O Natal de Jesus e a nossa Festa

É Dia de Natal! É o Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, por isso é dia de festa para todos nós seus discípulos, enfim para toda a humanidade.

No dia 18 de Dezembro de 2005, na sua primeira visita pastoral a uma paróquia romana, Santa Maria Consolatrice, o Papa Bento XVI, comentando o Evangelho do IV Domingo do Advento, dizia: «A alegria que a pessoa recebeu não pode guardá-la só para si; a alegria deve ser sempre partilhada. A alegria deve ser comunicada. Maria dirigiu-se apressadamente a comunicar a sua alegria à sua prima Isabel. E desde o momento da sua Assunção distribui alegrias em todo o mundo, tornou-se a grande Consoladora; a nossa Mãe que comunica alegria, confiança, bondade e nos convida a distribuir também a alegria. Este é o verdadeiro compromisso do Advento: levar a alegria aos outros. A alegria é o verdadeiro dom de Natal, não os presentes dispendiosos que custam tempo e dinheiro. Esta alegria pode ser comunicada de modo simples: com um sorriso, um bom gesto, com uma pequena ajuda, com um perdão. Levemos esta alegria e a alegria partilhada será devolvida a cada um de nós. Procuremos, em particular, de levar a alegria mais profunda, a de ter conhecido Deus em Cristo. Rezemos para que transpareça na nossa vida esta presença da alegria libertadora de Deus».
Sabemos que a “Festa” é um tempo de alegria e de encontro com a família. Precisamente porque parte de Deus Emanuel que nos conforta com a sua salvação, a sua paz, a sua alegria, o seu sorriso. Fazemos festa porque o Deus Menino faz anos! Fazemos festa porque Deus veio habitar no meio do seu povo, incarnou na nossa história, assumindo o que é próprio da vida humana, excepto o pecado.
A alegria do mundo não será a alegria dos discípulos de Jesus Cristo. O mundo procura tudo o que se opõe a Deus, dinamiza o mal, ignora o Salvador, promove valores que não respeitam os direitos da pessoa humana, fomenta espirais de violência, não compreende o espírito das Bem-aventuranças, revolta-se contra os inocentes, destrói os edifícios da solidariedade e da paz.
Os cristãos, aqueles que escutam o Mestre e põem as suas palavras em prática, têm por único objectivo e interesse o Amor, a Bondade, a construção de uma civilização universal onde todos possam sentir-se em casa e dialogar na linguagem da paz e do respeito de uns pelos outros, o apontar metas de infinito.
Natal para um cristão é reconhecer a presença de Jesus na Eucaristia, na vida dos homens, nos mais fracos e oprimidos, é alegrar-se na certeza que Deus ama cada ser humano, independentemente da sua raça ou da sua cor.
Natal não se confunde com a azáfama das prendas que trazem rastos de interesse material, das viagens, dos meros prazeres mundanos, do esquecimento dos sofrimentos dos nossos irmãos, identificado com o consumismo que conduz à não partilha dos bens materiais e espirituais.
Natal para um cristão é aceitar a Luz que vem da simplicidade de Belém, com a responsabilidade de a prolongar na vida pessoal, na política, na economia, na paróquia, na família, na cultura, no local de residência, nas estradas, na escola, no turismo, no trabalho e no lazer.
Natal não é aproveitamento de uma época para férias, quando se combate os símbolos religiosos, desprezando o acontecimento da fé dos cristãos. Natal não é pacificação artificial de relações, sob a capa do compromisso moralmente incerto, tentando granjear simpatias que depois se diluem no vazio da vida.
Natal para um cristão é tecer relações duradouras e estáveis à luz da fortaleza do Príncipe da paz, que nasceu longe dos olhares da sociedade opulenta e farisaica, procurando que se destruam as armas do ódio, da mesquinhez e da prepotência.
Natal não é tempo de religiosidade efémera e sentimentalista, de recordações ligadas a certas idades e que depois não se desenvolveram na adoração do verdadeiro Deus e Senhor.
Natal para um cristão é tempo de interioridade, de contemplação profunda das riquezas e dons divinos, de agradecimento, de empenho nesta peregrinação terrena, de reconciliação, de encontro, de abandono e de recusa do pecado.
Natal não é prática de uma mera caridade de desobriga e sem consistência, de um descarregar da consciência que por vezes mais se configura a laivos de inconsciência.
Natal para um cristão é um caminho que se faz desde o presépio de Belém até à Cruz do Calvário e que culmina na Ressurreição, não se refugiando na gruta mas percorrendo os atalhos e vias do mundo, à semelhança do Emanuel, Bom Pastor, o Jesus da Samaritana e dos pecadores, Aquele que atendeu os doentes e pobres, que criou amigos em todas as classes sociais, que provocou a ira dos instalados, que se multiplicou e multiplica em alimento para a fome das almas e da sociedade. Natal é aceitar Jesus nesta Igreja santa e pecadora!
Alegremo-nos, depunhamos as nossas armas, acolhamos apressadamente a Alegria, a Luz sem ocaso, enchamo-nos de Esperança. Jesus nasceu, nasce!
Natal é de todos, pode ser de todos…
Santo Natal, Boas festas!

| Pe Doutor M. Saturino C. Gomes, scj |