14º Domingo do Tempo Comum – Ano C [atualizado]
6 de Julho, 2025
ANO C
14.º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Tema do 14.º Domingo do Tempo Comum
Nas leituras litúrgicas do décimo quarto domingo do tempo comum prevalece a temática do “envio”: Deus escolhe pessoas, confia-lhes uma missão e envia-as ao mundo e aos homens. Esses “enviados” atuam em nome de Deus e são chamados a testemunhar, no meio dos seus irmãos, o projeto que Deus tem para os homens e para o mundo.
O Evangelho conta que Jesus, quando se dirigia para Jerusalém, enviou setenta e dois discípulos à sua frente, “a todas as cidades e lugares aonde Ele devia de ir”. A missão desses discípulos é a mesma de Jesus: propor a Boa Nova do Reino de Deus e “curar” todos os que estão feridos pela dureza da vida ou pela maldade dos homens. Pela ação dos “enviados” de Jesus, concretiza-se a vitória do Reino de Deus sobre tudo aquilo que oprime e escraviza os seres humanos.
Na primeira leitura um profeta anónimo, enviado aos desanimados habitantes de Jerusalém, proclama o amor de pai e de mãe que Deus tem pelo seu Povo. O profeta é sempre um “enviado” de Deus, através do qual Deus consola os seus filhos, liberta-os do medo e acena-lhes com a esperança do mundo novo que está para chegar.
Na segunda leitura o apóstolo Paulo indica, a partir da sua própria experiência, qual deve ser a primeira preocupação do “enviado” de Jesus. No centro do testemunho de qualquer “enviado” deve estar a cruz de Jesus: a maneira como Ele amou, até ao extremo de dar a vida por todos. Paulo, no que lhe diz respeito, tem procurado concretizar essa missão. Provam-no as feridas que recebeu por causa do seu serviço ao Evangelho.
LEITURA I – Isaías 66,10-14c
Alegrai-vos com Jerusalém,
exultai com ela, todos vós que a amais.
Com ela enchei-vos de júbilo,
todos vós que participastes no seu luto.
Assim podereis beber e saciar-vos
com o leite das suas consolações,
podereis deliciar-vos no seio da sua magnificência.
Porque assim fala o Senhor:
«Farei correr para Jerusalém a paz como um rio
e a riqueza das nações como torrente transbordante.
Os seus meninos de peito serão levados ao colo
e acariciados sobre os joelhos.
Como a mãe que anima o seu filho,
também Eu vos confortarei:
em Jerusalém sereis consolados.
Quando o virdes, alegrar-se-á o vosso coração
e, como a verdura, retomarão vigor os vossos membros.
A mão do Senhor manifestar-se-á aos seus servos.
CONTEXTO
Nos capítulos 56 a 66 do livro de Isaías (o “Trito-Isaías”) temos uma coleção de textos, provavelmente de autores diversos, redigidos em Jerusalém na época pós-exílica. O poema que a liturgia deste segundo domingo comum nos apresenta como primeira leitura pertence a essa coleção.
Para aqueles que retornaram do Exílio na Babilónia, são tempos difíceis e incertos. A população da cidade é pouco numerosa e pobre; a reconstrução é lenta, modesta e exige um grande esforço; os inimigos estão à espreita e fazem continuamente sentir a sua hostilidade; há tensões no ar entre os que regressaram da Babilónia e aqueles que ficaram na cidade. Aos poucos, com a reorganização da estrutura social, voltam as injustiças dos poderosos sobre os fracos e os pobres, bem como a corrupção, a venalidade e a prepotência dos chefes. O clima é de frustração e de desânimo. As promessas de Deus, escutadas na fase final do Exílio, parecem bem distantes.
Os profetas que desenvolvem a sua missão nesta fase procuram renovar a esperança do Povo de Judá num futuro de vida plena e de salvação definitiva. Nesse sentido, vão falar de uma época em que Deus vai voltar a residir em Jerusalém, oferecendo em cada dia ao seu Povo a vida e a salvação. Essa “salvação” implicará, não só a reconstrução de Jerusalém e a restauração das glórias passadas, mas também a libertação dos pobres, dos oprimidos, dos fracos, dos marginalizados.
É neste ambiente que podemos situar o belíssimo poema de Is 66,7-14, do qual o nosso texto faz parte. O profeta pronuncia palavras de consolação e convida os habitantes de Jerusalém a alegrarem-se, pois vai chegar, por iniciativa de Deus, um tempo novo.
MENSAGEM
Jerusalém, a cidade destruída e calcinada, que parecia uma viúva vestida de luto, vai tornar-se uma mãe solícita e generosa, que alimenta os seus filhos retornados do Exílio e cuida deles com aquele amor que só as mães sabem oferecer (vers. 10). Os cuidados maternais que a mãe/Jerusalém irá proporcionar aos seus “filhos” famintos e enfraquecidos, são descritos com imagens fortes, que sugerem a fecundidade e a vida em abundância: dos peitos esplêndidos da mãe, os filhos poderão beber um leite abundante, até ficarem saciados (vers. 11).
No entanto, é Deus que está por detrás dessa corrente de vida que irá revitalizar os “filhos” de Jerusalém. Deus fará com que a paz corra como um rio e oferecerá ao seu povo a prosperidade, a abundância, a riqueza, a segurança, a vida sem fim (vers. 12). Deus é como uma mãe que cuida dos seus filhos, que os acaricia, que os consola, que os alimenta, que lhes oferece vida abundante (vers. 13). O amor de mãe não falha; o amor de Deus também não falhará.
Encantados com a ternura de Deus, os filhos sentirão uma alegria irreprimível, que fará com que os seus corações batam mais forte; e ganharão uma força que lhes permitirá enfrentar todas as vicissitudes e todas as inquietações que a vida lhes possa trazer (vers. 14).
Nesta imagem que compara Deus a uma mãe cheia de amor pelos seus filhos temos, sem dúvida, um dos pontos altos da revelação véterotestamentária de Deus.
INTERPELAÇÕES
- As palavras de consolação que Deus, neste texto, dirige aos filhos de Jerusalém chegam aos destinatários pela voz de um profeta cujo nome ignoramos, mas que foi um sinal vivo de Deus no meio do seu povo. Esta forma que Deus tem de chegar ao coração dos seus filhos repete-se infinitamente na história dos homens: é através dos seus profetas que Ele enxuga as lágrimas, consola os corações feridos, sacia os famintos, liberta do medo, salva da morte, mostra a sua solicitude e o seu amor. Hoje, neste tempo de tantos desencantos e de tantos desconcertos, são muitos os filhos de Deus que caminham na escuridão e se julgam abandonados por Deus e pelos homens. Eles necessitam de escutar a Boa notícia da salvação e de experimentar o amor materno e paterno de Deus. Poderá Deus contar connosco para sermos profetas do seu amor junto dos nossos irmãos? Estamos disponíveis para testemunhar, com palavras e com gestos concretos, a grandeza do amor de Deus por todos os seus filhos?
- Como é que vemos Deus? Que imagem fazemos d’Ele? Há muitos homens e mulheres que veem Deus como uma entidade distante, misteriosa, severa, da qual temos de nos aproximar com infinitos cuidados, fazendo tudo para evitar desrespeitar a sua grandeza e omnipotência… No entanto, na primeira leitura que a liturgia deste domingo nos oferece, Deus apresenta-se como uma mãe que ama enternecidamente os seus filhos, que pega neles ao colo, que os acaricia sobre os joelhos, que os anima e conforta. Ora, um amor assim não tem nada de distante, de severo, de austero, de castigador, de exigente… É um amor inquebrantável, infinito, que se expressa em ternura e carinho, como o amor de mãe; é um amor que põe acima de tudo a vida e a felicidade dos seus filhos. É nesse Deus que acreditamos? É esse Deus que nós anunciamos e testemunhamos aos irmãos que se cruzam connosco nos caminhos que todos os dias percorremos?
- Deus, pela boca do profeta, convida os “filhos de Jerusalém” à alegria. Quem é amado como eles, não pode deixar-se abater pela tristeza, pela angústia e pelo medo. O amor de Deus pelos seus filhos é infinitamente mais forte do que a maldade, a mentira, o sofrimento, as desgraças que nos atingem em alguns passos mais escuros do caminho que percorremos. Nós, filhos queridos e amados de Deus, vivemos iluminados pela alegria, ou acabrunhados sob o peso da angústia? Testemunhamos alegria e esperança no meio dos nossos irmãos?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 65 (66)
Refrão: A terra inteira aclame o Senhor.
Aclamai a Deus, terra inteira,
cantai a glória do seu nome,
celebrai os seus louvores, dizei a Deus:
«Maravilhosas são as vossas obras».
A terra inteira Vos adore e celebre,
entoe hinos ao vosso nome.
Vinde contemplar as obras de Deus,
admirável na sua acção pelos homens.
Mudou o mar em terra firme,
atravessaram o rio a pé enxuto.
Alegremo-nos n’Ele:
domina eternamente com o seu poder.
Todos os que temeis a Deus, vinde e ouvi,
vou narrar-vos quanto Ele fez por mim.
Bendito seja Deus que não rejeitou a minha prece,
nem me retirou a sua misericórdia.
LEITURA II – Gálatas 6,14-18
Irmãos:
Longe de mim gloriar-me,
a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo,
pela qual o mundo está crucificado para mim
e eu para o mundo.
Pois nem a circuncisão nem a incircuncisão valem alguma coisa:
o que tem valor é a nova criatura.
Paz e misericórdia para quantos seguirem esta norma,
bem como para o Israel de Deus.
Doravante ninguém me importune,
porque eu trago no meu corpo os estigmas de Jesus.
Irmãos, a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo
esteja com o vosso espírito. Amen.
CONTEXTO
A Galácia era uma região da Anatólia central, na atual Turquia. A região tinha esse nome por causa dos imigrantes gauleses que, nos começos do séc. III a.C. aí se instalaram. Na época de Paulo, a Galácia era uma província do império romano.
De acordo com o livro dos Atos dos Apóstolos, Paulo cruzou mais do que uma vez as terras da Galácia. Na sua primeira viagem apostólica, Paulo e Barnabé evangelizaram o sul da província romana da Galácia: Pisídia, Licaónia, Frígia (cf. At 13,14-25). Foi, contudo, nas suas segunda e terceira viagem missionária que Paulo estabeleceu laços com as gentes do norte da Galácia (cf. At 16,6; 18,23), resultando daí o nascimento de diversas comunidades cristãs na região.
A Carta aos Gálatas dá a entender que o apóstolo, numa das suas passagens pela Galácia, se deteve algum tempo na região, afetado por um problema de saúde (cf. Gl 4,13). Acolhido pela generosa hospitalidade das gentes da região, Paulo anunciou-lhes o Evangelho. Do anúncio de Paulo nasceram diversas comunidades cristãs. No entanto, Paulo não teve então oportunidade de ficar entre os gálatas muito tempo, deixando-lhes uma preparação cristã insuficiente. Teria sido no decurso da sua terceira viagem missionária que Paulo escreveu aos gálatas, instruindo-os sobre diversas questões da fé. Estaríamos aí pelos anos 56-57, pouco antes da redação da Carta aos Romanos.
Paulo estava em Éfeso ou em Corinto quando soube que alguns pregadores cristãos tinham passado nas comunidades cristãs da Galácia e tinham insistido na necessidade de todos os cristãos se submeterem a diversas práticas da Lei de Moisés (cf. Gl 3,2; 4,21; 5,4), nomeadamente à circuncisão (cf. Gl 2,3-4; 5,2; 6,12). Paulo, apoiado nas decisões do “Concílio de Jerusalém” (cf. At 15,22-29), considerava que o cumprimento das tradições judaicas não era necessário para a adesão a Cristo. A Lei moisaica tinha sido superada pela novidade de Jesus. Para ser cristão bastava acreditar em Jesus e no seu Evangelho.
Foi essa a razão fundamental que levou Paulo a escrever a carta de Paulo aos gálatas. Nessa carta Paulo pedia os seus queridos filhos da Galácia que não se deixassem enganar pelos “judaizantes”; e exortava-os a não se deixarem cair na escravidão da Lei de Moisés.
O nosso texto integra a conclusão da carta (cf. Gl 6,11-18). É uma espécie de remate, no qual Paulo resume toda a sua argumentação anterior a propósito de Cristo, da Lei e da salvação.
MENSAGEM
Na opinião de Paulo, os “judaizantes” (esses pregadores que queriam obrigar os gálatas a observarem as prescrições da Lei de Moisés) são movidos por duas grandes preocupações. A primeira é evitar a perseguição (vers. 12): se a Igreja nascida de Jesus conservasse as práticas judaicas, seria considerada pelas autoridades romanas um simples ramo do judaísmo, gozando do estatuto de “religião lícita”; portanto, não seria perseguida pelo império. A segunda é evidenciarem-se: mostrando o sucesso do seu proselitismo (o “prosélito” era um pagão convertido à observância da fé judaica), seriam altamente considerados nos ambientes judaicos (vers. 13).
Essas razões, no entanto, não têm qualquer importância para Paulo. Paulo não está preocupado em evitar as perseguições, assim como não está preocupado com aplausos humanos. O único título de glória que interessa ao apóstolo é a cruz do Senhor Jesus Cristo (vers. 14). Paulo está consciente de que a salvação do homem vem de Cristo, da sua entrega por amor, do dom de si próprio que Ele fez na cruz. Por isso, Paulo não prega a circuncisão ou outras práticas da Lei judaica; prega a vitória da cruz. Da cruz – do dom de si próprio, do amor até ao extremo – é que brota a vida verdadeira. Da cruz de Jesus, do seu amor, da sua entrega, nasce uma nova humanidade, uma nova criação (vers. 15).
Paulo inaugura aqui um dos seus temas favoritos, ao qual voltará nas cartas posteriores (nomeadamente em Romanos, Efésios e Colossenses): o tema do Homem Novo. Na perspetiva paulina, a identificação do cristão com o Cristo da cruz – isto é, com o Cristo do amor até ao extremo – tornará possível o aparecimento de um Homem Novo, liberto do egoísmo e da preocupação consigo próprio, capaz de amar sem medida. Esse Homem Novo, feito à imagem de Cristo, vencerá o egoísmo, a autossuficiência, o orgulho, o pecado e a morte. Com ele irromperá na história a “nova criação”; esse homem transformado pelo amor apontará para o mundo novo da vida plena e da felicidade sem fim.
Paulo, no que lhe diz respeito, luta pessoalmente para alcançar esse objetivo. Aliás, ele já leva “no seu corpo as marcas de Jesus” (vers. 17). Esta indicação não parece referir-se aos sinais físicos da paixão de Jesus (“estigmas”), mas às cicatrizes reais deixadas pelas feridas recebidas por Paulo no exercício do seu apostolado. Na sociedade greco-romana, cada escravo levava uma marca, como sinal da sua pertença a um determinado dono; do mesmo modo, as marcas do seu sofrimento por causa do Evangelho mostram que Paulo pertence a Cristo, que é propriedade d’Ele: por elas, Paulo demonstra a sua pertença inalienável a esse Cristo cujo amor se fez entrega na cruz; por elas, Paulo afirma a sua vontade de viver como Cristo e de colocar a sua vida ao serviço do Evangelho e dos irmãos.
A saudação final (“irmãos, a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com o vosso espírito. Amen” – vers. 18), constitui um apelo à comunhão e manifesta a esperança do apóstolo no restabelecimento da fraternidade.
INTERPELAÇÕES
- Paulo de Tarso, apaixonado por Cristo, apostou toda a sua vida em dar testemunho do Evangelho. Viveu a missão com radicalidade, numa entrega total. Enfrentou todas as oposições e todas as incompreensões, pois Cristo tornou-se, para ele, “o tesouro mais valioso”, pelo qual vale a pena renunciar a tudo o resto. Nós estamos habituados a ver Paulo como um caso excecional, ímpar, irrepetível; sentimos que uma aposta tão radical e tão completa em Cristo não é exatamente para nós… É verdade que cada cristão terá a sua forma própria de concretizar o seguimento de Jesus; mas, sejam quais forem as “paisagens” e os enquadramentos onde a nossa vida se concretiza, somos chamados a testemunhar o Evangelho de Jesus e a dizer aos homens que só do dom da vida, do amor até ao extremo, nasce o Homem Novo. Sentimos que é esse o nosso caminho, a nossa vocação fundamental? Como Paulo, estamos dispostos a enfrentar a incompreensão do mundo, a fim de que a proposta de Jesus chegue ao coração e à vida dos nossos contemporâneos?
- Paulo refere, na carta aos gálatas, o caso de pregadores cristãos (os “judaizantes”) que se gabavam da sua fidelidade às tradições judaicas e à Lei de Moisés. Consideravam que, entre outras coisas, a circuncisão era a marca da sua pertença ao povo de Deus. Contavam ser apreciados e elogiados por esses sinais externos que, segundo eles, mostrava a fé que os animava. Diante disto, Paulo declara que a única coisa de que se gloria é a cruz de Cristo. Só lhe interessa ser arauto daquele homem que, morrendo na cruz, ensinou os seus discípulos a fazerem das suas vidas um dom de amor. Este quadro pode constituir um convite a que reflitamos sobre aquilo que constitui a essência da nossa experiência de fé, da nossa identidade enquanto cristãos. O discípulo de Cristo é alguém que se distingue pela roupa que veste, pela cruz que traz ao pescoço, pelo papel que alguém assinou por ele no dia do batismo, pelos rituais que cumpre, pela observância de determinadas leis canónicas, ou é alguém que se distingue pela sua identificação com Cristo – com o Cristo do amor, da entrega, do dom da vida?
- A propósito da reflexão feita por Paulo sobre os “títulos de glória” que devem interessar a um discípulo de Jesus, podemos questionar-nos sobre os valores sobre os quais construímos o nosso projeto de vida. Os influenciadores e os líderes da opinião pública dizem-nos todos os dias a que valores devemos agarrar-nos para ter êxito, para ser socialmente considerado, para triunfar… Sabemos, no entanto, que em muitos casos esses valores estão em flagrante contradição com o Evangelho de Jesus. Quais são os “títulos de glória” a que damos apreço? Quais os valores sobre os quais alicerçamos a construção da nossa vida?
ALELUIA – Colossenses 3,15a.16a
Aleluia. Aleluia.
Reine em vossos corações a paz de Cristo,
habite em vós a sua palavra.
EVANGELHO – Lucas 10,1-12.17-20
Naquele tempo,
designou o Senhor setenta e dois discípulos
e enviou-os dois a dois à sua frente,
a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir.
E dizia-lhes:
«A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos.
Pedi ao dono da seara
que mande trabalhadores para a sua seara.
Ide: Eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos.
Não leveis bolsa nem alforge nem sandálias,
nem vos demoreis a saudar alguém pelo caminho.
Quando entrardes nalguma casa,
dizei primeiro: ‘Paz a esta casa’.
E se lá houver gente de paz,
a vossa paz repousará sobre eles:
senão, ficará convosco.
Ficai nessa casa, comei e bebei do que tiverem,
que o trabalhador merece o seu salário.
Não andeis de casa em casa.
Quando entrardes nalguma cidade e vos receberem,
comei do que vos servirem,
curai os enfermos que nela houver
e dizei-lhes: ‘Está perto de vós o reino de Deus’.
Mas quando entrardes nalguma cidade e não vos receberem,
saí à praça pública e dizei:
‘Até o pó da vossa cidade que se pegou aos nossos pés
sacudimos para vós.
No entanto, ficai sabendo:
Está perto o reino de Deus’.
Eu vos digo:
Haverá mais tolerância, naquele dia, para Sodoma
do que para essa cidade».
Os setenta e dois discípulos voltaram cheios de alegria, dizendo:
«Senhor, até os demónios nos obedeciam em teu nome».
Jesus respondeu-lhes:
«Eu via Satanás cair do céu como um relâmpago.
Dei-vos o poder de pisar serpentes e escorpiões
e dominar toda a força do inimigo;
nada poderá causar-vos dano.
Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem;
alegrai-vos antes
porque os vossos nomes estão escritos nos Céus».
CONTEXTO
O Evangelho deste domingo situa-nos no cenário da caminhada de Jesus para Jerusalém. No entanto, não se identifica o lugar exato onde a cena descrita se terá desenrolado.
Durante algum tempo, Jesus tinha anunciado o Reino de Deus pelas aldeias e vilas da Galileia. Essa etapa estava concluída. Para que o projeto de Deus se concretizasse, era preciso dar o passo seguinte. Ora, esse passo seria ir a Jerusalém, confrontar as autoridades religiosas judaicas e desafiá-las a acolher o Reino de Deus. De acordo com as tradições judaicas, era em Jerusalém que o Messias se iria manifestar a Israel e apresentar ao povo de Deus a sua proposta libertadora. Jerusalém era, portanto, o “lugar” onde a salvação de Deus iria irromper na história dos homens. Aliás, na segunda parte da sua obra (os “Atos dos Apóstolos”), Lucas irá contar como essa salvação, levada pelos discípulos, alcançará todas as nações e de todos os povos.
Portanto Jesus, rodeado pelos discípulos, pôs-se a caminho de Jerusalém. O caminho para Jerusalém, tão importante no projeto teológico de Lucas (cf. Lc 9,51-19,28), mais do que um caminho geográfico, é um caminho espiritual e teológico. Ao longo desse caminho, Jesus vai confrontando os discípulos com a lógica do Reino de Deus e desafiando-os a aderir plenamente a esse projeto. À medida que caminham, os discípulos vão crescendo na fé e consolidando a sua adesão a Jesus. Aprendem a despir-se dos seus projetos pessoais e dos seus sonhos de grandeza humana, a fim de abraçar os valores do Reino. A caminhada para Jerusalém foi a “escola” que preparou os discípulos para serem, após a morte e ressurreição de Jesus, as testemunhas do Reino de Deus em toda a terra.
A história do envio dos setenta e dois discípulos em missão, referida neste contexto da caminhada para Jerusalém, é uma tradição exclusiva de Lucas. Seria uma história estranha e inesperada, se a víssemos como um relato factual de acontecimentos: de onde vêm estes setenta e dois discípulos, que não são nomeados nem por Mateus nem por Marcos e que aqui aparecem de repente, surgidos do nada? O mais provável é que devamos entender este texto como uma catequese. Lucas teria representado, neste grupo, os discípulos de todas as épocas, que caminham com Jesus e que Jesus envia ao mundo a anunciar o Evangelho.
MENSAGEM
O texto tem duas partes. Na primeira (vers. 1-12), Lucas narra o envio dos setenta e dois discípulos; na segunda, Lucas descreve o regresso dos discípulos e as palavras com que Jesus comentou o trabalho missionário que eles tinham levado a cabo (vers. 17-20).
A primeira indicação é sobre o número dos discípulos envolvidos na missão: são setenta e dois, escolhidos por Jesus (vers. 1a). Trata-se, evidentemente, de um número simbólico, que deve ser posto em relação com Gn 10 (na versão grega do Antigo Testamento), onde esse número se refere à totalidade das nações pagãs que habitam a terra. O número dos “enviados” sugere, portanto, que a proposta de Jesus é uma proposta universal, destinada a todos os povos da terra.
Depois, Lucas refere que os discípulos foram enviados dois a dois (vers. 1b). Andar acompanhado era quase uma exigência para os viajantes antigos: permitia-lhes auxiliarem-se mutuamente no caminho e enfrentarem com alguma possibilidade de êxito os ataques dos malfeitores. Aqui, no entanto, pode referir-se à “validade” do testemunho que os enviados são chamados a dar: a lei judaica determinava que “um testemunho isolado não é suficiente; só com o depoimento de duas ou três testemunhas é que o caso será tomado em conta” (Dt 19,15). Também poderá sugerir, na catequese lucana, que o anúncio do Evangelho é uma tarefa comunitária, que não é feita por iniciativa pessoal e própria, mas em comunhão com os irmãos.
Lucas indica, ainda, que os discípulos são enviados às aldeias e localidades onde Jesus “havia de ir” (vers. 1c). A intenção será, provavelmente, dizer que a missão dos discípulos é colaborar com Jesus e levar a Boa Nova de Jesus a todos os lugares onde a proposta de salvação de Deus deve chegar. Sugere-se, ao mesmo tempo, que a tarefa dos discípulos não é pregar a sua própria mensagem, mas preparar o caminho de Jesus e dar testemunho d’Ele.
Antes de os setenta e dois discípulos se porem a caminho, Jesus dá-lhes uma série de indicações, recorrendo a imagens tiradas do mundo rural, sobre a forma como eles devem abordar e desempenhar a missão. Antes de mais, avisa-os da dificuldade da missão: os discípulos são enviados “como cordeiros para o meio de lobos” (vers. 3). Trata-se de uma imagem que, no Antigo Testamento, descreve a situação do justo, perdido no meio dos pagãos (cf. Ben Sira 13,17; nalgumas versões, esta imagem aparece em 13,21). Aqui, expressa a situação do discípulo fiel, que frequentemente tem de enfrentar a hostilidade e a perseguição por causa do testemunho que é chamado a dar. A missão dos discípulos é uma missão perigosa, que pode chegar à cruz.
Depois, Jesus define pormenorizadamente a forma como os discípulos devem atuar, enquanto estão em missão: não devem levar consigo nem bolsa, nem alforge, nem sandálias; não devem deter-se a saudar ninguém pelo caminho (vers. 4); não devem saltar de casa em casa (vers. 7). As indicações de não levar nada para o caminho sugerem que a força do Evangelho não reside nos meios materiais, mas na força libertadora da Palavra; a indicação de não saudar ninguém pelo caminho indica a urgência da missão (que não permite deter-se nas intermináveis saudações típicas da cortesia oriental, sob pena de o essencial – o anúncio do Reino – ser continuamente adiado); a indicação de que não devem saltar de casa em casa sugere que a preocupação fundamental dos discípulos deve ser a dedicação total à missão e não o encontrar uma hospitalidade mais confortável. Despojados dos bens materiais, sem preocupações com o bem-estar ou com a própria segurança, libertos da ansiedade sobre a forma como vão ser acolhidos, os enviados de Jesus estão completamente disponíveis para servir o Reino de Deus. Essa será a preocupação suprema que os move.
Qual deve ser o anúncio fundamental que os discípulos vão apresentar a todos aqueles com quem se cruzarem? Eles devem começar por anunciar “a paz” (vers 5-6). A indicação de Jesus não se refere certamente à saudação habitual com que os judeus se cumprimentavam (“shalom”); mas refere-se ao anúncio da paz messiânica, da paz que alcança o coração e a vida dos homens com a irrupção do Reino de Deus. É o anúncio do mundo novo de fraternidade, de harmonia com Deus e com os outros, de bem-estar, de felicidade (tudo aquilo que é sugerido pela palavra hebraica “shalom”) que, com Jesus, se vai concretizar. Esse anúncio deve, contudo, ser complementado por gestos concretos de libertação e de cura, que mostrem a presença libertadora do Reino no meio dos homens (vers. 9).
As palavras de ameaça às cidades que se recusam a acolher a mensagem (vers. 10-11) não devem ser tomadas à letra: são uma forma bem oriental de sugerir que a rejeição do Reino trará consequências nefastas à vida daqueles que escolhem continuar a viver em caminhos de egoísmo, de orgulho e de autossuficiência.
Nos vers. 17-20, Lucas refere o resultado da ação missionária dos discípulos. Diz-se, antes de mais, que eles “voltaram cheios de alegria” e comentando o triunfo do Reino de Deus sobre o mal (vers. 17). A alegria sentida pelos discípulos é a alegria de quem se sente colaborador de Deus na obra da salvação.
As palavras com que Jesus acolhe os discípulos descrevem, figuradamente, a presença do Reino enquanto realidade libertadora (“Eu via Satanás cair do céu como um relâmpago. Dei-vos o poder de pisar serpentes e escorpiões e dominar toda a força do inimigo; nada poderá causar-vos dano” – vers. 18-19): as serpentes e escorpiões são, frequentemente, símbolos das forças do mal que escravizam o homem; a “queda de Satanás” significa que o reino do mal começa a desfazer-se, em confronto com o Reino de Deus.
Apesar do êxito da missão, Jesus põe os discípulos de sobreaviso para o orgulho pela obra feita: eles não devem ficar contentes pelo poder que lhes foi confiado, mas sim porque os seus nomes estão “inscritos no céu”. A imagem de um livro onde estão inscritos os nomes dos eleitos é frequente nesta época, particularmente nos apocalipses (cf. Dn 12,1; Ap 3,5; 13,8; 17,8; 20,12.15; 21,27). Aqueles cujos nomes constam desse “livro” estão destinados à vida eterna, à vida verdadeira.
A Igreja nascida de Jesus e que caminha com Jesus é uma Igreja missionária. A sua missão é dar testemunho de Jesus em todos os lugares onde a Boa Nova da salvação deve chegar. Neste episódio do caminho para Jerusalém, temos um autêntico “manual de instruções” para os discípulos de todas as épocas, enviados ao mundo a anunciar a salvação de Deus.
INTERPELAÇÕES
- Lucas procura dizer-nos, na “catequese” que nos deixa no Evangelho deste dia, que a Igreja nascida de Jesus é, na sua essência, uma Igreja missionária, uma Igreja “em saída”. Aqueles que caminham com Jesus são enviados “a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir”, para anunciar e propor a salvação de Deus. Se olharmos à nossa volta poderemos constatar como esse anúncio é necessário e urgente. Muitos dos homens e mulheres com quem nos cruzamos todos os dias sentem-se amarrados a vidas sem sentido e sem esperança; navegam à vista, sem conseguirem ver para além das banais preocupações do dia a dia; os valores sobre os quais constroem a sua existência são valores efémeros, que não conseguem saciar a fome de eternidade que existe no coração de cada pessoa. Necessitam de escutar a Boa Nova da salvação, de acolher no coração a paz de Deus, de serem curados dos ferimentos dolorosos que as injustiças, as maldades, as violências de todos os tipos lhes gravaram na alma. Estamos conscientes de que o nosso nome consta daquela lista de “setenta e dois discípulos” que Jesus envia “a todas as cidades e lugares” onde a Boa Notícia da salvação deve chegar? Inquieta-nos a escravidão em que tantos dos nossos irmãos vivem, ou limitamo-nos a seguir Jesus à distância, comodamente instalados numa prática religiosa ritualista, indolor e descomprometida?
- Os enviados de Jesus não vão individualmente, cada um por si, mas vão dois a dois. O testemunho da Boa Nova da salvação tem uma dimensão comunitária. O enviado não parte por iniciativa pessoal, a fim de transmitir opiniões pessoais ou doutrinas próprias; não atua de acordo com as regras que ele próprio define, à revelia da comunidade ou contra a comunidade; ao dar testemunho, não dirige o foco para si próprio, nem se coloca sob as luzes da ribalta para que todos o vejam e admirem… O “missionário” de Jesus deve estar em comunhão com a Igreja, dar testemunho da fé da Igreja e fazer com que os destinatários do anúncio se liguem a Jesus através da Igreja. Como é o testemunho que damos? Anunciamos a fé que recebemos da comunidade e que vivemos em comunidade, ou impingimos aos outros as nossas teorias e visões pessoais? No centro do nosso testemunho está Jesus e o seu Evangelho, ou está a nossa pessoa?
- Jesus pede aos seus enviados que, quando partem em missão, não levem “bolsa, nem alforge, nem sandálias”. Talvez o pedido de Jesus nos pareça excessivo; mas, por detrás deste excesso, está uma realidade incontornável: há coisas que arrastamos continuamente atrás de nós e que nos impedem de dar atenção ao essencial. Jesus quer ver os seus discípulos livres, sem “bagagem” que os distraia e atrase, apenas preocupados com o anúncio do Reino de Deus. Também quer que os seus discípulos não coloquem a sua esperança nas seguranças humanas, nas tecnologias de última geração, nas estratégias de marketing, na proteção dos poderosos, nos jogos de influência… Fundamentalmente, o discípulo de Jesus confia em Deus, na sua bondade, no seu amor de Pai; confia na força renovadora e transformadora do Evangelho, que é uma pequena semente lançada à terra mas que produz um fruto abundante. Como nos situamos face a isto? Chamados a dar testemunho da salvação de Deus diante dos nossos irmãos, em que realidades colocamos a nossa confiança e a nossa esperança?
- “Eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos” – diz Jesus aos seus enviados. Os discípulos, “armados” apenas com a força do Evangelho, terão frequentemente de enfrentar um mundo hostil, agressivo, que rejeitará a mensagem, que ridicularizará as propostas de que eles são arautos; e serão perseguidos, humilhados, maltratados, condenados pelas forças da injustiça, da maldade, da mentira, do pecado. Apesar disso, os discípulos de Jesus devem abordar o mundo com bondade, com mansidão, com paciência, com compreensão, com amor. A história já demonstrou muitas vezes que, sempre que os discípulos de Jesus utilizam os métodos dos “lobos” para lidar com o mundo, perdem toda a credibilidade e subvertem a lógica do Evangelho. Como é que nós, discípulos de Jesus, reagimos diante da incompreensão e da agressividade do mundo?
- O anúncio do “Reino” não se esgota em palavras, mas deve ser acompanhado de gestos concretos. “Quando entrardes nalguma cidade, curai os doentes que nela houver” – pede Jesus aos discípulos. “Curar” é libertar os homens e mulheres que são prisioneiros da injustiça, da prepotência dos grandes, da exploração dos poderosos; “curar” é limpar, através do amor, as feridas que deixaram marcas no corpo e no espírito dos sofredores; “curar” é acolher aqueles que são desprezados, ignorados e abandonados pela sociedade e pelas igrejas; “curar” é tratar como irmãos os “diferentes”, os desadaptados, os que assumem atitudes ou comportamentos pouco ortodoxos; “curar” é cuidar de cada homem ou cada mulher que encontrarmos caído na berma da estrada da vida. Sentimo-nos enviados de Jesus a “curar” as feridas dos irmãos e das irmãs com quem nos cruzamos todos os dias?
- Jesus garante aos seus enviados que o testemunho que eles vão dar terá resultados extraordinários: “Eu via Satanás cair do céu como um relâmpago. Dei-vos o poder de pisar serpentes e escorpiões e dominar toda a força do inimigo; nada poderá causar-vos dano”. Talvez concluamos, a partir destas palavras, que o caminho que os discípulos são chamados a percorrer será fácil cómodo, indolor, sem crises nem obstáculos. Na realidade, será sempre um caminho difícil, duro, exigente, muitas vezes percorrido no meio de lágrimas, de incompreensões e de perseguições. As palavras de Jesus referem-se, sobretudo ao resultado final: apesar da presença do mal na história e na vida dos homens e do mundo, a vitória será de Deus e dos seus mensageiros. O mal irá “cair”, irá perder o seu poder. Do anúncio do Evangelho nascerá um mundo novo, um mundo desenhado de acordo como o projeto de Deus. Acreditamos nisso? Essa certeza alimenta a nossa vida e a nossa luta? Somos testemunhas desta esperança junto dos nossos irmãos desiludidos e desanimados?
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 14.º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(em parte adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 14.º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.
2. ACOLHER OS FIÉIS DE PASSAGEM.
Os textos de hoje convidam-nos à alegria, a ver longe… Neste domingo e ao longo dos meses de Julho e Agosto (tempo de férias, de passagens…), deveria haver uma atenção particular aos fiéis de passagem. Logo no início da celebração, poder-se-á fazer uma referência e, se possível, uma breve apresentação (sobretudo nas assembleias menos numerosas). Poderá haver mesmo uma saudação inicial aos fiéis de passagem que estão na assembleia. O celebrante pode ainda dirigir algumas palavras noutra língua, no caso de haver um bom grupo de estrangeiros. O importante é que eles se sintam acolhidos como irmãos em comunhão na Eucaristia.
3. ECO AO EVANGELHO.
A paz na construção do Reino de Deus… Seria bom “noticiar”, nos avisos finais, algumas ações concretas que acontecem no nosso mundo, no nosso país, no lugar onde estamos… a favor da paz e da construção do reino de Deus. Se possível, alguma ação onde os cristãos se possam envolver diretamente…
4. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.
No final da primeira leitura:
“Deus fiel, que velas o teu Povo como uma mãe o seu filho, nós Te damos graças pelas consolações que Tu lhe anunciaste outrora, quando estava desanimado e desorientado.
Confiamos-Te a nossa solidariedade para com os exilados e as vítimas das catástrofes, das guerras e das violências, para com todos aqueles que são expulsos das suas casas”.
No final da segunda leitura:
“Pai, nós Te damos graças pela cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Era um instrumento de morte, mas tornou-se para nós e para o mundo inteiro a origem de uma nova criação e de um novo Israel de Deus.
Nós Te pedimos por todos os nossos irmãos que trazem no seu corpo a marca dos sofrimentos. Que a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja sempre com o nosso espírito”.
No final do Evangelho:
“Mestre da seara, bendito sejas pelo teu Filho Jesus, pelos setenta e dois discípulos e todos os missionários que nos revelaram a presença do teu Reino. Nós Te bendizemos, porque os nossos nomes estão inscritos nos céus.
Mestre da seara, nós Te pedimos: que o teu reino venha, haja paz nas nossas casas! Envia operários para a tua seara”.
5. BILHETE DE EVANGELHO.
Jesus envia os seus discípulos dois a dois, porque está consciente daquilo que lhes é confiado: uma mensagem difícil de proclamar, nem sempre bem recebida. Ele sugere-lhes para rezar para que sejam numerosos no campo da seara; se há trabalho, são precisos trabalhadores. Previne-os: a sua fragilidade encontrará forças hostis. Devem pregar o Reino de Deus, mas Satanás espera-os e procurará impedir o estabelecimento deste mundo melhor. Jesus pede-lhes para estarem completamente despojados de dinheiro, de saco, de sandálias, de congratulações, para estarem apenas preocupados com o crescimento do Reino que se reconhece no dom da Paz e com o levantar dos homens e mulheres que a doença impede de estar de pé. Os discípulos podem, então, pôr-se a caminho. Estão prevenidos, Jesus não os deixa na ilusão. É respeitando este contracto que encontrarão a felicidade, a alegria completa.
6. À ESCUTA DA PALAVRA.
«A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi ao dono da seara que mande trabalhadores para a sua seara». É nesta palavra que se baseia a “oração pelas vocações”, em particular pelas vocações ao ministério presbiteral. Jesus dirige-se, primeiramente, a 72 discípulos que designou para além dos Doze Apóstolos. Os nomes têm muitas vezes um sentido simbólico. A tradução grega do Génesis (capítulo 10) dá uma lista de todas as nações que povoam a terra: 72! Podemos, assim, compreender que Jesus envia os discípulos a todas as nações. A missão de anunciar o Evangelho não está reservada apenas ao grupo dos Doze, é confiada, finalmente, a todos os discípulos, para irem até aos confins da terra. É toda a Igreja que é constituída missionária e missionada! Rezar pelas “vocações” é pedir a Deus para fazer de cada batizado um testemunho da Boa Nova da salvação dada em Jesus. E se os trabalhadores são poucos, é talvez porque os batizados não estão ainda suficientemente conscientes da sua missão. Em Igreja, normalmente não deveria haver cristãos que se contentam em ser “consumadores espirituais”. Todos são chamados a ser “pedras vivas”. Além disso, a seara não pertence aos ceifeiros. É a seara do mestre, que envia trabalhadores para a “sua seara”. Não se trata de um mero detalhe! É Deus que, em Jesus, semeou a boa semente. Este grão, de seguida, cresceu sozinho, até ao tempo da ceifa. Os trabalhadores vêm recolher o fruto de um trabalho que os precedeu. Os ceifeiros nunca devem esquecer que um Outro está em acção há muito tempo no coração dos homens para neles semear o grão do seu amor. Todo o ministério na Igreja está apenas ao serviço do Espírito Santo, já presente no segredo de cada ser humano. Então, compreendemos melhor o porquê de estes servos não deverem agir como se o êxito do seu ministério dependesse exclusivamente dos seus esforços!
7. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Oração Eucarística I. É longa, mas é uma oportunidade para fazer memória dos santos que deram a sua vida pelo Reino. Depois dos nomes de Matias e Barnabé, pode-se acrescentar: “de todos os discípulos que o Senhor enviou a trabalhar na sua seara e de todos os santos…”
8. PALAVRA PARA O CAMINHO…
“Ide! Envio-vos!” Julho/agosto: multidões deslocam-se para lugares turísticos. Para uns, tempo de distância da prática religiosa. Para outros, ocasião para recuperar energias na fé. “A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Ide! Envio-vos!” Como os setenta e dois discípulos, eis-nos enviados àqueles que encontraremos neste verão. Com quem iremos “perder tempo” para falar desta espantosa notícia: “Está perto de vós o reino de Deus”? E porque não ocuparmos as férias (ou em parte delas) numa ação de voluntariado, no nosso país ou em país de missão?!
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA
Grupo Dinamizador:
José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
www.dehonianos.org