Sobre a ternura que Nosso Senhor nos testemunha

19 Et accepto pane gratias egit et fregit et dedit eis dicens hoc est corpus meum quod pro vobis datur hoc facite in meam commemorationem 20 similiter et calicem postquam cenavit dicens hic est calix novum testamentum in sanguine meo quod pro vobis fundetur Lc 22, 19-20).

19 E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim. 20 Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado por vós (Lc 22, 19-20).
 

Primeiro Prelúdio. O Sacramento da Eucaristia é o dom do amor por excelência.

Segundo Prelúdio. Ensinai-me, Senhor, a ir ter convosco com amizade, com confiança e com abandono.

PRIMEIRO PONTO: O sacramento da Eucaristia é o mistério de amor por excelência. – Nosso Senhor está lá, para nos amar e para ser amado por nós. Não recebe neste sacramento as consolações que o seu Coração queria nele encontrar. Não falamos neste momento dos sacrilégios que o ultrajam, queremos falar dos padres e dos fiéis que o recebem em disposições suficientes, mas sem amor. Recebendo este sacramento, como recebem os outros, pensam em si e muito raramente em Nosso Senhor. Isto tem a ver com a fraqueza humana, mas também com a formação que é dada aos clérigos e aos fiéis.
Os sacramentos colocam à disposição de todos os méritos de Nosso Senhor e os frutos da Redenção. Os bons são diligentes em recolher estes frutos preciosos, mas quão pouco pensam em agradecer a Nosso Senhor por estes sinais de amor que nos prodigalizou! A sua presença no sacramento do altar é uma habitação permanente no meio de nós, os seus irmãos. Está corporalmente no meio de nós, como estava corporalmente no meio dos seus amigos durante a sua vida mortal: não pensamos o suficiente nisto. Deixamo-lo demasiadas vezes sozinho nos tabernáculos. No entanto, ele está lá como amigo, como amigo cheio de ternura.
Espera que as pessoas venham oferecer-lhe o seu coração, falar com ele, confiar-lhe as próprias mágoas e as próprias alegrias. Abre-se a amigos que não o merecem; as pessoas não pensam abrir-se a ele. Seria necessário que os fiéis fossem desde a infância formados a irem ter com ele com simplicidade; que se lhes ensinasse que o Deus do Tabernáculo não está lá sobre um trono de justiça, que lá se mantém como amigo, que não pede senão que se escutem as confidências dos homens seus irmãos e especialmente das crianças, pelas quais tem uma terna afeição.

SEGUNDO PONTO: Indiferença geral por Jesus-Hóstia. – As pessoas passam indiferentes junto das igrejas onde está Nosso Senhor. Se alguém visita uma igreja, faz é verdade uma genuflexão diante do tabernáculo, murmura algumas vezes com os lábios uma fórmula de oração. Tudo isto é feito maquinalmente. Não se sente como uma visita cordial, na qual se expandiria o coração no Coração de Jesus, o alegraria e consolaria. É honrado como se honraria uma estátua de mármore fria e insensível.
A homenagem distraída que lhe é prestada faz-lhe sentir quanto está afastado do coração mesmo dos seus servos. No entanto, é um amigo, o melhor dos amigos. Queria que os padres que sabem isto o consolassem dos seus esquecimentos. Queria mais, queria que falassem mais frequentemente e com mais coração da sua amizade pelos homens seus irmãos.
Habituando as crianças a estas relações de amizade com Nosso Senhor, preparar-se-ia uma geração de cristãos menos frios e menos indiferentes. Semear-se-iam germes de afeição por ele. Estes germes dariam um dia os seus frutos. Os padres que compreendem estas coisas e as põem em prática produzem grandes frutos.

TERCEIRO PONTO: O que Nosso Senhor pede aos homens é o dom do seu coração. – É pelo coração que os homens se dão. É pelo coração que se conduzem. Em Nosso Senhor, o seu coração foi o inspirador de todos os sacrifícios que fez pelos seus irmãos. É pelo coração que deve reconhecer-se o que o seu coração fez pelos homens. O que se faz sem o coração não pode tocar o Coração de Jesus.
Deve dirigir-se para Nosso Senhor os sentimentos do coração e dar-lhes por objecto principal e dominante um afectuoso reconhecimento pelos seus benefícios, uma confiança sem limites na sua ternura, uma afeição doce pela sua pessoa e a sua humanidade.
É preciso que os cristãos saibam que ele, o mais afectuoso, o mais amoroso, o mais terno, o mais delicado de todos os homens, nada ama tanto como o dom dos corações, que tem fome e sede do coração dos seus irmãos.
Pensemos, portanto, muitas vezes, sobretudo se somos padres, no prisioneiro do tabernáculo. Habita perto de nós e connosco, visitemo-lo muitas vezes. Vamos consolá-lo das ofensas que lhe são feitas. Vamos pedir-lhe os seus conselhos para trabalharmos no seu reino de amor; vamos agradecer-lhe algum sucesso, oferecer-lhe uma prova que nos chega, recomendar-lhe um assunto, uma necessidade da nossa alma ou dos nossos irmãos. Tratemo-lo finalmente como nosso amigo principal, como um amigo que merece a nossa confiança e que conquistou por mil benefícios o direito de não ser esquecido. Vamos ter com ele por reconhecimento; vamos ter com ele com confiança; vamos ter com ele por amizade, como vem ele mesmo por amizade até nós que tão pouco o merecemos.

Resoluções. – Senhor, sois o melhor dos amigos, o mais fiel, o mais indulgente, o mais generoso, o mais compassivo. Como é que não hei-de ir ter convosco? Porque é que, infelizmente, tenho sido tão duro e tão ingrato para convosco até ao presente? Prometo-vos um pensamento mais habitual na vossa presença eucarística e visitas mais frequentes e sobretudo mais cordiais.

Colóquio com Jesus-Eucaristia.

 
 
 

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