Dia 3 – História de uma vocação

Vocação contrariada

Leão Dehon conclui 4 anos de estudos no Colégio de Hazebrouck, conseguindo o bacharelato em Letras, a 16 de Agosto de 1859. Terminava assim, aos 16 anos, uma primeira etapa da sua vida.
Do Colégio conservou estas recordações: “o gosto e o hábito da oração, o zelo pelo apostolado, uma fé esclarecida, amizades fiéis, um conhecimento seguro da sua vocação: doces recordações”, assim lhes chama (NHV I, p. 36-38).
Regressado à família, o seu pai, feliz pelo sucesso do filho, sonha com um futuro ambicioso para ele: decide enviá-lo para o Politécnico de Paris, prevendo uma carreira na magistratura ou na diplomacia…
Bem cedo, porém, estes sonhos são desfeitos. Depois de alguns dias de férias, Leão manifesta à mãe e ao pai a decisão de se tornar sacerdote e pede para entrar no Seminário de São Sulpício em Paris. Para o pai Alexandre, ambicioso mais para o filho do que para si mesmo, tal foi um golpe fulminante, que o deitou por terra, fazendo desmoronar o seu castelo…
Homem recto mas não praticante, opõe-se fortemente à vocação do filho e ainda mais ao consentimento para ingressar no Seminário. Por seu lado, o jovem Leão faz entender ao seu pai que estava seguro do chamamento divino e que lhe permaneceria sempre fiel. Por isso, esperaria pela maioridade para seguir livremente a sua vocação. Nas suas Memórias, o P. Dehon recorda como o seu pai foi tomado por uma grande tristeza, ao ver a firmeza do filho. Além de lutar contra a vocação do filho, o pai lutava dentro de si entre a esperança de realizar os seus projectos e o medo de que Leão realizasse a sua vocação.
Aceitando a vontade do pai, Leão inscreve-se no Politécnico de Paris em Outubro de 1859; frequentou-o durante cinco anos, obtendo o bacharelato em Ciências em Julho de 1861; o doutoramento em Direito Civil em 2 de Abril de 1864. Consentindo ainda com o seu pai, mas também com grande prazer seu, nos períodos de verão ia em viagens para o estrangeiro: duas à Inglaterra, a primeira em 1861 e a segunda em 1862; uma viagem pela Europa do Norte e pela Europa Central em 1863. Na intenção do pai, estas viagens deveriam dissuadir o filho da vocação sagrada; para o jovem Leão, ao invés, foram ocasiões de maturação cultural e espiritual, adquirindo o conhecimento das riquezas da arte, da situação religiosa, moral e social das populações com as quais estava em contacto. Companheiro de viagem e guia especialista era Leão Palustre, futuro cientista e grande arqueólogo francês.
Das suas viagens, realizadas sucessivamente, o P. Dehon dirá mais tarde em 1915: “Eu viajei muito na minha vida, e não creio ter feito mal por isso. Não viajei, como alguns, para vagabundear ou por pura curiosidade. As minhas viagens sempre foram um estudo e uma peregrinação…
Quis encontrar Deus na natureza, nas artes, nos costumes, na história…
Bendizei ao Senhor todas as obras do Senhor” (NQ, XXXVII, p. 59-61).

Da entrevista do P. Umberto Chiarello à TeleDehon em Março de 1996, publicada como opúsculo para os benfeitores na revista “Piccola Opera Sacro Cuore” de Vitorchiano, em Março de 1997.

Tradução: P. Manuel Barbosa, scj

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