Dia 2 – História de uma vocação

Nascimento de uma vocação

A vocação ao sacerdócio, antes de ser uma escolha humana, é um chamamento do Senhor, porque ser sacerdote é dom de Deus. À medida que alguém cresce, o chamamento de Deus começa a mostrar-se apenas na consciência de um rapaz, começa a manifestar-se psicologicamente, a fazer-se sentir nele como chamamento de Deus. São pessoas, factos e circunstâncias da própria vida, das quais Deus se serve e que concorrem para a manifestação do gérmen vocacional; e é belo perceber dentro do próprio ser esta voz de Deus; é belo, ainda, para os anciãos, fazer memória da história da própria vocação.
Eis como o Padre Dehon recorda o germinar da sua vocação sacerdotal:
Terminadas as escolas elementares em La Capelle, sua aterra natal, “era chegado o momento de ir completar os meus estudos para mais longe. O meu pai pensava num liceu em Paris. Mas Nosso Senhor teve piedade de mim e dirigiu-me para uma casa que lhe era querida” (NHV, I, p 15).
Com a idade de 12 anos, juntamente com o seu irmão Henrique, a 1 de Outubro de 1855 entrava no Colégio de Hazebrouck, que ficava a cerca de 200 Km de La Capelle. Aí encontra o ambiente adaptado para o manifestar-se da sua vocação. “A vida colegial era austera… Comia-se sempre pão negro…; a regra era dura: alvorada bem cedo de manhã, pouco aquecimento, muito trabalho e pouco repouso: os estudos eram severos” (NHV, I, p. 16). Num ambiente assim austero esboça-se a flor de uma vocação.
Como padre espiritual é o reverendo Dehaene, que ele considera como “o instrumento da Providência para a graça principal da minha vida”.
“Eu fico confuso de reconhecimento, recorda o P. Dehon, quando vejo como o Senhor preparou e conservou maravilhosamente a minha vocação. Ele tinha-me colocado num ambiente favorável para fazê-la nascer. A casa de Hazebrouck era um colégio, mas de facto a maioria dos alunos era destinada ao seminário. O primeiro chamamento divino foi obscuro. Já no primeiro ano de colégio pensei várias vezes no sacerdócio. No segundo retiro espiritual tinha tomado a minha decisão. Mas tal decisão reforçou-se sobretudo na noite de Natal” (NHV, I, 35-36). Era o Natal de 1856, enquanto assistia à Missa na igreja dos Capuchinhos em Hazebrouck.
“É uma maravilha que desde aquele dia a minha decisão nunca mais foi abalada. As crises da adolescência, as tentações, as fraquezas não me desencorajavam. O Senhor tinha-me dado tal firmeza na vocação, que não era uma coisa natural para mim; a sua graça agia fortemente no meu coração. A comunhão eucarística e as leituras espirituais impressionavam-me vivamente…
Com que atracção eu lia as crónicas da Propaganda da Fé e da Santa Infância. Já desde o início que eu sonhava dar-me sem reservas. Queria ser religioso ou missionário…; em momentos de generosidade eu aspirava ao martírio” (NHV, I, p. 35-36).
É a história de uma vocação semelhante a tantas outras!

Da entrevista do P. Umberto Chiarello à TeleDehon em Março de 1996, publicada como opúsculo para os benfeitores na revista “Piccola Opera Sacro Cuore” de Vitorchiano, em Março de 1997.

Tradução: P. Manuel Barbosa, scj

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