Liturgia

Events in Janeiro 2021

  • Sábado do Tempo do Natal

    Sábado do Tempo do Natal

    2 de Janeiro, 2021

    Lectio

    Primeira leitura: 1 João 3, 7-10

    7Filhinhos meus, que ninguém vos engane. Quem pratica a justiça é justo, sendo como Ele, que é justo. 8*Quem comete o pecado é do diabo, porque o diabo peca desde a origem. Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo. 9*Todo aquele que nasceu de Deus não comete pecado, porque um germe divino permanece nele; e não pode pecar, porque nasceu de Deus. 10*Nisto é que se distinguem os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo aquele que não pratica a justiça não é de Deus, nem aquele que não ama o seu irmão.

    O que distingue um cristão é a conduta recta e justa, afirma João contra os gnósticos (cf. V. 7). Praticar a justiça é aceitar a vontade de Deus. Pelo contrário, «quem comete o pecado é do diabo» (v. 8). Quem peca está contra o mundo de Deus, não pode ser filho de Deus. É filho do diabo. Cristo venceu o mal e instaurou os tempos da salvação. Os seus discípulos são chamados a lutar contra o pecado e a praticar a justiça. João distingue duas formas de ser filho: a filiação divina e a filiação humana. Quem se abre à acção do Espírito, torna-se filho de Deus; quem se fecha ao Espírito e rejeita a Deus entrega-se ao diabo: «Todo aquele que nasceu de Deus não comete pecado, porque um germe divino permanece nele» (v. 9); «Quem comete o pecado é do diabo» (v. 8).

    O filho de Deus deixa crescer nele e dar frutos a semente da Palavra. Por isso não pode pecar. Deu espaço a Deus e permanece em Cristo que actua na sua vida. Há pois que permanecer abertos ao Espírito e em atitude de permanente conversão.

    Evangelho: João 1, 35-42

    35*No dia seguinte, João encontrava-se de novo ali com dois dos seus discípulos. 36*Então, pondo o olhar em Jesus, que passava, disse: «Eis o Cordeiro de Deus!» 37Ouvindo- o falar desta maneira, os dois discípulos seguiram Jesus. 38Jesus voltou-se e, notando que eles o seguiam, perguntou-lhes: «Que pretendeis?» Eles disseram-lhe: «Rabi .que quer dizer Mestre. onde moras?» 39Ele respondeu-lhes: «Vinde e vereis.» Foram, pois, e viram onde morava e ficaram com Ele nesse dia. Era ao cair da tarde.

    40*André, o irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João e seguiram Jesus. 41*Encontrou primeiro o seu irmão Simão, e disse-lhe: «Encontrámos o Messias!» .que quer dizer Cristo. 42*E levou-o até Jesus. Fixando nele o olhar, Jesus disse-lhe: «Tu és Simão, o filho de João. Hás-de chamar-te Cefas» .que significa Pedra.

    Mais uma vez, João Baptista dá testemunho de Jesus e leva alguns dos seus discípulos a seguirem Jesus. O texto apresenta-nos, por um lado, o facto histórico do chamamento dos primeiros discípulos descrito como descoberta do mistério de Cristo e, por outro lado, a mensagem teológica sobre a fé e o seguimento de Jesus. O caminho para alguém se tornar discípulo tem alguns traços característicos: tudo começa com o testemunho e o anúncio de uma testemunha qualificada, João Baptista, neste caso: «Eis o Cordeiro de Deus!»; segue-se o caminho do discipulado: «seguiram Jesus»; encontro pessoal e de comunhão com o Mestre: «Foram... viram onde morava... ficaram com Ele». O encontro compreende um colóquio em que Jesus fala da sua identidade e convida a uma experiência de vida com Ele. Esta experiência termina com uma profissão de fé: «Encontrámos o Messias!», que depois se torna apostolado e missão. De facto, André, um dos que fez a experiência, levou o irmão a Jesus, que lhe muda o nome de Simão para Pedro, isto é, Cefas para indicar a missão que haverá de realizar na Igreja.

    Meditatio

    Gostaríamos de saber muito mais sobre este primeiro encontro dos discípulos com Jesus. Mas o evangelista limita-se a referir o essencial.

    João Baptista indica o Cordeiro de Deus e... cala-se. Não retém os discípulos. Entrega- os a Jesus. Eles ficam encantados com a pessoa de Jesus, com a sua grande humanidade, que lhes enche as medidas.

    O caminho para chegarmos ao conhecimento de Jesus é observar o comportamento das pessoas que se encontraram com Ele. Penetrar no mistério de Jesus é observar o mundo que O rodeia e dar-nos conta do modo como Ele se relaciona com as pessoas.

    O chamamento dos discípulos ao seguimento do Mestre é um evento que se repete na Igreja. Jesus chama-nos pessoalmente ao discipulado. E também nos pode chamar a uma particular experiência de vida e de missão com Ele, tal como chamou os apóstolos. Esse chamamento faz-se ouvir na vida de cada um de nós. É importante que saibamos ler os acontecimentos da nossa vida e, penetrando no Coração de Jesus, saibamos indicá-Lo também aos outros.

    Na vida de cada um de nós há um dia, um encontro com Ele, que marca uma mudança radical de vida: o chamamento pessoal e imprevisível de Deus em vista da missão. Muitas vezes, serve-Se de outros para nos chamar: podem ser os pais, um sacerdote, um livro, um retiro espiritual, mas é sempre Ele que chama ao seguimento para a construção de um mundo novo. O importante é que estejamos atentos para que não passe em vão.

    Quando Jesus se apresentou a João, junto ao rio Jordão, a missão do Baptista estava a acabar: o amigo do esposo deve saber retirar-se quando chega o esposo. Um ensinamento importante para quem se dedica ao apostolado, à orientação espiritual dos irmãos...

    A nossa vocação dehoniana exige muita generosidade para ser vivida. Somos chamados a oferecer-nos com Cristo sacerdote e vítima pela salvação do mundo, dos pecadores (Cf. Heb 13, 12-15). Não se trata de um chamamento para seres excepcionais e extraordinários; é um chamamento a viver Cristo em profundidade, generosamente, com simplicidade, modéstia e humildade, no escondimento, sem erguer bandeiras e sem vitimismos, mas com confiança, não nas nossas forças, mas na "consolação", que também é força do Espírito Santo (cf. 2 Cor 1, 3ss; Act 9, 13). Para nós, Oblatos-SCJ é "um dom particular" (Cst. 13), "uma graça especial" (Cst. 26) de testemunho, para recordar a todos os nossos irmãos cristãos (leigos, sacerdotes, religiosos), com a nossa vida, com escritos e com a palavra, a sua vocação baptismal, participação no sacerdócio de Cristo.

    A "vida de união à oblação de Cristo como o único necessário" (Cst. 26) ou, como se dizia no tempo do Pe. Dehon, a vida de vítima, é, em si mesma, a vocação do cristão consciente e coerente no seguimento de Cristo (cf. Lc 9, 23-24).

    Oratio

    Senhor Jesus, ensina-me a ser teu discípulo, a procurar onde moras a permanecer aí Contigo. Os teus apóstolos mostram-me quão importante é estar Contigo, permanecer em Ti. Tu mesmo ensinas ao rezar: «Tu em Mim e Eu neles...» (cf. Jo 17). Essa é a tua habitação! Mas para habitar Contigo é preciso seguir-Te. Seguir-Te é já habitar Contigo, é o caminho para a habitação definitiva. Habitar Contigo na pobreza e na humildade, habitar Contigo na justiça, habitar Contigo na misericórdia... Senhor Jesus, quero habitar Contigo, permanecer em Ti, não só na oração, mas também em todas as outras actividades do meu dia. Quero permanecer em Ti onde quer que te encontres: na alegria ou no sofrimento, no trabalho ou na inactividade. Quero permanecer em ti em cada momento, porque em Ti encontro o amor, a alegria e a paz. Amen.

    Contemplatio

    S. João, filho de Salomé, era parente de Jesus. Pensa-se que foi educado em Cana, não longe de Nazaré e que viu alguma vez Jesus durante a sua infância e a sua juventude.
    É o primeiro a juntar-se a Jesus na sua vida pública. Mal escutou a voz profética de S. João Baptista, «Ecce Agnus Dei», seguiu Jesus com Santo André, escuta-o longamente, passa o dia junto dele.
    Pouco depois, é chamado ao apostolado. Deixa tudo generosamente: o seu pai, os seus barcos de pesca, os criados. Nada custa àquele que ama.
    Mas Jesus ama-o por sua vez. Toma-o com os seus íntimos no milagre da filha de Jairo, na transfiguração, na agonia.
    É sobretudo no Cenáculo que é preciso considerar este amor recíproco do Mestre e do discípulo. João repousa sobre o Coração de Jesus! (Leão Dehon, OSP 3, p. 403).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Mestre, onde moras?» (Jo 1, 28)

    São Basílio Magno e São Gregório Nanzianzeno

    São Basílio Magno e São Gregório Nanzianzeno


    2 de Janeiro, 2021

    Basílio de Cesareia (329-379) nasceu duma família profundamente cristã, na Capadócia, região da atual Turquia. Com o seu irmão, Gregório de Nissa e o amigo Gregório de Nazianzo, forma o grupo dos chamados "Padres Capadócios", que tiveram importante papel na divulgação da doutrina do Concílio de Niceia sobre a Santíssima Trindade.

    Basílio e o seu irmão receberam esmerada educação. Durante a sua formação humanista, em Atenas, estabeleceram uma grande amizade com Gregório de Nazianzo. Juntos iniciaram uma nova forma de vida monástica, o chamado monaquismo basiliano, que continua a ser vivido sobretudo no Oriente.

    Basílio, ordenado sacerdote e bispo, distinguiu-se pelas suas obras caritativas e pelo esplendor que deu ao culto divino. Deixou-nos preciosas obras teológicas, espirituais e homiléticas.

    Gregório de Nazianzo (330-390) nasceu igualmente de uma família cristã piedosa. A sua mãe ofereceu-o ao Senhor, tendo-lhe proporcionado uma boa educação, que o levou a ser reitor e a ser proposto para altos cargos civis. Com os seus amigos, Basílio e Gregório de Nissa, abandonou o mundo para se tornar monge. Já sacerdote, foi nomeado bispo de Constantinopla (381), permanecendo sobretudo um místico, cantor apaixonado da SS. Trindade. Os seus escritos revelam a sua experiência e inteligência do mistério de Cristo. Foi chamado "o teólogo".

    Lectio

    Primeira leitura: 1 Coríntios 2, 10b-16

    Irmãos: o Espírito tudo penetra, até as profundidades de Deus. 11Quem, de entre os homens, conhece o que há no homem, senão o espírito do homem que nele habita? Assim também, as coisas que são de Deus, ninguém as conhece, a não ser o Espírito de Deus. 12Quanto a nós, não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que vem de Deus, para podermos conhecer os dons da graça de Deus. 13E deles não falamos com palavras que a sabedoria humana ensina, mas com as que o Espírito inspira, falando de realidades espirituais em termos espirituais. 14O homem terreno não aceita o que vem do Espírito de Deus, pois é uma loucura para ele. Não o pode compreender, pois só de modo espiritual pode ser avaliado. 15Pelo contrário, o homem espiritual julga todas as coisas e a ele ninguém o pode julgar. 16Pois quem conheceu o pensamento do Senhor, para poder instruí-lo? Mas nós temos o pensamento de Cristo.
    Paulo justifica o seu ministério afirmando que recebeu o Espírito que vem de Deus (cf. v. 12). Só o Espírito de Deus nos torna "homens espirituais", capazes de conhecer os mistérios divinos e nos dá uma mentalidade conforme ao "pensamento do Senhor" (v. 16). O homem terreno, isto é, aquele que apenas possui o espírito do mundo e se deixa conduzir por ele, não pode compreender as coisas do Espírito e aceitar a "loucura" da mensagem evangélica, que culmina na Cruz. S. Basílio e S. Gregório, como todos os santos, deixaram-se fascinar por Cristo, assumiram o seu modo de pensar e viveram em conformidade com ele. Tornaram-se, assim, verdadeiros homens espirituais, capazes de julgar todas as coisas.

    Evangelho: Mateus 5, 13-16

    Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos: «Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se corromper, com que se há-de salgar? Não serve para mais nada, senão para ser lançado fora e ser pisado pelos homens. 14Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; 15nem se acende a candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas sim em cima do candelabro, e assim alumia a todos os que estão em casa. 16Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu.»

    Depois de proclamar as Bem-aventuranças, Mateus apresenta dois provérbios em forma de parábola que definem a missão dos discípulos: ser sal e luz. Tal como o sal e a luz influem sobre os alimentos e sobre as realidades terrenas, assim os discípulos de Cristo devem influir sobre o mundo, ajudando-o a descobrir o sentido da vida, para que não seja enganado pelas suas tendências e aspirações rasteiras. Como o sal, os discípulos hão-de dar sabor à humanidade e preservá-la da corrupção. Como a luz, hão-de ser para o mundo um raio do esplendor da glória de Deus. Tudo isso acontece quando os discípulos vivem à maneira de Cristo, guiados pela fé e atuando a caridade. A vida cristã é um compromisso com Deus, que tem implicações sociais e universais. Por isso, não deve ser escondida, mas brilhar no mundo, para glória de Deus.

    Meditatio

    Basílio de Cesareia e Gregório de Nissa são exemplos de cristãos cujas vidas refletem o Evangelho, verdadeiros luminares da fidelidade e da beleza do ideal cristão.

    Basílio, dotado de forte personalidade, foi um homem de pensamento e de ação. Escreveu e pregou, especulou e socorreu. Gregório é o filósofo elegante, o poeta delicado, o contemplativo irrequieto. Ambos nos revelam o que significa tornar-se discípulos da verdadeira sabedoria e receber o dom do Espírito, que perscruta as profundezas de Deus. Estes dois amigos, que hoje celebramos foram génios e santos. Por isso, a Igreja os venera como santos e doutores. A caridade de Deus fê-los operadores de bem e servidores dos irmãos, como monges, como padres e como bispos. Ambos cantaram a beleza de Deus. Como amigos e companheiros, compreenderam que o seu ideal mais profundo era o amor da sabedoria. Movia-os a ânsia de saber. Escreve Gregório: "Uma só tarefa e um só objetivo havia para ambos: aspirar à virtude, viver para as esperanças futuras e comportar-nos de tal modo que, mesmo antes de ter partido desta vida, tivéssemos emigrado dela. Esse foi o ideal que nos propusemos, e assim tratávamos de orientar a nossa vida e as nossas ações, em atitude de docilidade aos mandamentos divinos, entusiasmando-nos mutuamente à prática do bem: e, se não parecer demasiada arrogância, direi que éramos um para o outro a norma e a regra para discernir o bem do mal".

    Oratio

    Vem Espírito Santo, eleva o meu coração, ampara a minha fraqueza, conduz-me à perfeição da caridade. Purifica-me de todo o mal e, pela união contigo, faz-me homem espiritual. Penetra-me e enche-me com a tua luz divina de modo que eu mesmo me torne luminoso e reflita ao meu redor a tua luz, a tua graça. Ámen.

    Contemplatio

    Jesus viera para operar a grande obra da reconciliação. Tudo estava preparado e, no entanto, leva uma longa vida de trinta anos, desconhecida, escondida, em aparência inativa e inútil. O Redentor tinha sido prometido ao género humano e anunciado pelos profetas. Os sinais da sua vinda estavam marcados. Era esperado pelos justos com um ardente desejo. Prodígios foram realizados na altura do seu nascimento. A própria natureza manifestou a sua alegria pela vinda do Criador. Uma estrela maravilhosa surpreendeu os sábios do Oriente e conduziu-os ao presépio. Mas logo a seguir, que silêncio! Tudo retorna à obscuridade e à calma. Os que acreditavam verdadeiramente que seguiam a atração da graça, a voz dos anjos e as inspirações do Espírito Santo conservavam no seu coração a recordação dos mistérios, que tinham tido um brilho tão curto. Adoravam no silêncio, na esperança e no abandono, os decretos da sabedoria, do amor e da misericórdia de Deus. E esta vida obscura, vida de submissão, de trabalho e da misericórdia de Deus vai durar trinta anos! Quem é que está em condição de aprofundar as vias da sabedoria, do amor e da bondade de Deus? Quem pode conceber e contar os atos de virtude destes anos de obscuridade? E então porquê tudo isto? Porquê esta viagem penosa e longa ao país pagão e idólatra? Porque Jesus era vítima, porque era libertador e redentor; porque isto correspondia aos desígnios de misericórdia que os homens não podiam compreender perfeitamente. (L. Dehon, OSP 3, p. 41).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:

    "Para nós o maior título de glória era sermos cristãos
    e como tal reconhecidos" (S. Gregório Nazianzeno).

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    S. Basílio Magno e s. Gregório Nanzianzeno (2 Janeiro)
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  • Tempo Comum – Anos Ímpares – I Semana – Segunda-feira

    Tempo Comum – Anos Ímpares – I Semana – Segunda-feira


    11 de Janeiro, 2021

    Tempo Comum – Anos Ímpares – I Semana – Segunda-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Hebreus 1, 1-6

    1Muitas vezes e de muitos modos, falou Deus aos nossos pais, nos tempos antigos, por meio dos profetas. 2Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por meio de quem fez o mundo. 3Este Filho, que é resplendor da sua glória e imagem fiel da sua substância e que tudo sustenta com a sua palavra poderosa, depois de ter realizado a purificação dos pecados, sentou-se à direita da Majestade nas alturas, 4tão superior aos anjos quanto superior ao deles é o nome que recebeu em herança. 5Com efeito, a qual dos anjos disse Deus alguma vez: Tu és meu Filho, Eu hoje te gerei? E ainda: Eu serei para Ele um Pai e Ele será para mim um Filho? 6E de novo, quando introduz o Primogénito no mundo, diz: Adorem-no todos os anjos de Deus.

    A revelação de Deus na história humana, cujo centro é o Filho, aconteceu de modo paulatino e progressivo. Antes da vinda do Filho, Deus tinha-se revelado em inúmeros pequenos e grandes acontecimentos. Revelara-se de muitas maneiras: sonhos, visões, experiências, epifanias na natureza e no coração dos homens. Revelara-se por meio de homens como Abraão e Moisés. A vinda de Cristo inaugura uma nova época. Com Ele, acabou a revelação parcial e fragmentária do Antigo Testamento. Cristo fala-nos de Deus, sendo Filho do mesmo Deus. A sua revelação é plena e completa. Ensina-nos que o Deus dos Pais é único, mas não solitário; na perfeita comunhão das pessoas é eterno Pai de um Filho cujo mistério se tornou presente no meio de nós «nestes dias» (v. 2). O Autor da carta esboça-lhe sinteticamente os traços: o Filho é criador com o Pai, revela-O plenamente e participa da sua soberania (vv. 1ss.). N´Ele mora o esplendor de Deus que, desse modo, se torna perceptível ao homem (v. 3ª): o templo era um símbolo desta realidade que se cumpre em Jesus. Verdadeiro templo, Jesus é também o verdadeiro sacerdote que «que realizou a purificação dos pecados» (v. 3), pela oferta sacrificial de si mesmo. É esse o culto definitivo, que abre o acesso a Deus, à direita do qual o Filho está sentado (v. 3b). Apesar de ter assumido a nossa natureza (v. 6ª), Cristo é muito superior aos anjos. Tem efectivamente uma relação de origem absolutamente única com Deus (v. 5), que O constituiu primogénito de toda a criatura (v. 6; cf. Gl 1, 15-18) e lhe deu o seu próprio «nome»: Senhor, Kýrios (v. 4; cf. Fl 2, 9-11).
    Com esta argumentação, o Autor pretendia defender os cristãos provenientes do judaísmo da apostasia a que os podia levar a saudade dos ritos do templo de Jerusalém ou o perigo de iminentes perseguições.

    Evangelho: Mc 1, 14-20

    Depois de João ter sido preso, Jesus foi para a Galileia, e proclamava o Evangelho de Deus, 15dizendo: «Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e acreditai no Evangelho.» 16Passando ao longo do mar da Galileia, viu Simão e André, seu irmão, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. 17E disse-lhes Jesus: «Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens.» 18Deixando logo as redes, seguiram-no. 19Um pouco adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco a consertar as redes, e logo os chamou. 20E eles deixaram no barco seu pai Zebedeu com os assalariados e partiram com Ele.

    A liturgia do tempo comum, põe-nos a caminho com Jesus, na progressiva descoberta do seu mistério e da nossa própria e verdadeira identidade. Na linha dos profetas, e de João Baptista, convida à conversão: «arrependei-vos e acreditai no Evangelho» (v. 15). Estas palavras mostram que Jesus exige ao discípulo uma atitude nova e radical. Vão na mesma linha as duas cenas de vocação. Os discípulos são chamados a um novo êxodo, ao caminho inaudito do evangelho: «Vinde comigo»; «Deixando logo as redes, seguiram-no». Todo este dinamismo parte do olhar e do chamamento de Jesus. Não parte de uma iniciativa voluntarista, moralista ou generosa do homem. Não é o homem que parte ao encontro de Deus. É Deus que vem ao encontro do homem. A Encarnação torna possível o seguimento, o caminhar com Jesus, o Filho de Deus feito homem. O seguimento de Jesus implica «deixar» algumas pessoas, algumas coisas, alguns projectos pessoais, o que sempre requer algum sacrifício. Mas é possível, porque o olhar de Jesus precede a tomada dessas decisões. Jesus que passa, vê e chama, é a estrutura que possibilita abandonar tudo e segui-l´O. Jesus vem ao nosso encontro para mudar o nosso destino. Passa pela dia a dia dos homens, vê com um olhar cheio de amor e conhecimento, convida, promete uma nova condição. Inaugura o tempo favorável (kairòs) em que Deus submete as forças que reduzem a vida do homem (v. 15ª).

    Meditatio

    O magnífico exórdio da Carta aos Hebreus apresenta-nos Cristo como Aquele que herdou um nome bem diferente do nome dos Anjos. Que nome é esse? À primeira vista, tendo em conta a liturgia hodierna, parece ser o de Filho de Deus. Mas, se tivermos em consideração a primeira parte da carta, não é apenas esse. É verdade que Cristo é Filho de Deus. Mas aqui trata-se de Cristo glorificado na glorificação pascal. Filho de Deus, e glorificado no seu mistério pascal, Cristo é também irmão dos homens, como veremos amanhã. Como Filho é superior aos Anjos; como irmão dos homens é menor que os Anjos. Como Filho está mais próximo de Deus; como irmão está mais próximo de nós. Estes dois aspectos podem sintetizar-se no nome de Sumo Sacerdote, perfeito Mediador, por meio do qual entramos na intimidade da Trindade. O seu nome é, portanto, misterioso, profundo, motivo de esperança e de confiança. Por meio do seu Filho, diz a carta, «Deus falou-nos, nestes dias, que são os últimos» (v. 2).
    No começo do tempo comum, a Igreja põe diante de nós uma palavra de Jesus: «Vinde comigo» (v. 17). Esta palavra obtém uma dupla resposta: «seguiram-no» (v. 20). É o caso de Simão e André, de Tiago e de João. Também nós somos convidados a seguir Jesus durante este ano. Somos chamados a segui-lo na humildade, no sacrifício e na renúncia, mas, sobretudo, a estar com Ele, a partilhar a sua vida e a sua missão. É o mais importante. Para seguir Jesus, temos de renunciar a escolher, nós mesmos, o nosso caminho, o que muitas vezes implica sofrimento, porque exige abandonar o que mais espontaneamente nos agrada. Custa renunciar à orientação da nossa vida, conforme nos apraz, para aceitarmos ser conduzidos por Outro, talvez para onde não queiramos. Já S. Pedro ouviu da boca de Jesus: «outro te há-de levar para onde não queres» (Jo 21, 18). Mas há também o aspecto positivo da resposta ao convite «Segui-me» que é estar com Jesus, não estar sós, não estar nas trevas mas na luz, porque Jesus disse: «Quem me
    segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida» (Jo 8, 12).
    «Seguir» Jesus é condição para viver no amor. Quem marca o seu próprio caminho não vive no amor, mas na solidão. Quem, pelo contrário, segue Jesus, está sempre com Ele, seu irmão e Senhor, e experimenta uma grande alegria.
    Reflictamos: «Quem estou a seguir, agora»? Peçamos ao Senhor que acenda em nós o desejo de O seguirmos toda a nossa vida. Os profetas antigos anunciaram as coisas de Deus, mas hoje, é pelo Filho que Deus nos fala. É Ele a Palavra poderosa e criadora. É Ele quem nos revela o Deus que jamais alguém viu. É a sua imagem perfeita, a sua glória irradiante, o seu Filho muito amado.
    O nosso seguimento de Cristo há-de ser feito segundo o nosso carisma dehoniano. Nos números 19 a 21 das Constituições, um verdadeiro hino cristológico, e no seu contexto (nn. 16-25) o seguimento de Cristo, típico da vida religiosa (cf. PC 2b), é expresso com uma terminologia especificamente dehoniana: unidos a Cristo no seu amor e na sua oblação ao Pai (p. II, parágrafo 3); união com Cristo, no seu amor pelo Pai e pelos homens (n. 17); descobrir, cada vez mais, a Pessoa de Cristo e o mistério do seu Coração (n. 17); na disponibilidade e no amor para com todos… viveremos a nossa união a Cristo (n. 18); O Pai… constituiu-O Senhor, Coração da humanidade e do mundo (n. 19); Com S. João, vemos no Lado aberto do Crucificado (n. 21); Contemplando o Coração de Cristo, somos fortalecidos na nossa vocação (n. 21); Oferecer-nos ao Pai como oblação viva, santa e agradável (n. 22); A reparação… acolhimento do Espírito… resposta ao amor de Cristo por nós… comunhão no seu amor pelo Pai… cooperação com a sua obra redentora… (n. 23); Ele nos chama a viver a nossa vocação reparadora, como estímulo do nosso apostolado… (n. 23).

    Oratio

    Senhor Jesus, Tu és o Filho eterno do Pai, o resplendor da sua majestade. Ilumina-nos com um raio da tua luz, para que possamos ver-Te presente no meio de nós. Tu, que és a Palavra, a Boa Nova enviada pelo Pai, dá-nos a graça de escutarmos com fé o Evangelho que pode transformar a nossa vida. Tu, que foste elevado acima dos anjos, Tu que vieste para meio dos homens procurar irmãos, faz com que acolhamos o convite a seguir-Te para a casa do Pai. Tu, que hoje, nos ofereces mais uma ocasião de graça, faz com que nos deixemos purificar dos nossos pecados, e decidamos firmemente seguir-Te, único caminho para a Vida. Amen.

    Contemplatio

    Sim, Deus não se envergonha de nos chamar seus irmãos. S. Paulo exprime abundantemente a sua admiração sobre este assunto, nos primeiros capítulos da sua carta aos Hebreus. «Outrora, diz, Deus falou aos nossos pais pelos profetas, mas nos nossos dias foi pelo seu próprio Filho, que criou o mundo com ele e que o fez herdeiro de todas as coisas. Ele é o esplendor da sua glória e imagem da sua substância; tudo sustém pelo poder da sua palavra, e depois de nos ter purificado dos nossos pecados, sentou-se no mais alto dos céus, à direita da Majestade divina, sendo também elevado acima dos anjos que o seu nome comporta, porque quem é o anjo ao qual Deus tenha alguma vez dito: Vós sois meu Filho, hoje vos gerei, e ainda: serei o seu Pai e ele será meu Filho?… A Escritura diz dos anjos que Deus os fez seus ministros, mas diz ao Filho de Deus: o vosso trono, ó Deus, será um trono eterno… E, noutro lugar, reconhecendo-o como Criador de todas as coisas, ela diz-lhe: Senhor, criastes a terra desde o começo do mundo… Também, quem é o anjo ao qual o Senhor tenha dito: Sentai-vos à minha direita até que eu tenha reduzido os vossos inimigos a servir de escabelo?… «Entretanto o seu Filho adorável, Deus tornou-o por um pouco de tempo inferior aos anjos, tornando-o passível e mortal, mas em seguida coroou-o de glória e de honra. Era digno de Deus que, para conduzir à glória os seus filhos, consumisse pelos sofrimentos aquele de entre eles que devia ser o autor da sua salvação. Porque o Salvador e os resgatados são da mesma raça humana e não se envergonha de os chamar seus irmãos…». Tal é o magnífico ensino de S. Paulo. O hóspede do sacrário é nosso irmão, um irmão amoroso, que se sacrificou por nós, como haveríamos de hesitar em ir dizer-lhe o nosso amor? (Leão Dehon, OSP 3, p. 652s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra
    «Quem me segue, terá a luz da vida» (Jo 8, 12).

  • Santo Antão, Abade

    Santo Antão, Abade


    17 de Janeiro, 2021

    S. Antão nasceu em 252, no Egipto Médio. Os seus pais eram ricos proprietários rurais. Quando tinha 20 anos, ao entrar numa igreja, ouviu proclamar Mt 10, 21: "Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens..." Fulminado pelo convite de Jesus, vendeu os campos recebidos em herança, reservando uma parte deles para a sua irmã, e iniciou a vida ascética. Primeiro juntou-se a um velho monge, perto da sua aldeia. Depois, encerrou-se num sepulcro cerca de 13 anos. Submetido a fortes tentações do demónio, empenhou-se ainda mais na luta ascética, fixando-se num fortim abandonado, onde permaneceu vinte anos. Em 306, deixou o seu retiro aceitando receber discípulos. Para escapar aos malefícios da fama, que começava a rodeá-lo, refugiou-se no monte Kolzum. Aí morreu a 17 de Janeiro de 356, com a idade de cento e cinco anos, muitos dos quais passados a ensinar os anacoretas, a curar os enfermos, e a refutar os hereges. Embora rigorosamente não tenha sido o primeiro monge o seu ministério carismático e autorizado fez dele, para sempre, o pai dos monges. A sua vida, escrita pelo seu contemporâneo e amigo, S. Atanásio, tornou-se a "primeira regra" para quem optava pela vida ascética nos ermos.
    Primeira Leitura: Miqueias, 6, 6-8

    Com que me apresentarei ao Senhor, e me prostrarei diante do Deus excelso? Irei à sua presença com holocaustos, com novilhos de um ano? 7Porventura o Senhor receberá com agrado milhares de carneiros ou miríades de torrentes de azeite? Hei-de sacrificar-lhe o meu primogénito pelo meu crime, o fruto das minhas entranhas pelo meu próprio pecado? 8Já te foi revelado, ó homem, o que é bom, o que o Senhor requer de ti: nada mais do que praticares a justiça, amares a lealdade e andares humildemente diante do teu Deus.

    Recorrendo ao género literário chamado "requisitório judicial", o profeta procura levar o povo a ser fiel à Aliança. Tocado no seu íntimo, por reconhecer não ter correspondido ao amor do Senhor, o fiel pergunta: "Com que me apresentarei ao Senhor, e me prostrarei diante do Deus excelso?" (v. 6). O profeta recusa a oferta de sacrifícios exteriores, exigindo a conversão verdadeira, que leve a "praticar a justiça, amar a lealdade e andar humildemente diante do teu Deus" (cf. v. 8). É a essência da verdadeira religião interior, o compêndio da Lei e dos Profetas, o antecipado sumário religioso proposto por Jesus (cf. Mt 22,34-40). É a religião, não como objeto em si mesma, mas como veícolo de diálogo com Deus e com os homens. O amor como fundamento das relações humanas e divinas. E isto dito no século VIII a. C.
    Evangelho: Mateus 19, 16-21
    Naquele tempo, quando se punha a caminho, alguém correu para Jesus e ajoelhou-se, perguntando: «Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?» 18Jesus disse: «Porque me chamas bom? Ninguém é bom senão um só: Deus. 19Sabes os mandamentos: Não mates, não cometas adultério, não roubes, não levantes falso testemunho, não defraudes, honra teu pai e tua mãe.» 20Ele respondeu: «Mestre, tenho cumprido tudo isso desde a minha juventude.» 21Jesus, fitando nele o olhar, sentiu afeição por ele e disse: «Falta-te apenas uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me.»

    O encontro de Jesus com o jovem rico é referido pelos três Sinópticos. Mas só Mateus fala de "um jovem", chamando a Jesus "Mestre". Marcos e Lucas acrescentam: "bom Mestre".
    Jesus propõe ao jovem as exigências do Reino, da "perfeição", isto é, a renúncia aos próprios bens em favor dos pobres e o seu seguimento incondicional. O jovem fica triste, porque punha a sua alegria exactamente nesses bens, e não queria deixá-los. Faltava-lhe, pois, a única coisa necessária: um coração livre e bem disposto para acolher aquela "vida eterna" que dizia desejar.
    Não se pode seguir Jesus sem estar dispostos a quebrar as amarras que impeçam a dociliddade e a obediência ao Mestre divino. Ele olha para todos com amor. Mas só se deixa atrair por aqueles que têm um coração humilde, pobre e livre.
    Meditatio

    Pensando em S. Antão, e no movimento monástico a que a sua vida e os seus ensinamentos deram um decisivo impulso, as leituras, que hoje escutamos, suscitam em nós uma verdadeira comoção. Antão escutou-as como Palavra do Senhor dirigida a ele. A sua resposta foi generosa, radical, iniciando um itinerário espiritual que nos pode inspirar. Antão desejava ardentemente agradar a Deus, e deixou-se conduzir pelo Espírito na busca do caminho adequado. A primeira resposta, quando se libertou os bens terrenos, abriu-o a um compromisso cada vez mais exigente e forte na busca humilde de Deus, longe dos olhares dos homens. Vencidas as paixões, Antão pôde servir serenamente os outros, tornando-se para todos um amigo, um irmão, um pai. Assim ensinou e cuidou daqueles que o procuraram como mestre de ascetismo, inventando, por assim dizer, um novo modelo de vida cristã, caracterizado pela liberdade, pela ascese, pela fidelidade à Palavra, pelo amor a Cristo e ao próximo. Reconhecido como "pai dos monges", S. Antão é, sobretudo, um modelo de vida cristã empenhada. Escreve S. Atanásio: "Antão trabalhava com as suas mãos, pois ouvira a palavra da Escritura: Quem não quiser trabalhar não coma". Do fruto do seu trabalho destinava parte para comprar o pão que comia; o resto distribui-o pelos pobres. Rezava constantemente, pois aprendera que é preciso rezar interiormente, sem cessar; era tão atento à leitura que nada lhe esquecia do que tinha lido na Escritura: tudo retinha de tal maneira que a sua memória acabou por substituir o livro".
    Oratio

    Senhor, dá-me ouvidos para escutar a tua Palavra e coração para a acolher. Que ela transforme a minha vida e me faça progredir decididamente pelo caminho que me chamas a percorrer e apoias com as tuas graças. Enche-me do teu Espírito, aquele grande Espírito de fogo que acendestes em S. Antão. Que esse mesmo Espírito me leve a viver no bulício do mundo, ou na paz da vida consagrada, aquela vida heroica que S. Antão viveu na solidão do deserto e, sobretudo, me leve a renunciar a mim mesmo para Te amar acima de todas as coisas. Ámen.
    Contemplatio

    Desde o sermão da montanha, Nosso Senhor tinha indicado os conselhos de perfeição: «Há, dizia, um caminho estreito, mas são raros os que o encontram». Propunha já a pobreza voluntária: «Não acumuleis tesouros sobre a terra, onde a traça e os vermes os corroem, onde os ladrões escavam e roubam. Vendei o que tendes e fazei esmolas. Preparai tesouros no céu... Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração» (Mt 6). Depois vem a aplicação. Um jovem de nobre família vem lançar-se aos pés de Jesus, perguntando-lhe qual é o melhor caminho a seguir. O Coração de Jesus é tocado, observa com afeto o jovem, ama-o, propõe-lhe os conselhos de perfeição. É uma vocação: «vai, diz-lhe, vende o que tens, dá-o aos pobres, e vem comigo. Que graça insigne! Ser chamado por Jesus a viver com ele, abandonando-se à sua providência! (L. Dehon, OSP 4, p. 105).
    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    «Quem quer vencer as tentações, não confie em si mas em Deus» (Pensamento de S. Antão, citado por S. Atanásio).

     

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    Santo Antão, Abade (17 Janeiro)

  • S. Francisco de Sales, Bispo e doutor da Igreja

    S. Francisco de Sales, Bispo e doutor da Igreja


    24 de Janeiro, 2021

    Nasceu em Thorans, pequena aldeia da Saboia francesa, em 1567. Tendo recebido uma boa educação na família, estudou num colégio de Jesuítas, em Paris e, depois, frequentou a universidade de Pádua, onde se formou em Direito. Contrariando as expetativas do pai, abraçou a vida eclesiástica e dedicou-se com sucesso à evangelização. Nomeado bispo de Genebra, desenvolveu grande atividade na reforma da diocese e exerceu profícuo apostolado entre os protestantes. Para além da sua iluminada atividade pastoral, dedicou-se à direção espiritual de muitas pessoas, escrevendo as preciosas obras de espiritualidade para todos, particularmente para os leigos, intituladas Filoteia, ou Introdução à vida devota, e Teotimo, ou tratado do amor de Deus. Com Santa Joana de Chantal, fundou a Visitação. Faleceu em 1622. É padroeiro da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, Dehonianos, e dos jornalistas católicos.
    Lectio
    Primeira leitura: Efésios 3, 8-12

    Irmãos, a mim, o menor de todos os santos, foi dada a graça de anunciar aos gentios a insondável riqueza de Cristo 9e a todos iluminar sobre a realização do mistério escondido desde séculos em Deus, o criador de todas as coisas 10para que agora, por meio da Igreja, seja dada a conhecer, aos Principados e às Autoridades no alto do Céu, a multiforme sabedoria de Deus, 11de acordo com o desígnio eterno que Ele realizou em Cristo Jesus Senhor nosso. 12Em Cristo, mediante a fé nele, temos a liberdade e coragem de nos aproximarmos de Deus com confiança.

    Paulo apresenta-se como ministro do mistério de Cristo, não por iniciativa própria, mas por vocação e graça. O seu trabalho de evangelizador dos pagãos é um dom recebido e uma missão a realizar. Deus tinha um desígnio arcano (mysterium), preparado longamente e agora revelado, na sua realização, a Paulo, de modo particular. Por meio dele, Deus quer revelá-lo a todos, especialmente aos pagãos. O conteúdo do mistério é o seguinte: todos são chamados a conhecer a extraordinária sabedoria de Deus, que também representa a extraordinária riqueza de Cristo.
    Evangelho: João 10, 11-18

    Naquele tempo, Jesus disse: "Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas. 12O mercenário, e o que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê vir o lobo e abandona as ovelhas e foge e o lobo arrebata-as e espanta-as, 13porque é mercenário e não lhe importam as ovelhas. 14Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-me, 15assim como o Pai me conhece e Eu conheço o Pai; e ofereço a minha vida pelas ovelhas. 16Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil. Também estas Eu preciso de as trazer e hão-de ouvir a minha voz; e haverá um só rebanho e um só pastor. 17É por isto que meu Pai me tem amor: por Eu oferecer a minha vida, para a retomar depois. 18Ninguém ma tira, mas sou Eu que a ofereço livremente. Tenho poder de a oferecer e poder de a retomar. Tal é o encargo que recebi de meu Pai.»

    A figura do pastor é comum na tradição hebraica para indicar o rei de Israel e a relação do crente com Deus, o pastor por excelência. Jesus identifica-se com essa imagem, aprofundando-a e levando-a à sua plena realização. Ele é o pastor belo (kalós) e bom não só na aparência, mas também na qualidade. É o autêntico pastor. O termo "belo" ou "bom" significa suave e afável, mas, sobretudo, autêntico. Jesus é o novo David, chefe e guia conforme o coração de Deus. É pastor, não só de Israel, mas também de "outras ovelhas" como os samaritanos e os pagãos, que são filhos de Deus dispersos e devem ser reconduzidos ao redil e à salvação, conforme o desígnio do Pai.
    Meditatio

    S. Francisco de Sales foi o pastor belo e bom que tornou amável o rosto da Igreja num tempo de grandes contrastes e lutas. Como Cristo, entregou-se e consumiu a sua vida, não só pelas ovelhas do redil, mas também pelas que andavam perdidas. Foi esse dar a vida por todos que abriu os olhos a muitas ovelhas "perdidas". S. Francisco de Sales foi, nos séculos XVI e XVII, o pastor autêntico, preocupado exclusivamente em dar a própria vida, arriscando-a em situações por vezes muito difíceis para evangelizar, servir a sua diocese e restaurar a vida da Igreja nas dioceses de Genebra e Annecy. Em tudo se deixa conduzir pelo princípio do amor puro, como disponibilidade incondicional ao projeto de Deus. É isso que também ensina às pessoas sedentas de perfeição cristã.
    É um verdadeiro repouso para a alma contemplar este santo, ler os seus escritos, tal é a sua caridade, a paciência e o otimismo que exala. A fonte de tudo isto está na esperança em Deus, ao qual se entrega para servir sem reservas o seu povo.
    Francisco de Sales exultava de alegria ao pensar que toda a lei se resume no mandamento do amor e que não devemos ter medo de amar excessivamente.
    O P. Dehon aponta-o como um "santo do Coração de Jesus". E justifica: "A grande obra da sua piedade foi a fundação da Visitação donde saiu a devoção ao Sagrado Coração", uma evidente alusão a Santa Margarida Maria, visitandina, favorecida com extraordinárias revelações de Jesus e apóstola do seu Coração.
    Oratio

    Amável santo, vós sois um dos mestres da devoção ao Sagrado Coração. Haveis formado tão bem a Ordem da Visitação, que Nosso Senhor aí encontrou um campo bem preparado para lá semear esta bela devoção. Preparai também os nossos corações. Por vossa intercessão, purificai-nos e formai-nos ao apostolado do Coração de Jesus. (Leão Dehon, OSP 3, p. 103).
    Contemplatio

    S. Francisco de Sales é modelo de mansidão. É a característica da sua vida. Foi suave como o bom Mestre. Não o era por natureza, mas tornou-se pelos seus esforços e pela graça de Deus. Imagem perfeita do Bom Pastor, vai através de todas as fadigas procurar as ovelhas perdidas. Fala às pessoas pobres, aos pastores das montanhas com uma bondade que os enternece. Entra nas suas necessidades e nas suas mágoas e assiste-os com a sua bolsa e os seus bens. A sua reputação de mansidão é conhecida longe... A sua caridade sem limites punha em desespero o seu ecónomo, mas o caro santo mostrava-lhe o crucifixo e dizia-lhe: "Como é que hesitaremos em despojar-nos, quando vemos o que um Deus fez por nós". A doçura era a sua virtude dominante. Dizia um dia que tinha estado três anos a estudar na escola de Jesus Cristo e que não podia contentar-se lá em cima. Algumas pessoas tendo-o um dia censurado por causa da sua indulgência para com os pecadores, respondeu-lhes: "Se houvesse alguma coisa melhor que a mansidão, Deus no-la teria ensinado. Mas ele não nos recomenda senão duas coisas, ser mansos e humildes de coração. Quereis impedir-me de observar o mandamento de Deus e de imitar o mais que puder a virtude da qual nos deu o exemplo?" (Leão Dehon, OSP 3, p. 102).
    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas" (Jo 10, 11b).
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    S. Francisco de Sales, Bispo e doutor da Igreja (24 Janeiro)

  • Conversão de S. Paulo

    Conversão de S. Paulo


    25 de Janeiro, 2021

    Saulo, cidadão romano por privilégio da sua cidade natal, Tarso, era um judeu convicto, formado na escola de Gamaliel, em Jerusalém. Opôs-se decididamente à nova fé que começava a propagar-se na Palestina e arredores. Clamou pela morte de Estêvão, e tomou parte nela, guardando as capas dos que apedrejavam o protomártir. Perseguiu violentamente os crentes em Jesus Cristo. O seu nome causava terror nas comunidades cristãs. Ao dirigir-se para Damasco para prender os cristãos que lá encontrasse e conduzi-los a Jerusalém, encontrou Jesus ressuscitado. Esse encontro mudou-lhe para sempre a vida, com a sua forma de crer e de pensar. Jesus ressuscitado, que ele perseguia, tornou-se o centro da sua espiritualidade e da sua teologia. Em Antioquia, Saulo faz a sua primeira experiência de vida cristã. Tornado apóstolo do Evangelho, com o nome de Paulo, Antioquia será também o ponto de partida para as suas viagens missionárias. Funda diversas comunidades na Ásia e na Europa. Escreve-lhes cartas que testemunham o seu amor a Jesus Cristo e à Igreja, e nos dão elementos importantes da sua teologia. Como apóstolo verdadeiro e autêntico, Paulo tem sempre o cuidado de voltar a Jerusalém para se confrontar com os outros apóstolos e não correr em vão.

    Há muitos séculos que a festa da conversão de S. Paulo foi fixada no dia 25 de Janeiro, talvez por causa da data da transladação do seu corpo, que atualmente repousa na Basílica de S. Paulo Fora dos Muros, em Roma.
    Lectio

    Primeira Leitura: Act 22, 3-16

    Naqueles dias, Paulo disse ao povo: "Sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, mas fui educado nesta cidade, instruído aos pés de Gamaliel, em todo o rigor da Lei dos nossos pais e cheio de zelo pelas coisas de Deus, como todos vós sois agora. 4Persegui de morte esta «Via», algemando e entregando à prisão homens e mulheres, 5como o podem testemunhar o Sumo Sacerdote e todos os anciãos. Recebi até, da parte deles, cartas para os irmãos de Damasco, onde ia para prender os que lá se encontrassem e trazê-los agrilhoados a Jerusalém, a fim de serem castigados. 6Ia a caminho, e já próximo de Damasco, quando, por volta do meio dia, uma intensa luz, vinda do Céu, me rodeou com a sua claridade. 7Caí por terra e ouvi uma voz que me dizia: 'Saulo, Saulo, porque me persegues?' 8Respondi: 'Quem és Tu, Senhor?' Ele disse-me, então: 'Eu sou Jesus de Nazaré, a quem tu persegues.' 9Os meus companheiros viram a luz, mas não ouviram a voz de quem me falava. 10E prossegui: 'Que hei-de fazer, Senhor?' O Senhor respondeu-me: 'Ergue-te, vai a Damasco, e lá te dirão o que se determinou que fizesses.' 11Mas, como eu não via, devido ao brilho daquela luz, fui levado pela mão dos meus companheiros e cheguei a Damasco. 12Ora um certo Ananias, homem piedoso e cumpridor da Lei, muito respeitado por todos os judeus da cidade, 13foi procurar-me e disse: 'Saulo, meu irmão, recupera a vista.' E, no mesmo instante, comecei a vê-lo. 14Ele prosseguiu: 'O Deus dos nossos pais predestinou-te para conheceres a sua vontade, para veres o Justo e para ouvires as palavras da sua boca, 15porque serás testemunha diante de todos os homens, acerca do que viste e ouviste. 16E agora, porque esperas? Levanta-te, recebe o batismo e purifica-te dos teus pecados, invocando o seu nome.

    Este é um dos três relatos com que Lucas enriquece a história da primitiva comunidade cristã. Sem se preocupar com o rigor histórico, - alguns pormenores são mesmo improváveis -, o autor do livros dos Atos pretende personificar em Paulo a justificação do cristianismo e a falta de razão do judaísmo.
    O evento de Damasco articula-se em três momentos: um diálogo de reconhecimento mútuo entre Jesus Ressuscitado e Saulo de Tarso; a conversão de Saulo revelada na pergunta: "Que hei de fazer, Senhor?"; a missão: quem conheceu a vontade de Deus e viu o Justo recebendo a palavra da sua boca, torna-se testemunha do que viu e ouviu. Doravante, para Paulo, a única forma de vida é ser missionário.
    Evangelho: Marcos 16, 15-18

    Naquele tempo, Jesus apareceu aos Onze e disse-lhes: «Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura. 16Quem acreditar e for batizado será salvo; mas, quem não acreditar será condenado. 17Estes sinais acompanharão aqueles que acreditarem: em meu nome expulsarão demónios, falarão línguas novas, 18apanharão serpentes com as mãos e, se beberem algum veneno mortal, não sofrerão nenhum mal; hão de impor as mãos aos doentes e eles ficarão curados.»

    Paulo não pertenceu ao grupo dos Doze. Mas a Liturgia aplica-lhe também as palavras de Jesus aos Doze, no momento em que subia ao céu: "Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura" (v. 15). Paulo, depois da sua experiência de fé e de comunidade, torna-se verdadeiro apóstolo de Jesus. Desde sempre a Igreja entendeu que o mandato missionário do Ressuscitado se dirigia também a ele. Paulo submete-se e obedece.
    Deus quer salvar a humanidade com a colaboração da própria humanidade. Jesus precisa de missionários-testemunhas. A salvação é fruto da pregação e realiza-se pelo ato de fé de quem a escuta: "Quem acreditar e for batizado será salvo" (v. 16). Deus, que nos criou sem nós, não nos salva sem a nossa colaboração.
    Os sinais e prodígios que acompanham a pregação dos apóstolos manifestam a presença consoladora de Deus no meio de nós.
    Meditatio

    Em S. Paulo revela-se verdadeiramente o poder de Deus. Inimigo acérrimo do nome de Cristo, Saulo encontra-se com o Senhor no caminho de Damasco, acolhe-o na fé e torna-se seu Apóstolo entusiasta, com uma fecundidade extraordinária, que ainda não terminou. O seu itinerário de fé é símbolo do nosso.
    Acreditar implica, antes de mais, encontrar pessoalmente Jesus de Nazaré, Deus feito homem. O cristão não se acredita numa doutrina, num sistema, mas numa pessoa, a pessoa humano-divina de Jesus. Ter fé é aderir vitalmente a Jesus, de tal modo que já não se pode viver sem Ele.
    Realizado o encontro, passa-se ao diálogo, uma vez que a fé é encontro e adesão entre pessoas inteligentes e livres. A quem se dispõe ao diálogo, Deus revela a Si mesmo, revela a sua vontade e os seus projetos. Este diálogo vital leva aqueles que o realizam a uma forma de vida cada vez mais elevada.
    Mas a fé cristã também é obediência, submissão, abandono total da criatura ao Criador. Obedecer não significa abdicar da própria liberdade ou dos próprios direitos. Significa, sim, perceber a imensa distância que existe entre si o interlocutor e, ao mesmo tempo, intuir que a adesão à vontade divina leva à total satisfação e realização de si mesmo.
    Finalmente, a fé cristã é também missão. Não se pode privatizar um bem que, por sua natureza, é comunitário. Quem recebeu de Cristo o dom da salvação em Cristo, sente-se intimamente obrigado a fazer dele um dom para os outros.
    O Apóstolo Paulo é nosso guia em tempos de aprofundamento espiritual e de renovação apostólica. Como ele, o apóstolo dos tempos novos deve procurar, em primeiro lugar, a inteligência do Mistério de Cristo num apego inquebrantável ao seu Amor (cf. Ef 3, 4; Rm 8, 35; Fl 3, 8-10). É apóstolo, em primeiro lugar, pelo testemunho da visão de Cristo (At 26, 1) e tornando-se no Espírito imagem viva do Salvador morto e ressuscitado. É a caridade do Senhor que vive nele e que o impele em direção aos homens para lhes anunciar o Evangelho de Deus, o Evangelho que todos podem ler na sua vida e nos seus escritos. Ensina-nos o serviço ardente e inteligente em favor do Reino. Vivendo de Cristo, a ponto de ser identificado com Ele pela graça (Gl 2, 20), lembra-nos que o serviço apostólico enraíza numa verdadeira consagração a Deus e dá à nossa oblação capacidade para se manifestar e aprofundar no trabalho generoso para que a humanidade se torne «uma oblação agradável santificada pelo Espírito Santo (XV Capítulo Geral, DOC VII, n. 167).
    Oratio

    Apóstolo S. Paulo, na tua juventude, deixaste-te levar por um zelo ardente mas errado em favor da unidade do povo de Deus. Por isso, perseguiste duramente os cristãos. Deus converteu-te e introduziu-te na Igreja, Corpo de Cristo, onde deve integrar-se quem quiser viver na verdadeira fé. Mas a tua adesão a Cristo e a tua integração na Igreja não te fizerem esquecer o teu povo, pelo qual sentias uma dor profunda e permanente. Que a minha alegria de estar em Cristo não me faça esquecer a situação do antigo Povo de Deus, nem a dos cristãos divididos, que tardam em chegar à unidade que Deus quer. Ámen.
    Contemplatio

    S. Paulo recolhe-se alguns dias, depois começa a pregar a divindade de Jesus Cristo. Será um dos mais poderosos apóstolos pela palavra e pelo sofrimento. «Escolhi-o, dizia Nosso Senhor, para levar o meu nome diante das nações e dos reis e dos filhos de Israel, e hei de mostrar-lhe quanto terá de sofrer pelo meu nome». A sua conversão e a sua vocação são devidas à misericórdia do Coração de Jesus. O Coração de Jesus ama as almas ardentes, zelosas, dedicadas. Mas a oração de Santo Estêvão contribuiu para estas grandes graças. Santo Estêvão rezava pelos seus perseguidores, entre os quais S. Paulo era o mais ardente. Se soubermos rezar e sofrer pelas almas, obteremos grandes graças, ilustres conversões, vocações poderosas. Ofereçamos as nossas orações, as nossas cruzes, os nossos sofrimentos ao Coração de Jesus para que envie à sua Igreja, nestes tempos difíceis, apóstolos poderosos em palavras e em obras (L. Dehon, OSP 3, p. 90s.).
    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Que hei de fazer, Senhor?" (At 22, 10).

     

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    Conversão de S. Paulo (25 Janeiro)

  • S. Timóteo e S. Tito, Bispos

    S. Timóteo e S. Tito, Bispos


    26 de Janeiro, 2021

    S. Timóteo nasceu em Listra. A sua mãe era hebreia e o seu pai era grego. Colaborou intimamente com S. Paulo na evangelização, mantendo por ele um afeto filial. O Apóstolo colocou-o à frente da Igreja de Éfeso.

    S. Tito, que parece vir do paganismo, tornou-se um cristão de fé sólida e um evangelizador ativo e fervoroso. Na carta que lhe é dirigida, aparece-nos como responsável pela Igreja de Creta.
    Lectio
    Primeira leitura: 2 Timóteo 1, 1-8

    Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, por desígnio de Deus, segundo a promessa de vida que há em Cristo Jesus, 2a Timóteo, meu filho querido: graça, misericórdia e paz de Deus Pai e de Cristo Jesus, Nosso Senhor. 3Dou graças a Deus, a quem sirvo em consciência pura, como já o fizeram os meus antepassados, ao recordar-te constantemente nas minhas orações, noite e dia. 4Ao lembrar-me das tuas lágrimas, anseio ver-te, para completar a minha alegria, 5pois trago à memória a tua fé sem fingimento, que se encontrava já na tua avó Loide e na tua mãe Eunice e que, estou seguro, se encontra também em ti. 6Por isso recomendo-te que reacendas o dom de Deus que se encontra em ti, pela imposição das minhas mãos, 7pois Deus não nos concedeu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e de bom senso. 8Portanto, não te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor, nem de mim, seu prisioneiro, mas compartilha o meu sofrimento pelo Evangelho, apoiado na força de Deus.

    A Segunda Carta a Timóteo é uma espécie de testamento espiritual do Apóstolo, na véspera do seu martírio. Trata-se de um escrito da escola paulina, de finais do século I. Entre expressões de afeto e de estima por Timóteo, Paulo afirma a sua condição de Apóstolo, vocação e missão a que foi chamado e às quais correspondeu generosamente. Paulo sublinha também a continuidade entre o seguimento de Jesus e a fidelidade à lei hebraica, que viveu e pregou. O mesmo sucede com Timóteo, filho de pai grego, mas iniciado ao cristianismo pela sua avó e pela sua mãe, ambas hebreias. O autor da carta acentua também o carisma de pastor de almas personificado em Timóteo, e transmitido pelo Apóstolo, através da imposição das mãos. Em todo o texto domina o testemunho dado a Cristo por Paulo nas diversas e difíceis provações por que passou, e que Timóteo deve continuar, com a graça de Deus.
    Evangelho: Lucas 10, 1-9

    Naquele tempo, designou o Senhor outros setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois, à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir. 2Disse-lhes:«A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe. 3Ide! Envio-vos como cordeiros para o meio de lobos. 4Não leveis bolsa, nem alforge, nem sandálias; e não vos detenhais a saudar ninguém pelo caminho. 5Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: 'A paz esteja nesta casa!' 6E, se lá houver um homem de paz, sobre ele repousará a vossa paz; se não, voltará para vós. 7Ficai nessa casa, comendo e bebendo do que lá houver, pois o trabalhador merece o seu salário. Não andeis de casa em casa. 8Em qualquer cidade em que entrardes e vos receberem, comei do que vos for servido, 9curai os doentes que nela houver e dizei-lhes: 'O Reino de Deus já está próximo de vós.'

    A obra de Jesus está internamente aberta e realiza-se através dos discípulos. Os Doze continuam a ser o fundamento de toda a missão da Igreja. Mas, juntamente com eles, e depois deles, Jesus escolheu muitos outros. A messe é grande e os trabalhadores acabam sempre por ser poucos. O nosso texto alude a setenta e dois, número de plenitude e sinal de todos os missionários posteriores que anunciam a mensagem do reino na nossa Igreja. Através desses discípulos, a missão de Jesus alcança todas as fronteiras da história, chegando à sua plenitude na grande meta da ceifa escatológica.
    Meditatio

    "Recomendo-te que reacendas o dom de Deus que se encontra em ti" (v. 6). Para nós, esse dom é a vocação cristã, primeiro anel de uma corrente de dons que Deus tem para nos dar. Podemos meditar nesse dom na perspetiva da fraternidade, sublinhando dois aspectos: a simplicidade fraterna e a fidelidade fraterna. Quanto à simplicidade fraterna, não havemos de nos julgar mais do que os outros, alimentar ambições, ser presumidos. Pelo contrário, há que fazer-nos pequenos com os outros, irmãos entre os irmãos: "Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo" (Mc 10, 43). A fraternidade cristã apoia-se numa igualdade fundamental: diante de Deus, todos somos iguais; diante dos outros, todos somos carenciados. Por isso, ninguém pode pretender ser mais do que os outros. O nosso modelo é Jesus, que se fez nosso irmão. Poderia fazer sentir o seu poder, a sua autoridade; mas preferiu estar no meio de nós como quem serve! "Pois, quem é maior: o que está sentado à mesa, ou o que serve? Não é o que está sentado à mesa? Ora, Eu estou no meio de vós como aquele que serve." (Lc 22, 27).
    A fraternidade, a simplicidade fraterna manifestam-se também como afeto fraterno. Os sentimentos recíprocos entre Paulo e Timóteo manifestam essa igualdade de afeto solidário, e não meramente jurídica: "Ao lembrar-me das tuas lágrimas, anseio ver-te, para completar a minha alegria" (v. 4). Timóteo tinha chorado quando Paulo partiu. Paulo deseja estar com os irmãos que se amam. Por vezes chama a Timóteo "irmão", mas aqui chama-o "filho querido", porque o gerou para a graça de Cristo pela pregação e pelo Batismo.
    A fraternidade inclui outro aspeto ainda mais realista e exigente: a fidelidade fraterna. Trata-se da solidariedade uns para com os outros, especialmente em momentos de crise e de sofrimento: "Vós sois os que permaneceram sempre junto de mim nas minhas provações," (Lc 22, 28), diz Jesus aos seus discípulos. É isto que faz perdurar e crescer a fraternidade. Irmão é aquele que ajuda o seu irmão. Jesus fez-se nosso irmão para nos ajudar e ajudou, mesmo à custa de muito sofrimento. Ao fazer-se nosso irmão, também quis precisar da nossa ajuda e ser ajudado por nós. Por isso, congratula-se com os apóstolos que permaneceram junto d´Ele nas suas tribulações.
    Paulo pede a Timóteo que ponha em prática, na solidariedade fraterna, essa fidelidade: "Não te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor, nem de mim, seu prisioneiro, mas compartilha o meu sofrimento pelo Evangelho, apoiado na força de Deus." (v. 8).
    Havemos de sentir esta solidariedade, de modo particular, para com aqueles que têm maiores responsabilidades na Igreja. Se Jesus se fez nosso irmão, é porque quis ensinar-nos a viver esse espírito de fraternidade, sem o não é possível caminhar no amor.
    Oratio

    Senhor, bem sabes que a nossa solidariedade para com os irmãos, muitas vezes, dá lugar ao desejo de sermos os primeiros. Mesmo nas atividades pastorais, em vez de partilharmos com simplicidade e alegria as responsabilidades, muitas vezes queremos impor as nossas decisões e os nossos pontos de vista. Dá-nos um coração manso e humilde como o teu. Ajuda-nos a pôr no centro o teu Evangelho, e não as nossas convicções. Põe ordem e clareza nas motivações do nosso agir, para vencermos o nosso orgulho, mesmo quando mascarado de "boas intenções". Dá-nos a alegria de nos reconhecermos pequenos. Sê a nossa única força, e nada nos meterá medo. Ámen.
    Contemplatio

    Ó Jesus, que nos dissestes para aprendermos do vosso coração a sermos mansos e humildes, tornai o nosso coração semelhante ao vosso! Como é manso e humilde o Menino divino de Belém e de Nazaré! É o seu carácter próprio, é o estilo da sua vida. Na sua vida pública, é manso e bom para com todos. Isaías tinha-o descrito (42, 1), e Jesus deleitava-se a reler este quadro na sinagoga: «Eis o meu Filho bem amado, que não gosta das querelas, dos gritos, do barulho das praças, não quebra a cana rachada e não extingue a mexa que ainda fumega...». Jeremias tinha-o apresentado como um cordeiro cheio de mansidão... S. João chama-o o Cordeiro que é sacrificado desde a origem do mundo. Quando entra em Jerusalém sobre a sua modesta montada, é o Rei de mansidão predito por Isaías e Zacarias (Mt 21). Na sua paixão, a sua mansidão traduz-se pelo seu silêncio e pela sua paciência. A mansidão, diz S. Paulo, é fruto do Espírito Santo, com as virtudes que se lhe assemelham: a paz, a benignidade, a bondade (Gal 5, 22). A caridade é mansa, benevolente, amável, S. Paulo repete a todas as Igrejas: aos Efésios, aos Gálatas, aos Coríntios. Recomenda a Timóteo para ser manso para com todos, paciente e modesto, como convém a um bom servidor de Deus (2Tim 2, 24). O homem manso será bem-aventurado, porque Deus o abençoará, mas também porque ganhará facilmente os corações e não terá inimigos. (L. Dehon, OSP 4, p. 36s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Reacende o dom de Deus que há em ti" (cf. 2 Tm 1, 6).

     

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    S. Timóteo e S. Tito, Bispos (26 Janeiro)

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