPELAÇÕES

  • No dia em que a liturgia nos convida a contemplar o mistério insondável de Deus, o “sábio” autor desse maravilhoso poema de Pr 8 fala-nos da criação. Sugere, nas entrelinhas desse poema, que o Deus que tudo criou com sabedoria é um Pai providente, cuidadoso e solícito, com um projeto bem definido para os homens e para o mundo. Não, não fomos atirados ao acaso para um buraco aberto no universo, cheio de perigos e de desordenada confusão; fomos instalados por Deus num “jardim” belo e harmonioso, dom de Deus aos seus filhos muito amados. A contemplação da criação poderá ajudar-nos a descobrir, na beleza e na harmonia das obras criadas, esse Pai cheio de bondade e de amor, eternamente preocupado em proporcionar-nos uma vida com sentido, plenamente realizada. No meio da azáfama, das preocupações, das tensões que enchem os nossos dias, somos capazes de levantar os olhos do chão, de olhar à volta e de nos sentirmos questionados e provocados pelas coisas belas que Deus criou para nós? A contemplação da criação tem sido para nós o “passaporte” para descobrirmos Deus, a sua bondade, a sua ternura, o seu amor por nós?
  • Quando olhamos “com olhos de ver” a criação, na sua radiosa beleza, na sua espantosa simplicidade, na sua fantástica complexidade, percebemos o amor de Deus. Só quem ama muito pode oferecer aos seus filhos uma obra assim, feita com tal cuidado, com tal solicitude, com tal arte. Tudo isso diz-nos claramente que Deus não é um concorrente do homem ou um adversário do homem. Às vezes somos tentados a ver em Deus alguém que desconfia de nós, que limita a nossa liberdade, que tem como passatempo favorito apontar e castigar as nossas faltas… A criação, na sua estonteante beleza e na sua delicada harmonia, fala-nos de um Deus cuja felicidade suprema é oferecer-nos a possibilidade de vivermos felizes. A nós, filhos e filhas amados de Deus, compete reconhecer o poder, a grandeza e o amor de Deus e entregarmo-nos confiadamente nas suas mãos. Quem é Deus para nós? Um adversário que nos vigia e controla? Um juiz impiedoso que não deixa passar nenhuma das nossas falhas? Um pai bondoso e compreensivo, uma mãe cheia de ternura e de amor, que faz tudo por nós?
  • O Deus criador entregou-nos a sua obra e pediu-nos que cuidássemos dela. Nem sempre temos feito isso. Nos últimos decénios, o desenvolvimento desordenado, a exploração descontrolada dos recursos da natureza, a poluição, a perda da biodiversidade, têm causado feridas incuráveis nessa criação boa que Deus nos colocou nas mãos. O egoísmo e a ganância dos homens estão a destruir, a um ritmo acelerado, o equilíbrio da criação. Gastamos demasiados recursos com o nosso estilo de vida consumista; preocupamo-nos apenas com o nosso bem-estar, sem pensar nas nossas responsabilidades para com as gerações futuras; não nos preocupamos com a sustentabilidade dos recursos naturais; subvertemos o projeto criador de Deus. Temos consciência desta realidade? Fará sentido continuarmos neste caminho? Estamos conscientes da responsabilidade que assumimos de cuidar da “casa comum” onde o homem vive e caminha?
  • A contemplação da criação de Deus leva à admiração, a admiração expressa-se no louvor e no agradecimento. A contemplação faz-nos perceber o lugar que ocupamos no coração de Deus e convida-nos a uma resposta de amor. Mantemos, apesar de todas as preocupações que enchem a nossa vida, a capacidade de nos extasiarmos diante das obras de Deus? A nossa resposta traduz-se no agradecimento sentido diante da generosidade e da solicitude de Deus? Expressamos esse agradecimento louvando a Deus por tudo o que Ele faz em nosso favor?

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 8

Refrão: Como sois grande em toda a terra,
Senhor, nosso Deus!

Quando contemplo os céus, obra das vossas mãos,
a lua e as estrelas que lá colocastes,
que é o homem para que Vos lembreis dele,
o filho do homem para dele Vos ocupardes?

Fizestes dele quase um ser divino,
de honra e glória o coroastes;
destes-lhes poder sobre a obra das vossas mãos,
tudo submetestes a seus pés:

 

Ovelhas e bois, todos os rebanhos,
e até os animais selvagens,
as aves do céu e os peixes do mar,
tudo o que se move nos oceanos.

 

LEITURA II – Romanos 5,1-5

Irmãos:
Tendo sido justificados pela fé,
estamos em paz com Deus,
por nosso Senhor Jesus Cristo,
pelo qual temos acesso, na fé,
a esta graça em que permanecemos e nos gloriamos,
apoiados na esperança da glória de Deus.
Mais ainda, gloriamo-nos nas nossas tribulações,
porque sabemos que a tribulação produz a constância,
a constância a virtude sólida,
a virtude sólida a esperança.
Ora a esperança não engana,
porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações
pelo Espírito Santo que nos foi dado.

 

CONTEXTO

Quando Paulo escreve aos Romanos, está a terminar a sua terceira viagem missionária e prepara-se para partir para Jerusalém. Sentia que tinha terminado a sua missão no oriente e queria levar o Evangelho ao ocidente. Contava em breve passar por Roma, a caminho de Espanha (cf. Rm 15,23-24).

Neste contexto, resolve escrever aos cristãos de Roma, estabelecer laços com eles e apresentar-lhes os principais problemas que o ocupavam, entre os quais sobressaía a questão da unidade (um problema bem presente na comunidade cristã de Roma, afetada por alguns problemas de relacionamento entre judeo-cristãos e pagano-cristãos). A Carta aos Romanos, escrita pelo ano 57 ou 58, é uma carta longa, serena, lúcida, onde Paulo apresenta uma espécie de resumo do “Evangelho” que tem anunciado.

Na primeira parte da Carta (cf. Rm 1,18-11,36), Paulo vai fazer notar aos cristãos divididos que o Evangelho é a força que congrega e que salva todo o crente, sem distinção de judeu, grego ou romano. Embora o pecado seja uma realidade universal, que afeta todos os homens (cf. Rm 1,18-3,20), a “justiça de Deus” dá vida a todos, sem distinção (cf. Rm 3,1-5,11); e é em Jesus Cristo que essa vida se comunica e que transforma o homem (cf. Rm 5,12-8,39). Batizados em Cristo, os cristãos morrem para o pecado e nascem para uma vida nova. Passam a ser conduzidos pelo Espírito e tornam-se filhos de Deus; libertados do pecado e da morte, produzem frutos de santificação e caminham para a Vida eterna.

No texto que a liturgia da Solenidade da Santíssima Trindade nos propõe como segunda leitura, Paulo refere-se à ação de Deus, por Cristo e pelo Espírito, no sentido de “justificar” todo o homem. O conceito de “justificação” é um conceito fundamental na teologia paulina.

 

MENSAGEM

As tensões vividas pelos cristãos de Roma afetavam a unidade e a comunhão. Os cristãos de origem judaica viam-se como os “filhos da Lei”, os verdadeiros herdeiros das promessas de Deus e olhavam com alguma sobranceria para os cristãos de outras origens étnicas; os gregos, convencidos da excelência da sua cultura e da sua sabedoria, julgavam estar em vantagem sobre os outros no conhecimento de Deus e dos caminhos da salvação; os romanos, cidadãos de pleno direito de um império que dominava o mundo, sentiam-se mais importantes do que quaisquer outros. Paulo, ciente deste estado de coisas, entende dizer aos membros da comunidade que são totalmente descabidas quaisquer pretensões de superioridade pois, diante de Deus, não há nenhum grupo que possa reivindicar, no plano da salvação, uma posição mais favorável. Todos são pecadores, todos estão marcados pela fragilidade. O que vale, a judeus, gregos e romanos, é a “justiça de Deus”, derramada de forma igual sobre todos.

Na linguagem bíblica, a “justiça” é, mais do que um conceito jurídico, um conceito relacional. Define a fidelidade de alguém a si próprio, à sua maneira de ser e aos compromissos assumidos no âmbito de uma relação. Ora, se Deus Se manifestou na história do seu Povo como bondade, misericórdia e amor, dizer que Deus é justo não significa dizer que Ele aplica os mecanismos legais quando o homem infringe as regras; significa, sim, que a bondade, a misericórdia, o amor, próprios do “ser” de Deus, se manifestam em todas as circunstâncias, mesmo quando o homem não foi correto no seu proceder. Paulo, ao falar do homem justificado, está a falar do homem pecador que, por exclusiva iniciativa do amor e da misericórdia de Deus, recebe um veredito de graça que o salva do pecado e lhe dá, de modo totalmente gratuito, acesso à salvação. Ao homem é pedido somente que acolha, com humildade e confiança, uma graça que não depende dos seus méritos e que se entregue completamente nas mãos de Deus (a “fé”). Este homem, objeto da graça de Deus, é uma nova criatura (cf. Gl 6,15): é o homem ressuscitado para a vida nova (cf. Rm 6,3-11), que vive do Espírito (cf. Rm 8,9.14), que é filho de Deus e co-herdeiro com Cristo (cf. Rm 8,17; Gl 4,6-7).

Paulo reflete, depois, sobre os frutos que resultam de tudo isto. Antes de mais, o homem “justificado” por Deus e que acolheu o dom de Deus vive em paz (Rm 5,1). Sente que, apesar das suas falhas, Deus não o condena. Essa paz chegou-nos através de Jesus Cristo, que nos revelou o amor do Pai e nos reconciliou com o Pai (vers. 2).

Reconciliados com Deus, vivemos na esperança (vers. 3-4). Enfrentamos as tribulações e as crises com a certeza de que caminhamos ao encontro de uma vida gloriosa e plena. A esperança permite-nos enfrentar a vida presente com a certeza de que as forças da morte não terão a última palavra e que as forças da vida acabarão por triunfar.

A nossa esperança fortalece-se sempre mais enquanto caminhamos na terra porque o Espírito nos faz experimentar, em cada passo do caminho, o amor infalível de Deus (vers. 5). Aquilo que marca a nossa vida com um selo decisivo é o amor de Deus. Esse amor não é uma invenção dos teólogos ou dos catequistas: Jesus Cristo ofereceu a sua vida “quando ainda éramos pecadores” para nos mostrar e comprovar o amor de Deus por nós. A certeza desse amor enche a nossa vida, muda a nossa perspetiva das coisas e faz-nos caminhar pela vida com os olhos postos na eternidade.

 

INTERPELAÇÕES

  • Na Solenidade da Santíssima Trindade, Paulo fala-nos de um Deus que nos “justifica” sem condições, que nos oferece a salvação apesar do nosso egoísmo, do nosso orgulho, da nossa autossuficiência, da nossa fragilidade, do nosso pecado. Não somos nós que conquistamos a salvação a golpes de renúncia e de ações meritórias. É Deus que na sua bondade nos oferece incondicionalmente uma salvação que não merecemos, mas que Ele insiste em dar-nos. O nosso Deus é um Deus que funciona de acordo com uma lógica que ultrapassa absolutamente as nossas contas, as nossas matemáticas e as nossas gramáticas. A lógica que Deus usa para lidar connosco, é a lógica do amor; e o amor é assim: dá-se sem cálculos, a fundo perdido. Resta-nos acolher esse amor e entregarmos a nossa vida, com total confiança, nas mãos de Deus. Estamos conscientes disto? Sabemos que Deus não nos deve nada, mesmo que nós vamos fazendo aqui e ali, com a ajuda d’Ele, alguns gestos meritórios? Acreditamos que a salvação é um puro dom de Deus, oferecido sem condições? Aceitamos o amor de Deus, deixamo-nos abraçar pela misericórdia infinita de Deus?
  • Jesus Cristo, o Filho amado de Deus, veio ao nosso encontro, vestiu a nossa realidade precária e frágil, acompanhou-nos nos caminhos do mundo para nos mostrar, com palavras humanas, com gestos concretos de misericórdia e de perdão, com o dom de si próprio até ao extremo, o amor que o Pai nos tem. Ao voltar para o Pai, Jesus confiou aos discípulos que o seguiram até Jerusalém, a missão de serem testemunhas, no meio dos homens, do amor infinito do Pai. Somos efetivamente testemunhas do amor de Deus no meio dos nossos irmãos e irmãs? Os nossos gestos revelam o Deus que ama sem medida cada homem e cada mulher, independentemente das suas falhas, das suas “diferenças”, da sua “pobreza”?
  • Paulo refere-se também ao Espírito Santo: é aquele que, ao longo do caminho que percorremos todos os dias, nos faz experimentar o amor de Deus. O Espírito Santo torna palpável o amor de Deus nos vários passos e momentos do nosso caminho. Assim “acompanhados”, enfrentamos as vicissitudes da vida com o coração cheio de esperança. Acreditamos firmemente que o amor de Deus será sempre mais forte dos que os acidentes imprevistos, do que as nossas hesitações, do que as nossas escolhas estúpidas, do que os nossos passos mal dados. Caminhamos pela vida seguros do amor incondicional de Deus? A certeza do amor de Deus anima-nos e alimenta a nossa esperança, a nossa confiança, a nossa alegria?

 

ALELUIA – cf. Apocalipse 1,8

Aleluia. Aleluia.

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo,
ao Deus que é, que era e que há de vir.

 

EVANGELHO – João 16,12-15

Naquele tempo,
disse Jesus aos seus discípulos:
«Tenho ainda muitas coisas para vos dizer,
mas não as podeis compreender agora.
Quando vier o Espírito da verdade,
Ele vos guiará para a verdade plena;
porque não falará de Si mesmo,
mas dirá tudo o que tiver ouvido
e vos anunciará o que está para vir.
Ele Me glorificará,
porque receberá do que é meu
e vo-lo anunciará.
Tudo o que o Pai tem é meu.
Por isso vos disse
que Ele receberá do que é meu
e vo-lo anunciará».

 

CONTEXTO

Naquela noite de quinta-feira do mês de Nisan do ano 30, Jesus está à mesa com os discípulos na sala de uma casa de Jerusalém. Daí a pouco vai ser preso pelos soldados do templo e levado diante do Sinédrio para ser julgado e condenado. No dia seguinte será crucificado, no cimo de uma pequena colina situada fora das muralhas da cidade. Há já algum tempo que Jesus tinha adivinhado esse desfecho; no entanto, não fugiu, nem se escondeu. O que fez foi organizar uma ceia de despedida com os seus amigos mais próximos. Agora Jesus está à mesa, rodeado pelos discípulos, a comer e a conversar com eles. Procura aproveitar as poucas horas que lhe restam para lembrar aos discípulos as coisas mais importantes que lhes tinha ensinado. Tudo o que Ele diz e faz nessa noite soa a despedida, a testamento. Os discípulos nunca mais vão esquecer as palavras e os gestos de Jesus nesse momento solene e grave em que não havia tempo senão para as coisas verdadeiramente importantes.

Jesus não parece muito preocupado com o que lhe vai acontecer. Nessa noite a sua grande preocupação parece ser aquele grupo de amigos que se ligaram a Ele e que o seguiram desde a Galileia a Jerusalém. Que vai ser deles? Serão capazes, quando Jesus lhes for tirado, de tomar aquele projeto nas mãos e de anunciar o Reino de Deus em todos os lados onde a vida os levar? Eles que são tão timoratos e descuidados, serão capazes de enfrentar sozinhos os poderes de morte que dominam o mundo e que se opõem ao projeto de Deus? Estarão os discípulos suficientemente preparados, suficientemente esclarecidos, para se tornarem testemunhas do Evangelho que escutaram de Jesus?

Jesus quer que os discípulos entendam que não ficarão sozinhos no mundo, apenas entregues às suas frágeis forças. Reiteradamente (cf. Jo 14,15-17; 14,25-26; 15,26-27; 16,5-11; 16,12-15) fala-lhes do Espírito Santo, a força de Deus que vai ser derramada sobre eles e que lhes dará a capacidade e o discernimento para continuarem o projeto do Reino.

 

MENSAGEM

Por cinco vezes, no discurso de despedida que fez aos discípulos na véspera da sua morte, Jesus refere-se à vinda do Espírito Santo. Antes do trecho que o Evangelho deste dia nos convida a escutar, Jesus já lhes tinha falado do “Paráclito”, o “Espírito da verdade” que o Pai vai enviar (Jo 14,16-17), que lhes recordará e ensinará tudo o que tinham escutado (Jo 14,26), que dará testemunho em favor de Jesus (Jo 15,26) e que apresentará “ao mundo provas irrefutáveis de uma culpa, de uma inocência e de um julgamento” (Jo 16,7-8). Agora, retomando uma última vez o mesmo tema, Jesus reafirma o que já tinha dito sobre o Espírito nas quatro referências anteriores. A repetição, contudo, serve para tranquilizar os discípulos e funciona como uma garantia absoluta: aconteça o que acontecer eles não devem ter medo, pois caminharão pela vida e enfrentarão a história amparados pela força do Espírito.

Nesta quinta alusão à vinda do Espírito, Jesus começa por afirmar que ainda tem muitas coisas para dizer aos discípulos, mas que eles, naquele momento, não são capazes de as entender (vers. 12). Contudo, o “Espírito da verdade” guiá-los-á para a verdade plena, comunicar-lhes-á tudo o que disser respeito a Jesus, e ajudá-los-á a interpretar tudo o que está para vir (vers. 13). O que é que isso quer significa?

O “Espírito da verdade” não virá dizer aos discípulos coisas diferentes das que Jesus tinha dito. O que Ele comunicará aos discípulos é aquilo que ouviu de Jesus (Ele “não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido”). No entanto, houve coisas que Jesus propôs e que os discípulos sempre se recusaram a entender. Os discípulos de Jesus ainda não tinham assimilado a lógica de Deus: não tinham conseguido entender que a melhor maneira de triunfar era gastar a vida a servir os irmãos, de forma simples e humilde; não tinham conseguido aceitar que o projeto de salvação de Deus tivesse de passar pelo fracasso da cruz, pela entrega de Jesus a uma morte infame; não tinham conseguido perceber que fosse necessário dar a vida até ao extremo para chegar à vida verdadeira. Ora, o Espírito irá ajudá-los, gradualmente, a entender essas verdades aparentemente tão ilógicas que Jesus lhes tinha dito sobre o caminho que leva à vida nova.

Além disso, o Espírito Santo irá também anunciar aos discípulos “o que está para vir”. Jesus refere-se aqui, certamente, ao caminho que os discípulos vão percorrer na história, até ao final dos tempos. Ao longo do caminho, eles irão enfrentar desafios exigentes, outras realidades, tempos que exigirão novas respostas. Como lhes será possível, no tempo da Igreja, continuar a captar, na fé, a Palavra de Jesus e a guiar a vida por ela? Segundo Jesus, o Espírito da verdade fará com que a proposta de Jesus continue a ecoar todos os dias na vida da comunidade e no coração de cada crente; ensinará os discípulos a entender a nova ordem que se segue à cruz e à ressurreição; ajudará os discípulos a perceber o que devem fazer para continuarem fiéis a Jesus e ao projeto do Reino de Deus. O Espírito, sempre presente na vida e no caminho dos discípulos, não apresentará uma doutrina nova, mas fará com que a Palavra de Jesus seja sempre a referência da comunidade em caminhada pelo mundo.

Aonde irá o Espírito buscar essa verdade que vai transmitir continuamente aos discípulos? Naturalmente, ao próprio Jesus (“receberá do que é meu e vo-lo anunciará” – vers. 14). Assim, Jesus continuará em comunhão, em sintonia com os discípulos, comunicando-lhes a sua vida e o seu amor. Tal é a função do Espírito: realizar a comunhão entre Jesus e os discípulos em marcha pela história.

A última expressão deste texto (vers. 15) sublinha a comunhão existente entre o Pai e o Filho. Essa comunhão atesta a unidade entre o plano salvador do Pai, proposto nas palavras de Jesus e tornado realidade na vida da Igreja, por ação do Espírito.

 

INTERPELAÇÕES

  • Está bem patente, neste texto, que o projeto de salvação que Deus tem para os homens e para o mundo veio ao nosso encontro e entrou na nossa história através de Jesus. Jesus “contou-nos” esse projeto em palavras simples, que escandalizavam os “letrados”, mas que a gente do campo entendia; mostrou-nos em gestos tocantes de ternura e de misericórdia, o imenso amor de Deus por nós; disse-nos, dando a vida até à última gota de sangue, como é que devíamos viver e amar. Apesar de a sua mensagem ser clara, não foi acolhida por todos. Os amigos mais queridos de Jesus acharam muitas vezes que Ele pedia coisas impossíveis; as autoridades religiosas judaicas receavam que Ele alterasse a ordem estabelecida e fizeram tudo para o calar. Jesus morreu só, abandonado por todos, exceto algumas amigas que quiseram ficar com Ele até ao seu último suspiro. Dois mil anos depois, o anúncio de Jesus continua a fazer-se ouvir. Mas, hoje como ontem, as suas palavras encontram resistência e o seu estilo de viver e de amar continua a contar pouco para muitos dos que se dizem seus discípulos. O projeto de salvação de Deus, revelado em Jesus, faz sentido para nós? Vamos atrás de Jesus, como discípulos, e moldamos a nossa vida e as nossas opções por aquilo que o ouvimos dizer e que o vemos fazer?
  • Jesus, quando se despediu dos seus discípulos, prometeu-lhes o Espírito Santo, o “Espírito da verdade”, aquele “sopro de Deus” que os ajudaria a vencer os medos, os preconceitos, as prevenções, o egoísmo, a autossuficiência, todas as resistências às indicações de Deus. Essa é, efetivamente, uma das funções do Espírito: ajudar-nos a dizer “não” a tudo aquilo que nos impede de caminhar com Jesus. Deparamo-nos a cada passo com “vozes” que nos propõem caminhos diversos dos que Jesus nos apontou; chocamos a cada instante com pessoas com “propostas irrecusáveis” para construirmos uma vida plena de êxitos; cruzamo-nos a cada momento com propostas que nos convidam a viver em circuito fechado, preocupados apenas com o nosso bem-estar, a nossa segurança, o nosso triunfo pessoal. Neste cenário, que importância damos ao “Espírito da verdade” que nos fala de Jesus, dos valores que Ele nos propôs, das opções que Ele fez, do estilo de vida que Ele levou?
  • Jesus também disse aos discípulos que o “Espírito da verdade” os ajudaria a situar-se no mundo, dando a resposta adequada, em cada tempo, aos desafios que forem surgindo. A comunidade de Jesus, ao longo do caminho, irá encontrar cenários novos, desafios novos, exigências novas. Terá de saber encontrar, em cada tempo, a maneira adequada de dialogar com o mundo, de responder às questões dos homens, de oferecer aos homens de cada época o testemunho da salvação de Deus. Para que a sua proposta seja escutada, a Igreja não pode ficar amarrada a fórmulas obsoletas, a ritos vazios, a linguagens datadas. Tem de saber encontrar em cada tempo histórico a maneira adequada de traduzir o Evangelho, numa fidelidade dinâmica a Jesus. Não se trata apenas de inovar para seguir os ditames da moda, cedendo à tentação do facilitismo e do vistoso; trata-se de, ajudados pelo Espírito, traduzirmos numa linguagem apropriada a cada tempo os valores eternos do Evangelho. Procuramos escutar atentamente o Espírito para sabermos como adequar a cada tempo e a cada cenário a mensagem de Jesus que somos convidados a testemunhar?
  • A celebração da Solenidade da Trindade convida-nos a mergulhar no mistério de Deus. Fala-nos de um Deus que é amor. Diz-nos que Deus não é um ente solitário, afastado dos homens, apenas ocupado em dirigir a máquina do universo; mas é uma família onde o amor está sempre presente. Em Deus coexistem a unidade e a comunhão de pessoas. Nós dizemos, na nossa linguagem imperfeita, que Deus é um em três pessoas. Mas Deus escapa a todas as fórmulas dos teólogos para ser, apenas, um mistério de amor, uma família de três Pessoas em perfeita comunhão. E, melhor que tudo, Deus convida-nos a integrar essa comunidade de amor que Ele forma com o Filho e com o Espírito: a família de Deus, a Trindade, está sempre aberta para acolher novos filhos. Muitas vezes dizemos, pessoal e comunitariamente, “eu creio em Deus”: qual é e como é o Deus em que acreditamos?

 

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O DOMINGO DA SANTÍSSIMA TRINDADE
(em parte adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

Ao longo dos dias da semana anterior ao Domingo da Santíssima Trindade, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. DAR LUGAR AO SILÊNCIO.

É sempre difícil falar da Trindade, de explicá-la, de descrevê-la… Daí a importância de prever algum (ou alguns) momento forte de interiorização e de adoração durante a celebração: depois da homilia… depois da comunhão… Dar espaço ao silêncio para que a Trindade ecoe em nós.

3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.

Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

No final da primeira leitura:
Deus eterno, Pai e criador de todo o universo, contemplamos o céu, a terra, os oceanos e todas as suas maravilhas, onde vemos a obra admirável da tua Sabedoria. Por todas as tuas obras, nós Te bendizemos.

Nós Te confiamos as nossas inquietações quanto ao futuro da tua criação e ao equilíbrio da natureza, que as nossas técnicas violentas já muito perturbaram.

No final da segunda leitura:
Pai, nós Te damos graças pelos dons incomparáveis com que nos gratificaste: a justiça, a paz, a fé, a esperança e, sobretudo, o teu amor, que derramaste nos nossos corações pelo Espírito Santo que Tu nos deste.

Nós Te pedimos pela unidade das Igrejas, outrora quebrada por diferentes compreensões da justificação. Ilumina-nos com o teu Espírito.

No final do Evangelho:
Deus fiel, Pai revelado pelo teu Filho no teu Espírito, nós Te damos graças, porque nos introduzes na comunhão da tua glória e na verdade do teu amor.

Nós Te pedimos: Deus, Espírito de verdade, guia-nos para a verdade completa e dá-nos a força de levar as mensagens do Evangelho.

 

4. BILHETE DE EVANGELHO.

O pintor crente Roublev tentou mostrar, numa troca de olhares, a relação de amor que existe entre o Pai, o Filho e o Espírito: quando o Pai e o Filho se olham, cada um guarda a sua personalidade e revela ao mesmo tempo a personalidade do outro, e esta relação de amor faz existir o Espírito que olha o Pai e o Filho, eles próprios deixando-se olhar, olhando ao mesmo tempo o Espírito de Amor que faz a sua unidade. Muitas vezes basta um olhar para dizer muitas coisas, basta um olhar para dar de novo esperança, confiança e vida, basta um olhar para dizer “amo-te!” e ouvir dizer em eco: “amo-te!” A Trindade é um intercâmbio de “amo-te!” Há unidade e, ao mesmo tempo, personalidades diferentes: cada um diz “amo-te!” e pode acrescentar “eu sou amado!” Tal é o segredo da sua existência e da sua eternidade. Mistério! Não por ser incompreensível, mas por, sem cessar, merecer ser melhor compreendido. E a Trindade não é o único mistério, a humanidade também o é, porque criada à imagem de Deus, homens e mulheres capazes de dizer “amo-te!” e capazes de dizer “eu sou amado!”

5. À ESCUTA DA PALAVRA.

Esta passagem de São João retoma o que Jesus nos dizia domingo passado na Solenidade do Pentecostes sobre o Espírito de verdade que nos guiará para a verdade total… É o Espírito que nos dará a força para a compreender. Domingo passado, refletimos sobre a verdade que o Espírito Santo desvela progressivamente, ao longo da história da Igreja. Hoje, estamos atentos ao facto de a verdade do Evangelho nos atingir enquanto seres em crescimento de humanidade e de fé. Ora a fé, contrariamente ao que por vezes se imagina, não é uma luz que cega. Ela é uma espécie de luz obscura, uma confiança dada na noite. Ela implica um salto no desconhecido. Isto verifica-se particularmente a propósito do mistério da Santíssima Trindade. A palavra não se encontra na Bíblia, mas a realidade que quer exprimir está muito presente no ensino de Jesus. Assim, hoje, vemos com que insistência Jesus fala de seu Pai e do Espírito de verdade. Jesus diz, o mais explicitamente possível, que entre o Pai, o Espírito e Ele tudo é comum… Deus que é Pai, Filho e Espírito, Deus Único mas não solitário, Deus comunhão eterna de Amor infinito no mais profundo do seu mistério, é a pedra angular da fé cristã, a diferença, sem dúvida, fundamental em relação às outras conceções de Deus. O nosso ato de fé é aqui decisivo e determina se somos verdadeiramente “de Cristo”. “Senhor, eu creio, mas aumenta a minha fé”.

6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.

Pode-se escolher a Oração Eucarística IV, que traça todo o plano de salvação, da criação à vinda de Cristo, e situa-o sob o signo da Aliança que é comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

7. PALAVRA PARA O CAMINHO.

Mergulhar no coração do mistério… Uma festa para celebrar a relação de Amor que une o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Um mistério imenso que ultrapassa as nossas conceções humanas e no qual somos convidados a entrar. Durante a próxima semana podemos dedicar um tempo à oração, à contemplação, para nos deixarmos mergulhar no coração deste mistério de Amor da Trindade… e um tempo para recentrar de novo as nossas vidas de batizados: a vida, o amor, a paz, o serviço… passam livremente através de nós? Ou estamos desgarrados do conjunto?

 

UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA

Grupo Dinamizador:
José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
www.dehonianos.org

 

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