Liturgia

Week of Mar 22nd

  • 05º Domingo do tempo da Quaresma - Ano B [atualizado]

    05º Domingo do tempo da Quaresma - Ano B [atualizado]

    17 de Março, 2024

    ANO B

    5.º DOMINGO DA QUARESMA

    Tema do 5.º Domingo da Quaresma

     

    Na liturgia do 5.º Domingo da Quaresma ecoa, com insistência, a preocupação de Deus em nos mostrar o caminho que conduz à Vida nova. Foi para isso que Deus nos enviou o seu Filho Jesus. Cumprindo a vontade do Pai, Jesus desenhou-nos e ofereceu-nos o mapa desse caminho.

    Na primeira leitura, o profeta Jeremias anuncia que Deus se dispõe fazer connosco uma “nova Aliança”. Ele vai gravar as suas propostas nos nossos corações, a fim de que os nossos sentimentos, decisões e ações traduzam a vida e os valores de Deus. Acolhendo o dom de Deus, iremos ao encontro da Vida nova e plena que Ele nos quer dar.

    A segunda leitura apresenta-nos Jesus Cristo, o sumo-sacerdote da nova Aliança, que Se solidariza com os homens e lhes aponta o caminho da salvação. Esse caminho é o mesmo que Jesus seguiu: é o caminho do diálogo com Deus, da entrega confiada nas mãos de Deus, da aceitação plena do projeto do Pai.

    O Evangelho convida-nos a olhar para Jesus, a conhecer as suas propostas, a aprender com Ele, a identificarmo-nos com Ele, a segui-l’O no caminho do amor e da entrega da vida. O caminho da cruz parece, aos olhos do mundo, um caminho de fracasso e de morte; mas é desse caminho de amor e de doação que brota a Vida verdadeira.

     

    LEITURA I – Jeremias 31, 31-34

    Dias virão, diz o Senhor,
    em que estabelecerei com a casa de Israel e com a casa de Judá
    uma aliança nova.
    Não será como a aliança que firmei com os seus pais,
    no dia em que os tomei pela mão
    para os tirar da terra do Egipto,
    aliança que eles violaram,
    embora Eu exercesse o meu domínio sobre eles, diz o Senhor.
    Esta é a aliança que estabelecerei com a casa de Israel,
    naqueles dias, diz o senhor:
    Hei-de imprimir a minha lei no íntimo da sua alma
    e gravá-la-ei no seu coração.
    Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo.
    Não terão já de se instruir uns aos outros,
    nem de dizer cada um a seu irmão:
    «Aprendei a conhecer o Senhor».
    Todos eles Me conhecerão,
    desde o maior ao mais pequeno, diz o Senhor.
    Porque vou perdoar os seus pecados
    e não mais recordarei as suas faltas.

     

    CONTEXTO

    Jeremias exerceu a sua missão profética desde 627/626 a.C. até depois da destruição de Jerusalém pelos Babilónios (586 a.C.). O cenário da atividade do profeta é, em geral, o reino de Judá e, sobretudo, a cidade de Jerusalém.

    A primeira fase da pregação de Jeremias abrange parte do reinado de Josias. Este rei leva a cabo, a partir de 632 a.C., uma reforma religiosa destinada a banir do país os cultos aos deuses estrangeiros. Jeremias empenha-se nesta reforma. A sua mensagem, neste período, traduz-se num constante apelo à conversão, à fidelidade a Javé e à Aliança.

    No entanto, em 609 a.C., Josias é morto, em combate contra os egípcios. Joaquim sucede-lhe no trono. A segunda fase da atividade profética de Jeremias abrange o tempo de reinado de Joaquim (609-597 a.C.). É um tempo de desgraça e de pecado para Judá. Nesta fase, o profeta aparece a criticar as injustiças sociais e a infidelidade religiosa (a aliança política que Joaquim faz, por esta altura, com os egípcios significa que Judá confia mais num exército estrangeiro do que em Javé). Convencido de que Judá ultrapassou todas as marcas, Jeremias anuncia a iminência de uma invasão babilónica que irá castigar os pecados do Povo. As previsões funestas de Jeremias concretizam-se: em 597 a.C., Nabucodonosor invade Judá e deporta para a Babilónia uma parte da população de Jerusalém.

    No trono de Judá fica, então, Sedecias (597-586 a.C.). A terceira fase da missão profética de Jeremias desenrola-se, precisamente, durante este reinado. Após alguns anos de calma submissão à Babilónia, Sedecias volta a experimentar a velha política das alianças com o Egipto. Jeremias não está de acordo que se confie em exércitos estrangeiros mais do que em Deus; mas nem o rei nem os notáveis prestam atenção à opinião do profeta.

    Em 587 a.C., Nabucodonosor põe cerco a Jerusalém; no entanto, um exército egípcio vem em socorro de Judá e os babilónios retiram-se. Nesse momento de euforia nacional, Jeremias anuncia o recomeço do cerco e a destruição de Jerusalém (cf. Jr 32,2-5). Acusado de traição, o profeta é encarcerado (cf. Jr 37,11-16) e corre, inclusive, perigo de vida (cf. Jr 38,11-13). Enquanto Jeremias continua a pregar a rendição, Nabucodonosor apossa-se, de facto, de Jerusalém, destrói a cidade e deporta a sua população para a Babilónia (586 a.C.).

    É impossível dizer com segurança em qual destes períodos de atividade do profeta encaixa o texto que a primeira leitura deste domingo nos apresenta. Para alguns, tratar-se de um oráculo da primeira fase da atividade profética de Jeremias (reinado de Josias), dirigido aos israelitas do Reino do Norte. Seria uma mensagem de esperança, destinada a animar esse povo que há cerca de cem anos tinha perdido a independência e estava sob o domínio assírio. Para outros, contudo, este texto será da época de Sedecias, algures entre a primeira e a segunda deportação do Povo para a Babilónia (597-586 a.C.). É a época em que Jeremias descobre perspetivas teológicas novas e começa a refletir sobre um tempo novo que Deus irá oferecer ao seu Povo: após a catástrofe, será possível recomeçar tudo, pois Deus tem em mente fazer uma nova Aliança com Judá.

     

    MENSAGEM

    Deus está disposto a firmar uma nova Aliança com o seu Povo. Essa Aliança será, contudo, diferente da Aliança do Sinai.

    A Aliança do Sinai foi uma Aliança externa, gravada em tábuas de pedra e que o Povo nunca interiorizou devidamente. Apresentava leis que o Povo devia cumprir; mas essas leis eram sempre leis externas, que não atingiram o coração do Povo nem mudaram substancialmente a sua maneira de ser. Por isso, o Povo de Deus continuou a trilhar caminhos de infidelidade a Deus, de injustiça, de autossuficiência, de pecado. O Povo de Deus aderiu à Aliança do Sinai, mas mais com a boca do que com o coração. Ora, sem uma adesão efetiva, uma adesão do coração, era impossível manter a fidelidade aos mandamentos e exigências dessa Aliança.

    Constatada a falência da antiga Aliança, Deus vai seguir outro caminho e propor uma nova Aliança que se fundamente noutras bases… Em concreto, Deus vai intervir no sentido de gravar as suas leis e preceitos no coração, no íntimo de cada membro do Povo. Na antropologia semita, o coração é, além da sede dos sentimentos, a sede dos pensamentos, dos projetos, das decisões e das ações da pessoa; é o centro do ser, onde a pessoa dialoga consigo mesma, toma as suas decisões, assume as suas responsabilidades. Portanto, a iniciativa de Deus irá possibilitar que as exigências da Aliança sejam interiorizadas por cada membro do Povo de Deus e que estejam presentes nessa sede onde nascem os pensamentos, onde se definem os valores, onde se decidem as ações. Com um “coração” assim transformado, isto é, que pensa, que decide e que age segundo os esquemas e a lógica de Deus, cada crente poderá viver na fidelidade à Aliança, na obediência aos mandamentos, no respeito pelas leis, no amor a Javé. Então, Javé será, efetivamente, o Deus de Israel; Israel será, verdadeiramente, o Povo que vive de acordo com as propostas de Deus e que testemunha Deus no meio do mundo.

    Com esse novo tipo de relação, Javé não será mais um “desconhecido” para o seu Povo. Entre Deus e Israel será possível o estabelecimento de uma relação pessoal de proximidade, de intimidade, de familiaridade. A comunhão com Javé não será uma lição dificilmente aprendida, mas algo de inato e natural, que brota de um coração em permanente diálogo com Deus.

    Na última frase do nosso texto, Deus anuncia o perdão para as faltas do seu Povo: um perdão total e sem reservas é o primeiro resultado desta nova relação que se vai estabelecer entre Deus e o seu Povo. Também nisto se manifesta o “amor eterno” de Deus.

     

    INTERPELAÇÕES

    • Detenhamo-nos na palavra “Aliança”. Ela serviu aos teólogos de Israel para expressar o compromisso de Deus com o seu Povo, a sua decisão de descer ao encontro do seu Povo, de o acompanhar em cada passo da história e de lhe oferecer a Vida e a salvação. Esse Deus que faz “Aliança” com os homens é o Deus da comunhão e da relação, que olha para nós com amor, que nos convida a fazer parte da sua família e que nunca desiste de nós. É verdade: não andamos à deriva e sem rumo por caminhos sombrios, não somos criaturas sem valor perdidas num universo cujos contornos nos escapam, não somos seres “descartáveis” que podem ser deixados para trás e triturados pela história; somos criaturas que Deus conhece pessoalmente, por quem Deus se interessa infinitamente, que Deus acompanha e cuida com ternura de pai e de mãe. Que impacto tem esta “boa notícia” na nossa vida?
    • O profeta Jeremias revela que Deus, fiel ao seu amor e à sua decisão de nos levar ao encontro da Vida plena, se dispõe a gravar as suas propostas diretamente nos nossos corações. Ali, na raiz do nosso ser, as indicações de Deus tocarão os nossos sentimentos, as nossas decisões e as nossas ações, fazendo com que a nossa vida seja um reflexo da vida e dos valores de Deus. Conduzidos pelo Espírito de Deus age em nós, seremos dotados da capacidade de escolher o Bem, a Verdade, a Justiça, o Amor. Esta iniciativa de Deus refletirá, uma vez mais, o apreço que Ele tem por nós. Da nossa parte, estamos disponíveis para acolher o dom de Deus, para abraçar os seus desafios, para nos deixarmos transformar pelo seu Espírito? Estamos dispostos, neste tempo de Quaresma, a dar mais tempo ao encontro com Deus, ao diálogo com Deus, à escuta de Deus, ao acolhimento das suas propostas?
    • Essa Nova Aliança que Jeremias anunciou começa a concretizar-se em Jesus. Com a sua vida, com os seus gestos, com as suas palavras, com o seu amor, Ele veio inscrever nos nossos corações as propostas de Deus; e deixou-nos o seu Espírito, aquele “alento de Vida” que nos transforma, que nos renova e que nos capacita para viver segundo Deus. Somos verdadeiramente discípulos que seguem Jesus, que se deixam tocar pela sua Palavra e que aceitam o seu convite para integrar a comunidade da Nova Aliança?

     

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 50 (51)

    Refrão: Dai-me, Senhor, um coração puro.

    Compadecei-Vos de mim, ó Deus, pela vossa bondade,
    pela vossa grande misericórdia, apagai os meus pecados.
    Lavai-me de toda a iniquidade
    e purificai-me de todas as faltas.

    Criai em mim, ó Deus, um coração puro
    e fazei nascer dentro de mim um espírito firme.
    Não queirais repelir-me da vossa presença
    e não retireis de mim o vosso espírito de santidade.

    Dai-me de novo a alegria da vossa salvação
    e sustentai-me com espírito generoso.
    Ensinarei aos pecadores os vossos caminhos
    e os transviados hão-de voltar para Vós.

     

    LEITURA II – Hebreus 5, 7-9

    Nos dias da sua vida mortal,
    Cristo dirigiu preces e súplicas,
    com grandes clamores e lágrimas,
    Àquele que O podia livrar da morte
    e foi atendido por causa da sua piedade.
    Apesar de ser Filho,
    aprendeu a obediência no sofrimento
    e, tendo atingido a sua plenitude,
    tornou-Se para todos os que Lhe obedecem
    causa de salvação eterna.

     

    CONTEXTO

    A Carta aos Hebreus é um escrito (alguns preferem dizer “um sermão”) de autor anónimo e cujos destinatários, em concreto, desconhecemos (o título “aos hebreus” provém das múltiplas referências ao Antigo Testamento e ao ritual dos “sacrifícios” que a obra apresenta). É possível que se dirija a uma comunidade cristã constituída maioritariamente por cristãos vindos do judaísmo; mas nem isso é totalmente seguro, uma vez que o Antigo Testamento era um património comum, assumido por todos os cristãos, quer os vindos do judaísmo, quer os vindos do paganismo. Trata-se, em qualquer caso, de cristãos em situação difícil, expostos a perseguições e que vivem num ambiente hostil à fé… São, também, cristãos que facilmente se deixam vencer pelo desalento, que perderam o fervor inicial e que cedem às seduções de doutrinas não muito coerentes com a fé recebida dos apóstolos… O objetivo do autor é estimular a vivência do compromisso cristão e levar os crentes a crescer na fé. Para isso, ele expõe o mistério de Cristo (apresentado, sobretudo, como “o sacerdote” da Nova Aliança) e recorda a fé tradicional da Igreja.

    O texto que nos é hoje proposto como segunda leitura deste quinto domingo da Quaresma é parte de uma longa reflexão (cf. Heb 3,1-9,28) sobre o sacerdócio de Cristo. Em concreto, a perícope de Heb 5,1-10 desenvolve o tema do sacerdócio de Cristo por comparação com o sumo-sacerdote do Antigo Testamento, apresentando uma série de aspetos semelhantes e opostos. Começa por apontar três aspetos que definem a missão do sumo-sacerdote: o sumo-sacerdote é um homem que, pela sua fragilidade, é capaz de entender as fragilidades (pecado) dos seus irmãos (vers. 2); o sumo-sacerdote tem como missão oferecer sacrifícios a Deus, a fim de refazer a comunhão entre Deus e o homem (vers. 3); o sumo-sacerdote desempenha esta missão por escolha de Deus, tal como aconteceu com o sacerdote Aarão (vers. 4).

    Ora, estes três elementos também estão bem patentes no sumo-sacerdócio de Cristo.

     

    MENSAGEM

    Cristo, apesar de Filho de Deus, foi um homem que viveu entre os homens e que experimentou a fragilidade e a debilidade dos homens. Como os outros homens, seus irmãos, Ele sofreu, chorou, sentiu angústia e medo diante da morte (o autor alude, provavelmente, à oração de Jesus no Monte das Oliveiras, pouco antes de ser preso – cf. Mc 14,36). Nele não houve pecado; mas, identificando-se com os homens, Ele compreendeu as fraquezas e identificou a debilidade dos seus irmãos. A partir dessa compreensão, dispôs-se a atuar no sentido de lhes dar remédio.

    Por outro lado, Jesus, o Filho de Deus feito homem, viveu toda a sua vida em permanente diálogo com o Pai. Procurou sempre, através de uma oração intensa, discernir e acolher a vontade do Pai. Mesmo nos momentos mais difíceis da sua existência terrena, escutou o Pai, manteve a sua adesão incondicional ao Pai, manifestou a sua total disponibilidade para cumprir o projeto de salvação que o Pai queria, através d’Ele, oferecer aos homens. Percebendo, pela oração, o projeto do Pai, Jesus, através da oração, disse “sim” ao Pai. Dizendo “sim”, Jesus fez da sua vida uma oferenda ao Pai, um “sacrifício” ao Pai. Esse “sacrifício” reparou a rutura que o pecado tinha provocado e restaurou a comunhão entre Deus e os homens.

    Com a sua obediência, Jesus ensinou os homens a viver em comunhão total com Deus, a cumprir os projetos de Deus e a amar os irmãos até ao dom total da vida; com a sua obediência, Ele eliminou o egoísmo e o pecado que afastavam os homens de Deus. Sendo, pela sua comunhão total com o Pai e com os homens, o modelo de Homem Novo, Ele tornou-se, para todos aqueles que escutam a sua proposta e que O seguem, “fonte de salvação eterna” (vers. 9).

    Jesus Cristo, o sumo-sacerdote da Nova Aliança, fez bem mais do que os sumos-sacerdotes da linha levítica (Aarão e os seus descendentes). Ao entregar ao Pai o sacrifício da sua própria vida, Ele ofereceu o sacrifício perfeito, o sacrifício capaz de eliminar o pecado; ao mostrar aos homens o caminho da obediência ao projeto do Pai, Jesus apontou-lhes o caminho que conduz à Vida eterna e verdadeira.

     

    INTERPELAÇÕES

    • Jesus desceu até nós, “vestiu” a nossa humanidade, conheceu as nossas fragilidades, partilhou as nossas dores, medos e incertezas, experimentou as dificuldades do caminho que temos de fazer todos os dias. Tornou-se, verdadeiramente, nosso irmão. Pôde, assim, compreender as fraquezas dos homens e propor-lhes uma forma de as superar. Com a sua própria vida, com a sua entrega completa nas mãos do Pai, com o seu testemunho de uma vida dada por amor até ao extremo, Ele mostrou-nos como derrotar tudo aquilo que nos impede de aceder à Vida plena, à Vida verdadeira. Dispomo-nos a seguir Jesus nesse caminho, sem hesitações nem desculpas, confiando completamente n’Ele?
    • A oração, o diálogo com o Pai, é uma dimensão sempre presente na vida de Jesus. Os Evangelhos contam que, após jornadas intensas de anúncio do Reino, Ele retirava-se para lugares isolados para falar com o Pai. Era nesse diálogo que Ele discernia a vontade de Deus e encontrava a força para concretizar os planos do Pai. Foi também no diálogo sempre renovado com o Pai que Ele aprendeu a fazer de toda a sua vida um dom, uma entrega ao Pai e aos homens. Na nossa vida, temos espaço para dialogar com o Pai, para perceber os seus projetos para nós e para o mundo, para escutar os desafios que Deus nos faz? A nossa vida cumpre-se na indiferença para com Deus e para com os seus projetos, ou numa procura sincera e empenhada da vontade de Deus?

     

    ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO – João 12,26

    (escolher um dos 7 refrães)

    1. Louvor e glória a Vós, Jesus Cristo, Senhor.
    2. Glória a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai.
    3. Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai.
    4. Glória a Vós, Senhor, Filho do Deus vivo.
    5. Louvor a Vós, Jesus Cristo, Rei da eterna glória.
    6. Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor.
    7. A salvação, a glória e o poder a Jesus Cristo, Nosso Senhor.

    Se alguém Me quiser servir, que Me siga, diz o Senhor,
    e onde Eu estiver, ali estará também o meu povo.

     

    EVANGELHO – João 12, 20-33

    Naquele tempo,
    alguns gregos que tinha vindo a Jerusalém
    para adorar nos dias da festa,
    foram ter com Filipe, de Betsaida da Galileia,
    e fizeram-lhe este pedido:
    «Senhor, nós queríamos ver Jesus».
    Filipe foi dizê-lo a André;
    e então André e Filipe foram dizê-lo a Jesus.
    Jesus respondeu-lhes:
    «Chegou a hora em que o Filho do homem vai ser glorificado.
    Em verdade, em verdade vos digo:
    Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só;
    mas se morrer, dará muito fruto.
    Quem ama a sua vida, perdê-la-á,
    e quem despreza a sua vida neste mundo
    conservá-la-á para a vida eterna.
    Se alguém Me quiser servir, que Me siga,
    e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo.
    E se alguém Me servir, meu Pai o honrará.
    Agora a minha alma está perturbada.
    E que hei de dizer? Pai, salva-Me desta hora?
    Mas por causa disto é que Eu cheguei a esta hora.
    Pai, glorifica o teu nome».
    Veio então uma voz do céu que dizia:
    «Já O glorifiquei e tornarei a glorificá-l’O».
    A multidão que estava presente e ouvira
    dizia ter sido um trovão.
    Outros afirmavam: «Foi um Anjo que Lhe falou».
    Disse Jesus:
    «Não foi por minha causa que esta voz se fez ouvir;
    foi por vossa causa.
    Chegou a hora em que este mundo vai ser julgado.
    Chegou a hora em que vai ser expulso o príncipe deste mundo.
    E quando Eu for elevado da terra,
    atrairei todos a Mim».
    Falava deste modo,
    para indicar de que morte ia morrer.

     

    CONTEXTO

    O evangelho que a liturgia do 5.º Domingo da Quaresma nos propõe situa-nos em Jerusalém, talvez no próprio dia da entrada solene de Jesus na cidade santa (cf. Jo 12,12-19). As multidões “que tinham chegado para a Festa” haviam aclamado Jesus como o rei/messias, encenando um rito de entronização e aclamando-o como aquele “que vem em nome do Senhor, o rei de Israel” (Jo 12,12-13). No entanto, no horizonte próximo paira a sombra da cruz: aproxima-se a “hora” há muito anunciada e esperada (cf. Jo 2,4; 7,30; 8,20), a “hora” do dom da vida até ao extremo, a “hora” da passagem deste mundo para o Pai, a “hora” da glorificação de Jesus.

    O evangelista João coloca em cena “alguns gregos” que “tinham subido a Jerusalém para adorar” e que queriam ver Jesus. “Gregos” significa, provavelmente, “não judeus”. Podem ser prosélitos (estrangeiros convertidos ao judaísmo) ou simples simpatizantes do judaísmo. Esses “gregos” dirigem-se a Filipe. Filipe, por sua vez, vai apresentar a questão a André. Os dois tinham nomes gregos e os dois eram naturais de Betsaida (que significa “casa da pesca”), uma povoação situada na tetrarquia de Herodes Filipe, já fora do território judeu propriamente dito, a nordeste do Mar da Galileia. Filipe e André decidem levar a Jesus a pretensão dos “gregos”.

     

    MENSAGEM

    Os “gregos” vieram a Jerusalém “adorar” a Deus no Templo; mas quiseram “ver” Jesus. Este “ver” deve ser entendido como “conhecer”, encontrar-se com Jesus, tomar contacto com a salvação que Ele veio oferecer (“ver Jesus” – vers. 21). Com isto, o autor do Quarto Evangelho sugere que o Templo e o culto antigo já não são mais os lugares onde a pessoa encontra Deus e a salvação; agora, quem estiver interessado em encontrar a verdadeira libertação deve dirigir-se ao próprio Jesus. Por outro lado, a salvação/libertação que Jesus veio trazer tem um alcance universal e destina-se a todos os homens – mesmo àqueles que vivem fora das fronteiras físicas de Israel (“gregos”).

    Estes “gregos” não se dirigem diretamente a Jesus, mas a um discípulo chamado Filipe que, por sua vez, expõe o pedido a outro discípulo, André. Ambos eram naturais de Betsaida (“casa da pesca”: lembremos que Jesus confiou aos seus discípulos a missão de serem “pescadores de homens” – cf. Mc 1,17). Muito provavelmente temos aqui um aceno à responsabilidade missionária da comunidade de Jesus, encarregada da missão de levar Jesus a toda a terra, inclusive ao mundo grego. Os mesmos dois discípulos são, aliás, referidos no relato joânico da multiplicação dos pães (cf. Jo 6,5.7.8): são eles que levarão o “pão da vida” aos não judeus. O facto de Filipe falar primeiro com André e só depois os dois irem contar o que se passa a Jesus pretende talvez refletir a dificuldade com que as primeiras comunidades cristãs deram o passo para a evangelização dos pagãos. João sugere, com este pormenor, que a decisão de integrar os pagãos na comunidade de Jesus não é uma decisão individual, mas uma decisão que a comunidade tomou depois de haver consultado o Senhor.

    Entretanto, Filipe e André levam a Jesus a pretensão dos “gregos”. Esperava-se que Jesus mandasse chamar esses “gregos” que o queriam conhecer ou que, pelo menos, lhes marcasse um encontro… No entanto, não é isso que acontece. Jesus responde ao pedido dos “gregos” anunciando que chegou a sua “hora”, a “hora” da cruz, a “hora” da sua glorificação. Como é que esta declaração de Jesus responde à pretensão desses “gregos” que o querem “ver”?

    A morte de Jesus na cruz constitui uma excelente chave de leitura para entender a sua vida e o seu projeto. Desde o momento da sua incarnação, Jesus pôs a sua vida ao serviço do plano salvador do Pai. Recusou qualquer projeto pessoal de triunfo e de glória humana, para abraçar o plano de Deus para o mundo e para os homens. Andou por todo o lado – desde a Galileia até Jerusalém – a propor o Reino de Deus; sem se resguardar, enfrentou o sistema opressor que mantinha os homens escravos; denunciou, em nome de Deus, as leis e os comportamentos que eram geradores de sofrimento e morte. Como não podia deixar de ser, entrou em rota de colisão com aqueles que dominavam o mundo. Por isso, foi preso, foi condenado e foi morto na cruz. A sua morte foi a consequência lógica da sua entrega ao projeto do Pai, que pretendia mudar o mundo e libertar os homens.

    Quando se tornou evidente que a proposta de Jesus ia contra os interesses instalados, Jesus podia ter desistido ou, pelo menos, moderado a sua denúncia. Não o fez. A sua obediência a Deus e o seu amor aos homens seus irmãos levou-o a lutar até ao fim, até ao seu último alento. A cruz onde se consumou a “hora” de Jesus é a expressão suprema de uma vida dada por amor; naquela cruz, qualquer pessoa pode ver a lição do amor até ao extremo, do amor que se faz dom total. A cruz “diz” toda a vida de Jesus, a forma como Ele viveu toda a sua vida.

    O que é que resulta deste “dom” de Jesus? Resulta uma nova humanidade, uma humanidade que Jesus libertou da opressão, da injustiça, dos mecanismos que geram sofrimento e medo; uma humanidade que, com Jesus, aprendeu que a vida é para ser dada, sem limites, por amor. Não há dúvida que o dom da vida dá abundantes frutos de vida. Na cruz de Jesus manifesta-se, portanto, o projeto libertador de Deus para os homens. Toda a vida de Jesus foi como “o grão de trigo, lançado à terra”, que morre para dar fruto (vers. 24).

    Os “gregos” queriam conhecer Jesus. Jesus diz-lhes que olhem para a cruz: é na cruz que Ele se revela totalmente, que Ele mostra o sentido da sua vida, que Ele diz porque viveu e para que viveu. É naquele homem que ama até ao dom total de si próprio que se pode ver a proposta de Deus. É nele que se pode encontrar Deus e adorar Deus.

    É esse Jesus e esta proposta de vida que Filipe e André – e os outros discípulos – devem testemunhar diante do mundo. E todos aqueles que escutarem esse testemunho são convidados a tomar posição. Se quiserem servir Jesus, devem segui-l’O nesse caminho que Ele percorreu e pôr as suas vidas ao serviço de Deus e da libertação dos homens. Até ao dom total da vida, por amor (“se alguém Me quer servir, siga-Me” – vers. 26a). Quem aceitar esta proposta permanece unido a Jesus, entra na comunidade de Deus (vers. 26b). Poderá ser desprezado pelo “mundo”; mas será honrado por Deus e acolhido como seu filho (vers. 26c).

    O texto termina com a “voz do céu” que glorifica Jesus (vers. 28-32). É uma forma de mostrar que o caminho de Jesus tem o selo de garantia de Deus. A “voz do céu” assegura que a forma de viver a proposta por Jesus é verdadeira e que Deus garante a sua autenticidade. Confirma-se, desta forma, aos discípulos que oferecer a vida por amor não é um caminho de fracasso e de morte, mas um caminho de glorificação e de vida.

     

    INTERPELAÇÕES

    • A primeira leitura deste domingo dá conta da preocupação de Deus em oferecer aos homens uma nova Aliança, capaz de fazer nascer um Homem Novo. Como é que chegamos a essa realidade do Homem Novo, de coração transformado, isto é, com um coração que sente, que decide e que age segundo os esquemas e a lógica de Deus? O Evangelho responde: é olhando para Jesus, identificando-nos com Ele, aprendendo com Ele a pôr a nossa vida ao serviço do projeto de Deus, seguindo-O no caminho da cruz. Jesus é o modelo, a referência, o exemplo para quem quer aceitar o desafio de Deus e viver na comunidade da nova Aliança. Estamos verdadeiramente decididos a conhecer Jesus, a abraçar as suas propostas, a caminhar atrás d’Ele, como discípulos, no caminho do amor, do serviço, do dom da vida?
    • O caminho que Jesus nos aponta – o caminho da obediência a Deus, do amor até ao extremo, da entrega total da própria vida ao serviço de Deus e dos irmãos – parece, em pleno séc. XXI, um caminho pouco atraente, pouco lógico, pouco moderno, desligado da realidade do mundo, que nos coloca à margem dos valores e realizações que marcam a história do nosso tempo. Sentimo-nos com coragem para remar contra a maré e para dar testemunho – com as nossas palavras, com os nossos gestos, com a nossa vida – do caminho de Jesus? Somos capazes de afirmar, mesmo que nos ridicularizem, persigam e condenem, a nossa profunda convicção de que a proposta de Jesus faz sentido e pode fazer nascer um mundo mais humano, mais justo, mais fraterno, mais são, mais feliz?
    • Jesus rejeita absolutamente o caminho da autossuficiência, do fechamento em si próprio, do egoísmo estéril, dos valores efémeros. Ele sabe bem que, na lógica de Deus, esse caminho é um caminho que produz vidas vazias e sem sentido, sofrimento e frustração, desilusão e desânimo. Quem vive exclusivamente para si próprio, quem se preocupa apenas em defender os seus interesses e perspetivas, quem se apega excessivamente a uma realização pessoal cumprida em circuitos fechados, “compra” uma existência infecunda e que não vale a pena ser vivida. Perde a oportunidade de chegar ao Homem Novo, à realização plena, à vida verdadeira, à ressurreição, à salvação. Nesta “janela de conversão” que é o tempo quaresmal, que temos de mudar na nossa vida, nos nossos valores, nos nossos comportamentos, na nossa história, para estarmos plenamente alinhados com as propostas de Jesus?
    • Filipe e André, homens nascidos na “casa da pesca” e chamados por Jesus a serem “pescadores de homens”, servem de intermediários entre Jesus e os “gregos” que o querem conhecer. É através da comunidade dos discípulos que os homens “veem Jesus”, descobrem o seu projeto, encontram esse caminho de amor e de doação que conduz à vida nova do Homem Novo, à salvação. Isto recorda-nos a nossa responsabilidade de testemunhas de Jesus e da sua salvação no meio dos homens do nosso tempo… Aqueles irmãos que se cruzam connosco nos caminhos da vida descobrem no nosso testemunho o rosto de Jesus? Todos aqueles que vêm ao encontro de Jesus à procura da vida plena encontram na forma como nos doamos, como servimos e como amamos a proposta libertadora que, através de nós, Jesus quer passar a todos os homens? Somos realmente a ponte entre Jesus e aqueles que O querem “conhecer”?

     

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 5.º DOMINGO DA QUARESMA
    (adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

    Ao longo dos dias da semana anterior ao 5.º Domingo da Quaresma, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. BILHETE DE EVANGELHO.

    Se o grão de trigo quer dar fruto, é preciso que ele passe pela terra onde vai apodrecer, mas o seu percurso não pára aí, o fruto brotará. Jesus quer dar a vida, Ele escolhe passar pela morte, dando então a maior prova de amor. Mas a sua missão não pára aí, a vida brotará: a sua própria vida é a ressurreição; e a vida da humanidade é a salvação. “Não era necessário que Cristo sofresse tudo isto para entrar na sua glória?”, dirá Ele aos discípulos no caminho de Emaús. Se queremos que os outros vivam, é preciso que passemos por um certo número de renúncias, de esquecimentos de nós próprios, e isto através do serviço, do acolhimento, do perdão. Mas a nossa relação com os outros não pára aí, a alegria brota nos rostos e no nosso próprio rosto. A morte é uma passagem obrigatória para aquele que ama e quer amar até ao fim.

    3. À ECUTA DA PALAVRA.

    “Queremos ver Jesus”… Em resposta ao pedido dos Gregos, Jesus anuncia a sua próxima “glorificação”, isto é, a sua morte. Estranha associação esta, da morte com a glória! Mas Jesus explica: “Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dará muito fruto”. Sabemos que, na realidade, o grão enterrado na terra sofre uma profunda transformação. O seu invólucro exterior deve rebentar e acabar por desaparecer para que o germe, até então escondido, possa crescer e produzir novos grãos. Na morte de Jesus acontece a “explosão” da Ressurreição. Os discípulos reconhecem em Jesus a presença imediata de Deus. Então, Ele será glorificado. A “glória” é o “peso” no sentido de “densidade”, de um ser. A verdadeira glória, a verdadeira densidade do ser de Jesus, é que a sua humanidade é o lugar da incarnação do Filho eterno do Pai. Porque estamos ainda no tempo da germinação secreta, não vemos ainda esta glória do Senhor. Mas acolhendo o testemunho dos apóstolos que “comeram e beberam com Ele depois da sua ressurreição de entre os mortos”, podemos deixar-nos atrair por Jesus, acolher e ver “já” pela fé o seu mistério de glória, e testemunhar assim, no coração do mundo, que Ele, o Filho do homem, é verdadeiramente o Filho de Deus, vencedor da morte.

    4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…

    Redescobrir a “caridade”… A palavra “caridade”, por vezes, parece não ter muito sentido hoje, devido a deformações e incompreensões da própria palavra. A encíclica de Bento XVI “Deus é caridade” ajuda-nos a recuperar o seu sentido genuíno. É preciso redescobrir o verdadeiro sentido evangélico e amar os nossos irmãos: pela escuta, pelo serviço, pela partilha, pela atenção aos mais pobres! Ao longo desta semana, procuremos gestos concretos para praticar a caridade!

     

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA

    Grupo Dinamizador:
    José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
    www.dehonianos.org

  • S. José, Esposo da Virgem S. Maria

    S. José, Esposo da Virgem S. Maria


    19 de Março, 2024

    O culto litúrgico a S. José celebra-se, pelo menos, desde o século IV, quando Santa Helena lhe dedicou uma igreja. No Oriente, celebrava-se, a partir do século IX, uma festa em sua honra. No Ocidente o culto é mais tardio. No século XII, é celebrado entre os Beneditinos. No século XII, é celebrado entre os Carmelitas, que o propagam na Europa. No século XV, João Gerson e S. Bernardino de Sena são os seus fervorosos propagandistas. Santa Teresa de Jesus era uma devota fervorosa de S. José e muito promoveu o seu culto.

    S. José, descendente de David, era provavelmente de Belém. Por motivos familiares ou de trabalho, transferiu-se para Nazaré e tornou-se esposo de Maria. O anjo de Deus comunicou-lhe o mistério da incarnação do Messias no seio de Maria, e José, homem justo, aceitou-o apesar da dura crise por que passou. Indo a Belém para o recenseamento, lá nasceu o Menino Jesus. Pouco depois, teve de fugir com ele para o Egipto, donde regressou a Nazaré. Quando Jesus tinha doze anos, vemos José e Maria em Jerusalém, onde perdem o filho e acabam por o reencontrar entre os doutores do templo. A partir deste episódio, os evangelhos nada mais dizem sobre José. É possível que tenha morrido antes de Jesus iniciar a sua vida pública.

    S. José é padroeiro da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, Dehonianos.

    Lectio

    Primeira leitura: 2 Samuel 7, 4-5a.12-14a.16

    Naqueles dias, a palavra do Senhor foi dirigida ao profeta Natã, dizendo-lhe: 5«Vai dizer ao meu servo David: Diz o Senhor: 12Quando chegar o fim dos teus dias e repousares com teus pais, manterei depois de ti a descendência que nascerá de ti e consolidarei o seu reino. 13Ele construirá um templo ao meu nome, e Eu firmarei para sempre o seu trono régio. 14Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho. 16A tua casa e o teu reino permanecerão para sempre diante de mim, e o teu trono estará firme para sempre".»

    A profecia de Natã acena a Salomão, filho de David e construtor do templo. Mas as palavras: "manterei depois de ti a descendência que nascerá de ti e consolidarei o seu reino" (v. 12), indicam uma longa descendência no trono de Judá. Esta descendência teve um fim histórico, recebendo força profética na alusão velada ao Messias, descendente de David. Ele reinará para sempre. Mas o seu reino não será deste mundo. Será um reino espiritual para salvação da humanidade. A tradição cristã sempre aplicou este texto a Jesus, Messias descendente de David, e indiretamente também a José, o último elo da genealogia davídica.
    Segunda leitura: Romanos 4, 13.16-18.22

    Irmãos: Não foi em virtude da Lei, mas da justiça obtida pela fé que a Abraão, ou à sua descendência, foi feita a promessa de que havia de receber o mundo em herança. 16Por isso, é da fé que depende a herança. Só assim é que esta é gratuita, de tal modo que a promessa se mantém válida para todos os descendentes: não apenas para aqueles que o são em virtude da Lei, mas também para os que o são em virtude da fé de Abraão, pai de todos nós, 17conforme o que está escrito: Fiz de ti o pai de muitos povos. Pai diante daquele em quem acreditou, o Deus que dá vida aos mortos e chama à existência o que não existe. 18Foi com uma esperança, para além do que se podia esperar, que ele acreditou e assim se tornou pai de muitos povos, conforme o que tinha sido dito: Assim será a tua descendência. 22Esta foi exactamente a razão pela qual isso lhe foi atribuído à conta de justiça.

    Paulo evoca a figura de Abraão, pai dos crentes, que reconheceu a sua indigência e se apoiou, isto é, "acreditou" em Deus recebendo o "juízo de salvação", a "justificação". A sua indigência foi superada e pôde realizar a sua "tarefa existencial", a sua "obra", que naquelas circunstâncias consistia na sua paternidade para com Isaac. A liturgia aplica a S. José o elogio de Paulo a Abraão. A fé do esposo de Maria, submetida a duras provas, manteve-se firme, fazendo dele "homem justo", e pai adoptivo de Jesus. A sua resposta de fé manteve-se durante toda a sua vida. Por isso, colaborou com disponibilidade e generosidade no projeto de salvação a que Deus o associou. Se Abraão é "tipo" do cristão, José também o é. Abraão sabia-se condenado à morte, pois não teria descendência. Mas acreditou e recebeu uma grande descendência da mão de Deus. José aceitou ser "pai" de Quem não era seu filho, mas Filho de Deus e de Maria, e colaborou na geração da humanidade nova, nascida da morte e da ressurreição de Cristo.
    Evangelho: Lucas 2, 41-51a

    Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, pela festa da Páscoa. 42Quando Ele chegou aos doze anos, subiram até lá, segundo o costume da festa. 43Terminados esses dias, regressaram a casa e o menino ficou em Jerusalém, sem que os pais o soubessem. 44Pensando que Ele se encontrava na caravana, fizeram um dia de viagem e começaram a procurá-lo entre os parentes e conhecidos. 45Não o tendo encontrado, voltaram a Jerusalém, à sua procura. 46Três dias depois, encontraram-no no templo, sentado entre os doutores, a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas. 47Todos quantos o ouviam, estavam estupefactos com a sua inteligência e as suas respostas. 48Ao vê-lo, ficaram assombrados e sua mãe disse-lhe: «Filho, porque nos fizeste isto? Olha que teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura!» 49Ele respondeu-lhes: «Porque me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?» 50Mas eles não compreenderam as palavras que lhes disse. 51Depois desceu com eles, voltou para Nazaré.

    A lei judaica mandava que os primogénitos, sendo sagrados, deviam ser entregues a Deus ou sacrificados. Como o sacrifício humano era proibido, a lei obrigava a fazer uma espécie de troca, de maneira que em vez do menino, era oferecido um animal puro (cordeiros, pombas) (cf. Ex 13 e Lv 12). Lucas parece ter presente que Jesus, primogénito de Maria, era primogénito de Deus. Por isso, com a substituição do sacrifício - oferecem-s duas pombas - é evidenciado o fato de Jesus ser "apresentado ao Senhor", isto é, solenemente oferecido ao Pai. O sentido deste oferecimento só se compreende à luz da cena do calvário, onde Jesus já não pode ser substituído e morrerá como autêntico primogénito, que se entrega ao Pai pela salvação dos homens.

    Como pai adoptivo, José preocupa-se por tudo uanto diz respeito a Jesus. Embora não lhe seja dado penetrar completamente no mistério das relações de Jesus com o Pai, e também não compreendendo tudo quanto Jesus faz e diz, deixa-se no entanto, conduzir por Deus, com uma fé dócil e silenciosa. A sua máxima, à semelhança da de Jesus e da de Maria, poderia ser: "Ecce servus tuus", eis o teu servo.

    Meditatio

    A Igreja convida-nos, hoje, a voltar-nos para S. José, a alegrar-nos e a bendizermos a Deus pelas graças com que o cumulou. S. José é o "homem justo" (Mt 1, 19). A sua justiça vem-lhe do acolhimento do dom da fé, da retidão interior e do respeito para com Deus e para com os homens, para com a lei e para com os acontecimentos. É o que nos sugere a segunda leitura. Não foi fácil para José aceitar uma paternidade que não era dele e, depois, a responsabilidade de ser o mestre e guia d´Aquele que, um dia, havia de ser o pastor de Israel. Respeito, obediência e humildade estão na base da "justiça" de José. Foi esta atitude interior, no desempenho da sua missão única, que guindaram José ao cume da santidade cristã, junto de Maria, a sua esposa.

    As atitudes de José são características dos grandes homens, de que nos fala a Bíblia, escolhidos e chamados por Deus para missões importantes. Embora se considerassem pequenos, fracos e indignos, aceitavam e realizavam a missão, confiando n´Aquele que lhes dizia: "Eu estarei contigo".

    José não procurou os seus interesses e satisfações, mas colocou-se inteiramente aos serviços dos que amava. O seu amor pela esposa, Maria, visava unicamente servir a vocação a ela que fora chamada. Deste modo, o casal chegou a uma união espiritual admirável, donde brotava uma enorme e puríssima alegria. Era a perfeição do amor. O amor de José por Jesus apenas visava servir a vocação de Jesus, a missão de Jesus. Para José, o filho não era uma espécie de propriedade a quem impunha uma autoridade e afeto tirânico, como, por vezes, acontece com alguns pais. José sabia que Jesus não era dele, e nada mais desejava do que prepará-lo, conforme as suas capacidades, para a missão de Salvador, como lhe fora dito pelo Anjo.

    Por intercessão do nosso santo, peçamos a Deus a fé, a confiança, a docilidade, a generosidade e a pureza do amor para nós mesmos e para quantos têm responsabilidades na Igreja, para que as maravilhas de Deus se realizem também nos nossos dias.

    Oratio

    Ó S. José, eu admiro e louvo a vossa perfeição e a vossa santidade. Que exemplos e que méritos! A vossa intercessão no céu é sempre escutada. O Coração de Jesus não pode ficar insensível à vossa oração. Pedi hoje a minha conversão, a minha santificação. Pedi o perdão de todas as minhas faltas e a graça de corresponder ao que Nosso Senhor espera de mim. Fiat! Fiat! (Leão Dehon, OSP 3, p. 309).

    Contemplatio

    José, o justo, o santo, entra simplesmente nos desígnios do céu sobre ele e torna-se esposo de Maria por um casamento virginal; esposo de uma Virgem, de uma Rainha, esposo da Mãe de Deus e da Esposa do Espírito Santo! Mas o seu coração é digno dela. Na sua alma reúnem-se a fé viva dos patriarcas, as nobres aspirações dos profetas, as esperanças das gerações passadas. O seu coração é o mais puro, o mais amável, o mais celeste de todos, depois do Coração de Jesus e do Coração imaculado de Maria. José é o esposo da Virgem Maria, com que respeito a envolve! Que delicadeza, que discrição nas suas relações com ela! Aprendeu de cor a sua sublime missão de castidade e de amor. E quando foi advertido pelo anjo a respeito dos grandes desígnios de Deus sobre o filho de Maria, associou-se de coração à missão de vítima do seu filho adotivo e aceitou sem reserva todos os sofrimentos que daí resultariam para ele. Esposo de Maria! Que conjunto de graças este título supõe. José esteve unido mais do que ninguém neste mundo à Mãe de Deus. Tiveram todos as mesmas vistas, todos as mesmas orações e os mesmos sofrimentos. Os méritos de S. José aproximam-se dos de Maria. Que grandeza e que dignidade! José é o pai nutritivo de Jesus, pai legal e pai putativo. Tem tudo o que pode pertencer à paternidade sem ferir a virgindade. Tem todos os direitos e toda a autoridade de um pai. É o chefe da Sagrada Família. (Pe. Dehon, OSP 3, p. 308).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Ecce servus tuus! Eis o teu servo!"

     

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    S. José, Esposo da Virgem S. Maria (19 Março)

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