Liturgia

13 de Maio, 2024

Nossa Senhora de Fátima

Nossa Senhora de Fátima


13 de Maio, 2024

A 13 de Maio de 1917, Nossa Senhora apareceu aos Três Pastorinhos, Lúcia, Francisco e Jacinta. Nos meses seguintes, até Outubro inclusive, a Virgem Maria voltaria a manifestar-se nos dias 13, exceto em Agosto, quando se manifestou no dia 19, nos Valinhos. Nesses encontros, Nossa Senhora recordou, em linguagem muito simples, acessível aos pastorinhos, as verdades fundamentais do Evangelho. A sua mensagem pode resumir-se nos termos de "oração e penitência", oração e conversão. As aparições foram reconhecidas pela Igreja como dignas de fé. Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI foram peregrinos de Fátima.
Lectio

Primeira leitura: Apocalipse 21, 1-5a

Eu, João, vi, então, um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido e o mar já não existia. 2E vi descer do céu, de junto de Deus, a cidade santa, a nova Jerusalém, já preparada, qual noiva adornada para o seu esposo. 3E ouvi uma voz potente que vinha do trono e dizia:«Esta é a morada de Deus entre os homens. Ele habitará com eles; eles serão o seu povo e o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus. 4Ele enxugará todas as lágrimas dos seus olhos; e não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor. Porque as primeiras coisas passaram.» 5O que estava sentado no trono afirmou: «Eu renovo todas as coisas.»

A grande utopia da ressurreição do homem e do mundo chegará a ser realidade. A cidade nova não tem nada da antiga: nem da Jerusalém israelita, nem sequer da Igreja cristã. É algo de novo que integra aquilo que o antigo tinha de melhor numa espécie de continuidade descontínua. João admira-se de não haver templo na cidade nova. Para o cristianismo, todo o universo é templo: Deus pode revelar-se onde quiser.
A liturgia aplica este texto a Maria. Deus revelou-se nela. Ela foi a verdadeira Arca de Deus no meio do seu povo. Glorificada no Céu, não esquece aqueles que lhe foram confiados como filhos. Daí, as suas numerosas intervenções ao longo da história, como as de Fátima, em 1917. Ela faz tudo para que, em cada um dos seus filhos, se realize o que já se realizou n´Ela.

Evangelho: João 19, 25-27

Naquele tempo, estavam junto à cruz de Jesus estavam, de pé, sua mãe e a irmã da sua mãe, Maria, a mulher de Clopas, e Maria Madalena. 26Então, Jesus, ao ver ali ao pé a sua mãe e o discípulo que Ele amava, disse à mãe: «Mulher, eis o teu filho!» 27Depois, disse ao discípulo: «Eis a tua mãe!» E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua.

A mãe de Jesus aparece no princípio e no fim da vida pública de Jesus, ou seja, nas bodas de caná (Jo 2, 1ss.) e junto à cruz do Senhor (Jo 19, 1ss.). Nas bodas de Caná, Jesus dirige-lhe palavras que devem entender-se no sentido de separação: Jesus diz-lhe que não intervenha na fase da sua vida pública, que estava a iniciar. A partir desse momento, Maria como que desaparece de cena. Mas, agora que chegou a hora de Jesus, Maria reaparece, pois é também a sua hora. Em ambas as situações Jesus se lhe dirige chamando-a "mulher" e não mãe, como seria normal. O Senhor parece querer apresentá-la como a mulher estreitamente unida a Ele na realização da obra da redenção, a mulher de que se fala no Génesis (Gn 3, 15) e no Apocalipse (Ap 12). As palavras que Jesus dirige a Maria: "Eis o teu filho!" têm um sentido mais profundo do que o imediatamente literal. A Igreja encarregou-se de aprofundá-lo. O afeto e a relação maternal - a maternidade espiritual de Maria - concentrar-se-ão naqueles por quem o seu Filho está a dar a vida. João personifica todos os seguidores de Jesus. Segundo a teologia paulina, os crentes são "irmãos" de Cristo, participantes da sua filiação.

Meditatio
"Por ocasião das cerimónias religiosas que têm lugar nestes dias em Fátima, Portugal, em honra da Virgem Mãe de Deus, onde acorrem numerosas multidões de fiéis para venerarem o seu coração maternal e compassivo, desejamos mais uma vez chamar a atenção de todos os filhos da Igreja para o inseparável vínculo que existe entre a maternidade espiritual de Maria e os deveres que têm para com Ela os homens resgatados. Julgamos ser de grande utilidade para as almas dos fiéis considerar duas verdades muito importantes para a renovação da vida cristã. A primeira verdade é esta: Maria é Mãe da Igreja, não só por ser Mãe de Jesus Cristo e sua íntima colaboradora na nova economia da graça, quando o Filho de Deus n'Ela assumiu a natureza humana para libertar o homem do pecado mediante os mistérios da sua carne, mas também porque brilha à comunidade dos eleitos como admirável modelo de virtude. Depois de ter participado no sacrifício redentor de seu Filho, e de maneira tão íntima que mereceu ser por Ele proclamada Mãe não somente do discípulo João, mas - seja consentido afirmá-lo - do género humano, por este de algum modo representado, Ela continua agora no Céu a desempenhar a sua função materna de cooperadora no nascimento e desenvolvimento da vida divina em cada alma dos homens remidos. Mas de que modo coopera Maria no crescimento da vida da graça nos membros do Corpo Místico? Antes de tudo, pela sua oração incessante, inspirada por uma ardentíssima caridade. A Virgem Santa, de facto, gozando embora da contemplação da Santíssima Trindade, não esquece os seus filhos que caminham, como Ela outrora, na peregrinação da fé; pelo contrário, contemplando-os em Deus e conhecendo bem as suas necessidades, em comunhão com Jesus Cristo que está sempre vivo para interceder por nós, deles se constitui Advogada, Auxiliadora, Amparo e Medianeira. No entanto, a cooperação da Mãe da Igreja no desenvolvimento da vida divina nas almas não consiste apenas na sua intercessão junto do Filho. Ela exerce sobre os homens remidos outra influência importantíssima, a do exemplo, segundo a conhecida máxima: as palavras movem, o exemplo arrasta. Realmente, tal como os ensinamentos dos pais adquirem maior eficácia quando são acompanhados pelo exemplo duma vida conforme as normas da prudência humana e cristã, assim também a suavidade e o encanto das excelsas virtudes da Imaculada Mãe de Deus atraem irresistivelmente as almas para a imitação do divino modelo, Jesus Cristo, de que Ela foi a mais perfeita imagem. Mas nem a graça do divino Redentor nem a poderosa intercessão de sua e nossa Mãe espiritual poderiam conduzir-nos ao porto da salvação, se a tudo isso não correspondesse a nossa perseverante vontade de honrar Jesus Cristo e a Virgem Mãe de Deus com a fiel imitação das suas sublimes virtudes. É, pois, dever de todos os cristãos imitar religiosamente os exemplos de bondade que lhes deixou a Mãe do Céu. É esta a segunda verdade sobre a qual nos agrada chamar a vossa atenção. É em Maria que os cristãos podem admirar o exemplo que lhes mostra como realizar, com humildade e magnanimidade, a missão que Deus confiou a cada um neste mundo, em ordem à sua eterna salvação e à do próximo. Uma mensagem de suma utilidade parece chegar hoje aos fiéis da parte d'Aquela que é a Imaculada, a toda santa, a cooperadora do Filho na restauração da vida sobrenatural das almas. A santa contemplação de Maria incita-os, de facto, à oração confiante, à prática da penitência, ao santo temor de Deus, e recorda-lhes com frequência aquelas palavras com que Jesus Cristo anunciava estar perto o reino dos Céus: Arrependei-vos e acreditai no Evangelho, bem como a sua severa advertência: Se não vos arrependerdes, perecereis todos de maneira semelhante. Comemorando-se este ano o vigésimo quinto aniversário da solene consagração da Igreja a Maria Mãe de Deus e ao seu Coração Imaculado, feita pelo Nosso Predecessor Pio XII no dia 31 de Outubro de 1942, por ocasião da Radiomensagem à Nação Portuguesa - consagração que Nós mesmo renovámos no dia 21 de Novembro de 1964 - exortamos todos os filhos da Igreja a renovar pessoalmente a sua própria consagração ao Coração Imaculado da Mãe da Igreja e a viver este nobilíssimo ato de culto com uma vida cada vez mais conforme à vontade divina, em espírito de serviço filial e devota imitação da sua celeste Rainha. (Paulo VI, 13 de Maio de 1967).

Oratio

Pai Santo, nós vos louvamos e bendizemos, ao celebrarmos a festa da Virgem Santa Maria. Recebendo o vosso Verbo em seu Coração Imaculado, ela mereceu concebê-lo em seu seio virginal e, dando à luz o Criador do universo, preparou o nascimento da Igreja. Junto à cruz, aceitou o testamento da caridade divina e recebeu todos os homens como seus filhos, pela morte de Cristo gerados para a vida eterna. Enquanto esperava, com os Apóstolos, a vinda do Espírito Santo, associando-se às preces dos discípulos, tornou-se modelo admirável da Igreja em oração. Elevada à glória do Céu, assiste com amor materno a Igreja ainda peregrina sobre a terra, protegendo misericordiosamente os seus passos a caminho da pátria celeste, enquanto espera a vinda gloriosa do Senhor. Nós vos louvamos e bendizemos, Senhor! Ámen. (cf. Prefácio da Missa).

Contemplatio

Ó Coração sagrado do meu Jesus, eu vos adoro e vos dou graças infinitas por terdes dirigido para a minha salvação o martírio que suportastes à vista dos sofrimentos do santíssimo Coração de Maria ao pé da cruz, porque ma destes como soberana e como mãe. Tal é o vosso amor por mim que lhe pedistes para me tomar como seu filho em vosso lugar, para me amar, para ter compaixão das minhas misérias, para me assistir, para me proteger, para me guardar e para me governar como seu filho. Talvez, ó meu Salvador, não encontrastes maior consolação para a vossa divina Mãe do que dar-lhe filhos perversos e pecadores, a fim de que ela empregue o seu poder e a imensa caridade do seu Coração em conseguir a sua conversão e salvação. Sede bendito e louvado para sempre, ó Coração sagrado do meu Redentor, por terdes querido que nenhum dos vossos sofrimentos, e os de vossa santa Mãe, fosse perdido por mim, mas que todos servissem para curar as minhas feridas e enriquecer-me com verdadeiros bens. (Leão Dehon, OSP 4, p. 262s.).

Actio

Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
"Esta é a morada de Deus entre os homens." (Ap 21, 3).

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Nossa Senhora de Fátima  (13 Maio)

VII Semana - Segunda-feira - Tempo Comum - Anos Pares

VII Semana - Segunda-feira - Tempo Comum - Anos Pares


13 de Maio, 2024

Tempo Comum - Anos Pares
VII Semana - Segunda-feira

Lectio

Primeira leitura: Tiago 3, 13-18

Caríssimos: 13Existe alguém entre vós que seja sábio e entendido? Mostre, então, pelo seu bom procedimento, que as suas obras estão repassadas da mansidão própria da sabedoria. 14Mas, se tendes no vosso coração uma inveja amarga e um espírito dado a contendas, não vos vanglorieis nem falseeis a verdade. 15Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é a terrena, a da natureza corrompida, a diabólica. 16Pois, onde há inveja e espírito faccioso também há perturbação e todo o género de obras más. 17Mas a sabedoria que vem do alto é, em primeiro lugar, pura; depois, é pacífica, indulgente, dócil, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem hipocrisia; 18e é com a paz que uma colheita de justiça é semeada pelos obreiros da paz.

Depois de ter aconselhado os mestres a dominarem a língua, Tiago pergunta: «Existe alguém entre vós que seja sábio e entendido?» (v. 13). Depois, detém-se a apresentar a verdadeira e a falsa sabedoria, realçando-lhes os contrastes. Os neo-convertidos eram tentados a sentar-se na cátedra e a apresentar soluções para todas as questões e problemas, pois julgavam possuir um profundo conhecimento de Deus e do mundo. Tiago pede-lhes moderação. Já Paulo tivera que haver-se com os que possuíam uma «sabedoria» meramente intelectual (cf. 1 Cor 1). A sabedoria intelectual, ou terrena, leva à discórdia; a sabedoria que vem do alto leva à comunhão.
A sabedoria que vem do alto inspira a comunhão que, por sua vez dá bom testemunho e permite viver na mansidão e na paz. A sabedoria terrena, pelo contrário, inspira a discórdia e faz crescer sentimentos de inveja, de contendas, que alimentam a soberba.
O fruto da verdadeira sabedoria é a justiça e a paz (v. 18), tal como a desordem e toda a espécie de obras más provêm da falsa sabedoria (v. 16).

Evangelho: Marcos 9, 14-29

Naquele tempo, tendo Jesus descido do monte, 14ia ter com os seus discípulos, quando viu em torno deles uma grande multidão e uns doutores da Lei a discutirem com eles. 15Assim que viu Jesus, toda a multidão ficou surpreendida e acorreu a saudá-lo. 16Ele perguntou: «Que estais a discutir uns com os outros?» 17Alguém de entre a multidão disse-lhe: «Mestre, trouxe-te o meu filho que tem um espírito mudo. 18Quando se apodera dele, atira-o ao chão, e ele põe-se a espumar, a ranger os dentes e fica rígido. Pedi aos teus discípulos que o expulsassem, mas eles não conseguiram.» 19Disse Jesus: «Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos hei-de suportar? Trazei-mo cá.» 20E levaram-lho.Ao ver Jesus, logo o espírito sacudiu violentamente o jovem, e este, caindo por terra, começou a estrebuchar, deitando espuma pela boca.
21Jesus perguntou ao pai: «Há quanto tempo lhe sucede isto?» Respondeu: «Desde a infância; 22e muitas vezes o tem lançado ao fogo e à água, para o matar. Mas, se podes alguma coisa, socorre-nos, tem compaixão de nós.» 23«Se podes...! Tudo é possível a quem crê», disse-lhe Jesus. 24Imediatamente o pai do jovem disse em altos brados: «Eu creio! Ajuda a minha pouca fé!» 25Vendo, Jesus, que acorria muita gente, ameaçou o espírito maligno, dizendo: «Espírito mudo e surdo, ordeno-te: sai do jovem e não voltes a entrar nele.» 26Dando um grande grito e sacudindo-o violentamente, saiu. O jovem ficou como morto, a ponto de a maioria dizer que tinha morrido. 27Mas, tomando-o pela mão, Jesus levantou-o, e ele pôs-se de pé. 28Quando Jesus entrou em casa, os discípulos perguntaram-lhe em particular: «Porque é que nós não pudemos expulsá-lo?» 29Respondeu: «Esta casta de espíritos só pode ser expulsa à força de oração.»

Jesus não permitiu que os discípulos acampassem no Tabor. Mas nem Ele lá ficou muito tempo. Ao chegar junto dos discípulos, viu-os rodeados por uma multidão, que não esperava a sua vinda. Surpreendida, suspendeu a discussão com os discípulos, e acorreu a saudá-lo. É então que o pai de um jovem endemoninhado Lhe fala do estado de saúde do filho, acrescentando que os discípulos não tinham conseguido curá-lo.
O carácter iracundo de Jesus, várias vezes realçado no segundo evangelho, vem ao de cima: «Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos hei-de suportar? Trazei-mo cá» (v. 19). Jesus verifica que a sua pregação e os milagres realizados não tinham conseguido consolidar a fé dos discípulos, nem da multidão. Daí a sua indignação. Todavia não abandona aqueles que sofrem.
O pai do jovem também tinha uma fé inconsistente. Mas, pelo menos, reconhecia-o com humildade: «se podes alguma coisa, socorre-nos, tem compaixão de nós» (v. 22). Era já um princípio de fé, que Jesus intuiu. Partindo dessa fé inicial, e escutando a sua oração - «Eu creio! Ajuda a minha pouca fé!» - Jesus concede-lhe uma fé mais robusta. Depois, realiza o milagre pedido, libertando o jovem do espírito mudo e deixando um breve intervalo de tempo para que se revelem a grandeza e o poder do amor. A multidão pensa que o jovem estava morto mas, pelo contrário, estava livre e podia iniciar uma nova vida.
Quando os discípulos interrogam Jesus sobre a sua incapacidade em curar o jovem, o divino Mestre acena, mais uma vez, à necessidade da oração.

Meditatio

Tiago leva-nos a meditar na relação sabedoria e fé: uma e outra se entrelaçam, formando como que um tecido compacto que cobre e aquece o homem, fazendo-o caminhar para o bem e para o amor. De facto, o homem sábio e crente tem, com os outros, um relacionamento fundado no acolhimento e na escuta. Por isso, é manso, pacífico, prestável, misericordioso, imparcial e verdadeiro na relação com os seus semelhantes. Na relação com Deus, reconhece-se que precisa d´Ele e que necessita de encontrar a Jesus, no seu caminho, Está consciente de que, por si mesmo, não é capaz de fazer o bem e de caminhar no amor.
A fé faz crescer a sabedoria e a sabedoria aumenta a fé. O verdadeiro sábio e crente não cairá numa justiça meramente terrena. A humildade é a fé escondida, e a confiança daquele que tudo espera, e por isso tudo cobre na caridade. De mesmo modo, a oração é o pão quotidiano que fermenta a massa da existência e faz erguer os olhos para Aquele que é o Senhor da vida, de Quem precisamos para expulsar o mal que nos atormenta.
O evangelho apresenta-nos esse Senhor em acção. Marcos narra com pormenor mais um milagre de Jesus que, provavelmente, servia para uma catequese baptismal. Duas vezes o jovem é comparado a um morto: &
laquo;O jovem ficou como morto, a ponto de a maioria dizer que tinha morrido» (v. 26); «Jesus levantou-o, e ele pôs-se de pé» (v. 27). No v. 27, temos dois verbos, - levantar-se, erguer-se -, que o Novo Testamento usa para falar de ressurreição. Morte e vida: imagem do Baptismo, por meio do qual «fomos, pois, sepultados com Ele (Cristo) na morte, para que, tal como Cristo foi ressuscitado de entre os mortos pela glória do Pai, também nós caminhemos numa vida nova» (Rm 6, 4). É, pois, necessário que o «homem velho» morra, que seja destruída inveja amarga, o espírito de contendas, a sabedoria carnal, diabólica, para que chegue ao pleno desenvolvimento em nós a novidade de vida que é dom de Cristo.
Este dom, brotou do Lado aberto do Senhor: «Do Coração de Cristo, aberto na cruz, nasce o homem de coração novo, animado pelo Espírito e unido aos seus irmãos na comunidade de amor, que é a Igreja» (cf. Leão Dehon, Études sur le Sacré-Coeur, I, p. 114). O sangue e a água, que jorram do Lado de Cristo aberto pela lança simbolizam o dom do Espírito, que será derramado, e da Eucaristia, sacramento do amor, de que somos convidados a alimentar-nos para crescer na caridade. Mas o sangue derramado é também um sinal de morte, e convida-nos a morrer ao homem velho (Cf. Rm 6, 6; Ef 4, 22), tal como a água é um sinal de vida que nos impele a viver do «homem novo, criado segundo Deus na justiça e na santidade verdadeira» (Ef 4, 22); é sinal do baptismo: «Fomos baptizados em Cristo Jesus... na Sua morte» (Rm 6, 3; Cf. Col 2, 2); «O amor de Deus foi derramado nos vossos corações por meio do Espírito Santo que nos foi dado» (Rm 5, 5).

Oratio

Senhor Jesus, faz morrer em mim toda a desordem, para que reine na minha mente e no meu coração a sabedoria que vem do alto, uma sabedoria pura, pacífica, mansa, prestável, cheia de misericórdia e de bons frutos.
Se for preciso, renova em mim os teus prodígios, para que a minha fé se torne sólida. Tu disseste: «tudo é possível a quem crê». E eu respondo com humildade e confiança: «Eu creio! Ajuda a minha pouca fé!». Ajuda-me a não abandonar-te e a descobrir a tua presença na vida de cada dia. Dá-me a graça de olhar para Ti quando penso fazer boas acções, especialmente em favor do próximo, para que não perca qualquer dom do que infundiste em mim. Amen.

Contemplatio

Os discípulos exorcizam em vão o doente. Os escribas triunfam; procuram desacreditar os discípulos e o Mestre. Repetem os seus ultrajes do costume: «Estas pessoas, dizem, expulsam os demónios pela virtude de Belzebu, quando Belzebu quer». Os discípulos defendem-se, Jesus intervém: «De que disputais?», diz. Não respondem. As lamentações dolorosas e a ardente súplica do pobre pai interrompem o silêncio. Está de joelhos, chorando e com o coração partido: «Mestre, diz, conjuro-vos, lançai um olhar sobre o meu filho, o meu filho único. Se podeis alguma coisa, ajudai-me, tende piedade de nós, curai-o; os vossos discípulos não puderam». E Jesus diz à parte aos seus discípulos: «Este demónio não se pode expulsar senão pelo jejum, pela penitência e pela oração». É a grande lição deste milagre.
Depois o Salvador interessa-se pelo pobre doente e pelo seu pai: «Desde quando sofre?» - «Desde a sua infância, diz o pai, é terrivelmente atormentado. Esperava que os vossos discípulos o salvassem!» - «Raça incrédula!», exclamou Jesus. Os apóstolos tinham tido pouca fé; o pai do doente e todo o seu acompanhamento também. «Se tu podes crer, diz o Salvador a este homem, tudo é possível a quem crê». - «Senhor, eu creio, ajuda a minha incredulidade». Mesmo assim Jesus sente-se tocado: «Trazei-me aqui o vosso filho», diz. A raiva do espírito maligno duplica contra a sua vítima, logo que viu Jesus, seu Senhor todo-poderoso. O ar retine com os seus gritos. O menino, atirando-se ao chão, escuma e rebola-se sobre a terra.
Que espectáculo! O demónio triunfa momentaneamente, porque os apóstolos não tinham sido bastante fiéis ao espírito de reparação e de penitência, ensinado todos os dias pelo seu Mestre. Eis também o segredo do poder que o demónio ainda guarda sobre a nossa alma, sobre as nossas casas, sobre a nossa sociedade: a falta de espírito de reparação e de penitência (Leão Dehon, OSP3, p. 193s.).

Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Eu creio! Ajuda a minha pouca fé!» (Mc 9, 24).

| Fernando Fonseca, scj |

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