Liturgia

Events in Agosto 2020

  • S. João Maria Vianey

    S. João Maria Vianey


    4 de Agosto, 2020

    S. João Maria Vianney nasceu perto da cidade de Lião, em França, a 8 de Maio de 1786. Cedo descobriu a sua vocação para o sacerdócio. Mas foi excluído do seminário pela sua dificuldade nos estudos. Foi, então, ajudado pelo pároco de Écully e, com quase trinta anos, foi ordenado sacerdote em Grenoble. Em 1819, foi nomeado pároco de Ars. Permaneceu quarenta e dois anos a paroquiar a pequena aldeia, que transformou, graças à sua bondade, à pregação da palavra de Deus, a sua mortificação e à sua caridade. A sua fama espalhou-se de tal forma que gente de toda a parte o procurava para se confessar e ouvir os seus conselhos. Faleceu a 4 de Agosto de 1859. Foi canonizado por Pio XI, em 1925, que também o declarou padroeiro de todos os párocos.

    Lectio

    Primeira leitura: Ezequiel 3, 16-21

    O Senhor dirigiu a palavra dizendo: 17«Filho de homem, nomeei-te sentinela da casa de Israel; se ouvires uma palavra saída da minha boca, tu lha dirigirás da minha parte. 18Se Eu digo ao pecador: 'Vais morrer', e tu não o exortas e não falas para o afastar do mau caminho, para que ele possa viver, é ele, o pecador, que perecerá por causa do seu pecado; mas, é a ti que Eu pedirei contas do seu sangue. 19Mas, se tu avisares o pecador e ele não se emendar da sua perversidade e má conduta, então ele morrerá por causa do seu pecado; mas tu terás salvo a tua vida. 20Quando o justo se desvia da sua justiça para fazer o mal, Eu lhe preparo uma armadilha, de modo que ele morra; porque tu não o avisaste, ele perecerá por causa do seu pecado e ninguém recordará a justiça que ele praticou; mas é a ti que Eu pedirei contas do seu sangue. 21Se, pelo contrário, tu preveniste um justo para que não pecasse e ele, de facto, não peca, ele viverá, porque foi advertido, e tu salvarás a tua vida.

    O profeta é colocado por Deus como sentinela do Seu povo para vigiar, velar e, se necessário, defendê-lo. O Senhor dá-lhe a graça de discernimento para o tornar capaz de advertir o perigo que incumbe sobre a consciência dos outros e de os alertar para a situação. A sua missão é ser a voz de Deus. E terá de dar contas sobre o modo como a exerceu. O profeta corajoso, que não tem medo de alertar, aqueles a quem é enviado, receberá a sua recompensa.

    Evangelho: Mateus 9, 35-10, 1

    Naquele tempo, 35Jesus percorria as cidades e as aldeias, ensinando nas sinagogas, proclamando o Evangelho do Reino e curando todas as enfermidades e doenças.36Contemplando a multidão, encheu-se de compaixão por ela, pois estava cansada e abatida, como ovelhas sem pastor. 37Disse, então, aos seus discípulos: «A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. 38Rogai, portanto, ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a sua messe.» 1Jesus chamou doze discípulos e deu-lhes poder de expulsar os espíritos malignos e de curar todas as enfermidades e doenças.

    No exercício do seu ministério, Jesus prega e faz milagres nas sinagogas, e nas cidades e aldeias por onde passa. Ele é o primeiro missionário, que todos os outros têm de imitar. No seu ministério, o Senhor tem em conta o homem todo. Por isso ensina, prega e cura doenças e enfermidades. A sua ação dirige-se a toda a humanidade cansada, desfalecida e desorientada. É a humanidade escravizada pelo mal. É a humanidade vítima de tantos opressores. É a humanidade desorientada à qual Deus continua a enviar pastores segundo o seu coração, como o Cura d´Ars.

    Meditatio
    Hoje, pretendo percorrer brevemente a vida do Santo Cura d'Ars, destacando alguns traços que possam servir de exemplo para os sacerdotes do nosso tempo, certamente uma época diferente daquela em que ele viveu, mas marcada, em muitos aspetos, pelos mesmos desafios fundamentais humanos e espirituais... O Santo Cura d'Ars sempre manifestou a mais alta consideração pelo dom recebido. Afirmava: "Que grandioso é o sacerdócio! Só se compreende bem no Céu... Mas, se o compreendesse sobre a terra, morrer-se-ia, não de temor, mas de amor". Além disso, quando criança, tinha confiado a sua mãe: "Se eu fosse padre, conquistaria muitas almas". E assim foi. No serviço pastoral, tão simples como extraordinariamente fecundo, este anónimo pároco de uma distante aldeia do sul da França conseguiu de tal modo identificar-se com o seu ministério que se tornou, de uma maneira visivelmente reconhecível,outro Cristo, imagem do Bom Pastor, que, ao contrário dos mercenários, dá a vida por suas ovelhas (cf. Jo 10:11). A exemplo do Bom Pastor, ele deu a vida durante as décadas do seu serviço pastoral. Sua existência foi uma catequese viva que adquiria uma eficácia particularíssima quando as pessoas o viam celebrar a missa, deter-se em adoração diante do sacrário ou passar muitas horas no confessionário... Atualmente, os desafios da sociedade moderna não são menos exigentes do que no tempo do Santo Cura d´Ars. Talvez até se tenham tornado mais complexos. Se naquele tempo havia a "ditadura do racionalismo", hoje verifica-se em muitos ambientes uma espécie de "ditadura do relativismo". Ambas oferecem respostas inadequadas à justa procura do homem... O racionalismo foi inadequado porque não teve em conta os limites humanos e aspirou a elevar apenas à razão a medida de todas as coisas, transformando-as numa ideia; o relativismo contemporâneo mortifica a razão, porque de fato chega a afirmar que o ser humano não pode conhecer nada com certeza além do campo científico positivo. Hoje, como então, o homem, "mendicante de significado e completude", sai em permanente busca de respostas exaustivas às questões de fundo, que não cessa de se colocar... O ensinamento que a este propósito continua a transmitir o Santo Cura d'Ars é que, na base de tal empenho pastoral, o sacerdote deve cultivar uma íntima união pessoal com Cristo, fazendo-a crescer dia após dia. Só se estiver apaixonado por Cristo, o sacerdote poderá ensinar a todos esta união, esta amizade íntima com o divino Mestre; poderá tocar os corações das pessoas e abri-las ao amor misericordioso do Senhor. Só assim poderá infundir entusiasmo e vitalidade espiritual à comunidade que o Senhor lhe confia... (Extratos de um discurso de Bento XVI, em 5 de Agosto de 2009).

    Oratio
    Senhor Jesus, em São João Maria Vianney, quiseste dar à Igreja uma comovente imagem da tua caridade pastoral. Que possamos, como ele, diante de tua Eucaristia, aprender como é simples e instrutiva a tua Palavra de cada dia, como é terno o amor com que acolhes os pecadores arrependidos, e como é consolador abandonar-nos confiantemente a tua Mãe Imaculada. Por intercessão do Santo Cura d'Ars, faz que as famílias cristãs se tornem "pequenas igrejas", nas quais todas as vocações e todos os carismas, infundidos pelo teu Santo Espírito, possam ser acolhidos e valorizados. Ámen.

    Contemplatio

    Depois que recebeu o batismo de João Baptista, e antes de se entregar à organização da sua Igreja, o bom Mestre mergulhou numa profunda oração durante quarenta dias no deserto. Queria acumular graças para os seus apóstolos e para os seus discípulos. Depois destes quarenta dias, começa a sua pregação. Ganha primeiro João e André que ficam apaixonados por Ele e passam todo um dia a escutá-lo (Jo 1, 35). Depois das suas primeiras pregações, passa ainda uma noite em oração. No dia seguinte faz o seu grande apelo a Pedro, a André, a Tiago, a João: segui-me. (Lc 6, 12). E, antes de completar o colégio dos seus apóstolos e dos seus discípulos, rezou ainda e mandou rezar. Percorreu a Galileia. Viu as multidões miseráveis e mal conduzidas pelos rabinos e pelos fariseus. "São como ovelhas sem pastores", diz com emoção! "Rezai, portanto, ao Mestre supremo para enviar trabalhadores para a sua vinha e pastores para o seu rebanho" (Mt 9, 38). Quantas lições para nós! Estimemos o elevado valor da vocação; peçamos a Deus que multiplique os santos sacerdotes. (Leão Dehon, OSP 4, pp. 311-312).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Que grandioso é o sacerdócio!
    Só se compreende bem no Céu!" (Santo Cura d´Ars).

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    S. João Maria Vianey (4 Agosto)

  • Transfiguração do Senhor

    Transfiguração do Senhor


    6 de Agosto, 2020

    A festa da Transfiguração do Senhor, celebrada no Oriente desde o século V, celebra-se no Ocidente desde 1457. Situada antes do anúncio da Paixão e da Morte, a Transfiguração prepara os Apóstolos para a compreensão desse mistério. Quase com o mesmo objetivo, a Igreja celebra esta festa quarenta dias antes da Exaltação da Cruz, a 14 de Setembro. A Transfiguração, manifestação da vida divina, que está em Jesus, é uma antecipação do esplendor, que encherá a noite da Páscoa. Os Apóstolos, quando virem Jesus na sua condição de Servo, não poderão esquecer a sua condição divina.

    Lectio

    Primeira leitura: Daniel 7, 9-10.13s.

    «Continuava eu a olhar, até que foram preparados uns tronos, e um Ancião sentou-se. Branco como a neve era o seu vestuário, e os cabelos da cabeça eram como de lã pura; o trono era feito de chamas, com rodas de fogo flamejante. 10Corria um rio de fogo que jorrava da parte da frente dele. Mil milhares o serviam, dez mil miríades lhe assistiam.O tribunal reuniu-se em sessão e foram abertos os livros. 13Contemplando sempre a visão nocturna, vi aproximar-se, sobre as nuvens do céu, um ser semelhante a um filho de homem. Avançou até ao Ancião, diante do qual o conduziram. 14Foram-lhe dadas as soberanias, a glória e a realeza. Todos os povos, todas as nações e as gentes de todas as línguas o serviram. O seu império é um império eterno que não passará jamais, e o seu reino nunca será destruído.»

    Daniel, em visão noturna, vê a história do ponto de vista de Deus. Sucedem-se os impérios e os opressores, mas o projeto de Deus não falha. Ele é o último juíz, que avaliará as ações dos homens e intervirá para resgatar o seu povo. Aos reinos terrenos contrapõe-se o Reino que o Ancião confia a um misterioso "filho de homem" que vem sobre as núvens. Trata-se de um verdadeiro homem, mas de origem divina.
    No nosso texto já não se trata do Messias davídico que havia de restaurar o Reino de Israel, mas da sua transfiguração sobrenatural: o Filho do homem vem inaugurar um reino que, embora se insira no tempo, "não é deste mundo" (Jo 18, 36). Ele triunfará sobre as potências terrenas, conduzindo a história à sua realização escatológica. Jesus irá identificar-se muitas vezes com esta figura bíblica na sua pregação e particularmente diante do Sinédrio, que o condenará à morte.

    Segunda leitura: 2 Pedro 1, 16-19

    Caríssimos: Demo-vos a conhecer o poder e a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, não por havermos ido atrás de fábulas engenhosas, mas por termos sido testemunhas oculares da sua majestade. 17Com efeito, Ele foi honrado e glorificado por Deus Pai, quando a excelsa Glória lhe dirigiu esta voz:Este é o meu Filho, o meu muito Amado,
    em quem Eu pus o meu encanto. 18E esta voz, vinda do Céu, nós mesmos a ouvimos quando estávamos com Ele na montanha santa. 19E temos assim mais confirmada a palavra dos profetas, à qual fazeis bem em prestar atenção como a uma lâmpada que brilha num lugar escuro, até que o dia desponte e a estrela da manhã nasça nos vossos corações.

    Pedro e os seus companheiros reconhecem-se portadores de uma graça maior que a dos profetas, porque ouviram a voz celeste que proclamava Filho muito amado do Pai, Jesus, seu mestre. Mas a Palavra do Antigo Testamento continua a ser "uma lâmpada que brilha num lugar escuro" (v. 19), até ao dia sem fim, quando Cristo vier na sua glória. Jesus transfigurado sustenta a nossa fé e acende em nós o desejo da esperança nesta caminhada. A "estrela da manhã" já brilha no coração de quem espera vigilante.

    Evangelho: Lucas 9, 28b-36

    Naquele tempo, Jesus, levando consigo Pedro, João e Tiago, subiu ao monte para orar.29Enquanto orava, o aspecto do seu rosto modificou-se, e as suas vestes tornaram-se de uma brancura fulgurante. 30E dois homens conversavam com Ele: Moisés e Elias, 31os quais, aparecendo rodeados de glória, falavam da sua morte, que ia acontecer em Jerusalém. 32Pedro e os companheiros estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com Ele. 33Quando eles iam separar-se de Jesus, Pedro disse-lhe: «Mestre, é bom estarmos aqui. Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias.» Não sabia o que estava a dizer. 34Enquanto dizia isto, surgiu uma nuvem que os cobriu e, quando entraram na nuvem, ficaram atemorizados. 35E da nuvem veio uma voz que disse: «Este é o meu Filho predilecto. Escutai-o.» 36Quando a voz se fez ouvir, Jesus ficou só. Os discípulos guardaram silêncio e, naqueles dias, nada contaram a ninguém do que tinham visto.

    A Transfiguração confirma a fé dos Apóstolos, manifestada por Pedro em Cesareia de Filipe, e ajuda-os a ultrapassar a sua oposição à perspetiva da paixão anunciada por Jesus. Quem quiser Seu discípulo, terá de participar nos seus sofrimentos (Mt 16, 21-27. A Transfiguração é um primeiro resplendor da glória divina do Filho, chamado a ser Servo sofredor para salvação dos homens. Na oração, Jesus transfigura-se e deixa entrever a sua identidade sobrenatural. Moisés e Elias são protagonistas de um êxodo muito diferente nas circunstâncias, mas idêntico na motivação: a fidelidade absoluta a Deus. A luz da Transfiguração clarifica interiormente o seu caminho terreno. Quando a visão parece estar a terminar, Pedro como que tenta parar o tempo. É, então, envolvido com os companheiros pela nuvem. É a nuvem da presença de Deus, do mistério que se revela permanecendo incognoscível. Mas Pedro, Tiago e João recebem dele a luz mais resplandecente: a voz divina proclama a identidade Jesus, Filho e Servo sofredor (cf Is 42, 1).

    Meditatio

    Jesus manda os seus discípulos rezar. Hoje, toma à parte os seus prediletos, Pedro, Tiago e João, para os fazer rezar mais longa e intimamente. Estes três representam particularmente os pontífices, os religiosos, as almas chamadas à perfeição. Para rezar Jesus gosta da solidão, a montanha onde reina a paz, a calma, onde pode ver-se a grandeza da obra divina sob o céu estrelado durante as belas noites do Oriente. A transfiguração é uma visão do céu. É uma graça extraordinária para os três apóstolos. Não nos devemos agarrar às graças extraordinárias que são por vezes o fruto da contemplação. Pedro agarra-se a isso. Engana-se. Queria ficar lá: «Façamos três tendas», diz. Não sabia o que dizia. A visão desaparece numa nuvem. Há aqui uma lição para nós. Entreguemo-nos à oração habitual, à contemplação. Não desejemos as graças extraordinárias. Se vierem, não nos agarremos a elas. Os frutos desta festa são, em primeiro lugar, o crescimento da fé. Os apóstolos testemunham-nos que viram a glória do Salvador. «Não são fábulas que vos contamos, diz S. Pedro (2Pd 1, 16), fomos testemunhas do poder e da glória do Redentor. Ouvimos a voz do céu sobre a montanha gritando-nos no meio dos esplendores da transfiguração: É o meu Filho bem-amado, escutai-o». S. Paulo encoraja a nossa esperança recordando a lembrança da glória do salvador manifestada na transfiguração e na ascensão: «Veremos a glória face a face, diz, e seremos transfigurados à sua semelhança» (2Cor 3, 18). - Esperamos o Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo terrestre e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso» (Fil 3, 21). Mas este mistério é sobretudo próprio para aumentar o nosso amor por Jesus. Nosso Senhor manifestou-nos naquele dia toda a sua beleza. O seu rosto era resplandecente como o sol. Os apóstolos, testemunhas da transfiguração, estavam totalmente inebriados de amor e de alegria. «Que bom é estar aqui», dizia S. Pedro. «Façamos aqui a nossa tenda». A beleza de Cristo transfigurado, contemplada pelo pintor Rafael, inspirou-lhe a obra-prima da arte cristã. Nosso Senhor falava então da sua Paixão com Moisés e Elias: nova lição de amor por nós. O Coração de Jesus, mesmo na sua glória, não pensa senão em nós e nos sacrifícios que quer fazer por nós. Lições também de penitência, de reparação, de compaixão pelo Salvador. Porque teve de sofrer tanto para nos resgatar, choremos os nossos pecados, amemos o nosso Redentor, consolemo-lo.
    Este é o meu Filho muito amado: Escutai-o. - A voz do Pai celeste diz-nos: "Escutai-o", palavra cheia de sentido, como todas as palavras divinas. Deus dá-nos o seu divino Filho por guia, por chefe, por mestre. Escutai-o, fala-nos nas leis santas do Evangelho e nos conselhos de perfeição. Fala-vos nas vossas santas regras, se sois religiosos; no vosso regulamento de vida, se sois do mundo. Fala-vos pelos vossos superiores, pelo vosso diretor. Têm a missão para vos dizer a vontade divina. Fala-vos pela sua graça, na oração, na união habitual com ele. A palavra de Deus nunca vos falta, é a vossa docilidade que falta habitualmente. Esta palavra divina - «Escutai-o» - espera de vós uma resposta. Não basta apenas uma promessa vaga: «hei-de escutar». É preciso uma disposição habitual: «escuto, escuto sempre; falai, Senhor, o vosso servo escuta». Escutarei no começo de cada ação, para saber o que devo fazer e como devo fazê-lo. (Leão Dehon, OSP 4, p. 132s.).

    Oratio

    Sim, Senhor, quero doravante escutar-vos. Falai, Senhor, que o vosso servo escuta. Senhor, que quereis que eu faça? A vossa vontade será a minha lei, como a vontade do vosso Pai era a lei do vosso coração. Para cada uma das minhas ações, farei o que vós quiserdes. Consultar-vos-ei antes de agir. Falai, Senhor. (Leão Dehon, OSP 4, p. 252).

    Contemplatio

    Pedro e os seus dois companheiros, fatigados da caminhada, tinham caído no sono, quando, acordando de repente, viram Jesus na sua glória, entre dois homens, Moisés e Elias, que conversavam com Ele. Moisés e Elias, representando a lei e os profetas, vinham prestar homenagem a Jesus Cristo, no qual se realizavam todas as figuras e todas as promessas do Antigo Testamento. Vinham reconhecer nele o Messias que tinham anunciado e esperado. E de que é que juntos conversavam? Falavam, diz S. Lucas, da sua saída do mundo, que devia cumprir-se em Jerusalém. Falavam do grande mistério da redenção dos homens pelo sacrifício de Jesus Cristo. Jesus explicava a Moisés e a Elias todo o sentido das figuras da antiga lei: a libertação do Egipto, símbolo da redenção; a imolação do cordeiro, figura da morte de Jesus; a salvação dos filhos de Israel pelo sangue do cordeiro, símbolo da redenção dos homens pelo sangue do Coração de Jesus. Jesus dizia aos dois profetas a sua alegria de ver chegar o dia do sacrifício. Oh! Como o seu amor por nós se manifesta sem cessar! Os apóstolos, à vista deste espetáculo, são mergulhados numa espécie de êxtase. Julgam-se transportados ao céu. S. Pedro, sempre ardente, é o primeiro que manifesta o seu sentimento: Senhor, diz, que bom é estar aqui; façamos aqui três tendas, uma para vós, uma para Moisés, uma para Elias. S. Pedro é humilde e desinteressado; esquece-se, e não pensa em montar uma tenda para si. Ele não quer ser senão o servidor de Jesus. Mas isso é ainda muito. Ele não compreendeu que é preciso comprar a recompensa através das provações. A glória definitiva não virá senão depois da cruz e do sacrifício. Trabalhemos, sejamos generosos. A recompensa virá quando agradar a Deus. S. Pedro reconheceu mais tarde que não sabia o que dizia naquele dia, e fê-lo notar pelo seu evangelista, S. Marcos. (Leão Dehon, OSP 3, p. 250s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Este é o meu Filho predilecto. Escutai-o." (Lc 9, 35).

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    Transfiguração do Senhor (6 Agosto)

  • S. Teresa Benedita de Cruz, Virgem e mártir, Padroeira da Europa

    S. Teresa Benedita de Cruz, Virgem e mártir, Padroeira da Europa


    9 de Agosto, 2020

    Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) é, com Santa Brígida e Santa Catarina de Sena, Padroeira da Europa. Filha de judeus, nasceu em Breslau (Alemanha), a 12 de Outubro de 1891. Procurando ansiosamente a verdade, dedicou-se ao estudo da Filosofia até que encontrou a fé católica e se converteu. Muito a ajudou a leitura da autobiografia de Santa Teresa de Jesus: "Esta é a verdade!", exclamou. Fez-se batizar em Janeiro de 1922. Prosseguiu o estudo e o ensino da Filosofia, procurando encontrar o modo de unir ciência e fé. Em 1933, entrou para o convento das Carmelitas de Colónia, passando a chamar-se Teresa Benedita da Cruz e servindo os seus irmãos judeus e alemães. Em 1938 foi transferida para a Holanda, por causa da perseguição nazi. Acabou por ser presa, a 2 de Agosto de 1942, pela Gestapo, em represália a um comunicado dos Bispos dos Países Baixos contra as deportações dos judeus. Foi morta nas câmaras de gás, em Auschwitz-Birkenau (Polónia), a 9 de Agosto do mesmo ano. Assim, recebeu a coroa do martírio. Foi canonizada pelo Papa João Paulo II, em 1998.

    Lectio

    Primeira leitura: Oseias 2, 16b.17b.21-22

    Eis o que diz o Senhor: Hei-de conduzir Israel ao deserto e falar-lhe ao coração. 17Aí, corresponderá como no tempo da sua juventude, como nos dias em que subiu da terra do Egipto.21"Então, - diz o Senhor - te desposarei para sempre; desposar-te-ei conforme a justiça e o direito, com amor e misericórdia. 22Desposar-te-ei com fidelidade, e tu conhecerás o Senhor".

    Oseias, em nome de Deus, proferiu as mais fortes diatribes contra o seu povo, que já não é sua mulher, nem Ele seu marido, anunciando-lhe os mais terríveis castigos. Mas, continuando a falar em nome de Deus, o profeta deixa vir ao de cima a sua ternura e o seu amor para afirmar que o Senhor não pode deixar de amar a esposa, novamente prostituída. Tal como o segundo casamento do profeta fora sua iniciativa, assim Deus livremente se dispõe a um novo casamento com o seu povo prostituído, a uma nova aliança. Uma nova experiência de deserto afastará o povo dos deuses cananeus, permitindo um novo encontro a sós com Deus, que pagará o respetivo dote. Israel poderá fiar-se de Deus e confiar nele. Mais ainda: poderá conhecê-lo, fazer experiência dele. É sobretudo esta graça de intimidade com Deus, que cumula de bens os que a aceitam, que a nossa leitura quer sublinhar na festa de S. Teresa Benedita da Cruz.

    Evangelho: Mateus 25, 1-13

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: 1«O Reino do Céu será semelhante a dez virgens que, tomando as suas candeias, saíram ao encontro do noivo. 2Ora, cinco delas eram insensatas e cinco prudentes. 3As insensatas, ao tomarem as suas candeias, não levaram azeite consigo; 4enquanto as prudentes, com as suas candeias, levaram azeite nas almotolias. 5Como o noivo demorava, começaram a dormitar e adormeceram. 6A meio da noite, ouviu-se um brado: 'Aí vem o noivo, ide ao seu encontro!' 7Todas aquelas virgens despertaram, então, e aprontaram as candeias. 8As insensatas disseram às prudentes: 'Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas candeias estão a apagar-se.' 9Mas as prudentes responderam: 'Não, talvez não chegue para nós e para vós. Ide, antes, aos vendedores e comprai-o.' 10Mas, enquanto foram comprá-lo, chegou o noivo; as que estavam prontas entraram com ele para a sala das núpcias, e fechou-se a porta. 11Mais tarde, chegaram as outras virgens e disseram: 'Senhor, senhor, abre-nos a porta!' 12Mas ele respondeu: 'Em verdade vos digo: Não vos conheço.' 13Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora.

    Santa Teresa Benedita da Cruz foi uma das virgens que souberam esperar vigilantes a vinda do Esposo. Assim mereceu participar na boda onde só entram as jovens prudentes. As insensatas ficaram fora, não porque adormeceram: todas adormecem, todas são frágeis. Não entraram porque não estavam preparadas para a missão, não contaram com o eventual atraso do noivo. Ele não deixará de vir a qualquer momento. A seriedade desse momento exige uma preparação pessoal insubstituível.

    Meditatio

    Pensamos que a melhor proposta de meditação para hoje nos é oferecida pela santa que celebramos. Por isso, transcrevemos um texto recolhido nos seus escritos: "Para os que creem no Crucificado abre-se a porta da vida. Cristo tomou sobre Si o jugo da Lei, cumprindo plenamente a Lei e morrendo pela Lei e através da Lei. Assim libertou da Lei aqueles que querem receber d'Ele a vida. Mas eles sabem que só poderão recebê-la se ofereceram a sua própria vida. Porque os que foram batizados em Cristo foram batizados na sua morte. Submergiram-se na vida de Cristo, para se tornarem membros do seu Corpo, destinados a sofrer e a morrer com Ele, mas também a ressuscitar com Ele para a vida eterna, a vida divina. Para nós, evidentemente, esta vida atingirá a sua plenitude no Dia do Senhor. Contudo, já desde agora - «na carne» - participamos da sua vida quando acreditamos: acreditamos que Cristo morreu por nós para nos dar a sua vida. É esta fé que nos permite ser uma só realidade com Ele, como os membros com a cabeça, e nos abre a torrente da sua vida. Assim, esta fé no Crucificado - a fé viva, que está associada ao vínculo do amor - constitui para nós a entrada na vida e o princípio da futura glorificação. Por isso a cruz é o nosso único título de glória: Longe de mim gloriar-me, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo. Quem decidiu aderir a Cristo morreu para o mundo e o mundo para ele. Leva no seu corpo os estigmas do Senhor. É débil e desprezado perante os homens; mas por isso mesmo é forte, porque na fraqueza se manifesta o poder de Deus. Tendo consciência disto, o discípulo de Jesus aceita não somente a cruz que lhe é imposta, mas crucifica-se a si mesmo: Os que são de Cristo crucificaram a sua carne com as suas paixões e concupiscências. Suportaram um combate implacável contra a sua natureza, a fim de que morra neles a vida do pecado e dê lugar à vida do espírito. Porque é esta que importa. Contudo a cruz não é um fim em si mesma: ela eleva-nos para as alturas e revela-nos as realidades superiores. Por isso ela não é somente um símbolo; ela é a arma poderosa de Cristo; é o cajado de pastor com que o divino David sai ao encontro do David infernal e com o qual bate fortemente à porta do Céu e a abre. Então brotam as torrentes da luz divina que envolvem todos aqueles que seguem o Crucificado"

    Oratio

    Senhor, Deus dos nossos pais, que conduzistes a mártir Teresa Benedita ao conhecimento do vosso Filho crucificado e à sua imitação até à morte, concedei que, pela sua intercessão, todos os homens conheçam o Salvador, Jesus Cristo, e por Ele cheguem à perpétua visão do vosso rosto. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo. Ámen (coleta da Missa).

    Contemplatio

    Também nós devemos levar a nossa cruz. Foi o próprio Senhor que nos deu esse preceito: «Quem não leva a sua cruz, não é digno de mim», diz-nos. Não devemos, acaso, conformar-nos com o nosso chefe? Se Nosso Senhor escolheu a cruz, é porque ela é boa, é porque é necessária. Ela repara e apaga o pecado. Adquire as graças; e em nós, ela comprime as paixões e enfraquece-as. É tão necessária, que Nosso Senhor fez dela a medida da nossa glória. Quando nos vier julgar, o sinal da redenção planará no céu. Os que se tiverem conformado com a cruz serão salvos. Aliás toda a vida está semeada de cruz, aí está a condição da nossa vida mortal desde a queda de Adão. Seria uma loucura não aproveitar destas ocasiões de reparação e de mérito. Como é que devemos levar a cruz? Primeiro com resignação,como Jesus, que dizia sem cessar: «Meu Pai, que a vossa vontade seja feita e não a minha!» - Com confiança na graça de Jesus Cristo que nos ajudará a levar a cruz. - Com alegria, porque a cruz é o caminho do céu. - Com amor sobretudo, porque a cruz nos torna semelhantes a Jesus Cristo, porque a nossa generosidade consola o Coração de Jesus e une-nos ao Salvador na sua obra redentora, porque as nossas cruzes, levadas com coragem são fontes de graças para todas as nossas obras, para todas as almas que nós recomendamos a Nosso Senhor. (Leão Dehon, OSP 3, p. 359s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Toda a minha glória está na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo" (Gl 6, 14ª).
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    S. Teresa Benedita de Cruz, Virgem e mártir,  Padroeira da Europa (09 Agosto)

  • S. Lourenço, Diácono

    S. Lourenço, Diácono


    10 de Agosto, 2020

    Natural de Huesca, na Península Ibérica, onde nasceu por volta do ano 230, Lourenço foi acolhido em Roma pelo Papa Sixto II, que o fez arquidiácono. Serviu a igreja de Roma durante a perseguição. Quando o Papa foi martirizado, com quatro dos seus diáconos, a 6 de Agosto, recomendou-lhe a distribuição dos bens da igreja aos pobres e profetizou-lhe o martírio, que aconteceu no dia 10 do mesmo mês. O imperador Valeriano fê-lo queimar sobre uma grelha. Os seus restos mortais repousam na basílica que lhe foi dedicada, S. Lourenço Fora dos Muros.

    Lectio

    Primeira leitura: 2 Coríntios 9, 6-10

    Irmãos: Lembrai-vos: Quem pouco semeia, também pouco colherá; mas quem semeia com generosidade, com generosidade também colherá.7Cada um dê como dispôs em seu coração, sem tristeza nem constrangimento, pois Deus ama quem dá com alegria. 8E Deus tem poder para vos cumular de toda a espécie de graça, para que, tendo sempre e em tudo quanto vos é necessário, ainda vos sobre para as boas obras de todo o género. 9Como está escrito: Distribuiu, deu aos pobres; a sua justiça permanece para sempre. 10Aquele que dá a semente ao semeador e o pão em alimento, também vos dará a semente em abundância e multiplicará os frutos da vossa justiça.

    São muitas as formas de pobreza humana: a espiritual, a material, a cultural, a moral. Mas qualquer uma delas pode ser ultrapassada pela caridade. Deus é caridade e é o dador de todos os bens. As criaturas são apenas seus instrumentos. Quanto mais generosos forem com os outros, maiores favores receberão de Deus. Por isso, quem repartir com generosidade recolherá com generosidade.

    Evangelho: João 12, 24-26

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto. 25Quem se ama a si mesmo, perde-se; quem se despreza a si mesmo, neste mundo, assegura para si a vida eterna. 26Se alguém me serve, que me siga, e onde Eu estiver, aí estará também o meu servo. Se alguém me servir, o Pai há-de honrá-lo.

    Quem vive em união com Cristo, entra no dinamismo do seu amor, e torna-se uma só coisa com o Pai. Servir o Filho é reinar com Ele no coração do Pai. Servir o Filho é associar-se a Ele na obra da redenção. O amor pelo Pai e pelo homem levaram Jesus a entregar-se até à morte, até ao dom da própria vida, para que todos tivéssemos vida. O grão de trigo, quando morre na terra, gera vida e torna-se fecundo. O discípulo de Jesus é chamado a viver o mesmo mistério de morte para gerar a vida e ser fecundo em favor dos seus irmãos.

    Meditatio

    S. Lourenço, arquidiácono da igreja de Roma, no tempo do Papa Sisto II (séc. III), era a segunda figura da hierarquia eclesiástica, logo após o Papa, e era natural que lhe viesse a suceder. Sendo os diáconos os conselheiros e colaboradores do Papa, num serviço idêntico ao que hoje prestam os cardeais da cúria romana, o arquidiácono administrava os bens da Igreja: dirigia a construção dos cemitérios, recebia as esmolas e conservava os arquivos. Em grande parte, dependiam dele o clero romano, os confessores da fé, as viúvas, os órfãos e os pobres. Quando o imperador o mandou entregar os bens da Igreja, Lourenço apresentou-se diante do juiz com os pobres de Roma, e declarou: "Aqui estão os tesouros da Igreja!". O juiz mandou-o imediatamente torturar e executar. A sua Passio (paixão) narra que, intimado a sacrificar aos deuses, respondeu: "Ofereço-me a Deus em sacrifício de suave odor, porque um espírito contrito é um sacrifício para Deus". O Papa S. Dâmaso (+ 384) escreveu na inscrição que mandou colocar na basílica que lhe é dedicada: "Só a fé de Lourenço conseguiu vencer os flagelos do algoz, as chamas, os tormentos, as cadeias. Dâmaso suplicante enche de dons estes altares, admirando os méritos do glorioso mártir".
    Ao fazer memória dos mártires do século XX, João Paulo II, ao comentar Jo 12, 25, dizia no Coliseu, a 7 de Maio do ano 2000: "Trata-se de uma verdade que o mundo contemporâneo muitas vezes recusa e despreza, fazendo do amor por si mesmos o critério supremo da existência. Mas as testemunhas da fé não consideravam a sua vantagem, o seu bem-estar, a sua sobrevivência como valores maiores que a fidelidade ao Evangelho. Apesar da sua fraqueza, opuseram corajosa resistência ao mal. Na sua debilidade refulgiu a força da fé e da graça do Senhor". É o tesouro da Igreja na caridade suprema.
    "Se nem todos são chamados ao estado de vítima mística - afirmava o P. Dehon -, todos podem e devem ser vítimas práticas, por meio da docilidade em seguir a graça, por meio da fidelidade no cumprimento do próprio dever, por meio da generosidade em aceitar o sacrifício" (DSP, parte III, c. V, § 3, p. 116).

    Oratio

    O Soberano e Senhor deu-te, ó mártir, como ajuda, o carvão em brasa: queimado por ele, tu rapidamente depuseste a tenda de barro e herdaste a vida e o reino imortais. Por isso, jubilosamente festejamos a tua memória, ó beatíssimo Lourenço coroado.
    Resplandecendo pelo Espírito divino, como carvão em brasa, queimaste a sarça do engano, Lourenço vitorioso, arquidiácono de Cristo: por isso, foste oferecido em holocausto como incenso racional Àquele que te exaltou, atingindo a perfeição pelo fogo. Protege, pois, de toda a ameaça quantos te honram, ó homem de mente divina. (De um antigo texto da Igreja bizantina).

    Contemplatio

    O imperador furioso mandou despojar o santo dos seus vestidos e ordenou que lhe dilacerassem o corpo com açoites e unhas de ferro. O mártir rezava, com o sorriso nos lábios... À noite, o imperador mandou estendê-lo sobre uma grelha de ferro sob a qual acenderam um fogo de carvões para o queimarem lentamente... O mártir virando-se para o tirano disse-lhe: «Estes fogos não são para mim senão refrigerantes, mas não será o mesmo daqueles que te atormentarão no inferno». Ao carrasco, dizia heroicamente: «Não vês que a minha carne está bastante grelhada deste lado, volta-me do outro». O santo, tendo rezado pela conversão de Roma e agradecido a Deus pela graça do martírio, expirou serenamente... O segredo desta coragem é o amor pelo Salvador. S. Lourenço desejava dar a Jesus amor por amor e sacrifício por sacrifício. Era feliz por se imolar pela conversão dos pagãos. Tinha pressa em ir para o céu encontrar o Salvador bem-amado. Deus não nos pedirá um semelhante martírio, mas o Sagrado Coração de Jesus espera de nós uma grande generosidade nos sacrifícios quotidianos. (Leão Dehon, OSP 4, p. 145s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Onde Eu estiver, aí estará também o meu servo" (Jo 12, 26)

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    S. Lourenço, Diácono (10 Agosto)

  • XIX Semana - Quinta-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XIX Semana - Quinta-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    13 de Agosto, 2020

    Tempo Comum - Anos Pares
    XIX Semana - Quinta-feira

    Lectio

    Primeira Leitura: Ezequiel, 12, 1-12

    1O Senhor dirigiu-me a palavra nestes termos: 2«Filho de homem, tu moras no meio desta raça de gente rebelde que tem olhos para ver e não vê, ouvidos para ouvir e não ouve; porque são gente rebelde. 3Tu, filho de homem, prepara a tua bagagem de emigrante e sai de dia, à vista deles. Sai do lugar onde te encontras, para outro lugar à vista deles. Talvez eles vejam; porque são gente rebelde. 4Prepararás as tuas coisas como bagagem de exilado, de dia, à vista deles; e sairás à tarde, à vista deles, como saem os exilados. 5Faz um buraco na parede, à vista deles, e sai através dele. 6À vista deles, põe a bagagem aos ombros e sai na obscuridade. Cobre o rosto para não poderes ver o país, porque Eu faço de ti um símbolo para a casa de Israel.» 7Procedi conforme me foi ordenado; preparei as minhas coisas como bagagem de exilado e, à tarde, fiz um buraco na parede com a mão. Saí na obscuridade e carreguei a bagagem, à vista deles. 8Foi-me dirigida a palavra do Senhor, de manhã, nestes termos: 9«Filho de homem, não te perguntou a casa de Israel, a gente rebelde: 'Que fazes?' 10Responde-lhes: Assim fala o Senhor Deus: 'Este oráculo de ameaça é dirigido ao chefe de Jerusalém e a toda a casa de Israel que nela habita.' 11Diz: 'Eu sou para vós um sinal. Como eu fiz, assim vos será feito.' Eles irão para o exílio, para o cativeiro. 12O príncipe que se encontra no meio deles carregará a bagagem ao ombro, na obscuridade, e sairá pelo muro, no qual será feito um buraco. Ele cobrirá o rosto para não ser visto por ninguém nem poder contemplar o país.

    A visão do êxodo da glória do Senhor tinha tranquilizado o povo cativo em Babilónia que, todavia, continuava dominado pela ideia de uma especial presença de Javé no templo e, por conseguinte, da sua imunidade. Ainda que os tivesse acompanhado para o exílio, não tinha deixado Jerusalém e, em breve, os acompanharia de volta à pátria. Mas, Ezequiel, com uma acção simbólica, volta a anunciar o próximo fim de Jerusalém, e a deportação do resto do povo para a Mesopotâmia. Realiza a sua acção diante dos seus olhos, mas eles não vêem, porque são uma «raça de gente rebelde» (v. 2). Então, o profeta, carregando a bagagem de exilado, sai, na obscuridade do entardecer, de rosto coberto para não ver nada, através de um buraco aberta na muralha da cidade. É uma acção-mensagem para o rei e para os seus concidadãos. Os versículos 11 e seguintes, talvez acrescentados mais tarde, aludem claramente aos factos históricos. Durante o último cerco a Jerusalém, o rei Sedecias tenta fugir de noite com alguns combatentes. Mas é apanhado e, depois de assistir à morte dos seus filhos, um a um, são-lhe furados os olhos. Deportado para Babilónia, lá ficou prisioneiro (2 Rs 25, 4-7). A realeza "bateu no fundo". É para aí que leva a cegueira religiosa, a presunção diante das mensagens divinas, a rebeldia contra o senhorio de Deus. Com estas palavras, Ezequiel afunda por completo as ilusões dos exilados, convidando-os a confiar, não em deuses construídos pelas mãos dos homens, mas no Deus vivo.

    Evangelho: Mateus 18, 21-19, 1

    Naquele tempo, 21Pedro aproximou-se e perguntou-lhe: «Senhor, se o meu irmão me ofender, quantas vezes lhe deverei perdoar? Até sete vezes?» 22Jesus respondeu: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. 23Por isso, o Reino do Céu é comparável a um rei que quis ajustar contas com os seus servos. 24Logo ao princípio, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. 25Não tendo com que pagar, o senhor ordenou que fosse vendido com a mulher, os filhos e todos os seus bens, a fim de pagar a dívida. 26O servo lançou-se, então, aos seus pés, dizendo: 'Concede-me um prazo e tudo te pagarei.' 27Levado pela compaixão, o senhor daquele servo mandou-o em liberdade e perdoou-lhe a dívida. 28Ao sair, o servo encontrou um dos seus companheiros que lhe devia cem denários. Segurando-o, apertou-lhe o pescoço e sufocava-o, dizendo: 'Paga o que me deves!' 29O seu companheiro caiu a seus pés, suplicando: 'Concede-me um prazo que eu te pagarei.' 30Mas ele não concordou e mandou-o prender, até que pagasse tudo quanto lhe devia. 31Ao verem o que tinha acontecido, os outros companheiros, contristados, foram contá-lo ao seu senhor. 32O senhor mandou-o, então, chamar e disse-lhe: 'Servo mau, perdoei-te tudo o que me devias, porque assim mo suplicaste; 33não devias também ter piedade do teu companheiro, como eu tive de ti?' 34E o senhor, indignado, entregou-o aos verdugos até que pagasse tudo o que devia. 35Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar ao seu irmão do íntimo do coração.» 1Quando acabou de dizer estas palavras, Jesus partiu da Galileia e veio para a região da Judeia, na outra margem do Jordão.

    Depois de ter falado do modo como a comunidade há-de tratar os irmãos pecadores, e da necessidade de os voltar a ganhar, bem como da oração comum, trata agora do comportamento que há-de ter quem se sentir pessoalmente ofendido pelos outros. O judaísmo já conhecia o dever de perdoar as ofensas. Mas tinha elaborado uma espécie de "tarifário", que variava de escola para escola. Assim compreendemos a pergunta de Pedro a Jesus: queria saber qual era o seu tarifário, se era exigente como a escola que exigia o perdão até sete vezes (18, 21). A resposta de Jesus é dada em fórmula de parábola, que liberta o perdão de qualquer tarifa, para fazer dele o sinal da presença do Reino na terra. A parábola apresenta a figura de um rei e do seu devedor, que lhe devia dez mil talentos. Alguns pormenores evocam o juízo final: o rei, cair aos pés do rei, prostrar-se, ter piedade... A desproporção entre os dez mil talentos e os cem denários, realça as diferenças entre as concepções humanas e divinas da dívida e da justiça. Finalmente, também a pena aplicada ao servo, que durará até que tenha pago tudo, lembra o suplício eterno.
    A chave de leitura e de compreensão está no último versículo: «Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar ao seu irmão do íntimo do coração» (v. 35). Deus perdoa-nos se também nós soubermos perdoar. Mas, enquanto a nossa capacidade de misericórdia é limitada, a de Deus é infinita. Há que aproximar da misericórdia de Deus a nossa misericórdia para com os irmãos, porque Deus é extremamente generoso connosco.

    Meditatio

    Ezequiel realiza mais uma acção simbólica, uma parábola em acção, para indicar a próxima queda de Jerusalém às mãos dos caldeus, retirando as esperanças de regre
    sso aos que já se encontram cativos em Babilónia. A pedagogia de Deus, em ordem à conversão do povo, e ao seu futuro feliz, passa pelo castigo. Mas triunfará a misericórdia.
    O evangelho também nos apresenta uma parábola narrada por Jesus, para tratar um tema que tinha muito a peito: o perdão do irmão pecador. Deus é Aquele que perdoa generosamente. A vinda de Jesus tornou claramente perceptível esse perdão. Para Mateus, toda a obra de Jesus é caracterizada pela remissão dos pecados: cura do paralítico (9, 2-7); o seu sangue é «entregue para a remissão dos pecados» (26, 28). Na cruz, Jesus reza pelos seus algozes: «Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem» (Lc 23, 34).
    O perdão de Deus, dado com toda a generosidade e misericórdia, torna-se normativo para as relações entre os discípulos: «não devias também ter piedade do teu companheiro, como eu tive de ti?» (v. 33). A experiência do perdão de Deus há-de levar-nos a perdoar aos irmãos. O nosso comportamento com os outros deve reflectir o modo como Deus se comporta connosco. O que Ele fez por nós ensina-nos o que havemos de fazer pelos outros.
    Na doutrina de Jesus, há alguns «como» a que nem sempre damos a devida atenção: «Ama o teu próximo como a ti mesmo» (Mt 22, 39; Gl 5, 14), «como Eu vos amei» (Jo 15, 12), «como amo o Pai» (Jo 14, 31) ... O mesmo Jesus nos ensina a rezar: «perdoa as nossas ofensas,como nós perdoámos a quem nos tem ofendido» (Mt 6, 12). Jesus não ensina que o preço para sermos perdoados é perdoar, que esse perdão é a única coisa a fazer para sermos perdoados, ou que, uma vez que perdoámos, temos direito ao perdão. O perdão de Deus não é simples eco do nosso espírito de perdão. Pelo contrário: o pensamento da grandeza do perdão de Deus deve sensibilizar o nosso coração, para agirmos de modo semelhante, e sabermos perdoar aos nossos irmãos.
    As nossas relações fraternas hão-de ser marcadas pelo amor, pela confiança e pela estima. Mas, se nos irmãos nem tudo merece estima e confiança, o amor jamais há-de faltar sob a forma de tolerância do irmão, de aceitação, de compreensão, de misericórdia e de perdão: na comunhão fraterna, mesmo para além dos conflitos, e no perdão recíproco, queremos e devemos mostrar que a fraternidade porque os homens anseiam é possível em Jesus Cristo, e dela queremos ser fiéis servidores (cf. Cst 65).

    Oratio

    Senhor, nós somos os servos da parábola generosamente perdoados por Ti, mas nem sempre igualmente generosos com os irmãos que nos ofendem. Temos memória curta, e depressa esquecemos que nos perdoaste, tornando-nos credores exigentes, que querem pagamento imediato, até ao último cêntimo. Livra-nos, Pai misericordioso, de tanta arrogância e esquecimento, Tu que tanto nos perdoaste. Dá-nos um coração semelhante ao teu. Amen.

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra
    «Perdoa as nossas ofensas,
    como nós perdoámos a quem nos tem ofendido» (Mt 6, 12).

    | Fernando Fonseca, scj |

  • XIX Semana - Sexta-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XIX Semana - Sexta-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    14 de Agosto, 2020

    Tempo Comum - Anos Pares
    XIX Semana - Sexta-feira

    Lectio

    Primeira Leitura: Ezequiel, 16, 1-15.60.63

    1O Senhor dirigiu-me a palavra, dizendo: 2«Filho de homem, dá a conhecer a Jerusalém as suas abominações e diz: 3Assim fala o Senhor Deus a Jerusalém: Pelas tuas origens e pelo teu nascimento, és da terra do cananeu. O teu pai era amorreu e a tua mãe hitita. 4No dia em que nasceste, não te cortaram o cordão umbilical, não foste lavada em água para seres purificada, não te friccionaram com sal nem te envolveram em faixas. 5Nenhum olhar teve piedade de ti, para te fazer uma só destas coisas, por compaixão por ti; mas deitaram-te em campo aberto, por repugnância de ti, no dia em que nasceste.» 6«Passei, então, junto de ti e vi que te agitavas em teu sangue. E disse-te: 'Vive em teu sangue.' 7Fiz-te crescer como a erva dos campos; e ficaste grande; e cresceste, adquiriste uma beleza perfeita; os teus seios formaram-se e chegaste à puberdade; mas tu estavas nua, completamente nua. 8Então, passei de novo perto de ti e vi-te; e eis que o teu tempo era o tempo dos amores. Estendi sobre ti a ponta do meu manto e cobri a tua nudez. Fiz, então, um juramento e estabeleci contigo uma aliança - oráculo do Senhor Deus. E ficaste a ser minha. 9Banhei-te em água, lavei o sangue que te cobria e ungi-te com azeite. 10Vesti-te com vestes bordadas, calcei-te sandálias de cabedal fino, cingi-te a cabeça com um véu de linho e cobri-te de seda. 11Ornei-te de jóias, pus-te braceletes nos pulsos e um colar ao pescoço. 12Coloquei-te um anel no nariz, brincos nas orelhas e uma coroa de ouro na cabeça. 13Ficaste, assim, ornada de ouro e prata; o teu vestido era de linho fino, de seda e recamado de bordados. Como alimento, tinhas a flor de farinha, o mel e o azeite. Tornaste-te extraordinariamente bela e chegaste à dignidade real. 14O teu nome espalhou-se entre as nações, graças à tua beleza; porque ela era perfeita, por causa do esplendor de que Eu te havia adornado» - oráculo do Senhor Deus. 15«Mas tu confiaste na tua beleza; serviste-te da tua fama para te prostituíres com os que passavam. 60Eu, pelo contrário, lembrar-me-ei da aliança que fiz contigo, no tempo da tua juventude e estabelecerei contigo uma aliança eterna, 63a fim de que te lembres de mim e sintas vergonha, e não abras mais a boca no meio da tua confusão, quando Eu te perdoar tudo o que fizeste» - oráculo do Senhor Deus.

    Ezequiel, com pormenores e com um realismo que ultrapassam o bom gosto, e dando mostras de um sadismo quase mórbido, relata, alegoricamente, a história de Jerusalém na qual tinham posto todas as esperanças, quer os seus habitantes, quer os exilados. É uma sintética e profunda meditação sobre a história da cidade e da sua visão da instauração do reino de Deus no mundo, em estilo midráshico. Serve-se do simbolismo do matrimónio, tão ao gosto dos profetas, para falar da relação entre Deus e o seu povo.
    Na sua origem, Jerusalém era como uma menina abandonada pelos pais e privada de tudo. Quando os hebreus ocupam a Palestina, não se interessam por Jerusalém. Só com David o Senhor entrou na cidade, fazendo dela sua esposa (vv. 8-13) e beneficiária da glória inaudita do reino de Salomão (cf. v. 14).
    Mas, encantada consigo mesma, Jerusalém quebra o pacto de amor com Deus, tornando-se como uma prostituta: «serviste-te da tua fama para te prostituíres com os que passavam» (v. 59). Nenhuma outra cidade conhecera o amor de Deus como Jerusalém o conheceu. Por isso, será castigada como se castiga uma adúltera, e de modo mais pesado do que foi castigada Sodoma e outras cidades pagãs (vv. 35-52, que não foram incluídos no texto litúrgico). Mas Deus continua a amar a esposa infiel, e prepara-lhe um futuro de conversão e de regresso a Ele. Uma nova aliança será selada por Deus em favor do seu povo.

    Evangelho: Mateus 19, 3-12

    3Naquele tempo, aproximaram-se de Jesus alguns fariseus para O porem à prova e disseram-lhe: «É permitido a um homem divorciar-se da sua mulher por qualquer motivo?» 4Ele respondeu: «Não lestes que o Criador, desde o princípio, fê-los homem e mulher, 5e disse: Por isso, o homem deixará o pai e a mãe e se unirá à sua mulher, e serão os dois um só? 6Portanto, já não são dois, mas um só. Pois bem, o que Deus uniu não o separe o homem.» 7Eles, porém, objectaram: «Então, porque é que Moisés preceituou dar-lhe carta de divórcio, ao repudiá-la?» 8Respondeu Jesus: «Por causa da dureza do vosso coração, Moisés permitiu que repudiásseis as vossas mulheres; mas, ao princípio, não foi assim. 9Ora Eu digo-vos: Se alguém se divorciar da sua mulher - excepto em caso de união ilegal - e casar com outra, comete adultério.» 10Os discípulos disseram-lhe: «Se é essa a situação do homem perante a mulher, não é conveniente casar-se!» 11Respondeu-lhes Jesus: «Nem todos compreendem esta linguagem, mas apenas aqueles a quem isso é dado. 12Há eunucos que nasceram assim do seio materno, há os que se tornaram eunucos pela interferência dos homens e há aqueles que se fizeram eunucos a si mesmos, por amor do Reino do Céu. Quem puder compreender, compreenda.»

    As discussões sobre o divórcio são mais velhas que o Evangelho, e tão antigas como o homem. No tempo de Jesus, a questão era polarizada por duas escolas: a representada pelo rabino Hillel, permissiva, era do parecer que um homem, que encontrasse uma mulher mais atraente do que a sua esposa, e tivesse problemas por causa disso, podia repudiar esta para voltar a casar com aquela. Os rigoristas, representados pela escola do rabino Shammai, entendiam que a excepção do Deuteronómio se referia unicamente ao caso de adultério. A questão, posta a Jesus pelos fariseus, não é mais do que uma cilada: querem obrigá-lo a tomar posição por uma corrente. Mas Jesus esquiva-se declarando-se contrário ao divórcio. Justifica a sua posição com dois textos da Escritura: Gn 1, 27 e 2, 24. Deus quer que marido e mulher permaneçam unidos como «uma só carne» (Mt 19, 5s.). Não separe o homem o que Deus uniu, mesmo que seja Moisés (v. 6b). O matrimónio é um contrato entre duas pessoas, é verdade. Mas, esse contrato também implica a vontade de Deus inscrita na complementaridade dos sexos. O divórcio não tem em conta uma das partes do matrimónio, o próprio Criador.
    Na segunda parte do texto, os discípulos, a sós com Jesus, manifestam perplexidade e dificuldade em assumir tão graves responsabilidades do matrimónio. Mas Jesus afirma que só a responsabilidade pela difusão do Reino dos céus torna louvável a renúncia ao matrimónio. Nem todos compreenderão as palavras de Jesus. Hão-de compreendê-las «aqueles a quem isso é dado» (v. 11). Trata-se de uma inspiração interior dada aos apóstolos e àqueles que acreditam (Mt 11, 25 e 16, 17).

    Meditatio

    Amor &
    eacute; fidelidade. Porque Deus nos ama, quer que o amemos e, portanto, vivamos na fidelidade.
    Deus ama Jerusalém gratuitamente, com um amor de compaixão. A cidade santa era como uma menina abandonada, que Deus encontrou: «Nenhum olhar teve piedade de ti» (v. 5), - diz o Senhor - «Passei, então, junto de ti e vi que te agitavas em teu sangue. E disse-te: 'Vive!'» (v. 6). Deus teve compaixão de Jerusalém, e foi generoso com ela. Ezequiel descreve os dons com que o Senhor a cumulou e, sobretudo, como a fez sua esposa: «Fiz, então, um juramento e estabeleci contigo uma aliança... E ficaste a ser minha» (v. 8). Depois, purificou-a e adornou-a: «Banhei-te em água... Vesti-te com vestes bordadas... Ornei-te de jóias» (cf. vv. 9-11). A um amor tão terno e generoso, Jerusalém respondeu com a infidelidade. Aproveita os dons do seu esposo para Lhe ser infiel, volta-se para outros deuses e viola a aliança nupcial. Deus protesta. Não pode aceitar tal ofensa. Mas promete trazer, Ele mesmo, remédio para a escandalosa situação: «Eu lembrar-me-ei da aliança que fiz contigo... e estabelecerei contigo uma aliança eterna» (v. 60). O fruto de tanta generosidade há-de ser a conversão de Jerusalém. Depois de experimentar as consequências da sua infidelidade, estará pronta para ser libertada do mal, e poderá viver um amor reconhecido.
    Jesus, interrogado sobre os motivos que podiam tornar lícito o repúdio da esposa, coloca-se acima das controvérsias dos teólogos, e, pondo em causa a autoridade de Moisés, apela para a lei da Criação: «Por causa da dureza do vosso coração, Moisés permitiu que repudiásseis as vossas mulheres; mas, ao princípio, não foi assim» (v. 8). No princípio, Deus criou o homem e a mulher, e disse: «Serão os dois uma só carne» (Gn 2, 24). E Jesus acrescentou: «Não separe o homem o que Deus uniu» (Mt 19, 6). A fidelidade é essencial para o nosso bem, pois permite o crescimento permanente no amor generoso, semelhante ao do Criador. O verdadeiro remédio para as dificuldades está no amor capaz de as superar. A nossa dignidade revela-se no facto de termos sido criados para viver como Deus e com Deus, no amor fiel.
    Jesus exalta a castidade voluntária, os «eunucos» que se fizeram tais, livremente «por causa do Reino dos Céus» (Mt 19, 12), tal como Ele também Se fizera. «Pelo voto de celibato consagrado, dom de Deus para quem o compreende (cf. Mt 19,11), comprometemo-nos diante de Deus a viver a castidade perfeita no celibato pelo Reino e a seguir a Cristo no seu amor a Deus e aos irmãos e em seu modo de estar presente no meio dos homens» (Cst 41).

    Oratio

    É difícil, Senhor, compreender o que significa casar ou viver no celibato, sobretudo neste tempo em que somos bombardeados com tantos projectos e acossados por tantos "intelectuais" que pretendem ter a última palavra sobre os temas. A tua palavra, hoje, faz-nos compreender que tudo está sob o sinal da tua graça, e que precisamos da luz do teu Espírito. Manda-nos, Senhor o teu Espírito de amor generoso, de unidade e de fidelidade. Manda-O iluminar e purificar os nossos corações, os nossos sentimentos, as nossas mentes, as nossas fantasias, os nossos pequenos e grandes projectos. Manda-nos o teu Espírito, que é força para arriscar, para confiar, para realizar aquele projecto que é teu, antes de ser nosso. Amen.

    Contemplatio

    Jesus está prostrado, com o rosto por terra. Abaixa a sua majestade diante do seu Pai. Tem os olhos banhados de choros. Está tomado de uma terrível angústia, dos apertos da agonia: experimenta, uns após outros, o medo, o desgosto, o abatimento. Nunca alma humana suportou semelhante opressão. É o martírio do Coração.
    Tomou a responsabilidade de todos os crimes da terra: os sacrilégios, as blasfémias, o orgulho, a impureza, a injustiça sob todas as suas formas; as ingratidões também, a cobardia, a tibiez dos seus preferidos. A vergonha penetra-o, que repugnância a sua alma santa sente por todos estes horrores! Está na iminência de perder a vida... O sangue, acumulado à volta do seu coração divino pela violência das suas emoções, rompe as veias inchadas e inunda a terra.
    Escutemos as suas palavras: A minha alma está numa tristeza de morte, a ponto de morrer de tristeza. Permanecei aqui e vigiai comigo. Vigiai e rezai. Mas os apóstolos dormem. Que ingratidão, depois do dom da Eucaristia! Que indelicadeza! Que crueldade! Infelizmente, temos nós um coração melhor? Jesus é ainda traído na Eucaristia; é abandonado; repara; tem uma tristeza mística. Onde estamos? Que fazemos? Não somos discípulos, apóstolos, preferidos do Salvador? Onde estão o nosso reconhecimento e a nossa fidelidade? (Leão Dehon, OSP 3, p. 138).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra
    «Estabelecerei contigo uma aliança eterna» (Ez 16, 60).

    | Fernando Fonseca, scj |

  • Solenidade da Assunção da Virgem Santa Maria

    Solenidade da Assunção da Virgem Santa Maria


    15 de Agosto, 2020

    Tema da Solenidade da Assunção da Virgem Santa Maria

    Bendita és tu, Maria! Hoje, Jesus ressuscitado acolhe a sua mãe na glória do céu... Hoje, Jesus vivo, glorificado à direita do Pai, põe sobre a cabeça da sua mãe a coroa de doze estrelas...
    Primeira leitura: Maria, imagem da Igreja. Como Maria, a Igreja gera na dor um mudo novo. E como Maria, participa na vitória de Cristo sobre o Mal.
    Salmo: Bendita és tu, Virgem Maria! A esposa do rei é Maria. Ela tem os favores de Deus e está associada para sempre à glória do seu Filho.
    Segunda leitura: Maria, nova Eva. Novo Adão, Jesus faz da Virgem Maria uma nova Eva, sinal de esperança para todos os homens.
    Evangelho: Maria, Mãe dos crentes. Cheia do Espírito Santo, Maria, a primeira, encontra as palavras da fé e da esperança: doravante todas as gerações a chamarão bem-aventurada!

    LEITURA I - Ap 11,19a;12,1-6a.10ab

    Leitura do Apocalipse de São João

    O templo de Deus abriu-se no Céu
    e a arca da aliança foi vista no seu templo.
    Apareceu no Céu um sinal grandioso:
    uma mulher revestida de sol,
    com a lua debaixo dos pés
    e uma coroa de doze estrelas na cabeça.
    Estava para ser mãe
    e gritava com as dores e ânsias da maternidade.
    E apareceu no Céu outro sinal:
    um enorme dragão cor de fogo,
    com sete cabeças e dez chifres
    e nas cabeças sete diademas.
    A cauda arrastava um terço das estrelas do céu
    e lançou-as sobre a terra.
    O dragão colocou-se diante da mulher que estava para ser mãe,
    para lhe devorar o filho, logo que nascesse.
    Ela teve um filho varão,
    que há-de reger todas as nações com ceptro de ferro.
    O filho foi levado para junto de Deus e do seu trono
    e a mulher fugiu para o deserto,
    onde Deus lhe tinha preparado um lugar.
    E ouvi uma voz poderosa que clamava no Céu:
    «Agora chegou a salvação, o poder e a realeza do nosso Deus
    e o domínio do seu Ungido».

    BREVE COMENTÁRIO

    As visões do Apocalipse exprimem-se numa linguagem codificada. Elas revelam que Deus arranca os seus fiéis de todas as formas de morte. Por transposição, a visão o sinal grandioso pode ser aplicada a Maria.
    O livro do Apocalipse foi composto no ambiente das perseguições que se abatiam sobre a jovem Igreja, ainda tão frágil. O profeta cristão evoca estes acontecimentos numa linguagem codificada, em que os animais terrificantes designam os perseguidores. A Mulher pode representar a Igreja, novo Israel, o que sugere o número doze (as estrelas). O seu nascimento é o do baptismo que deve dar à terra uma nova humanidade. O Dragão é o perseguidor, que põe tudo em acção para destruir este recém-nascido. Mas o destruidor não terá a última palavra, pois o poder de Deus está em acção para proteger o seu Filho.
    Proclamando esta mensagem na Assunção, reconhecemos que, no seguimento de Jesus e na pessoa de Maria, a nova humanidade já é acolhida junto de Deus.

    SALMO RESPONSORIAL - Salmo 44 (45)

    Refrão 1: À vossa direita, Senhor, a Rainha do Céu,
    ornada do ouro mais fino.

    Refrão 2: À vossa direita, Senhor, está a Rainha do Céu.

    Ao vosso encontro vêm filhas de reis,
    à vossa direita está a rainha, ornada com ouro de Ofir.

    Ouve, minha filha, vê e presta atenção,
    esquece o teu povo e a casa de teu pai.

    Da tua beleza se enamora o Rei;
    Ele é o teu Senhor, presta-Lhe homenagem.

    Cheias de entusiasmo e alegria,
    entram no palácio do Rei.

    LEITURA II - 1 Cor 15,20-27

    Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios

    Irmãos:
    Cristo ressuscitou dos mortos,
    como primícias dos que morreram.
    Uma vez que a morte veio por um homem,
    também por um homem veio a ressurreição dos mortos;
    porque, do mesmo modo que em Adão todos morreram,
    assim também em Cristo serão todos restituídos à vida.
    Cada qual, porém, na sua ordem:
    primeiro, Cristo, como primícias;
    a seguir, os que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda.
    Depois será o fim,
    quando Cristo entregar o reino a Deus seu Pai
    depois de ter aniquilado toda a soberania, autoridade e poder.
    É necessário que Ele reine,
    até que tenha posto todos os inimigos debaixo dos seus pés.
    E o último inimigo a ser aniquilado é a morte,
    porque Deus tudo colocou debaixo dos seus pés.
    Mas quando se diz que tudo Lhe está submetido
    é claro que se exceptua Aquele que Lhe submeteu todas as coisas.

    BREVE COMENTÁRIO

    A Assunção é uma forma privilegiada de Ressurreição. Tem a sua origem na Páscoa de Jesus e manifesta a emergência de uma nova humanidade, em que Cristo é a cabeça, como novo Adão.
    Todo o capítulo 15 desta epístola é uma longa demonstração da ressurreição. Na passagem escolhida para a festa da Assunção, o apóstolo apresenta uma espécie de genealogia da ressurreição e uma ordem de prioridade na participação neste grande mistério. O primeiro é Jesus, que é o princípio de uma nova humanidade. Eis porque o apóstolo o designa como um novo Adão, mas que se distingue absolutamente do primeiro Adão; este tinha levado a humanidade à morte, ao passo que o novo Adão conduz aqueles que o seguem para a vida.
    O apóstolo não evoca Maria, mas se proclamamos esta leitura na Assunção, é porque reconhecemos o lugar eminente da Mãe de Deus no grande movimento da ressurreição.

    ALELUIA
    Aleluia. Aleluia.

    Maria foi elevada ao Céu;
    alegra-se a multidão dos Anjos.

    EVANGELHO - Lc 1,39-56
    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

    Naqueles dias,
    Maria pôs-se a caminho
    e dirigiu-se apressadamente para a montanha,
    em direcção a uma cidade de Judá.
    Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel.
    Quando Isabel ouviu a saudação de Maria,
    o menino exultou-lhe no seio.
    Isabel ficou cheia do Espírito Santo
    e exclamou em alta voz:
    «Bendita és tu entre as mulheres
    e bendito é o fruto do teu ventre.
    Donde me é dado
    que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor?
    Na verdade, logo que chegou aos meus ouvidos
    a voz da tua saudação,
    o menino exultou de alegria no meu seio.
    Bem-aventurada aquela que acreditou
    no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito
    da parte do Senhor».
    Maria disse então:
    «A minha alma glorifica o Senhor
    e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador,
    porque pôs os olhos na humildade da sua serva:
    de hoje em diante me chamarão bem-aventurada
    todas as gerações.
    O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas:
    Santo é o seu nome.
    A sua misericórdia se estende de geração em geração
    sobre aqueles que O temem.
    Manifestou o poder do seu braço
    e dispersou os soberbos.
    Derrubou os poderosos de seus tronos
    e exaltou os humildes.
    Aos famintos encheu de bens
    e aos ricos despediu de mãos vazias.
    Acolheu a Israel, seu servo,
    lembrado da sua misericórdia,
    como tinha prometido a nossos pais,
    a Abraão e à sua descendência para sempre».
    Maria ficou junto de Isabel cerca de três meses
    e depois regressou a sua casa.

    BREVE COMENTÁRIO

    O cântico de Maria descreve o programa que Deus tinha começado a realizar desde o começo, que ele prosseguiu em Maria e que cumpre agora na Igreja, para todos os tempos.
    Pela Visitação que teve lugar na Judeia, Maria levava Jesus pelos caminhos da terra. Pela Dormição e pela Assunção, é Jesus que leva a sua mãe pelos caminhos celestes, para o templo eterno, para uma Visitação definitiva. Nesta festa, com Maria, proclamamos a obra grandiosa de Deus, que chama a humanidade a se juntar a ele pelo caminho da ressurreição.
    Em Maria, Ele já realizou a sua obra na totalidade; com ela, nós proclamamos: "dispersou os soberbos, exaltou os humildes". Os humildes são aqueles que crêem no cumprimento das palavras de Deus e se põem a caminho, aqueles que acolhem até ao mais íntimo do seu ser a Vida nova, Cristo, para o levar ao nosso mundo. Deus debruça-se sobre eles e cumpre neles maravilhas.

    Rezar por Maria.
    Frequentemente, ouvimos a expressão: "rezar à Virgem Maria"... Esta maneira de falar não é absolutamente exacta, porque a oração cristã dirige-se a Deus, ao Pai, ao Filho e ao Espírito: só Deus atende a oração. Os nossos irmãos protestantes que, contrariamente ao que se pretende, por vezes têm a mesma fé que os católicos e os ortodoxos na Virgem Maria Mãe de Deus, recordam-nos que Maria é e se diz ela própria a Serva do Senhor.
    Rezar por Maria é pedir que ela reze por nós: "Rogai por nós pecadores agora e na hora da nossa morte!" A sua intervenção maternal em Caná resume bem a sua intercessão em nosso favor. Ela é nossa "advogada" e diz-nos: "Fazei tudo o que Ele vos disser!"

    Rezar com Maria.
    Ela está ao nosso lado para nos levar na oração, como uma mãe sustenta a palavra balbuciante do seu filho. Na glória de Deus, na qual nós a honramos hoje, ela prossegue a missão que Jesus lhe confiou sobre a Cruz: "Eis o teu Filho!" Rezar com Maria, mais que nos ajoelharmos diante dela, é ajoelhar-se ao seu lado para nos juntarmos à sua oração. Ela acompanha-nos e guia-nos na nossa caminhada junto de Deus.

    Rezar como Maria.
    Aprendemos junto de Maria os caminhos da oração. Na escola daquela que "guardava e meditava no seu coração" os acontecimentos do nascimento e da infância de Jesus, nós meditamos o Evangelho e, à luz do Espírito Santo, avançamos nos caminhos da verdade. A nossa oração torna-se acção de graças no eco ao Magnificat. Pomos os nossos passos nos passos de Maria para dizer com ela na confiança: "que tudo seja feito segundo a tua Palavra, Senhor!"

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA A SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE MARIA
    (tópicos inspirados em "Signes d'aujourd'hui")

    1. A liturgia meditada ao longo da semana.
    Ao longo dos dias da semana anterior à Solenidade da Assunção de Maria, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa...

    2. Confiar o Magnificat a uma voz de mulher.
    No Evangelho, excepcionalmente, porque não confiar o "Magnificat" a uma voz de mulher que poderia lê-lo ou cantá-lo?

    3. Pensar na participação das crianças.
    Uma festa é bem conseguida quando se consegue congregar todas as gerações. Seria bom pensar em particular na participação das crianças: ficarem à volta da estátua de Nossa Senhora durante a procissão do ofertório; fazerem uma oração a Nossa Senhora no final da celebração...

    4. Oração na lectio divina.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

    No final da primeira leitura:
    "Pai do céu, juntamos as nossas vozes à que nos vem do céu para proclamar: Eis agora a salvação, o poder e a realeza do nosso Deus e o poder do seu Cristo. Glória a Ti, Deus de vida.
    Nós Te pedimos pelas tuas Igrejas, ameaçadas pelos «dragões» da nossa época: a indiferença, as religiosidades desviadas e as perseguições".

    No final da segunda leitura:
    "Deus Pai, nós Te damos graças pela ressurreição que manifestaste pelo teu Filho Jesus, o novo Adão, e pela assunção na vida gloriosa que revelas em Maria, mãe do teu Filho.
    Nós Te confiamos os nossos defuntos e as famílias em luto. Releva-nos pela promessa da ressurreição. Transformas as nossas penas em esperança".

    No final do Evangelho:
    "Nós Te bendizemos, Deus do universo, porque pelo teu Filho ainda pequeno e pela sua mãe, Maria, visitaste o teu povo, vieste até nós. Felizes aqueles que acreditam no cumprimento da tua Palavra.
    Nós Te pedimos pelas nossas comunidades cristãs, encarregadas, como Maria, de levar Cristo ao mundo. Como fizeste por ela, guia-nos pelo teu Espírito Santo".

    5. Oração Eucarística.
    Pode-se escolher a Oração Eucarística III, em que a primeira intercessão exprime bem o mistério deste dia.

    6. Palavra para o caminho.
    Um tríplice segredo... A meio do verão, eis uma festa para nos fazer parar junto de Maria e receber dela um tríplice segredo: o segredo da fé sem falha tão bem ajustada a Deus ("Eis a serva do Senhor"...); o segredo da sua esperança confiante em Deus ("nada é impossível a Deus"...); o segredo da sua caridade missionária ("Maria pôs-se a caminho apressadamente"...). E nós podemos pedir-lhe para nos acompanhar no caminho das nossas vidas...

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    Proposta para
    Escutar, Partilhar, Viver e Anunciar a Palavra nas Comunidades Dehonianas
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
    Tel. 218540900 - Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org

  • XX Semana - Segunda-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XX Semana - Segunda-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    17 de Agosto, 2020

    Tempo Comum - Anos Pares
    XX Semana - Segunda-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Ezequiel 24, 15-24

    15O Senhor dirigiu-me a palavra, dizendo: 16«Filho de homem, vou tirar-te de repente aquela que é a alegria dos teus olhos; mas tu não deverás lamentar-te, nem chorar, nem derramar lágrimas. 17Suspira em silêncio, não guardes o luto habitual pelos defuntos; conserva o turbante na cabeça, calça as sandálias, não cubras o rosto e não comas pão ordinário.» 18Falei ao povo na parte da manhã. À tarde, minha mulher morria; e eu, na manhã do dia seguinte, fiz como me tinha sido ordenado. 19E o povo disse-me: «Não queres dizer-nos o que significa para nós aquilo que fizeste?» 20E eu respondi-lhes: «A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: 21Diz à casa de Israel: 'Assim fala o Senhor Deus: Eis que vou profanar o meu santuário, o orgulho da vossa força, as delícias dos vossos olhos e a paixão das vossas vidas. Os vossos filhos e filhas que deixastes cairão ao fio da espada. 22Então, fareis o que Eu fiz. Não cobrireis o vosso rosto e não comereis pão ordinário. 23Com o turbante na cabeça e as sandálias calçadas, não vos lamentareis e não chorareis; mas consumir-vos-eis nas vossas iniquidades e gemereis uns para os outros. 24Ezequiel será para vós um sinal: fareis como ele fez, quando isto acontecer. Então, reconhecereis que Eu sou o Senhor Deus.

    Como Oseias apresentou o seu matrimónio, e Jeremias o seu celibato, Ezequiel apresenta a morte da sua esposa como sinal eloquente de Deus para o seu povo, agora no exílio. São factos da vida que se convertem em oráculos com uma intensidade nova e desusada. Por muito que lhe doa a perda da «alegria dos seus olhos» (v. 16), Ezequiel não usa, por vontade de Deus, sinais exteriores de luto e de dor. Antes de ser esposo, é profeta. O povo estranha e interroga-se sobre o significado do seu comportamento. A resposta é contundente: o próprio Deus vai profanar o seu santuário, «as delícias dos vossos olhos e a paixão das vossas vidas» (v. 21). Os exilados hão-de meditar em silêncio a tragédia de Jerusalém. Para quê? Para saberem que «Eu sou o Senhor» (v. 24). Em última análise, pretende-se que o povo não se afaste de Deus, tal como Deus não se afasta dele.
    Ezequiel, mudo pela dor e pela tragédia, remete-se a um silêncio sereno, atento ao desenvolvimento dos acontecimentos, até que lhe seja comunicada a queda de Jerusalém. Só então voltará a falar, para não mais se calar. Assim termina a primeira parte do livro de Ezequiel, em que o profeta apenas pôde anunciar oráculos cominatórios, que os acontecimentos históricos vieram confirmar.

    Evangelho: Mateus, 19, 16-22

    16Naquele tempo, aproximou-se de Jesus um jovem e disse-lhe: «Mestre, que hei-de fazer de bom, para alcançar a vida eterna?» 17Jesus respondeu-lhe: «Porque me interrogas sobre o que é bom? Bom é um só. Mas, se queres entrar na vida eterna, cumpre os mandamentos.» 18«Quais?» - perguntou ele. Retorquiu Jesus: Não matarás, não cometerás adultério, não roubarás, não levantarás falso testemunho, 19honra teu pai e tua mãe; e ainda: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. 20Disse-lhe o jovem: «Tenho cumprido tudo isto; que me falta ainda?» 21Jesus respondeu: «Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me.» 22Ao ouvir isto, o jovem retirou-se contristado, porque possuía muitos bens.

    O encontro de Jesus com o jovem rico é referido pelos três Sinópticos com algumas diferenças. Por exemplo, Mateus fala de um «jovem» que se apresenta a Jesus e lhe chama simplesmente «Mestre». Marcos e Lucas falam de «um homem» que se dirige a Jesus, chamando-lhe «bom Mestre».(cf. Mc 10, 17ss.; Lc 10, 25ss.) Também a resposta de Jesus é diferente. Enquanto Mateus, como é habitual, evita pronunciar o nome de Deus: e escreve «Porque me interrogas sobre o que é bom? Bom é um só» (v. 17), Marcos e Lucas escrevem: «Porque me interrogas sobre o que é bom? Bom é um só: Deus».
    Todo o homem anseia pela vida e felicidade eterna, e todo o homem se interroga sobre o modo para as alcançar. Já os discípulos de João Baptista o interrogaram sobre essa questão (cf. Lc 3, 10). No dia do Pentecostes, os ouvintes de Pedro hão-de fazer-lhe a mesma pergunta (cf Act 2, 37). No nosso texto, é um jovem que anda à procura, que quer fazer algo para alcançar a vida eterna. Jesus fica agradado com a sua boa vontade e, pouco a pouco, procura orientá-lo.
    Com a pergunta: «Porque me interrogas sobre o que é bom? Bom é um só» (v. 17), Jesus insinua que, procurar a vida eterna é, ao fim e ao cabo, procurar Alguém, que tem um rosto concreto, e não algo de abstracto. Posto isto, Jesus indica-lhe o tradicional caminho da prática dos mandamentos. O jovem não fica satisfeito com essa resposta demasiado óbvia, e até estava convencido de sempre ter «cumprido tudo isso» (v. 20). Procurava, pois, algo mais. Então, Jesus lança-lhe uma proposta: «Se queres ser perfeito...» (v. 21). Jesus aprecia a boa vontade, o esforço de quem quer ir mais longe. Já tinha apontado uma meta sem limites, ao dizer: «sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste» (Mt 5, 48). O caminho para essa meta é dar tudo aos pobres e pôr-se a seguir Jesus. É o que o «Mestre» diz ao jovem, porque os bens, quando não são partilhados com os pobres, afastam o homem do Bem supremo, que é Deus: «onde está o teu tesouro, aí está o teu coração» (Mt 6, 21). Para seguir a Cristo, é preciso ter o coração no lugar certo. Não era o caso deste jovem, que tinha muitos bens, e se foi embora triste (cf. v. 22).

    Meditatio

    Ezequiel perde a sua mulher. Não sabemos o que a leva à morte, mas sabemos que, por inspiração de Deus, o profeta não manifesta a sua aflição, não põe luto. O Senhor dissera-lhe: «Suspira em silêncio, não guardes o luto habitual pelos defuntos; conserva o turbante na cabeça, calça as sandálias, não cubras o rosto e não comas pão ordinário» (v. 17). O drama familiar de Ezequiel devia servir de sinal profético. O povo interroga-o sobre um comportamento considerado estranho, e o profeta responde: «O Senhor vai profanar o seu santuário, o orgulho da vossa força, as delícias dos vossos olhos e a paixão das vossas vidas. Os vossos filhos e filhas que deixastes cairão ao fio da espada» (v. 21). E nem sequer tereis oportunidade para fazer luto: «Com o turbante na cabeça e as sandálias calçadas, não vos lamentareis e não chorareis» (v. 23). Ezequiel era sinal dessa tragédia, em que não haveria tempo para chorar: a destruição de Jerusalém e do templo,
    e a partida para o exílio. Os hebreus tinham uma enorme paixão pelo templo, casa de Deus, sacramento da aliança nupcial de Deus com o seu povo. Ao anunciar a sua profanação e destruição, Deus tem uma intenção positiva, anunciada no fim do nosso texto: «Então, reconhecereis que Eu sou o Senhor Deus» (v. 24). Com a catástrofe, Deus quer tornar possível a conversão. De facto, depois da destruição de Jerusalém e do templo, e da deportação para Babilónia, os hebreus recordaram as palavras de Jeremias e de Ezequiel, que tudo tinha predito, meditaram nessas profecias e alcançaram a graça da conversão. Reconheceram as suas culpas e compreenderam a intenção divina de perdoar e recomeçar tudo, numa nova relação de aliança, mais íntima e profunda.
    Também nós somos chamados a reler as Escrituras, especialmente em situações de provação e sofrimento. Paulo escreve: «Estas coisas aconteceram-lhes para nosso exemplo e foram escritas para nos servir de aviso, a nós que chegámos ao fim dos tempos» (1 Cor 10, 11); «A verdade é que tudo o que foi escrito no passado foi escrito para nossa instrução, a fim de que, pela paciência e pela consolação que nos dão as Escrituras, tenhamos esperança» (Rm 15, 4). A palavra de Deus, mesmo quando muito severa, é sempre causa de esperança, porque abre perspectivas positivas, depois da necessária purificação. Os hebreus exilados tiveram ocasião de ver o rosto de Deus no sofrimento. O jovem rico, pelo contrário, por sua iniciativa, e cheio de zelo, procura o caminho que leva à vida eterna, e pede conselho sobre o que é bom, e sobre o que deve fazer para a alcançar.
    As leituras de hoje apontam dois caminhos de «transcendência»: Um que parte de baixo, quando o homem, ao bater no fundo da miséria, experimenta a sua fraqueza, mas também a presença misteriosa de Deus que o sustenta e ergue; outro que parte do alto, quando o homem descobre que é capaz de ir mais longe, de ir além do obrigatório, experimentando a graça de Deus, que o anima e impele a dar um salto de qualidade. A vida do homem é um cruzar de altos e baixos, de avanços e retrocessos, de êxitos e de quedas, de entusiasmos e depressões. Mas Deus está em cada momento e em cada situação, sempre pronto para o encontro que nos pode transformar e salvar. Tudo é obra de amor. Também o sofrimento, colhido na sua profundidade, é uma experiência de amor. Se for vivido com Cristo crucificado, o sofrimento é ocasião, não só de purificação dolorosa, mas de abertura à acção do Espírito, de puro abandono, de união amorosa à Vítima divina. Então, o tempo do sofrimento, em que tudo é tão frágil e caduco, torna-se uma interiorização no ser profundo da pessoa, um encontro e comunhão com uma Presença misteriosa que nos ama.

    Oratio

    Senhor, as tuas criaturas menos inteligentes, não precisam de te interrogar sobre o que hão-de fazer. As flores desabrocham na Primavera, as estrelas comparecem no céu quando a noite desce, os pássaros migram quando mudam as estações. Todos obedecem, sem pedir explicações. Limitam-se a usufruir, admirar, louvar. Só nós, os seres humanos, feitos à tua imagem e semelhança, te bombardeamos com perguntas e mais perguntas. Não aprendemos a conhecer a tua vontade por intuição tácita, por sintonia de coração. Pior ainda: por vezes ficamos tristes com as tuas respostas, porque, no fundo não queremos saber nem fazer o que Tu queres, mas o que nós queremos. Tem paciência, Senhor! E perdoa-nos! Amen.

    Contemplatio

    A cena da vocação do jovem é muito tocante. Este jovem é bom, deseja a perfeição. Corre para diante de Jesus, ajoelha-se no caminho sem respeito humano, está tomado de uma terna afeição por Jesus: «Bom Mestre, diz-lhe o jovem. «Só Deus é bom», responde-lhe Jesus. Depois detém o seu olhar sobre ele, ama-o, queria dar-lhe a graça do apostolado. Convida-o à perfeição e ao desapego das riquezas; o jovem rico hesita e recua; como Jesus deve ter sofrido! (Leão Dehon, OSP 4, p. 142).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
    «Então, reconhecereis que Eu sou o Senhor Deus» (Ez 24, 24).

    | Fernando Fonseca, scj |

  • S. João Eudes, Presbítero

    S. João Eudes, Presbítero


    19 de Agosto, 2020

    S. João Eudes nasceu em França, em 1601. Tendo estudado num colégio dos Jesuítas, acabou por entrar no Oratório de Paris, em 1624, onde foi iniciado na espiritualidade por Bérulle e Condren. Dedicou-se à pregação de missões populares e ao ministério do confessionário. Em 1642 fundou a congregação dos Eudistas e a de Nossa Senhora da Caridade, que tiveram importante papel na divulgação da devoção ao Sagrado Coração de Jesus. João Eudes foi o autor dos primeiros textos para a celebração litúrgica dos sagrados Corações de Jesus e de Maria. Faleceu em 1680.

    Lectio

    Primeira leitura: Efésios 3, 14-19

    Irmãos: Eu dobro os joelhos diante do Pai, 15do qual recebe o nome toda a família, nos céus e na terra: 16que Ele vos conceda, de acordo com a riqueza da sua glória, que sejais cheios de força, pelo seu Espírito, para que se robusteça em vós o homem interior; 17que Cristo, pela fé, habite nos vossos corações; que estejais enraizados e alicerçados no amor, 18para terdes a capacidade de apreender, com todos os santos, qual a largura, o comprimento, a altura e a profundidade... 19a capacidade de conhecer o amor de Cristo, que ultrapassa todo o conhecimento, para que sejais repletos, até receberdes toda a plenitude de Deus.

    Toda a família, isto é, qualquer grupo que possamos imaginar, nos céus e na terra, tem por autor o mesmo e único Deus. O internacionalismo de Paulo é absoluto e universal. No império romano eram toleradas, e até apoiadas, todas as religiões, na condição de que não pretendessem ser internacionais. Paulo tinha consciência de ser instrumento de uma irrupção do divino, que o impelia a percorrer o caminho do universalismo absoluto. Mas desconhecia as consequências sociais e políticas da sua cosmovisão religiosa. O Apóstolo fala do "homem interior" que terá de ser "fortificado pelo Espírito". Vislumbra a grandiosidade da meta para a qual se dirige a partir da saída de si mesmo. Só através da fé os cristãos poderão "apreender qual a largura, o comprimento, a altura e a profundidade" (v. 18) de algo que é indizível, "o amor de Cristo, que ultrapassa todo o conhecimento" (v. 19), até ficarem "repletos de toda a plenitude de Deus" (v. 19).

    Evangelho: da féria (ou do Comum)

    Meditatio

    O Padre Eudes, a maravilha do seu século, no dizer de M. Olier, depois de ter penetrado até ao mais íntimo das almas de Jesus e de Maria e depois de ter perscrutado os seus mistérios, tão tardou a encontrar um alimento para a sua piedade na devoção aos Sagrados Corações de Jesus e de Maria. Esclarecido pelas luzes sobrenaturais da Irmã Maria des Vallées e provavelmente também pelas suas próprias revelações, não quis ter outra meta para o seu amor e para as suas homenagens senão estes Corações Sagrados, Resolveu consagrar a sua vida a estabelecer e a propagar o culto destes dois Corações, que uniu como fazendo um só todo moral, considerando-os como um mesmo Coração em unidade de espírito, de sentimento, de vontade e de afeto. Começa a sua propaganda em 1640, e a primeira grande revelação de Margarida Maria não data senão de 1673. «Ele foi, diz o Padre Regnault (diretor do Mensageiro do Sagrado Coração), um zelador excecional ao qual cabe a honra insigne de ter sido o primeiro a trabalhar na propagação do culto do Sagrado Coração». - «O Padre Eudes, diz o cardeal Perraud, foi suscitado por Deus para preparar o mundo cristão a receber a grande devoção da qual uma revelação miraculosa devia confiar mais tarde o apostolado à visitandina de Paray».
    O Padre Eudes começou por fundar duas congregações, consagradas aos sagrados Corações de Jesus e de Maria. A sua Congregação de Padres propagou esta devoção em várias dioceses. Depois erigiu confrarias dedicadas à mesma devoção e obteve para elas a aprovação da Santa Sé. Fundou várias capelas em honra dos dois Sagrados Corações. A de São Salvador, na diocese de Coutance, é designada numa bula de Clemente X sob o nome preciso de igreja do Coração de Jesus e de Maria. A sua construção deu lugar às ofertas mais generosas da parte de todas as classes da sociedade. O Padre Eudes preparava assim o público, em França, para receber as manifestações de Paray-le-Monial.
    Até 1670, o Padre Eudes tinha unido mais ou menos constantemente os dois Corações do Filho e da Mãe, considerando-os na sua união moral. A partir desta altura, faz de cada um destes Corações objeto de um culto especial.
    O Padre Eudes redige então esta missa deliciosa do Sagrado Coração que se chamou a missa do fogo tanto é animada por um amor ardente. Foi aprovada em várias dioceses. Escreve o seu belo ofício, que exprime tão bem o espírito suave e terno de Jesus, e que nos revela, como diz o Padre Le Doré, os tesouros de mansidão, de misericórdia e de bondade que encerra o Coração tão cheio de amor do divino Mestre. São como outros tantos jatos de fogo que se escapam uns atrás dos outros do Coração de Jesus e da alma que canta o seu amor, as suas grandezas e os seus encantos.
    Várias comunidades religiosas adotaram o ofício da missa, nomeadamente as beneditinas do Santíssimo Sacramento e a abadia de Montmartre.
    No seu livro sobre o Coração adorável de Jesus, publicado em 1670, o Padre Eudes exprime já todos os sentimentos que Margarida Maria devia receber diretamente do Coração de Jesus, pouco tempo depois.
    Como ela, une a reparação ao amor. Diz-nos que um dos sentimentos do Coração de Jesus que mais merece ser objeto da nossa devoção é esta imensa dor de que está penetrado desde a sua agonia até ao Calvário, e que o inundaria todos os dias, se a dor pudesse entrar no céu.
    Mostra-nos também no Coração de Jesus o altar de ouro do divino amor, a cidade de refúgio das almas provadas, e ensaiado já o tesouro de todas as graças e de todas as reparações. (Leão Dehon, OSP 4, p. 171s.).

    Oratio

    Senhor, com S. João Eudes, como com todos os apóstolos do vosso divino Coração, consagro-vos o meu coração, para o entregar ao vosso amor e à reparação que esperais dos vossos amigos. Ámen. (Leão Dehon OSP 4, p. 172).

    Contemplatio

    Jesus comunica-nos a sua vida divina unindo-se a nós pela graça: «Eu sou a vida, diz, e vim para a espalhar nas almas» (Jo 10, 10). - «Eu vivo e vós viveis da minha própria vida» (Jo 4, 19). - «Quem tem o Filho de Deus em si, tem a vida» (Jo 5, 12). É pelo seu Coração que Jesus nos comunica a sua vida divina. «Este Coração sagrado, diz o Padre Eudes, é o princípio da vida não só do Homem-Deus, mas da mãe e dos filhos de Deus. - O Coração espiritual de Jesus, isto é, a sua alma santíssima, unido à sua divindade, é o princípio da sua vida espiritual e moral. - É também o princípio da vida da Mãe de Deus. O Filho-Deus recebia de Maria a vida material e transmitia-lhe a vida espiritual e sobrenatural. - O Coração de Jesus é também o princípio da vida sobrenatural de todos os filhos de Deus. Como é a vida do chefe, é também a vida dos membros. Em Jesus, diz S. Tomás, está a plenitude da graça ou da vida das almas. Ela está depositada no seu Coração, como num reservatório universal, de onde ela corre para a humanidade a fim de a santificar». Nosso Senhor disse-nos isso várias vezes: «Se alguém me ama, o meu Pai amá-lo-á, e nós viremos a ele, e faremos nele a nossa morada» (Jo 14, 23). Jesus habita em nós pela sua graça, e o seu Coração une-se ao nosso coração para aí se tornar o princípio vivo da vida espiritual e divina em nós (Père Eudes: Le royaume de Jesus, et le coeur admirable de Marie). (Leão Dehon, OSP 3, p. 508).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Cristo habite, pela fé, nos vossos corações" (Ef 3, 17).

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    S. João Eudes, Presbítero (19 Agosto)

  • A Virgem Santa Maria

    A Virgem Santa Maria


    22 de Agosto, 2020

    A festa litúrgica de "A Virgem Santa Maria, Rainha", ou da realeza de Maria, foi auspiciada por alguns congressos marianos a partir do ano de 1900. Em 1925, Pio XI instituiu a festa de Cristo Rei. Em 1954, na conclusão do centenário da proclamação do dogma da Imaculada Conceição, Pio XII anunciou esta festa para o dia 31 de Maio. Na reforma do calendário, promovida pelo Vaticano II, a festa foi fixada na oitava da Assunção de Nossa Senhora, a 22 de Agosto, para manifestar a conexão que existe entre a realeza de Maria e a sua Assunção ao céu.

    Lectio

    Primeira leitura: Isaías 9, 1-6

    O povo que andava nas trevas viu uma grande luz;habitavam numa terra de sombras, mas uma luz brilhou sobre eles. 2Multiplicaste a alegria, aumentaste o júbilo; alegram-se diante de ti como os que se alegram no tempo da colheita, como se regozijam os que repartem os despojos. 3Pois Tu quebraste o seu jugo pesado, a vara que lhe feria o ombro e o bastão do seu capataz, como na jornada de Madian.4Porque a bota que pisa o solo com arrogância e a capa empapada em sangue serão queimadas e serão pasto das chamas.5Porquanto um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado; tem a soberania sobre os seus ombros, e o seu nome é: Conselheiro-Admirável, Deus herói, Pai-Eterno, Príncipe da paz. 6Dilatará o seu domínio com uma paz sem limites, sobre o trono de David e sobre o seu reino. Ele o estabelecerá e o consolidará com o direito e com a justiça, desde agora e para sempre. Assim fará o amor ardente do Senhor do universo.

    O nosso texto, expressão da esperança messiânica de Israel, pode ser interpretado sob o ponto de vista cristológico-mariano. Proclamado por Isaías depois do ano 740 a. C., tem um tom de festa e encorajamento, apesar das nuvens negras que pairam sobre Israel. Os vv. 5ss podem ser lidos segundo a chave que a festa de hoje nos sugere. A realeza de Maria permanece ligada e subordinada à realeza do Messias, Cristo Senhor. O Libertador esperado é o menino que "nasceu para nós: Conselheiro-Admirável, Deus herói, Pai-Eterno, Príncipe da paz" (v. 5). Estas imagens aplicadas à realeza de Cristo são alegóricas, porque o seu reino não é deste mundo, e a sua paz é diferente da que o mesmo mundo nos pode dar. Jesus é manso e humilde de coração. O mesmo se pode dizer da realeza de Maria, humilde serva do Senhor.

    Evangelho: Lucas 1, 26-38

    Naquele tempo, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré,27a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria. 28Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» 29Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação. 30Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. 31Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus.32Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, 33reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.» 34Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» 35O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. 36Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril,37porque nada é impossível a Deus.» 38Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela.

    Em toda esta bela cena, Deus é o principal ator: fala pelo seu anjo, age de modo criador por meio do Espírito, atualiza-se no "Filho", que nasce de Maria. Maria é expressão da humildade que se mantém aberta ao mistério de Deus, é enriquecida pelo mesmo Deus, e concretiza a esperança de Israel. Isabel terá toda a razão quando proclamar, dirigindo-se a Maria: "Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. 43E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor?" (Lc 1, 43). O apelativo "bendita" oferece-nos uma pequena janela que nos permite entrever a senhoria ou realeza de Maria. De fato, é "Bendito seja o Rei que vem em nome do Senhor!" (Lc 19, 37) e "Bendito seja o que vem em nome do Senhor! Bendito o Reino do nosso pai David que está a chegar." (Mc 11, 9s.). Jesus é o fruto "bendito" do ventre de Maria. O clarão que ilumina a consciência de Maria remete para a senhoria do filho concebido por obra do Espírito Santo, e não tanto para qualquer sua soberania pessoal. Por isso, exulta em Deus, seu salvador (cf. Lc 1, 46ss.).

    Meditatio

    Hoje, somos chamados a contemplar Aquela que, sentada à direita do rei dos séculos, resplandece como rainha e intercede por nós como mãe. A figura da rainha-mãe permanece em muitas culturas populares como protótipo de solenidade, de senhoria, de cordialidade, de benevolência. O culto e a própria iconografia representam espontaneamente Maria na postura de uma rainha, revestida de beleza e de glória, muitas vezes sentada e coroada de estrelas, feita, ela mesma, trono do filho que tem nos braços, o Menino Jesus. A liturgia contempla esse ícone de Maria, mãe e rainha. Contempla a ligação de Maria serva a Senhor Deus como participação na realeza de Cristo. Trata-se de uma realeza que é serviço, colaboração com Cristo na salvação da humanidade. A obra de Cristo exigiu a sua morte no Calvário. Junto dele estava a sua mãe. A realeza de Cristo custou-lhe a Paixão e a Morte. A de Maria custou-lhe as dores que a Paixão e a Morte de Jesus lhe causaram.
    O povo cristão costuma invocar Maria como Rainha da Paz. Trata-se de uma conotação com o oráculo de Isaías que fala do "príncipe da paz". Jesus Cristo é a nossa paz, afirma Paulo (cf. Ef 2, 14). Maria é mãe do príncipe da paz. O Menino que nasceu para nós é o fruto bendito do ventre de Maria, é o Senhor, fonte da paz. A paz é sonho e utopia, que convidam ao acolhimento do Senhor da Paz, Jesus Cristo, filho de Maria. Ela é a Virgem pacificada e operadora de paz. O sonho e a utopia convidam-nos a acreditar em Jesus e a realizar obras de paz, que são testamento seu e dom do Espírito.
    O privilégio da maternidade divina de Maria, fonte e a causa das suas grandezas, das suas graças, do seu poder e da sua glória, faz dela a Rainha de todas as criaturas. Veneremo-la, tenhamos confiança nela, amemo-la.

    Oratio

    Salve, Virgem Santa Maria, mãe generosa do Senhor do universo, rei de paz e de justiça. Mulher humilde, acolhida já no céu pelo amor do Pai, inspira o nosso serviço na edificação do reino de Cristo. Mãe feliz, que acreditaste, fica connosco para nos ajudar a guardar e a alimentar a lâmpada da nossa fé. Esposa do Espírito Santo, ensina-nos a perseverar nas obras de misericórdia, de justiça, de paz. Ámen.

    Contemplatio

    O Profeta real repete o seu admirável cântico: «Vejo à vossa direita, ó meu Príncipe, uma Rainha vestida com um manto de ouro todo adornado de bordados. As virgens, depois dela, apresentam-se ao meu Rei com santa alegria» (Sl 44). - Isaías, transportado pelo espírito de Deus, canta num arroubamento sublime: «Eis a Virgem que devia conceber e dar à luz um Filho». A voz de Deus domina todas as exclamações de alegria: «Vinde minha esposa, diz, vinde, minha bem-amada, vinde do Líbano para ser coroada» (Cântico). A Santíssima Trindade concede a Maria a auréola do Martírio, do doutoramento e da virgindade, ornamenta a sua augusta fronte com a coroa real. Eis a Rainha de glória, mas também Rainha de bondade e de misericórdia. Vinde a ela vós todos que estais em dificuldade. O seu poder não tem outros limites que os do amor que o seu Filho tem por ela. Ela é o asilo dos pecadores, a protetora dos justos, a esperança e o sustentáculo da Igreja, o refúgio dos povos e dos reis. Os espíritos celestes são os seus ministros, o género humano os seus súbditos, as três Igrejas o seu reino. Ela é três vezes Rainha. - O segredo do seu poder é o amor que lhe leva o Coração de Jesus. Se o Coração de Jesus é a fonte das graças e o tesouro do céu, quem melhor do que Maria pode ir até a esta fonte e abrir este tesouro? Este coração, não é feito do sangue e da carne de Maria? Rainha do Sagrado Coração, abençoai-nos - se o Sagrado Coração de Jesus é o sol da cidade celeste, o Coração de Maria é como a lua brilhante que nos transmite os seus raios. (Leão Dehon, OSP 4, p. 159s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Bendita a Mãe do meu Senhor!" (cf. Lc 1, 42s).

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    A Virgem Santa Maria (22 Agosto)

  • S. Bartolomeu, Apóstolo

    S. Bartolomeu, Apóstolo


    24 de Agosto, 2020

    S. Bartolomeu é um dos Doze escolhidos por Jesus (cf. Mt 1, 11ss.; Lc 6, 12) para andarem com Ele, serem dotados dos seus poderes e enviados em missão. Identificado com Natanael, amigo de Filipe (cf. Jo 1, 43-51; 22, 2), era natural de Caná. Pouco sabemos sobre Bartolomeu e sobre a sua missão. De acordo com Jo 1, 43ss., era um homem simples e reto, aberto à esperança de Israel. Diversas tradições colocam-no em diferentes regiões do mundo, o que pode indicar um raio de ação muito vasto. Segundo uma dessas tradições, foi esfolado vivo na Pérsia, coroando a sua laboriosa vida missionária com a glória do martírio.

    Lectio

    Primeira leitura: Apocalipse 21, 9b-14

    O Anjo falou-me dizendo: Vou mostrar-te a noiva, a esposa do Cordeiro.» 10E transportou-me, em espírito, a uma grande e alta montanha e mostrou-me a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, de junto de Deus. 11Tinha o resplendor da glória de Deus: brilhava como pedra preciosa, como pedra de jaspe cristalino; 12tinha uma grande e alta muralha com doze portas; nas portas havia doze anjos e em cada uma estava gravado o nome de uma das doze tribos de Israel: 13ao oriente havia três portas, ao norte três portas, ao sul três portas e ao ocidente três portas. 14A muralha da cidade tinha doze alicerces, nos quais estavam gravados doze nomes, os nomes dos doze Apóstolos do Cordeiro.

    A Igreja, no Apocalipse, é a cidade santa, que recolhe as doze tribos de Israel, isto é, o novo Israel de Deus. Os seus muros apoiam-se sobre doze colunas, que são os doze apóstolos. No nosso texto, a Igreja é também chamada "noiva", "a noiva, a esposa do Cordeiro" (v. 9), para evidenciar o vínculo de amor com que Deus Se ligou à humanidade, e Cristo se uniu à Igreja. Cada um dos apóstolos participa e testemunha este amor no seu ministério e, finalmente, no martírio. Por isso, os Doze são também chamados "Apóstolos do Cordeiro" (v. 14). De fato, não só exercem o ministério que Jesus hes confiou, mas também, e principalmente, participam no seu mistério pascal, bebendo com Ele o cálice (cf. Mt 20, 22).

    Evangelho: João 1, 45-51

    Naquele tempo, Filipe encontrou Natanael e disse-lhe: «Encontrámos aquele sobre quem escreveram Moisés, na Lei, e os Profetas: Jesus, filho de José de Nazaré.» 46Então disse-lhe Natanael: «De Nazaré pode vir alguma coisa boa?» Filipe respondeu-lhe: «Vem e verás!»47Jesus viu Natanael, que vinha ao seu encontro, e disse dele: «Aí vem um verdadeiro israelita, em quem não há fingimento.» 48Disse-lhe Natanael: «Donde me conheces?» Respondeu-lhe Jesus: «Antes de Filipe te chamar, Eu vi-te quando estavas debaixo da figueira!» 49Respondeu Natanael: «Rabi, Tu és o Filho de Deus! Tu és o Rei de Israel!»50Retorquiu-lhe Jesus: «Tu crês por Eu te ter dito: 'Vi-te debaixo da figueira'? Hás-de ver coisas maiores do que estas!» 51E acrescentou: «Em verdade, em verdade vos digo: vereis o Céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo por meio do Filho do Homem.»

    Jesus dirige a Natanael um elogio que o deixa surpreendido: "Aí vem um verdadeiro israelita, em quem não há fingimento." (v. 47). Com efeito, as palavras de Jesus incluíam a verificação que nos deixa entrever um pouco mais o espírito de Natanael: o seu amor pela verdade. O apóstolo era um homem que procurava a verdade. A sua inteligência abre-se ao mistério que se revela. É o que também se verificará quando da primeira aparição de Jesus ressuscitado. Da procura passa à fé. Por isso, este apóstolo é um ícone do verdadeiro crente que, iluminado pela Palavra, agudiza a sua capacidade visiva interior e que, pela fé, reconhece em Jesus o Salvador esperado.

    Meditatio

    Jesus conhece o coração do homem. Por isso, pode chamar, com autoridade, aqueles que quer mais perto de si. O Senhor chama para pôr os homens em relação com o céu, para revelar o seu ser, que está em completa relação com o Pai e connosco, ponto de convergência do movimento de Deus rumo aos homens e do anseio dos homens por Deus: Filho do homem e Filho de Deus. Na verdade, quem se aproxima de Jesus vê o céu aberto e os anjos de Deus subir e descer sobre o Filho do homem.
    Os Doze estão com Jesus porque devem ver o Pai agir e permanecer no Filho do homem, numa união que se manifestará plenamente na paixão de Jesus, quando for erguido na cruz e novamente introduzido na glória do Pai. Então se realizará p sonho de Jacob.
    Todos somos chamados a esta profunda revelação. Na Eucaristia revivemos o mistério da morte e da glorificação de Jesus, sacerdote e vítima da nova aliança entre o Pai e os homens. E, com Ele, queremos ser também sacerdotes e vítimas fazendo a oblação de nós mesmos, para glória e alegria de Deus e para salvação da humanidade. O Senhor revela-se a nós como aos Apóstolos, os doze alicerces, sobre os quais se apoia a muralha da cidade, "a noiva, a esposa do Cordeiro" (v. 9).

    Oratio

    Senhor, reacende a nossa fé na contemplação dos mistérios que nos revelas, na festa do apóstolo Bartolomeu. Nós te agradecemos por nos teres reunido na Igreja. Nós te agradecemos por todos aqueles e aquelas que, de coração sincero, continuam a difundir no mundo inteiro, apoiados pelo teu Espírito Santo, a fé e o amor dos Apóstolos. Ámen.

    Contemplatio

    Deus compraz-se naqueles que caminham diante dele na simplicidade do seu coração (Prov. 11). Deus detesta os corações duplos e hipócritas. Aqueles que usam a dissimulação e a astúcia provocam a sua cólera (Job 36). O Espírito Santo retira-se daqueles que são duplos e dissimulados (Sab 1, 5). Natanael ganhou o coração de Nosso Senhor pela simplicidade e retidão do seu coração (Jo 1, 47). Deus não desprezará nunca a simplicidade, diz Job. Não rejeitará aqueles que se aproximam dele com simplicidade (Job 8,10). O Espírito Santo assegura-nos que os cumulará com os seus dons e as suas bênçãos (Prov. 28,10). O simples é bem sucedido nos seus desígnios e Deus abençoa-O. Segue os caminhos de Deus; pode caminhar com confiança (Prov. 10,9 e 29). Deus frustrará os que são dúplices e dará as suas graças aos humildes (Prov. 3,34). Os simples são acarinhados, estimados por Jesus, como aquelas crianças do Evangelho que Jesus atraía apesar dos seus apóstolos. «É imitando esta inocência e esta candura de crianças, dizia Jesus, que vos haveis de tornar agradáveis ao meu coração» (Mt 18). Como é que havemos de hesitar em amar e em praticar a simplicidade?(Leão Dehon, OSP 3, p. 48s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Rabi, Tu és o Filho de Deus! Tu és o Rei de Israel!" (Jo 1, 49).

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    S. Bartolomeu, Apóstolo (24 Agosto)

  • S. Mónica

    S. Mónica


    27 de Agosto, 2020

    Santa Mónica nasceu em Tagaste, na atual Argélia, no ano 331 ou 332, no seio de uma família cristã e com boas condições sociais. Ainda adolescente, foi dada em casamento a Patrício, que possuía um modesto património e era membro do conselho municipal de Tagaste. Mónica é uma mulher africana, mãe de um dos maiores Padres da Igreja, S. Agostinho. «Era mulher no aspecto, mas viril na fé, anciã na pacatez, materna no amor, verdadeira cristã» - escreve Agostinho (Conf. IX, 4,8). Ganhou para Cristo o marido e o filho. Esteve presente no batismo de Agostinho, em Milão, e acompanhou de perto a sua primeira experiência monástica em Casissíaco. Quando voltava para África, com o filho e os amigos, morreu em Óstia Tiberina, perto de Roma, antes de 13 de Novembro de 387.

    Lectio

    Primeira leitura: Ben-Sirá: 26, 1-4.13-16

    Feliz o homem que tem uma virtuosa mulher, porque será dobrado o número dos seus anos. 2A mulher forte é a alegria do marido; derramará paz nos anos da sua vida. Uma mulher virtuosa é uma sorte excelente, é o prémio dos que temem o Senhor.4Rico ou pobre, o seu coração será feliz, e o seu rosto ver-se-á sempre alegre. 13A graça de uma mulher deleita o marido, e seu bom proceder revigora-lhe os ossos. 14É dom do Senhor uma mulher silenciosa; nada é comparável a uma mulher bem educada. 15A mulher honesta é uma graça inestimável; não há preço comparável a uma alma casta. 16Como o sol se eleva nas alturas do Senhor, assim a beleza de uma mulher virtuosa é ornamento da sua casa.

    Esta leitura realça a especificidade da mulher de cuja bondade e virtude depende a felicidade do homem. Na casa, a mulher é mediadora e incarnação da beleza de Deus. O homem pode, não só contemplar essa beleza, mas também desposá-la. A felicidade, a alegria, a serenidade, a boa sorte, a paz, a vida longa, o vigor e, enfim, a graça, são como que veiculados por esse tipo de mulher que incarna em si os atributos da virtude. A mulher virtuosa do Ben-Sirá, ou a mulher perfeita dos Provérbios, é a própria Sabedoria

    Evangelho: Lucas 7, 11-17

    Naquele tempo, dirigia-se Jesus para uma cidade chamada Naim, indo com Ele os seus discípulos e uma grande multidão. 12Quando estavam perto da porta da cidade, viram que levavam um defunto a sepultar, filho único de sua mãe, que era viúva; e, a acompanhá‑la, vinha muita gente da cidade. 13Vendo‑a, o Senhor compadeceu­-se dela e disse‑lhe: «Não chores.» 14Aproximan­do-se, tocou no caixão, e os que o transportavam pararam. Disse então: «Jovem, Eu te ordeno: Levanta‑te!» 15O morto sentou‑se e começou a falar. E Jesus entregou‑o à sua mãe. 16O temor apoderou‑se de todos, e davam glória a Deus, dizendo: «Surgiu entre nós um grande profeta e Deus visitou o seu povo!» 17E a fama deste milagre espalhou‑se pela Judeia e por toda a região.

    O centro desta narrativa de Lucas é o encontro de Jesus com aquela mulher, uma viúva, só, sem amor, mãe de um filho, a que deu a vida, mas que agora não pode arrancar da morte. Temos aqui alguns paralelismos com a paixão e ressurreição de Jesus: o encontro, que acontece «perto da porta da cidade» de Naim, portanto, fora dela, e a sua crucifixão fora das portas de Jerusalém; o «caixão» e o seu «sepulcro»; o «levantar-se, ressuscitar» do jovem e a Sua ressurreição (de Jesus). Lucas revela aqui a identidade de Jesus: o Ressuscitado, o Vencedor da morte é também o Senhor de misericórdia. Ele assume em si os sentimentos maternos daquela mulher: todo o seu espírito se envolve numa co-moção profunda, visceral, como acontece com as «vísceras maternas», que se abrem para acolher uma nova criatura no acto de dar lugar, de con-sentir (alegria e dor), com alguém que está nelas (cfr. Lc 15, 20). Jesus dá à mulher uma ordem paradoxal: «não chores!» É uma palavra que leva em si a força e a ternura de uma promessa - «Ele enxugará todas as lágrimas dos seus olhos; e não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor. Porque as primeiras coisas passaram.» (Ap 21, 4) - uma promessa de felicidade, que vai para além da morte. Aqui encontramos todo o sentido da incarnação, sinteticamente expresso no gesto de Jesus que «toca» o caixão e pronuncia, ali onde o homem se encontra no fim, a Palavra que o faz recomeçar: «Jovem, Eu te ordeno: Levanta‑te!»
    No contacto com Jesus e com a sua palavra, o filho morto é novamente dado à vida. Da escuridão do sem sentido e do isolamento, é restituído à relação vital com os outros e com o mundo. Adquire novamente a capacidade de falar e de comunicar. E Jesus, com um gesto de grande delicadeza, «entregou‑o à sua mãe».

    Meditatio

    Mónica é uma «santa» e, portanto, uma «mulher» verdadeira. Nela convergem e incarnam a beleza da «mulher virtuosa» do Ben-Sirá e a materna com-paixão da «viúva» do Novo Testamento, que faz da sua vida uma intercessão pelo filho. A santidade de Mónica leva-nos ao coração da vocação e da missão da mulher. Mónica realizou até ao fim a missão de «guarda do homem». Enfrentou com grande dignidade e inteligência, com a genialidade própria da mulher, as dificuldades da vida matrimonial com um homem «pagão» de carácter muito difícil, «a quem - diz cruamente Agostinho - foi entregue». Sem jamais perder o gosto pelo bem, mesmo nas adversidades, «esforçou-se por ganhá-lo para Ti, falando-lhe de Ti com as suas virtudes com que a embelezaste e por meio das quais lhe merecias o seu afecto respeitoso e admirado» (S. Agostinho, Confissões IX, 9, 19).
    Servindo-se das grandes forças do espírito feminino apoiou, com as lágrimas e a oração de uma vida toda consagrada a Deus, a verdadeira luta pela fé do seu filho Agostinho. Esta luta é «a luta pelo homem, pelo seu verdadeiro bem, pela sua salvação».
    De Mónica, Agostinho escreverá mais tarde: «Creio, sem qualquer dúvida que, pelas tuas lágrimas, mãe, Deus concedeu-me não querer, não pensar, não amar outra coisa senão alcançar a verdade». Mónica é, pois, mãe numa dupla maternidade: «Deu-me à luz na carne, para que eu nascesse para a luz temporal, e deu-me à luz no espírito para que eu nascesse para a luz eterna»» (Conf IX, 8s.). Se a mulher na relação homem-Deus representa o ponto de encontro da humanidade com Deus, mesmo pela maternidade de que é portadora, em Mónica, no seu ser mãe em plenitude, a paternidade de Deus pôde agir numa admirável aliança.

    Oratio

    Pai santo, na sua vida mortal, o vosso Filho Jesus passou fazendo o bem e socorrendo todos os que eram prisioneiros do mal. Ainda hoje, como bom samaritano, vem ao encontro de todos os homens atribulados no corpo ou no espírito e derrama sobre as suas feridas o óleo da consolação e o vinho da esperança. Nós vos louvamos e bendizemos pelo que, por meio de Cristo, fizestes em Santa Mónica e no seu filho Agostinho. Por intercessão da mãe e do filho, dai-nos a graça de chorarmos os nossos pecados para alcançarmos o vosso perdão. Ámen.

    Contemplatio

    O Coração de Jesus é compassivo, não só com os doentes, mas também com todos os que sofrem e se encontram em dificuldade. Como é bom para com as almas provadas pela perda daqueles que lhe são caros, como Jairo, cujo filho bem-amado acabava de morrer. Como é bom para com a pobre viúva de Naim que leva o seu filho único à sepultura, para com Marta e Madalena que choram o seu irmão. Está emocionado até ao fundo da alma, chora. As suas lágrimas comovem os próprios judeus. Apela ao poder divino para ressuscitar os mortos. A sua compaixão para com Jerusalém é imensa: chora por causa das tribulações futuras desta cidade ingrata e culpada. Num movimento de compaixão sem medida, abre os seus braços a todos os infortunados: «Vinde a mim, diz, vós todos que sofreis e que sois esmagados sob o peso do trabalho e da dor; vinde e vos aliviarei». No caminho do calvário, esquece os seus próprios sofrimentos para se compadecer das filhas de Jerusalém e convidá-las a chorar pelos castigos que cairão em breve sobre a sua pátria. (L. Dehon, OSP 4, p. 139s.).

    Actio

    Repete com frequência e vive a expressão de Santo Agostinho:
    «Quem é feliz tem Deus» (De vita beata, II, 11).
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    S. Mónica (27 Agosto)

  • S. Agostinho, Bispo e Doutor da Igreja

    S. Agostinho, Bispo e Doutor da Igreja


    28 de Agosto, 2020

    Santo Agostinho nasceu em Tagaste, na atual Argélia, no ano 354. A sua mãe, Santa Mónica, educou-o cristãmente. As suas qualidades intelectuais depressa se revelaram, apontando para um futuro brilhante como mestre de retórica. Apesar de tudo, enveredou por uma vida dissoluta. Mas não se apagou nele a sede nem a ânsia da verdade. Leu o Hortêncio, de Cícero, e a Sagrada Escritura. Não se entusiasmou e acabou por aderir ao racionalismo e ao materialismo dos Maniqueus. Rumando à Itália, conheceu o bispo Santo Ambrósio de Milão. Reviu as suas posições acerca da Igreja Católica, voltou a ler a Bíblia e abriu-se definitivamente à luz e à riqueza de Cristo. Batizado em 387, regressou a África e fundou a sua primeira comunidade monástica em Tagaste, organizando-a segundo o modelo das comunidades de que nos falam os Atos dos Apóstolos. Em 391 foi ordenado sacerdote pelo bispo Valério, a quem sucedeu no governo da diocese de Hipona, no ano 395. Transferiu a sua comunidade para a casa episcopal, e dedicou-se ao ministério da Palavra e à defesa da fé. Escreveu mais de duzentos livros, e quase um milhar de sermões e cartas. Morreu a 28 de Agosto de 430. S. Agostinho é um dos padroeiros da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, Dehonianos.

    Lectio

    Primeira leitura: 1 João 4, 7-16

    Caríssimos: Amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus. 8Aquele que não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor. 9E o amor de Deus manifestou-se desta forma no meio de nós: Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que, por Ele, tenhamos a vida. 10É nisto que está o amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele mesmo que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados. 11Caríssimos, se Deus nos amou assim, também nós devemos amar-nos uns aos outros. 12A Deus nunca ninguém o viu; se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e o seu amor chegou à perfeição em nós. 13Damos conta de que permanecemos nele, e Ele em nós, por nos ter feito participar do seu Espírito. 14Nós o contemplámos e damos testemunho de que o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo. 15Quem confessar que Jesus Cristo é o Filho de Deus, Deus permanece nele e ele em Deus.

    "Deus é amor". Por isso, mais do que procurá-lo com os olhos ou a mente, há que procurá-lo com o coração. Além disso, só os puros de coração verão a Deus (cf. Mt 5, 8). Se queremos ver a Deus, também com os nossos olhos, há que purificá-los, afastando as imperfeições que nos impedem ver a Deus. "Deus é amor". Que rosto, forma, estatura, pés, mãos, tem o amor? Não sabemos dizê-lo. Mas dispomos de pés para ir à Igreja, de mãos para fazer o bem, os olhos para ver os necessitados. O campo para exercer o amor é a caridade fraterna. Podemos dizer que não vemos a Deus; mas não podemos dizer que não vemos os homens. Se amamos os irmãos, veremos a Deus, porque veremos a própria caridade, e Deus habita na caridade.(Comentário inspirado em S. Agostinho; cf. Comentário a 1 Jo 9, 1; VII, 10; v. 7).

    Evangelho: Mateus 13, 8-12

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: "Não vos deixeis tratar por 'mestres', pois um só é o vosso Mestre, e vós sois todos irmãos. 9E, na terra, a ninguém chameis 'Pai', porque um só é o vosso 'Pai': aquele que está no Céu. 10Nem permitais que vos tratem por 'doutores', porque um só é o vosso 'Doutor': Cristo. 11O maior de entre vós será o vosso servo.12Quem se exaltar será humilhado e quem se humilhar será exaltado.

    O amor precede a observância dos mandamentos. A amor é a causa geradora da observância dos mandamentos. Não se trata só de nos amarmos uns aos outros, mas também de amar a Deus. Se o amor é a plenitude da lei (cf. Rm 13, 10), onde há caridade nada mais pode haver. Pelo contrário, onde não há caridade, nada nos pode valer. O diabo acredita mas não ama; mas quem ama não pode deixar de acreditar. Só amando a Deus podemos amar a nós mesmos e aos outros como a nós mesmos. Havemos de amar a todos para que Deus seja tudo em todos. (Comentário inspirado em S. Agostinho; cf. Comentário ao Ev. de João LXXX, 2,3; LXXXII, 2).

    Meditatio

    Santo Agostinho é uma verdadeira parábola de amor apaixonado. A inquietação do coração, a saudade, o desejo, que o enchem interiormente, manifestam-se na procura incansável da verdade e do amor, num clima de oração permanente. Agostinho procura a sua própria identidade, a semelhança divina. Abre completamente a Deus o seu passado, o seu presente e o seu futuro, na certeza de que só Deus é capaz de vencer as suas resistências, medos, fraquezas humanas e saciar a sua sede.
    "Fizeste-nos para Ti, Senhor, e o nosso coração está inquieto enquanto não repousar em Ti" (Confissões 1, 1). À luz da verdade reencontrada, Agostinho vê claramente o seu pecado e a necessidade da graça, da intervenção divina, e dá-se conta da orgulhosa pretensão do seu eu. Mas tudo acontece, agora, no centro do seu perene diálogo com Deus. Foi Deus quem o despertou, porque o ama. Esta certeza é para Agostinho garantia de que a graça de Cristo vencerá o seu pecado. Será restaurado nele "a ordem do amor" e, com essa restauração, poderá experimentar a bem-aventurança da paz e da liberdade sem fim. "Chamastes, clamastes e rompestes a minha surdez... Tocaste-me e agora desejo ardentemente a paz" (Confissões, 10, 27).

    Oratio

    Senhor, eu amo-te. Trespassaste o meu coração com a tua palavra e desde então amei-te. O céu e a terra dizem-me que devo amar-te e não cessam de o dizer a todos. Quando te amo, não amo uma beleza corporal, uma graça passageira, a claridade de uma luz amável, os sons de uma qualquer melodia, o perfume de flores, de unguentos ou aromas, do maná ou do mel, ou membros que se entregam ao abraço: nada disso amo quando amo o meu Deus. E todavia amo uma certa luz, uma certa voz, um certo perfume e alimento e amplexo quando amo o meu Deus, luz, voz, perfume, alimento, amplexo do meu homem interior, onde brilha na minha alma aquilo que nada contém... É isso que amo, quando amo o meu Deus" (inspirado em Santo Agostinho, Confissões X, 6.8).

    Contemplatio

    Santo Agostinho não conheceu o símbolo do Coração de Jesus saído do seu lado para significar o seu amor, mas em todo o resto pode chamar-se um santo do Sagrado Coração. Ninguém falou melhor do lado de Jesus aberto pela lança para daí deixar escapar o sangue e a água, símbolo dos sacramentos e da Igreja. Viu nas chagas de Jesus um refúgio para a nossa alma. As belas invocações da oração Anima Christi são tiradas das suas efusões de amor para com o Salvador: «Água do lado de Jesus, dizia, purificai-me. - Jesus, escondei-me nas vossas chagas». Quem melhor do que ele cantou o amor de Deus? - «Ó Deus, dizia, é possível a alguém saber que sois Deus e que vos não ame? - Ó beleza sempre antiga e sempre nova, tarde vos conheci, tarde vos amei! - Fizestes-nos para vós, Senhor, e o nosso coração está sempre agitado, enquanto não repousa em vós». A regra composta por ele para a sua ordem religiosa foi justamente chamada a regra de amor. Ela respeita o mais puro amor de Deus e do próximo. (Leão Dehon, OSP 2, pp. 311-312).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Ama e faz o que queres" (S. Agostinho, Comentário a 1 Jo VII, 8).

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    S. Agostinho, Bispo e Doutor da Igreja (28 Agosto)

  • Martírio de S. João Baptista

    Martírio de S. João Baptista


    29 de Agosto, 2020

    O «maior nascido de mulher» morreu mártir por ter censurado a Herodes Agripa pela sua conduta desonesta e imoral. Foi vítima da fé e da missão que exerceu. A sua degolação aconteceu na fortaleza de Maqueronte, junto ao Mar Morto, lugar de férias de Herodes. O sangue de João Baptista sela o seu testemunho em favor de Jesus: com a sua morte, completou a missão de precursor. A Igreja celebra hoje o seu nascimento para o céu, talvez por, nesta data, foi dedicada em sua honra uma antiga basílica, erguida em Sebaste, na Samaria.

    Lectio

    Primeira leitura: Jeremias 1, 17-19

    A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: 17Tu, porém, cinge os teus rins, levanta-te e diz-lhes tudo o que Eu te ordenar. Não temas diante deles; se não, serei Eu a fazer-te temer na sua presença. 18E eis que hoje te estabeleço como cidade fortificada, como coluna de ferro e muralha de bronze, diante de todo este país, dos reis de Judá e de seus chefes, dos sacerdotes e do povo da terra. 19Far-te-ão guerra, mas não hão-de vencer, porque Eu estou contigo para te salvar» -oráculo do Senhor.

    João Baptista ajuda-nos a compreender a missão de Jesus, e a vida de Jeremias ajuda-nos a compreender a missão de João Baptista. Seria interessante lembrar a vida de Jeremias para compreender o valor destas duas vidas paralelas. Mas esta leitura da missa evidencia particularmente a «coragem» do profeta em dizer «tudo», a sua fortaleza para resistir à prepotência dos poderosos e a sua fé, isto é, a certeza de vencer em nome do Senhor. São qualidades típicas dos verdadeiros profetas...

    Evangelho: Marcos 6, 17-29

    Naquele tempo, Herodes tinha mando prender João e pô-lo a ferros na prisão, por causa de Herodíade, mulher de Filipe, seu irmão, que ele desposara. 18Porque João dizia a Herodes: «Não te é lícito ter contigo a mulher do teu irmão.» 19Herodíade tinha-lhe rancor e queria dar-lhe a morte, mas não podia, 20porque Herodes temia João e, sabendo que era homem justo e santo, protegia-o; quando o ouvia, ficava muito perplexo, mas escutava-o com agrado. 21Mas chegou o dia oportuno, quando Herodes, pelo seu aniversário, ofereceu um banquete aos grandes da corte, aos oficiais e aos principais da Galileia. 22Tendo entrado e dançado, a filha de Herodíade agradou a Herodes e aos convidados. O rei disse à jovem: «Pede-me o que quiseres e eu to darei.» 23E acrescentou, jurando: «Dar-te-ei tudo o que me pedires, nem que seja metade do meu reino.» 24Ela saiu e perguntou à mãe: «Que hei-de pedir?» A mãe respondeu: «A cabeça de João Baptista.» 25Voltando a entrar apressadamente, fez o seu pedido ao rei, dizendo: «Quero que me dês imediatamente, num prato, a cabeça de João Baptista.» 26O rei ficou desolado; mas, por causa do juramento e dos convidados, não quis recusar. 27Sem demora, mandou um guarda com a ordem de trazer a cabeça de João. O guarda foi e decapitou-o na prisão; 28depois, trouxe a cabeça num prato e entregou-a à jovem, que a deu à mãe. 29Tendo conhecimento disto, os discípulos de João foram buscar o seu corpo e depositaram-no num sepulcro.

    Marcos coloca a narrativa do martírio de João Baptista no caminho de Jesus para Jerusalém, como uma etapa fundamental. Com ela, concluiu-se o ciclo da vida do profeta e preludia-se o martírio de Jesus.
    Não devemos deixar-nos impressionar apenas pelos pormenores narrativos, aliás muito sugestivos, desta página de Marcos. O evangelista não pretende evidenciar nem os vícios de Herodes nem a malícia de Herodíade e nem sequer a leviandade da filha. A sua intenção é dar o devido realce à figura de João Baptista, que é como que o «mentor» do Nazareno, e mostrar como este grande profeta leva a termo a sua vida do mesmo modo e pelos mesmos motivos que Jesus.
    Este é o «pequeno mistério pascal» de João Baptista que, depois de experimentar a adversidade dos inimigos do evangelho, conhece agora o silêncio do sepulcro, onde espera a ressurreição.

    Meditatio

    As memórias litúrgicas de João Baptista levam-nos a meditar sobre o dom da profecia e sobre a figura do profeta. Qual é a sua função no meio do povo de Deus? Quais são as características que o qualificam como profeta? De que modo se coloca perante os seus contemporâneos como sinal de uma presença superior, como porta-voz da Palavra divina?
    O profeta revela-se como tal pelo seu modo de falar, pelo estilo da sua pregação. A palavra não é tudo, mas é capaz de manifestar o sentido de uma presença, incómoda mas incontornável, com a qual todos se devem confrontar. O profeta manifesta-se também, e sobretudo, pelas suas opções de vida. Assim mostra ter percebido que o tempo em que se vive aquele em que Deus nos chama a ser-para-os-outros. O profeta não pode escapar a esse chamamento, sob pena de ser infiel à missão. Finalmente o profeta manifesta autenticidade da sua missão pela coragem em dar a vida por aquele que o chamou e por aqueles a quem é enviado. Ou se é profeta com a vida, a vida gasta por amor, ou não é profeta a sério.
    O Pe. Dehon quer que nós sejamos os "profetas" e os "servidores... em Cristo" do amor redentor de Deus. Só dando Cristo ao mundo, somos "profetas do amor e servidores da reconciliação dos homens... em Cristo" (Cst. 7). Há que sê-lo pela nossa vida e pelas nossas opções de vida: "Uma vida serena, porque oferecida em sacrifício a Deus; uma vida alegre, porque somos testemunhas do amor de Cristo; uma vida empenhada, porque colaboramos no advento do Reino de Deus; uma vida disponível, porque dada ao próximo, a exemplo de Cristo; uma vida partilhada, porque queremos ser testemunhas de que a "a fraternidade por que os homens anseiam é possível em Jesus Cristo e dela quereríamos ser fiéis servidores" (Cst. 65). Escreve o Fundador: «Não devem os homens apostólicos assemelhar-se muito particularmente ao Precursor? Como ele, devem preparar os caminhos de Nosso Senhor. Como ele, devem contribuir para a salvação dos pecadores pelas suas expiações e sacrifícios» (OSP 4, p. 562)

    Oratio

    Ó glorioso S. João Baptista, pregador corajoso e coerente da verdade, intercede por nós e por todos quantos, na Igreja, são chamados a exercer a missão profética. Que a exerçam com clareza, com coerência de vida, com coragem, dispostos a selar com o próprio sangue o seu testemunho. Que todos os homens apostólicos se assemelhem a ti, a fim de prepararem os caminhos do Senhor, entre os caminhos dos homens de hoje. Que o fogo da caridade divina arda em nossos corações, para sermos zelosos e perseverantes no testemunho do seu amor e no serviço da reconciliação. Ámen.

    Contemplatio

    Não devia o Precursor assemelhar-se a Nosso Senhor e preparar-lhe os caminhos? Nosso Senhor devia salvar-nos pela cruz, devia cumprir a sua missão pelo sofrimento: "Não devia Cristo padecer?" (Lc 24). Devia estabelecer a religião pela cruz e pelo sofrimento, e convinha que o seu Precursor passa-se pelo mesmo caminho e que se mostrasse heroico nas aflições e sofrimentos. Convinha que o mártir da sinagoga, que chegava ao fim, preparasse os caminhos ao Salvador, que devia abrir o céu pelos seus sofrimentos e pelo seu sangue. Nosso Senhor queria fazer partilhar a graça dos seus sofrimentos ao seu Precursor. Queria também preparar os espíritos para o Evangelho mostrando-lhe o que os justos têm a esperar dos homens. Queria também dar-nos um modelo para nos ensinar a bem sofrer... A coragem deste justo condena o nosso desleixo e incita-nos, a nós pecadores, a sofrer pacientemente pelos nossos pecados e por seu amor (Leão Dehon, OSP 4, p. 561.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    «Eu estou contigo para te salvar» (Jer 1, 19).

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    Martírio de S. João Baptista (29 Agosto)

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