Liturgia

Events in Maio 2023

  • 4ª Semana - Segunda-feira - Páscoa

    4ª Semana - Segunda-feira - Páscoa


    1 de Maio, 2023

    4ª Semana - Segunda-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 11, 1-18

    Naqueles dias, 1os Apóstolos e os irmãos da Judeia ouviram, entretanto, dizer que também os pagãos tinham recebido a palavra de Deus. 2E, quando Pedro subiu a Jerusalém, os circuncisos começaram a censurá-lo, 3dizendo-lhe: «Tu entraste em casa de incircuncisos e comeste com eles.» 4Pedro expôs-lhes, então, o caso, do princípio ao fim, dizendo: 5«Estava eu em oração na cidade de Jope quando, em êxtase, tive uma visão: um objecto semelhante a uma grande toalha, descia do céu, preso pelas quatro pontas, e chegou até junto de mim. 6Fitando os olhos nele, pus-me a observar e vi os quadrúpedes da terra, os animais ferozes, os répteis e as aves do céu. 7Ouvi também uma voz que me dizia: 'Vamos, Pedro, mata e come.' 8Mas eu respondi: 'De modo algum, Senhor! Nunca entrou na minha boca nada de profano ou impuro!' 9A voz fez-se ouvir do Céu, pela segunda vez: 'O que Deus purificou não o consideres tu impuro.' 10Isto repetiu-se três vezes; depois, tudo foi novamente elevado ao Céu. 11Nesse instante, apresentaram-se três homens na casa em que estávamos, enviados de Cesareia à minha presença. 12O Espírito disse-me que os acompanhasse, sem hesitar. Vieram também comigo os seis irmãos, aqui presentes, e entrámos em casa do homem. 13Ele contou-nos que tinha visto um anjo apresentar-se em sua casa, dizendo-lhe: 'Envia alguém a Jope e manda chamar Simão, cujo sobrenome é Pedro; 14ele dir-te-á palavras que te hão-de trazer a salvação, a ti e a toda a tua casa.' 15Ora, quando principiei a falar, o Espírito Santo desceu sobre eles, como sobre nós, ao princípio. 16Recordei-me, então, da palavra do Senhor, quando Ele dizia: 'João baptizou em água; vós, porém, sereis baptizados no Espírito Santo.' 17Se Deus, portanto, lhes concedeu o mesmo dom que a nós, por terem acreditado no Senhor Jesus Cristo, quem era eu para me opor a Deus?»
    18Estas palavras apaziguaram-nos, e eles deram glória a Deus, dizendo: «Deus também concedeu aos pagãos o arrependimento que conduz à Vida!»

    O baptismo de Cornélio e da sua família, passo decisivo na abertura do evangelho aos pagãos, foi oficialmente comunicado às autoridades da Igreja de Jerusalém. Mas os ambientes judeo-cristãos levantaram problemas e, quando Pedro chegou a Jerusalém, pediram-lhe explicações. Embora sendo a máxima autoridade na Igreja, o Apóstolo não queria agir de modo independente e caprichoso. Por isso, explica o passo dado e as motivações do mesmo. Não conta todo o episódio, mas apenas os pormenores que julga necessários para a sua compreensão. Além do seu próprio testemunho, acrescenta o dos seis irmãos que o acompanham, e lembra as palavras de Jesus, antes da ascensão: «vós, porém, sereis baptizados no Espírito Santo». A efusão do Espírito incluía os pagãos.
    Os argumentos de Pedro acalmam os seus opositores. Estes reconhecem a acção de Deus e verificam que a penitência em ordem à vida também é concedida aos gentios, que não precisam de se tornar previamente judeus, nem de ser circuncidados e observar a Lei. A missão entre os pagãos ficava oficialmente autorizada. A acção de Pedro, que inicia a missão entre os gentios, uma vez aprovada pela Igreja, torna-se acção da própria Igreja. Mais ainda: sendo Cornélio romano, Lucas também insinua a boa relação entre os primeiros cristãos e as autoridades romanas, a tolerância do Estado frente à Igreja, decisiva na história do cristianismo.

    Evangelho: João 10, 1-10

    Naquele tempo, disse Jesus: 1«Em verdade, em verdade vos digo: quem não entra pela porta no redil das ovelhas, mas sobe por outro lado, é um ladrão e salteador. 2Aquele que entra pela porta é o pastor das ovelhas. 3A esse o porteiro abre-a e as ovelhas escutam a sua voz. E ele chama as suas ovelhas uma a uma pelos seus nomes e fá-las sair. 4Depois de tirar todas as que são suas, vai à frente delas, e as ovelhas seguem-no, porque reconhecem a sua voz. 5Mas, a um estranho, jamais o seguiriam; pelo contrário, fugiriam dele, porque não reconhecem a voz dos estranhos.» 6Jesus propôs-lhes esta comparação, mas eles não compreenderam o que lhes dizia.
    7Então, Jesus retomou a palavra: «Em verdade, em verdade vos digo: Eu sou a porta das ovelhas. 8Todos os que vieram antes de mim eram ladrões e salteadores, mas as ovelhas não lhes prestaram atenção. 9Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim estará salvo; há-de entrar e sair e achará pastagem. 10O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.

    Esta parábola é dirigida por Jesus, não aos judeus, mas aos fariseus com quem mantinha controvérsias por causa da sua dignidade divina, da fé exigida aos homens e da atitude de recusa que, em relação a Ele, mantinham os dirigentes de Israel. Os fariseus são os pastores que não entraram pela porta. São, pois, ladrões e salteadores. Jesus é o único pastor, que entra pela porta, que é a própria porta do redil.
    As diversas analogias, que aparecem na alegoria, têm por fim realçar a autoridade de Jesus, cuja finalidade é apenas o bem-estar das suas ovelhas, a quem se entrega sem reserva. Dá a vida por elas. A autoridade dos fariseus não é legítima, porque se baseava numa interpretação da Lei que esmagava o povo em vez de o libertar. Os fariseus buscavam o seu próprio interesse e não o do povo (cf. Mt 23; Mc 12, 38ss.). Jesus é pastor legítimo, porque está preocupado com as ovelhas. Veio
    para servi-las, e não para ser servido por elas. Conhece-as e elas conhecem-no; conhecem a sua voz. Têm dele um conhecimento amoroso. Jesus, o Bom Pastor, não procura dominar, não exige renúncia a nossa dignidade. Apenas pede que tenhamos confiança n´Ele para chegarmos à meta, às pastagens eternas.

    Meditatio

    O Evangelho, de vez em quando, fala de mortificação. Podemos até cair na tentação de pensar que o Senhor veio para nos complicar a vida, para nos fazer sofrer e morrer, e que a vida cristã é mutilação. Hoje, o Senhor, tira-nos todas as dúvidas: «Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância» (Jo 10, 10). Se nos pede algum sacrifício, se nos convida a carregar a cruz, é por razões positivas, é para termos uma vida de maior plenitude. É o que nos diz na alegoria da videira: «Eu sou a videira verdadeira e o meu Pai é o agricultor. Ele... poda o ramo que dá fruto, para que dê mais fruto ainda» (Jo 15, 1-2).
    «Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância» (Jo 10, 10). No evangelho de hoje, Jesus apresenta-se como Bom Pastor. Não é um pastor à maneira dos dirigentes de Israel que «dispersam e extraviam o rebanho» (Jr 23, 1) e «que se apascentam a si mesmos» (Ez 34, 2). É um pastor plenamente solidário com as suas ovelhas, a ponto de dar a vida por elas. É um pastor que conhece as pastagens eternas e o caminho para lá chegar. É um pastor diferente! Podemos deixar-nos guiar por Ele, porque não pretende dominar, não quer fazer-nos seus súbditos, não pede renúncia à nossa própria dignidade. Apenas pede que nos fiemos dele, que confiemos nele, para chegarmos à meta. É um pastor desapegado do poder e completamente entregue à orientação mansa e segura das ovelhas, pelas quais dá a sua vida.
    Para o rebanho de Jesus são convidados todos os povos da terra. É o que nos mostra a conversão de Cornélio, um pagão romano. Como afirma Pedro, «Deus não faz acepção de pessoas» (Act 10, 34). Para Ele não há discriminação por razões sociais, raciais ou de qualquer outro tipo. Pedro, como judeu, sabia que era ilegal entrar na casa de um pagão, do modo como o fez. Mas a visão que teve em Jope fez- lhe dar-se conta de que essa ilegalidade tinha desaparecido com a morte e a ressurreição do Senhor. A salvação realizada por Jesus é para todos. Ninguém é excluído. Jesus ressuscitado é o Senhor de todos e, a todo o que n´Ele crê, são perdoados os pecados (cf. Act 10, 34-36). Pedro tem uma prova clara de tudo isso quando, ao discursar em casa de Cornélio, vê realizar-se um novo Pentecostes:
    «quando principiei a falar, o Espírito Santo desceu sobre eles, como sobre nós, ao princípio» (11, 15). É o Pentecostes «pagão» (em comparação com Pentecostes judeu). Trata-se de um acontecimento decisivo para a missão entre os pagãos. Como poderiam negar-se as águas do baptismo àqueles a quem Deus concedera o Espírito? Será o argumento de Pedro diante da igreja de Jerusalém.
    Se a vocação à fé e ao baptismo é para todos, então também todos os que já têm fé e são baptizados têm o dever da missão, particularmente os consagrados. Como lembrava o nosso Superior Geral, no encerramento da VII Conferência Geral, compreendemos que a abertura universal do coração à missão não pode ser apenas de alguns, mas deve ser vocação de todo o dehoniano. Ainda que nem todos sejam chamados a trabalhar concretamente fora do seu país, a todos se pede que não reduzam a missão à realização de "serviços religiosos" para aqueles que já frequentam as nossas igrejas, mas façam da sua consagração um testemunho e um anúncio de Cristo à nossa sociedade.

    Oratio

    Ó Jesus, Bom pastor, quando vezes, também eu, tenho medo de me deixar guiar por Ti, preferindo outros pastores. Querendo fugir ao teu rebanho, deixo-me envolver pelo rebanho dos que caminham sem rumo e sem esperança. Quanto sou condicionado pelo pensamento do ambiente que me rodeia! Como é difícil escapar da manada dos que vivem tranquilamente o dia a dia, sem se preocuparem com o que virá depois!
    Dá-me a tua luz, para que compreenda que Tu és a luz, o guia, o caminho. Ilumina-me também para compreenda que fazer parte do teu rebanho não significa renunciar à minha inteligência, mas fazê-la penetrar pelos caminhos da vida, que só Tu conheces, porque só Tu desceste do Céu. Amen.

    Contemplatio

    O verdadeiro pastor não tem senão uma preocupação, sustentar e desenvolver a vida do seu rebanho. O seu coração é absorvido por esta preocupação. A sua vida desenvolve-se na oração, no zelo, nas obras de pregação e de caridade. É um exemplo vivo das virtudes que ensina. É assim que dá a sua vida pelas suas ovelhas. Não se preocupa com os lucros em dinheiro, com as comodidades que o seu lugar pode proporcionar. Basta-lhe viver dia a dia, de receber o pão que sustenta as forças do corpo. Não conhece os cuidados da avareza, do luxo ou da ambição. Os que vivem assim amam verdadeiramente a Nosso Senhor; e o amor que lhe dedicaram é o segredo do seu zelo e do seu desinteresse.

    O zelo pelas almas é inseparável do amor de Nosso Senhor, Jesus é devorado pelo zelo pela glória de seu Pai e pela salvação dos homens seus irmãos. Estes dois zelos não fazem senão um só. O bom padre deve como ele estar animado desde duplo zelo, e por isso basta-lhe amar Nosso Senhor e tudo reportar ao seu amor. O amor que testemunhamos a Nosso Senhor toca-o no coração e inclina-se a comunicar-se àquele que o ama. É assim que os padres que dão como móbil de todas as suas acções o amor do Sagrado Coração produzem os maiores frutos. Obrigam-no por uma doce coacção a substituir-se a eles, a viver neles e tornar-se pastor por seu intermédio.
    Mas, para que penetre assim numa alma sacerdotal, é preciso que não encontre nela nenhuma resistência. É preciso que se agrade nela e que nela se encontre em casa: Já não sou eu que vive; é Cristo que vive em mim. Que os seus padres o amem portanto! Pede-lhes o seu coração em troca do dele. Quando eles estiverem bem na frente do seu coração, fará brilhar à sua volta a sua divina influência; espalhará por eles ondas de graças. O seu ministério será abençoado (Leão Dehon, OSP 3, p. 469s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Eu vim para que tenham vida... em abundância» (Jo 10, 10).

    S. José, Operário

    S. José, Operário


    1 de Maio, 2023

    A "festa do trabalho", criada pela Internacional Socialista em 1889, é celebrada, na Europa, no dia 1 de Maio. A Igreja quis dar-lhe uma dimensão cristã. Por isso, Pio XII, em 1955, instituiu a festa de S. José Operário, colocando-a nesse dia. Ninguém mais do que o humilde trabalhador de Nazaré pode ensinar aos outros trabalhadores a dignidade do trabalho, e protegê-los com a sua intercessão junto de Deus.

    Lectio

    Primeira leitura: Génesis 1, 26-2, 3

    Disse Deus: «Façamos o ser humano à nossa imagem, à nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre todos os répteis que rastejam pela terra.» 27Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher. 28Abençoando-os, Deus disse-lhes: «Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se movem na terra.» 29Deus disse: «Também vos dou todas as ervas com semente que existem à superfície da terra, assim como todas as árvores de fruto com semente, para que vos sirvam de alimento. 30E a todos os animais da terra, a todas as aves dos céus e a todos os seres vivos que existem e se movem sobre a terra, igualmente dou por alimento toda a erva verde que a terra produzir.» E assim aconteceu.31Deus, vendo toda a sua obra, considerou-a muito boa. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o sexto dia. 1Foram assim terminados os céus e a Terra e todo o seu conjunto.2Concluída, no sétimo dia, toda a obra que tinha feito, Deus repousou, no sétimo dia, de todo o trabalho por Ele realizado.3Deus abençoou o sétimo dia e santificou-o, visto ter sido nesse dia que Ele repousou de toda a obra da criação.

    A criação do homem é o auge da criação, porque, só ele, foi criado à imagem e semelhança de Deus. Deus invisível reflete-se no rosto frágil do homem. Homem e mulher são imagem de Deus: "Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher." (v. 27). Como Deus trino, o homem é capaz de uma relação interpessoal de amor. Mas a imagem de Deus no homem reflete-se também na autoridade sobre o universo e na inteligência criativa, com que pode dominar a natureza, desenvolvê-la e transformá-la. A capacidade de trabalho permite ao homem tornar-se colaborador de Deus na obra da criação. É sobretudo este aspeto que a liturgia de hoje põe à nossa meditação.

    Evangelho: Mateus 13, 54-58

    Naquele tempo, Jesus foi à sua terra, ensinava os habitantes na sinagoga deles, de modo que todos se enchiam de assombro e diziam: «De onde lhe vem esta sabedoria e o poder de fazer milagres? 55Não é Ele o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? 56Suas irmãs não estão todas entre nós? De onde lhe vem, pois, tudo isto?» 57E estavam escandalizados por causa dele. Mas Jesus disse-lhes: «Um profeta só é desprezado na sua pátria e em sua casa.» 58E não fez ali muitos milagres, por causa da falta de fé daquela gente.

    A condição familiar e laboral de Jesus impediu os seus concidadãos de o reconhecerem como enviado de Deus, como profeta. Era "o filho do carpinteiro" (v. 55). Segundo Lucas, ele mesmo era carpinteiro: "Não é Ele o carpinteiro?..." (13, 55). O Filho de Deus feito homem quis ser membro de uma família operária. Os seus conterrâneos não conseguiram ver mais do que isso, desprezando-o, e não o reconhecendo como o Messias. Mas não somos nós que havemos de ditar as condições do Reino, que pode realizar-se em qualquer condição social e em qualquer trabalho. E Deus gosta de surpreender-nos.

    Meditatio

    Na família humilde e operária de Nazaré, o trabalho era expressão de amor. José foi carpinteiro toda a vida. Jesus exerceu também essa profissão durante os anos de vida escondida, em Nazaré. Depois do reencontro com os pais, em Jerusalém, Jesus "desceu com eles, voltou para Nazaré e era-lhes submisso" (Lc 2, 51). A submissão e a obediência de Jesus, em Nazaré, deve entender-se como participação no trabalho de José. Se a família de Nazaré é exemplo para as famílias humanas na ordem da salvação e da santidade, também o é no trabalho de Jesus, ao lado do carpinteiro José. O trabalho humano, particularmente o trabalho manual, tem especial acentuação no Evangelho. Com a humanidade do Filho de Deus, o trabalho foi acolhido no mistério da Incarnação, tal como foi particularmente redimido, no mistério da Redenção. Trabalhando ao lado de Jesus, José aproximou o trabalho humano da Redenção. A virtude da laboriosidade teve especial importância no crescimento humano de Jesus "em sabedoria, em estatura e em graça" (Lc 2, 52), uma vez que o trabalho é um bem do homem, que transforma a natureza e torna o homem, em certo sentido, mais homem. O trabalho sincero, humilde, disponível no amor, une-nos a Cristo, filho do carpinteiro, Filho de Deus.
    Como religiosos, pelo nosso trabalho, além do mais, colaboramos na obra do Criador, damos o nosso pequeno contributo pessoal para a transformação do mundo e para a realização do projeto de Deus na história (cf. GS 34). O trabalho é uma das expressões da nossa vida de pobreza. Os pobres trabalham para viver... No trabalho, além do mais, precisamos de estar enamorados por Cristo-pobre, trabalhador, "Filho do carpinteiro" (Mt 13, 55). Assim, como Ele, teremos um coração pobre, sóbrio, com poucas exigências, aberto aos outros, capaz de partilhar o que é e o que tem.

    Oratio

    Ó S. José, que, trabalhando com Jesus, aproximastes o trabalho humano do mistério da Redenção, vinde em auxílio de todos quantos se afadigam nas mais diversas profissões. Ajudai-nos a compreender que o trabalho é um bem para quem o faz, pois, em certo sentido, nos torna mais homens, mais imagem e semelhança de Deus, e é um bem para quem dele beneficia. Ajudai-nos a conhecer e a assimilar os seus conteúdos, para ajudar todos os homens a aproximarem-se mais de Deus, criador e redentor, a participarem nos seus planos de salvação do homem e do mundo, e aprofundarem a própria amizade com Cristo. Ámen.

    Contemplatio

    Na casa do pobre operário, as privações sucediam às privações, e o pão devia faltar muitas vezes. José acabou por encontrar trabalho como carpinteiro, e Maria fiava a lã ou o algodão. Quantas graças prepararam aí para os trabalhadores e para os pobres! Não é que a lei evangélica seja contrária à prosperidade dos povos, ela é, pelo contrário, a condição mais favorável e a garantia, porque recomenda o trabalho, a justiça, a temperança, que são as condições de sucesso; mas ao lado da lei, há os conselhos, propostos às almas generosas. A Sagrada Família caminhou pela via dos conselhos, na obediência, na pobreza, nas privações. O coração de Jesus menino comprazia-se nestas cruzes pela nossa salvação, e as almas generosas seguem hoje o mesmo caminho, completando, como diz S. Paulo, o que falta à Paixão de Jesus, pela salvação do mundo.(L. Dehon, OSP 3, p. 136).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Confirmai, Senhor, a obra das nossas mãos" (da Liturgia).
    ----

    S. José, Operário (1 Maio)

  • 4ª Semana –Terça-feira - Páscoa

    4ª Semana –Terça-feira - Páscoa


    2 de Maio, 2023

    4ª Semana - Terça-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 11, 19-26

    19Naqueles dias, os irmãos que se tinham dispersado, devido à perseguição desencadeada por causa de Estêvão, adiantaram-se até à Fenícia, Chipre e Antioquia, mas não anunciavam a palavra senão aos judeus. 20Houve, porém, alguns deles, homens de Chipre e Cirene que, chegando a Antioquia, falaram também aos gregos, anunciando-lhes a Boa-Nova do Senhor Jesus. 21A mão do Senhor estava com eles e grande foi o número dos que abraçaram a fé e se converteram ao Senhor. 22A notícia chegou aos ouvidos da igreja de Jerusalém, e mandaram Barnabé a Antioquia. 23Assim que ele chegou e viu a graça concedida por Deus, regozijou-se com isso e exortou-os a todos a que se conservassem unidos ao Senhor, de coração firme; 24ele era um homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé. Assim, uma grande multidão aderiu ao Senhor. 25Então, Barnabé foi a Tarso procurar Saulo.
    26Encontrou-o e levou-o para Antioquia. Durante um ano inteiro, mantiveram-se
    juntos nesta igreja e ensinaram muita gente. Foi em Antioquia que, pela primeira vez, os discípulos começaram a ser tratados pelo nome de «cristãos.»

    A perseguição que levou à morte de Estêvão, e provocou a dispersão dos
    «helenistas», foi providencial para a vida da Igreja. Os discípulos dispersos tornaram-se missionários entre os pagãos. Pregaram na Samaria, na Fenícia, em Chipre e Antioquia, dirigindo-se, não só às comunidades judaicas, mas também aos gregos, que eram pagãos. Antioquia, na Síria, torna-se uma comunidade cristã importante, pólo de difusão da fé entre os gregos. Os habitantes de Antioquia dão-se conta da diferença entre a comunidade dos discípulos de Jesus e a comunidade dos judeus. Por isso, começam a chamar cristãos aos discípulos de Cristo. O nome novo afirma eloquentemente que se trata de uma realidade nova.
    A comunidade de Jerusalém está atenta ao que se passa em Antioquia e manda dois emissários para que verificassem o que estava a acontecer. Felizmente envia Barnabé «homem bom, cheio do Espírito Santo», que é capaz de fazer um bom discernimento e acaba por compreender e estimular a acção da comunidade. Para ajudar, vai chamar Paulo a Tarso e introdu-lo na comunidade de Antioquia.

    Evangelho: João 10, 22-30

    Naquele Tempo, 22celebrava-se em Jerusalém a festa da Dedicação do templo. Era Inverno. 23Jesus passeava pelo templo, debaixo do pórtico de Salomão.
    24Rodearam-no, então, os judeus e começaram a perguntar-lhe: «Até quando nos deixarás na incerteza? Se és o Messias, di-lo claramente.» 25Jesus respondeu-lhes: «Já vo-lo disse, mas não credes. As obras que Eu faço em nome de meu Pai, essas dão testemunho a meu favor; 26mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas.
    27As minhas ovelhas escutam a minha voz: Eu conheço-as e elas seguem-me. 28Dou-
    lhes a vida eterna, e nem elas hão-de perecer jamais, nem ninguém as arrancará da minha mão. 29O que o meu Pai me deu vale mais que tudo e ninguém o pode arrancar da mão do Pai. 30Eu e o Pai somos Um.»

    Jesus vai ao Templo, na festa da Dedicação, e passeia debaixo do pórtico de
    Salomão. Os judeus ansiosos rodeiam-no e disparam a pergunta que os atormentava:
    «Até quando nos deixarás na incerteza? Se és o Messias, di-lo claramente» (v. 24). As palavras de Jesus deixavam entender que ele é o Messias. Mas podiam ser mal entendidas. Daí o chamado «segredo messiânico» no evangelho de Marcos. Jesus impõe silêncio a todos aqueles que, a ver as obras de Jesus, podiam directa ou indirectamente afirmar que Ele era o Messias. Desta vez, Jesus responde que a pergunta já está suficientemente respondida. Basta ouvir as suas palavras e, mais ainda, observar as suas obras. O problema é que eles não estão dispostos a acreditar. E não querem acreditar, isto é, aderir a Jesus, porque não lhe pertencem, não são seus, não são suas ovelhas. Não são atraídos pelo Pai (cf. Jo 6, 4). Pelo contrário, quem O escuta, dá prova de que pertence ao novo povo de Deus, é ovelha Jesus, escuta a sua voz, segue-O, não perecerá jamais (cf. vv. 27-28).
    Os discípulos de Jesus terão de sofrer como Ele sofreu. Mas, tal como Ele venceu a morte, também os seus discípulos, que vivem unidos a Ele, a hão-de vencer. Estão protegidos pelo Pai (cf. vv. 28-30).

    Meditatio

    Os pioneiros da igreja de Antioquia foram missionários anónimos, tal como aconteceu em Éfeso (18, 1), em Alexandria (18, 24) e em Roma (28, 14) e em tantas outras comunidades cristãs ao longo dos séculos. Essas igrejas são monumentos a tantos missionários desconhecidos que, mesmo sem missão oficial, sem organização e sem propaganda, assumiram a sua condição de baptizados e, animados pelo Espírito Santo, levaram por diante o trabalho da evangelização. Um exemplo e um estímulo para todos nós, hoje.
    No evangelho reencontramos a relação com Deus como condição de adesão a
    Cristo. Para acreditarmos, é preciso que o Pai nos atraia para Jesus. Por outras palavras, para que alguém se torne ovelha do rebanho de Jesus, e O escute, é preciso que o Pai lho dê. «Vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas» (v.
    26), isto é: não credes porque o Pai ainda não vos deu a mim. Por isso, não sois minhas ovelhas, não acreditais e não me reconheceis. Quando Jesus se apresenta a uma alma que lhe foi dada pelo Pai, acontece algo de semelhante ao que se passa quando duas pessoas se encontram pela primeira vez e se descobrem apaixonadas. Há um reconhecimento mútuo, há a descoberta de que se pertencem um ao outro. E a vida torna-se mais bela. Quando o Pai apresenta uma alma a Jesus, ela reconhece o seu Mestre e o Mestre reconhece a ovelha que o Pai lhe dá.
    «As minhas ovelhas escutam a minha voz» (v. 27). Há ainda muitas ovelhas que não estão no rebanho, na Igreja, porque ainda não ouviram a voz do Pastor. Quando a ouvirem, vão reconhecê-la, porque o Pai lhas deu, e vão aderir a Jesus em amor recíproco.
    Nós, que pertencemos ao rebanho, temos a responsabilidade de fazer ouvir a voz do Senhor, de modo perceptível, àqueles que ainda não a ouviram. Para isso, havemos de dar um testemunho coerente e puro.
    O Pe. Dehon sentiu pessoalmente a vocação missionária desde a primeira
    infância. Escreve no último caderno do seu Diário: " O ideal da minha vida, o voto que formulava entre lágrimas
    na minha adolescência era o de ser missionário e mártir. Parece-me que este voto se realizou por meio dos mais de cem missionários que tenho em todas as partes do mundo".
    Numa carta escrita aos seus missionários, o Pe. Dehon mostra-se orgulhoso por
    esses seus filhos, porque vão para terras longínquas alargar o Reino do Coração de Jesus, para viver a vida de reparação e de imolação, que a sua vocação exige. Devem desejar morrer na missão, para que o sacrifício seja mais completo e sem reservas,

    para fazer conhecer e amar a Deus, e para fazer conhecer o amor do Coração de
    Jesus.

    Oratio

    Ó Jesus, Bom Pastor, ilumina o meu coração e abre a minha inteligência para compreender a tua palavra. Na complexidade do mundo em que vivo, batido por tantas propostas religiosas, diante do pulular de tantas divindades, velhas e novas, sinto-me, às vezes, abalado, e compreendo a incerteza, o desencanto e o cepticismo de tantos irmãos. São muitas as vozes que lhes dificultam ouvir e discernir a tua voz.
    Tem compaixão de mim. Confirma no mais íntimo do meu coração a tua
    palavra, com aquela certeza que só o Espírito Santo pode dar. Tem compaixão dos meus irmãos, perdidos e confusos, como ovelhas sem pastor. Fala-lhes ao coração. Faz que Te escutem, não como um dos tantos mestres que por aí andam, mas como o Mestre, porque Tu e o Pai são Um. Amen.

    Contemplatio

    Como Nosso Senhor é amável sob o título de Bom Pastor, um título que resume tão bem todas as bondades do seu Coração para connosco! Foi ele que deu a si mesmo este título e que nos recordou todas as solicitudes, todas as ternuras, todas as dedicações de um bom pastor. O bom pastor conhece todas as suas ovelhas. Chama-as uma a uma. Caminha diante delas. Condu-las às melhores pastagens.
    Espiritualmente, temos por alimento da nossa alma a palavra viva de Nosso Senhor, e para o nosso coração o alimento celeste da Eucaristia. O bom Pastor dá os seus cuidados mais diligentes a todas as suas ovelhas. Se vê algumas que sofrem, feridas, cansadas, toma-as sobre os seus ombros, leva-as para o redil e cuida delas amorosamente. Nosso Senhor faz isto por nós pela confissão, pela direcção (espiritual) e pela sua Providência, tão assídua e tão delicada.
    O bom Pastor não perde de vista as suas ovelhas, a sua solicitude é extrema.
    Vela pela sua segurança, preserva-as da malícia dos maus e defende-os contra os embustes do demónio. Para as salvar, dá até à última gota do seu sangue. Não é verdadeiramente o Salvador com o seu Coração cheio de uma bondade inesgotável? (Leão Dehon, OSP 3, p. 472)

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «As minhas ovelhas escutam a minha voz» (Jo 10, 27).

    S. Atanásio, Bispo e Doutor da Igreja

    S. Atanásio, Bispo e Doutor da Igreja


    2 de Maio, 2023

    S. Atanásio nasceu em Alexandria do Egito, no ano de 295. De formação grega, foi bispo da sua cidade natal de 328 a 373. Participou no Concílio de Niceia, no ano 325. A sua oposição ao arianismo causou-lhe cinco exílios. Visitou Roma e Tréveris. Visitou os monges que viviam nos desertos do Egito. A vida de Santo Antão, que escreveu, teve enorme influência na difusão do monaquismo e no estilo de vida dos monges. Atanásio faleceu em Alexandria a 2 de Maio de 373.

    Lectio

    Primeira leitura: 1 João 5, 1-5

    Caríssimos: Quem acredita que Jesus é o Cristo nasceu de Deus; e todo aquele que ama quem o gerou ama também quem por Ele foi gerado. 2É por isto que reconhecemos que amamos os filhos de Deus: se amamos a Deus e cumprimos os seus mandamentos; 3pois o amor de Deus consiste precisamente em que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são uma carga, 4porque todo aquele que nasceu de Deus vence o mundo. E este é o poder vitorioso que venceu o mundo: a nossa fé. 5E quem é que vence o mundo senão aquele que crê que Jesus é Filho de Deus?

    Em João, "mundo" é sinónimo de "mal", indicando tudo o que se opõe à Vida, Luz e Verdade de Deus. O que está em Deus, pertence a Deus e vem de Deus, é amor, é comunhão, harmonia. É como a água fresca que brota borbulhante da fonte, ou como o esplendor de um céu limpo e com sol. Vida é a que venceu o mundo, e é a nossa fé e a verdade que nos mantém em comunhão de amor com Aquele que é Trindade, para onde o Filho nos transferiu. Quem aí se mantém e apoia vence o pecado, as trevas, a mentira: o mundo.

    Evangelho: Mateus 10, 22-25

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: "Sereis odiados por todos, por causa do meu nome. Mas aquele que se mantiver firme até ao fim será salvo. 23Quando vos perseguirem numa cidade, fugi para outra. Em verdade vos digo: Não acabareis de percorrer as cidades de Israel, antes de vir o Filho do Homem.» 24«O discípulo não está acima do mestre, nem o servo acima do senhor. 25Basta ao discípulo ser como o mestre e ao servo ser como o senhor. Se ao dono da casa chamaram Belzebu, o que não chamarão eles aos familiares!

    Jesus chamou os seus discípulos para os enviar a anunciar a verdade, o bem e o amor. Mas nunca os iludiu com falsas expetativas. Disse-lhes claramente que teriam de enfrentar fortes oposições, porque o mundo odeia o que não é seu. Mais do que preocupar-se em ser bem acolhido, em ter sucesso nos seus trabalhos apostólicos, o missionário do Evangelho há-de ser humilde, fiel e forte no cumprimento da sua missão.

    Meditatio

    S. Atanásio aparece-nos como um homem de enorme importância para a definição do dogma cristão. Quando alguns quiseram reduzir Jesus a simples criatura humana, o bispo de Alexandria interveio vigorosamente para defender a fé católica. Foi o que sucedeu com a heresia de Ario, que afirmava que Jesus era simplesmente um homem grande, santo, adotado por Deus, mas não Filho de Deus. Havia bispos e imperadores que aceitavam esta teoria, porque era mais fácil de aceitar, porque não exigia, a adesão a um mistério inefável, incompreensível. Atanásio defendeu, sem hesitações, e arcando com as consequências - perseguições, exílios - esta verdade de fé, garantindo que se trata de um mistério do qual depende a nossa salvação. De fato, se Jesus não é Filho de Deus, nós não estamos nem redimidos nem salvos, pois a salvação é obra de Deus. O fiel tem uma existência atribulada e, para cúmulo, sem a evidência humana da vitória. É difícil acreditar que Jesus tenha vencido o mundo quando se sofrem perseguições. Mas não há vitória sem luta, sem passar pela paixão do Senhor. Acreditamos no mistério "total" de Jesus: o mistério de uma morte que desembocou na ressurreição. Um cristão não pode ficar espantado se, como Jesus, for perseguido. É condição para a vitória da fé, isto é, para continuar a acreditar, nas tribulações, que Deus nos ama e, se nos prova, é para nos dar bens maiores.

    Oratio

    Rezemos com S. Atanásio:
    "Os querubins são excelsos, mas, tu, ó Virgem, és mais excelsa do que eles; os querubins sustentam o trono de Deus, mas tu sustentas a Deus, nos teus braços. Os serafins estão diante de Deus, mas tu está mais do que eles: os querubins cobrem com as asas o próprio rosto, porque não pode olhar a glória perfeita, mas tu, não só contemplas o seu rosto, mas o acaricias e amamentas a sua boca santa. (Elogio da Mãe de Deus, de uma homilia de S. Atanásio).

    Contemplatio

    A consolação começa na terra. É inspirada pela fé. É uma consolação nas nossas mágoas, nos nossos sofrimentos, nas nossas provações, pensar que a nossa paciência apaga as nossas faltas e nos prepara graças e uma recompensa sempre crescente. A paciência é sempre encorajada pela esperança, diz S. Paulo: um ligeiro sofrimento prepara uma grande recompensa (2Cor 4, 17). - Se sofremos, se morremos com Jesus, diz-nos muitas vezes, havemos de ressuscitar e seremos glorificados com Ele (Rom 8, 17). Esta santa esperança dá uma verdadeira alegria, um começo de beatitude celeste às almas generosas no sofrimento: «Bendito seja o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação, diz S. Paulo; consola-nos em todas as nossas tribulações, a fim de que também nós possamos consolar aqueles que estão nas angústias, pelos mesmos motivos de encorajamento que Deus nos dá; porque, à medida que os sofrimentos de Cristo abundam em nós, Cristo faz abundar em nós a consolação» (2Cor 1, 3). Mas a consolação definitiva será no céu: «Deus, diz S. João, enxugará todas as lágrimas dos seus eleitos» (Ap 7, 17). Já não haverá incomodidades da terra, da fome, da sede e das intempéries; mas o Cordeiro que reina lá provirá a tudo e abrirá a todos as fontes da vida e da alegria (Ap 7; Is 49). (Leão Dehon, OSP 4 p. 40s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Quem acredita que Jesus é o Cristo nasceu de Deus" (1 Jo 5, 1).

    ----
    S. Atanásio, Bispo e Doutor da Igreja (2 Maio)

  • 4ª Semana –Quarta-feira - Páscoa

    4ª Semana –Quarta-feira - Páscoa


    3 de Maio, 2023

    4ª Semana - Quarta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 12, 24 - 13, 5a

    Naqueles dias, 24a palavra de Deus crescia e multiplicava-se. 25Barnabé e Saulo, depois de terem cumprido a sua missão, regressaram de Jerusalém, levando consigo João, de sobrenome Marcos.
    1Havia na igreja, estabelecida em Antioquia, profetas e doutores: Barnabé, Simeão, chamado 'Níger', Lúcio de Cirene, Manaen, companheiro de infância do tetrarca Herodes, e Saulo. 2Estando eles a celebrar o culto em honra do Senhor e a jejuar, disse-lhes o Espírito Santo: «Separai Barnabé e Saulo para o trabalho a que Eu os chamei.» 3Então, depois de terem jejuado e orado, impuseram-lhes as mãos e deixaram-nos partir. 4Enviados, pois, pelo Espírito Santo, Barnabé e Saulo desceram a Selêucia e ali meteram-se num barco, rumo à ilha de Chipre. 5Chegados que foram a Salamina, começaram a anunciar a palavra de Deus nas sinagogas dos judeus. Tinham também João como auxiliar.

    Com esta pequena secção, começa mais um dos resumos característicos de Lucas. Este trata do avanço do Evangelho. E vem uma notícia surpreendente: Barnabé e Saulo foram a Jerusalém, onde a comunidade dos discípulos passava por grave crise económica, para levarem ajuda da igreja de Antioquia. É o começo da partilha de bens entre as igrejas. Nessa mesma altura, Herodes desencadeou a perseguição que levou Tiago à morte. Pedro também foi preso, mas acabou por ser libertado. Segundo Lucas, Barnabé e Saulo, parecem ter escapado ilesos, o que não parece verosímil, pelo menos no caso de Saulo, cordialmente odiado pelos judeus. Mas o autor do Actos não está interessado em contar a sucessão exacta e cronológica dos acontecimentos. Interessa- lhe particularmente referir Antioquia como a igreja da qual vai partir a grande missão cujos protagonistas serão precisamente Barnabé e Saulo, acompanhados por João Marcos, uma excelente conquista feita em Jerusalém.
    A comunidade de Antioquia, viva e cheia de dinamismo, estava empenhada na evangelização da enorme cidade. Distinguiam-se, nessa tarefa, Saulo, Barnabé e João Marcos. Mas o Espírito tinha outros projectos. Um dia, enquanto jejuavam e rezavam manifestou a sua vontade por meio de um profeta: «Separai Barnabé e Saulo para o trabalho a que Eu os chamei» (v. 2). Esse trabalho era a evangelização do mundo mediterrânico, particularmente da Grécia e de Roma.

    Evangelho: João 12, 44-50

    Naquele tempo, 44Jesus levantou a voz e disse: «Quem crê em mim não é em mim que crê, mas sim naquele que me enviou; 45e quem me vê a mim vê aquele que me enviou. 46Eu vim ao mundo como luz, para que todo o que crê em mim não fique nas trevas. 47Se alguém ouve as minhas palavras e não as cumpre, não sou Eu que o julgo, pois não vim para condenar o mundo, mas sim para o salvar. 48Quem me rejeita e não aceita as minhas palavras tem quem o julgue: a palavra que Eu anunciei, essa é que o há-de julgar no último dia; 49porque Eu não falei por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, é que me encarregou do que devo dizer e anunciar. 50E Eu bem sei que este seu mandato traz consigo a vida eterna; por isso, as coisas que Eu anuncio, anuncio-as tal como o Pai as disse a mim.»

    Esta perícopa encerra o «livro dos sinais», no evangelho de João. Jesus lança um clamor, um grito, que introduz uma declaração sobre a sua identidade. Já o fizera na festa dos Tabernáculos (Jo 7, 28) e no dia mais solene da mesma (Jo 7, 37). Aqui fá-lo, pela última vez, numa espécie de resumo dos temas tratados na primeira parte do evangelho de João: 1º - acreditar em Jesus, vê-lo, significa acreditar e ver Aquele que O enviou; é o tema da unidade: o Pai e Jesus são uma só coisa; Jesus é o resplendor do Pai, aproxima-O do homem, dá-lho a conhecer, comunica-O; 2º - Jesus é a luz; a missão de Jesus é portadora de salvação; 3º - o destino do homem joga-se no dilema fé-incredulidade, o acolhimento ou recusa de Jesus, na escuta ou não escuta da sua palavra. A fé, o acolhimento, a escuta de Jesus salvam o homem; a incredulidade, a recusa, a não escuta de Jesus, condenam o homem. Jesus não veio para julgar, mas para salvar. Será a Lei, em que os judeus põem toda a confiança, que os há-de julgar no último dia (cf. v. 48). 4º - a vinda de Jesus, a sua acção e a sua palavra, tinham um único objectivo: comunicar a vida. Foi esse o mandamento recebido do Pai (v. 50).

    Meditatio

    A igreja da Antioquia era viva e dinâmica. Tinha profetas e doutores, entre os quais se distinguiam Barnabé e Saulo, e estava empenhada na evangelização da grande cidade. Era uma igreja fervorosa e atenta à voz do Espírito. Assim: «estando eles a celebrar o culto em honra do Senhor e a jejuar, disse-lhes o Espírito Santo:
    «Separai Barnabé e Saulo para o trabalho a que Eu os chamei.» Então, depois de terem jejuado e orado, impuseram-lhes as mãos e deixaram-nos partir». Assim começou a grande missão: «Enviados, pois, pelo Espírito Santo, Barnabé e Saulo desceram a Selêucia e ali meteram-se num barco, rumo à ilha de Chipre. Chegados que foram a Salamina, começaram a anunciar a palavra de Deus nas sinagogas dos judeus. Tinham também João como auxiliar». A igreja de Antioquia, que tinha ainda tanto para fazer na sua cidade, organiza uma missão pelas regiões vizinhas, confiando-a a dos seus mais destacados membros. Um exemplo que continua actual para todas as igrejas, mas também para as ordens e congregações, que fazem parte da vida e santidade da Igreja!
    Jesus não veio «para condenar o mundo» (v. 47). Mas a sua palavra e a sua missão realizam automaticamente um juízo e tornam-se critério último de verdade e de acção. A minha atitude diante de Jesus, e da sua palavra, realiza o juízo em relação a mim mesmo, agora e no futuro. Na pessoa de Jesus está presente a realidade definitiva. E eu devo confrontar-me, aqui e agora, com essa realidade, porque é o definitivo que avalia o transitório. É hoje que eu decido o meu destino eterno. É hoje que a minha vida está suspensa entre a vida e a morte, entre a luz e as trevas, entre o tudo e nada, porque é hoje que me confronto com Jesus e com a sua palavra, e é hoje que tenho de optar.
    O momento presente é sumamente importante, porque é o hoje de Deus, que podemos acolher ou rejeitar. Desse acolhimento ou rejeição derivam consequências eternas. O Hoje de Deus salvador está personificado em Jesus: "Hoje nasceu para vós na cidade de David um Salvador" (Lc 2, 11); "Hoje - diz Jesus na sinagoga de Nazaré - cumpriu-se esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir" (Lc 4, 21); "Hoje tenho de ficar em tua casa" - diz Jesus a Zaqueu (Lc 19, 5); e ainda "Hoje a salvação entrou nesta casa" (Lc 19, 9); "Hoje estarás comigo no Paraíso" (Lc 23, 43), promete Jesus ao bom ladrão. Hoje é Jesus, é a salvação: "Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e sempre" (Heb 13, 8).
    A este Hoje de Deus, que é Jesus, deve responder cada homem com um "sim" de amor, que é «sim» à salvação, à verdade, à vida, ao bem, à santidade.

    Oratio

    Pai santo, que enviaste o teu Filho ao mundo, não para o condenar, mas para o salvar, faz com que eu, carregado de misérias, jamais perca a confiança, e me afaste de Ti, triste e desanimado. Infunde o teu Espírito no mais íntimo de mim mesmo para que, iluminado pela tua luz, ganhe força e coragem para retomar o caminho. As tuas palavras, por vezes, são duras. Mas sei que, com elas, apenas queres recuperar-me e salvar-me, dar-me ajuda para que não perca a vida eterna que me preparaste. Sei que és benevolente, mesmo quando te mostras severo. Por isso, imprime no meu coração as palavras do teu Filho para que possa saborear hoje, amanhã e sempre, a tua salvação. Amen.

    Contemplatio

    Santa Gertrudes faz comparecer a alma com o amor seu poderoso advogado diante da verdade e da justiça divina.
    – Ó verdade! Ó justiça divina! Como comparecer na vossa presença, eu que estou esmagado sob o peso da minha iniquidade, sob o fardo da minha vida que perdi, sob a carga de todas as minhas negligências? Não soube fazer valer, infelizmente, o tesouro da fé cristã e da vida espiritual.
    Sei o que vou fazer: tomarei o cálice da salvação, o cálice de Jesus. Colocá-lo- ei sobre o prato vazio da verdade e da justiça. Por este meio, acorrerei a tudo o que me falta, cobrirei todos os meus pecados. Este cálice levantará as minhas ruínas, por ele suprirei e muito além à minha indignidade.
    – Ó amor divino, emprestai-me o meu Jesus, vosso real cativo, Ele que foi levado por mim de tribunal em tribunal, Ele que foi condenado por me ter amado, e entregado à morte por minha causa.
    Ó Jesus, amável penhor da minha redenção, vinde portanto comigo ao juízo. Julgai-me, tendes esse direito, mas vós sois também o meu advogado. Para que eu seja justificado, não tereis senão que relatar o que fizestes por mim e o preço pelo qual me adquiristes. Tomastes a minha natureza a fim de que eu não pereça; levastes o fardo dos meus pecados, morrestes por mim para que eu não morra da morte eterna; querendo enriquecer-me de méritos, destes-me tudo. Julgai-me, portanto, na hora da minha morte de acordo com esta inocência e esta pureza que me conferistes pagando toda a minha dívida e deixando-vos condenar em meu lugar (Leão Dehon, OSP 4, p. 486s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Eu não vim condenar o mundo, mas salvá-lo» (Jo 12, 47).

    S. Filipe e S. Tiago, Apóstolos

    S. Filipe e S. Tiago, Apóstolos


    3 de Maio, 2023

    Como S. Pedro e S. André, Filipe era natural de Betsaida. O seu nome grego deixa supor que pertencia à comunidade helenista. Foi dos primeiros discípulos a ouvir o chamamento do Senhor: "Segue-me". Pôs-se imediatamente ao serviço do Senhor e, bem depressa, começou a dedicar-se à missão. Segundo a tradição, S. Filipe evangelizou a Turquia, onde morreu mártir.

    S. Tiago, o Menor, filho de Alfeu, era primo de Jesus e escreveu a Carta de Tiago. Foi testemunha privilegiada da ressurreição do Senhor (cf. 1 Cor 17, 7), ocupando um lugar proeminente na comunidade de Jerusalém. Depois da dispersão dos Apóstolos, nos anos 36-37, aparece como chefe da igreja-mãe (At 21, 18-26). Morreu mártir por volta do ano 62, sendo precipitado pelos Judeus do Templo e lapidado como Estêvão. Na sua carta, deixou-nos o testemunho da prática da Unção dos Enfermos já nos tempos apostólicos.

    Lectio

    Primeira leitura: 1 Coríntios 15, 1-8

    Lembro-vos, irmãos, o evangelho que vos anunciei, que vós recebestes, no qual permaneceis firmes 2e pelo qual sereis salvos, se o guardardes tal como eu vo-lo anunciei; de outro modo, teríeis acreditado em vão. 3Transmiti-vos, em primeiro lugar, o que eu próprio recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; 4foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras; 5apareceu a Cefas e depois aos Doze. 6Em seguida, apareceu a mais de quinhentos irmãos, de uma só vez, a maior parte dos quais ainda vive, enquanto alguns já morreram. 7Depois apareceu a Tiago e, a seguir, a todos os Apóstolos. 8Em último lugar, apareceu-me também a mim, como a um aborto.

    Paulo deixa-nos perceber a importância que a tradição tinha nos começos da comunidade cristã: "Transmiti-vos o que eu próprio recebi" (v. 3). É através da tradição apostólica que chegam até nós as notícias referentes ao evento histórico-salvífico da Páscoa do Senhor. Através dela, podemos ligar-nos ao fluxo salvífico daquela graça. O nosso texto contém uma profissão de fé que remonta aos primeiros momentos da comunidade cristã: "Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras;apareceu a Cefas e depois aos Doze." (vv. 3-5). Anunciar ao mundo esta Boa Nova é a missão dos Apóstolos e de todos os cristãos. Só pela participação na Páscoa de Cristo, os homens podem ser salvos.

    Evangelho: João 14, 6-14

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir até ao Pai senão por mim. 7Se ficastes a conhecer-me, conhecereis também o meu Pai. E já o conheceis, pois estais a vê-lo.» 8Disse-lhe Filipe: «Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta!» 9Jesus disse-lhe: «Há tanto tempo que estou convosco, e não me ficaste a conhecer, Filipe? Quem me vê, vê o Pai. Como é que me dizes, então, 'mostra-nos o Pai'?10Não crês que Eu estou no Pai e o Pai está em mim?As coisas que Eu vos digo não as manifesto por mim mesmo: é o Pai, que, estando em mim, realiza as suas obras.11Crede-me: Eu estou no Pai e o Pai está em mim; crede, ao menos, por causa dessas mesmas obras.12Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim também fará as obras que Eu realizo; e fará obras maiores do que estas, porque Eu vou para o Pai, 13e o que pedirdes em meu nome Eu o farei, de modo que, no Filho, se manifeste a glória do Pai. 14Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, Eu o farei."

    O evangelho transmite-nos o diálogo entre Jesus e Filipe, precedido da autorevelação de Jesus a Tomé: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida" (v. 6), para chegar ao Pai. Jesus também fala a Filipe do Pai. Por meio de Jesus, podemos conhecer o Pai, desde já, podemos "vê-lo" e assim acreditar na total comunhão que une Jesus a Deus Pai. As palavras de Jesus revelam-nos a comunhão que o liga ao Pai. Acolhê-las é aplanar a estrada para chegar ao Pai. O mesmo se diga das obras de Jesus. Acolhidas na fé, também são caminho para compreender a identidade de Jesus, a sua relação com o Pai e a nossa relação com ambos.

    Meditatio

    "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir até ao Pai senão por mim." (v. 6). Atraindo-nos para Jesus - "Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não atrair" (Jo 6, 44) - o Pai revela-nos que, para ir para Ele, é preciso passar pelo Filho, porque o Filho é o caminho, Aquele que revela o Pai, comunica a vida do Pai e conduz até Ele.
    No evangelho, Jesus revela-nos o seu coração, o desejo ardente de nos fazer conhecer o Pai, e a consciência que tem de ser o verdadeiro revelador do mesmo Pai: "Quem me vê, vê o Pai. Como é que me dizes, então, 'mostra-nos o Pai'? Não crês que Eu estou no Pai e o Pai está em mim?" (vv. 9-10).
    Em todo o homem há um desejo vivo de ver a Deus. Os salmos fazem eco desse anseio profundo: "Quando poderei contemplar a face de Deus?" (Sl 42, 3); "Quero contemplar-te... para ver o teu poder e a tua glória." (Sl 63, 3). Conhecer alguém por ouvir dizer, é pouco. Encontrar-se com uma pessoa, vê-la, dá um conhecento mais profundo da mesma. Lemos no seu rosto os seus sentimentos, o seu amor, a sua bondade, tudo o que há de vivo nela. É a partir desta experiência humana que nasce em nós o anseio profundo de ver a Deus.
    O Novo Testamento diz-nos que a visão de Deus, que nos permite contemplar o invisível, o inacessível e continuar vivos, é possível vendo Jesus, o Filho de Deus feito homem, imagem do Deus invisível, rosto humano de Deus. Jesus é o revelador do Pai. É este o seu mistério mais profundo. O Pai está em Jesus e Jesus está no Pai. O Pai manifesta em Jesus, não só na sua presença no meio de nós, mas também, e sobretudo, na sua morte e ressurreição. A primeira leitura sugere esta aproximação. Jesus ressuscitado manifestou-se, apareceu: "Cristo ressuscitou ao terceiro dia e apareceu a Cefas e depois aos Doze. Em seguida, apareceu a mais de quinhentos irmãos, de uma só vez... apareceu a Tiago. Em último lugar, apareceu-me também a mim, como a um aborto." (vv. 4-8). Jesus ressuscitado mostrou-se e mostrou o Pai. Ele é a mais completa visão de Deus: "Quem me vê, vê o Pai" (v. 9). É claro que, para nós, Jesus ressuscitado não é uma pessoa que se veja como outra qualquer. A nós, aplica-se a frase com que João encerra o seu evangelho: "Felizes os que crêem sem terem visto!" (Jo 20, 29). A nossa visão de Jesus não é uma visão sensível, mas de fé. Contemplar as imagens de Jesus pode ajudar-nos. Mas são os olhos do coração que O alcançam. A visão de Deus é uma visão do coração. Só se pode vê-lo com o coração, o Coração de Jesus!

    Oratio

    Mostrai-nos, Senhor, o vosso rosto e seremos salvos! Queremos acolher a salvação contemplando o vosso rosto, paterno e materno, cheio de misericórdia. Contemplando-o, queremos penetrar na ternura do vosso coração. Procuro o vosso rosto, Senhor! Mostrai-me o vosso rosto. A vossa glória, Senhor, refulge no rosto do vosso Cristo, que tem um rosto humano, semelhante ao meu, semelhante ao dos meus irmãos. Que eu saiba contemplar o vosso rosto também no rosto dos meus irmãos e irmãs, dos que vivem comigo, trabalham comigo, daqueles para quem eu vivo e trabalho. Ámen.

    Contemplatio

    S. Tiago deixou-nos a sua bela epístola dirigida a todas as Igrejas. Nela descreve, de um modo luminoso, a vida cristã, tal como a praticava diariamente. Estabeleceu a necessidade das boas obras, recomenda a constância nas provações, a caridade para com o próximo, o bom uso da língua. Fala do sacramento da Santa Unção, que se dá aos doentes. Resume toda a vida cristã sob o nome de sabedoria que vem do alto, como S. Paulo a resumiu sob o nome de caridade. «A sabedoria é casta, diz, é modesta, pacífica, dócil aos sábios conselhos, cheia de misericórdia, dedicada às boas obras. Evita os juízos temerários, as mentiras, a duplicidade. É sobretudo amiga da paz interior e do recolhimento que são a condição para escutar a voz de Deus e para praticar a justiça na pureza de intenção». Sim, é na paz interior, na união com o Sagrado Coração, que poderei praticar a vida de amor e de reparação que Nosso Senhor espera de mim. (Leão Dehon, OSP 3, p. 506).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Quem me vê, vê o Pai!" (Jo 14, 9).

    ----
    S. Filipe e S. Tiago, Apóstolos (3 Maio)

  • 4ª Semana –Quinta-feira - Páscoa

    4ª Semana –Quinta-feira - Páscoa


    4 de Maio, 2023

    4ª Semana - Quinta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 13, 13-25

    Naqueles dias, Paulo e os seus companheiros, largaram de Pafos, e dirigiram- se a Perga da Panfília. João, porém, separando-se deles, voltou para Jerusalém.
    14Quanto àqueles, deixaram Perga e, caminhando sempre, chegaram a Antioquia da Pisídia.
    A um sábado, entraram na sinagoga e sentaram-se. 15Depois da leitura da Lei e dos Profetas, os chefes da sinagoga mandaram-lhes dizer: «Irmãos, se tiverdes alguma exortação a dirigir ao povo, falai.»16Então, Paulo, levantando-se, fez sinal com a mão e disse:«Homens de Israel e vós os tementes a Deus, escutai: 17O Deus deste povo, o Deus de Israel, escolheu os nossos pais e engrandeceu este povo durante a sua permanência no Egipto. Depois, com a força do seu braço, retirou-o de lá 18e, durante uns quarenta anos, sustentou-o no deserto. 19A seguir, exterminando sete nações na terra de Canaã, conferiu-lhes a posse do seu território, 20por cerca de quatrocentos e cinquenta anos. Depois disso, deu-lhes juízes até ao profeta Samuel. 21Em seguida, pediram um rei, e Deus concedeu-lhes, durante quarenta anos, Saul, filho de Quis, da tribo de Benjamim. 22Pondo este de parte, Deus elevou David como rei, e a seu respeito deu este testemunho: 'Encontrei David, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará todas as minhas vontades.'
    23Da sua descendência, segundo a sua promessa, Deus proporcionou a Israel um Salvador, que é Jesus. 24João preparou a sua vinda, anunciando um baptismo de penitência a todo o povo de Israel. 25Quase a terminar a sua carreira, João dizia:
    'Eu não sou quem julgais; mas vem, depois de mim, alguém cujas sandálias não sou digno de desatar.'

    Lucas empenhou-se em realçar a importância e a transcendência decisiva do momento em que a igreja de Antioquia organizava oficialmente a grande missão. Barnabé, Saulo e João Marcos partem. Em Chipre alcançam a conversão do procurador romano, Sérgio Paulo. Saulo passa a ser chamado com o nome romano de Paulo e, torna-se o chefe da expedição, até aí dirigida por Barnabé. E começam os chamados «Actos de Paulo». De facto, o centro da narrativa recai sobre o discurso de Paulo em Antioquia da Pisídia, perto da Galácia. Este discurso, que tem um tom programático, faz lembrar o discurso de Jesus na sinagoga de Nazaré. A história de Israel é apresentada nas suas linhas gerais, centrando-se em David, a quem ficou ligada a promessa do Salvador. A alusão a João Baptista tem dois objectivos: situar no tempo a actividade de Jesus e apresentar João como precursor e testemunha. Paulo quer chegar rapidamente a Jesus, Aquele em quem se realizam as promessas. As comunidades da Diáspora estavam mais preparadas para acolherem a mensagem dos primeiros missionários cristãos. É, pois, a elas que Paulo se dirige, em primeiro lugar. Só depois, quando se sente recusado, se dirige aos pagãos.

    Evangelho: João 13, 16-20

    Naquele tempo, depois de ter lavado os pés aos discípulos, Jesus disse-lhes:
    16Em verdade, em verdade vos digo, não é o servo mais do que o seu Senhor, nem o enviado mais do que aquele que o envia. 17Uma vez que sabeis isto, sereis felizes se o puserdes em prática. 18Não me refiro a todos vós. Eu bem sei quem escolhi, e há-de cumprir-se a Escritura: Aquele que come do meu pão levantou contra mim o calcanhar.
    19Desde já vo-lo digo, antes que isso aconteça, para que, quando acontecer, acrediteis que Eu sou. 20Em verdade, em verdade vos digo: quem receber aquele que Eu enviar é a mim que recebe, e quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou.»

    Este texto conclui a secção do lava-pés. Esse gesto de Jesus, para além de muitas outras lições, quer ser uma explicação do provérbio que diz: «o servo não é maior do que o seu Senhor» (cf. Jo 15, 20; Mt 10, 24). O discípulo não experimentará menos perseguições do que o seu mestre. Provavelmente este provérbio surgiu do silêncio ou dos protestos diante das palavras de Jesus: «dei-vos exemplo para que, assim como Eu fiz, vós façais também», tomadas muito à letra (Jo 13, 15). O provérbio que vem a seguir: «não é o servo mais do que o seu Senhor, nem o enviado mais do que aquele que o envia» (v. 16) acrescenta um outro aspecto que ilustra a relação entre Jesus e os discípulos. Maltratar um embaixador, constitui uma gravíssima injúria àquele que representa, àquele que o envia. Esta analogia é aplicada por Jesus aos seus discípulos, que são enviados por Ele, tal como Ele foi enviado pelo Pai. Quem receber um enviado de Jesus, não só recebe o próprio Jesus que envia, mas também o Pai que enviou Jesus. Assim se chega à raiz última da missão. Um dos melhores modos de lavar os pés aos outros, talvez o mais importante, é anunciar-lhes Cristo, tornando-O presente no meio deles.

    Meditatio

    Deus prepara-nos para os acontecimentos da vida, por meio das Escrituras, por meio da história do povo eleito, por meio da história de Jesus. Sem essa preparação, correríamos o risco de ficarmos desconcertados, escandalizados, de não os compreendermos de modo justo. Mas se os enfrentarmos e vivermos à luz de Deus, podemos dar-nos conta da graça que o Senhor nos oferece em cada um deles. Esta afirmação não é uma teoria mais ou menos rebuscada. É o próprio Jesus que o diz:
    «Desde já vo-lo digo, antes que isso aconteça, para que, quando acontecer, acrediteis que Eu sou» (v. 19).
    Jesus disse estas palavras referindo-se à traição de Judas evocada nas palavras: «Não me refiro a todos vós. Eu bem sei quem escolhi» (v. 18). Entre os discípulos há alguém que não será fiel, que trama traição. A fé dos restantes receberá um rude golpe. Parece que Jesus se enganou ao escolher um deles. Na verdade, apenas obedeceu ao Pai, para que se cumprissem as Escrituras. Era preciso que Cristo enfrentasse o mal e o vencesse. Era preciso que o mal chegasse muito perto de Jesus, e que a acção do maligno se verificasse também no grupo dos mais íntimos do Senhor. Deviam cumprir-se as Escrituras: «Aquele que come do meu pão levantou contra mim o calcanhar» (v. 18). Quando os discípulos verificaram que tudo se tinha realizado, puderam compreender o desígnio de Deus e verificar como, por meio da traição, esse projecto se realizou. Puderam dar-se conta de como o amor vence o ódio.
    Paulo, ao pregar em Antioquia da Pisída, revela a mesma mentalidade. Para falar de Jesus, da sua morte e da sua ressurreição, ao seu povo, começa muito longe; começa pela eleição do mesmo povo, percorrendo a sua história, até chegar a David. Aí repete a promessa de Deus: «Encontrei David, filho de Jessé, homem segundo o meu coração... Da sua descendência, segundo a sua promessa, Deus proporcionou a Israel um Salvador, que é Jesus» (vv. 22-23).
    Esta longa história é o fundamento da nossa fé. A morte e a ressurreição de Jesus não foram obra do acaso. Foram longamente preparadas por Deus na história. Por isso, iluminam toda a história futura. Mergulhados como estamos nos acontecimentos, nem sempre nos damos conta do seu sentido, correndo o risco de ficarmos desorientados. Por isso, devemos meditar demoradamente no Antigo Testamento e no mistério de Cristo, sempre disponíveis a fazer o que Ele quer, aqui e agora, ainda que seja algo de imprevisto. A fé robusta e consistente não vem de fórmulas mais ou menos perfeitas, que lemos ou ouvimos. Vem da experiência da vida, iluminada pela palavra de Deus. Algo de parecido ao que aconteceu aos discípulos de Emaús, na tarde da Páscoa. Estavam desiludidos e desorientados pelos acontecimentos. Mas, uma vez iluminados esses acontecimentos pela Palavra, logo adquiriram sentido, se lhes aqueceu o coração e se lhes abriram os olhos.

    Oratio

    Pai santo, infunde em mim uma fé robusta, uma confiança inabalável. Sei que jamais faltas às tuas promessas, porque és um Deus fiel. Dá-me olhos para ver, na vida e nos acontecimentos que me envolvem, a realização do teu projecto de salvação, apesar de tantos sinais contrários. Faz-me compreender que continuas a salvar o mundo e cada um dos homens, também na conturbada situação histórica em que nos encontramos, e que o mistério de Cristo, teu Filho, continua a realizar-se. Amen.

    Contemplatio

    Havia em Antioquia um grupo de padres, de profetas e de doutores. O Espírito Santo revelou-lhes positivamente a missão de Paulo e de Barnabé para a conversão dos gentios. Enviaram, portanto, estes dois apóstolos para os países do ocidente. Barnabé e Paulo passaram na ilha de Chipre onde fizeram maravilhas e ganharam para a fé o próprio procônsul, Sérgio Paulo. De lá foram para a Ásia Menor e pregaram em Pisídia, em Perga, em Antioquia, em Icónio, em Listra. Foi uma alternativa de sucessos e de perseguições.
    Em Listra um curioso incidente mostra bem como os dois apóstolos eram admiráveis no seu zelo, no poder da sua palavra e na sua dignidade de vida. O povo, testemunha dos seus milagres, tomou-os por deuses. Paulo, o brilhante orador devia ser Mercúrio, Barnabé, o santo levita com porte majestoso parecia ser Júpiter. Já lhes queriam oferecer sacrifícios. Tiveram de se desembaraçar para impedirem este sacrilégio. Mas no dia seguinte Judeus de Antioquia e de Icónio vêm persegui-los com as suas calúnias, e o povo tão móvel nos seus sentimentos expulsa-os à pedrada. Regressaram a Antioquia e separaram-se em seguida. Barnabé voltou a passar por Chipre e aí consolidou as cristandades que tinha fundado precedentemente. Foi em seguida pregar na Itália, e depois regressou a Chipre onde morreu (Leão Dehon, OSP 3, p. 644s.).

    Actio

    19).

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Já vo-lo digo, para que, quando acontecer, acrediteis que Eu sou» (Jo 13,

  • 4ª Semana - Sexta-feira - Páscoa

    4ª Semana - Sexta-feira - Páscoa


    5 de Maio, 2023

    4ª Semana - Sexta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 13, 26-33

    Naqueles dias, disse Paulo na sinagoga de Antioquia da Pisídia: 26Irmãos, filhos da estirpe de Abraão, e os que de entre vós são tementes a Deus, a nós é que foi dirigida a palavra de salvação. 27Sem dúvida, os habitantes de Jerusalém e os seus chefes não quiseram reconhecer Jesus, mas, condenando-o, cumpriram, sem disso se aperceberem, as profecias que são lidas todos os sábados. 28Embora não tivessem encontrado nele motivo algum de morte, exigiram a Pilatos que o mandasse matar. 29Quando cumpriram tudo o que acerca dele estava escrito, desceram-no do madeiro e sepultaram-no. 30Mas Deus ressuscitou-o dos mortos 31e, durante muitos dias, apareceu aos que tinham subido com Ele da Galileia a Jerusalém, os quais são agora suas testemunhas diante do povo. 32E nós estamos aqui para vos anunciar a Boa-Nova de que a promessa feita a nossos pais, 33Deus a cumpriu em nosso benefício, para nós, seus filhos, ressuscitando Jesus, como está escrito no Salmo segundo: Tu és meu filho, Eu hoje te gerei!

    O discurso de Paulo, em Antioquia da Pisída, pode resumir-se assim: o evangelho é a consumação de tudo quanto Deus fez, anunciou e prometeu ao seu povo. No fundo, Paulo usa os mesmos argumentos de Pedro no seu primeiro discurso, no dia de Pentecostes. Provavelmente era um esquema habitual para quem anunciava o Evangelho em ambientes judaicos. Jesus, injustamente condenado, foi reconhecido justo por Deus na ressurreição. É esta a palavra de salvação, a boa nova, a realização da promessa feita aos pais (cf. v. 32). Deus é suficientemente forte para vencer o mal, ainda o mais horrível. Deus salva aqueles que acreditam no seu poder, esse poder com que ressuscitou Jesus.
    Ao anunciar a ressurreição, Paulo fundamenta-se em «testemunhas» (v. 30), transmitindo aquilo que recebeu. Sabe que não é testemunha, como Pedro e os outros Apóstolos, mas tem consciência de pertencer ao grupo dos missionários. Por isso, acrescenta: «nós estamos aqui para vos anunciar a Boa-Nova de que a promessa feita a nossos pais».

    Evangelho: João 14, 1-6

    Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos: «Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus; crede também em mim. 2Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, como teria dito Eu que vos vou preparar um lugar? 3E quando Eu tiver ido e vos tiver preparado lugar, virei novamente e hei-de levar-vos para junto de mim, a fim de que, onde Eu estou, vós estejais também. 4E, para onde Eu vou, vós sabeis o caminho.» 5Disse-lhe Tomé: «Senhor, não sabemos para onde vais, como podemos nós saber o caminho?» 6Jesus respondeu-lhe: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir até ao Pai senão por mim».

    As primeiras palavras de Jesus, no quarto evangelho, «Que procurais?»(1, 38), têm resposta neste capítulo 14: «Na casa de meu Pai há muitas moradas» (v. 2). Jesus anunciara a sua partida no capítulo 13. A afirmação de fidelidade, por parte de Pedro, é contrabalançada pelo anúncio da sua negação. Os discípulos estavam decepcionados. No capítulo 14, João apresenta-nos Jesus a inculcar-lhes segurança e confiança. Eles devem acreditar em Jesus como acreditam em Deus. E devem confiar que a sua partida os favorece. Mais ainda: conhecendo a Jesus, conhecem o caminho para o Pai, porque é Ele o caminho. É tudo o que o homem precisa para se salvar, porque o Pai está em Jesus para salvação do homem.
    A partida de Jesus implica o seu regresso, para completar a missão que o Pai lhe confiou. Jesus voltará aos seus amigos depois da crucifixão; Ele e o Pai viverão naqueles ques os amam e guardam as suas palavras; não se trata de uma manifestação expectacular, mas de uma manifestação captada pela fé, através do Espírito; ainda que Jesus volte, depois da sua morte, permanece em pé a sua vinda no fim dos tempos.
    «Na casa de meu Pai há muitas moradas» (v. 2), dizia Jesus. Na mentalidade da época, o mais além tinha uma capacidade limitada. Por isso, havia que pesar os vícios e as virtudes dos candidatos à entrada. Só entraria quem tivesse um peso de virtudes superior ao dos vícios. Jesus afirma que, na vida do além, há lugar para todos os seus discípulos. Estarão com Ele. E Ele é o caminho que leva à vida eterna:
    «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir até ao Pai senão por mim».

    Meditatio

    «Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus; crede também em mim» (v. 1). A crucificação de Jesus causará grande perturbação aos discípulos. Por isso, Jesus prepara-os dizendo-lhes palavras de consolação e de esperança. Irá repeti-las depois da ressurreição. Essas palavras mostram aos apóstolos que a paixão era o meio querido por Deus para renovar e salvar o homem. Também para nós chegará, mais cedo ou mais tarde, o momento da perturbação, motivado pelos ódios, pelas vinganças, pelas violências, pela corrupção, pela indiferença, pela fome de dinheiro e de poder que campeiam pelo mundo. As nossas cidades tornaram-se semelhantes a Sodoma e a Gomorra. Como é possível não ficar perturbados? A perturbação do coração acrescenta dificuldades às dificuldades. É uma reacção natural. Mas o Senhor diz-nos que podemos ultrapassar tudo com uma atitude de fé, apoiando-nos no seu poder, na sua riqueza. Somos fracos e pobres. Mas as riquezas do Senhor são também nossas, e Ele está connosco sempre. Quando diz que nos vai preparar um lugar, não quer dizer que nos abandona, mas que sofrerá para transformar o homem, para o tornar capaz de se aproximar de Deus. «Em Cristo, mediante a fé nele, temos a liberdade e coragem de nos aproximarmos de Deus com confiança», escreve Paulo aos Efésios (3, 12). E acrescenta «por isso, peço-vos que não desanimeis com as tribulações que sofro por vós; elas são a vossa glória» (3, 13). Graças à morte e à ressurreição do Filho, o homem pode aproximar-se de Deus sem tremer, e cheio de um amor confiante e agradecido. Foi desse modo que Jesus nos preparou um lugar na casa do Pai. Ele continua a ser para nós, hoje, o caminho a verdade e a vida. Só com Ele podemos ultrapassar os ciclones da ganância e da sensualidade sem limites, e os ventos gélidos da injustiça e do cinismo. Se alguém nos quiser levar por outros caminhos, não esqueçamos que só Ele é o caminho. Se nos propuserem soluções mais avançadas, lembremo-nos que só Ele é a verdade.
    Se nos quiserem ensinar a viver mais intensamente e com mais liberdades, recordemo-nos de que só Ele é a vida.

    Oratio

    Senhor, ampara o meu coração vacilante. Como é difícil resistir a tantos vendavais que parecem varrer da face da terra o património espiritual acumulado durante séculos pelo trabalho generoso dos teus missionários e pastores. As nossas comunidades envelhecem, declina a prática religiosa, são cada vez menos as vocações. Vem, Senhor, em auxílio da minha fé vacilante. Não quero abandonar-te, porque és tudo para mim. Apoia a minha esperança fraca, que gostava de ver os novos tempos iluminados pela tua verdade. Atiça a frágil chama do meu amor pelos irmãos, que gostaria de ajudar a pôr em contacto Contigo. Sê para mim o caminho, a verdade e a vida. Amen.

    Contemplatio

    Jesus é o caminho. «Para onde vou, vós sabeis e sabeis o caminho». A questão de Tomé é surpreendente, Jesus falou sempre tão claramente!
    Para onde vai? Vai para o seu Pai, disse-o muitas vezes e acaba de o repetir:
    «Vou preparar-vos um lugar na casa de meu Pai».
    Jesus é o caminho. Não disse ele a todos os que chamava: «Sequere me, segui-me? Mostrou-nos o caminho que conduz ao céu, é aquele que ele mesmo percorreu primeiro. É o caminho da humildade e da doçura, é o caminho do desapego e da renúncia, a via da penitência e da reparação, é a via da dedicação e do sacrifício.
    É também a via de união e de amor. Quantas vezes, Nosso Senhor nos disse:
    «Vivo no meu Pai, e o meu Pai em mim; faço sempre a vontade de meu Pai; amo o meu Pai, observo os seus preceitos e permaneço no seu amor». Eis o caminho: manter-nos unidos a Jesus, ao seu divino Coração: fazer em tudo a sua vontade, permanecer no seu amor; aprender dele que é doce e humilde, que foi sacrificado e imolado, que se abandonou nas mãos do Pai (Leão Dehon, OSP 3, p. 441s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Eu sou o Caminho» (Jo 14, 6).

  • 4ª Semana - Sábado - Páscoa

    4ª Semana - Sábado - Páscoa


    6 de Maio, 2023

    4ª Semana - Sábado

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 13, 44-52

    44No segundo sábado em que Paulo e Barnabé estiveram em Antioquia da Pisídia, quase toda a cidade se reuniu para ouvir a palavra do Senhor. 45A presença da multidão encheu os judeus de inveja, e responderam com blasfémias ao que Paulo dizia. 46Então, desassombradamente, Paulo e Barnabé afirmaram: «Era primeiramente a vós que a palavra de Deus devia ser anunciada. Visto que a repelis e vós próprios vos julgais indignos da vida eterna, voltamo-nos para os pagãos, 47pois assim nos ordenou o Senhor: Estabeleci-te como luz dos povos, para levares a salvação até aos confins da Terra.» 48Ao ouvirem isto, os pagãos encheram-se de alegria e glorificavam a palavra do Senhor; e todos os que estavam destinados à vida eterna abraçaram a fé. 49Assim, a palavra do Senhor divulgava-se por toda aquela região. 50Mas os judeus incitaram as senhoras devotas mais distintas e os de maior categoria da cidade, desencadeando uma perseguição contra Paulo e Barnabé, e expulsaram-nos do seu território. 51Estes, sacudindo contra eles o pó dos pés, foram para Icónio. 52Quanto aos discípulos, estavam cheios de alegria e do Espírito Santo.

    É breve o intervalo que separa o discurso de Paulo em Antioquia e a continuação do seu ensino, no sábado seguinte, na sinagoga. Mas este intervalo tem por fim mostrar o interesse que a pregação do Apóstolo desperta entre judeus e pagãos. Querem ouvir mais, e Paulo exorta-os a permanecerem na graça de Deus, isto é, na escuta do Evangelho. De facto, no sábado seguinte «quase toda a cidade» (v. 44) acorre a escutar a Palavra de Deus. Mas os judeus encheram-se de inveja e «judeus incitaram as senhoras devotas mais distintas e os de maior categoria da cidade» contra Paulo e Barnabé, que são expulsos do território. É nesse momento que se dá a separação definitiva entre o Evangelho e o Judaísmo.
    Paulo reafirma o direito dos judeus a serem evangelizados antes de mais ninguém... Mas, uma vez que recusavam o evangelho, era a vez de o anunciarem aos pagãos. Em Antioquia, os missionários declaram que se voltam para os pagãos, não só por causa da recusa dos judeus, mas também por causa das palavras de Isaías que fala da luz para todos os povos (49, 6). Os cristãos são herdeiros do destino glorioso que estava reservado a Israel, que se tornou incapaz de o realizar, uma vez que recusou Jesus Cristo. Lucas termina a narrativa de um modo positivo: «Quanto aos discípulos, estavam cheios de alegria e do Espírito Santo» (v. 52).

    Evangelho: João 14, 7-14

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «7Se ficastes a conhecer-me, conhecereis também o meu Pai. E já o conheceis, pois estais a vê-lo.» 8Disse-lhe Filipe:
    «Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta!» 9Jesus disse-lhe: «Há tanto tempo que estou convosco, e não me ficaste a conhecer, Filipe? Quem me vê, vê o Pai. Como é que me dizes, então, 'mostra-nos o Pai'? 10Não crês que Eu estou no Pai e o Pai está em mim?As coisas que Eu vos digo não as manifesto por mim mesmo: é o Pai, que, estando em mim, realiza as suas obras. 11Crede-me: Eu estou no Pai e o Pai está em mim; crede, ao menos, por causa dessas mesmas obras. 12Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim também fará as obras que Eu realizo; e fará obras maiores do que estas, porque Eu vou para o Pai, 13e o que pedirdes em meu nome Eu o farei, de modo que, no Filho, se manifeste a glória do Pai. 14Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, Eu o farei.»

    «Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta!». Jesus, no quarto evangelho, fala frequentemente da sua relação com o Pai, da sua união com Ele, do facto de ter sido enviado por Ele. Os discípulos, agora representados por Filipe, queriam algo mais: uma visão directa do Pai. Mas esse desejo estava em contradição com aquilo que já nos aparece no prólogo de João: «A Deus jamais alguém o viu. O Filho Unigénito, que é Deus e está no seio do Pai, foi Ele quem o deu a conhecer» (Jo 1, 18). Mas os discípulos não souberam reconhecer na presença visível do seu Mestre as palavras e as obras do Pai (cf. v. 9) porque, para ver o Pai no Filho, é preciso acreditar na união recíproca que existe entre ambos. Só pela fé se reconhece a mútua imanência entre o Jesus e o Pai. Por isso, a única coisa que havemos de pedir é a fé, esperando confiadamente esse dom. Jesus ao apelar para a fé, apoia os seus ensinamentos em duas razões: a sua autoridade pessoal, tantas vezes experimentada pelos discípulos, e o testemunho das suas obras (cf. v. 11).
    A obra de Jesus, inaugurada pela sua missão de revelador, é apenas um começo. Os discípulos hão-de continuar a sua missão de salvação, farão obras iguais e mesmo superiores às suas. Jesus quer mesmo dar coragem, aos seus e a todos os que hão-de acreditar n´Ele, para que se tornem participantes convictos e decididos na sua própria missão.

    Meditatio

    Jesus falou muito do Pai. Filipe entusiasmou-se e pediu a Jesus que lhe mostrasse o Pai. Mas o Senhor respondeu-lhe: «Quem me vê, vê o Pai». Filipe queria ver o Pai, mas não conseguiu vê-lo em Jesus. Ao contemplar o Mestre ficou pela realidade externa, não conseguindo atingir o interior, a sua realidade íntima, com o olhar penetrante da fé. O verbo «ver», para João, indica duas ordens de realidades: a do sinal visível (a realidade natural) e o da glória do Verbo (realidade sobrenatural).
    «Quem me vê, vê o Pai... Eu estou no Pai e o Pai está em mim». Jesus é a revelação de amor, de um amor generoso que quer espalhar-se sem limites, que não tem ciúmes: «quem crê em mim também fará as obras que Eu realizo; e fará obras maiores do que estas» (v. 12). Nós pensaríamos que, sendo Jesus o Filho de Deus vindo ao mundo, é a Ele que pertence fazer as obras maiores. Mas não é essa a lógica do amor de Deus, que é generoso e enriquece de modo ilimitado aqueles nos quais se derrama.
    Deus não tem ciúmes. Mas os judeus têm-nos. É o que nos mostra a página dos Actos que hoje escutamos. Quando vêem a multidão, que o discurso de Paulo atraiu, enchem-se de inveja. A mensagem deve ser reservada para eles, é seu privilégio. Ao verem que era oferecida a «quase toda a cidade» organizaram uma perseguição contra Paulo e Barnabé. Os judeus não toleravam que a fé fosse oferecida também aos pagãos. Mas Deus não cede e, Paulo, atento à vontade de Deus (cf. v. 47), declara: «Visto que a repelis e vós próprios vos julgais indignos da vida eterna, voltamo-nos para os pagãos».
    Há que alegrar-nos com o bem dos outros, para estarmos com o Senhor.
    Quando vemos o bem que Deus faz a outros, não há que ficar invejosos, mas que dar graças.

    Infelizmente nas comunidades cristãs, e até mesmo nas comunidades religiosas, também nascem inimizades geralmente causadas pela mesquinhez, pela tacanhez de espírito, pelo ciúme e pela inveja. São inimizades que provocam muito sofrimento em quem delas é objecto, sem culpa. Valem, então, as palavras de Jesus: "Amai os vossos inimigos, fazei bem àqueles que vos odeiam (ou que, sem um verdadeiro ódio, são invejosos, ciumentos), bendizei aqueles que vos amaldiçoam (no sentido de que falam mal de vós), rezai por aqueles que vos maltratam (não fisicamente, mas moralmente) (Lc 6, 27-28). "Para que sejais filhos do vosso Pai celeste, que faz nascer o sol para os bons e para os maus, e manda a chuva para os justos e os injustos... Sede, portanto, perfeitos como é perfeito o Pai celeste" (Mt 5, 45-46).

    Oratio

    Senhor, dá-me aquela abertura de coração que é fonte de alegria perene, que é dom de amor generoso, que se alegra com o bem e com a felicidade dos outros, com todo o bem que há no mundo. Dá-me também aquele olhar penetrante da fé que me permite observar a tua presença e acção no mundo. Ensina-me a ler os sinais dos tempos para que não oscile entre o pessimismo e o optimismo. Ensina-me a arte do discernimento, para que Te veja onde actuas e como actuas. Purifica o meu coração, para que me deixe guiar, não pelos meus estados de espírito, mas pela tua luz, que me mostra onde estás. Então poderei tornar-me teu colaborador na obra da redenção que realizas no coração do mundo, e amar-Te como queres e tens direito a ser amado. Amen.

    Contemplatio

    «Se me tivésseis conhecido como devíeis, diz Jesus, teríeis também conhecido o meu Pai, porque o meu Pai e eu somos um; mas em breve o conhecereis, ao receberdes o Espírito Santo, e já, ao me verdes, o vistes.
    – Senhor, disse-lhe Filipe, mostrai-nos o Pai celeste, por alguma visão miraculosa, e isso nos basta. –
    O quê? diz-lhe Jesus, com uma doce censura, há tanto tempo que estou convosco, e ainda não me conheceis? Não sabeis ainda que eu sou o Filho único e consubstancial do Pai? Filipe, quem me vê, vê também o Pai, e não tem necessidade de outra revelação, porque o Pai e eu somos um só na unidade da essência divina. Como dizeis então: Mostrai-nos o Pai? Não credes que eu estou no Pai e que o meu Pai está em mim? As palavras, que vos digo, não as digo de mim mesmo; elas não são o fruto de uma inteligência humana; e os milagres que eu faço são a obra de meu Pai que permanece em mim. São a prova da minha missão e da minha natureza divina. Não credes que eu estou no meu Pai e que o meu Pai está em mim? Ainda uma vez, se não crerdes nas minhas palavras, crede ao menos por causa das obras que faço».
    – Somos cegos como os apóstolos. Vendo as obras de Nosso Senhor, deveríamos ver claramente que é o nosso Deus (Leão Dehon, OSP 3, 448).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Quem crê em mim fará obras maiores do que estas» (Jo 14, 12)».

  • 05º Domingo da Páscoa - Ano A

    05º Domingo da Páscoa - Ano A


    7 de Maio, 2023

    ANO A
    5º Domingo da Páscoa

    Tema do 5º Domingo da Páscoa

    A liturgia deste domingo convida-nos a reflectir sobre a Igreja - a comunidade que nasce de Jesus e cujos membros continuam o "caminho" de Jesus, dando testemunho do projecto de Deus no mundo, na entrega a Deus e no amor aos homens.
    O Evangelho define a Igreja: é a comunidade dos discípulos que seguem o "caminho" de Jesus - "caminho" de obediência ao Pai e de dom da vida aos irmãos. Os que acolhem esta proposta e aceitam viver nesta dinâmica tornam-se Homens Novos, que possuem a vida em plenitude e que integram a família de Deus - a família do Pai, do Filho e do Espírito.
    A primeira leitura apresenta-nos alguns traços que caracterizam a "família de Deus" (Igreja): é uma comunidade santa, embora formada por homens pecadores; é uma comunidade estruturada hierarquicamente, mas onde o serviço da autoridade é exercido no diálogo com os irmãos; é uma comunidade de servidores, que recebem dons de Deus e que põem esses dons ao serviço dos irmãos; e é uma comunidade animada pelo Espírito, que vive do Espírito e que recebe do Espírito a força de ser testemunha de Jesus na história.
    A segunda leitura também se refere à Igreja: chama-lhe "templo espiritual", do qual Cristo é a "pedra angular" e os cristãos "pedras vivas". Essa Igreja é formada por um "povo sacerdotal", cuja missão é oferecer a Deus o verdadeiro culto: uma vida vivida na obediência aos planos do Pai e no amor incondicional aos irmãos.

    LEITURA I - Actos 6,1-7

    Leitura dos Actos dos Apóstolos

    Naqueles dias,
    aumentando o número dos discípulos,
    os helenistas começaram a murmurar contra os hebreus,
    porque no serviço diário não se fazia caso das suas viúvas.
    Então os Doze convocaram a assembleia dos discípulos
    e disseram:
    «Não convém que deixemos de pregar a palavra de Deus
    para servirmos às mesas.
    Escolhei entre vós, irmãos,
    sete homens de boa reputação,
    cheios do Espírito Santo e de sabedoria
    para lhes confiarmos esse cargo.
    Quanto a nós, vamos dedicar-nos totalmente
    à oração e ao ministério da palavra».
    A proposta agradou a toda a assembleia;
    e escolheram Estêvão,
    homem cheio de fé e do Espírito Santo,
    Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão,
    Parmenas e Nicolau, prosélito de Antioquia.
    Apresentaram-nos aos Apóstolos
    e estes oraram e impuseram as mãos sobre eles.
    A palavra de Deus ia-se divulgando cada vez mais;
    o número dos discípulos
    aumentava consideravelmente em Jerusalém
    e submetia-se à fé também grande número de sacerdotes.

    AMBIENTE

    A primeira leitura deste domingo pertence, ainda, à secção que apresenta o testemunho da Igreja de Jerusalém. No entanto, vão aparecer-nos pela primeira vez esses "helenistas" que irão ter um papel fundamental na ulterior expansão do cristianismo.
    O nosso texto dá conta de um clima de alguma tensão entre os "hebreus" e os "helenistas". Quem são estes grupos?
    Trata-se, sempre, de membros da comunidade cristã de Jerusalém. Os "hebreus" são cristãos de origem judaica, originários da Palestina, que falam o aramaico, que lêem a Escritura em hebraico e que teriam sido convertidos pela pregação de Jesus e dos apóstolos. Continuam, no entanto, muito apegados às suas tradições e têm, normalmente, um alto apreço pela Lei e pelas interpretações dos rabis.
    Os "helenistas" são cristãos de origem judaica, também, mas originários da "diáspora" israelita - isto é, das comunidades judaicas espalhadas por todo o império romano e, até, por fora dele. Falam o grego e lêem as Escrituras em grego. Residem em Jerusalém temporariamente. O seu contacto com outras realidades culturais torna-os, ordinariamente, mais tolerantes e abertos à novidade.
    Com dois grupos tão diversos - quer do ponto de vista cultural, quer do ponto de vista religioso, quer do ponto de vista social - a integrar a mesma comunidade, era natural que, mais tarde ou mais cedo, surgissem tensões e conflitos. Aparentemente, aquilo que provoca a questão evocada no nosso texto é um problema de ordem material: na distribuição dos alimentos aos membros necessitados da comunidade, as viúvas helenistas sentiam-se prejudicadas. O facto provocou queixas, levando à intervenção dos líderes da comunidade. De qualquer forma, Lucas não entra em demasiados pormenores sobre a questão.

    MENSAGEM

    Na realidade, Lucas não está interessado em fornecer-nos pormenores de ordem histórica, mas antes em fornecer-nos um quadro teológico que nos permita conhecer o rosto da Igreja e entender a forma como ela se apresenta ao mundo. Nesta perspectiva, há quatro ideias fundamentais que o nosso texto nos propõe.
    A primeira resulta do próprio facto relatado... A Igreja aparece, nesta história, não como um quadro ideal de perfeição, mas como uma comunidade bem real e bem normal, formada por homens e mulheres, onde as tensões, os preconceitos, as rivalidades, as invejas e os ciúmes marcam a experiência diária de caminhada. Isto não deve assustar-nos ou decepcionar-nos: resulta das limitações e finitude que também fazem parte da nossa existência histórica. A Igreja não é uma comunidade de homens e mulheres perfeitos; mas é uma comunidade que está - ou tem de estar - em contínuo processo de conversão, ao longo de cada passo da sua caminhada na história.
    A segunda diz respeito à estrutura hierárquica e ao modo de exercer (na Igreja) o serviço da autoridade. Não há dúvida que Lucas conhecia, já, uma estrutura hierárquica em que os Doze desempenhavam o serviço da orientação e da direcção da comunidade. Por isso, eles aparecem na nossa história como as referências fundamentais, a quem os membros da comunidade recorrem, a fim de resolver a questão das diferenças entre os vários grupos. De qualquer forma, fica a impressão, pelo desenrolar da acção, que os Doze não estão interessados em esquemas de poder absoluto; antes, procuram envolver a comunidade no processo, fazendo com que todos participem na procura de soluções para os problemas comuns.
    A terceira revela a Igreja como uma comunidade de serviço. Fala-se na escolha de sete homens "cheios do Espírito Santo", cuja missão é o serviço das mesas. Na verdade, estes "sete" aparecem, noutros episódios, mais ligados ao serviço da Palavra do que ao serviço das mesas (é possível que estes "sete" - todos com nomes gregos - sejam os dirigentes da comunidade cristã judeo-helenística e que Lucas tenha fundido duas tradições diversas: a dos pregadores e dirigentes do grupo helenista, com a dos escolhidos para uma função propriamente diaconal, de serviço e ministério assistencial). De qualquer forma, nada invalida esta verdade fundamental: a comunidade cristã é uma realidade que tem no centro da sua dinâmica o serviço - seja o serviço da Palavra, seja o serviço de assistência aos irmãos mais pobres. É impensável uma comunidade cristã onde não esteja bem viva esta dimensão diaconal.
    A quarta tem a ver com o papel relevante que o Espírito desempenha nas "crises" de crescimento que fazem parte da caminhada comunitária. O Espírito aparece ligado, seja à vocação (dos que são chamados a exercer a diaconia - cf. Act 6,3), seja à missão (o gesto de impor as mãos pode significar, quer a escolha para um serviço comunitário, quer a invocação do Espírito para que eles possam concretizar a missão que lhes foi confiada). De qualquer forma, a Igreja é a comunidade do Espírito, criada, animada e dinamizada pelo Espírito.
    O nosso texto termina com um pequeno sumário (cf. Act 6,7) cujo objectivo é assinalar o avanço irresistível da Boa Nova, por acção dos discípulos de Jesus, animados pelo Espírito.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão pode considerar os seguintes pontos:

    • É difícil encontrarmos, no nosso tempo, uma realidade que suscite tantas paixões e ódios como a Igreja: uns defendem-na intransigentemente, justificando até as falhas mais injustificáveis, outros atacam-na cegamente, culpando-a de todos os males do mundo. Uns e outros deviam ter presente que se trata de uma comunidade que vem de Jesus e é animada pelo Espírito, mas formada por homens; que ela é a testemunha no mundo do plano de salvação de Deus, mas é também (dada a sua faceta humana) uma realidade "a fazer-se", em contínuo processo de conversão. Os homens do nosso tempo devem exigir que a Igreja seja fiel à sua missão no mundo; mas devem também compreender as suas falhas, dificuldades e infidelidades.

    • A comunidade cristã referida no nosso texto leva-nos a uma época muito recuada, em que as estruturas não estavam ainda definidas e organizadas; mas, no quadro que Lucas nos propõe, há já irmãos investidos do serviço da autoridade (os Doze), que são ponto de referência quando surgem questões e problemas. Os Doze, no entanto, não reservam para si toda a autoridade, nem aceitam ser os únicos protagonistas no processo de condução da comunidade... De acordo com o quadro que nos é apresentado, eles convocam a comunidade, convidam-na a escolher as pessoas a quem devem ser confiados certos serviços, envolvem-na na busca do caminho. Infelizmente, ao longo dos séculos esquecemos, muitas vezes, esta dinâmica: a Igreja foi muitas vezes apresentada como uma sociedade de desiguais, onde uns mandam e outros obedecem em silêncio. É preciso redescobrir o valor do diálogo e da participação, na Igreja. Não se trata de discutir se a Igreja deve ou não ser uma sociedade democrática; trata-se de termos consciência de que somos uma família onde todos temos voz, porque em todos habita o mesmo Espírito; trata-se de potenciar mecanismos de escuta, de diálogo e de participação, a fim de que a Igreja seja uma família, onde todos participam na descoberta dos caminhos do Espírito.

    • Desde o início, a Igreja aparece como uma comunidade de serviço: os membros da comunidade cristã são convidados a seguir Jesus, que fez da sua vida uma entrega total ao serviço de Deus, ao serviço do Reino e ao serviço dos homens. Quando Deus concede determinados dons e confia determinadas missões, não se trata de privilégios que conferem à pessoa mais dignidade ou mais importância: trata-se de dons que devem ser postos ao serviço da comunidade, em ordem à construção da comunidade. As missões que nos são confiadas no âmbito comunitário não podem ser utilizados para promoção pessoal ou para concretizar sonhos egoístas; mas devem ser missões que desempenhamos com verdadeiro espírito de serviço, em benefício dos irmãos.

    SALMO RESPONSORIAL - Salmo 32 (33)

    Refrão 1: Esperamos, Senhor, na vossa misericórdia.

    Refrão 2: Venha sobre nós a vossa bondade,
    porque em Vós esperamos, Senhor.

    Justos, aclamai o Senhor,
    os corações rectos devem louvá 1'O.
    Louvai o Senhor com a cítara,
    cantai Lhe salmos ao som da harpa.

    A palavra do Senhor é recta,
    da fidelidade nascem as suas obras.
    Ele ama a justiça e a rectidão:
    a terra está cheia da bondade do Senhor.

    Os olhos do Senhor estão voltados para os que O temem,
    para os que esperam na sua bondade,
    para libertar da morte as suas almas
    e os alimentar no tempo da fome.

    LEITURA II - 1 Pedro 2,4-9

    Leitura da Primeira Epístola de São Pedro

    Caríssimos:
    Aproximai vos do Senhor, que é a pedra viva,
    rejeitada pelos homens,
    mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus.
    E vós mesmos, como pedras vivas,
    entrai na construção deste templo espiritual,
    para constituirdes um sacerdócio santo,
    destinado a oferecer sacrifícios espirituais,
    agradáveis a Deus por Jesus Cristo.
    Por isso se lê na Escritura:
    «Vou pôr em Sião uma pedra angular, escolhida e preciosa;
    e quem nela puser a sua confiança não será confundido».
    Honra, portanto, a vós que acreditais.
    Para os incrédulos, porém,
    «a pedra que os construtores rejeitaram
    tornou se pedra angular»,
    «pedra de tropeço e pedra de escândalo».
    Tropeçaram por não acreditarem na palavra,
    à qual foram destinados.
    Vós, porém, sois «geração eleita, sacerdócio real,
    nação santa, povo adquirido por Deus,
    para anunciar os louvores»
    d'Aquele que vos chamou das trevas para a sua luz admirável.

    AMBIENTE

    Há já algumas semanas que a Primeira Carta de Pedro acompanha a nossa caminhada litúrgica. Já sabemos, portanto, que ela se destina a comunidades cristãs de certas zonas rurais da Ásia Menor; essas comunidades são maioritariamente formadas por cristãos de classes sociais baixas, vulneráveis à hostilidade do mundo que os rodeia, para quem se aproximam tempos muito difíceis (por causa das perseguições que se adivinham). Estamos no final do século I (talvez no final da década de 80).
    O autor recorda aos destinatários da carta o exemplo de Cristo, que passou pela cruz, antes de chegar à ressurreição. Toda a carta é um convite à esperança: apesar dos sofrimentos do tempo presente, os crentes não devem desanimar, pois estão destinados a triunfar com Cristo. Pede-se-lhes que enfrentem corajosamente as adversidades e que viam com fidelidade o seu compromisso baptismal.
    O texto que nos é proposto faz parte de uma secção parenético-doutrinal (cf. 1 Pe 2,1-10), que tem como finalidade exortar os cristãos a crescer na fé, de forma a chegarem à salvação.

    MENSAGEM

    A imagem determinante deste texto é a da "pedra" (vers. 4.5.6.7.8), que é usada, sobretudo, referida a Cristo.
    A imagem leva-nos a Is 28,16, onde se refere ao novo Templo que o próprio Jahwéh, no futuro, vai construir e que será um sinal da intervenção de Deus em favor do seu Povo. Isaías anuncia que Deus vai colocar em Sião uma pedra, provada, angular, de alicerce, que terá uma inscrição: "quem nela se apoia, não vacila". A imagem (retomada pelo Sal 118,22) adquire, no judaísmo tardio, uma conotação messiânica: o "Messias" será essa pedra, sobre a qual Deus vai construir a sua intervenção salvadora na história, em favor do seu Povo.
    O autor da Primeira Carta de Pedro aplica esta imagem a Cristo. Cristo é essa pedra escolhida, preciosa, viva (alusão à ressurreição, significa, também, que é dela que brota vida para o Povo de Deus), sobre a qual Deus fundamenta a sua intervenção salvadora em favor dos homens.
    Os cristãos são convidados a aproximar-se de Cristo (isto é, a aderir à sua proposta, a segui-l'O no caminho do dom da vida, a cimentarem a sua comunhão com Ele) e a entrar na construção do edifício de Cristo - um edifício espiritual, cujo fim é "oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus" (vers. 5). No antigo Templo de Jerusalém - construído com pedras materiais - ofereciam-se sacrifícios de animais para expressar a comunhão do Povo com Jahwéh; mas, no novo Templo (que tem Cristo como pedra angular e os cristãos como pedras vivas, ligadas a Cristo), oferecer-se-ão sacrifícios espirituais: uma vida santa, vivida na entrega a Deus e no dom aos irmãos. Os membros desta "construção" serão um povo de sacerdotes, que diariamente oferecerão a Deus aquilo que têm de mais precioso: a sua vida e o seu amor.
    Esta "construção" será rejeitada pelos homens (alude-se, aqui, à paixão e morte de Jesus; alude-se, também, às dificuldades que os crentes em geral e os destinatários da carta em particular encontram na vivência e no testemunho da sua fé); mas, para Deus, esta comunidade/Templo será uma "geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido por Deus para anunciar os louvores" (vers. 9). A citação leva-nos a Ex 19,5-6, onde se refere à comunidade da "aliança": o seu uso neste contexto significa que, agora, apesar da rejeição do mundo, os cristãos são a comunidade da "nova aliança", o povo que Deus libertou, que Deus conduziu da escravidão para a liberdade e a quem Deus encarregou de testemunhar diante do mundo o seu projecto de salvação.

    ACTUALIZAÇÃO

    Considerar as seguintes questões:

    • Depois de dois mil anos de cristianismo, parece que nem sempre se nota a presença efectiva de Cristo nesses caminhos em que se constrói a história do mundo e dos homens. O verniz cristão de que revestimos a nossa civilização ocidental não tem impedido a corrida aos armamentos, os genocídios, os actos bárbaros de terrorismo, as guerras religiosas, o capitalismo selvagem... Os critérios que presidem à construção do mundo estão, demasiadas vezes, longe dos valores do Evangelho. Porque é que isto acontece? Podemos dizer que Cristo é, para os cristãos, a referência fundamental? Nós cristãos fizemos d'Ele, efectivamente, a "pedra angular" sobre a qual construímos a nossa vida e a história do nosso tempo?

    • Os cristãos são "pedras vivas" de um "templo espiritual" do qual Cristo é a "pedra angular". A imagem traduz a realidade de uma comunidade que se junta à volta de Cristo, que vive em união com Ele, que comunga do seu destino, que assume totalmente o seu projecto. A esta comunidade chama-se Igreja... Sinto-me pedra integrante deste "edifício"? Procuro, todos os dias, limar as arestas que me impedem de aderir - de forma mais plena - a Cristo? Procuro, todos os dias, revitalizar o "cimento" que me une às outras pedras do edifício - os meus irmãos?

    • As "pedras vivas" do Templo do Senhor formam um Povo de sacerdotes, cuja missão é viver uma vida coerente com os compromissos assumidos no dia do Baptismo - isto é, viver (como Cristo) na entrega a Deus e no amor aos irmãos. Quais são os "sacrifícios" que eu procuro entregar a Deus, todos os dias? A minha "oferta" a Deus é um conjunto de ritos desligados da vida (por mais sagrados que sejam) ou é a vivência do amor, nos gestos simples do dia a dia?

    • Neste texto há ainda um convite a não ter medo da incompreensão do mundo. O próprio Cristo foi rejeitado pelos homens; mas a sua fidelidade aos projectos do Pai fizeram d'Ele a "pedra angular" da construção de Deus. É esse exemplo que devemos ter diante dos olhos, quando doer mais a incompreensão do mundo.

    ALELUIA - Jo 14,6

    Aleluia. Aleluia.

    Eu sou o caminho, a verdade e a vida, diz o Senhor;
    ninguém vai ao Pai senão por mim.

    EVANGELHO - Jo 14,1-12

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:
    «Não se perturbe o vosso coração.
    Se acreditais em Deus, acreditai também em Mim.
    Em casa de meu Pai há muitas moradas;
    se assim não fosse, Eu vo lo teria dito.
    Vou preparar vos um lugar
    e virei novamente para vos levar comigo,
    para que, onde Eu estou, estejais vós também.
    Para onde Eu vou, conheceis o caminho».
    Disse Lhe Tomé:
    «Senhor, não sabemos para onde vais:
    como podemos conhecer o caminho?»
    Respondeu lhe Jesus:
    «Eu sou o caminho, a verdade e a vida.
    Ninguém vai ao Pai senão por Mim.
    Se Me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai.
    Mas desde agora já O conheceis e já O vistes».
    Disse Lhe Filipe:
    «Senhor, mostra nos o Pai e isto nos basta».
    Respondeu lhe Jesus:
    «Há tanto tempo que estou convosco
    e não Me conheces, Filipe?
    Quem Me vê, vê o Pai.
    Como podes tu dizer: 'Mostra nos o Pai'?
    Não acreditas que Eu estou no Pai e o Pai está em Mim?
    As palavras que Eu vos digo, não as digo por Mim próprio;
    mas é o Pai, permanecendo em Mim, que faz as obras.
    Acreditai Me: Eu estou no Pai e o Pai está em Mim;
    acreditai ao menos pelas minhas obras.
    Em verdade, em verdade vos digo:
    quem acredita em Mim fará também as obras que Eu faço
    e fará ainda maiores que estas,
    porque Eu vou para o Pai».

    AMBIENTE

    Estamos na fase final da caminhada histórica do "Messias". Até este momento, Jesus cumpriu a sua missão em confronto aberto com os dirigentes judeus. Precisamente o último e mais importante dos seus "sinais" - a ressurreição de Lázaro - levou o Sinédrio a decidir matá-l'O (cf. Jo 11,45-54). Jesus está consciente de que a morte está no seu horizonte próximo.
    O ambiente em que este trecho nos coloca é o de uma ceia de despedida. Nessa ceia (realizada na quinta-feira à noite, pouco tempo antes da prisão, na véspera da morte), estão Jesus e os discípulos. No decurso da ceia, Jesus despede-Se dos discípulos e faz-lhes as suas últimas recomendações. As palavras de Jesus soam a "testamento" final: Ele sabe que vai partir para o Pai e que os discípulos vão continuar no mundo.
    Os discípulos, da sua parte, já perceberam que o ambiente é de despedida e que, daí a poucas horas, o seu "mestre" lhes vai ser tirado. Estão inquietos e preocupados. A aventura que eles começaram com Jesus, na Galileia, terá chegado ao fim? Essa relação que eles construíram com o "mestre" irá morrer? Os discípulos não sabem o que vai acontecer nem que caminho vão, a partir daí, percorrer. Sobretudo, não sabem como é que manterão, após a partida de Jesus, a sua relação com Ele e com o Pai.
    É neste contexto que podemos situar as palavras de Jesus que o Evangelho de hoje nos apresenta.

    MENSAGEM

    A catequese desenvolvida pelo autor do Quarto Evangelho, neste diálogo de Jesus com os discípulos, é de uma impressionante densidade teológica. Fundamentalmente, trata-se de uma catequese sobre "o caminho": o "caminho" que Jesus percorreu e que é o mesmo "caminho" que os discípulos são convidados a percorrer. Vamos tentar esmiuçar o conteúdo e pôr em relevo os pontos fundamentais.
    O plano de salvação de Deus passa por estabelecer com os homens uma relação de comunhão, de familiaridade, de amor. Por isso, Jesus veio ao mundo: para tornar os homens "filhos de Deus" ("aos que O receberam, aos que crêem n'Ele, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus" - Jo 1,12).
    Como é que Jesus concretizou esse projecto? Ele "montou a sua tenda no meio dos homens" (Jo 1,14) e ofereceu aos homens um "caminho" de vida em plenitude: mostrou aos homens, na sua própria pessoa, como é que eles podem ser Homens Novos - isto é, homens que vivem na obediência total aos planos do Pai e no amor aos irmãos. Viver desse jeito é viver numa dinâmica divina, entrar na intimidade do Pai, tornar-se "filho de Deus".
    Na ceia de despedida a que o nosso texto se refere, Jesus sente que está a começar o último acto da missão que o Pai lhe confiou (criar o Homem Novo). Falta oferecer aos discípulos a última lição - a lição do amor que se dá até à morte; falta também o dom do Espírito, que capacitará os homens para viverem como Jesus, na obediência a Deus e na entrega aos homens. Para que esse último acto se cumpra, Jesus tem de passar pela morte: tem de "ir para o Pai". Ao dizer "vou preparar-vos um lugar" (vers. 2b), Jesus sugere que tem de ir ao encontro do Pai, para que os homens possam (pela lição do amor e pelo dom do Espírito) fazer parte da família de Deus.
    Nessa família, há lugar para todos os homens ("na casa de meu Pai há muitas moradas" - vers. 2a): basta que sigam "o caminho" de Jesus - isto é, que escutem as suas propostas e que aceitem viver como Homens Novos, no amor e no dom da vida. A "casa do Pai" é a comunidade dos seguidores de Jesus (a Igreja).
    Qual é o "caminho" para chegar a fazer parte dessa família de Deus? - perguntam os discípulos (eles foram testemunhas da vida que Jesus levou e, portanto, conhecem de cor o "mapa" desse "caminho"; mas continuam a recusar-se a acreditar que o dom da vida seja um caminho obrigatório para fazer parte da família de Deus - vers. 4-5).
    A resposta é simples... O "caminho" é Jesus (vers. 6): é a sua vida, os seus gestos de amor e de bondade, a sua morte (dom da vida por amor) que mostram aos homens o itinerário que eles devem percorrer. Ao aceitarem percorrer esse "caminho" de identificação com Jesus, os homens estão a ir ao encontro da verdade e da vida em plenitude. Quem aceita percorrer esse "caminho" de amor, de entrega, de dom da vida, chega até ao Pai e torna-se - como Jesus - "filho de Deus".
    Mais: ao identificarem-se com Jesus, os discípulos estabelecem uma relação íntima e familiar com o Pai, porque o Pai e Jesus são um só (vers. 7-12). O Pai está presente em Jesus. Quem adere a Jesus e estabelece com Ele laços de amor, já faz parte da família do Pai, porque Jesus é o Deus que veio ao encontro dos homens: as obras de Jesus são as obras do Pai; o seu amor é o amor do Pai; a vida que Ele oferece é a vida que o Pai dá aos homens.
    Em conclusão: os discípulos de Jesus têm de percorrer um "caminho", até chegarem a ser família de Deus. Esse "caminho" foi traçado por Jesus, na obediência a Deus e no amor aos homens. É no final desse "caminho" que os discípulos - tornados Homens Novos - encontrarão o Pai e serão integrados na família de Deus.
    No entanto, Jesus não é somente o modelo do "caminho"; ao mesmo tempo, Ele oferece como dom a força, a energia (o Espírito) para que o homem possa percorrer "o caminho". É o Espírito do Senhor ressuscitado que renova e transforma o homem, no sentido de o levar, cada dia, a tornar-se Homem Novo, que vive na obediência a Deus e no amor aos irmãos. Desta dinâmica, nasce a comunidade de Homens Novos, a família de Deus, a Igreja.

    ACTUALIZAÇÃO

    Para a reflexão, considerar os seguintes dados:

    • A Igreja é essa comunidade de Homens Novos, que se identifica com Jesus que, animada pelo Espírito, segue "o caminho" de Jesus (caminho de obediência aos planos do Pai e de dom da vida aos irmãos), que procura dar testemunho de Jesus no meio dos homens e que é a "família de Deus". No dia do nosso baptismo, fomos integrados nesta família... A nossa vida tem sido coerente com os compromissos que, então, assumimos? Sentimo-nos "família de Deus", ou deixamos que o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência falem mais alto e escolhemos caminhar à margem desta família? É verdade que esta família tem falhas, e é verdade que nem sempre encontramos nela humanidade e amor. Que fazemos, então: afastamo-nos, ou esforçamo-nos para que ela viva de forma mais coerente e verdadeira?

    • Falar do "caminho" de Jesus é falar de uma vida dada a Deus e gasta em favor dos irmãos, numa doação total e radical, até à morte. Os discípulos são convidados a percorrer, com Jesus, esse mesmo "caminho". Paradoxalmente, dessa entrega (dessa morte para si mesmo) nasce o Homem Novo, o homem na plenitude das suas possibilidades, o homem que desenvolveu até ao extremo todas as suas potencialidades. É esse "caminho" que eu tenho vindo a percorrer? A minha vida tem sido uma entrega a Deus e doação aos meus irmãos? Tenho procurado despir-me do egoísmo e do orgulho que impedem o Homem Novo de aparecer?

    • A comunhão do crente com o Pai e com Jesus não resulta de momentos mágicos nos quais, através da recitação de certas fórmulas ou do cumprimento de certos ritos, a vida de Deus bombardeia e inunda incondicionalmente o crente; mas a intimidade e a comunhão com Jesus e com o Pai estabelecem-se percorrendo o caminho do amor e da entrega, em doação total a Deus e aos irmãos. Quem quiser encontrar-se com Jesus e com o Pai, tem de sair do egoísmo e a fazer da sua vida um dom a Deus e aos homens.

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 5º DOMINGO DA PÁSCOA
    (adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")

    1. A LITURGIA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao 5º Domingo da Páscoa, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa...

    2. VALORIZAR O ALTAR.
    A segunda leitura é extraída da Primeira Carta de Pedro: Jesus é a pedra viva... a pedra angular... a pedra rejeitada pelos construtores... Através de iluminação ou de flores, poder-se-á pôr em destaque o altar, símbolo de Cristo, pedra sobre a qual repousa a Igreja, templo espiritual. Liturgicamente, é o altar (e não o sacrário) que está no centro do espaço de celebração das nossas igrejas. Seria bom igualmente pôr em evidência a ligação entre o altar e a cruz: "a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular".

    3. BILHETE DE EVANGELHO.
    Dar um passo... Alguém dizia, durante uma homilia: "a fé começa pelos pés!" De facto, a fé é uma resposta e uma caminhada. Foi a aventura destes onze homens reunidos numa sala, em Jerusalém. Estavam cheios de medo, mas lançaram-se, algum tempo mais tarde, pelas ruas da Palestina e para além disso. Sentiram-se possuídos pelo Espírito recebido no Pentecostes. É a aventura das crianças que, nestes dias, vão começar a comungar: são convidadas ao Banquete do Senhor, vão responder a este convite. É a aventura dos jovens que, por ocasião da sua profissão de fé, decidiram dar um passo para Deus, ousando dizer: "Creio!". É a aventura dos jovens que, em certo período do ano, vão ser confirmados, um passo que lhes faz pedir a ajuda do Espírito. Somos todos convidados a dar um passo, para o Senhor e para os nossos irmãos. Sim, sejamos cristãos a caminho.

    4. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

    No final da primeira leitura:
    Pai, nós Te damos graças pelo teu Espírito Santo, que suscita em todo o tempo, nas nossas comunidades, iniciativas para o acolhimento do teu Reino.
    Nós Te pedimos por todos os ministérios e serviços na Igreja, pelos diáconos, leitores, catequistas, pelos cristãos empenhados nas pastorais especializadas, a saúde, a informação, etc.

    No final da segunda leitura:
    Nós Te damos graças por Jesus Ressuscitado: Ele é a pedra viva e a pedra angular, que a morte não conseguiu eliminar. Ele é a rocha sobre a qual repousa a nossa fé. Por Ele e n'Ele nós Te apresentamos as nossas oferendas espirituais.
    Nós Te pedimos pelo teu povo, templo espiritual, nação santa, sacerdócio real, para que ele testemunhe em todo o lugar a tua admirável luz.

    No final do Evangelho:
    Pai, nós Te bendizemos por Jesus, teu Filho, porque Ele é para nós o Caminho, a Verdade e a Vida. N'Ele descobrimos o teu rosto.
    Nós Te pedimos: pelo teu Espírito Santo, faz-nos reconhecer e habitar na tua presença. Que Jesus, a tua Palavra viva, habite em nós e suscite obras de salvação. Que Ele nos conduza para Ti.

    5. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
    Pode-se escolher a Oração Eucarística I, dizendo o nome dos Apóstolos, em particular os citados no Evangelho.

    6. PALAVRA PARA O CAMINHO.
    "Sede as pedras vivas..." Que espécie de pedras somos nós na construção da nossa Igreja em 2005? Pedras que procuram ajustar-se umas às outras, em harmonia com a "Pedra angular"? Ou pedras que se opõem umas às outras e se eliminam mutuamente? Que "Templo espiritual" estamos nós a construir?

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    Proposta para
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
    Tel. 218540900 - Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.org

  • 5ª Semana - Segunda-feira - Páscoa

    5ª Semana - Segunda-feira - Páscoa


    8 de Maio, 2023

    5ª Semana - Segunda-feira - Páscoa

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 14, 5-18

    Naqueles dias, surgiu em Icónio um movimento da parte dos pagãos e dos judeus, conduzidos pelos respectivos chefes, levantou-se um movimento para os maltratar e apedrejar. 6Logo que tiveram conhecimento disso, refugiaram-se nas cidades da Licaónia, Listra e Derbe, e arredores, 7onde começaram a anunciar a Boa- Nova
    8Havia em Listra um homem aleijado dos pés, coxo de nascença e que nunca tinha andado. 9Um dia, ouviu Paulo falar. Este, fitando nele os olhos e vendo que
    tinha fé para ser curado, 10disse-lhe em voz alta: «Ergue-te, direito sobre os teus pés!» Ele deu um salto e começou a andar. 11Ao ver o que Paulo acabava de fazer, a multidão gritou em licaónio: «Os deuses tomaram forma humana e desceram até
    nós!» 12E chamavam Zeus a Barnabé, e Hermes a Paulo, pois este é que lhes dirigia a palavra. 13Então, o sacerdote do templo de Zeus, venerado junto da cidade, trazendo
    touros e grinaldas para as portas da cidade, pretendia, juntamente com a multidão, oferecer-lhes um sacrifício. 14Ao terem conhecimento disso, os Apóstolos Barnabé e Paulo rasgaram as vestes e precipitaram-se para a multidão, gritando: 15«Amigos, que fazeis? Também nós somos homens da mesma condição que vós, homens que vos anunciam a Boa-Nova de que deveis abandonar os ídolos vãos e voltar-vos para o Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo quanto neles se encontra. 16Nas gerações passadas, permitiu que todos os povos seguissem os seus próprios caminhos,
    17mas nem por isso deixou de dar testemunho da sua generosidade, dispensando-vos do céu chuvas e estações de fertilidade, enchendo os vossos corações de alimento e de felicidade.» 18Mesmo depois de terem assim falado, foi a custo que impediram a multidão de lhes oferecer um sacrifício.

    Lucas, no livro dos Actos, narra algumas curas de paralíticos: duas realizadas por Pedro (Act 3, 1ss; Act 9, 32ss.) e uma realizada por Paulo (Act 14, 8ss.). Já no evangelho narrara uma outra realizada por Jesus (Lc 5, 18ss.). Quer assim mostrar que os Apóstolos continuam as obras de Jesus, ao proclamarem o Evangelho aos judeus em Jerusalém (milagres de Pedro) e aos pagãos no seu próprio mundo (milagre de Paulo). Lucas realça também um certo paralelismo entre os «actos de Pedro» e os «actos de Paulo», como são conhecidos alguns capítulos dos Actos dos Apóstolos, devido ao protagonismo que neles tem um ou outro.
    A reacção do público é que é diferente: enquanto em ambiente judaico o
    milagre leva a glorificar a Deus (cf. 4, 21), em ambiente pagão leva a glorificar os homens. Uma antiga lenda, conhecida na região de Listra, falava de dois camponeses que, sem saberem, tinha dado hospitalidade a Zeus e a Hermes. Hermes era o deus da saúde, e Paulo, acompanhado por Barnabé, tinha curado o paralítico. Não andariam por aí novamente os deuses? De qualquer modo, não convinha punir impensadamente aqueles que os não aceitavam. Daí a atitude em relação aos apóstolos.
    O discurso que vem a seguir é importante, porque é o primeiro directamente dirigido aos pagãos. Não são citadas as Escrituras, mas convidam-se os pagãos a converterem-se dos ídolos ao Deus vivo e verdadeiro, criador de todas as coisas. É um exemplo de inculturação e de adaptação à situação concreta dos ouvintes.

    Evangelho: João 14, 21-26

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Quem recebe os meus mandamentos e os observa esse é que me tem amor; e quem me tiver amor será amado por meu Pai, e Eu o amarei e hei-de manifestar-me a ele.» 22Perguntou-lhe Judas, não o Iscariotes: «Porque te hás-de manifestar a nós e não te manifestarás ao mundo?» 23Respondeu-lhe Jesus: «Se alguém me tem amor, há-de guardar a minha palavra; e o meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e nele faremos morada. 24Quem não me tem amor não guarda as minhas palavras; e a palavra que ouvis não é minha, mas é do Pai, que me enviou.» 25«Fui-vos revelando estas coisas enquanto tenho permanecido convosco; 26mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, e há-de recordar-vos tudo o que Eu vos disse.»

    Os discípulos de Jesus são amados pelo Pai. Porquê? Porque o amor do Pai por Jesus também atinge os seus discípulos. Por Jesus, os crentes participam no amor do Pai pelo Filho.
    Jesus tinha prometido manifestar-se aos seus discípulos. Judas, irmão de Tiago, não entendia o modo como Jesus se manifestava. Pensava certamente numa manifestação gloriosa e messiânica diante de todos. Mas, durante o seu ministério terreno, o Mestre tinha tomado uma aparência humilde. Por isso, tinha provocado uma certa indiferença em relação à sua pessoa, e mesmo atitudes de recusa. Mas, agora, como dizia o próprio Jesus, esse período tinha terminado. Tinha começado a sua «glorificação». Por que é que não se manifestava de modo sensacional ao mundo? Jesus aproveita a ocasião para voltar a falar da presença de Deus na vida do crente. Só quem ama é capaz de observar a palavra de Jesus e de acolher a sua manifestação espiritual e interior. E quem observa a palavra é amado pelo Pai. Mais ainda: quem ama a Jesus, recebe a sua presença no seu íntimo, juntamente com a do Pai e a do Espírito Santo.
    A manifestação de Jesus será espiritual, sem milagres e sem sensacionalismos exteriores. É que a manifestação de Jesus só é possível na obediência e no amor. Por isso é que se manifesta aos crentes, e não ao mundo.
    A perícopa termina com a promessa do Espírito que tudo recordará e fará
    entender. Graças a Ele, os crentes poderão aprofundar e interpretar as palavras, a vida e a pessoa de Jesus em todas as dimensões e com todo o alcance para a vida da Igreja.

    Meditatio

    Barnabé e Paulo continuam a obra de Jesus: anunciam a Boa Nova e realizam curas prodigiosas. A sua pregação é inculturada. A reacção dos ouvintes é diferente. Os judeus glorificam a Deus. Os pagãos tentam glorificar os apóstolos. Estes resistem. Sabem que as maravilhas que realizam apenas acontecem pelo poder de Jesus que está com eles. Como seria bom que todos os agentes pastorais tivessem a mesma consciência e reagissem como Barnabé e Paulo...
    O evangelho leva-nos a meditar no mistério da inabitação da Trindade com um grande sentido de intimidade e de realismo. «Nós viremos a ele e nele faremos morada», diz o Senhor. Estas palavras revelam-nos a impensável intimidade que Deus quer ter com os homens. É nessa intimidade que Jesus se revela a nós, e n
    os revela os seus segredos por meio do Espírito Santo, o Mestre da vida espiritual. Noutros tempos este tema da inabitação era muito caro aos cristãos. Uma vida «habitada» por Deus é bem diferente de uma vida deserta, sem Deus, encerrada nos estreitos limites humanos.

    A vida do crente é visitada por Deus. Ele habita no mais íntimo do coração de cada um. É, na verdade, o doce hóspede da alma. Como é possível viver distraídos, fora de si, com um tão grande hóspede na alma?
    Mas o evangelho também nos leva ao realismo. O amor do cristão não paira nas nuvens. É um amor muito concreto: «Quem recebe os meus mandamentos e os observa esse é que me tem amor» (v. 21). O amor que Jesus espera de nós não se manifesta em palavras ou sentimentos vagos mas na vontade de amarmos a sua vontade. Assim foi o seu amor pelo Pai. Sem união de vontades não há verdadeiro amor. Quem ama a Jesus, ama cumprir a sua vontade. E quem ama a Jesus, cumprindo a sua vontade, é amado pelo Pai, que quer a glorificação do Filho.
    «Se alguém me tem amor, há-de guardar a minha palavra; e o meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e nele faremos morada». (Jo 14, 23). Quantas vezes, procuramos a Deus fora de nós ou acima de nós. Mas Deus está dentro de nós: «mais íntimo do que o meu íntimo...», como afirma Santo Agostinho (Confissões 3.6.11). Realiza-se deste modo a palavra de S. Paulo: «Cristo habite pela fé, nos vossos corações de sorte que, enraizados e fundados no amor, possais compreender... qual é a largura e o comprimento, a altura e a profundidade e conhecer (fazer a experiência), enfim, o amor de Cristo que excede todo o conhecimento, para serdes repletos da plenitude de Deus» (Ef 3,17-19).
    Experimentar o mistério de Cristo no mais íntimo de nós mesmos, no eu profundo, no "coração" entendido biblicamente". O "coração" é o lugar teológico da verdadeira oração, do encontro de amor com Cristo.

    Oratio

    Senhor Jesus, eu te bendigo e Te dou graças porque, hoje, me fazes compreender a maravilha da inabitação da Trindade em mim. Dá-me a graça de apreciar esse magnífico dom e de desejar, com todo o meu coração, viver Contigo numa intimidade cada vez mais profunda. Faz-me amar o que me ordenas, de modo que possa viver e experimentar o teu amor sem medida.
    Perdoa-me por ter superlotado o meu coração de pessoas e de coisas, que não deixam lugar para Ti, que monopolizam a minha atenção, fazendo-me esquecer de Ti. Quantas vezes, sofro de solidão, porque não me lembro da tua presença.
    Que, em todos os momentos da minha vida, possa ver-te e sentir-te como o meu Tu, e estabelecer Contigo um perene diálogo de amor. Amen.

    Contemplatio

    Jesus quer ser amado pelos homens e sobretudo por aqueles que estão consagrados ao seu Coração. Mas é preciso não esquecer que é por Jesus que vamos ao Pai. «Se alguém me ama, disse, observará a minha palavra, meu Pai o amará, viremos a ele e faremos nele a nossa morada» (Jo 14,23). Jesus e o seu Pai comprazem-se em habitar nos corações que os amam e a enchê-los com graças do Espírito Santo. Deus Pai quer esta união de amor com o seu Filho. É por esta união que há-de estender-se o reino do Sagrado Coração.
    Basta ao amor de Nosso Senhor que a massa dos fiéis lhe dedique o afecto que
    uma criança amorosa dá ao seu pai. Mas pede mais, ou antes, oferece mais às almas privilegiadas, aos padres, às almas consagradas. Quer que estas almas o amem com uma grande ternura, que vão ter com Ele com o abandono de um amigo que vai ter com o seu amigo, de um irmão que ama o seu irmão.

    Pensar n' Ele uma vez por dia, no momento em que a regra prescreve uma meditação, isso pode bastar à salvação e à santificação, mas não basta para o seu amor. A meditação de uma alma unida ao Coração de Jesus é incessante; ela prolonga-se mesmo nas ocupações mais variadas. Jesus é de tal modo o objecto dos afectos desta alma, que ela se compraz em procurá-lo por toda a parte. Encontra-O sempre.
    Este género de meditação não exige uma tensão fatigante do espírito. Aliás
    quem ama verdadeiramente não se cansa a pensar no objecto do seu amor. - Um sábio persegue a ideia que o preocupa, mesmo no meio do barulho; um poeta contempla o seu sonho favorito, mesmo no meio das circunstâncias mais absorventes; um amigo pensa no seu amigo ausente, um filho no seu pai, uma esposa no seu esposo.
    Para os amigos do seu Coração, Nosso Senhor é o pai, o amigo, o esposo. Devem
    pensar com o seu coração nas circunstâncias da sua vida. As promessas que Nosso Senhor fez à devoção ao seu Coração sagrado devem entender-se neste sentido. É preciso amar no seu coração o coração de um pai, de um amigo, de um irmão, o coração de um Deus que se fez homem para permitir aos homens abordá-lo com os sentimentos humanos e por aquilo que há de melhor nestes sentimentos: os afectos do coração. - As almas consagradas ao Coração de Jesus devem contrair sem embaraço e sem constrangimento, esta união habitual, sempre respeitosa, mas constante e afectuosa com o Coração de Jesus (Leão Dehon, OSP 4, p.574s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Viremos a ele e nele faremos morada» (Jo 14, 23).

  • 5ª Semana –Terça-feira - Páscoa

    5ª Semana –Terça-feira - Páscoa


    9 de Maio, 2023

    5ª Semana –Terça-feira - Páscoa

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 14, 19-28

    Naqueles dias, 19apareceram, então, vindos de Antioquia e de Icónio, alguns judeus que aliciaram o povo, apedrejaram Paulo e, julgando-o morto, arrastaram-no para fora da cidade. 20Mas, como os discípulos o tivessem rodeado, ele ergueu-se e voltou para a cidade. No dia seguinte, partiu para Derbe com Barnabé.
    21Depois de terem anunciado a Boa-Nova àquela cidade e de terem feito numerosos discípulos, Paulo e Barnabé voltaram a Listra, Icónio e Antioquia.
    22Fortaleciam a alma dos discípulos, encorajavam-nos a manterem-se firmes na fé,
    porque, diziam eles: «Temos de sofrer muitas tribulações para entrarmos no Reino de Deus.» 23Depois de lhes terem constituído anciãos em cada igreja, pela imposição das mãos, e de terem feito orações acompanhadas de jejum, recomendaram-nos ao Senhor, em quem tinham acreditado. 24A seguir, atravessaram a Pisídia, chegaram à Panfília e, 25depois de anunciarem a palavra em Perga, desceram a Atália. 26De lá, foram de barco para Antioquia, de onde tinham partido, confiados na graça de Deus, para o trabalho que agora acabavam de realizar. 27Assim que chegaram, reuniram a igreja e contaram tudo o que Deus fizera com eles, e como abrira aos pagãos a porta da fé. 28E demoraram-se bastante tempo com os discípulos.

    O mundo pagão aceitou com facilidade e entusiasmo o Evangelho. Mas os judeus continuam a reagir com hostilidade aos evangelizadores. É o que revela o episódio narrado no início da perícopa que escutamos hoje. Paulo salvou-se porque os discípulos o rodearam (v. 20), isto é, o defenderam.
    Antes de fazer regressar os missionários à igreja mãe de Antioquia, Lucas oferece-nos alguns dados da máxima importância. Paulo e Barnabé repetem a visita às comunidades já evangelizadas para as ajudar na consolidação da fé. Trata-se de uma verdadeira «visita pastoral», em que os apóstolos encorajam os fiéis e lançam as bases de uma organização eclesiástica (v. 23), que permite a continuidade das igrejas, que lhes custaram «muitas tribulações» (v. 22). A viagem de regresso é descrita de modo sucinto. Ao chegarem a Antioquia prestaram contas do seu trabalho aos irmãos:
    «contaram tudo o que Deus fizera com eles, e como abrira aos pagãos a porta da fé» (v. 27). Para a comunidade de Antioquia, a abertura do Evangelho aos pagãos, era dado adquirido. Mas, na igreja mãe, de Jerusalém nem todos partilhavam dessa opinião. Vão surgir novas tensões, mas também esclarecimentos decisivos.

    Evangelho: João 14, 27-31a

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 27«Deixo-vos a paz; dou-vos a minha paz. Não é como a dá o mundo, que Eu vo-la dou. Não se perturbe o vosso coração nem se acobarde. 28Ouvistes o que Eu vos disse: 'Eu vou, mas voltarei a vós.' Se me tivésseis amor, havíeis de alegrar-vos por Eu ir para o Pai, pois o Pai é mais do que Eu. 29Digo-vo-lo agora, antes que aconteça, para crerdes quando isso acontecer.
    30Já não falarei muito convosco, pois está a chegar o dominador deste mundo; ele nada pode contra mim, 31mas o mundo tem de saber que Eu amo o Pai e actuo como o Pai me mandou. Levantai-vos, vamo-nos daqui!»

    Jesus, ao despedir-se dos seus discípulos, dirige-lhes palavras de adeus e de conforto. O nosso texto começa com o dom da paz (shalom), que inclui todos os bens messiânicos: «Deixo-vos a paz; dou-vos a minha paz» (v. 27). A partida de Jesus não deve causar perturbação ou medo nos seus: «Não se perturbe o vosso coração» (v. 27). Jesus liberta-se da humilhação do seu ministério terreno e caminha para a glória
    do Pai. Ao anunciar a sua morte, Jesus quer apoiar a fé dos discípulos e fazer-lhes ver que o que vai acontecer entra nos planos de Deus.
    O tempo do ministério terreno de Jesus está a terminar, porque «está a chegar o dominador deste mundo» (v. 30). Mas, ainda que ele venha precipitar o fim de Jesus, por meio de Judas Iscariotes, Satanás não tem poder sobre Ele. O poder do Demónio sobre o homem depende dos seus pecados, e Jesus não tem pecado. Por outro lado, o mundo deve saber que Jesus ama o Pai. Ama e obedece. Cumpre o mandamento que recebeu dele e, por isso, entrega a vida. Este é um argumento para que o mundo saiba que Jesus ama o Pai.

    Meditatio

    «Deixo-vos a paz; dou-vos a minha paz» (v. 27). A paz é um dom que Jesus derrama nos nossos corações. Jesus vive em nós e, com Ele, está o Pai e está o Espírito Santo. Quem nos pode perturbar? Paulo, apedrejado, e julgado morto, ergue-se, volta à cidade, anuncia a Boa Nova, faz numerosas conversões e parte para animar na fé e encorajar as comunidades de Listra, Icónio e Antioquia, que também passavam por dificuldades: «Temos de sofrer muitas tribulações para entrarmos no Reino de Deus»,
    – dizia-lhes. O Apóstolo resiste e está tranquilo porque tem em si a paz do Senhor, uma paz que o mundo não pode compreender. Essa paz leva-o a afirmar: «Comprazo-me nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias, por Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte» (2 Cor 12, 10). Pedro também dirá: «Alegrai-vos, pois assim como participais dos padecimentos de Cristo, assim também rejubilareis de alegria na altura da revelação da sua glória» (1 Pe 4, 13).
    Vivemos num mundo cheio de ameaças, as nossas paixões não dão tréguas, tudo
    parece avançar como se Deus não existisse. E, como os discípulos que, na escuridão da noite, se debatiam contra os ventos e contra as ondas do mar, também nós nos enchemos de pavor. Assaltam-nos as dúvidas e a nossa fé entra em crise. Deus cala-se dentro de nós. Parece jogar às escondidas. Não responde aos nossos gritos. É a noite escura da fé. É o momento de a exercitarmos para sentirmos o que não sentimos e vermos o que não vemos. É essa a fé que está na base da paz, que vem da comunhão com Deus. Fé em Deus presente, mas ainda não completamente possuído, fé que amadurece na ausência do Esposo, que se aperfeiçoa na busca do Esposo, fé que se purifica nos momentos mais duros e atrozes. As vidas dos Santos mostram-nos tantos exemplos do que estamos a dizer!
    A paz vem-nos de um olhar de fé sobre a realidade de um Deus presente, mas procurado com o ardor de um coração ferido pela sua ausência. A paz vem quando se aceita o mistério da ausência de Deus, o seu silêncio, o sofrimento e o mistério da cruz como o momento mais alto do amor de Deus e do testemunho do nosso amor por Ele.
    As nossas Constituições lembram-nos: «A vida reparadora será, por vezes,
    vivida na oferta dos sofrimentos suportados com paciência e abandono, mesmo na noite escura e na solidão, como eminente e misteriosa comunhão com os sofrimentos e com a morte de Cristo pela redenção do mundo» (n. 24); «Para Glória e Alegria de Deus» (n. 25). Há que não esquecê-lo, quando a tribulação nos bate à porta. Só assim manteremos a paz.

    Oratio

    Senhor Jesus Cristo, dá-me a paz, dá-me a tua paz. Quantas vezes, procuro paz onde ela não se pode encontrar: longe da cruz, fugindo de tudo o que me incomoda, evitando quem me faz perder a paciência, esquivando-me do que me pode causar aborrecimento e fechando os olhos ao sofrimento dos outros! São tentações que me assaltam frequentemente, como sabes, Senhor! São tentações que me fazem afastar o olhar de Ti, fonte da paz, que me fazem esquecer as tuas palavras construtoras da paz sólida e perene.
    Vence, Senhor, as minhas tentações. Que a tua voz ecoe no meu coração perturbado e me ensine os teus caminhos, aqueles que levam à tua paz. Amen.

    Contemplatio

    O Espírito Santo é o espírito de paz. É como tal que Nosso Senhor no-lo deixa. Dar-nos-á a paz, não aquela do mundo que é falsa, baseada na ilusão e na cegueira, mas uma paz verdadeira, a dos filhos de Deus; uma paz que acalma todas as inquietações da consciência, que consola de todas as mágoas da vida; uma paz que o mundo não conhece, que nada pode perturbar e que é um antegozo das doçuras celestes.
    Esta paz é o fruto do Espírito Santo; repousa sobre a contrição, a humildade,
    o amor do Sagrado Coração e sobre o abandono. «Ne turbetur cor vestrum. Não vos entristeçais, não vos perturbeis por causa da minha ausência. Estou ainda convosco», diz-nos Nosso Senhor. «O meu Espírito vos consolará. Ele alimentará e fortificará a vossa fé. Dir-vos-á que se fui para o Céu, foi para vo-lo abrir e para lá vos preparar uma morada eterna, junto de mim e de meu Pai, vado parare vobis locum... accipiam vos ad meipsum. Ele vos há-de ensinar o caminho que conduz ao céu, é aquele que eu segui. Sou eu mesmo que sou o vosso caminho. Se me amais, seguir-me-eis na paz, na consolação e na alegria» (Leão Dehon, OSP 3, p. 436).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Deixo-vos a paz; dou-vos a minha paz» (Jo 14, 27).

  • 5ª Semana –Quarta-feira - Páscoa

    5ª Semana –Quarta-feira - Páscoa


    10 de Maio, 2023

    5ª Semana –Quarta-feira - Páscoa

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 15, 1-6

    Naqueles dias, 1alguns homens que tinham descido da Judeia ensinavam aos irmãos: «Se não vos circuncidardes, de harmonia com o uso herdado de Moisés, não podereis ser salvos.» 2Depois de muita confusão e de uma controvérsia bastante viva de Paulo e Barnabé contra eles, foi resolvido que Paulo, Barnabé e mais alguns outros subissem a Jerusalém para consultarem, sobre esta questão, os Apóstolos e os Anciãos. 3Então, depois de despedidos pela igreja, atravessaram a Fenícia e a Samaria, relatando a conversão dos pagãos, o que causava imensa alegria a todos os irmãos. 4Chegados a Jerusalém, foram recebidos pela igreja, pelos Apóstolos e Anciãos e contaram tudo o que Deus fizera com eles. 5Levantaram-se alguns do partido dos fariseus, que tinham abraçado a fé, dizendo que era preciso circuncidar os pagãos e impor-lhes a observância da Lei de Moisés. 6Os Apóstolos e os Anciãos reuniram-se para examinarem a questão.

    O conflito que levou ao Concílio de Jerusalém, julgado do nosso ponto de vista, pode parecer-nos infantil. Mas, observado a partir do contexto que o provocou, revela- se mais sério, e podemos compreender melhor a angústia dos irmãos de Jerusalém. Esta narração do livro dos Actos (capítulo 15) é o eixo à volta do qual gira toda a obra de Lucas. O Concílio de Jerusalém resolveu, ou lançou as bases para a resolução, do maior problema e da crise que afectava a Igreja, pois afirmou a liberdade do Evangelho, salvando, ao mesmo tempo, a unidade da mesma Igreja. As questões eram várias entre os judeo-cristãos: que valor tinha o Antigo Testamento, particularmente a Lei, em relação ao novo povo de Deus? Há continuidade no plano de Deus, supondo a novidade radical do cristianismo? Mas, do ponto de vista dos étnico-cristãos, também havia questões: para ser cristão, havia que aceitar a Lei judaica? O caminho que leva ao cristianismo terá necessariamente de passar pelo judaísmo? Quem quer tornar-se cristão terá de tornar-se antes judeu? É preciso aceitar o rito da circuncisão e outros pormenores legais? Se o cristianismo queria ser universal, não podia impor práticas específicas de um determinado povo. Estas e outras questões exigiam a reflexão aprofundada da Igreja. Por isso, «os Apóstolos e os Anciãos reuniram-se para examinarem a questão» (v. 6).

    Evangelho: João 15, 1-8

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 1«Eu sou a videira verdadeira e o meu Pai é o agricultor. 2Ele corta todo o ramo que não dá fruto em mim e poda o que dá fruto, para que dê mais fruto ainda. 3Vós já estais purificados pela palavra que vos tenho anunciado. 4Permanecei em mim, que Eu permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes em mim. 5Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanece em mim e Eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer. 6Se alguém não permanece em mim, é lançado fora, como um ramo, e seca. Esses são apanhados e lançados ao fogo, e ardem. 7Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e assim vos

    acontecerá. 8Nisto se manifesta a glória do meu Pai: em que deis muito fruto e vos comporteis como meus discípulos.»

    A palavra-chave deste texto é claramente «permanecer», até pelas vezes que é repetida. O «discurso de adeus» de Jesus centra-se, agora, na sua relação com os Apóstolos e sobre a comunhão real e profunda que há entre Ele e os que acreditam nele.
    Enquanto o capítulo 14 de João se caracterizava pelo imperativo de
    «acreditar» em Jesus, agora caracteriza-se pela exigência de permanecer n' Ele. Encontramos esta mesma imagem de «permanecer» a propósito da Eucaristia (6, 56). Este «permanecer» deve portanto entender-se em conexão com a Eucaristia.
    Jesus está para enfrentar a morte. Mas continua a ser, para os seus, fonte de vida e de santidade. Unidos a Ele podem muito fruto (15, 6).
    Ao contrário de Israel, videira infecunda e resistente aos cuidados de Deus (cf. Is 5), Jesus é a videira verdadeira, que produz frutos e corresponde aos cuidados do Pai. Com esta imagem, Jesus quer explicar a surpreendente união vital que oferece aos que nele acreditam, os compromissos que essa união implica e as expectativas de Deus sobre ela. Jesus é o primogénito da nova humanidade em virtude do sacrifício redentor oferecido na cruz. Ele é a cepa santa donde brota a seiva que dá vida às varas e que nelas produz frutos. Quem permanece unido a Ele, vive e pode dar frutos. Quem produzir frutos será purificado para produzir ainda mais. Esta purificação é realizada pela palavra acolhida no coração.

    Meditatio

    As duas leituras, que hoje escutamos, têm uma ligação entre elas que, à primeira vista parece não existir. O evangelho apresenta-nos a alegoria da videira, que nos introduz num clima de profunda intimidade: «Permanecei em mim, que Eu permaneço em vós» (v. 4). A primeira leitura fala de exigências legais. Paulo e Barnabé chegam a Jerusalém contam as maravilhas operadas por Deus entre os pagãos e, alguns do partido dos fariseus insistem que é preciso «circuncidar os pagãos e impor-lhes a observância da Lei de Moisés». Qual é, então, a ligação entre as duas leituras? O evangelho leva-nos a compreendê-la quando recorda as palavras de Jesus: «Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes em mim» (v. 4). Sem Jesus nada se pode fazer. Só Ele é o fundamento da nossa vida. E não temos o direito de procurar outro fundamento para ela, ou de acrescentar a Cristo outra realidade que não seja Ele. Era o que pretendiam fazer os cristãos vindos do judaísmo. Não percebiam que, tendo aderido a Cristo, deviam abandonar as antigas perspectivas, porque não há dois fundamentos, nem duas fontes de vida, mas uma só: Cristo. É nele que havemos de pôr toda a nossa fé e toda a nossa confiança. O baptismo, que nos une a Cristo, como varas à cepa, é quanto basta. De Cristo recebemos a seiva divina, que é o Espírito Santo, que nos dá a vida, e produz em nós os seus frutos, a começar pela da caridade.
    As nossas Constituições citam a alegoria da videira para falar da união a
    Cristo, que é o princípio e o centro da nossa vida, o nosso caminho de santidade, tal como foi para o Pe. Dehon (cf. Cst 17): «A vara não pode
    dar fruto por si mesma, se não permanece na cepa... permanecei em Mim» (Jo 15, 4). O mesmo n.
    17 indica os meios para tornar frutuosa a nossa vida de varas: permanecer na
    «escuta da Palavra» e «na partilha do Pão». O n. 18 acrescenta o amor e o serviço aos irmãos, especialmente aos mais fracos. O n. 20 fala da contemplação do Lado aberto e do Coração trespassado. São os «lugares» para vivermos e crescermos na união a Cristo, para que Ele «habite» cada vez mais intimamente "pela fé" nos

    nossos "corações, de sorte que, enraizados e fundados no amor" possamos "compreender... a largura e o comprimento, a altura e a profundidade e conhecer, enfim, o amor de Cristo que excede todo o conhecimento, para sermos repletos da plenitude de Deus" (cf. Ef 3, 17-19).

    Oratio

    Senhor Jesus, a união Contigo é, de facto, o princípio e o centro da minha vida. Contigo estou vivo; sem Ti estou morto. Contigo, envolve-me o rio imortal da vida divina, que me leva ao oceano divino e sem limites, onde jamais se põe o sol. Contigo sou tudo; sem Ti sou nada!
    Dou-Te graças, Senhor, porque vieste ligar-me ao Pai, fonte de vida perene. Liga-me fortemente a Ti, para que não me torne uma vara separada, uma vara sem fruto. Faz-me compreender que a união Contigo é o caminho para a santidade e ajuda-me a vivê-la e a aprofundá-la na escuta da palavra, na celebração da Eucaristia, no amor aos irmãos e na contemplação do teu Lado aberto e do teu coração trespassado. E que a união Contigo permita ao teu Espírito produzir em mim todos os seus frutos, particularmente um ardente amor ao Pai e um generoso amor aos irmãos. Amen.

    Contemplatio

    «Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor». Jesus passa junto das vinhas que eram podadas naquela estação. Vê os ramos vivos carregados de botões e os ramos cortados caídos por terra, é um belo tema para uma parábola. «Eu sou a videira verdadeira, diz, a videira cheia de seiva e de vida». Pensava no seu sangue, semelhante ao vinho da vinha, que ia muito em breve correr sob a prensa da agonia.
    «O meu Pai, diz, é o agricultor, que cultiva com amor a videira e os ramos». - Os
    frutos que o agricultor celeste espera da sua vinha são aqueles que a alma leva unida a Jesus Cristo, como os ramos estão unidos à cepa. A alma cristã está enxertada em Jesus Cristo, regenerada por ele, e elevada até a esta perfeição que faz dos seus actos outros tantos frutos divinos: frutos de humildade, de paz, de modéstia, de piedade, de pureza, de zelo, de silêncio, de recolhimento, de sacrifício, de morte para si mesmo; frutos de vida interior e de união constante.
    A vinha vulgar da nossa natureza humana não produz nada de tudo isto. São necessários o enxerto e a seiva divina.
    «Permanecei em mim». Permaneçamos agarrados à videira. O agricultor corta da videira os ramos mortos e aqueles que não dão frutos. Limpa as varas que dão frutos, para que produzam ainda mais.
    «É assim que fará o Pai celeste, diz-nos Nosso Senhor: todo o ramo que não der fruto em mim, cortá-lo-á; atirá-lo-á para longe de mim, será privado da seiva que é a graça e cairá na morte espiritual. Mas os que prometem fruto, podá-los-á, purificá-los-á através de alguma prova e curá-los-á das suas inclinações depravadas, para que dêem ainda mais frutos».
    «Quanto a vós, dizia ainda Nosso Senhor, estais todos podados e purificados pelas instruções que vos dei; mas para que esta purificação se conserve e complete, para que a vossa fecundidade em obras de salvação se desenvolva, uni-vos sempre mais intimamente a mim, permanecei em mim e eu, por minha parte, permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na vinha, se não está aderente à cepa donde tira a seiva vivificante, assim não podeis produzir nada, se não permanecerdes em mim» (Leão Dehon, OSP 3, p. 457s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    ,,Permanecei em mim,, (Jo 15, 4).

  • 5ª Semana –Quinta-feira - Páscoa

    5ª Semana –Quinta-feira - Páscoa


    11 de Maio, 2023

    5ª Semana –Quinta-feira - Páscoa

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 15, 7-21

    Naqueles dias, 7depois de longa discussão, Pedro ergueu-se e disse-lhes:
    «Irmãos, sabeis que Deus me escolheu, desde os primeiros dias, para que os pagãos ouvissem da minha boca a palavra do Evangelho e abraçassem a fé. 8E Deus, que conhece os corações, testemunhou a favor deles, concedendo-lhes o Espírito Santo como a nós. 9Não fez qualquer distinção entre eles e nós, visto ter purificado os seus corações pela fé. 10Porque tentais agora a Deus, querendo impor aos discípulos um jugo que nem os nossos pais nem nós tivemos força para levar? 11Além disso, é pela graça do Senhor Jesus que acreditamos que seremos salvos, exactamente como eles.» 12Toda a assembleia ficou em silêncio e se pôs a ouvir Barnabé e Paulo a descrever os milagres e prodígios que Deus realizara entre os pagãos, por intermédio deles.
    13Quando acabaram de falar, Tiago tomou a palavra e disse: «Irmãos,
    escutai-me. 14Simão contou como Deus, desde o princípio, se dignou intervir para tirar de entre os pagãos um povo que fosse consagrado ao seu nome. 15E com isto concordaram as palavras dos profetas, conforme está escrito: 16Depois disto, hei-de voltara reconstruir a tenda de David, que estava caída; reconstruirei as suas ruínas e erguê-la-ei de novo, 17a fim de que o resto dos homens procure o Senhor, bem como todos os povos que foram consagrados ao meu nome - diz o Senhor, que dá a conhecer 18 estas coisas desde a eternidade. 19Por isso, sou de opinião que não se devem importunar os pagãos convertidos a Deus. 20Que se lhes diga apenas para se absterem de tudo quanto foi conspurcado pelos ídolos, da imoralidade, das carnes sufocadas e do sangue. 21Desde os tempos antigos, Moisés tem em cada cidade os seus pregadores e é lido todos os sábados nas sinagogas.»

    Ao contrário do que seria de esperar, quem toma a palavra para defender o ponto de vista mais liberal não é Paulo, mas Pedro. O apóstolo defende-o usando os seguintes argumentos: foi ele mesmo quem inaugurou a missão entre os pagãos, ao baptizar Cornélio e a sua família, tendo a igreja de Jerusalém aprovado a sua actuação (Act 10-11); o próprio Deus aprovou e confirmou essa actuação, ao enviar o Espírito Santo sobre os pagãos; o próprio Deus, mediante a fé, purificou os corações dos gentios, que os judeus julgavam impuros; se a fé toma o lugar da Lei, como meio de purificação, não é preciso suportar o seu jugo, tão pesado para os próprios judeus; finalmente, o homem salva-se, não pela Lei, mas pela graça de Jesus Cristo.
    Os discursos de Pedro e de Tiago têm, como intermezzo, o testemunho de Barnabé e de Paulo, e vêm depois de uma longa discussão. Podem considerar-se os discursos conclusivos de um longo processo de discernimento comunitário. E assim se salvaguarda a liberdade do Evangelho, mas também a unidade da Igreja.

    Evangelho: João 15, 9-11

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 9«Assim como o Pai me tem amor, assim Eu vos amo a vós. Permanecei no meu amor. 10Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu, que tenho guardado os mandamentos do meu Pai, também permaneço no seu amor. 11Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa.

    O amor de Jesus pelos seus discípulos tem origem no amor que circula entre o Pai e o Filho. É essa comunhão de amor que está na origem de todas as intervenções maravilhosas de Deus para salvar o homem: «Assim como o Pai me tem amor, assim Eu vos amo a vós. Permanecei no meu amor» (v. 9). Os discípulos devem corresponder a este amor, observando os mandamentos de Jesus, permanecendo no seu amor, obedecendo ao Pai como Jesus obedeceu: até à morte e morte de cruz (Fil 2, 8). A lógica é simples: o Pai amou o Filho, e este, vindo ao mundo, permaneceu unido no amor ao Pai por uma atitude constante de obediência à sua vontade. O mesmo deve acontecer entre Jesus e os discípulos. Estes devem realizar fielmente o que Jesus realizou durante a sua vida, e testemunhar o amor de Jesus permanecendo unidos no seu amor. Mais importante do que amar a Jesus é deixar-se amar por Ele, acolher o amor que o Pai, por Jesus, oferece a cada um de nós. Para isso, há que observar docilmente os mandamentos, a exemplo de Jesus.

    Meditatio

    O evangelho de hoje começa com uma afirmação que é, por assim dizer, uma definição do Coração de Jesus: «Assim como o Pai me tem amor, assim Eu vos amo a vós» (v. 9). Jesus sabe que a fonte do amor não é Ele, mas o Pai. Mas também sabe que Ele é a perfeita expressão humana desse amor: é o rosto do amor do Pai por nós. Jesus recebeu no seu coração humano o amor que tem origem no Pai, e viveu-o de modo único, perfeitíssimo. Por isso, se quisermos conhecer o amor do Pai, devemos contemplar o Coração de Jesus, que se entregou por nós, e «permanecer no seu amor».
    Para permanecermos no amor de Jesus, há que observar os seus mandamentos
    (cf. v. 10). Se quisermos saciar a infinita sede de amor que há em nós, havemos de procurar continuamente a vontade do Senhor e realizá-la. «Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito» (Mt 11, 29), diz o Senhor. O jugo do Senhor não deixa de ser jugo. Mas é um jugo suave e leve, porque é o jugo dos «seus» mandamentos, e não o jugo dos mandamentos e prescrições da antiga Lei.
    A primeira leitura mostra-nos como os primeiros cristãos perceberam que estavam livres de uma série infinita de leis e preceitos, e que o mais importante era permanecer unidos a Cristo pela fé e pelo cumprimento da sua vontade.
    «Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa» (v. 11). Todo o discípulo é chamado a deixar-se possuir pela alegria de Jesus, depois de se ter deixado possuir pelo amor de Deus. A minha existência de discípulo consiste em dar espaço a este amor divino, que é amor
    «descendente», amor que leva o Pai a «dar o Filho» (Jo 3, 15), amor que leva o Filho a dar-se a si mesmo, e que leva os discípulos a fazer o mesmo entre eles. É este o amor que garante a «felicidade».
    Esta nova maneira de amar vem de Deus. É o próprio amor de Deus que actua em mim e em cada um dos discípulos do Senhor. Mais ainda: cada um dos discípulos recebe de Jesus a «sua» felicidade, a alegria que vem de amar como Deus ama, no impulso e na imitação de Jesus. Não estamos pois ao nível do moralismo, mas nos cumes da mística, da m&
    iacute;stica da acção, que implica o dom de si mesmo, que comporta estar completamente possuídos pelo amor de Deus.
    Acolhamos o ardente convite de Jesus: "Permanecei no Meu amor" (Jo 15, 19).
    "Permanecer" é deixar-se penetrar pelo amor de Jesus, deixar-se envolver, levar, permear; repousar no amor de Jesus. É ser fiéis ao amor de Jesus, perseverar no Seu amor, ser testemunhas dele na vida, irradiá-lo.

    As nossas Constituições entendem tudo isto, quando falam da "presença activa" do amor de Jesus (n. 2), da correspondência activa ao amor (cf. n. 7), do conhecimento progressivo do amor (cf. nn. 16-18.23).
    A interioridade recíproca (cf. Jo 15, 4) ou união íntima com Cristo, é condição essencial para a vida de oblação. Permanecer em Jesus é permanecer no Pai (cf. Jo
    14, 10; 1 Jo 4, 16): "Deus é amor; quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus permanece nele" (1 Jo 4, 16). "Permanecer no amor" é fazer e aceitar tudo por amor, especialmente as cruzes de cada dia (cf. Lc 9, 23), é amar-nos uns aos outros como Cristo nos amou (cf. Jo 15, 12).

    Oratio

    Ó Jesus, hoje, quero rezar-te usando as palavras do teu servo Leão Dehon: «Senhor, permanece em mim e eu permanecerei em Ti. Sim, Tu és a videira, e quando me separo de Ti, sinto-me morrer. Mantém-me unido a Ti na graça santificante, na recordação assídua da tua presença, na meditação dos teus mistérios. Quero permanecer no teu coração. Lá está toda a minha vida e a minha felicidade». Amen.

    Contemplatio

    «É assim que fará o Pai celeste, diz-nos Nosso Senhor: todo o ramo que não der fruto em mim, cortá-lo-á; atirá-lo-á para longe de mim, será privado da seiva que é a graça e cairá na morte espiritual. Mas os que prometem fruto, podá-los-á, purificá-los-á através de alguma prova e curá-los-á das suas inclinações depravadas, para que dêem ainda mais frutos».
    «Quanto a vós, dizia ainda Nosso Senhor, estais todos podados e purificados
    pelas instruções que vos dei; mas para que esta purificação se conserve e complete, para que a vossa fecundidade em obras de salvação se desenvolva, uni-vos sempre mais intimamente a mim, permanecei em mim e eu, por minha parte, permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na vinha, se não está aderente à cepa donde tira a seiva vivificante, assim não podeis produzir nada, se não permanecerdes em mim» (Leão Dehon, OSP 3, p. 457s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Permanecei no meu amor» (Jo 15, 9).

  • 5ª Semana - Sexta-feira - Páscoa

    5ª Semana - Sexta-feira - Páscoa


    12 de Maio, 2023

    5ª Semana - Sexta-feira - Páscoa

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 15, 22-31

    Naqueles dias, os Apóstolos e os Anciãos, de acordo com toda a Igreja, resolveram escolher alguns de entre eles e enviá-los a Antioquia com Paulo e Barnabé. Foram Judas, chamado Barsabas, e Silas, homens respeitados entre os irmãos. 23E mandaram a seguinte carta por intermédio deles:«Os Apóstolos e os
    Anciãos, vossos irmãos, aos irmãos de origem pagã residentes em Antioquia, na Síria e na Cilícia, saudações!
    24Tendo conhecimento de que, sem autorização da nossa parte, alguns dos
    nossos vos foram inquietar, perturbando as vossas almas com as suas palavras,
    25resolvemos, de comum acordo, escolher delegados e enviar-vo-los com os nossos queridos Barnabé e Paulo, 26homens estes que expuseram as suas vidas pelo nome de
    Nosso Senhor Jesus Cristo. 27Enviamos, pois, Judas e Silas, que vos transmitirão verbalmente as mesmas coisas. 28O Espírito Santo e nós próprios resolvemos não vos impor outras obrigações além destas, que são indispensáveis: 29abster-vos de carnes imoladas a ídolos, do sangue, de carnes sufocadas e da imoralidade. Procedereis bem, abstendo-vos destas coisas. Adeus.» 30Eles, então, depois de se despedirem, desceram a Antioquia e, reunindo a assembleia, entregaram a carta. 31Depois de a lerem, todos ficaram satisfeitos com o encorajamento que lhes trazia

    Do Concílio de Jerusalém saiu uma resolução oficial sobre a questão da obrigatoriedade da Lei para os pagãos que se convertiam à fé, e foi escolhida uma delegação que, com Paulo e Barnabé, fosse comunicá-la, pessoalmente e por escrito, à igreja de Antioquia. O documento escrito repete os pontos essenciais do acordo obtido. Além de ser enviado a Antioquia, é também remetido às igrejas vizinhas que, de algum modo, tinham sido envolvidas na polémica dos judaizantes.
    A decisão de aceitar o princípio da liberdade do Evangelho diante da Lei foi
    tomada pelo Espírito Santo e pela comunidade cristã através dos seus representantes. A Igreja, desde o princípio, experimentou a presença do Espírito e transmitiu-a ao longo dos séculos. O Espírito falou de modo particular por meio de Tiago, que centrou a sua intervenção na Sagrada Escritura. Mas também falou pelas moções que suscitou na comunidade. O Espírito actua na Igreja, particularmente nos momentos difíceis, quando se devem tomar decisões graves.
    O comunicado oficial causou grande alegria, pois se ficou a saber claramente
    que as profecias do Antigo Testamento se tinham cumprido nos acontecimentos que os afectavam directamente. Notem-se também as palavras de apreço por Paulo e Barnabé, «homens que expuseram as suas vidas pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo» (v. 26).

    Evangelho: João 15, 12-17

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 12É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei. 13Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos. 14Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos

    mando. 15Já não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai. 16Não fostes vós que me escolhestes; fui Eu que vos escolhi a vós e vos destinei a ir e a dar fruto, e fruto que permaneça; e assim, tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome Ele vo-lo concederá. 17É isto o que vos mando: que vos ameis uns aos outros.»

    «Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei» (v. 12). Nesta perícopa, a relação entre Jesus e os discípulos assume particular intensidade, quando o Senhor fala do mandamento do amor fraterno. Os mandamentos da comunidade messiânica resumem-se ao amor fraterno. A vivência do amor fraterno glorifica o Pai, revela os verdadeiros discípulos e produz muitos frutos. O amor fraterno tem o seu modelo no amor oblativo de Jesus por nós, que O leva a dar a vida pelos seus amigos (v. 13). A resposta que Jesus pede aos seus é um amor oblativo e sem reservas, para com Ele e para com os irmãos, um amor total, de grande qualidade.
    Este amor, que pode levar ao dom da própria vida, tem outras características: é um amor de intimidade e gratuito. A revelação dos segredos mais íntimos é sinal de verdadeira e profunda amizade. Jesus partilha connosco os segredos do seu coração, ajudando-nos a crescer no amor e na intimidade com Ele. Esse amor e essa intimidade, que são dom, têm por objectivo a nossa salvação, e permitem-nos alcançar do Pai tudo quanto Lhe pedirmos, em nome de Jesus.

    Meditatio

    O mandamento do amor fraterno enche o texto evangélico que hoje escutamos: «Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei» (v. 12). Jesus já tinha afirmado que há dois mandamentos: o mandamento de amar a Deus com todo o coração e o mandamento de amar o próximo como a nós mesmos. Repetia o Antigo Testamento (cf. Dt 6, 5; Lv 19, 18). Aqui, Jesus vai mais longe: «Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei» (v. 12). «Como eu vos amei». Amar o próximo como a nós mesmos é já muito. Mas, amar o próximo como Jesus nos ama, é muito mais. É o amor cristão. Como é que Jesus nos ama? Ama-nos com delicadeza e com força. Chama-nos amigos, porque nos faz entrar na sua intimidade. Não nos trata como servos, mas como amigos. Conta-nos segredos da sua família: «Dei-vos a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai» (v. 15).
    Este amor delicado é também muito forte: «Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos» (Jo 15, 13). O modelo do amor cristão é um homem-Deus crucificado e ressuscitado, que nos amou até ao sacrifício de Si mesmo. É também assim que havemos de amar os nossos irmãos. Ser discípulo de Cristo consiste em amar o irmão até dar a vida por ele, tal como fez Jesus, o Filho que desceu do Céu para dar a vida por nós. Dar a vida não significa necessariamente sofrer o martírio. Essa pode ser uma graça especial, concedida a alguns. Dar a vida é gastar-se na atenção e no serviço àqueles que estão ao nosso lado, que precisam de nós. Significa também interrogar-se, cada manhã, sobre o modo como não se tornar um peso para os outros. Significa ainda suportar os silêncios, os amuos e os limites de carácter de quem vive ao nosso lado. Significa não escandalizar-nos com as suas contradições e pecados. Significa aceitar cada um como é e não como gostaríamos que fosse.
    Uma das finalidades da vida religiosa é unir as pessoas. As nossas Constituições dizem: «Deixamo-nos penetrar pelo amor de Cristo e escutamos a sua prece do &quot
    ;Sint unum...»(cf. n. 63). Mas - perguntam - «como consegui-lo, a não ser aprofundando no Senhor as nossas relações, mesmo as mais normais, com cada um dos nossos irmãos?» (n. 64). Por vezes, corre-se o risco de viver separados, isolados... Devemos então

    recordar o mandamento do Senhor: «Quem ama a Deus, ame também o seu irmão» (1
    Jo 4, 21); quem procura a intimidade com Deus, também procura a intimidade com o irmão, cultiva a amizade com um ou outro, multiplica as ocasiões de encontros familiares: como pode alguém dizer que ama a Deus que não vê, se não ama o irmão que vê? (cf. 1 Jo 4, 20).
    Temos que examinar a nossa consciência, para ver se alimentamos o fogo ou se o deixamos apagar, isto é, se alimentamos o amor real, o calor humano, necessários para o verdadeiro espírito de família e para fazer germinar a verdadeira amizade. Os irmãos e, mais ainda, os amigos são dons do Pai celeste; por meio dos irmãos e, sobretudo, por meio dos amigos, Ele fala-nos e enriquece-nos: «Toda a boa dádiva e todo o bem perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes» (Tgo 1, 17); «Um amigo fiel é uma poderosa protecção; quem o encontra, encontra um tesouro» (Sir 6, 14; cf. Sir 6, 5-17).
    Se queremos ser amados, amemos e, como Deus, tomemos a iniciativa de amar (cf. 1 Jo 4, 19). Como o amor é dom e fruto do Espírito (cf. Rom 5, 5), assim também a verdadeira amizade provém certamente do Espírito e é sustentada por Ele.

    Oratio

    Senhor, mais uma vez, quero rezar-te com as palavras do teu servo Leão Dehon: «Senhor, tu queres ser meu amigo; mas a amizade é uma troca de ternura e de benevolência. Gostaria de competir Contigo nesta amizade, embora seja incapaz de fazer por Ti o que fazes por mim. Serei assíduo junto de Ti. Manter-me-ei unido a Ti pelas minhas obras de cada dia. Consumir-me-ei por Ti no trabalho e no zelo». Amen.

    Contemplatio

    «Amai-vos uns aos outros». Jesus recomenda-nos de novo o seu mandamento preferido. Quer que a caridade mútua caracterize os seus discípulos. «O meu mandamento, diz, é que vos ameis uns aos outros como eu vos amei». Estas palavras dizem muito, e Nosso Senhor explica-as acrescentando: «Ninguém pode ter maior amor do que dar a vida pelos seus amigos». É o que ia fazer dentro de algumas horas. Mas já desde a sua incarnação, não tinha feito outra coisa do que consumir-se por nós. S. Paulo resumiu bem a sua vida: «Amou-me e entregou-se por mim». Amou-me até assumir a natureza humana para se fazer meu irmão, minha caução, meu Redentor. Amou-me até se fazer meu preceptor pelos seus exemplos, pelos seus discursos, pelas suas parábolas. Amou-me até se fazer minha caução e a vitima da minha salvação na sua paixão e na sua morte.
    E eu, devo por minha vez amar o meu próximo e dedicar-me aos seus interesses espirituais e temporais. Devo manifestar esta caridade pelas suas virtudes de doçura e de paciência e pela prática de todas as obras de misericórdia. Que hei- de fazer hoje para isso?
    «Vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando». - «Vós me chamais vosso Mestre, não quero mais este título; o amor eleva-vos de algum modo até mim: Já não vos chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu Senhor, não é chamado aos conselhos do seu senhor, obedece sem ter nenhuma intimidade com o seu mestre. Não deve ser assim entre vós, acrescenta Nosso Senhor: chamo-vos meus amigos e trato-vos como tais. Tudo o que ouvi de meu Pai, vo-lo dei a conhecer; revelei-vos os mistérios do reino de Deus, dei-vos a conhecer os desígnios de meu Pai para a redenção do mundo, na qual deveis cooperar».

    Entre nós e Nosso Senhor, há, portanto, um regime de amizade, de cooperação e de comunhão de bens, análoga à união de Nosso Senhor com o seu Pai. Tudo é comum entre nós e ele: «Mea omnia tua sunt, et tua mea sunt»: «Tudo o que é meu é teu e o que é teu é meu» (Jo 17,10). - Regime de amor, de santa liberdade e de familiaridade: «Pedireis tudo o que quiserdes, e ser-vos-á concedido» (Jo 15, 16).
    Amou-me até se dar, se entregar, se trair. É tudo por mim nas suas condutas providenciais: «É tudo para os eleitos, tudo concorre para o bem daqueles que amam Deus». É bom mesmo quando me pune, é para o meu bem. Jesus revela-me esta amizade para me cumular de alegria: «Disse-vos estas coisas para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa».
    Que é que fiz até agora para responder a uma tão admirável amizade? Tive para com o Salvador a confiança e a dedicação de um amigo? Que hei-de fazer para responder à sua amizade? (Leão Dehon, OSP 3, p. 460s.)

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei» (Jo 15, 12).

  • 5ª Semana - Sábado - Páscoa

    5ª Semana - Sábado - Páscoa


    13 de Maio, 2023

    5ª Semana - Sábado - Páscoa

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 16, 1-10

    Naqueles dias, 1Paulo chegou em seguida a Derbe e, depois, a Listra.Havia ali um discípulo chamado Timóteo, filho de uma judia crente e de pai grego, 2que era muito estimado pelos irmãos de Listra e de Icónio. 3Paulo resolveu levá-lo consigo e, tomando-o, circuncidou-o, por causa dos judeus existentes naquelas regiões, pois todos sabiam que o pai dele era grego. 4Nas cidades por onde passavam, transmitiam e recomendavam aos irmãos que cumprissem as decisões tomadas pelos Apóstolos e pelos Anciãos de Jerusalém. 5Dessa forma, as igrejas eram confirmadas na fé e cresciam em número, de dia para dia. 6Paulo e Silas atravessaram a Frígia e o território da Galácia, pois o Espírito Santo impediu-os de anunciar a Palavra na Ásia. 7Chegando à fronteira da Mísia, tentaram dirigir-se à Bitínia, mas o Espírito de Jesus não lho permitiu. 8Atravessaram, então, a Mísia e desceram para Tróade. 9Ora, durante a noite, Paulo teve uma visão: um macedónio estava de pé diante
    dele e fazia-lhe este pedido: «Passa à Macedónia e vem ajudar-nos!» 10Logo que Paulo teve esta visão, procurámos partir para a Macedónia, persuadidos de que Deus nos chamava, para aí anunciar a Boa-Nova.

    A partir do capítulo 16 do livro dos Actos, Lucas centra a sua atenção na actividade missionária de Paulo. O texto que escutamos hoje apresenta-nos a segunda viagem missionária do Apóstolo, já sem a companhia de Barnabé, com quem se desentendera devido a uma diferente avaliação da pessoa de João Marcos. Mas Paulo não parte sozinho para a nova viagem, mais alargada que a primeira. Vai com Timóteo, seu discípulo, que lhe permanecerá sempre fiel. Para evitar conflitos com os judeus, fá- lo circuncidar, embora reconhecesse que isso não era necessário.
    O Espírito Santo é o guia dos missionários, corrigindo-lhes mesmo a rota. Para Lucas, o Espírito Santo é o grande protagonista e estratega da evangelização. Os seus planos nem sempre coincidem com os dos homens. É o caso em que impele Paulo a passar à Europa, em vez de penetrar nas regiões da Ásia menor. Na acção missionária de Paulo não havia muita organização, mas havia muita disponibilidade à acção do Espírito. Um exemplo sempre actual!

    Evangelho: João 15, 18-21

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 18«Se o mundo vos odeia, reparai que, antes que a vós, me odiou a mim. 19Se viésseis do mundo, o mundo amaria o que é seu; mas, como não vindes do mundo, pois fui Eu que vos escolhi do meio do mundo, por isso é que o mundo vos odeia. 20Lembrai-vos da palavra que vos disse: o servo não é mais que o seu senhor. Se me perseguiram a mim, também vos hão-de perseguir a vós. Se cumpriram a minha palavra, também hão-de cumprir a vossa. 21Mas tudo isto vos farão por causa de mim, porque não reconhecem aquele que me enviou.

    Os discípulos de Jesus terão de enfrentar o ódio do mundo, tal como Ele o enfrentou. Esse ódio caracteriza o mundo (v. 18), tal como o amor caracteriza a comunidade cristã. Os discípulos serão perseguidos pelo mundo, porque ele não suporta aqueles que se opõem aos seus princípios. Os que optaram por Cristo são considerados estranhos e inimigos pelo mundo. A sua vida é uma acusação permanente às obras perversas do mundo. É por isso que o homem de fé é odiado. O ódio do mundo manifesta-se na perseguição contra a comunidade dos discípulos de Cristo. Mas estes não devem desanimar na sua vida de fé e no cumprimento da missão de evangelizar. A perseguição e o sofrimento hão-de ser vividos em união com o Senhor. A sorte dos discípulos é idêntica à de Cristo: «Se me perseguiram a mim, também vos hão-de perseguir a vós» (v. 20).

    Meditatio

    É o Espírito Santo que conduz a Igreja e a sua acção missionária. Paulo e Timóteo atravessavam a Frigia e a Galácia, mas o Espírito Santo proibiu-lhes pregar a palavra na Ásia (cf. v. 6). Depois tentaram dirigir-se à Bitínia, «mas o Espírito de Jesus não lho permitiu» (v. 7). O Espírito Santo parece criar obstáculos à acção dos apóstolos. Mas, em Tróade, irão compreender que o Espírito tinha um plano muito mais ambicioso e vasto: «Passa à Macedónia e vem ajudar-nos!», diz-lhe um macedónio. E, assim, Paulo entra na Europa.
    A docilidade de Paulo ao Espírito Santo é uma lição para nós, que nem sempre
    nos damos conta que as dificuldades ao nosso apostolado e a nossa acção pastoral podem vir de Deus. É que os nossos projectos podem não coincidir com os projectos de Deus, porque não fizemos um bom discernimento, ou por causa de outros nossos limites. Também é possível que os nossos bons projectos estejam inquinados de ambição, de egoísmo, de vaidade. As dificuldades, postas por Deus às nossas obras, são boa ocasião para trabalharmos com generosidade, mas também com desinteresse, deixando-nos a alegria de servir a Deus com docilidade e rectidão.
    O evangelho lembra-nos que «o servo não é mais que o seu senhor» (v. 20). Não devemos espantar-nos se, ao nosso lado, verificarmos indiferença e hostilidade. É sinal de que somos fiéis a Cristo perseguido e à sua palavra de cruz. Não devemos entrar em crise se muitos não pensam como nós, se nos atacam por todos os meios antigos e modernos. A fé é sempre algo fora de moda. Por isso, há-de ser procurada e vivida na oblatividade, que consiste no apelo à cruz, ao sacrifício, a saber amar, à justiça paga com a própria pele. A hostilidade, mais ou menos aberta, do mundo que nos rodeia, não há-de levar-nos a um testemunho soft, a abaixar o nível das exigências da fé, ou a silenciar o que mais compromete ou é impopular.
    Fortalecidos pela presença de Cristo, e dóceis ao seu Espírito, devemos empenhar-nos, como dehonianos, em denunciar o pecado, em trabalhar para que o mundo dos homens, o nosso mundo actual, com as suas forças, os seus dramas, se abra ao Reino de Deus.
    A Eucaristia que celebramos, comungamos e adoramos, sugere-nos
    espontaneamente a ideia e a realidade da imolação da vítima, e é um tácito e insistente convite a vivermos a nossa vocação baptismal (cf. Cst 13) e a nossa profissão religiosa de oblação, reparação, imolação em união com a Vítima divina e com o Sacerdote eterno, para fazermos da nossa vida &ldq
    uo;uma missa permanente" (Cst.
    5; cf. nn. 6.22.24). Porque é tempo que o nosso pão se torne Corpo de Cristo e o
    nosso vinho Seu Sangue e nós, que dele comemos e bebemos, nos tornemos Corpo de
    Cristo.

    Oratio

    «Ó Jesus, Sacerdote soberano, multiplica os sacerdotes santos, os sacerdotes segundo o teu Coração. Quero rezar por essa intenção, como Tu mesmo pediste. Contigo tenho piedade dos rebanhos sem pastores. Envia-lhes pastores que juntem a fecundidade das obras à santidade da vida». Assim rezava o teu servo, Leão Dehon. Que acrescentarei às suas palavras? Peço-te que me ajudes a viver como Tu queres, no meio das dificuldades produzidas pela hostilidade do mundo. Que jamais me acobarde quando for preciso dar testemunho de Ti. Que jamais me falte a coragem perante as reacções que vêm do facto de eu dizer o que Tu mesmo dirias, e de fazer as coisas que Tu mesmo farias. Que a hostilidade do mundo jamais me leve a diluir a tua mensagem e o testemunho que devo ao teu santo nome. Amen.

    Contemplatio

    Durante três anos, o Salvador envolve os seus apóstolos com os mais assíduos cuidados. Está totalmente dedicado à sua formação, à sua preparação. No fim, pode dizer-lhes: «Não vos chamo meus servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor. Vós sois meus amigos: transmiti-vos tudo o que meu Pai me disse. Não fostes vós que me escolhestes, fui eu que vos escolhi, e que vos estabeleci para que deis fruto e que este fruto permaneça». O bom Mestre acrescenta: «Tudo o que pedirdes a meu Pai em meu nome, Ele vo-lo dará. Se o mundo vos odeia, não vos admireis, odiou-me primeiro. Ele odiar-vos-á, porque não sois do mundo, porque vos constituí acima do mundo. - Enviar-vos-ei o meu espírito, o espírito de verdade que será o vosso guia. - Sofrereis perseguições. Expulsar-vos-ão das vossas casas e dos vossos santuários, porque os perseguidores não conhecem o meu Pai e não me conhecem. Mas antes de vos deixar, previno-vos, a fim de que nada vos surpreenda» (Jo 15).
    O bom Mestre instruiu os seus discípulos até ao fim, com uma caridade inefável.
    Que sorte invejável esta de serem os amigos de Jesus, os seus íntimos, os
    ministros das suas obras e mesmo os seus companheiros de labor e de expiação sob a cruz! (Leão Dehon, OSP 4, p. 256).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «O servo não é mais que o seu senhor» (Jo 15, 20).

    Nossa Senhora de Fátima

    Nossa Senhora de Fátima


    13 de Maio, 2023

    A 13 de Maio de 1917, Nossa Senhora apareceu aos Três Pastorinhos, Lúcia, Francisco e Jacinta. Nos meses seguintes, até Outubro inclusive, a Virgem Maria voltaria a manifestar-se nos dias 13, exceto em Agosto, quando se manifestou no dia 19, nos Valinhos. Nesses encontros, Nossa Senhora recordou, em linguagem muito simples, acessível aos pastorinhos, as verdades fundamentais do Evangelho. A sua mensagem pode resumir-se nos termos de "oração e penitência", oração e conversão. As aparições foram reconhecidas pela Igreja como dignas de fé. Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI foram peregrinos de Fátima.
    Lectio

    Primeira leitura: Apocalipse 21, 1-5a

    Eu, João, vi, então, um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido e o mar já não existia. 2E vi descer do céu, de junto de Deus, a cidade santa, a nova Jerusalém, já preparada, qual noiva adornada para o seu esposo. 3E ouvi uma voz potente que vinha do trono e dizia:«Esta é a morada de Deus entre os homens. Ele habitará com eles; eles serão o seu povo e o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus. 4Ele enxugará todas as lágrimas dos seus olhos; e não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor. Porque as primeiras coisas passaram.» 5O que estava sentado no trono afirmou: «Eu renovo todas as coisas.»

    A grande utopia da ressurreição do homem e do mundo chegará a ser realidade. A cidade nova não tem nada da antiga: nem da Jerusalém israelita, nem sequer da Igreja cristã. É algo de novo que integra aquilo que o antigo tinha de melhor numa espécie de continuidade descontínua. João admira-se de não haver templo na cidade nova. Para o cristianismo, todo o universo é templo: Deus pode revelar-se onde quiser.
    A liturgia aplica este texto a Maria. Deus revelou-se nela. Ela foi a verdadeira Arca de Deus no meio do seu povo. Glorificada no Céu, não esquece aqueles que lhe foram confiados como filhos. Daí, as suas numerosas intervenções ao longo da história, como as de Fátima, em 1917. Ela faz tudo para que, em cada um dos seus filhos, se realize o que já se realizou n´Ela.

    Evangelho: João 19, 25-27

    Naquele tempo, estavam junto à cruz de Jesus estavam, de pé, sua mãe e a irmã da sua mãe, Maria, a mulher de Clopas, e Maria Madalena. 26Então, Jesus, ao ver ali ao pé a sua mãe e o discípulo que Ele amava, disse à mãe: «Mulher, eis o teu filho!» 27Depois, disse ao discípulo: «Eis a tua mãe!» E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua.

    A mãe de Jesus aparece no princípio e no fim da vida pública de Jesus, ou seja, nas bodas de caná (Jo 2, 1ss.) e junto à cruz do Senhor (Jo 19, 1ss.). Nas bodas de Caná, Jesus dirige-lhe palavras que devem entender-se no sentido de separação: Jesus diz-lhe que não intervenha na fase da sua vida pública, que estava a iniciar. A partir desse momento, Maria como que desaparece de cena. Mas, agora que chegou a hora de Jesus, Maria reaparece, pois é também a sua hora. Em ambas as situações Jesus se lhe dirige chamando-a "mulher" e não mãe, como seria normal. O Senhor parece querer apresentá-la como a mulher estreitamente unida a Ele na realização da obra da redenção, a mulher de que se fala no Génesis (Gn 3, 15) e no Apocalipse (Ap 12). As palavras que Jesus dirige a Maria: "Eis o teu filho!" têm um sentido mais profundo do que o imediatamente literal. A Igreja encarregou-se de aprofundá-lo. O afeto e a relação maternal - a maternidade espiritual de Maria - concentrar-se-ão naqueles por quem o seu Filho está a dar a vida. João personifica todos os seguidores de Jesus. Segundo a teologia paulina, os crentes são "irmãos" de Cristo, participantes da sua filiação.

    Meditatio
    "Por ocasião das cerimónias religiosas que têm lugar nestes dias em Fátima, Portugal, em honra da Virgem Mãe de Deus, onde acorrem numerosas multidões de fiéis para venerarem o seu coração maternal e compassivo, desejamos mais uma vez chamar a atenção de todos os filhos da Igreja para o inseparável vínculo que existe entre a maternidade espiritual de Maria e os deveres que têm para com Ela os homens resgatados. Julgamos ser de grande utilidade para as almas dos fiéis considerar duas verdades muito importantes para a renovação da vida cristã. A primeira verdade é esta: Maria é Mãe da Igreja, não só por ser Mãe de Jesus Cristo e sua íntima colaboradora na nova economia da graça, quando o Filho de Deus n'Ela assumiu a natureza humana para libertar o homem do pecado mediante os mistérios da sua carne, mas também porque brilha à comunidade dos eleitos como admirável modelo de virtude. Depois de ter participado no sacrifício redentor de seu Filho, e de maneira tão íntima que mereceu ser por Ele proclamada Mãe não somente do discípulo João, mas - seja consentido afirmá-lo - do género humano, por este de algum modo representado, Ela continua agora no Céu a desempenhar a sua função materna de cooperadora no nascimento e desenvolvimento da vida divina em cada alma dos homens remidos. Mas de que modo coopera Maria no crescimento da vida da graça nos membros do Corpo Místico? Antes de tudo, pela sua oração incessante, inspirada por uma ardentíssima caridade. A Virgem Santa, de facto, gozando embora da contemplação da Santíssima Trindade, não esquece os seus filhos que caminham, como Ela outrora, na peregrinação da fé; pelo contrário, contemplando-os em Deus e conhecendo bem as suas necessidades, em comunhão com Jesus Cristo que está sempre vivo para interceder por nós, deles se constitui Advogada, Auxiliadora, Amparo e Medianeira. No entanto, a cooperação da Mãe da Igreja no desenvolvimento da vida divina nas almas não consiste apenas na sua intercessão junto do Filho. Ela exerce sobre os homens remidos outra influência importantíssima, a do exemplo, segundo a conhecida máxima: as palavras movem, o exemplo arrasta. Realmente, tal como os ensinamentos dos pais adquirem maior eficácia quando são acompanhados pelo exemplo duma vida conforme as normas da prudência humana e cristã, assim também a suavidade e o encanto das excelsas virtudes da Imaculada Mãe de Deus atraem irresistivelmente as almas para a imitação do divino modelo, Jesus Cristo, de que Ela foi a mais perfeita imagem. Mas nem a graça do divino Redentor nem a poderosa intercessão de sua e nossa Mãe espiritual poderiam conduzir-nos ao porto da salvação, se a tudo isso não correspondesse a nossa perseverante vontade de honrar Jesus Cristo e a Virgem Mãe de Deus com a fiel imitação das suas sublimes virtudes. É, pois, dever de todos os cristãos imitar religiosamente os exemplos de bondade que lhes deixou a Mãe do Céu. É esta a segunda verdade sobre a qual nos agrada chamar a vossa atenção. É em Maria que os cristãos podem admirar o exemplo que lhes mostra como realizar, com humildade e magnanimidade, a missão que Deus confiou a cada um neste mundo, em ordem à sua eterna salvação e à do próximo. Uma mensagem de suma utilidade parece chegar hoje aos fiéis da parte d'Aquela que é a Imaculada, a toda santa, a cooperadora do Filho na restauração da vida sobrenatural das almas. A santa contemplação de Maria incita-os, de facto, à oração confiante, à prática da penitência, ao santo temor de Deus, e recorda-lhes com frequência aquelas palavras com que Jesus Cristo anunciava estar perto o reino dos Céus: Arrependei-vos e acreditai no Evangelho, bem como a sua severa advertência: Se não vos arrependerdes, perecereis todos de maneira semelhante. Comemorando-se este ano o vigésimo quinto aniversário da solene consagração da Igreja a Maria Mãe de Deus e ao seu Coração Imaculado, feita pelo Nosso Predecessor Pio XII no dia 31 de Outubro de 1942, por ocasião da Radiomensagem à Nação Portuguesa - consagração que Nós mesmo renovámos no dia 21 de Novembro de 1964 - exortamos todos os filhos da Igreja a renovar pessoalmente a sua própria consagração ao Coração Imaculado da Mãe da Igreja e a viver este nobilíssimo ato de culto com uma vida cada vez mais conforme à vontade divina, em espírito de serviço filial e devota imitação da sua celeste Rainha. (Paulo VI, 13 de Maio de 1967).

    Oratio

    Pai Santo, nós vos louvamos e bendizemos, ao celebrarmos a festa da Virgem Santa Maria. Recebendo o vosso Verbo em seu Coração Imaculado, ela mereceu concebê-lo em seu seio virginal e, dando à luz o Criador do universo, preparou o nascimento da Igreja. Junto à cruz, aceitou o testamento da caridade divina e recebeu todos os homens como seus filhos, pela morte de Cristo gerados para a vida eterna. Enquanto esperava, com os Apóstolos, a vinda do Espírito Santo, associando-se às preces dos discípulos, tornou-se modelo admirável da Igreja em oração. Elevada à glória do Céu, assiste com amor materno a Igreja ainda peregrina sobre a terra, protegendo misericordiosamente os seus passos a caminho da pátria celeste, enquanto espera a vinda gloriosa do Senhor. Nós vos louvamos e bendizemos, Senhor! Ámen. (cf. Prefácio da Missa).

    Contemplatio

    Ó Coração sagrado do meu Jesus, eu vos adoro e vos dou graças infinitas por terdes dirigido para a minha salvação o martírio que suportastes à vista dos sofrimentos do santíssimo Coração de Maria ao pé da cruz, porque ma destes como soberana e como mãe. Tal é o vosso amor por mim que lhe pedistes para me tomar como seu filho em vosso lugar, para me amar, para ter compaixão das minhas misérias, para me assistir, para me proteger, para me guardar e para me governar como seu filho. Talvez, ó meu Salvador, não encontrastes maior consolação para a vossa divina Mãe do que dar-lhe filhos perversos e pecadores, a fim de que ela empregue o seu poder e a imensa caridade do seu Coração em conseguir a sua conversão e salvação. Sede bendito e louvado para sempre, ó Coração sagrado do meu Redentor, por terdes querido que nenhum dos vossos sofrimentos, e os de vossa santa Mãe, fosse perdido por mim, mas que todos servissem para curar as minhas feridas e enriquecer-me com verdadeiros bens. (Leão Dehon, OSP 4, p. 262s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Esta é a morada de Deus entre os homens." (Ap 21, 3).

    ----
    Nossa Senhora de Fátima  (13 Maio)

  • 06º Domingo da Páscoa - Ano A

    06º Domingo da Páscoa - Ano A


    14 de Maio, 2023

    ANO A
    6º Domingo da Páscoa

    Tema do 6º Domingo da Páscoa

    A liturgia do 6º Domingo da Páscoa convida-nos a descobrir a presença - discreta, mas eficaz e tranquilizadora - de Deus na caminhada histórica da Igreja. A promessa de Jesus - "não vos deixarei órfãos" - pode ser uma boa síntese do tema.
    O Evangelho apresenta-nos parte do "testamento" de Jesus, na ceia de despedida, em Quinta-feira Santa. Aos discípulos, inquietos e assustados, Jesus promete o "Paráclito": Ele conduzirá a comunidade cristã em direcção à verdade; e levá-la-á a uma comunhão cada vez mais íntima com Jesus e com o Pai. Dessa forma, a comunidade será a "morada de Deus" no mundo e dará testemunho da salvação que Deus quer oferecer aos homens.
    A primeira leitura mostra exactamente a comunidade cristã a dar testemunho da Boa Nova de Jesus e a ser uma presença libertadora e salvadora na vida dos homens. Avisa, no entanto, que o Espírito só se manifestará e só actuará quando a comunidade aceitar viver a sua fé integrada numa família universal de irmãos, reunidos à volta do Pai e de Jesus.
    A segunda leitura exorta os crentes - confrontados com a hostilidade do mundo - a terem confiança, a darem um testemunho sereno da sua fé, a mostrarem o seu amor a todos os homens, mesmo aos perseguidores. Cristo, que fez da sua vida um dom de amor a todos, deve ser o modelo que os cristãos têm sempre diante dos olhos.

    LEITURA I - Actos 8,5-8.14-17

    Leitura dos Actos dos Apóstolos

    Naqueles dias,
    Filipe desceu a uma cidade da Samaria
    e começou a pregar o Messias àquela gente.
    As multidões aderiam unanimemente às palavras de Filipe,
    ao ouvi las e ao ver os milagres que fazia.
    De muitos possessos saíam espíritos impuros,
    soltando enormes gritos,
    e numerosos paralíticos e coxos foram curados.
    E houve muita alegria naquela cidade.
    Quando os Apóstolos que estavam em Jerusalém
    ouviram dizer que a Samaria recebera a palavra de Deus,
    enviaram lhes Pedro e João.
    Quando chegaram lá, rezaram pelos samaritanos,
    para que recebessem o Espírito Santo,
    que ainda não tinha descido sobre eles.
    Então impunham lhes as mãos
    e eles recebiam o Espírito Santo.

    AMBIENTE

    Durante os primeiros anos, o cristianismo praticamente não saiu de Jerusalém: os primeiros sete capítulos do livro dos Actos dos Apóstolos apresentam-nos a Igreja de Jerusalém e o testemunho dado pelos primeiros cristãos no espaço restrito da cidade.
    Por volta do ano 35, no entanto, desencadeou-se uma perseguição contra os membros da comunidade cristã de Jerusalém. Pode supor-se, com grande probabilidade, que esta perseguição (desencadeada após a morte de Estêvão) não afectou de igual forma todos os membros da comunidade (os apóstolos continuam em Jerusalém), mas dirigiu-se, de forma especial, contra os judeo-helenistas do círculo de Estêvão (os cristãos "hebreus", que mantêm uma fidelidade relativa à Lei e ao judaísmo, ficam - até nova ordem - ao abrigo da perseguição). Estes, contudo, não se conformaram com uma morte inútil: deixaram Jerusalém e espalharam-se pelas outras regiões da Palestina. Tratou-se de um facto providencial (porque não ver nele a acção do Espírito?), que permitiu a difusão do Evangelho pelas outras regiões palestinas.
    A primeira leitura deste domingo fala-nos de Filipe - um dos sete diáconos, do mesmo grupo do mártir Estêvão (cf. Act 6,1-7) - que, deixando Jerusalém foi anunciar o Evangelho aos habitantes da região central da Palestina, a Samaria.
    É curioso que a difusão do Evangelho fora de Jerusalém ocorra, precisamente, na Samaria. A Samaria era, para os judeus, uma terra praticamente pagã. Os judeus desprezavam os samaritanos por serem uma mistura de sangue israelita com estrangeiros e consideravam-nos hereges em relação à pureza da fé jahwista. O anúncio do Evangelho aos samaritanos mostra que a Igreja não tem fronteiras e anuncia o passo seguinte: a evangelização do mundo pagão.

    MENSAGEM

    O nosso texto divide-se em duas partes.
    Na primeira parte (vers. 5-8), temos um sumário que resume a actividade missionária de Filipe entre os samaritanos. Filipe pregava "o Messias" - isto é, apresentava aos samaritanos Jesus Cristo e a sua proposta de salvação e de libertação. Diante da interpelação que o Evangelho constituía, os samaritanos "aderiam unanimemente às palavras de Filipe". Dessa adesão, nascia a comunidade do "Reino", isto é, começava a aparecer uma comunidade de homens livres, iluminados pela luz libertadora de Jesus, e que possuíam a vida nova de Deus (Lucas descreve esta realidade nova de homens livres e cheios de vida nova, dizendo que os espíritos impuros abandonavam os possessos e que os coxos e paralíticos eram curados). Desta nova realidade brotava uma profunda alegria: a alegria é um dos traços característicos que, na obra de Lucas, acompanha a erupção da comunidade do "Messias".
    Na segunda parte (vers. 14-17), Lucas refere a chegada à Samaria dos apóstolos Pedro e João. Quando a comunidade cristã de Jerusalém soube que a Samaria tinha já acolhido a mensagem de Jesus, despachou para lá Pedro e João em visita de inspecção. Lucas não diz qual a reacção de Pedro e João ao constatarem o avanço do Evangelho; apenas refere que os samaritanos, apesar de baptizados, ainda não tinham recebido o Espírito Santo. Que significa isto? Provavelmente, significa que a adesão dos samaritanos ao Evangelho era superficial (talvez mais motivada pelos gestos espectaculares que acompanhavam a pregação de Filipe, do que por uma convicção bem fundada) e que não havia ainda, entre eles, uma verdadeira consciência de pertencer a essa grande família de Jesus que é a Igreja universal. Logo que chegaram - refere Lucas - Pedro e João impuseram as mãos aos samaritanos, a fim de que também eles recebessem o Espírito. O Espírito aparece, aqui, como o selo que comprova a pertença dos samaritanos - depois de unidos à Igreja universal e em comunhão com ela - à Igreja de Jesus Cristo.
    A mensagem é a seguinte: para que uma comunidade se constitua como Igreja, não basta uma aceitação superficial da Palavra, nem manifestações humanas (por muito impressionantes que sejam). Ao mesmo tempo, é preciso que qualquer comunidade cristã tenha consciência de que não é uma célula autónoma, mas que é convidada a viver a sua fé integrada na Igreja universal, em comunhão com a Igreja universal. Toda a comunidade que quer fazer parte da família de Jesus deve, portanto, acolher a autoridade e buscar o reconhecimento dos pastores da Igreja universal. Só então se manifestará nela o Espírito, a vida de Deus.

    ACTUALIZAÇÃO

    Para a reflexão, considerar os seguintes dados:

    • Uma comunidade cristã é uma comunidade onde se manifesta a comunhão com Jesus e a comunhão com todos os outros irmãos que partilham a mesma fé. É na comunhão com os irmãos, é no amor partilhado, é na consciência de que fazemos parte de uma imensa família que caminha animada pela mesma fé, que se manifesta a vida do Espírito. Cada crente precisa de desenvolver a consciência de que não é um caso isolado, independente, autónomo: afirmações como "eu cá tenho a minha fé" não fazem sentido, se traduzem a vontade de percorrer um caminho à margem da comunidade, sem aceitar confrontar-se com os irmãos... Cada comunidade precisa de desenvolver a consciência de que não é um grupo autónomo e sem ligações, mas uma parcela de uma Igreja universal, chamada a viver na comunhão, na partilha, na solidariedade com todos irmãos que, em qualquer canto do mundo, partilham a mesma fé.

    • Constitui, para nós, um tremendo desafio a acção evangelizadora de Filipe... Apesar dos riscos corridos em Jerusalém, Filipe não desistiu, não sentiu que já tinha feito o possível, não se acomodou; mas simplesmente partiu para outras paragens a dar testemunho de Jesus. É o mesmo entusiasmo que nos anima, quando temos de dar testemunho do Evangelho de Jesus?

    • O nosso texto deixa claro, ainda, que "Deus escreve direito por linhas tortas": de uma situação má (perseguição aos crentes), nasce a possibilidade de levar a Boa Nova da libertação a outras comunidades. Às vezes, Deus tem que usar métodos drásticos para nos obrigar a sair do nosso cantinho cómodo e levar-nos ao compromisso. Muitas vezes, os aparentes dramas da nossa vida fazem parte dos projectos de Deus. É necessário aprender a olhar para os acontecimentos da vida com os olhos da fé e aprender a confiar nesse Deus que, do mal, tira o bem.

    SALMO RESPONSORIAL - Salmo 65 (66)

    Refrão 1: A terra inteira aclame o Senhor.

    Refrão 2: Aleluia.

    Aclamai a Deus, terra inteira,
    cantai a glória do seu nome,
    celebrai os seus louvores,
    dizei a Deus: «Maravilhosas são as vossas obras».

    «A terra inteira Vos adore e celebre,
    entoe hinos ao vosso nome».
    Vinde contemplar as obras de Deus,
    admirável na sua acção pelos homens.

    Todos os que temeis a Deus, vinde e ouvi,
    vou narrar vos quanto Ele fez por mim.
    Bendito seja Deus que não rejeitou a minha prece,
    nem me retirou a sua misericórdia.

    LEITURA II - 1 Pedro 3,15-18

    Leitura da Primeira Epístola de São Pedro

    Caríssimos:
    Venerai Cristo Senhor em vossos corações,
    prontos sempre a responder, a quem quer que seja,
    sobre a razão da vossa esperança.
    Mas seja com brandura e respeito,
    conservando uma boa consciência,
    para que, naquilo mesmo em que fordes caluniados,
    sejam confundidos os que dizem mal
    do vosso bom procedimento em Cristo.
    Mais vale padecer por fazer o bem,
    se for essa a vontade de Deus,
    do que por fazer o mal.
    Na verdade, Cristo morreu uma só vez pelos nossos pecados
    o Justo pelos injustos
    para nos conduzir a Deus.
    Morreu segundo a carne, mas voltou à vida pelo Espírito.

    AMBIENTE

    A primeira carta de Pedro tem-nos acompanhado nos últimos domingos... Por isso, já sabemos que se trata de um texto exortativo, enviado às comunidades cristãs estabelecidas em certas zonas rurais da Ásia Menor. Os cristãos que compõem essas comunidades pertencem maioritariamente às classes menos favorecidas. Apresentam, portanto, um quadro de fragilidade, que os torna bastante vulneráveis às perseguições que se aproximam.
    O objectivo do autor é animar esses cristãos e exortá-los à fidelidade aos compromissos que assumiram com Cristo, no dia do seu Baptismo. Para isso, o autor lembra-lhes o exemplo de Cristo, que percorreu um caminho de cruz, antes de chegar à ressurreição.

    MENSAGEM

    O nosso texto, sempre em tom exortativo, mostra qual deve ser a atitude dos crentes, confrontados com a hostilidade do mundo. Como é que os cristãos devem reagir, diante das provocações e das injustiças?
    Os cristãos devem, antes de mais, reconhecer nos seus corações a "santidade" de Cristo, que é "o Senhor" (o "Kyrios" - isto é, o próprio Deus, Senhor do mundo e da história). Desse reconhecimento da santidade e da soberania absoluta de Cristo, brota a confiança e a esperança; e, dessa forma, os crentes nada temerão e poderão enfrentar a injustiça e a perseguição (vers. 15a).
    Os cristãos devem, também, estar sempre dispostos a apresentar as razões da sua fé e da sua esperança - isto é, a dar testemunho daquilo em que acreditam (vers. 15b). No entanto, devem fazê-lo sem agressividade, com delicadeza, com modéstia, com respeito, com boa consciência, mostrando o seu amor por todos, mesmo pelos seus perseguidores. Dessa forma, os perseguidores ficarão desarmados e sem argumentos; e todos perceberão mais facilmente de que lado está a verdade e a justiça (vers. 16).
    Os cristãos devem, ainda, em qualquer circunstância - mesmo diante do ódio e da hostilidade dos perseguidores - preferir fazer o bem do que fazer o mal (vers. 17).
    O autor da carta remata a sua exortação, apresentando aos crentes a razão fundamental pela qual os crentes devem agir desta forma tão "ilógica": o próprio "Cristo morreu uma só vez pelos nossos pecados - o justo pelos injustos - para nos conduzir a Deus" (vers. 18a). Ora, se Cristo propiciou, mesmo aos injustos, a salvação, também os cristãos devem dar a vida e fazer o bem, mesmo quando são perseguidos e sofrem.
    Aliás, esse caminho de dom da vida não é um caminho de fracasso e de morte: Cristo, que morreu pelos injustos, voltou à vida pelo Espírito; por isso, os cristãos que fizerem da vida um dom - como Cristo - também ressuscitarão.

    ACTUALIZAÇÃO

    Considerar, na reflexão, os seguintes pontos:

    • Mais uma vez (tem sido um tema que tem aparecido, volta não volta, na liturgia deste tempo pascal), põe-se-nos o problema do sentido de uma vida feita dom e entrega aos outros, até à morte (sobretudo se esses "outros" são os nossos perseguidores e detractores). É possível "dar o braço a torcer" e triunfar? O amor e o dom da vida não serão esquemas de fragilidade, que não conduzem senão ao fracasso? Esta história de o amor ser o caminho para a felicidade e para a vida plena não será uma desculpa dos fracos? Não - responde a Palavra de Deus que nos é proposta. Reparemos no exemplo de Cristo: Ele deu a vida pelos pecadores e pelos injustos e encontrou, no final do caminho, a ressurreição, a vida plena.

    • Diante das dificuldades, das propostas contrárias aos valores cristãos, é em Cristo - o Senhor da vida, do mundo e da história - que colocamos a nossa confiança e a nossa esperança? Ou é noutros esquemas mais materiais, mais imediatos, mais lógicos, do ponto de vista humano?

    • Diante dos ataques - às vezes incoerentes e irracionais - daqueles que não concordam com os valores de Jesus, como nos comportamos? Com a mesma agressividade com que nos tratam? Com a mesma intolerância dos nossos adversários? Tratando-os com a lógica do "olho por olho, dente por dente"? Como é que Jesus tratou aqueles que o condenaram e mataram?

    ALELUIA - Jo 14,23

    Aleluia. Aleluia.

    Se alguém Me ama, guardará a minha palavra.
    Meu Pai o amará e faremos nele a nossa morada.

    EVANGELHO - João 14,15-21

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:
    «Se Me amardes, guardareis os meus mandamentos.
    E Eu pedirei ao Pai, que vos dará outro Defensor,
    para estar sempre convosco:
    o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber,
    porque não O vê nem O conhece,
    mas que vós conheceis,
    porque habita convosco e está em vós.
    Não vos deixarei órfãos: voltarei para junto de vós.
    Daqui a pouco o mundo já não Me verá,
    mas vós ver Me eis, porque Eu vivo e vós vivereis.
    Nesse dia reconhecereis que Eu estou no Pai
    e que vós estais em Mim e Eu em vós.
    Se alguém aceita os meus mandamentos e os cumpre,
    esse realmente Me ama.
    E quem Me ama será amado por meu Pai
    e Eu amá-lo-ei e manifestar-Me-ei a ele».

    AMBIENTE

    Continuamos no mesmo contexto em que nos colocava o Evangelho do passado domingo. A decisão de matar Jesus já está tomada pelas autoridades judaicas e Jesus sabe-o. A morte na cruz é mais do que uma probabilidade: é o cenário imediato.
    Nessa noite de quinta-feira do ano trinta, na véspera da sua morte na cruz, Jesus reuniu-Se com os seus discípulos numa "ceia". No decurso da "ceia", Jesus despediu-Se dos discípulos e fez-lhes as últimas recomendações. As palavras de Jesus soam a "testamento final": Ele sabe que vai partir para o Pai e que os discípulos vão continuar no mundo. Jesus fala-lhes, então, do caminho que percorreu (e que ainda tem de percorrer, até à consumação da sua missão e até chegar ao Pai); e convida os discípulos a seguir o mesmo caminho de entrega a Deus e de amor radical aos irmãos. É seguindo esse "caminho" que eles se tornarão Homens Novos e que chegarão a ser "família de Deus" (cf. Jo 14,1-12).
    Os discípulos, no entanto, estão inquietos e desconcertados. Será possível percorrer esse "caminho" se Jesus não caminhar ao lado deles? Como é que eles manterão a comunhão com Jesus e como receberão d'Ele a força para doar, dia a dia, a própria vida?

    MENSAGEM

    No entanto, Jesus garante aos discípulos que não os deixará sós no mundo. Ele vai para o Pai; mas vai encontrar forma de continuar presente e de acompanhar, a par e passo, a caminhada dos seus discípulos.
    É preciso, no entanto, que os discípulos continuem a seguir Jesus, a manifestar a sua adesão a Ele, a amá-l'O (o amor será o culminar dessa caminhada de adesão e de seguimento). A consequência desse amor é o cumprir os mandamentos que Jesus deixou. Nesse caso, os mandamentos deixam de ser normas externas que é preciso cumprir, para se tornarem a expressão clara do amor dos discípulos e da sua sintonia com Jesus (vers. 15).
    Como é que Jesus vai estar presente ao lado dos discípulos, dando-lhes a coragem para percorrer "o caminho" do amor e do dom da vida?
    Jesus fala no envio do "Paráclito", que estará sempre com os discípulos (vers. 16). A palavra grega "paráklêtos", utilizada por João, pertence ao vocabulário jurídico e designa, nesse contexto, aquele que ajuda ou defende o acusado. Pode, portanto, traduzir-se como "advogado", "auxiliar", "defensor". A partir daqui, pode deduzir-se, também, quer o sentido de "consolador", quer o sentido de "intercessor". No Novo Testamento, a palavra só aparece em João, onde é usada quer para designar o Espírito (cf. Jo 14,26; 15,26; 16,7), quer o próprio Jesus (que no céu, cumpre uma missão de intercessão - cf. 1 Jo 2,1).
    O "Paráclito" que Jesus vai enviar é o Espírito Santo - apresentado aqui como o "Espírito da Verdade" (vers. 17). Enquanto esteve com os discípulos, Jesus ensinou-os, protegeu-os, defendeu-os; mas, a partir de agora, será o Espírito que ensinará e cuidará da comunidade de Jesus. O Espírito desempenhará, neste contexto, um duplo papel: em termos internos, conservará a memória da pessoa e dos ensinamentos de Jesus, ajudando os discípulos a interpretar esses ensinamentos à luz dos novos desafios; por outro, dará segurança aos discípulos, guiá-los-á e defendê-los-á quando eles tiverem de enfrentar a oposição e a hostilidade do mundo. Em qualquer dos casos, o Espírito conduzirá essa comunidade em marcha pela história, ao encontro da verdade, da liberdade plena, da vida definitiva.
    Depois de garantir aos discípulos o envio do "Paráclito", Jesus reafirma aos discípulos que não os deixará "órfãos" no mundo. A palavra utilizada ("órfãos") é muito significativa: no Antigo Testamento, o "órfão" é o protótipo do desvalido, do desamparado, do que está totalmente à mercê dos poderosos e que é a vítima de todas as injustiças. Jesus é claro: os seus discípulos não vão ficar indefesos, pois Ele vai estar ao lado deles.
    É verdade que Ele vai deixar o mundo, vai para o Pai. O "mundo" deixará de vê-l'O, pois Ele não estará fisicamente presente. No entanto, os discípulos poderão "vê-l'O" ("contemplá-l'O"): eles continuarão em comunhão de vida com Jesus e receberão o Espírito que lhes transmitirá, dia a dia, a vida de Jesus ressuscitado (vers. 18-19).
    Nesse dia (o dia em que Jesus for para o Pai e os discípulos receberem o Espírito), a comunidade descobrirá - por acção do Espírito - que faz parte da família de Deus (vers. 20-21). Jesus identifica-Se com o Pai, por ter o mesmo Espírito; os discípulos identificam-se com Jesus, por acção do Espírito. A comunidade cristã está unida com o Pai, através de Jesus, numa experiência de unidade e de comunhão de vida entre Deus e o homem. Nesse dia, a comunidade será a presença de Deus no mundo: ela e cada membro dela convertem-se em morada de Deus, o espaço onde Deus vem ao encontro dos homens. Na comunidade dos discípulos e através dela, realiza-se a acção salvadora de Deus no mundo.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão e actualização da Palavra podem fazer-se a partir dos seguintes desenvolvimentos:

    • A paixão de Jesus continua a acontecer, todos os dias, na vida de cada um de nós e na vida de tantos irmãos nossos. Sentimo-nos impotentes face à guerra e ao terrorismo; não conseguimos prever e evitar as catástrofes naturais; sofremos por causa da injustiça e da opressão; vemos o mundo construir-se de acordo com critérios de egoísmo e de materialismo; não podemos evitar a doença e a morte... Acreditamos no "Reino de Deus", mas ele parece nunca mais chegar, e caminhamos, desanimados e frustrados, para um futuro que não sabemos aonde conduzirá a humanidade. No entanto, nós os crentes temos razões para ter esperança: Jesus garantiu-nos que não nos deixaria órfãos e que estaria sempre a nosso lado. Na minha leitura do mundo e da história, o que é que prevalece: o pessimismo de quem se sente só e perdido no meio de forças de morte, ou a esperança de quem está seguro de que Jesus ressuscitado continua presente, a acompanhar a caminhada da sua comunidade pela história?

    • O "caminho" que Jesus propõe aos seus discípulos (o "caminho" do amor, do serviço, do dom da vida) parece, à luz dos critérios com que a maior parte dos homens do nosso tempo avaliam estas coisas, um caminho de fracasso, que não conduz nem à riqueza, nem ao poder, nem ao êxito social, nem ao bem estar material - afinal, tudo o que parece dar verdadeiro sabor à vida dos homens do nosso tempo. No entanto, Jesus garantiu-nos que era no caminho do amor e da entrega que encontraríamos a vida nova e definitiva. Na minha leitura da vida e dos seus valores, o que é que prevalece: o pessimismo de alguém que se sente fraco, indefeso, humilde e que vai passar ao lado das grandes experiências que fazem felizes os grandes do mundo, ou a esperança de alguém que se identifica com Jesus e sabe que é nesse "caminho" de amor e de dom da vida que se encontra a felicidade plena e a vida definitiva?

    • Jesus garantiu aos seus discípulos o envio de um "defensor", de um "consolador", que havia de animar a comunidade cristã e conduzi-la ao longo da sua marcha pela história. Nós acreditámos, portanto, que o Espírito está presente, animando-nos, conduzindo-nos, criando vida nova, dando esperança aos crentes em caminhada. Quais são as manifestações do Espírito que eu vejo na vida das pessoas, nos acontecimentos da história, na vida da Igreja?

    • A comunidade cristã, identificada com Jesus e com o Pai, animada pelo Espírito, é o "templo de Deus", o lugar onde Deus habita no meio dos homens. Através dela, o Deus libertador continua a concretizar o seu projecto de salvação. A Igreja é, hoje, o lugar onde os homens encontram Deus? Ela dá testemunho (em gestos de amor, de serviço, de humanidade, de liberdade, de compreensão, de perdão, de tolerância, de solidariedade para com os pobres) do Deus que quer oferecer aos homens a salvação? O que é que nos falta - a nós, "família de Deus" - para sermos verdadeiros sinais de Deus no meio dos homens?

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 6º DOMINGO DA PÁSCOA
    (adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")

    1. A LITURGIA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao 6º Domingo da Páscoa, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa...

    2. CONVIDAR OS CONFIRMANDOS.
    Em muitas paróquias, o mês de Maio é o mês das confirmações. Neste domingo em que o tom é de esperança, porque não convidar alguns confirmandos com o seu padrinho, ou catequistas com as crianças, a dar um testemunho da acção do Espírito na vida da comunidade? Uma carta de missionários, uma correspondência com uma Igreja "ad gentes" pode também ser um excelente meio para significar a acção do Espírito. Em suma, uma atenção particular às maravilhas do Espírito, à sua acção, poderia ter o seu lugar nesta celebração.

    3. BILHETE DE EVANGELHO.
    O tempo libertado será sempre tempo livre? Por esta época do ano, temos alguns dias de tempo libertado, feriados... Podemos estar libertos, mas seremos mais livres? Livres para fazer o que dizemos não ter tempo para fazer: ler, visitar, rezar, reflectir, escrever... A nossa liberdade exerce-se nas escolhas que fizermos. Então, não apenas o tempo será libertado, mas também nós seremos libertados dos constrangimentos de que nem sempre somos mestres e também daqueles que nos são impostos por conveniência, por hábito, por ambição... Quase a iniciar o mês de Maio, em que a tradição nos convida particularmente a rezar a Maria, olhemo-la na sua plena liberdade, da manhã da Anunciação à manhã do Pentecostes, sem esquecer a tarde passada junto à cruz: sempre um "sim" dado a Deus, precisamente porque Deus queria libertar a humanidade.

    4. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

    No final da primeira leitura:
    Nosso Pai, nós Te damos graças pelo teu Espírito Santo. Tu derramaste-O em abundância sobre aqueles que, desde os primeiros tempos, acolheram a Palavra. Tu dás-nos o Espírito, a nós que somos baptizados em nome de Jesus Ressuscitado.
    Nós Te suplicamos por todas as vítimas de espíritos maus e de mentalidades contrárias ao teu amor. Que o teu Espírito os purifique.

    No final da segunda leitura:
    Nós Te damos graças por Jesus, o único santo, porque Ele, o justo, morreu pelos culpados, para nos reconciliar contigo e nos introduzir diante de Ti. Nós Te louvamos, porque nos deste a vida, no teu Espírito.
    Nós Te pedimos: enche-nos do teu Espírito de paciência e de esperança, de doçura e de respeito. Que Ele fortaleça o nosso testemunho diante do mundo.

    No final do Evangelho:
    Pai, nós Te damos graças porque não nos deixaste órfãos. Nós Te bendizemos pelo teu Espírito Santo, que permanece junto de nós e que está em nós. Nós Te louvamos por Jesus, que está em Ti e também em nós.
    Pai, nós Te rezamos, unidos ao teu Filho Jesus. Que o teu Espírito, nosso Defensor, nos guarde no teu amor e nos mantenha fiéis aos teus mandamentos.

    5. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
    Pode-se escolher a Oração Eucarística III com as suas belas epicleses.

    6. PALAVRA PARA O CAMINHO.
    Dar razões da Esperança que habita em nós... Num mundo em busca de sentido, temos consciência de que cabe a cada um de nós anunciar Aquele que nos faz viver? "Dar razões"... passa pela qualidade do nosso amor, oferecido a todos sem condição, na doçura e no respeito das diferenças...

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    Proposta para
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
    Tel. 218540900 - Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.org

    S. Matias

    S. Matias


    14 de Maio, 2023

    S. Matias não pertencia ao grupo dos Doze escolhidos por Jesus para seus companheiros e mensageiros (Mc 3, 14). Mas provavelmente era um dos setenta e dois discípulos que Jesus enviou em missão (Lc 10, 1ss.). De qualquer modo, como firma S. Pedro, estava entre aqueles que, após o batismo de Jesus por João Batista, não tinham deixado de acompanhar os Apóstolos e haviam sido testemunhas da Ressurreição (At 1, 22-23). Quando após a Ascensão se tornou necessário escolher um substituto para Judas, Matias foi agregado ao Colégio Apostólico. O seu nome encontra-se no segundo elenco do Cânon Romano.

    Lectio

    Primeira leitura: Atos dos Apóstolos 1, 15-17, 20-26

    Por aqueles dias, Pedro levantou-se no meio dos irmãos - encontravam-se reunidas cerca de cento e vinte pessoas - e disse: 16«Irmãos, era necessário que se cumprisse o que o Espírito Santo anunciou na Escritura pela boca de David a respeito de Judas, que foi o guia dos que prenderam Jesus. 20Está realmente escrito no Livro dos Salmos:'Fique deserta a sua habitação e não haja quem nela resida'. E ainda: 'Receba outro o seu encargo.'21Portanto, de entre os homens que nos acompanharam durante todo o tempo em que o Senhor Jesus viveu no meio de nós, 22a partir do baptismo de João até ao dia em que nos foi arrebatado para o Alto, é indispensável que um deles se torne, connosco, testemunha da sua ressurreição.»23Designaram dois: José, de apelido Barsabas, chamado Justo, e Matias. 24Fizeram, então, a seguinte oração: «Senhor, Tu que conheces o coração de todos, indica-nos qual destes dois escolheste  25para ocupar, no ministério apostólico, o lugar abandonado por Judas, que foi para o lugar que merecia.» 26Depois, tiraram à sorte, e a sorte caiu em Matias, que foi incluído entre os onze Apóstolos.

    Pedro, ao iniciar o seu ministério, preocupa-se em recompor o número dos apóstolos, - Doze -, explicando à comunidade as motivações de tal preocupação. Para entrar no Colégio Apostólico, o candidato deve ter partilhado as experiências do ministério público de Jesus. Exige-o o testemunho eficaz da Ressurreição do Senhor. Para o cristão, a fé enxerta-se na história e a história abre-se a Deus que visita e salva. A oração dos Apóstolos (vv. 24-25) sugere claramente que a escolha não é obra deles, mas é confiada à vontade e à intervenção do Senhor.

    Segunda leitura: João 15, 9-17

    Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos: Assim como o Pai me tem amor, assim Eu vos amo a vós. Permanecei no meu amor. 10Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu, que tenho guardado os mandamentos do meu Pai, também permaneço no seu amor. 11Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa. 12É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei. 13Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos. 14Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando. 15Já não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai. 16Não fostes vós que me escolhes-tes; fui Eu que vos escolhi a vós e vos destinei a ir e a dar fruto, e fruto que permaneça; e assim, tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome Ele vo-lo concederá. 17É isto o que vos mando: que vos ameis uns aos outros.

    O apóstolo partilha a missão de Jesus, que o escolhe e envia. Mas, ainda antes disso, Jesus e os seus discípulos partilham o mesmo amor que Deus, o Pai, lhes deu. O primeiro dever do apóstolo é permanecer no amor, no amor de Jesus para com ele, e no amor de Jesus para com o Pai. É viver na comunhão simultaneamente horizontal e vertical, isto é, com os irmãos na fé e com Deus, meta última do nosso amor. O discípulo de Jesus, porque se sente amado e partilha com Jesus o amor do Pai, sabe que tem um mandamento a observar, o mandamento do amor. Este mandamento não inibe a nossa liberdade, mas exalta-a. O verdadeiro discípulo de Jesus tem plena consciência de ser seu amigo, e sente-se chamado a viver essa amizade "até ao fim", até ao dom de si mesmo.

    Meditatio

    S. Matias foi escolhido para ser amigo de Jesus e seu apóstolo. Como aos Onze, que restavam do Colégio Apostólico, Jesus diz: "És meu amigo, se fizeres o que Eu te mando." (cf. v. 14). Os temas do mandamento e o do amor repetem-se, hoje, no evangelho: "Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor." (vv. 9-10); "É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei." (v. 12). Esta insistência no mandamento, a propósito do amor, pode causar-nos estranheza. O amor, pensamos, só pode ser livre, uma vez que é algo de espontâneo e se desenvolve por leis próprias. Não são precisos mandamentos para o observar. Mas o cristão sabe que o verdadeiro amor não é pura espontaneidade, mas dom de Deus, derramado nos nossos corações. Para Jesus o verdadeiro amor leva a cumprir a vontade do outro: "Eu tenho guardado os mandamentos do meu Pai, e permaneço no seu amor" cf. (v. 10). Para amar o Pai, Jesus vive em permanente adesão à sua vontade. O Pai, e Jesus, querem que também nós amemos. Trata-se de uma espécie de círculo, que não é vicioso, mas de progresso no amor. A verdadeira adesão à vontade de Deus realiza-se no amor e, para que o nosso amor progrida, é preciso que seja adesão à vontade divina. Esta é a lei fundamental da vida espiritual: para amar, procuramos a vontade de Jesus, a vontade do Pai; procurando e cumprindo esta vontade, progredimos no amor.
    A oblação de amor, a que somos chamados, como dehonianos, concretiza-se na obediência amorosa à vontade de Deus. Lemos nas Constituições: "Jesus submeteu-Se amorosamente à vontade do Pai: disponibilidade particularmente manifesta na sua atenção e abertura às necessidades e aspirações dos homens. "O meu alimento é fazer a vontade d'Aquele que Me enviou e realizar a sua obra" (Jo 4,34). Queremos, a seu exemplo, pela profissão da obediência, fazer o sacrifício de nós mesmos a Deus e unir-nos, de uma maneira mais firme, à sua vontade de salvação". (Cst 53).

    Oratio

    Senhor Jesus, quero ser teu amigo. Não olhes para os meus méritos, mas para a misericórdia do teu coração. Perdoa o meu pecado e olha-me com predileção. Sei que precisas de colaboradores livres e alegres. Quero ser um deles. Tenho muito que aprender de ti e tu tens muito para me ensinar e entregar. Eis-me aqui! Quero ser teu amigo, um dos teus prediletos, um daqueles a quem confias quanto tens no coração e, como tu, fazer em tudo a vontade do Pai. Ámen.

    Contemplatio

    É preciso, diz S. Pedro, substituir o traidor e escolher um outro apóstolo. Procuremos, portanto, um discípulo fiel, um discípulo que tenha estado todo o tempo connosco, desde o começo da vida pública do Salvador até à sua morte. E escolheram dois, os mais fiéis, os mais zelosos discípulos do Salvador, José Barsabas, chamado o Justo, e Matias. Este não tinha o sobrenome de Justo, mas tinha a sua reputação. Ambos tinham seguido assiduamente o Salvador; não o tinham deixado; tinha escutado e posto em prática os seus ensinamentos. Eram os mais dedicados, os mais assíduos, os mais fiéis depois dos doze. Tinham visto tudo, ouvido tudo, meditado tudo... Podiam receber a imposição das mãos, o sacerdócio, o carácter episcopal e a missão apostólica. Mas, qual dos dois vão escolher? ... S. Pedro tem a piedosa inspiração de confiar a escolha a Deus reportando-se à sorte. E a sorte caiu em Matias. É, portanto, ele o fiel por excelência, o discípulo perfeito, que melhor ensinará a doutrina de Cristo e que melhor reproduzirá as virtudes do seu divino Coração. Se quero ter os favores divinos, eis o caminho: seguir fielmente Jesus, meditar em todos os seus mistérios, do começo até ao fim, deixar-me compenetrar dos sentimentos do seu Coração sagrado e reproduzir as suas virtudes. (Leão Dehon, OSP 3, p. 213).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Permanecei no meu amor" (Jo 15, 9).

    (14 maio)

  • 6ª Semana - Segunda-feira - Páscoa

    6ª Semana - Segunda-feira - Páscoa


    15 de Maio, 2023

    6ª Semana - Segunda-feira - Páscoa

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 16, 11-15

    Naqueles dias, embarcámos em Tróade e fomos directamente a Samotrácia; no dia seguinte, fomos a Neápoles 12e de lá, a Filipos, cidade de primeira categoria deste distrito da Macedónia, e colónia. Estivemos aí durante alguns dias. 13No dia de sábado, saímos fora de portas, em direcção à margem do rio, onde era costume haver oração. Depois de nos sentarmos, começámos a falar às mulheres que lá se encontravam reunidas. 14Uma das mulheres chamada Lídia, negociante de púrpura, da cidade de Tiatira e temente a Deus, pôs-se a escutar. O Senhor abriu-lhe o coração para aderir ao que Paulo dizia. 15Depois de ter sido baptizada, bem como os de sua casa, fez este pedido: «Se me considerais fiel ao Senhor, vinde ficar a minha casa.» E obrigou-nos a isso.

    Deus conduziu Paulo e seus companheiros para um novo campo de acção, a Macedónia, já na Europa. Em Filipos, os missionários sentem-se como estranhos. A cidade tinha um acentuado carácter romano, pois se tornara colónia do Império desde o ano 42 aC. Com o grego, também se falava o latim. A administração civil ajustava-se ao padrão romano, e não ao grego. Os judeus eram muito poucos, como denota o facto de não haver sinagoga e o costume de se reunirem, no dia de sábado, junto ao rio. Paulo parece encontrar lá apenas mulheres. Entre elas, destaca-se Lídia, uma rica comerciante de púrpura, que parece ter aderido ao judaísmo, pelo menos como ouvinte. Para Lucas, ela é o paralelo feminino de Cornélio, é «uma crente em Deus».
    Ao contrário do que acontecera em Antioquia da Pisídia, onde algumas mulheres tinham tomado parte na revolta contras os missionários, Lídia acolhe-os na sua casa, provavelmente espaçosa, pois «o Senhor lhe abriu o coração para aderir ao que Paulo dizia» (v. 14). É sempre o Senhor que acompanha os seus missionários e torna eficaz a sua palavra.

    Evangelho: João 15, 26 - 16, 4a

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 26Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, e que Eu vos hei-de enviar da parte do Pai, Ele dará testemunho a meu favor. 27E vós também haveis de dar testemunho, porque estais comigo desde o princípio.» 1«Dei-vos a conhecer estas coisas para não vos perturbardes. 2Sereis expulsos das sinagogas; há-de chegar mesmo a hora em que quem vos matar julgará que presta um serviço a Deus! 3E farão isto por não terem conhecido o Pai nem a mim. 4Deixo-vos ditas estas coisas, para que, quando chegar a hora, vos lembreis de que Eu vo-las tinha dito.

    A perseguição é praticamente a primeira experiência da Igreja. Os discípulos de Jesus foram perseguidos, primeiro pelos judeus e, depois, também pelos pagãos. Jesus tinha-os advertido para essas situações. O mundo opôs-se a Cristo, e irá opor-se também aos cristãos, porque não são do mundo, porque são de Cristo. Além disso, o servo não é mais do que o seu senhor. O ódio do mundo e a perseguição dos

    discípulos são considerados inevitáveis. Até se julgam fazerem parte daquela intensificação do mal, que preludia o juízo.
    Jesus viveu entre a animosidade e a perseguição. Que podem esperar os seus discípulos, chamados a anunciar a mensagem que O levou à morte? É verdade que nem todos recusaram Jesus e a sua palavra. Alguns amaram-no por causa do testemunho de João Batista, e por causa do testemunho que o próprio Jesus deu de Si mesmo. Por isso, é preciso continuar a testemunhar o Senhor, para que aumente o número dos que O amam. Nessa tarefa, os discípulos são ajudados pelo testemunho do Espírito de verdade que Jesus enviará do Pai. E a poderosa acção do Espírito irá manifestar-se exactamente nas perseguições. Há que não esquecê-lo, quando chegar a hora.

    Meditatio

    Paulo, depois da visão do macedónio que lhe suplicava: «Vem ajudar-nos!» (Act 16, 9), embarca em Tróade e vai para Neápoles, cidade próxima de Filipos, na Macedónia. As primeiras pessoas que escutam a palavra de Deus são mulheres. Entre elas destaca-se «Lídia, negociante de púrpura, e temente a Deus» (v. 14). Esta mulher, não só aderiu às palavras de Paulo e dos seus companheiros, mas, uma vez baptizada, recebeu-os em sua casa.
    A primeira criatura humana a acolher a Palavra foi Maria. Quando a Palavra chegou à Europa, foi também uma mulher, Lídia, que, por primeira, a acolheu, com outras mulheres. Isto é bonito e dá alegria, principalmente às próprias mulheres.
    A vida cristã é tempo de tentação e tempo de testemunho, tempo de luta e tempo de colaboração com o Espírito no testemunho de Cristo Ressuscitado. Como Cristo foi incompreendido, também os seus discípulos o são. Como Cristo foi perseguido e morto, também os cristãos estão sujeitos a sê-lo. O texto evangélico que escutamos hoje dá-nos uma perspectiva «heróica» da vida cristã. O cristão é chamado a dar testemunho em sentido pleno. É chamado a ser «mártir». A realidade de Cristo é tão decisiva para a humanidade e, ao mesmo tempo, tão estranha ao modo comum de pensar, que todo aquele que alinha por Cristo é quase inevitavelmente marginalizado e, por vezes, chega a ser eliminado. A história dos mártires mostra claramente essa realidade.
    Também hoje, os discípulos de Cristo, particularmente os missionários, sofrem, não só pelas dificuldades normais da vida e do apostolado, mas também pela incompreensão e pela hostilidade do mundo, em nome do progresso, da emancipação e da modernização, da libertação de tabus, dos direitos humanos, etc., etc.
    Já o Pe. Dehon recordava, no seu Diário, os seus muitos missionários que sacrificaram a vida: «Alguns morreram generosamente na missão, no Congo, no Brasil» (Diário XLV, 41: Fevereiro de 1925.). E, em Março de 1912, escreve nas Memórias: «Os nossos mortos do Congo, do Brasil, do Equador! No Congo 17 deram a vida pela conversão dos negros. Um santo cardeal dizia-me que só pelo simples facto de irem lá para baixo, expondo-se ao perigo de uma morte iminente, merecer-lhe-ia a palma do martírio» (LC n. 381).
    Se todo o nosso apostolado deve ser «uma oblação agradável a Deus» (Cst.
    31), deve sê-lo, de modo muito particular, o apostolado missionário. Se o convite do n. 22 das Constituições: «oferecer-nos ao Pai como oblação viva, santa e agradável», vale para todos os religiosos
    do Pe. Dehon, deve realizar-se, de modo particular, naqueles que se consagram ao apostolado missionário.

    Oratio

    Senhor, quero hoje, mais uma vez rezar-te com o teu servo Leão Dehon: Dá- me, a força de que preciso. Toca o meu coração pelo teu amor, a fim de que esteja preparado para ultrapassar todas as dificuldades e todas as provações. Sei que nada custa àquele que ama. Para me fortalecer, procurarei o teu amor e recordar-me-ei constantemente das bondades do teu divino Coração. Amen. (OSP 3, p. 447).

    Contemplatio

    O Espírito Santo recordar-nos-á o exemplo de Nosso Senhor o qual nos sustentará.
    Nosso Senhor escolheu-nos como seus apóstolos, para espalharmos o seu amor, para trabalharmos no reino do seu Coração. Atacaremos a corrupção do mundo, o mundo corrompido levantar-se-á contra nós. Mas, se o mundo nos odeia, sabemos que primeiro odiou Nosso Senhor. O servo não é maior que o seu senhor.
    Se perseguiram Nosso Senhor, também nos hão-de perseguir. Como ele, havemos de suportar com paciência as perseguições. As provações hão-de servir para o nosso avanço na virtude, para a nossa santificação.
    As promessas de Nosso Senhor suster-nos-ão também. Sabemos que o socorro nos virá em tempo conveniente e que seremos recompensados por tudo o que tivermos sofrido.
    Nosso Senhor preveniu-nos para que não nos escandalizemos, e para que as provas não nos desencorajem nem nos abatam. O Espírito Santo fortificar-nos-á, iluminar-nos-á. Convencerá o mundo do pecado. Propagando a verdade e a virtude pelos ministros do Evangelho, manifestará a iniquidade do mundo e a justiça cristã.
    Confessaremos a sua doutrina, seguiremos os seus ensinamentos, imitaremos os seus exemplos. Confessá-lo-emos com o coração, com a boca e com a acção. Dirigiremos os nossos pensamentos, os nossos desejos, os nossos projectos para tudo o que possa contribuir para a glória de Deus e para a salvação das almas. Regularemos as nossas palavras segundo a sua lei, evitando tudo o que fira a caridade, a verdade, a humildade. Agiremos como ele fazendo unicamente a vontade do Pai.
    Tenhamos coragem na acção e no sofrimento. As tentações virão e as quedas também. O demónio e o mundo não repousam. A vida tem as suas provas inevitáveis. O Espírito Santo fortificar-nos-á para a luta e para a paciência. Dar-nos-á a força da lei, a da esperança e sobretudo a do amor. Recordar-nos-á a necessidade da expiação, a brevidade da vida, a recompensa do céu; mas acima de tudo unir-nos-á a Nosso Senhor pela caridade. Amando-o, conformar-nos-emos aos seus sentimentos. Sofreremos de boamente com ele e por ele. Nada custa àquele que ama.
    Tenhamos coragem. A vida de amor exclui a tristeza. Vivamos no fervor e no puro amor. O Espírito de amor nos sustentará, se soubermos ir buscá-lo ao Coração de Jesus (Leão Dehon, OSP 3, p. 446s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Dei-vos a conhecer estas coisas para não vos perturbardes» (Jo 16, 1).

  • 6ª Semana - Terça-feira - Páscoa

    6ª Semana - Terça-feira - Páscoa


    16 de Maio, 2023

    6ª Semana - Terça-feira - Páscoa

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 16, 22-34

    Naqueles dias, 22a multidão amotinou-se contra eles; e os estrategos, arrancando-lhes as vestes, mandaram-nos açoitar. 23Depois de lhes terem dado muitas vergastadas, lançaram-nos na prisão, recomendando ao carcereiro que os tivesse sob atenta vigilância. 24Ao receber tal ordem, este meteu-os no calabouço interior e prendeu-lhes os pés no cepo.
    25Cerca da meia-noite, Paulo e Silas, em oração, entoavam louvores a Deus, e os presos escutavam-nos. 26De repente, sentiu-se um violento tremor de terra que abalou os alicerces da prisão. Todas as portas se abriram e as cadeias de todos se desprenderam. 27Acordando em sobressalto, o carcereiro viu as portas da prisão
    abertas e puxou da espada para se matar, pensando que os presos se tinham evadido. 28Paulo, então, bradou com voz forte: «Não faças nenhum mal a ti mesmo, porque nós estamos todos aqui.» 29O carcereiro pediu luz, correu para dentro da masmorra e lançou-se a tremer, aos pés de Paulo e de Silas. 30Depois, trouxe-os para fora e perguntou: «Senhores, que devo fazer para ser salvo?» 31Eles responderam:
    «Acredita no Senhor Jesus e serás salvo tu e os teus.» 32E anunciaram-lhe a palavra do Senhor, assim como aos que estavam na sua casa. 33O carcereiro, tomando-os consigo, àquela hora da noite, lavou-lhes as feridas e imediatamente se baptizou, ele e todos os seus. 34Depois, levando-os para cima, para a sua casa, pôs-lhes a mesa e entregou-se, com a família, à alegria de ter acreditado em Deus.

    Lucas quer suscitar nos seus leitores a confiança em Deus, que tem mais poder que os homens, e pode transformar as dificuldades em graça. Por isso, «romanceia» muito o seu relato. Paulo e Silas tinham expulsado o espírito pitónico de uma escrava bruxa. Os seus senhores, que assim viram desaparecer uma fonte de rendimento, arrastaram os missionários à presença dos magistrados, e acusaram-nos de criar desordem na cidade, apregoando usos contrários aos dos romanos. Os magistrados, sem grandes investigações, mandaram açoitar os acusados e puseram-nos na prisão, bem vigiados. Mais tarde, invocando a sua cidadania romana, Paulo irá protestar contra os abusos cometidos contra ele. Entretanto, dá-se a clamorosa conversão narrada no texto que hoje escutamos. O testemunho sereno dos prisioneiros, a sua lealdade, a série de eventos extraordinários, impressionam o carcereiro, que pergunta aos apóstolos:
    «Senhores, que devo fazer para ser salvo?» (v. 30). A resposta é simples e directa:
    «Acredita no Senhor Jesus» (v. 31). Assim, depois de Lídia, prosélita judaica, um funcionário romano, entra a fazer parte da comunidade de Filipos, tão cara a Paulo.

    Evangelho: João 16, 5-11

    «Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 5«Agora vou para aquele que me enviou, e ninguém de vós me pergunta: 'Para onde vais?' 6Mas, por vos ter anunciado estas coisas, o vosso coração ficou cheio de tristeza. 7Contudo, digo-vos a verdade: é melhor para vós que Eu vá, pois, se Eu não for, o Paráclito não virá a vós; mas, se Eu for, Eu vo-lo enviarei. 8E, quando Ele vier, dará ao mundo provas irrefutáveis de uma culpa, de uma inocência e de um julgamento: 9de uma culpa,

    pois não creram em mim; 10de uma inocência, pois Eu vou para o Pai, e já não me vereis; 11de um julgamento, pois o dominador deste mundo ficou condenado.»

    Jesus anuncia a sua partida deste mundo, e afirma que ela é conveniente para os discípulos. Jesus fala da sua morte, que só poderá ser entendida à luz do Espírito Santo. O testemunho de Jesus, que os discípulos hão-de dar, só será possível depois de entenderem quem é Jesus, o que significou a sua presença no meio de nós, e qual foi o sentido da sua morte e da sua ressurreição. E só o Espírito lhes pode dar esse entendimento. Os discípulos hão-de sofrer perseguições. Mas elas serão intoleráveis se não estiverem convencidos e seguros daquilo pelo qual serão perseguidos.
    Além de dar testemunho de Jesus, o Espírito também acusará o mundo de pecado por O ter rejeitado. Os crentes ficarão esclarecidos sobre o erro do mundo, sobre o seu pecado de incredulidade. A condenação de Cristo foi inconsistente. A sua ressurreição condenou o príncipe deste mundo para sempre. Jesus, morto e ressuscitado, é o verdadeiro vencedor.

    Meditatio

    A pregação, em Filipos, teve um começo prometedor. Mas acabou de modo desastroso, quando se levantou um motim contra os missionários, que foram acusados perante as autoridades e lançados na prisão. Paulo, como cidadão romano, estava isento destes processos sumários feitos pelas autoridades locais. Mas, dessa vez, não invocou tal direito. E seguiu-se todo o episódio descrito por Lucas. Enquanto Paulo e Silas cantam os louvores de Deus na prisão, dá-se um terramoto que escancara as portas da mesma. Os apóstolos podiam ter fugido, como pensou o carcereiro. Mas permaneceram na prisão, confiando em Deus e no seu poder para transformar as dificuldades e problemas dos seus missionários em ocasiões de graça. E foi o que aconteceu. O carcereiro converteu-se. E a Igreja teve o primeiro encontro com Roma, representada pelas autoridades da colónia romana de Filipos. Lucas quer mostrar que o cristianismo nunca foi um perigo para a lei e para a ordem no Império. Por isso, Roma deve reconhecer-lhe liberdade para pregar o Evangelho.
    A acção missionária da Igreja está sempre sujeita a vicissitudes idênticas às
    que Paulo e Silas tiveram de enfrentar. Mas há que prosseguir a missão, confiando em Deus e no seu poder. A história da Igreja mostra-nos como Deus, pela persistência e pela fé dos missionários, faz maravilhas. Lembro-me concretamente da Igreja que está em Moçambique e do que teve de enfrentar, seja durante a guerra colonial, seja durante os primeiros anos da independência do país. Não faltaram dificuldades de toda a ordem, incluindo acusações de colaborar com uma ou outra força durante a guerra colonial, ou de ser um instrumento do imperialismo, depois da independência. Mas a Igreja não se deixou impressionar e permaneceu em nome da fidelidade a Deus, e em nome da fidelidade ao povo. O seu notável papel acabou por ser reconhecido.
    O evangelho faz-nos ver como, enquanto o mundo condena os discípulos de
    Jesus, o Espírito inverte a situação, revelando o verdadeiro ser do mundo, o seu erro, a sua nulidade. É uma luz que emerge no critério do juízo divino, diferente e até oposto ao do mundo. Perseguidos e condenados pelos tribunais do mundo, os discípulos podem julgar e condenar o mundo, enquanto esperam o juízo final que revelará os termos exactos do entend
    imento divino.
    Precisamos muito, hoje, deste Espírito que reforça os corações, que torna evidentes as razões para crer, e que dá coragem para nos opormos à mentalidade deste mundo cada vez mais seguro de si, e mais sedutor. Precisamos, sobretudo, que o Espírito nos mostre que muitos sectores do mundo «mundano» têm em si componentes diabólicas, que a batalha entre Cristo e o príncipe deste mundo

    continua, e que somos chamados a participar nessa luta decisiva dentro de nós, entre nós e à nossa volta.
    É verdade que todos somos criaturas frágeis, cansadas e fatigadas: "cansadas" pela luta contra o mal; "fatigadas" pelo peso da nossa carne fraca, e pelo peso das nossas culpas. Mas Cristo, com misericordiosa bondade, convida-nos a ir a Ele para termos força na luta: «Vinde a Mim, todos vós, que vos estais cansados e oprimidos, e aliviar-vos-ei... Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração e achareis alívio para as vossas almas, pois o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve» (Mt 11,
    28-30).
    A nossa luta contra o mal passa pelo anúncio do Evangelho, mas também pelo empenhamento em favor da justiça e da paz entre os homens. Foi que fez o Pe. Dehon, com o seu intenso apostolado social, em S. Quintino. Isto é importante para as pessoas pobres e desprotegidas, mas também é importante para a Igreja, frequentemente sentida como "um corpo estranho", mas que se torna credível quando se compromete seriamente em favor do homem, e na luta pela sua libertação de todas as formas de opressão.

    Oratio

    Veni Sancte Spiritus! Vem Espírito Santo, para que resistamos ao poder do mundo. Vê como somos fracos, como somos tímidos, e como as razões do mundo avançam na conquista dos corações dos jovens e dos menos jovens. Que poderemos fazer, se não vieres em nosso auxílio? Os nossos argumentos passam ao lado de muitos dos nossos contemporâneos, sem lhes beliscar a couraça das seguranças em que põem a sua confiança. Sem o teu Espírito, tornamo-nos como o sal que não salga, ou como a luz que não alumia. Sem o teu Espírito, corremos o risco de nos sentir defensores de uma causa perdida. Enche-nos do teu Paráclito, do teu Advogado, do teu Arguente, do teu Defensor, do teu Consolador, para que não fujamos à luta, não fiquemos desarmados, não nos afoguemos no difuso paganismo que nos envolve. Faz- nos profetas críticos deste mundo, profetas entusiastas do teu mundo, da tua verdade. Amen.

    Contemplatio

    Também neste ponto Nosso Senhor não nos deixará órfãos. Suster-nos-á pelo seu Espírito. As provas virão e muito grandes. Estaremos à mercê do ódio do mundo e das perseguições, mas não tenhamos medo, as perseguições não impedirão nem o cumprimento dos desígnios de Deus nem o estabelecimento do seu reino. O Espírito Santo dará testemunho a Nosso Senhor pela verdade que há-de propagar e pelas obras que há-de inspirar; e nós, fortificados pelo Espírito Santo, daremos também testemunho a Nosso Senhor pregando a verdade e suportando por ela todas as provas e contradições.
    Devemos ser os instrumentos do Espírito Santo para a renovação do mundo. Encontraremos nele todos os socorros necessários para cumprirmos dignamente a nossa missão apostólica. Fortificar-nos-á na verdade, no zelo e na paciência.
    A oração será o canal da nossa força. Rezaremos a Deus com uma fé íntegra e uma viva confiança pelo sucesso das nossas obras, pela salvação das almas e pelo reino do Sagrado Coração. «Pedi e recebereis, diz-nos Nosso Senhor, e a vossa alegria será completa. Pedi em meu nome, com a ajuda do Espírito Santo, meu Pai vos ama, porque vós me amais e vos atenderá» (Leão Dehon, OSP 3, p. 445).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    ,,Se Eu for, Eu enviar-vos-ei O Consolador,,: (Jo 16, 7).

  • 6ª Semana - Quarta-feira - Páscoa

    6ª Semana - Quarta-feira - Páscoa


    17 de Maio, 2023

    6ª Semana - Quarta-feira - Páscoa

    Lectio

    Primeira leitura: Act 17, 15. 22-18,1

    Naqueles dias, 15os que acompanhavam Paulo levaram-no a Atenas e regressaram, incumbidos de transmitir a Silas e a Timóteo a ordem de irem reunir-se a Paulo o mais rapidamente possível.
    22De pé, no meio do Areópago, Paulo disse, então: «Atenienses, vejo que sois, em tudo, os mais religiosos dos homens. 23Percorrendo a vossa cidade e examinando os vossos monumentos sagrados, até encontrei um altar com esta inscrição: 'Ao Deus desconhecido.' Pois bem! Aquele que venerais sem o conhecer é esse que eu vos anuncio. 24O Deus que criou o mundo e tudo quanto nele se encontra, Ele, que é o Senhor do Céu e da Terra, não habita em santuários construídos pela mão do homem, 25nem é servido por mãos humanas, como se precisasse de alguma coisa, Ele, que a todos dá a vida, a respiração e tudo mais. 26Fez, a partir de um só homem, todo o género humano, para habitar em toda a face da Terra; e fixou a sequência dos tempos e os limites para a sua habitação, 27a fim de que os homens procurem a Deus e se esforcem por encontrá-lo, mesmo tacteando, embora não se encontre longe de cada um de nós. 28É nele, realmente, que vivemos, nos movemos e existimos, como também o disseram alguns dos vossos poetas: 'Pois nós somos também da sua estirpe.'
    29Se nós somos da raça de Deus, não devemos pensar que a Divindade é semelhante ao ouro, à prata ou à pedra, trabalhados pela arte e engenho do homem. 30Sem ter em conta estes tempos de ignorância, Deus faz saber, agora, a todos os homens e em toda a parte, que todos têm de se arrepender, 31pois fixou um dia em que julgará o universo com justiça, por intermédio de um Homem, que designou, oferecendo a todos um motivo de crédito, com o facto de o ter ressuscitado de entre os mortos.» 32Ao ouvirem falar da ressurreição dos mortos, uns começaram a troçar, enquanto outros disseram: «Ouvir-te-emos falar sobre isso ainda outra vez.» 33Foi assim que Paulo saiu do meio deles. 34Alguns dos homens, no entanto, concordaram com ele e abraçaram a fé, entre os quais Dionísio, o areopagita, e também uma mulher de nome Dâmaris e outros com eles. 1Depois disso, Paulo afastou-se de Atenas e foi para Corinto.

    Em Atenas, Paulo utiliza uma nova técnica para anunciar o Evangelho. Não começa por citar as Escrituras, como entre os judeus, mas começa por referir a religiosidade dos gregos. O discurso no Areópago de Atenas é um exemplo de inculturação, que não atraiçoa a originalidade da mensagem cristã. Mesmo dirigindo-se a estóicos e epicuristas, mesmo citando poetas gregos, Paulo faz um discurso de profeta, anunciando um homem «ressuscitado de entre os mortos» (v. 31). Ainda que se insira na linha dos filósofos e dos poetas, que tinham criticado a idolatria, diz o que eles nem sequer podiam imaginar: a verdade alcança-se por meio de um homem ressuscitado de entre os mortos, que também será o juiz final, isto é, o critério definitivo do bem e do mal.
    Um discurso, tão pouco racional, divide, mais uma vez, o auditório. Muitos afastam-se de riso nos lábios. Mas alguns aderem à mensagem.
    Ao citar este discurso de Paulo, Lucas quer dar um exemplo de como se pode apresentar o Kerygma aos pagãos cultos. Os resultados são sempre idênticos: há quem acolha a Palavra e quem a rejeite. Apesar de tudo, nasce uma comunidade cristã na capital da cultura daquele tempo.

    Evangelho: Jo 16, 12-15

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 12«Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender por agora. 13Quando Ele vier, o Espírito da Verdade, há-de guiar-vos para a Verdade completa. Ele não falará por si próprio, mas há-de dar-vos a conhecer quanto ouvir e anunciar-vos o que há-de vir.
    14Ele há-de manifestar a minha glória, porque receberá do que é meu e vo-lo dará a conhecer. 15Tudo o que o Pai tem é meu; por isso é que Eu disse: 'Receberá do que é meu e vo-lo dará a conhecer'.»

    Jesus, durante a sua vida terrena, não pôde ensinar muitas coisas aos discípulos, porque não eram capazes de as entender, pelo menos em profundidade. Só o Espírito Santo é o mestre interior e o guia para a verdade completa. A vinda do Espírito Santo inaugurará uma nova fase do conhecimento da palavra de Jesus. O seu ensinamento será dado no íntimo do coração de cada discípulo. Por ele, hão-de conhecer os segredos da verdade de Cristo e interiorizá-los.
    A missão do Espírito será semelhante à de Jesus, mas dirigida para o passado e para o futuro. Como durante a sua vida terrena o Filho nada fez sem o consenso e a unidade do Pai, assim também o Espírito há-de agir em perfeita dependência de Jesus, na Igreja pós-pascal. O Espírito será guia na compreensão da palavra de Jesus e do próprio Jesus; fará ver a realidade de Deus e dos homens como o Pai e o Filho a vêem; fará conhecer a mundo e a história na perspectiva da novidade iniciada com a morte e a ressurreição de Cristo.

    Meditatio

    Paulo verifica que os atenienses são muito religiosos, que sabem muito de religião, que se tinham preocupado em honrar todos os deuses e que, entre muitos erros, tinham tido uma boa inspiração, ao de dedicar um altar «ao Deus desconhecido» (v. 23). A consciência da sua ignorância podia ser uma preparação para acolher a revelação do verdadeiro Deus. Mas, para isso, ainda precisavam do Espírito de verdade, que só é dado por meio do Ressuscitado. Muitos, todavia, não estavam preparados para isso. De facto, «ao ouvirem falar da ressurreição dos mortos, uns começaram a troçar, enquanto outros disseram: «Ouvir-te-emos falar sobre isso ainda outra vez» (v. 32). Mas houve quem estivesse preparado para acolher o Espírito de verdade, concordando com Paulo: «Alguns dos homens, no entanto, concordaram com ele e abraçaram a fé» (v. 34).
    Uma coisa é saber muito sobre religião e repeti-lo como uma teoria qualquer, e outra é fazer experiência de fé, tomando consciência profunda do que é ser salvo por Jesus. Essa experiência e essa consciência são uma graça do Espírito Santo, o Espírito de verdade, segundo as palavras de Jesus. É o Espírito que nos permite fazer a exegese das palavras do Senhor, para caminharmos pela história com a «mente de Deus», isto é, com o seu modo de ver e de julgar, de sentir e de actuar. Essa «mente de Deus» coloca, muitas vezes, os discípulos em confronto com a mentalidade do mundo. O verdadeiro sentido das coi
    sas, da história, dos acontecimentos está reservado àqueles que têm o Espírito, o deixam falar e escutam a sua voz num coração purificado: «Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus» (Mt. 5, 8). As épocas mais criativas da história, para a fé, foram aquelas em que os cristãos se empenharam seriamente na libertação interior, na oração, na santidade.

    As palavras do Senhor realizam-se maximamente nos santos, e são eles que melhorem compreendem as coisas de Deus e o momento histórico em que vivem. Conhecer a realidade segundo Deus é algo de diferente do conhecimento simplesmente racional: é deixar que o Espírito fale num coração vazio de coisas demasiadamente terrenas.
    O Pe. Dehon foi um desses homens que soube ler a realidade à luz de Deus.
    Estudou atentamente as causas dos males da Igreja e da sociedade do seu tempo. Mas não o fez como simples sociólogo ou pastoralista. Fê-lo como verdadeiro místico. Daí que tenha visto no pecado, entendido como recusa do amor, que Deus a todos oferece, e com que pretende ser amado, e quer que nos amemos uns aos outros, a causa mais profunda das deficiências da Igreja e das injustiças sociais. Por essa razão é que, ao falar aos noviços, chegou a afirmar que «a reparação por meio do amor puro é a salvação da Igreja e dos povos, é a solução da actual questão social» (CF III,
    46: 25.7.1880). Esta afirmação, desligada da experiência de vida e especialmente do intenso apostolado social do Pe. Dehon, pode-nos parecer, hoje, espiritualismo abstracto. Mas não se trata disso: o Pe. Dehon tinha um sentido muito concreto das realidades que o rodeavam. O seu olhar místico permitia-lhe ver a realidade, mas também os meios concretos, as iniciativas mais adequadas para a transformar segundo Deus.

    Oratio

    Senhor, purifica o meu coração, pela infusão do teu Espírito. Assim poderei compreender «Verdade completa», não só sobre Ti e sobre os teus projectos, mas também sobre o mundo e sobre a história. Purifica o meu olhar interior para que possa ver os teus caminhos, e o meu ouvido interior para que possa escutar a tua vontade. Purifica o meu instinto, para que se oriente para Ti.
    Dá-me um coração desapegado e vazio para Te deixar falar. Dá-me um
    coração humilde para escutar a voz da tua Igreja. Dá-me a tua luz divina para que saiba julgar o mundo, a sua mentalidade e as suas obras. Purifica-me e ilumina-me, Senhor. Amen.

    Contemplatio

    Nosso Senhor prodigalizou-nos os dons do Espírito como os dons do coração. Enquanto vivia com os seus discípulos, iniciava-os ele mesmo na verdade: Eu sou a verdade. Deixando-os, prometeu-lhes o Espírito da verdade, que os consolaria da sua ausência. É para nós um dom totalmente celeste. Não é somente o dom da fé, é a inteligência e o gosto das verdades reveladas, cuja contemplação luminosa e completa fará a nossa felicidade no céu. É uma luz acrescentada à nossa razão, um horizonte novo e infinito, aberto diante dela, para que ela aí encontre não apenas a resposta às questões do nosso futuro eterno, mas mesmo a solução de uma multidão de problemas naturais. Este dom é múltiplo, compreende a inteligência, a sabedoria e a ciência. É uma participação na vida dos espíritos celestes.
    «Se me amais, guardai os meus mandamentos, disse Nosso Senhor, e enviar-
    vos-ei o Espírito de verdade, o Espírito santificador, cheio de todas as luzes, de todas as graças e de toda a vida espiritual, o Espírito de verdade, que une os homens a Deus pelo conhecimento e pelo amor. O mundo culpado e corrompido não o pode receber. Sendo dominado pelos sentidos, não o vê nem o conhece; mas vós, vós o conhecereis, ele permanecerá convosco e estará em vós para vos iluminar, vos dirigir, vos fortificar» (Leão Dehon, OSP 3, p. 430).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    ,,Q Espírito da Verdade, há-de guiar-vos para a Verdade completa .. (Jo 16, 13).

  • 6ª Semana - Quinta-feira - Páscoa

    6ª Semana - Quinta-feira - Páscoa


    18 de Maio, 2023

    6ª Semana - Quinta-feira - Páscoa

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 18, 1-8

    Naqueles dias, 1Paulo afastou-se de Atenas e foi para Corinto. 2Encontrou ali um judeu chamado Áquila, natural do Ponto, recentemente chegado da Itália com Priscila, sua mulher, porque um édito de Cláudio ordenara que todos os judeus se afastassem de Roma. Paulo foi procurá-los 3e, como eram da mesma profissão - isto é, fabricantes de tendas - ficou em casa deles e começou a trabalhar. 4Todos os sábados dissertava na sinagoga e esforçava-se por convencer, tanto a judeus como a gregos. 5Quando Silas e Timóteo chegaram da Macedónia, Paulo entregou-se à pregação, afirmando e provando aos judeus que Jesus era o Messias. 6Mas, perante a oposição e as blasfémias deles, sacudiu as suas vestes e disse-lhes: «Que o vosso sangue recaia sobre as vossas cabeças. Eu não sou responsável por isso. De futuro, dirigir-me-ei aos pagãos.» 7Retirou-se dali e foi para casa de um certo Tício Justo, homem temente a Deus, cuja casa era contígua à sinagoga. 8No entanto, Crispo, o chefe da sinagoga, acreditou no Senhor, ele e todos os da sua casa; e muitos dos coríntios que ouviam Paulo pregar abraçavam também a fé e recebiam o Baptismo.

    Corinto era uma cidade cosmopolita, mais romana do que grega. Com uma boa situação geográfica, era notável pelo seu comércio, mas também pela sua corrupção. Pela Palavra que lá foi anunciada, surgiu uma das comunidades cristãs mais florescentes. Todavia, essa mesma comunidade, também veio a dar grandes desgostos a Paulo.
    A actividade de Paulo em Corinto foi mais complicada do que Lucas deixa supor. Neste texto, o autor do Actos revela-nos alguns pormenores da vida quotidiana de Paulo e dos primeiros evangelizadores. O Apóstolo sabe um ofício e exerce-o, coisa considerada indigna de um homem culto entre os gregos, mas habitual entre os rabis de Israel, para quem o trabalho era uma boa ocasião para estar com as pessoas e ensinar. Paulo habita com um casal de judeus expulsos de Roma por Cláudio, pelos anos 49-50 da nossa era. Com a chegada de Silas e de Timóteo, Paulo dedica-se exclusivamente à pregação. Começa sempre pelos judeus e, só depois de ser recusado, mais uma vez, é que se volta para os pagãos. Lucas parece continuar preocupado em justificar a passagem aos pagãos. Mas, como sempre acontece, há alguém, mesmo entre os judeus, que acolhe a Palavra. Desta vez é o próprio chefe da sinagoga, com a sua família. E começa a colheita abundante entre os pagãos.

    Evangelho: João 16, 16-20

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 16«Ainda um pouco, e deixareis de me ver; e um pouco mais, e por fim me vereis.» 17Disseram entre si alguns dos discípulos: «Que é isso que Ele nos diz: 'Ainda um pouco, e deixareis de me ver, e um pouco mais, e por fim me vereis'? E também: 'Eu vou para o Pai'?» 18Diziam, pois:
    «Que quer Ele dizer com isto: 'Ainda um pouco'? Não sabemos o que Ele está a anunciar!» 19Jesus, percebendo que o queriam interrogar, disse-lhes: «Estais entre vós a inquirir acerca disto que Eu disse: 'Ainda um pouco, e deixareis de me ver, e um pouco mais, e por fim me vereis'? 20Em verdade, em verdade vos digo: haveis de chorar e lamentar-vos, ao passo que o mundo há-de gozar. Vós haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza há-de converter-se em alegria!

    «Ainda um pouco, e deixareis de me ver; e um pouco mais, e por fim me vereis» (v. 16). Estas frases são, no mínimo, ambíguas. Como entendê-las correctamente? Elas referem-se à morte-ressurreição de Jesus, à sua glorificação pelo Pai, à vinda do Espírito e à nova ordem de coisas criada pelo acontecimento de Jesus. João recorre à incompreensão dos discípulos para provocar um esclarecimento posterior das palavras de Jesus. A vida terrena do Mestre está a terminar. A sua vida gloriosa vai começar na ressurreição. O regresso de Jesus não acontecerá só com as aparições depois da ressurreição, mas vai prolongar-se pela sua presença no coração dos crentes. Os discípulos não entendem as palavras de Jesus. Fazem perguntas (cf. v. 17). Jesus responde tentando remover-lhes da alma a tristeza que os assalta e procurando infundir-lhes confiança com uma nova revelação: «a vossa tristeza há-de converter-se em alegria» (v. 20). Depois da tormenta virá a acalmia. A alegria surgirá da mesma causa que provocou a tristeza.

    Meditatio

    As palavras de Jesus, como noutras ocasiões são susceptíveis de várias aplicações. Com uma frase enigmática, Jesus falou de um tempo em que os discípulos não O hão-de ver e de outro tempo em que O hão-de ver, porque Ele vai para o Pai.
    Estas palavras são pronunciadas durante o «discurso de adeus» e aplicam-se, em primeiro lugar, à paixão e à morte de Jesus. Os discípulos vão deixar de vê-lo brevemente porque estará no sepulcro. Será um tempo de tristeza para os amigos de Jesus, e um tempo de triunfo para os seus inimigos: «haveis de chorar e lamentar-vos, ao passo que o mundo há-de gozar» (v. 20). Todavia a ausência de Jesus durará pouco: ao terceiro dia ressuscitará. «Os discípulos encheram-se de alegria por verem o Senhor», anota João ao descrever a aparição de Jesus na tarde do primeiro dia da semana (Jo 20, 20).
    Estas palavras também se aplicam ao mistério da Ascensão e do Pentecostes.
    Ao subir ao Céu, Jesus deixa de estar visivelmente entre os seus, mas, no Pentecostes, inaugura uma nova forma de presença no meio deles, na Igreja. O Espírito santo torna Jesus presente no coração dos fiéis e na comunidade dos mesmos. Já não O vêem como durante a vida terrena, nem sequer como nas aparições depois da Ressurreição, mas vêem-no com o olhar do coração, onde o Espírito O torna presente. E, mais uma vez, a tristeza se transforma em alegria.
    As formas de presença de Jesus entre os seus discípulos vão-se transformando, tornando-se cada vez menos gratificantes sob o ponto de vista humano, mas bem mais profundas, produzindo alegria e paz cada vez maiores. A presença do Espírito estabelece os discípulos na alegria, na paz e no amor.
    Mas as palavras do Senhor podem aplicar-se também à nossa vida: a ausência-
    presença de Cristo marca o ritmo da nossa vida espiritual. Se é verdade que temos fases em que sentimos a sua ausência, também é verdade que, depois de cada uma delas, voltamos a sentir a sua presença de um modo novo. Essas fases de ausência- presença fazem crescer a nossa relação com Ele. Quando experimentamos a tristeza
    da sua ausência, interrogamo-nos sobre as razões da mesma e lançamos mão dos meios para O reencontrar. Por outro lado, Jesus quer dar-nos a alegria de reencontrarmos a sua presença. A tristeza da ausência produz a alegria do reencontro: «a vossa tristeza há-de converter-se em alegria!» (v. 20). Há que lembrar- nos deste ritmo quando estamos alegres e quando estamos tristes. Nem a alegria nem a tristeza duram sempre. Sucedem-se para nos fazer caminhar na união a Cristo e,

    por Ele, na união com o Pai. A meta é o Pai: quando a atingirmos, então sim, a nossa alegria será total e eternamente duradoira.
    O dehoniano, como todo o cristão vive alegre, manifestando a alegria e a bondade de Deus para com todos os homens, porque o Senhor está perto (cf. Fil 4, 4-
    5), o esposo, logo que chegue, o há-de introduzir na alegre festa das núpcias (cf. Mt
    25, 10).
    A nossa alegria, e a alegria de Deus, é certamente consequência de uma vida boa, vivida para glória de Deus, nos bons e nos maus momentos, quando sentimos a presença do Senhor e quando sofremos com a sua ausência.
    Paulo lembra-nos a predilecção de Deus por aqueles que, em todas as
    circunstâncias, são generosos e viver o amor oblativo na relação com Ele e com os irmãos: «Deus ama quem dá com alegria» (2 Cor 9, 7). Viver e irradiar a alegria é a nossa missão de filhos «do Deus da esperança que nos enche de toda a alegria no Espírito Santo» (Rom 15, 13); que quer ser servido «na alegria» (Sl 100(99), 2) e espera ser agradecido «com alegria» (Col 1, 12), porque «o Reino de Deus... não é questão de comida ou de bebida, mas é justiça, paz e alegria no Espírito Santo» (Rom 14, 17).
    É esta, de modo especial, a nossa missão, o nosso estilo de vida de dehonianos, tendo presente o exemplo do Pe. Dehon.

    Oratio

    Obrigado, Senhor, pela alegria das tuas visitas. Obrigado pela tristeza das tuas ausências. Sê bendito para sempre, porque me conheces e sabes orientar a minha vida e atrair-me para Ti. Mas tem compaixão de mim: não me abandones demoradamente à provação para que não desespere da tua consolação. Vem em meu auxílio também quando este mundo me causa excessiva satisfação, para que não me deixe inebriar por ele. Ajuda-me a buscar em Ti a minha consolação e a minha alegria, em todo o tempo e lugar. Amen.

    Contemplatio

    Não vos deixarei sem apoio, sem conselho, sem guia, sem afecto. Prometo-vos o Espírito Santo para me substituir, e, além disso, eu próprio virei de diversos modos. Virei visitar-vos depois da minha ressurreição. O mundo não me verá mais, a minha missão terrestre está terminada; mas vós, vós me vereis ainda vivente.
    Hei-de visitar-vos também pela graça. Iluminados pelo Espírito Santo, acreditareis na minha divindade, reconhecereis que eu estou no meu Pai, que sou um só com Ele na unidade da essência divina; e vós estareis em mim, estareis unidos a mim pela vida da graça, como os membros estão unidos ao seu chefe, como os ramos da vinha estão unidos à cepa, cuja seiva os alimenta; e eu estarei em vós, iluminando-vos, dirigindo-vos, santificando-vos pelo Espírito Santo que vos hei-de enviar.
    Ao deixar-vos corporalmente e segundo as aparências, não vos abandono por
    isso, fico ainda convosco de diversas maneiras, pela fé, pelo amor, pela graça santificante e pela Eucaristia. Não vos deixo órfãos (Leão Dehon, OSP 3, p. 451).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «A vossa tristeza há-de converter-se em alegria» (Jo 16, 20).

  • 6ª Semana - Sexta-feira - Páscoa

    6ª Semana - Sexta-feira - Páscoa


    19 de Maio, 2023

    6ª Semana - Sexta-feira - Páscoa

    Lectio

    Primeira leitura: Act 18, 9-18

    Quando Paulo estava em Corinto, 9certa noite, o Senhor disse a Paulo, numa visão: «Nada temas, continua a falar e não te cales, 10porque Eu estou contigo e ninguém porá as mãos em ti para te fazer mal, pois tenho um povo numeroso nesta cidade.» 11Então, ele ficou lá durante um ano e seis meses, a ensinar-lhes a palavra de Deus.
    12Sendo Galião procônsul da Acaia, levantaram-se os judeus, de comum acordo, contra Paulo e levaram-no ao tribunal. 13«Este homem - disseram eles - induz as pessoas a prestar culto a Deus de uma forma contrária à Lei.» 14Paulo ia abrir a boca, quando Galião disse aos judeus: «Se se tratasse de uma injustiça ou grave delito, escutaria as vossas queixas, ó judeus, como é meu dever. 15Mas como se
    trata de um conflito doutrinal sobre palavras e nomes e acerca de vossa própria Lei, o assunto é convosco. Recuso-me a ser juiz em semelhante questão.» 16E mandou-os sair do tribunal. 17Então todos se apoderaram de Sóstenes, o chefe da sinagoga, e puseram-se a bater-lhe diante do tribunal. E Galião não se importou nada com isso.
    18Depois de se ter demorado ainda algum tempo em Corinto, Paulo despediu- se dos irmãos e embarcou para a Síria, com Priscila e Áquila, rapando a cabeça em Cêncreas, por causa de um voto que tinha feito.

    Galião foi procônsul, isto é, governador da província da Acaia, a partir de Maio do ano 51. Paulo esteve em Corinto até ao Verão de 51. O episódio narrado por Lucas situa-se nesse breve espaço de tempo. Os judeus querem captar a benevolência do governador, acusando Paulo. Mas Galião actua de modo inteligente e diplomático, recusando intrometer-se em questões internas ao judaísmo. Lucas quer, mais uma vez, mostrar a neutralidade do Império em relação aos cristãos. Inicialmente não há hostilidade das autoridades romanas, e Paulo é mesmo salvo por elas, algumas vezes. Estava ainda longe o tempo das perseguições.
    Paulo continua a ter uma vida difícil, mas o Senhor confirma-o na missão que lhe confiou entre os pagãos. Discretamente, o Apóstolo, acompanhado pelo casal de Priscila e Áquila, que lhe dera trabalho, embarca para a Síria, rumo a Jerusalém e a Antioquia. Permanecera 18 meses em Corinto, onde teve algum sucesso, entre os judeus e entre os pagãos. O Senhor afirmou ter lá «um povo numeroso» (v. 9). Mas Paulo não tinha feitio para se demorar muito tempo no mesmo lugar.

    Evangelho: Jo 16, 20-23a

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 20Em verdade, em verdade vos digo: haveis de chorar e lamentar-vos, ao passo que o mundo há-de gozar. Vós haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza há-de converter-se em alegria! 21A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque chegou a sua hora; mas, quando deu à luz o menino, já não se lembra da sua aflição, com a alegria de ter vindo um homem ao mundo. 22Também vós vos sentis agora tristes, mas Eu hei-de ver-vos de novo! Então, o vosso coração há-de alegrar-se e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria. 23Nesse dia, já não me perguntareis nada. Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes alguma coisa ao Pai em meu nome, Ele vo-la dará.

    A alegria dos discípulos vem da liberdade que o afastamento do mundo lhes dá (cf. Jo 8, 32). O encontro «espiritual» com Cristo ressuscitado produz a liberdade e a alegria nos crentes. E nada nem ninguém lhas podem tirar. Essa liberdade e essa alegria, que vem da reconciliação do homem com Deus, realizada por Cristo, e expressa sobretudo na oração comunitária, vêem-se ilustradas nos capítulos 20-21 de João. Tal como acontece à mulher, que deu à luz, está feliz porque terminaram os seus sofrimentos, e deu ao mundo uma nova criatura, também o cristão está contente porque a sua alegria, fundada na dor, desabrochou na nova vida que é a páscoa do Senhor. A morte infame de Jesus transformou-se em alegria retumbante, alegria que ninguém pode tirar aos discípulos, porque se fundamenta na fé n´Aquele que vive glorioso à direita de Deus. A partir da ressurreição, a comunidade cristã, iluminada pelo Espírito, terá uma visão nova da vida e das coisas, e o mesmo Espírito lhe fará compreender tudo quanto precisar.

    Meditatio

    Paulo experimenta a presença de Jesus. Experimenta-a na forma inaugurada com o Pentecostes. Experimenta-a em si mesmo, pela força que sente no anúncio do Evangelho, mesmo quando as circunstâncias são difícieis. Sente-a nas comunidades que estão vivas e crescem: «Nada temas, continua a falar e não te cales, porque Eu estou contigo e ninguém porá as mãos em ti para te fazer mal, pois tenho um povo numeroso nesta cidade» (v. 10). O sofrimento do missionário é condição necessária e lugar privilegiado da alegria eclesial. Paulo será mestre e protagonista dessa alegria:
    «Estou cheio de consolação e transbordo de alegria no meio de todas as nossas
    tribulações» (2 Cor 7, 4). A seu exemplo, os convertidos acolhem «a Palavra em plena tribulação, com a alegria do Espírito Santo» (1 Ts 1, 6). Os ministros da Palavra são tidos «por tristes, nós que estamos sempre alegres;por pobres, nós que enriquecemos a muitos; por nada tendo e, no entanto, tudo possuindo» (2 Cor 6, 10).
    Jesus, ao subir ao Céu, não se afastou dos discípulos, mas inaugurou uma
    forma de presença mais profunda no meio deles. A Ascensão libertou-O dos limites da condição terrena e possibilitou-Lhe um contacto pessoal e íntimo com cada um de nós, possibilitou-Lhe estar connosco, com todos, todos os dias: «Eu estou contigo».
    «Hei-de ver-vos de novo! Então, o vosso coração há-de alegrar-se e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria» (v. 22). É a alegria da intimidade com o Senhor, da vida com o Senhor: amar com Ele, actuar com Ele, estar sempre com Ele. «Com Jesus e como Ele», sintetizam as nossas Constituições (n. 21).
    Sabemos da importância que o Pe. Dehon dava à vida de união com Cristo, presente em nós. A «união permanente com Jesus» (Diário, 2 Janeiro de 1867) foi o seu caminho de santidade. «Deixemos viver em nós Nosso Senhor. Ele continua a viver na terra em cada um dos seus membros» (Diário, 25 de Abril de 1867). Esta união íntima com Cristo, como vara unida à cepa, era a sua vida e a força do seu apostolado.

    Oratio

    Obrigado, Senhor, pela tua presença, de tantos modos, no meio de nós. Posso encontrar-te na Palavra, na Eucaristia, na comunidade fraterna, na hierarquia da Igreja, no
    necessitado, e também na tua presença cósmica, que agora enche o

    universo. Posso viver na alegria da liberdade porque estou repleto da tua presença. Posso dar testemunho corajoso de Ti, porque o teu Espírito é a minha força.
    Perdoa-me, porque nem sempre vivo e actuo consciente desta realidade. Perdoa-me porque não Te dou suficientes graças por ela. Perdoa-me porque não me empenho suficientemente na missão, temendo o fracasso.
    Dá-me um coração atento às necessidades dos meus irmãos, especialmente à necessidade de Ti. Ajuda-me a levar a todos a tua alegria e a tua paz, para que esses dons da tua Ressurreição também possam crescer em mim. Amen.

    Contemplatio

    «Chorareis e gemereis». - «O vosso coração encheu-se de tristeza», diz Nosso Senhor aos seus apóstolos. Anunciou-lhes, de facto, acontecimentos bem tristes: a sua partida para o céu, a sua morte próxima, a traição de Judas, a negação de Pedro. Estão tristes e acabrunhados. Consola-os e anuncia-lhes que voltará.
    Temos também as nossas tristezas: A ausência de Nosso Senhor que por vezes deixa a nossa alma na obscuridade e na aridez, - os nossos pecados passados, que se representam à nossa memória. - O perigo contínuo de pecar e a nossa fraqueza, que nos é conhecida, - os escândalos que reinam no mundo, - as mágoas e provações desta vida.
    Suportemos estas provas com coragem. Os filhos de Deus guardam a serenidade nas suas mágoas. Oferecem-nas a Deus, unem-nas aos sofrimentos do Coração de Jesus, e tornam-se-lhes leves. Oferecem-nas para a reparação, pela expiação dos seus pecados e dos do mundo. Se são fervorosos, vão até ao ponto de se alegrarem levando a cruz com Jesus.
    «A vossa tristeza mudar-se-á em alegria». - Esta promessa devia ter cumprimento próximo para os apóstolos. Três dias, e eles veriam Jesus ressuscitado. Poderiam apalpar as feridas das suas mãos e do seu coração. Vê-lo-iam muitas vezes durante quarenta dias. Depois um outro consolador viria enchê-los de uma alegria sobrenatural, de uma alegria que ultrapassa todas as deste mundo, é o Espírito Santo, o grande dom do Coração de Jesus. E alguns anos mais tarde seria o triunfo do martírio e a entrada triunfal no céu.
    Para nós também, a alegria sucederá à tristeza. A tristeza das nossas almas culpadas apaga-se, quando nós quisermos, pelo arrependimento e pela penitência. A tristeza da aridez e da provação passa bastante rapidamente; Jesus não estava longe e volta.
    Há uma santa tristeza, a que vem de um coração penitente; esta é acompanhada por uma real doçura que nos faz conhecer que Deus é o seu autor.
    O mesmo se passa com aquela que tem por causa os pecados do mundo. Esta tristeza é agradável a Deus o qual no-la inspira.
    A tristeza que vem do sofrimento, da doença ou dos acidentes da vida é de ordem natural, mas pode ser santificada pela virtude da paciência e do sacrifício.
    A tristeza do mundo, pelo contrário, não tem remédio, e a sua alegria não é
    sã. O mundo alegra-se com os prazeres maus e a sua alegria termina na amargura.
    Senhor, mudai a minha tristeza em alegria pelo dom do arrependimento, do sacrifício, do espírito de imolação e de reparação. (Leão Dehon, OSP 4, p. 466s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «A vossa tristeza há-de converter-se em alegria!» (Jo 16, 20).

  • 6ª Semana - Sábado - Páscoa

    6ª Semana - Sábado - Páscoa


    20 de Maio, 2023

    6ª Semana - Sábado - Páscoa

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 18, 23-28

    23Depois de ter passado algum tempo em Antioquia, Paulo voltou a partir e percorreu sucessivamente a Galácia e a Frígia, fortalecendo todos os discípulos. 24Entretanto, chegara a Éfeso um judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, homem eloquente e muito versado nas Escrituras. 25Fora instruído na «Via» do Senhor e, com o espírito cheio de fervor, pregava e ensinava com precisão o que dizia respeito a Jesus, embora só conhecesse o baptismo de João. 26Começou a falar desassombradamente na sinagoga. Priscila e Áquila, que o tinham ouvido, tomaram- no consigo e expuseram-lhe, com mais precisão, a «Via» do Senhor. 27Como ele queria partir para a Acaia, os irmãos encorajaram-no e escreveram aos discípulos, para que o recebessem amigavelmente. Quando lá chegou, pela graça de Deus, prestou grande auxílio aos fiéis; 28pois refutava energicamente os judeus, em público, demonstrando pelas Escrituras que Jesus era o Messias.

    Paulo prossegue a sua viagem missionária pela Galácia e pela Frigia. Os seus companheiros, Priscila e Áquila, ficam em Éfeso, onde conhecem Apolo, notável pregador, teólogo e missionário que, todavia, não tinha uma boa formação cristã. A sua pregação sobre Jesus era incompleta. E é o casal amigo de Paulo que lhe expõe «com mais precisão, a «Via» do Senhor» (v. 26). É interessante esta intervenção de dois leigos, em relação a um teólogo missionário com a envergadura de Apolo. Toda a Igreja participa na obra da evangelização, cada um com os seus limites, mas sempre com o apoio e as achegas dos irmãos. Apolo, uma vez «actualizado» vai dar um contributo notável para o enraizamento da fé na Grécia.

    Evangelho: Jo 16, 23b-28

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 23Nesse dia, já não me perguntareis nada. Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes alguma coisa ao Pai em meu nome, Ele vo-la dará. 24Até agora não pedistes nada em meu nome; pedi e recebereis. Assim, a vossa alegria será completa.» 25«Até aqui falei-vos por meio de comparações. Está a chegar a hora em que já não vos falarei por comparações, mas claramente vos darei a conhecer o que se refere ao Pai. 26Nesse dia, apresentareis em meu nome os vossos pedidos ao Pai, e não vos digo que rogarei por vós ao Pai, 27pois é o próprio Pai que vos ama, porque vós já me tendes amor e já credes que Eu saí de Deus. 28Saí do Pai e vim ao mundo; agora deixo o mundo e vou para o Pai.»

    Os discípulos não estavam acostumados a rezar em nome de Jesus (v. 24). A vinda do Espírito Santo inaugura um tempo novo no qual poderão dirigir-se ao Pai em nome de Jesus, porque o seu Senhor, em força da sua passagem para o Pai, se tornou verdadeiro mediador entre Deus e os homens.
    Depois, Jesus lança um olhar ao passado, para dizer que se serviu de palavras e imagens, que encerravam um significado profundo, que nem sempre os discípulos

    podiam compreender. Mas, de futuro, depois da páscoa, as suas palavras serão compreendidas e atingirão o íntimo dos corações, graças à intervenção do Espírito Santo.
    A oração será o «lugar» onde os discípulos conhecerão a relação profunda que existe entre Jesus e o Pai, e de Jesus e do Pai com eles. O perfeito entendimento no amor e na fé com Jesus, fará com que a oração dos discípulos seja feita de modo conveniente e, por isso, aceite pelo Pai.

    Meditatio

    «Pedi e recebereis... a vossa alegria será completa». Estas palavras de Jesus mostram-nos o seu amor por nós. Ele está disposto a dar-nos tudo o que desejamos. Só temos que apresentar os nossos pedidos ao Pai, em seu nome. E garante-nos que Pai nos ama, porque nós amamos a Ele, Jesus, e acreditamos que Ele saiu de Deus (cf. v. 27).
    «Saí do Pai e vim ao mundo; agora deixo o mundo e vou para o Pai», afirma Jesus (v.
    28).
    Jesus volta para o Pai, levando-nos com Ele. Assim, a nossa oração de súplica é uma entrada no amor recíproco do Pai e do Filho. O que pedimos ao Pai é-nos concedido em nome do Filho. E nós devemos pedir em nome do Filho, porque Ele está junto do Pai, vivo a interceder por nós. O Pai escuta-nos, mas também o Filho nos escuta: «O que me pedirdes, Eu o farei». Estamos envolvidos no amor do Pai e do Filho. É essa a nossa alegria.
    Esta página de João provoca-me: porque alcanço tão pouco? Porque sou tão pouco eficaz? Porque é que a minha alegria é tão raramente plena? Mais: como é que o mistério da união do Filho com o Pai me atrai tão pouco? Como é que sinto tão pouco o poder de Deus na minha acção? Não estarão os meus olhos demasiadamente voltados para a realidade deste mundo e pouco voltados para o mistério de Deus, para o amor do Pai para com o Filho e do Filho para com os discípulos? O olhar para o mundo é certamente necessário; mas não me ajudará a salvá-lo, se não o olhar com os olhos e com o coração do Pai que deu o Filho para salvar o mundo e quer envolver-nos nessa aventura decisiva. O olhar de Deus levar-me-á a ver as necessidades muitas vezes escondidas das pessoas e a encontrar, para elas, não só remédio humano, mas também remédio divino, a alegria completa de lhes apresentar o amor que tudo redime.
    A oração perene tem a sua fonte na oração de intimidade, que é a experiência pessoal do amor de Deus: sentir-se amados e possuídos por Ele. É a oração contemplativa. E se o meu problema central fosse um défice de contemplação? A amorosa contemplação das relações intra-trinitárias, e a contemplação do mistério de Cristo, particularmente do seu Lado aberto e do seu Coração trespassado, é para nós um chamamento à confiança, ao abandono, à oblação. Ao mesmo tempo, é uma poderosa fonte de força para o nosso apostolado. Contemplando o amor oblativo de Deus, sentimo-nos estimulados a vivê-lo, não só na relação com Deus, mas também na relação com os nossos irmãos.

    Oratio

    Ó Jesus: Tu ensinas-me a pedir em teu nome, a fazer minha a tua causa, a ver o mundo com os teus olhos, e dar-me como Tu te deste ao Pai pelos homens. Como estou longe de tudo isso! É por essa razão que tantas vezes me sinto desiludido na minha oração, e desanimo no meu apostolado e no serviço aos meus irmãos.
    Olha, Jesus, com piedade, as minhas veleidades em Te servir. Vem ao encontro das minhas
    ilusórias esperanças de gratificação. Ampara-me, purifica-me.

    Dá-me um coração semelhante ao teu. Dá-me o impulso desinteressado do teu amor. Ajuda-me a amar Contigo e como Tu. Amen.

    Contemplatio

    O encorajamento à oração é um dos primeiros ensinamentos do Sermão da montanha.
    Nosso Senhor rezava muito. Juntava o exemplo às suas exortações. Retirava-se para a solidão para rezar. Passava lá muitas vezes a noite. Passou quarenta dias no deserto a rezar.
    Rezava por nós; rezava também para nos dar o exemplo da oração. Muitas vezes recomendava-a aos seus discípulos. Dizia-lhes como é preciso rezar sempre e sem cessar.
    A fim de lhes mostrar como a perseverança na oração é eficaz para obter o que se pede, propunha-lhes a parábola do juiz e da viúva.
    A pobre viúva viera várias vezes pedir justiça, mas em vão. No fim, o juiz diz para consigo mesmo: «Se bem que eu não queira saber nem de Deus nem dos homens, porque esta viúva me importuna, vou fazer-lhe justiça, com receio que no fim ela não venha fazer-me alguma afronta».
    Pensais, acrescentava o Salvador, que Deus não fará justiça aos seus eleitos que clamam para Ele de dia e de noite?
    Propunha-lhes também este outro exemplo do amigo o qual pela sua
    importunidade pede ao seu amigo que lhe empreste os pães de que tem necessidade
    (Lc 11).
    Encorajava a sua confiança dizendo-lhe: «Pedi e recebereis» (Leão Dehon, OSP
    3, p. 69).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Pedi e recebereis... a vossa alegria será completa». (Jo 16, 24).

  • Solenidade da Ascensão - Ano A

    Solenidade da Ascensão - Ano A

    21 de Maio, 2023

    ANO A

    7º Domingo da Páscoa

    SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR

    Tema do Domingo da Ascensão

    A Festa da Ascensão de Jesus, que hoje celebramos, sugere que, no final do caminho percorrido no amor e na doação, está a vida definitiva, a comunhão com Deus. Sugere também que Jesus nos deixou o testemunho e que somos nós, seus seguidores, que devemos continuar a realizar o projecto libertador de Deus para os homens e para o mundo.
    O Evangelho apresenta o encontro final de Jesus ressuscitado com os seus discípulos, num monte da Galileia. A comunidade dos discípulos, reunida à volta de Jesus ressuscitado, reconhece-O como o seu Senhor, adora-O e recebe d'Ele a missão de continuar no mundo o testemunho do "Reino".
    Na primeira leitura, repete-se a mensagem essencial desta festa: Jesus, depois de ter apresentado ao mundo o projecto do Pai, entrou na vida definitiva da comunhão com Deus - a mesma vida que espera todos os que percorrem o mesmo "caminho" que Jesus percorreu. Quanto aos discípulos: eles não podem ficar a olhar para o céu, numa passividade alienante; mas têm de ir para o meio dos homens, continuar o projecto de Jesus.
    A segunda leitura convida os discípulos a terem consciência da esperança a que foram chamados (a vida plena de comunhão com Deus). Devem caminhar ao encontro dessa "esperança" de mãos dadas com os irmãos - membros do mesmo "corpo" - e em comunhão com Cristo, a "cabeça" desse "corpo". Cristo reside no seu "corpo" que é a Igreja; e é nela que Se torna, hoje, presente no meio dos homens.

    LEITURA I - Actos 1,1-11

    Leitura dos Actos dos Apóstolos

    No meu primeiro livro, ó Teófilo,
    narrei todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar,
    até ao dia em que foi elevado ao Céu,
    depois de ter dado, pelo Espírito Santo,
    as suas instruções aos Apóstolos que escolhera.
    Foi também a eles que, depois da sua paixão,
    Se apresentou vivo com muitas provas,
    aparecendo lhes durante quarenta dias
    e falando lhes do reino de Deus.
    Um dia em que estava com eles à mesa,
    mandou lhes que não se afastassem de Jerusalém,
    mas que esperassem a promessa do Pai,
    «do Qual disse Ele Me ouvistes falar.
    Na verdade, João baptizou com água;
    vos, porém, sereis baptizados no Espírito Santo,
    dentro de poucos dias».
    Aqueles que se tinham reunido começaram a perguntar:
    «Senhor, é agora que vais restaurar o reino de Israel?»
    Ele respondeu lhes:
    «Não vos compete saber os tempos ou os momentos
    que o Pai determinou com a sua autoridade;
    mas recebereis a força do Espírito Santo,
    que descerá sobre vós,
    e sereis minhas testemunhas
    em Jerusalém e em toda a Judeia e na Samaria
    e até aos confins da terra».
    Dito isto, elevou Se à vista deles
    e uma nuvem escondeu O a seus olhos.
    E estando de olhar fito no Céu, enquanto Jesus Se afastava,
    apresentaram se lhes dois homens vestidos de branco,
    que disseram:
    «Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu?
    Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o Céu,
    virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu».

    AMBIENTE

    O livro dos "Actos dos Apóstolos" dirige-se a comunidades que vivem num certo contexto de crise. Estamos na década de 80, cerca de cinquenta anos após a morte de Jesus. Passou já a fase da expectativa pela vinda iminente do Cristo glorioso para instaurar o "Reino" e há uma certa desilusão. As questões doutrinais trazem alguma confusão; a monotonia favorece uma vida cristã pouco comprometida e as comunidades instalam-se na mediocridade; falta o entusiasmo e o empenho... O quadro geral é o de um certo sentimento de frustração, porque o mundo continua igual e a esperada intervenção vitoriosa de Deus continua adiada. Quando vai concretizar-se, de forma plena e inequívoca, o projecto salvador de Deus?
    É neste ambiente que podemos inserir o texto que hoje nos é proposto como primeira leitura. Nele, o catequista Lucas avisa que o projecto de salvação e de libertação que Jesus veio apresentar passou (após a ida de Jesus para junto do Pai) para as mãos da Igreja, animada pelo Espírito. A construção do "Reino" é uma tarefa que não está terminada, mas que é preciso concretizar na história e exige o empenho contínuo de todos os crentes. Os cristãos são convidados a redescobrir o seu papel, no sentido de testemunhar o projecto de Deus, na fidelidade ao "caminho" que Jesus percorreu.

    MENSAGEM

    O nosso texto começa com um prólogo (vers. 1-2) que relaciona os "Actos" com o 3º Evangelho - quer na referência ao mesmo Teófilo a quem o Evangelho era dedicado, quer na alusão a Jesus, aos seus ensinamentos e à sua acção no mundo (tema central do 3º Evangelho). Neste prólogo são também apresentados os protagonistas do livro - o Espírito Santo e os apóstolos, ambos vinculados com Jesus.
    Depois da apresentação inicial, vem o tema da despedida de Jesus (vers. 3-8). O autor começa por fazer referência aos "quarenta dias" que mediaram entre a ressurreição e a ascensão, durante os quais Jesus falou aos discípulos "a respeito do Reino de Deus" (o que parece estar em contradição com o Evangelho, onde a ressurreição e a ascensão são apresentados no próprio dia de Páscoa - cf. Lc 24). O número quarenta é, certamente, um número simbólico: é o número que define o tempo necessário para que um discípulo possa aprender e repetir as lições do mestre. Aqui define, portanto, o tempo simbólico de iniciação ao ensinamento do Ressuscitado.
    As palavras de despedida de Jesus (vers. 4-8) sublinham dois aspectos: a vinda do Espírito e o testemunho que os discípulos vão ser chamados a dar "até aos confins do mundo". Temos aqui resumida a experiência missionária da comunidade de Lucas: o Espírito irá derramar-se sobre a comunidade crente e dará a força para testemunhar Jesus em todo o mundo, desde Jerusalém a Roma. Na realidade, trata-se do programa que Lucas vai apresentar ao longo do livro, posto na boca de Jesus ressuscitado. O autor quer mostrar com a sua obra que o testemunho e a pregação da Igreja estão entroncados no próprio Jesus e são impulsionados pelo Espírito.
    O último tema é o da ascensão (vers. 9-11). Evidentemente, esta passagem necessita de ser interpretada para que, através da roupagem dos símbolos, a mensagem apareça com toda a claridade.
    Temos, em primeiro lugar, a elevação de Jesus ao céu (vers. 9a). Não estamos a falar de uma pessoa que, literalmente, descola da terra e começa a elevar-se; estamos a falar de um sentido teológico (não é o "repórter", mas sim o "teólogo" a falar): a ascensão é uma forma de expressar, simbolicamente, que a exaltação de Jesus é total e atinge dimensões supra-terrenas; é a forma literária de descrever o culminar de uma vida vivida para Deus, que agora reentra na glória da comunhão com o Pai.
    Temos, depois, a nuvem (vers. 9b) que subtrai Jesus aos olhos dos discípulos. Pairando a meio caminho entre o céu e a terra a nuvem é, no Antigo Testamento, um símbolo privilegiado para exprimir a presença do divino (cf. Ex 13,21.22; 14,19.24; 24,15b-18; 40,34-38). Ao mesmo tempo, simultaneamente, esconde e manifesta: sugere o mistério do Deus escondido e presente, cujo rosto o Povo não pode ver, mas cuja presença adivinha nos acidentes da caminhada. Céu e terra, presença e ausência, luz e sombra, divino e humano, são dimensões aqui sugeridas a propósito de Cristo ressuscitado, elevado à glória do Pai, mas que continua a caminhar com os discípulos.
    Temos, ainda, os discípulos a olhar para o céu (vers. 10a). Significa a expectativa dessa comunidade que espera ansiosamente a segunda vinda de Cristo, a fim de levar ao seu termo o projecto de libertação do homem e do mundo.
    Temos, finalmente, os dois homens vestidos de branco (vers. 10b). O branco sugere o mundo de Deus - o que indica que o seu testemunho vem de Deus. Eles convidam os discípulos a continuar no mundo, animados pelo Espírito, a obra libertadora de Jesus; agora, é a comunidade dos discípulos que tem de continuar na história a obra de Jesus, embora com a esperança posta na segunda e definitiva vinda do Senhor.
    O sentido fundamental da ascensão não é que fiquemos a admirar a elevação de Jesus; mas é convidar-nos a seguir o "caminho" de Jesus, olhando para o futuro e entregando-nos à realização do seu projecto de salvação no meio do mundo.

    ACTUALIZAÇÃO

    Ter em conta, para a reflexão e actualização, os seguintes elementos:

    • A ressurreição/ascensão de Jesus garante-nos, antes de mais, que uma vida, vivida na fidelidade aos projectos do Pai, é uma vida destinada à glorificação, à comunhão definitiva com Deus. Quem percorre o mesmo "caminho" de Jesus subirá, como Ele, à vida plena.

    • A ascensão de Jesus recorda-nos, sobretudo, que Ele foi elevado para junto do Pai e nos encarregou de continuar a tornar realidade o seu projecto libertador no meio dos homens nossos irmãos. É essa a atitude que tem marcado a caminhada histórica da Igreja? Ela tem sido fiel à missão que Jesus, ao deixar este mundo, lhe confiou?

    • O nosso testemunho tem transformado e libertado a realidade que nos rodeia? Qual o real impacto desse testemunho na nossa família, no local onde desenvolvemos a nossa actividade profissional, na nossa comunidade cristã ou religiosa?

    • É relativamente frequente ouvirmos dizer que os seguidores de Jesus gostam mais de olhar para o céu do que comprometerem-se na transformação da terra. Estamos, efectivamente, atentos aos problemas e às angústias dos homens, ou vivemos de olhos postos no céu, num espiritualismo alienado? Sentimo-nos questionados pelas inquietações, pelas misérias, pelos sofrimentos, pelos sonhos, pelas esperanças que enchem o coração dos que nos rodeiam? Sentimo-nos solidários com todos os homens, particularmente com aqueles que sofrem?

    SALMO RESPONSORIAL - Salmo 46 (47)

    Refrão 1: Por entre aclamações e ao som da trombeta,
    ergue Se Deus, o Senhor.

    Refrão 2: Ergue-Se Deus, o Senhor,
    em júbilo e ao som da trombeta.

    Povos todos, batei palmas,
    aclamai a Deus com brados de alegria,
    porque o Senhor, o Altíssimo, é terrível,
    o Rei soberano de toda a terra.

    Deus subiu entre aclamações,
    o Senhor subiu ao som da trombeta.
    Cantai hinos a Deus, cantai,
    cantai hinos ao nosso Rei, cantai.

    Deus é Rei do universo:
    cantai os hinos mais belos.
    Deus reina sobre os povos,
    Deus está sentado no seu trono sagrado.

    LEITURA II - Ef 1,17-23

    Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios

    Irmãos:
    O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória,
    vos conceda um espírito de sabedoria e de luz
    para O conhecerdes plenamente
    e ilumine os olhos do vosso coração,
    para compreenderdes a esperança a que fostes chamados,
    os tesouros de glória que encerra a sua herança entre os santos
    e a incomensurável grandeza que representa o seu poder
    para nós os crentes.
    Assim o mostra a eficácia da poderosa força
    que exerceu em Cristo,
    que Ele ressuscitou dos mortos
    e colocou à sua direita nos Céus,
    acima de todo o Principado, Poder, Virtude e Soberania,
    acima de todo o nome que é pronunciado, não só neste mundo,
    mas também no mundo que há de vir.
    Tudo submeteu aos seus pés e pô 1'O acima de todas as coisas
    como Cabeça de toda a Igreja, que é o seu Corpo,
    a plenitude d'Aquele que preenche tudo em todos.

    AMBIENTE

    A Carta aos Efésios é, provavelmente, um dos exemplares de uma "carta circular" enviada a várias igrejas da Ásia Menor, numa altura em que Paulo está na prisão (em Roma?). O seu portador é um tal Tíquico. Estamos por volta dos anos 58/60.
    Alguns vêem nesta Carta uma espécie de síntese da teologia paulina, numa altura em que a missão do apóstolo está praticamente terminada no oriente.
    Em concreto, o texto que nos é proposto aparece na primeira parte da Carta e faz parte de uma acção de graças, na qual Paulo agradece a Deus pela fé dos Efésios e pela caridade que eles manifestam para com todos os irmãos na fé.

    MENSAGEM

    À acção de graças, Paulo une uma fervorosa oração a Deus, para que os destinatários da Carta conheçam "a esperança a que foram chamados" (vers. 18). A prova de que o Pai tem poder para realizar essa "esperança" (isto é, conferir aos crentes a vida eterna como herança) é o que Ele fez com Jesus Cristo: ressuscitou-O e sentou-O à sua direita (vers. 20), exaltou-O e deu-Lhe a soberania sobre todos os poderes angélicos (Paulo está preocupado com a perigosa tendência de alguns cristãos em dar uma importância exagerada aos anjos, colocando-os até acima de Cristo - cf. Col 1,6). Essa soberania estende-se, inclusive, à Igreja - o "corpo" do qual Cristo é a "cabeça".
    O mais significativo deste texto é, precisamente, este último desenvolvimento. A ideia de que a comunidade cristã é um "corpo" - o "corpo de Cristo" - formado por muitos membros, já havia aparecido nas "grandes cartas", acentuando-se, sobretudo, a relação dos vários membros do "corpo" entre si (cf. 1 Cor 6,12-20; 10,16-17; 12,12-27; Rom 12,3-8); mas, nas "cartas do cativeiro", Paulo retoma a noção de "corpo de Cristo" para reflectir sobre a relação que existe entre a comunidade e Cristo.
    Neste texto, em concreto, há dois conceitos muito significativos para definir o quadro da relação entre Cristo e a Igreja: o de "cabeça" e o de "plenitude" (em grego, "pleroma").
    Dizer que Cristo é a "cabeça" da Igreja significa, antes de mais, que os dois formam uma comunidade indissolúvel e que há entre os dois uma comunhão total de vida e de destino; significa, também, que Cristo é o centro à volta do qual o "corpo" se articula, a partir do qual e em direcção ao qual o "corpo" cresce, se orienta e constrói, a origem e o fim desse "corpo"; significa, ainda, que a Igreja/corpo está submetida à obediência a Cristo/cabeça: só de Cristo a Igreja depende e só a Ele deve obediência.
    Dizer que a Igreja é a "plenitude" ("pleroma") de Cristo significa dizer que nela reside a "plenitude", a "totalidade" de Cristo. Ela é o receptáculo, a habitação, onde Cristo Se torna presente no mundo; é através desse "corpo" onde reside que Cristo continua todos os dias a realizar o seu projecto de salvação em favor dos homens. Presente nesse "corpo", Cristo enche o mundo e atrai a Si o universo inteiro, até que o próprio Cristo "seja tudo em todos" (vers. 23).

    ACTUALIZAÇÃO

    Ter em conta, na reflexão, as seguintes linhas:

    • Na nossa peregrinação pelo mundo, convém termos sempre presente "a esperança a que fomos chamados". A ressurreição/ascensão/glorificação de Jesus é a garantia da nossa própria ressurreição/glorificação. Formamos com Ele um "corpo" destinado à vida plena. Esta perspectiva tem de dar-nos a força de enfrentar a história e de avançar - apesar das dificuldades - nesse "caminho" do amor e da entrega total que Cristo percorreu.

    • Dizer que fazemos parte do "corpo de Cristo" significa que devemos viver numa comunhão total com Ele e que nessa comunhão recebemos, a cada instante, a vida que nos alimenta. Significa, também, viver em comunhão, em solidariedade total com todos os nossos irmãos, membros do mesmo "corpo", alimentados pela mesma vida. Estas duas coordenadas estão presentes na nossa existência?

    • Dizer que a Igreja é o "pleroma" de Cristo significa que temos a obrigação de testemunhar Cristo, de torná-l'O presente no mundo, de levar à plenitude a projecto de libertação que Ele começou em favor dos homens. Essa tarefa só estará acabada quando, pelo testemunho e pela acção dos crentes, Cristo for "um em todos".
    ALELUIA - Mt 28,19a.20b

    Aleluia. Aleluia.

    Ide e ensinai todos os povos, diz o senhor:
    Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos.

    EVANGELHO - Mt 28,16-20

    Conclusão do santo Evangelho segundo São Mateus.

    Naquele tempo,
    os onze discípulos partiram para a Galileia,
    em direcção ao monte que Jesus lhes indicara.
    Quando O viram, adoraram n'O;
    mas alguns ainda duvidaram.
    Jesus aproximou Se e disse lhes:
    «Todo o poder Me foi dado no Céu e na terra.
    Ide e ensinai todas as nações,
    baptizando as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo,
    ensinando as a cumprir tudo o que vos mandei.
    Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos».

    AMBIENTE

    O texto situa-nos na Galileia, após a ressurreição de Jesus (embora não se diga se é muito ou pouco tempo após a descoberta do túmulo vazio - cf. Mt 28,1-15). De acordo com Mateus, Jesus - pouco antes de ser preso - havia marcado encontro com os discípulos na Galileia (cf. Mt 26,32); na manhã da Páscoa, os anjos que apareceram às mulheres no sepulcro (cf. Mt 28,7) e o próprio Jesus, vivo e ressuscitado (cf. Mt 28,10), renovam o convite para que os discípulos se dirijam à Galileia, a fim de lá encontrar o Senhor.
    A Galileia - região setentrional da Palestina - era uma região próspera e bem povoada, de solo fértil e bem cultivado. A sua situação geográfica fazia desta região o ponto de encontro de muitos povos; por isso, um número importante de pagãos fazia parte da sua população. A coabitação de populações pagãs e judias fazia, certamente, com que os judeus da Galileia vivessem a religião de uma maneira diferente dos judeus de Jerusalém e da Judeia: a presença diária dos pagãos conduzia, provavelmente, os galileus a suavizar a sua prática da Lei e a interpretar mais amplamente as regras que se referiam, por exemplo, às impurezas rituais contraídas pelo contacto com os não judeus. No entanto, isto fazia com que os judeus de Jerusalém desprezassem os judeus da Galileia e considerassem que da Galileia "não podia sair nada de bom".
    No entanto, foi na Galileia que Jesus viveu quase toda a sua vida. Foi, também, na Galileia que Ele começou a anunciar o Evangelho do "Reino" e que começou a reunir à sua volta um grupo de discípulos (cf. Mt 4,12-22). Para Mateus, esse facto sugere que o anúncio libertador de Jesus tem uma dimensão universal: destina-se a judeus e pagãos.
    Mateus situa este encontro final entre Jesus ressuscitado e os discípulos num "monte que Jesus lhes indicara". Trata-se, no entanto, de uma montanha da Galileia que é impossível identificar geograficamente, mas que talvez Mateus ligue com a montanha da tentação (cf. Mt 4,8) e com a montanha da transfiguração (cf. Mt 17,1). De qualquer forma, o "monte" é sempre, no Antigo Testamento, o lugar onde Deus se revela aos homens.

    MENSAGEM

    O texto que descreve o encontro final entre Jesus e os discípulos divide-se em duas partes.
    Na primeira (vers. 16-18), descreve-se o encontro. Jesus, vivo e ressuscitado, revela-Se aos discípulos; e os discípulos reconhecem-n'O como "o Senhor" e adoram-n'O. Depois de descrever a adoração, Mateus acrescenta uma expressão que alguns traduzem como "alguns ainda duvidaram" e outros como "eles que tinham duvidado" (gramaticalmente, ambas as traduções são possíveis). No primeiro caso, a expressão significaria que a fé não é uma certeza científica e que não exclui a dúvida; no segundo caso, a expressão aludiria a essa dúvida constante dos discípulos - expressa em vários momentos, ao longo da caminhada para Jerusalém - e que aqui perde qualquer razão de ser.
    Ao reconhecimento e à adoração dos discípulos, segue-se uma manifestação do mistério de Jesus, que reflecte a fé da comunidade de Mateus: Jesus é o "Kyrios", que possui todo o poder sobre o mundo e sobre a história; Jesus "o mestre", cujo ensinamento será sempre uma referência para os discípulos; Jesus é o "Deus-connosco", que acompanhará, a par e passo, a caminhada dos discípulos pela história.
    Na segunda (vers. 19-20), Mateus descreve o envio dos discípulos em missão pelo mundo. A Igreja de Jesus é, essencialmente, uma comunidade missionária, cuja missão é testemunhar no mundo a proposta de salvação e de libertação que Jesus veio trazer aos homens e que deixou nas mãos e no coração dos discípulos. A primeira nota do envio e do mandato que Jesus dá aos discípulos é a da universalidade... A missão dos discípulos destina-se a "todas as nações".
    A segunda nota dá conta das duas fases da iniciação cristã, conhecidas da comunidade de Mateus: o ensino e o baptismo. Começava-se pela catequese, cujo conteúdo eram as palavras e os gestos de Jesus (o discípulo começava sempre pelo catecumenato, que lhe dava as bases da proposta de Jesus). Quando os discípulos estavam informados da proposta de Jesus, vinha o baptismo - que selava a íntima vinculação do discípulo com o Pai, o Filho e o Espírito Santo (era a adesão à proposta anteriormente feita).
    Uma última nota: Jesus estará sempre com os discípulos, "até ao fim dos tempos". Esta afirmação expressa a convicção - que todos os crentes da comunidade mateana possuíam - de que Jesus ressuscitado estará sempre com a sua Igreja, acompanhando a comunidade dos discípulos na sua marcha pela história, ajudando-a a superar as crises e as dificuldades da caminhada.

    ACTUALIZAÇÃO

    Na reflexão, considerar os seguintes elementos:

    • Jesus foi ao encontro do Pai, depois de uma vida gasta ao serviço do "Reino"; deixou aos seus discípulos a missão de anunciar o "Reino" e de torná-lo uma proposta capaz de renovar e de transformar o mundo. Celebrar a ascensão de Jesus significa, antes de mais, tomar consciência da missão que foi confiada aos discípulos e sentir-se responsável pela presença do "Reino" na vida dos homens. Estou consciente de que a Igreja - a comunidade dos discípulos de Jesus, a que eu também pertenço - é, hoje, a presença libertadora e salvadora de Jesus no meio dos homens? Como é que eu procuro testemunhar o "Reino" na minha vida de todos os dias - em casa, no trabalho ou na escola, na paróquia, na comunidade religiosa?

    • A missão que Jesus confiou aos discípulos é uma missão universal: as fronteiras, as raças, a diversidade de culturas, não podem ser obstáculos para a presença da proposta libertadora de Jesus no mundo. Tenho consciência de que a missão confiada aos discípulos é uma missão universal? Tenho consciência de que Jesus me envia a todos os homens - sem distinção de raças, de etnias, de diferenças religiosas, sociais ou económicas - a anunciar-lhes a libertação, a salvação, a vida definitiva? Tenho consciência de que sou responsável pela vida, pela felicidade e pela liberdade de todos os meus irmãos - mesmo que eles habitem no outro lado do mundo?

    • Tornar-se discípulo é, em primeiro lugar, aprender os ensinamentos de Jesus - a partir das suas palavras, dos seus gestos, da sua vida oferecida por amor. É claro que o mundo do século XXI apresenta, todos os dias, desafios novos; mas os discípulos, formados na escola de Jesus, são convidados a ler os desafios que hoje o mundo coloca, à luz dos ensinamentos de Jesus. Preocupo-me em conhecer bem os ensinamentos de Jesus e em aplicá-los à vida de todos os dias?

    • No dia em que fui baptizado, comprometi-me com Jesus e vinculei-me com a comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. A minha vida tem sido coerente com esse compromisso?

    • É um tremendo desafio testemunhar, hoje, no mundo os valores do "Reino" (esses valores que, muitas vezes, estão em contradição com aquilo que o mundo defende e que o mundo considera serem as prioridades da vida). Com frequência, os discípulos de Jesus são objecto da irrisão e do escárnio dos homens, porque insistem em testemunhar que a felicidade está no amor e no dom da vida; com frequência, os discípulos de Jesus são apresentados como vítimas de uma máquina de escravidão, que produz escravos, alienados, vítimas do obscurantismo, porque insistem em testemunhar que a vida plena está no perdão, no serviço, na entrega da vida. O confronto com o mundo gera muitas vezes, nos discípulos, desilusão, sofrimento, frustração... Nos momentos de decepção e de desilusão convém, no entanto, recordar as palavras de Jesus: "Eu estarei convosco até ao fim dos tempos". Esta certeza deve alimentar a coragem com que testemunhamos aquilo em que acreditamos.
    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O DOMINGO DA ASCENSÃO
    (adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")

    1. A LITURGIA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao Domingo da Ascensão, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa...

    2. UMA SOLENIDADE.
    A Ascensão do Senhor é uma solenidade. Deve ser ao mesmo tempo "tratada" liturgicamente com as características do tempo pascal e "marcada" pelo mistério da Ascensão. Em particular, pode-se acentuar a verticalidade: preparar um vaso de incenso, em frente ao altar, com o fumo de incenso a subir para o céu; levar o círio pascal na procissão de entrada, mantê-lo erguido durante todo o cântico de entrada, depois colocá-lo no lugar próprio e incensá-lo.

    3. IDE!
    Como eco ao Evangelho, a procissão de saída da celebração pode ser organizada como um envio, um envio missionário. Por exemplo, alguns fiéis, de todas as idades e condições, ficariam agrupados à volta do altar a partir da comunhão. Depois da bênção do celebrante, este repete a Palavra de Cristo no Evangelho: "Todo o poder Me foi dado no Céu e na terra. Ide e ensinai todas as nações, baptizando as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando as a cumprir tudo o que vos mandei. Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos". E sai-se em procissão, com o Evangelho, a cruz, algumas flores...

    4. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

    No final da primeira leitura:
    Pai, que diriges o mundo com a tua liberdade soberana, nós Te bendizemos pela presença do teu Filho Jesus nas nossas assembleias e nas nossas famílias, pelo ensino da tua Palavra, pelo banquete da Eucaristia e pelo dom do teu Espírito.
    Nós Te pedimos por todas as comunidades cristãs: abre os nossos corações ao teu Espírito, que os cristãos sejam testemunhas de Cristo até ao fim dos tempos.

    No final da segunda leitura:
    Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, nós Te damos graças pela força que colocaste n'Ele, ressuscitando-O, fazendo-O sentar-se à tua direita e instituindo-O como cabeça da Igreja, que é o seu corpo.
    Nós Te pedimos: dá-nos um espírito de sabedoria para Te conhecer e Te descobrir verdadeiramente, abre os nossos corações à tua luz, confirma a nossa esperança.

    No final do Evangelho:
    Jesus, nosso Mestre e nosso irmão, nós Te damos graças: embora tenhas desaparecido do nosso olhar, ficas connosco em cada dia, até ao fim dos tempos.
    Nós Te pedimos por todos nós, os teus fiéis, as nossas comunidades e as nossas Igrejas, porque nos envias a todas as nações para formar discípulos. Que o teu Espírito nos assista nesta missão vital para o mundo.

    5. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
    Pode-se escolher a Oração Eucarística I com a evocação da "gloriosa ascensão" de Cristo.

    6. PALAVRA PARA O CAMINHO.
    Ide! Somos "clientes habituais" da Palavra de Deus. Tantas vezes escutada, não tem eco vibrante na nossa vida. "Ide e ensinai todas as nações, baptizando-os...". Jesus chama e envia sem cessar e sem cansar. Como é que há tão poucas respostas? Qual a minha resposta?

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    Proposta para
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
    Tel. 218540900 - Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.org

  • 7ª Semana - Segunda-feira - Páscoa

    7ª Semana - Segunda-feira - Páscoa


    22 de Maio, 2023

    7ª Semana - Segunda-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 19, 1-8

    1Enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo, depois de atravessar as regiões do interior, chegou a Éfeso. Encontrou alguns discípulos 2e perguntou-lhes: «Recebestes o Espírito Santo, quando abraçastes a fé?» Responderam: «Mas nós nem sequer ouvimos dizer que existe o Espírito Santo.» 3E indagou: «Então, que baptismo recebestes?» Responderam eles: «O baptismo de João.» 4«João - disse Paulo - ministrou apenas um baptismo de penitência e dizia ao povo que acreditasse naquele que ia chegar depois dele, isto é, Jesus.» 5Quando isto ouviram, baptizaram-se em nome do Senhor Jesus. 6E, tendo-lhes Paulo imposto as mãos, o Espírito Santo desceu sobre eles e começaram a falar línguas e a profetizar. 7Eram, ao todo, uns doze homens. 8Paulo foi, em seguida, à sinagoga, onde, durante três meses, falou desassombradamente e argumentava de forma a persuadir os seus ouvintes sobre o que dizia respeito ao Reino de Deus.

    As afirmações de Lucas neste texto mostram-nos que a situação nas primitivas comunidades cristãs foi muito mais complexa do que pensamos e mesmo de quanto Lucas nos deixa entrever. Havia muita gente com um pé no judaísmo e outro no cristianismo, meio discípulos de João Baptista e meio discípulos de Jesus. A pregação do Baptista tinha ultrapassado as fronteiras da Palestina e tinha feito discípulos entre os judeus da Diáspora. Estes ouviram falar de Jesus e aceitaram-no como Messias. Mas faltava-lhes uma informação completa sobre a doutrina e as exigências do Mestre. Tinham abraçado a fé, eram cristãos, mas apenas tinham recebido o baptismo de João, e nem tinham ouvido falar do Espírito Santo. Precisavam de receber o baptismo de Jesus para serem inseridos na comunidade cristã. Não sabemos se foi Paulo quem os baptizou. Mas foi ele quem lhes impôs as mãos, renovando o Pentecostes, como acontecera noutras circunstâncias, especialmente com Pedro e com João na Samaria. Lucas quer mostrar que Paulo tem o mesmo poder que os Doze.

    Evangelho: João 16, 29-33

    Naquele tempo, 29disseram os discípulos a Jesus: «Agora, sim, falas claramente e não usas nenhuma comparação. 30Agora vemos que sabes tudo e não precisas de que ninguém te faça perguntas. Por isso, cremos que saíste de Deus!»
    31Disse-lhes Jesus: «Agora credes? 32Eis que vem a hora - e já chegou - em que sereis dispersos cada um por seu lado, e me deixareis só, se bem que Eu não esteja só, porque o Pai está comigo. 33Anunciei-vos estas coisas para que, em mim, tenhais a paz. No mundo, tereis tribulações; mas, tende confiança: Eu já venci o mundo!»

    Os discursos de Jesus, ao longo do quarto evangelho, são quase sempre incompreendidos. Hoje, ouvimos os discípulos que, com entusiasmo, dizem a Jesus:
    «Agora, sim, falas claramente e não usas nenhuma comparação» (v. 29). É verdade que Jesus, nos discursos de adeus (Jo 14-16) falou mais claro. Mas também é verdade que, quando João escreve essas palavras, elas já eram iluminadas pela luz da Ressurreição e que, sobre a vida da Igreja, também já se projectava a luz do Pentecostes. Com a Ressurreição, tinha começado a nova era, e o Espírito Santo, o mestre interior, permitia aos discípulos a compreensão das palavras de Jesus. Ainda antes da Ressurreição, os discípulos pensaram conhecer a pessoa de Jesus, e ter uma fé adulta em Deus. Mas Jesus tem de lhes fazer compreender que a sua fé ainda é fraca e incompleta para enfrentar as provações que estão para vir (cf. v. 31). O Mestre anuncia, com amargura, que os seus amigos, que agora se afirmam crentes, O hão-de abandonar, porque não resistirão à prova da sorte humilhante a que será submetido. Mas o Senhor termina com palavras de esperança: «tende confiança: Eu já venci o mundo!» (v. 33).

    Meditatio

    Os apóstolos estavam convencidos de que tinham compreendido Jesus e o que Ele lhes dissera. Na verdade, não era assim: nem tinham compreendido a pessoa de Jesus nem a sua mensagem. A sua fé era ainda muito frágil. Precisavam mesmo do Espírito Santo. É o próprio Jesus que lhes faz notar a ilusão em que tinham caído:
    «Agora credes? Eis que vem a hora - e já chegou - em que sereis dispersos cada um por seu lado, e me deixareis só» (vv. 31-32). A provação estava próxima e revelaria a fragilidade da sua fé. Quando a fé se apoia em seguranças humanas, não resiste à provação. Mas, quando a provação encontra alguém devidamente ancorado na palavra do Senhor, e no abandono a Ele, então é purificada e lança-o no caminho de Jesus que afirma: «Eu não estou só, porque o Pai está comigo» (v. 32), e faz-nos tomar a sério as palavras do Senhor: «Tende confiança: Eu já venci o mundo!» (v. 33).
    As palavras de Jesus tinham um alcance que os discípulos não atingiam. Jesus ia voltar para o Pai através da paixão. Esse «regresso» é um mistério que transforma toda a natureza humana, para que os homens possam acreditar. Quando Jesus tiver realizado, pelo sofrimento e pela morte, essa transformação, poderá enviar o Espírito Santo, que fará dos Apóstolos uma nova criação. Então poderão acreditar plenamente, compreender toda a verdade.
    Nós já recebemos o Espírito Santo, e já acreditamos. Mas podemos e devemos crescer na fé. Há sempre novos horizontes que se abrem e que havemos de procurar atingir, como vemos na vida dos santos. Por isso, precisamos sempre de novos dons do Espírito, que nos revelem a superficialidade da nossa adesão a Cristo nas fases anteriores e a necessidade de enfrentar novas tribulações e de receber novas graças que nos façam crescer na intimidade e na união com Ele.
    Acolhamos em todos os momentos, em todas as situações o Espírito com os Seus dons. Só Ele nos fará conhecer, cada vez mais, a pessoa de Cristo e o mistério do seu Coração. Só Ele nos fará compreender a sua mensagem. Só Ele nos fará caminhar no amor, mesmo no meio das tribulações, irradiando os Seus frutos (cf. Gal 5, 22). Só Ele nos fará crescer à imagem de Cristo, fazendo-nos Eucaristia, para glória e alegria de Deus, e para salvação dos nossos irmãos. Poderemos, então, dizer com S. Paulo: «Já não sou eu que vivo; é Cristo que vive em Mim. A vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e Se entregou por mim» (Gal 2, 20).
    Foi
    esta «experiência de fé do P. Dehon» (Cst 2). E há ser também a nossa! Tornar-nos-emos homens novos em Cristo «Homem novo» (Ef 4, 24). E «o seu Caminho será o nosso caminho» (Cst 12).

    Oratio

    Senhor Jesus, que na tua imensa bondade nos preparas para sermos uma nova criação no teu Espírito, e para aderirmos a Ti com fé profunda, dá-nos a graça de participarmos no teu mistério de sofrimento e de alegria, no teu mistério de caridade. Nós o pedimos por intercessão de S. João Evangelista, teu Apóstolo muito amado, e nosso preceptor na contemplação do teu Lado aberto e do teu Coração trespassado. Que ele nos ensine também o espírito de reparação, de expiação, de sacrifício, para repararmos os pecados dos outros e especialmente os nossos próprios pecados. Queremos consagrar-Te a nossa vida e fazer dela uma eucaristia para Glória e Alegria do Pai. Amen.

    Contemplatio

    S. João não apenas compadeceu no martírio de Jesus, ele mesmo foi mártir. Nosso Senhor tinha-lhe predito: «Bebereis o mesmo cálice que eu, tinha-lhe dito, e sereis baptizados no mesmo baptismo».
    S. João foi, como Jesus, preso, encadeado e condenado. Sofreu o suplício do azeite a ferver. Foi enviado em exílio para Patmos.
    Diz-nos no Apocalipse: «Eu, João, vosso irmão, participei nas tribulações dos mártires e na sua paciência; fui atirado para a ilha de Patmos para dar testemunho de Jesus Cristo, cujo Evangelho pregava» (Ap 1, 9).
    S. João é para nós o modelo da reparação e da imolação, como é o modelo do amor do Salvador.
    Amou a reparação e o sacrifício. Esteve no martírio com alegria. Tinha ouvido Jesus dizer aos apóstolos: «Devo ser baptizado com o baptismo do meu sangue e tenho pressa que isso aconteça». Tinha ouvido também o «Surgite eamus», - levantai-vos e vamos ao encontro do traidor». Como é que não teria desejado também as provações que deviam torná-lo semelhante ao seu bom Mestre? (Leão Dehon, OSP 3, p. 407).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Tende confiança: Eu já venci o mundo!» (Jo 16, 33).

  • 7ª Semana - Terça-feira - Páscoa

    7ª Semana - Terça-feira - Páscoa


    23 de Maio, 2023

    7ª Semana - Terça-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 20,17-27

    Naqueles dias, 17estando Paulo em Mileto, mandou chamar os anciãos da igreja de Éfeso. 18Quando chegaram junto dele, disse-lhes: «Sabeis como, desde o primeiro dia em que cheguei à Ásia, procedi sempre convosco. 19Tenho servido o Senhor com toda a humildade e com lágrimas, no meio das provações, que as ciladas dos judeus me acarretaram. 20Jamais recuei perante qualquer coisa que vos pudesse ser útil. Preguei e instruí-vos, tanto publicamente como nas vossas casas, 21afirmando a judeus e gregos a necessidade de se converterem a Deus e de acreditarem em Nosso Senhor Jesus. 22E agora, obedecendo ao Espírito, vou a Jerusalém, sem saber o que lá me espera; 23só sei que, de cidade em cidade, o Espírito Santo me avisa de que me aguardam cadeias e tribulações. 24Mas, a meus olhos, a vida não tem valor algum; basta-me poder concluir a minha carreira e cumprir a missão que recebi do Senhor Jesus, dando testemunho do Evangelho da graça de Deus. 25Agora sei que não vereis mais o meu rosto, todos vós, no meio de quem passei, proclamando o Reino. 26Por isso, tomo-vos hoje por testemunhas de que estou limpo do sangue de todos, 27pois jamais recuei, quando era preciso anunciar-vos todos os desígnios de Deus.

    Ao terminar a sua actividade evangelizadora em Mileto, Paulo faz um comovente discurso de adeus, onde se revela como missionário ideal e dirigente excepcional da comunidade cristã. Trata-se de um discurso cheio de densidade humana e inteligência espiritual. Emerge a figura de um homem totalmente dedicado ao serviço do Senhor, um serviço prestado com humildade, coragem e desinteresse. Espera-o um futuro onde não faltarão cadeias e tribulações. Mas conforta-o a presença iluminadora do Espírito por quem se sente seduzido. Nada o detém na corrida para a meta, porque o testemunho do «Evangelho da graça de Deus» (v. 24) é urgente.
    Neste discurso, Lucas acentua a exemplaridade de Paulo. Esta exemplaridade tem fundamento real na vida do apóstolo (cf. 1 Cor 4, 16; 11, 1; Gál 4, 12; 2 Cor 3, 1), mas o evangelista parece carregar as tintas para o apresentar como modelo e exemplo de missionário e pastor para as gerações futuras.

    Evangelho: João 17, 1-11a

    Naquele tempo, 1Jesus ergueu os olhos ao céu e disse: «Pai, chegou a hora! Manifesta a glória do teu Filho, de modo que o Filho manifeste a tua glória, 2segundo o poder que lhe deste sobre toda a Humanidade, a fim de que dê a vida eterna a todos os que lhe entregaste. 3Esta é a vida eterna: que te conheçam a ti, único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem Tu enviaste. 4Eu manifestei a tua glória na Terra, levando a cabo a obra que me deste a realizar. 5E agora Tu, ó Pai, manifesta a minha glória junto de ti, aquela glória que Eu tinha junto de ti, antes de o mundo existir.
    6Dei-te a conhecer aos homens que, do meio do mundo, me deste. Eles eram teus e Tu mos entregaste e têm guardado a tua palavra. 7Agora ficaram a saber que tudo quanto me deste vem de ti, 8pois as palavras que me transmitiste Eu lhas tenho transmitido. Eles receberam-nas e reconheceram verdadeiramente que Eu vim de ti, e creram que Tu me enviaste. 9É por eles que Eu rogo. Não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me confiaste, porque são teus. 10Tudo o que é meu é teu e o que é teu é meu; e neles se manifesta a minha glória. 11Doravante já não estou no mundo, mas eles estão no mundo, e Eu vou para ti.

    Começamos, hoje, a escutar a chamada «oração sacerdotal» de Jesus. Ao contrário dos Sinópticos, que a colocam no Getsémani, João contextualiza-a no Cenáculo. Depois dela, Jesus começa o caminho da paixão e da morte.
    A primeira parte desta oração é composta por dois textos (vv. 1-5 e 6-11ª), ligados entre si pelo tema do dom de todos os homens feito a Jesus pelo Pai. Os vv. 1-5 concentram-se no pedido da glória pela Filho. Estamos no momento mais solene do colóquio de Jesus com os discípulos. Jesus sabe que a sua hora está a chegar, e que a sua missão está próxima do fim. E, «levantando os olhos ao céu» (v. 1), dá início à sua oração.
    Em primeiro lugar, Jesus pede que a sua missão atinja o seu mais elevado objectivo: a sua glorificação, para que o Pai seja glorificado (v. 1-2). O Pai tinha colocado nas mãos do seu Filho Jesus todo o poder, até o de dar a própria vida por aqueles que Lhe confiou. A vida eterna consiste em conhecer o único verdadeiro Deus e Aquele que por Ele foi enviado aos homens, o Filho (v. 3). Esta vida eterna não é a contemplação de Deus, mas aquela que se adquire pela fé. Ao concluir a sua missão na terra, Jesus declara ter glorificado o Pai, realizando a missão que Ele Lhe confiou. Aqueles que acolheram o Filho, e cumprem a sua palavra, também O glorificam.

    Meditatio

    A liturgia oferece-nos, a partir de hoje, a escuta da «oração sacerdotal» que Jesus rezou antes da sua paixão. Essa oração deixa-nos entrever algo da unidade que existe entre Ele e o Pai: «Pai, manifesta a glória do teu Filho... manifesta a minha glória junto de ti...» (v. 1). Jesus pede ao Pai que O glorifique. Está consciente de que «chegou a hora», isto é, o tempo da sua paixão, que é também o tempo da sua
    glorificação, porque é a suprema manifestação do amor do Pai, que «entregou o Filho» (cf. Jo 3, 15), e do Filho que nos amou e se entregou por nós (cf. Ef 5, 1).
    Noutro capítulo do evangelho de João, lemos: «Agora a minha alma está perturbada. E que hei-de Eu dizer? Pai, salva-me desta hora? Mas precisamente para esta hora é que Eu vim! Pai, manifesta a tua glória!» (Jo 12, 27-28). Manifestar a glória do Pai é manifestar o Filho, para que o Filho possa glorificar o Pai: «Manifesta a glória do teu Filho, de modo que o Filho manifeste a tua glória» (v. 1). O Pai não pode ser glorificado, se o Filho o não for. Por isso, quando Jesus pede ao Pai que O glorifique, não está a manifestar qualquer espécie de orgulho, mas, sim, o seu infinito amor pelo Pai. Essa manifestação acontece na sua paixão e morte, em que o Pai intervém para dar a vitória ao Filho, que assume, então, o poder sobre toda a criatura humana e lhe comunica a vida eterna.
    Podemos perguntar: que é a vida eterna? Jesus responde: «Esta é a vida eterna: que te conheçam a ti, único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem Tu enviaste» (v. 3). Conhecer o Deus de Jesus Cristo, conhecer o Filho e o Espírito Santo, conhecê-los não só com a mente, mas também com o coração, conhecê-los estando em comunhão com Eles, conhecê-los esquecendo tudo o mais, esta é a «vida eterna». O resto pertence ao mundo das coisas que passam, à infinita vaidade de tudo, ao que não tem consistência, ao que tem vida efémera, ao que não vale a pena apegar-se. A vida do cristão há-de ser um contínuo progresso no conhecimento de Deus, um perene crescimento na ciência de Cristo, um permanente caminhar no Espírito. Isto também é a vida eterna... desde já!
    A glorificação do Filho acontece particularmente no Pentecostes, quando o Espírito Santo renova os Apóstolos e toda a Igreja. A relação entre o Pai e o Filho não é uma relação fechada, mas aberta, fecunda, tendente a transformar toda a criatura.
    A nossa vocação leva-nos a unirmos ao amor oblativo com que Jesus Cristo se entregou por nós, fazendo-nos novas criaturas, animadas pelo Espírito, levando-nos a entregar-nos também, de corpo e alma, ao serviço da glória de Deus e à salvação dos irmãos. Foi essa a maravilhosa «experiência de fé do Pe. Dehon» (cf. Cst 2-8), e há- de ser essa «a nossa experiência de fé» (Cst 9), «a nossa vocação religiosa» (Cst 15) e, portanto, «a nossa resposta» de «Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus» (Cst 16), doando-nos ao Pai «pelos nossos irmãos com e como Cristo» (Cst 21), «para Glória e Alegria de Deus» (Cst 25). No Antigo Testamento, a palavra «glória» (kabod em hebraico; doxa em grego) indica tudo aquilo que manifesta Deus aos homens, sobretudo como amor gratuito e salvador.

    Oratio

    Senhor Jesus, que pela tua oblação reparadora, me fizeste nova criatura, animada pelo teu Espírito, na comunidade de amor que é a Igreja, dá-me a graça de participar no teu mistério de sofrimento e de alegria, no teu mistério de caridade, para que, em mim e por mim, se manifeste a glória do Pai e a tua glória.
    Infunde no meu coração os dons da ciência e da sapiência, para que possa conhecer-te, saborear-te, amar-te e possuir-te cada vez mais. Infunde em mim o dom do conselho, para que Te procure e conheça no meio das ocupações e preocupações, que enchem a minha vida. Infunde em mim o dom do discernimento, para que possa escolher-Te, no meio de tudo quanto me envolve. Faz-me ver a luz do teu rosto em cada rosto humano, para que sempre busque e encontre a Ti. Que sejas glorificado e conhecido, primeiro e acima de quanto eu mesmo possa ser glorificado. Amen.

    Contemplatio

    Depois que o Salvador deu aos apóstolos as suas últimas recomendações, ergueu os olhos ao céu e rezou pelos sacerdotes:
    Meu Pai, diz, consumei a obra que me havíeis confiado, agora glorificai-me, glorificai a minha humanidade. Recomendo-vos também os meus discípulos. Separei- os do mundo, dei-lhes a conhecer a minha origem e a minha missão, peço-vos insistentemente por eles. Em breve deixá-los-ei para ir para Vós, não os abandoneis, protegei-os por causa de mim. Conservai-os no vosso amor e na caridade fraterna. Que sejam um entre si e connosco. Deverão viver no mundo pelo apostolado, mas peço-vos que os preserveis de toda a influência má. Protegei-os contra o demónio, conservai-os na verdade e na santidade, para que sejam capazes de cumprirem a sua missão. Envio-os ao mundo para o converterem e santificarem, como Vós me enviastes a mim mesmo. Vou agora sacrificar-me e imolar-me por eles, a fim de fecundar o seu ministério. Pelos méritos do meu sacrifício, receberão o Espírito Santo, que será o seu guia, a sua força e o seu santificador (Jo 17) (Leão Dehon, OSP
    4, p. 259).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Pai, manifesta a glória do teu Filho» (Jo 17, 1).

  • 7ª Semana - Quarta-feira - Páscoa

    7ª Semana - Quarta-feira - Páscoa


    24 de Maio, 2023

    7ª Semana - Quarta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 20, 28-38

    Naqueles dias, Paulo disse aos anciãos da Igreja de Éfeso: 28«Tomai cuidado convosco e com todo o rebanho, de que o Espírito Santo vos constituiu administradores para apascentardes a Igreja de Deus, adquirida por Ele com o seu próprio sangue. 29Sei que, depois de eu partir, se hão-de introduzir entre vós lobos temíveis que não pouparão o rebanho 30e que, mesmo no meio de vós, se hão-de erguer homens de palavras perversas para arrastarem discípulos atrás de si. 31Estai, pois, vigilantes e recordai-vos de que, durante três anos, de noite e de dia, não cessei de exortar, com lágrimas, cada um de vós. 32E agora, confio-vos a Deus e à palavra da sua graça, que tem o poder de construir o edifício e de vos conceder parte na herança com todos os santificados. 33Jamais cobicei prata, nem ouro, nem o vestuário de alguém. 34E bem sabeis que foram estas mãos que proveram às minhas necessidades e às dos meus companheiros. 35Em tudo vos demonstrei que deveis trabalhar assim, para socorrerdes os fracos, recordando-vos das palavras que o próprio Senhor Jesus disse: 'A felicidade está mais em dar do que em receber.'»
    36Depois destas palavras, ajoelhou-se com todos eles e orou. 37Todos romperam em pranto e, lançando-se ao pescoço de Paulo, começaram a abraçá-lo, 38consternados, sobretudo, com as palavras que lhes dissera: que não veriam mais o seu rosto. Em seguida, acompanharam-no ao barco.

    O discurso de Mileto tem um carácter intemporal que o torna válido para todos os tempos. Dirigindo-se aos presbíteros, Paulo pede-lhes zelo, humildade renúncia ao próprio egoísmo. Depois de ter falado do seu empenho e responsabilidade na fundação e direcção das comunidades cristãs, o Apóstolo parece querer inculcar esse mesmo empenho e responsabilidade nos presbíteros da Igreja. Eles foram colocados como pastores do rebanho que Deus adquiriu para Si.
    Paulo insiste no dever da vigilância. De facto, perspectivam-se tempos difíceis, com perigos internos e externos à comunidade, sobretudo o despontar de falsas doutrinas: «Sei que, depois de eu partir, se hão-de introduzir entre vós lobos temíveis que não pouparão o rebanho e que, mesmo no meio de vós, se hão-de erguer homens de palavras perversas para arrastarem discípulos atrás de si» (vv. 29.30). Mesmo com sofrimento, o pastor deve vigiar, dia e noite, sobre si, mas também sobre os que lhe estão confiados, para os defender dos inimigos. O Apóstolo está consciente de que pede algo de superior às forças humanas. Por isso, confia os pastores da Igreja «a Deus e à palavra da sua graça, que tem o poder de construir o edifício» (v. 32).
    Com este discurso, Lucas encerra a narração das actividades de Paulo no mundo grego. Esperam o Apóstolo outros trabalhos e provações.

    Evangelho: João 17, 11b-19

    Naquele tempo, Jesus ergueu os olhos ao céu e orou deste modo: Pai santo, guarda-os no teu nome, que Tu me deste, para serem um só, como Nós somos!
    12Enquanto estava com eles, Eu guardava-os no teu nome, que Tu me deste.

    Guardei-os e nenhum deles se perdeu, a não ser o homem da perdição, cumprindo-se desse modo a Escritura. 13Mas agora vou para ti e, ainda no mundo, digo isto para que eles tenham em si a plenitude da minha alegria. 14Entreguei-lhes a tua palavra, e o mundo odiou-os, porque eles não são do mundo, como também Eu não sou do mundo. 15Não te peço que os retires do mundo, mas que os livres do Maligno. 16De facto, eles não são do mundo, como também Eu não sou do mundo. 17Faz que eles sejam teus inteiramente, por meio da Verdade; a Verdade é a tua palavra. 18Assim como Tu me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo, 19e por eles totalmente me entrego, para que também eles fiquem a ser teus inteiramente, por meio da Verdade.

    A segunda parte da «oração sacerdotal» começa com um pedido de Jesus ao Pai, para que proteja aqueles que acreditaram ou hão-de vir a acreditar n´Ele:
    «guarda-os em ti, para serem um só, como Nós somos!» (v. 11b). O texto subdivide-se em duas partes: começa por desenvolver o tema da oposição entre os discípulos e o mundo (vv. 11b-16); depois fala da santificação deles na verdade (vv. 17-19). E o Mestre pede ao Pai que proteja os seus amigos contra a oposição do mundo. Mas aparecem outros temas: a união entre os seus (v. 11), a sua guarda, com excepção de Judas (cf. v. 12), a preservação do maligno e do ódio do mundo (vv. 14s.). Depois vem o tema da santificação dos discípulos: «Faz que eles sejam teus inteiramente, por meio da Verdade; a Verdade é a tua palavra» (v. 17). Numa palavra, Jesus pede ao Pai
    «santo» que torne santos aqueles que Lhe pertencem, para que continuem no mundo a sua missão, sem se deixarem vencer pela força do maligno.

    Meditatio

    As palavras de Paulo, como as de Jesus, são «discursos de adeus». Paulo vê aproximar-se a hora do martírio; Jesus vê aproximar-se a hora de voltar para junto do Pai. Enquanto o discurso de Paulo é dramático, o de Jesus é sereno e cheio de paz. Paulo está preocupado com aqueles a quem confia as comunidades que fundou; Jesus está preocupado com os seus Apóstolos. Tanto Jesus como Paulo querem preservar os discípulos dos perigos e lançá-los como continuadores da missão.
    Paulo lembra aos pastores da Igreja de Éfeso as suas responsabilidades, e fala- lhes dos perigos que os espreitam: «lobos temíveis...homens de palavras perversas...» (v. 29.30). Jesus envia os seus discípulos para o mundo, apesar de saber que o mundo é o lugar do maligno, e que os odeia: «Assim como Tu me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo» (v. 18). Paulo confia os pastores ao Senhor e à palavra da sua graça, que tem poder para edificar e conceder a herança a todos os santificados (cf. v 32), imitando Jesus que confia os discípulos ao Pai: «Pai santo, Tu que a mim te deste, guarda-os em ti, para serem um só, como Nós somos!» (v. 11).
    Os discípulos devem permanecer no mundo, sem se deixar contaminar por ele. Não é coisa fácil. Por isso, Jesus reza: «Por eles totalmente me entrego, para que também eles fiquem a ser teus inteiramente, por meio da Verdade» (v. 19). Os discípulos não devem ter medo. O desafio é grande, mas o poder de Deus é maior. S. Agostinho comenta: «Que quer dizer «por eles totalmente me entrego», se não que os santifico em mim mesmo enquanto eles são eu? De facto, Ele fala dos que são membros do seu corpo».
    Tudo isto nos leva a reflectir, mais uma vez, sobre o poder do mundo, mas também sobre a sua fraqueza. O mundo tem poder sobre quem se deixa seduzir por ele. Mas é fraco para quem se deixa guiar pela palavra de Jesus e pelo seu Espírito. A palavra e o Espírito de Jesus ajudam a discernir os vários rostos do mundo, a distinguir os apelos do Espírito dos subtis enganos do maligno, as mensagens de Deus da mentira do inimigo. E é maior a segurança quando a Palavra e o Espírito não são acolhidos e geridos individualmente, mas recebidos na comunidade dos discípulos, na Igreja.

    Oratio

    Ó Senhor, meu Salvador, com o teu servo Leão Dehon, quero pedir-Te a graça da união, o espírito de união. O lugar propício para essa união é o teu divino Coração. Compreendi que esta união é a fonte de toda a vida espiritual. Daqui em diante, aplicar-me-ei em não lhe pôr obstáculos. Fugirei da dissipação, da tibieza, da negligência. Ajuda-me, meu Deus, e perdoa-me todas as minhas negligências passadas.
    Por mim, quero também confiar-me à tua palavra. Lembra-me que não sou deste mundo, que Te pertenço. Santifica-me na tua verdade, assimila-me à tua mentalidade, à tua vida! Tu, que rezaste por mim, torna-me santo na verdade, para que eu siga sempre pelos teus caminhos, e use este mundo como Tu mesmo o usarias. Amen.

    Contemplatio

    Um dos frutos mais preciosos da vinda do Espírito Santo é a nossa união com Deus, união que será consumada na glória... Para confirmar esta união, Nosso Senhor comunicou-nos a sua vida sobrenatural. A sua vida manifesta-se em nós: agora fui glorificado neles. E como tudo é comum entre o seu Pai, o Espírito Santo e ele, como membros do corpo místico do qual é a cabeça, nós somos participantes da vida divina e, de algum modo, da natureza divina, participantes da natureza divina.
    Mas não esqueçamos as condições desta união: ela é um dom gratuito, é a obra da graça. É preciso, portanto, que sempre nos disponhamos a ela e lhe correspondamos. É por Nosso Senhor, pelo seu amor e pela sua imitação que lá havemos de chegar: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. É por ele que vamos ao Pai.
    Procuremos sempre esta união que é a condição de toda a vida sobrenatural. É nesta união que havemos de encontrar a luz nas nossas dúvidas, a consolação nas provações e a força nas dificuldades; evitemos tudo o que se opõe a esta união, o pecado, a tibiez, a negligência, a dissipação, a sensualidade.
    Esta união receberá a sua consumação na vida futura. Nosso Senhor no-la prometeu. Não se afastou de nós senão por um tempo. Voltará para nos levar e nos reunir a ele e nos fazer participar a sua glória na ressurreição, na união eterna com ele. Regressarei e tomar-vos-ei comigo para que, onde Eu estiver, estejais vós também. (Leão Dehon, OSP 3, p. 485s.)

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Pai, que todos sejam um como Nós» (Jo 17, 11).

  • 7ª Semana - Quinta-feira - Páscoa

    7ª Semana - Quinta-feira - Páscoa

    25 de Maio, 2023

    7ª Semana - Quinta-feira - Páscoa

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 22, 30; 23, 6-11

    Naqueles dias, querendo o tribuno averiguar com imparcialidade do que era acusado pelos judeus, fê-lo desalgemar, convocou os sumos sacerdotes e todo o Sinédrio e mandou buscar Paulo, fazendo-o comparecer diante deles.
    6Sabendo que havia dois partidos no Sinédrio, o dos saduceus e o dos fariseus, Paulo bradou diante deles: «Irmãos, eu sou fariseu, filho de fariseus, e é pela nossa
    esperança, a ressurreição dos mortos, que estou a ser julgado.» 7Estas palavras desencadearam um conflito entre fariseus e saduceus e a assembleia dividiu-se,
    8porque os saduceus negam a ressurreição, assim como a existência dos anjos e dos espíritos, enquanto os fariseus ensinam publicamente o contrário. 9Estabeleceu-se
    enorme gritaria, e alguns escribas do partido dos fariseus ergueram-se e começaram a protestar com energia, dizendo: «Não encontramos nada de mau neste homem. E se um espírito lhe tivesse falado ou mesmo um anjo?» 10A discussão redobrou de
    violência, a tal ponto que o tribuno, receando que Paulo fosse despedaçado por eles, mandou descer a tropa para o arrancar das mãos deles e reconduzi-lo à fortaleza.
    11Na noite seguinte, o Senhor apresentou-se diante dele e disse-lhe: «Coragem!
    Assim como deste testemunho de mim em Jerusalém, assim é necessário que o dês também em Roma.»

    A defesa de Paulo diante do Sinédrio é relatada por Lucas de um modo que deixa supor uma profunda elaboração do texto, pois encontramos pormenores inverosímeis e outros que se adaptam às circunstâncias históricas. O Apóstolo fora a Jerusalém para visitar a comunidade e, a conselho de Tiago, tinha subido ao Templo. Descoberto pelos seus adversários, só não perdeu a vida porque interveio o tribuno romano, que até lhe permitiu falar à multidão. Paulo conta, mais uma vez, a história da sua conversão. Mas as suas palavras desencadeiam novo tumulto e o tributo manda reconduzi-lo à fortaleza, onde Paulo se declara cidadão romano. No dia seguinte, é levado ao sinédrio e pronuncia o seu discurso, em que habilmente explora a controvérsia existente entre fariseus e saduceus acerca da ressurreição. A confusão aumenta e, mais uma vez, Paulo é salvo pelos romanos. Mas o Senhor conforta o seu missionário e garante-lhe que o seu testemunho vai continuar, não só em Jerusalém, mas também no centro do próprio Império, em Roma.
    Evangelho: Jo 17, 20-26

    Naquele tempo, Jesus ergueu os olhos ao céu e disse: 20Pai, santo, não rogo só por eles, mas também por aqueles que hão-de crer em mim, por meio da sua palavra, 21para que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti; para que assim eles estejam em Nós e o mundo creia que Tu me enviaste. 22Eu dei-lhes a glória que Tu me deste, de modo que sejam um, como Nós somos Um. 23Eu neles e Tu em mim, para que eles cheguem à perfeição da unidade e assim o mundo reconheça que Tu me enviaste e que os amaste a eles como a mim. 24Pai, quero que onde Eu estiver estejam também comigo aqueles que Tu me confiaste, para que contemplem a minha glória, a glória que me deste, por me teres amado antes da criação do mundo. 25Pai justo, o mundo não te conheceu, mas Eu conheci-te e estes reconheceram que Tu me enviaste. 26Eu dei-lhes a conhecer quem Tu és e continuarei a dar-te a conhecer, a fim de que o amor que me tiveste esteja neles e Eu esteja neles também.»

    Estamos na terceira parte da «oração sacerdotal». Jesus amplia o horizonte, fazendo referência a todos aqueles que, ao longo dos séculos, hão-de acreditar n´Ele pela palavra dos discípulos. Depois pede por todos os crentes (vv. 20-26). Pede especialmente, para eles, uma união e unidade semelhantes às que existem entre o Pai e o Filho, ou melhor ainda, que participem nessa união e nessa unidade (vv. 21-
    23). Pede pela salvação dos discípulos (vv. 24-26).
    Como o Pai está no Filho e o Filho está no Pai, também os crentes hão-de estar com eles, para que o mundo creia que Jesus é o enviado do Pai. Esta unidade é possível pelo amor, a única forma de uma pessoa estar noutra sem perder a sua própria identidade. Mas o amor é obediência, é realização da vontade do Pai.
    Meditatio

    Jesus quis partilhar connosco a glória que o Pai Lhe deu: «Eu dei-lhes a glória que Tu me deste, de modo que sejam um, como Nós somos Um» (v. 22). Que quer dizer o Senhor com estas palavras? Não é certamente a glória mundana, que tantas vezes procuramos, para satisfazer o nosso orgulho e a nossa vaidade. A glória de Cristo é a glória daquele que veio para servir, que se baixou ao nosso nível, que se identificou connosco, que nos lavou os pés. É, portanto, a puríssima glória daquele que jamais procurou a glória e que, por isso mesmo, foi glorificado pelo Pai. É a glória daquele que «se levantou da mesa, tirou o manto, tomou uma toalha e atou-a à cintura e, depois, deitou água na bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha que atara à cintura» (Jo 13, 4-5) ou que, como escreve Paulo, «se rebaixou a si mesmo, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. Por isso mesmo é que Deus o elevou acima de tudo e lhe concedeu o nome que está acima de todo o nome» e lhe deu uma glória que está acima de toda a glória, a glória de «Senhor!».
    Trata-se, pois, de uma glória que vem do amor do Pai e que tem por objectivo fazer com que todos «sejam um»: «Eu dei-lhes a glória que Tu me deste, de modo que sejam um, como Nós somos Um» (v. 22). É, pois, uma glória dada por amor, esse amor que está na base da fraternidade entre os discípulos. Essa fraternidade é testemunho seguro e autorizado da verdade da nossa fé cristã. O cristianismo ganha credibilidade, e cresce em credibilidade, quando os fiéis se empenham em viver como irmãos e irmãs, que se aceitam uns aos outros como são para tender à unidade, quando não se deixam levar por rivalidades, mas se ajudam, se apoiam, são benevolentes uns com os outros. Há que ter tudo isto bem presente na vida espiritual, na missão, na pastoral, para darmos testemunho do «amor de Cristo num mundo à procura de uma unidade difícil e de novas relações entre pessoas e grupos» (Cst 43) e para colaborarmos eficazmente na construção de uma nova civilização, a
    «civilização do amor», que será, na terra, um reflexo da comunidade trinitária,
    conforme a oração de Jesus: «Que todos sejam um só. Como Tu, ó Pai, estás em Mim, e Eu em Ti, que também eles estejam em Nós, para que o mundo creia que Tu me enviaste» (Jo 17, 21). Notemos a insistência de Jesus, não só sobre a unidade no amor, mas também sobre a dimensão missionária da comunidade unida no amor. "Ut sint unum" («Para que sejam um») é um dos motes caros ao Pe. Dehon.

    Oratio

    «Ó Jesus, realiza o teu testamento. Vem a mim e dá-me também o amor do Pai. Devo da minha parte fazer o que é próprio para favorecer esta união. Devo viver junto de Ti, Contigo, em Ti, em união com o teu divino Coração, fazendo tão constantemente quanto possível actos de amor, de reconhecimento, de reparação e de oração». Assim Te rezava o teu servo Leão Dehon. Faço minha a sua oração, mas quero também pedir-Te que a graça da união Contigo me leve a empenhar-me na união com todos os meus irmãos e irmãs. Trabalhar pelo teu Reino é, sobretudo, mergulhar na fraternidade, que é sinal da tua presença, da presença do teu Reino. A tua mensagem, muitas vezes, não emerge, porque não emergem comunidades fraternas realizadas. Faz-me compreender o mistério da união Contigo, mas também o mistério da fraternidade e a força missionária da comunhão. Amen.
    Contemplatio

    «Quero que, onde eu estiver, eles estejam comigo». É a promessa do céu, a promessa da visão intuitiva e da posse de Deus: «Quero que eles vejam a minha glória, Ut videant claritatem meam». É mais do que uma oração, mais do que um desejo, Nosso Senhor exprime uma vontade, fala ao seu Pai como de igual para igual. Pede que os seus discípulos sejam testemunhas da glória que o seu Pai lhe destinou desde toda a eternidade.
    Depois recorda sumariamente as condições desta beatitude para os seus discípulos: «O mundo não os conhece, diz a seu Pai, e por causa disso não chega à salvação nem à glória do céu. Mas eu conheci-vos e vós me glorificastes. Os meus apóstolos conheceram-vos em mim, compreenderam que eu era vosso enviado. Dei- lhes a conhecer o vosso nome e dá-lo-ei a conhecer ainda mais».
    Conhecer Deus, conhecer prática e progressivamente Jesus e a revelação, eis,
    portanto, o caminho da beatitude.
    Este conhecimento começou pelo ensino comum da Igreja. Ele cresce sempre mais pelas luzes mais abundantes que Nosso Senhor comunica àqueles que se aplicam a conhecê-lo na oração e no recolhimento. Deve estar unido ao amor, que cresce em nós nas mesmas proporções. Quanto mais conhecemos a Deus mais o amamos, quanto mais nos tornamos dignos do seu amor, mais nos unimos intimamente com ele e com Jesus Cristo.Eis o caminho, eis a via: melhor conhecer Nosso Senhor para melhor o amar.
    «Pai, que o amor com que me amastes esteja neles e eu neles!». São as últimas palavras do testamento do Sagrado Coração. Nosso Senhor podia mostrar-se mais amoroso e mais terno por nós? Pensemos bem nestas palavras: «Meu Pai, amai- os como me amastes a mim desde toda a eternidade. Amai-me neles, amai-os como meus irmãos, como outros que eu mesmo...».
    Que diríamos nós sobre a terra de um príncipe real que dissesse ao seu pai:
    «Eis alguns dos vossos súbditos, adoptai-os como vossos filhos, amai-os como me amais a mim, dai-lhes uma parte da minha herança...». Isto seria o cúmulo da amizade, da abnegação, da dedicação, e isto nunca se viu, mas Nosso Senhor pediu isto por nós a seu Pai. E acrescentou: «E eu mesmo estarei neles, et ego in ipsis. Habitarei neles, viverei nos seus corações, serei um só com eles...».
    Foi esta união divina que nos foi prometida. Tornamo-nos participantes da natureza divina; divinae consortes naturae, como diz S. Pedro.
    Esta união estabelece-se pelo estado de graça e acrescenta-se cada dia pela vida interior. Está à minha disposição e posso torná-la todos os dias mais íntima. Que loucura se o não fizesse! (Leão Dehon, OSP 3, p. 490s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Qj.Je todos sejam um» ( Jo 17, 21 ).

  • 7ª Semana - Sexta-feira - Páscoa

    7ª Semana - Sexta-feira - Páscoa

    26 de Maio, 2023

    7ª Semana - Sexta-feira - Páscoa

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 25, 13-21

    Naqueles dias, 13o rei Agripa e Berenice chegaram a Cesareia e foram apresentar cumprimentos a Festo. 14Como se demorassem vários dias, Festo expôs ao rei o caso de Paulo, dizendo: «Está aqui um homem que Félix deixou preso, 15e contra o qual, estando eu em Jerusalém, os sumos-sacerdotes e os Anciãos dos judeus apresentaram queixa, pedindo a sua condenação. 16Respondi-lhes que não era costume dos romanos conceder a entrega de homem algum, antes de o acusado ter os acusadores na sua frente e dispor da possibilidade de se defender da acusação. 17Vieram, pois, comigo e, sem mais demoras, sentei-me, no dia seguinte, no tribunal e mandei comparecer o homem. 18Postos em frente dele, os acusadores não alegaram nenhum dos crimes que eu pudesse suspeitar; 19só tinham com ele discussões acerca da sua religião e de um certo Jesus, que morreu e Paulo afirma estar vivo. 20Quanto a mim, embaraçado perante um debate deste género, perguntei-lhe se queria ir a Jerusalém, a fim de lá ser julgado sobre o assunto.
    21Mas Paulo apelou para que a sua causa fosse reservada à decisão de Augusto e eu ordenei que o mantivessem preso até o enviar a César.»

    Paulo estava na prisão havia dois anos por ordem do procurador Félix que se tinha negado a pô-lo à disposição dos Judeus. Três dias depois da chegada de Pórcio Festo, os Judeus voltaram à carga, na esperança de que o novo procurador aproveitasse a oportunidade para se reconciliar com eles. Mas Festo preferiu actuar de acordo com o direito romano. Homem honesto, deu-se conta de que o que verdadeiramente dividia os Judeus do Apóstolo não era uma qualquer doutrina, mas um acontecimento, a ressurreição de Jesus. E propôs a Paulo ser julgado em Jerusalém, na sua presença. O Apóstolo não aceitou e apelou para César, na esperança de anunciar o Evangelho na própria capital do império.

    Aproveitando a passagem do rei Agripa por Cesareia, Festo expôs-lhe questão. Agripa interessou-se, quis ouvir pessoalmente Paulo e reconheceu a sua inocência. O Apóstolo não deixou perder a boa ocasião para anunciar ao rei e à sua corte a Boa Nova da Ressurreição, a ponto de Agripa afirmar: «Por pouco não me persuades a fazer-me cristão» (Act 26, 28). A Ressurreição de Jesus tornou-se tema de conversa na corte.

    Paulo não perde uma única oportunidade de anunciar Cristo Morto e Ressuscitado. Já antes, o fizera diante do Sinédrio (Actos 23, 6ss.) e diante de Pórcio Festo. Tirando partido dos seus direitos de cidadão romano, dispõe-se a ir testemunhar em Roma, diante do Imperador.
    A coragem de Paulo é espantosa e obriga várias categorias de pessoas a confrontar-se com o acontecimento da ressurreição de Jesus, fundamento do novo caminho de salvação, cuja notícia se ia espalhando pelo mundo.

    Evangelho: João 21, 15-19

    Quando Jesus se manifestou aos seus discípulos junto ao mar de Tiberíades, depois de terem comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: «Simão, filho de João, tu amas-me mais do que estes?» Pedro respondeu: «Sim, Senhor, Tu sabes que eu gosto muito de ti.» Jesus disse-lhe: «Apascenta os meus cordeiros.» 16Voltou a perguntar- lhe uma segunda vez: «Simão, filho de João, tu amas-me?» Ele respondeu: «Sim, Senhor, Tu sabes que eu gosto muito de ti.» Jesus disse-lhe: «Apascenta as minhas ovelhas.» 17E perguntou-lhe, pela terceira vez: «Simão, filho de João, tu gostas muito de mim?» Pedro ficou triste por Jesus lhe ter perguntado, à terceira vez: 'Tu gostas muito de mim?' Mas respondeu-lhe: «Senhor, Tu sabes tudo; Tu bem sabes que eu gosto muito de ti!» E Jesus disse-lhe: «Apascenta as minhas ovelhas. 18*Em verdade, em verdade te digo: quando eras mais novo, tu mesmo atavas o cinto e ias para onde querias; mas, quando fores velho, estenderás as mãos e outro te há-de atar o cinto e levar para onde não queres.» 19E disse isto para indicar o género de morte com que ele havia de dar glória a Deus. Depois destas palavras, acrescentou:
    «Segue-me!»

    Simão é o centro da atenção do evangelista João, no texto que hoje lemos. O pescador da Galileia é chamado a ser pastor (vv. 15-17) e a dar testemunho de Cristo pelo martírio (vv. 18s.).
    Jesus exige a Pedro uma confissão de fé e de amor, antes de lhe confiar o cuidado pastoral da Igreja. Trata-se de uma condição indispensável para o exercício da função de guia espiritual. Jesus pede três vezes essa confissão a Pedro.
    A insistência de Jesus no amor compreende-se na relação de filial intimidade que Pedro tinha com Ele. No serviço pastoral, a relação de confiança e de comunhão com o Senhor precede a exigência das próprias qualidades humanas. Jesus conhece intimamente Pedro. Mas exige-lhe uma confissão explícita de fé e de amor. E, então, confia-lhe o serviço pastoral da Igreja: «Apascenta as minhas ovelhas» (v. 17).
    Depois do ministério pastoral, virá o testemunho do martírio. O verdadeiro amor vai até ao dom da própria vida: «Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos» (Jo 15, 13).
    «Segue-me» (v. 19). Este mandato do Senhor é uma clara referência a outras palavras, tais como: «Não podes seguir-me agora; seguir-me-ás depois» (Jo 13, 36).

    Meditatio

    O procurador Festo resume ao rei Agripa a pregação de Paulo: «Os acusadores não alegaram nenhum dos crimes que eu pudesse suspeitar; só tinham com ele discussões acerca da sua religião e de um certo Jesus, que morreu e Paulo afirma estar vivo» (v. 19-29). Paulo pregava Jesus morto e ressuscitado. Era essa a razão pela qual os seus acusadores o queriam ver condenado.
    No evangelho, vemos Jesus, que esteve morto mas agora está vivo, a manifestar-se aos Apóstolos. Não se trata de um fantasma, mas de verdadeiro corpo humano, com um coração igualmente humano, que deseja ser amado: «Simão, filho de João, tu amas-me?» (v. 15). Pedro responde com modéstia. Ama o Senhor, mas não o diz com a mesma segurança em si com que o dizia antes da paixão, quando O negou. Experimentou a sua fragilidade, a sua inconstância e aprendeu que só o Senhor pode tornar consistente e forte o seu amor. Por isso, repete três vezes:
    «Senhor, Tu sabes que eu gosto muito de ti» (v. 15). Jesus nada mais pretende do

    que essa afirmação de amor para lhe confiar a Igreja: «Apascenta as minhas ovelhas!» (v. 15). O serviço a
    postólico fundamenta-se nesta ligação íntima com o Senhor. As qualidades humanas ajudam, e são até muito importantes. Mas de pouco valem sem a união com Jesus, o Supremo Pastor da Igreja. É Ele a fonte do amor com que somos chamados a amar a Deus, e a amar-nos uns aos outros. O único amor verdadeiramente consistente é aquele que vamos beber ao Coração de Cristo. Só esse amor nos torna capazes de seguir o Senhor até ao martírio, como aconteceu com Pedro. Antes da paixão, tinha perguntado a Jesus: «Senhor, para onde vais?». Jesus tinha-lhe respondido: «Para onde Eu vou tu não me podes seguir por agora; hás-de seguir-me mais tarde» (Jo 13, 36). Pedro parece não ter gostado da resposta e ripostou: «Por que não posso seguir-te agora? Eu daria a vida por ti!». Sabemos o que aconteceu poucas horas depois: negou o seu Senhor e Mestre, três vezes. Só podemos amar o Senhor e dar a vida por Ele, porque Ele nos amou e deu a vida por nós. Depois da sua Morte e Ressurreição é que Jesus convida Pedro a segui-Lo até à morte, dando por Ele a maior prova de amor.
    Abrir-nos ao amor de Cristo, acolhê-lo, é o fundamento de toda a generosidade: «Nisto consiste o Seu amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele, que nos amou... Amou-nos por primeiro...» (1 Jo 4, 19).

    Oratio

    Que hei-de dizer-te hoje, Senhor, perante a confissão de fé e de amor de Pedro? Aqui está a vida, o seu mistério, a sua luz, o seu sabor, o seu significado! Todas as outras questões não passam de simples ocasiões para Te dizer o meu «sim». Criaste-me para dizeres que me amas, e para pedir-me que corresponda ao teu amor. Pedes-mo como um mendigo! De facto, enviaste-me o teu Filho como servo para que não te sirva por medo, ou por espanto diante da tua grandeza, mas unicamente por amor. Tocaste-me o coração com a tua benevolência e a tua humildade. Conquistaste-me com o teu rosto desfigurado na cruz.
    Ainda que, como Pedro tenha hesitado, ou pecado, quero hoje dizer-te que Te amo, que quero amar-Te toda a vida, que jamais quero separar-me de Ti, que estou disposto a perder tudo por Ti.
    Dá-me a fé e o amor ardente de Pedro, e dá-me a coragem de Paulo para que, vivendo em Ti e para Ti, testemunhe a ressurreição do teu Filho Jesus, e o teu amor que excede todo o conhecimento. Amen.

    Contemplatio

    S. Paulo foi uma vítima sempre imolada pela glória de Deus e a salvação das almas. Nosso Senhor tinha dito: «Mostrar-lhe-ei tudo o que terá de sofrer pelo meu nome» (Act 1, 16). Sabia-se vítima. Dizia: «Não quero gloriar-me senão na cruz de Jesus. - Levo no meu corpo os seus estigmas» (Gal 6). «Gastar-me-ei e gastarei tudo pela salvação das vossas almas» (2Cor 12, 15). Enumera na sua segunda carta aos Coríntios tudo o que sofreu por Cristo: foi flagelado pelos Judeus; por três vezes foi flagelado e apedrejado três vezes. Três vezes naufragado; passou um dia e uma noite no fundo do mar. Sofreu a fome, a sede, o frio, a nudez. Deu a fórmula do puro amor quando disse: «Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo pela glória de Deus» (1Cor 10, 31). Finalmente, morreu por Cristo como desejava, feliz por dar a sua vida por aquele que morreu por nós. S. Paulo tinha eminentemente Pedro é apóstolo do Sagrado Coração. - Pedro está entre os íntimos do Coração de Jesus. Está sempre junto de Jesus com João e Tiago (Leão Dehon, OSP 3, p 707).

    S. João amava Jesus mais ternamente. S. Pedro amava fortemente, amava muito porque muito lhe tinha sido perdoado. Caminhou sobre as águas para ir ter com Jesus. Defende Jesus ferindo Malco. Tem um momento de fraqueza no Sinédrio, mas repara-o generosamente com as suas lágrimas. Opõe a sua tríplice confissão de amor à sua tríplice negação. Jesus tinha-o mantido sempre entre os seus preferidos, com André, Tiago e João. Foram os primeiros que chamou. Foi viver em casa de Pedro. Toma-o consigo no Tabor, envia-o a preparar a Ceia com João, leva-o também para junto de si na agonia. Pedro e João correm ao túmulo. Jesus manda avisar Pedro a respeito da sua ressurreição e aparece-lhe em particular. É sempre a intimidade, sempre a união. O chefe da Igreja deve aliás possuir eminentemente o que possuem os seus membros. João é o apóstolo do Sagrado Coração, Pedro devia sê-lo também, embora com matizes na forma (Leão Dehon, OSP 3, p.703s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Senhor, Tu sabes que Te amo!» (Jo 21, 17).

  • 7ª Semana - Sábado - Páscoa

    7ª Semana - Sábado - Páscoa

    27 de Maio, 2023

    7ª Semana - Sábado - Páscoa

    Lectio

    Primeira leitura: Actos 28, 16-20.30s.

    16Quando entrámos em Roma, Paulo foi autorizado a ficar em alojamento próprio com o soldado que o guardava. 17Três dias depois, convocou os principais dos judeus e, quando estavam todos reunidos, disse-lhes:«Irmãos, embora nada tenha feito contra o povo ou contra os costumes paternos, fui preso em Jerusalém e entregue às mãos dos romanos. 18Estes, depois de me terem interrogado, queriam libertar-me, por não haver em mim crime algum digno de morte. 19Mas, como os judeus se opuseram, fui constrangido a apelar para César, sem querer, de modo algum, acusar o meu povo. 20Foi por este motivo que pedi para vos ver e falar, pois é por causa da esperança de Israel que trago estas cadeias.» 30Paulo permaneceu dois anos inteiros no alojamento que alugara, onde recebia todos os que iam procurá-lo, 31anunciando o Reino de Deus e ensinando o que diz respeito ao Senhor Jesus Cristo, com o maior desassombro e sem impedimento.

    Entre a leitura de ontem e a de hoje, temos a narrativa da atribulada viagem de Paulo até Roma: parte de Cesareia para a ilha de Creta, sofre uma grande tempestade durante 14 dias, demora-se em Malta, viaja até Roma e é calorosamente recebido pela comunidade cristã. Na capital do Império, o Apóstolo vive uma liberdade vigiada, que aproveita para anunciar o Reino de Deus com muita coragem.
    A obra de Lucas atingiu o objectivo: nada nem ninguém pode deter o caminho da Palavra, que chega ao coração do Império e é pregada «nos extremos confins da terra». Paulo é uma das muitas testemunhas de Jesus. É um modelo, um campeão da fé e do testmunho da mesma, mas não é o único. Paulo cumpriu a sua missão com fidelidade e coragem exemplares. Mas todo o cristão há-de ser testemunha da Ressurreição. Em todo o tempo e lugar, em todas as circunstâncias, o discípulo há-de proclamar Jesus como «Senhor» e Salvador, porque «a palavra de Deus não pode ser acorrentada» (2 Tm 2, 9).

    Evangelho: João 21, 20-25

    Naquele tempo, 20Pedro voltou-se e viu que o seguia o discípulo que Jesus amava, o mesmo que na ceia se tinha apoiado sobre o seu peito e lhe tinha perguntado: 'Senhor, quem é que te vai entregar?' 21Ao vê-lo, Pedro perguntou a Jesus: «Senhor, e que vai ser deste?» 22Jesus respondeu-lhe: «E se Eu quiser que ele fique até Eu voltar, que tens tu com isso? Tu, segue-me!» 23Foi assim que, entre os irmãos, correu este rumor de que aquele discípulo não morreria. Jesus, porém, não disse que ele não havia de morrer, mas sim: «Se Eu quiser que ele fique até Eu voltar, que tens tu com isso?»
    24Este é o discípulo que dá testemunho destas coisas e que as escreveu. E nós sabemos bem que o seu testemunho é verdadeiro. 25Há ainda muitas outras coisas
    que Jesus fez. Se elas fossem escritas, uma por uma, penso que o mundo não teria espaço para os livros que se deveriam escrever.

    No epílogo do evangelho de João, o discípulo amado aparece, mais uma vez, com Pedro. A presença de Pedro, cuja autoridade é reconhecida, serve para acreditar a de João e, de algum modo, a autoridade do próprio quarto evangelho que, directa ou indirectamente remonta ao discípulo amado.
    Quando o quarto evangelho foi escrito, os mártires eram já tidos em grande
    consideração. A morte de um mártir era o modo mais elevado de glorificar a Deus. Jesus tinha predito o martírio de Pedro. Mas não terá dito nada sobre o «outro discípulo»? Claro que disse: «Se Eu quiser que ele fique até Eu voltar, que tens tu com isso? Tu, segue-me!» (v. 22). Os primeiros cristãos julgavam iminente a segunda vinda de Jesus. Embora muitos morressem, muitos outros viveriam até ao regresso do Senhor. Entre eles, João. Mas a vinda do Senhor não aconteceu como pensavam. O próprio quarto evangelho inculca seriamente a presença, a actualidade das realidades escatológicas: o juízo final, a vida eterna... têm lugar aqui e agora, ainda que isso não exclua a dimensão do futuro. A morte do discípulo amado, entretanto ocorrida, desconcertou muito gente, e foi preciso esclarecer a sentença ambígua de Cristo. O capítulo 21 foi acrescentado para corrigir a má interpretação das palavras de Jesus. Esclarece-se, diante do testemunho de Pedro, o testemunho do discípulo que Jesus amava, testemunho que está na base do quarto evangelho. «E nós sabemos bem que o seu testemunho é verdadeiro» (v. 24). O «nós» indica a comunidade de discípulos que surgiu à volta do testemunho de João.

    Meditatio

    Estamos na vigília do Pentecostes. As leituras deste sábado não falam directamente do Espírito Santo, mas falam de testemunho. Do testemunho de João, que «dá testemunho destas coisas e que as escreveu» (v. 24) e do testemunho de Paulo, que «recebia todos os que iam procurá-lo, anunciando o Reino de Deus e ensinando o que diz respeito ao Senhor Jesus Cristo, com o maior desassombro e sem impedimento» (vv. 30-31).
    O testemunho do Evangelho é fruto da presença do Espírito Santo. É o que
    vemos no relato do Pentecostes (Actos 2, 1ss.): recebido o Espírito Santo, aqueles homens inconstantes e tímidos tornam-se apóstolos decididos e corajosos em Jerusalém, na Samaria, na Galileia e até aos confins da terra. O Espírito Santo é o protagonista da evangelização: por meio d´Ele, difunde-se a boa nova do Evangelho; é Ele que indica os caminhos a seguir, e as pessoas a escolher; os Apóstolos foram escolhidos por Jesus «no Espírito Santo» (Act 1, 2); foi o Espírito que ordenou:
    «Separai Barnabé e Paul para o trabalho (missão) a que Eu os chamei» (Act 13, 2); os Apóstolos afirmam: «O Espírito Santo e nós próprios resolvemos...» (Act 15, 28); o Espírito Santo proíbe a Paulo e a Timóteo «pregar a Palavra na província da Ásia» (Act 16, 6) e também na Bitínia (cf. Act 16, 7). Apenas lhes resta um caminho a percorrer, o caminho indicado pelo Espírito, que os levará à Macedónia, na Grécia e, portanto, à Europa (cf. Act 16, 9ss). «Movidos pelo Espírito Santo esses homens falaram em nome de Deus» (2 Pe 1, 21).
    A Igreja sempre acolheu o testemunho dos Apóstolos como verdadeiro, porque inspirado pelo Espírito Santo. Acolheu o testemunho de Pedro e o dos outros Apóstolos, incluindo o de João, definitivamente consignado por escrito pelos seus discípulos, já em finais do século I: «nós sabemos bem que o seu testemunho é verdadeiro» (v. 24), escrevem esses discípulos. É esse testemunho verdadeiro, de João e dos outros Apóstolos, que a Igreja contin
    ua a transmitir ao longo dos séculos para acreditarmos «que Jesus é o Messias, o Filho de Deu», e, crendo, tenhamos vida n´Ele (cf. Jo 20, 31.

    Oratio

    Senhor Jesus, perdoa as minhas curiosidades inúteis e faz-me ouvir o teu amoroso convite: «Segue-me», como o fizeste ao teu discípulo Pedro, e dá-me a graça da fidelidade até ao fim.
    Que o teu apóstolo João, seja o meu guia na descoberta do amor do teu
    coração, na assiduidade e na delicadeza com que quero realizar o teu serviço. Com o teu discípulo amado, e como ele, quero seguir-Te em toda, fazendo sempre o que mais Te agrada. Infunde em mim o teu Espírito Santo. Que Ele seja a minha força, o garante da minha fidelidade. Amen.

    Contemplatio

    S. João teve com Jesus todos os laços mais íntimos: foi seu familiar, seu discípulo, seu amigo, seu herdeiro. Tiago e João eram filhos de Salomé, a parente de Maria. Chamavam-nos os irmãos de Jesus; era costume chamar irmãos os parentes próximos. João deve ter conhecido Jesus em menino.
    Com Santo André, foi o primeiro que se ligou a Ele como discípulo (Jo 1,37). Tendo ouvido João Baptista chamar Jesus o Cordeiro de Deus, comprazia-se muito com doçura deste nome, meditava nele sem cessar, recorda-o muitas vezes no Apocalipse.
    S. João está sempre junto de Jesus. Quando Jesus chama à parte alguns apóstolos, para os seus mais belos milagres, para a transfiguração, para a agonia, S. João está sempre.
    Está sentado junto de Jesus. S. Pedro sabe bem que João é o amigo e que por ele poderá conhecer os segredos que Jesus não revela a todos.
    S. João pode contar em pormenor o discurso depois da Ceia, porque melhor que os outros ele tudo escutou e compreendeu.
    S. João ama como é amado. Segue Jesus por toda a parte. (Petrus vidit illum sequentem). Segui-lo-á até ao Calvário. Assiste à morte de Jesus, ao misterioso golpe de lança, ao enterro. Vê de perto o lado de Jesus aberto. Abraça-o sem dúvida como devia um dia fazer S. Francisco (Haurietis aquas in gaudio).
    S. João é o herdeiro de Jesus, que lhe legou a sua mãe e necessariamente com ela a casa de Nazaré e as recordações.
    Jesus disse a Pedro que João deve esperá-lo e recebê-lo sobre a terra. Voltarão a ver-se em Patmos. João irá reencontrar lá o divino Cordeiro com o lado ferido: Agnum occisum... quem pupugerunt.
    Ó divina amizade, que merece uma contemplação e uma admiração eterna! (Leão Dehon, OSP 4, p. 591s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Tu, segue-me!» (Jo 21, 22).

  • Solenidade do Pentecostes - Ano A

    Solenidade do Pentecostes - Ano A

    28 de Maio, 2023

    ANO A
    SOLENIDADE DO PENTECOSTES

    Tema do Domingo de Pentecostes

    O tema deste domingo é, evidentemente, o Espírito Santo. Dom de Deus a todos os crentes, o Espírito dá vida, renova, transforma, constrói comunidade e faz nascer o Homem Novo.
    O Evangelho apresenta-nos a comunidade cristã, reunida à volta de Jesus ressuscitado. Para João, esta comunidade passa a ser uma comunidade viva, recriada, nova, a partir do dom do Espírito. É o Espírito que permite aos crentes superar o medo e as limitações e dar testemunho no mundo desse amor que Jesus viveu até às últimas consequências.
    Na primeira leitura, Lucas sugere que o Espírito é a lei nova que orienta a caminhada dos crentes. É Ele que cria a nova comunidade do Povo de Deus, que faz com que os homens sejam capazes de ultrapassar as suas diferenças e comunicar, que une numa mesma comunidade de amor, povos de todas as raças e culturas.
    Na segunda leitura, Paulo avisa que o Espírito é a fonte de onde brota a vida da comunidade cristã. É Ele que concede os dons que enriquecem a comunidade e que fomenta a unidade de todos os membros; por isso, esses dons não podem ser usados para benefício pessoal, mas devem ser postos ao serviço de todos.

    LEITURA I - Actos 2,1-11

    Leitura dos Actos dos Apóstolos

    Quando chegou o dia de Pentecostes,
    os Apóstolos estavam todos reunidos no mesmo lugar.
    Subitamente, fez se ouvir, vindo do Céu,
    um rumor semelhante a forte rajada de vento,
    que encheu toda a casa onde se encontravam.
    Viram então aparecer uma espécie de línguas de fogo,
    que se iam dividindo,
    e poisou uma sobre cada um deles.
    Todos ficaram cheios do Espírito Santo
    e começaram a falar outras línguas,
    conforme o Espírito lhes concedia que se exprimissem.
    Residiam em Jerusalém judeus piedosos,
    procedentes de todas as nações que há debaixo do céu.
    Ao ouvir aquele ruído, a multidão reuniu se
    e ficou muito admirada,
    pois cada qual os ouvia falar na sua própria língua.
    Atónitos e maravilhados, diziam:
    «Não são todos galileus os que estão a falar?
    Então, como é que os ouve cada um de nós
    falar na sua própria língua?
    Partos, medos, elamitas,
    habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia,
    do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília,
    do Egipto e das regiões da Líbia, vizinha de Cirene,
    colonos de Roma, tanto judeus como prosélitos,
    cretenses e árabes,
    ouvimo los proclamar nas nossas línguas
    as maravilhas de Deus».

    AMBIENTE

    Já vimos, no comentário aos textos dos domingos anteriores, que o livro dos "Actos" não pretende ser uma reportagem jornalística de acontecimentos históricos, mas sim ajudar os cristãos - desiludidos porque o "Reino" não chega - a redescobrir o seu papel e a tomar consciência do compromisso que assumiram, no dia do seu baptismo.
    No que diz respeito ao texto que nos é proposto e que descreve os acontecimentos do dia do Pentecostes, não existem dúvidas de que é uma construção artificial, criada por Lucas com uma clara intenção teológica. Para apresentar a sua catequese, Lucas recorre às imagens, aos símbolos, à linguagem poética das metáforas. Resta-nos descodificar os símbolos para chegarmos à interpelação essencial que a catequese primitiva, pela palavra de Lucas, nos deixa. Uma interpretação literal deste relato seria, portanto, uma boa forma de passarmos ao lado do essencial da mensagem; far-nos-ia reparar na roupagem exterior, no folclore, e ignorar o fundamental. Ora, o interesse fundamental do autor é apresentar a Igreja como a comunidade que nasce de Jesus, que é assistida pelo Espírito e que é chamada a testemunhar aos homens o projecto libertador do Pai.

    MENSAGEM

    Antes de mais, Lucas coloca a experiência do Espírito no dia de Pentecostes. O Pentecostes era uma festa judaica, celebrada cinquenta dias após a Páscoa. Originariamente, era uma festa agrícola, na qual se agradecia a Deus a colheita da cevada e do trigo; mas, no séc. I, tornou-se a festa histórica que celebrava a aliança, o dom da Lei no Sinai e a constituição do Povo de Deus. Ao situar neste dia o dom do Espírito, Lucas sugere que o Espírito é a lei da nova aliança (pois é Ele que, no tempo da Igreja, dinamiza a vida dos crentes) e que, por Ele, se constitui a nova comunidade do Povo de Deus - a comunidade messiânica, que viverá da lei inscrita, pelo Espírito, no coração de cada discípulo (cf. Ez 36,26-28).
    Vem, depois, a narrativa da manifestação do Espírito (Act 2,2-4). O Espírito é apresentado como "a força de Deus", através de dois símbolos: o vento de tempestade e o fogo. São os símbolos da revelação de Deus no Sinai, quando Deus deu ao Povo a Lei e constituiu Israel como Povo de Deus (cf. Ex 19,16.18; Dt 4,36). Estes símbolos evocam a força irresistível de Deus, que vem ao encontro do homem, comunica com o homem e que, dando ao homem o Espírito, constitui a comunidade de Deus.
    O Espírito (força de Deus) é apresentado em forma de língua de fogo. A língua não é somente a expressão da identidade cultural de um grupo humano, mas é também a maneira de comunicar, de estabelecer laços duradouros entre as pessoas, de criar comunidade. "Falar outras línguas" é criar relações, é a possibilidade de superar o gueto, o egoísmo, a divisão, o racismo, a marginalização... Aqui, temos o reverso de Babel (cf. Gn 11,1-9): lá, os homens escolheram o orgulho, a ambição desmedida que conduziu à separação e ao desentendimento; aqui, regressa-se à unidade, à relação, à construção de uma comunidade capaz do diálogo, do entendimento, da comunicação. É o surgimento de uma humanidade unida, não pela força, mas pela partilha da mesma experiência interior, fonte de liberdade, de comunhão, de amor. A comunidade messiânica é a comunidade onde a acção de Deus (pelo Espírito) modifica profundamente as relações humanas, levando à partilha, à relação, ao amor.
    É neste enquadramento que devemos entender os efeitos da manifestação do Espírito (cf. Act 2,5-13): todos "os ouviam proclamar na sua própria língua as maravilhas de Deus". O elenco dos povos convocados e unidos pelo Espírito atinge representantes de todo o mundo antigo, desde a Mesopotâmia, passando por Canaan, pela Ásia Menor, pelo norte de África, até Roma: a todos deve chegar a proposta libertadora de Jesus, que faz de todos os povos uma comunidade de amor e de partilha. A comunidade de Jesus é assim capacitada pelo Espírito para criar a nova humanidade, a anti-Babel. A possibilidade de
    ouvir na própria língua "as maravilhas de Deus" outra coisa não é do que a comunicação do Evangelho, que irá gerar uma comunidade universal. Sem deixarem a sua cultura e as suas diferenças, todos os povos escutarão a proposta de Jesus e terão a possibilidade de integrar a comunidade da salvação, onde se fala a mesma língua e onde todos poderão experimentar esse amor e essa comunhão que tornam povos tão diferentes, irmãos. O essencial passa a ser a experiência do amor que, no respeito pela liberdade e pelas diferenças, deve unir todas as nações da terra.
    O Pentecostes dos "Actos" é, podemos dizê-lo, a página programática da Igreja e anuncia aquilo que será o resultado da acção das "testemunhas" de Jesus: a humanidade nova, a anti-Babel, nascida da acção do Espírito, onde todos serão capazes de comunicar e de se relacionar como irmãos, porque o Espírito reside no coração de todos como lei suprema, como fonte de amor e de liberdade.

    ACTUALIZAÇÃO

    Para a reflexão, considerar as seguintes indicações:

    • Temos, neste texto, os elementos essenciais que definem a Igreja: uma comunidade de irmãos reunidos por causa de Jesus, animada pelo Espírito do Senhor ressuscitado e que testemunha na história o projecto libertador de Jesus. Desse testemunho resulta a comunidade universal da salvação, que vive no amor e na partilha, apesar das diferenças culturais e étnicas. A Igreja de que fazemos parte é uma comunidade de irmãos que se amam, apesar das diferenças? Está reunida por causa de Jesus e à volta de Jesus? Tem consciência de que o Espírito está presente e que a anima? Testemunha, de forma efectiva e coerente, a proposta libertadora que Jesus deixou?

    • Nunca será demais realçar o papel do Espírito na tomada de consciência da identidade e da missão da Igreja... Antes do Pentecostes, tínhamos apenas um grupo fechado dentro de quatro paredes, incapaz de superar o medo e de arriscar, sem a iniciativa nem a coragem do testemunho; depois do Pentecostes, temos uma comunidade unida, que ultrapassa as suas limitações humanas e se assume como comunidade de amor e de liberdade. Temos consciência de que é o Espírito que nos renova, que nos orienta e que nos anima? Damos suficiente espaço à acção do Espírito, em nós e nas nossas comunidades?

    • Para se tornar cristão, ninguém deve ser espoliado da própria cultura: nem os africanos, nem os europeus, nem os sul-americanos, nem os negros, nem os brancos; mas todos são convidados, com as suas diferenças, a acolher esse projecto libertador de Deus, que faz os homens deixarem de viver de costas voltadas, para viverem no amor. A Igreja de que fazemos parte é esse espaço de liberdade e de fraternidade? Nela todos encontram lugar e são acolhidos com amor e com respeito - mesmo os de outras raças, mesmo aqueles de quem não gostamos, mesmo aqueles que não fazem parte do nosso círculo, mesmo aqueles que a sociedade marginaliza e afasta?

    SALMO RESPONSORIAL - Salmo 103 (104)

    Refrão 1: Enviai, Senhor, o vosso Espírito
    e renovai a face da terra.

    Refrão 2: Mandai, Senhor, o vosso Espírito
    e renovai a terra.

    Refrão 3: Aleluia.

    Bendiz, ó minha alma, o Senhor.
    Senhor, meu Deus, como sois grande!
    Como são grandes, Senhor, as vossas obras!
    A terra está cheia das vossas criaturas.

    Se lhes tirais o alento, morrem
    e voltam ao pó donde vieram.
    Se mandais o vosso espírito, retomam a vida
    e renovais a face da terra.

    Glória a Deus para sempre!
    Rejubile o Senhor nas suas obras.
    Grato Lhe seja o meu canto
    e eu terei alegria no Senhor.

    LEITURA II - 1 Cor 12,3b-7.12-13

    Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios

    Irmãos:
    Ninguém pode dizer «Jesus é o Senhor»
    a não ser pela acção do Espírito Santo.
    De facto, há diversidade de dons espirituais,
    mas o Senhor é o mesmo.
    Há diversas operações,
    mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos.
    Em cada um se manifestam os dons do Espírito
    para o bem comum.
    Assim como o corpo é um só e tem muitos membros
    e todos os membros, apesar de numerosos,
    constituem um só corpo,
    assim também sucede com Cristo.
    Na verdade, todos nós
    – judeus e gregos, escravos e homens livres –
    fomos baptizados num só Espírito,
    para constituirmos um só Corpo.
    E a todos nos foi dado a beber um único Espírito.

    AMBIENTE

    A comunidade cristã de Corinto era viva e fervorosa, mas não era uma comunidade exemplar no que diz respeito à vivência do amor e da fraternidade: os partidos, as divisões, as contendas e rivalidades perturbavam a comunhão e constituíam um contra-testemunho. As questões à volta dos "carismas" (dons especiais concedidos pelo Espírito a determinadas pessoas ou grupos para proveito de todos) faziam-se sentir com especial acuidade: os detentores desses dons carismáticos consideravam-se os "escolhidos" de Deus, apresentavam-se como "iluminados" e assumiam com frequência atitudes de autoritarismo e de prepotência que não favorecia a fraternidade e a liberdade; por outro lado, os que não tinham sido dotados destes dons eram desprezados e desclassificados, considerados quase como "cristãos de segunda", sem vez nem voz na comunidade.
    Paulo não pode ignorar esta situação. Na Primeira Carta aos Coríntios, ele corrige, admoesta, dá conselhos, mostra a incoerência destes comportamentos, incompatíveis com o Evangelho. No texto que nos é proposto, Paulo aborda a questão dos "carismas".

    MENSAGEM

    Em primeiro lugar, Paulo acha que é preciso saber ajuizar da validade dos dons carismáticos, para que não se fale em "carismas" a propósito de comportamentos que pretendem apenas garantir os privilégios de certas figuras. Segundo Paulo, o verdadeiro "carisma" é o que leva a confessar que "Jesus é o Senhor" (pois não pode haver oposição entre Cristo e o Espírito) e que é útil para o bem da comunidade.
    De resto, é preciso que os membros da comunidade tenham consciência de que, apesar da diversidade de dons espirituais, é o mesmo Espírito que actua em todos; que apesar da diversidade de funções, é o mesmo Senhor Jesus que está presente em todos; que apesar da diversidade de acções, é o mesmo Deus que age em todos. Não há, portanto, "cristãos de primeira" e "cristãos de segunda". O que é importante é que os dons do Espírito resultem no bem de todos e sejam usados - não para melhorar a própria posição ou o próprio "ego" - mas para o bem de toda a comunidade.
    Paulo conclui o seu raciocínio comparando a
    comunidade cristã a um "corpo" com muitos membros. Apesar da diversidade de membros e de funções, o "corpo" é um só. Em todos os membros circula a mesma vida, pois todos foram baptizados num só Espírito e "beberam" um único Espírito.
    O Espírito é, pois, apresentado como Aquele que alimenta e que dá vida ao "corpo de Cristo"; dessa forma, Ele fomenta a coesão, dinamiza a fraternidade e é o responsável pela unidade desses diversos membros que formam a comunidade.

    ACTUALIZAÇÃO

    Para reflectir e actualizar a Palavra, considerar os seguintes elementos:

    • Temos todos consciência de que somos membros de um único "corpo" - o corpo de Cristo - e é o mesmo Espírito que nos alimenta, embora desempenhemos funções diversas (não mais dignas ou mais importantes, mas diversas). No entanto, encontramos, com alguma frequência, cristãos com uma consciência viva da sua superioridade e da sua situação "à parte" na comunidade (seja em razão da função que desempenham, seja em razão das suas "qualidades" humanas), que gostam de mandar e de fazer-se notar. Às vezes, vêem-se atitudes de prepotência e de autoritarismo por parte daqueles que se consideram depositários de dons especiais; às vezes, a Igreja continua a dar a impressão - mesmo após o Vaticano II - de ser uma pirâmide no topo da qual há uma elite que preside e toma as decisões e em cuja base está o rebanho silencioso, cuja função é obedecer. Isto faz algum sentido, à luz da doutrina que Paulo expõe?

    • Os "dons" que recebemos não podem gerar conflitos e divisões, mas devem servir para o bem comum e para reforçar a vivência comunitária. As nossas comunidades são espaços de partilha fraterna, ou são campos de batalha onde se digladiam interesses próprios, atitudes egoístas, tentativas de afirmação pessoal?

    • É preciso ter consciência da presença do Espírito: é Ele que alimenta, que dá vida, que anima, que distribui os dons conforme as necessidades; é Ele que conduz as comunidades na sua marcha pela história. Ele foi distribuído a todos os crentes e reside na totalidade da comunidade. Temos consciência da presença do Espírito e procuramos ouvir a sua voz e perceber as suas indicações? Temos consciência de que, pelo facto de desempenharmos esta ou aquela função, não somos as únicas vozes autorizadas a falar em nome do Espírito?

    SEQUÊNCIA DO PENTECOSTES

    Vinde, ó santo Espírito,
    vinde, Amor ardente,
    acendei na terra
    vossa luz fulgente.

    Vinde, Pai dos pobres:
    na dor e aflições,
    vinde encher de gozo
    nossos corações.

    Benfeitor supremo
    em todo o momento,
    habitando em nós
    sois o nosso alento.

    Descanso na luta
    e na paz encanto,
    no calor sois brisa,
    conforto no pranto.

    Luz de santidade,
    que no Céu ardeis,
    abrasai as almas
    dos vossos fiéis.

    Sem a vossa força
    e favor clemente,
    nada há no homem
    que seja inocente.

    Lavai nossas manchas,
    a aridez regai,
    sarai os enfermos
    e a todos salvai.

    Abrandai durezas
    para os caminhantes,
    animai os tristes,
    guiai os errantes.

    Vossos sete dons
    concedei à alma
    do que em Vós confia:

    Virtude na vida,
    amparo na morte,
    no Céu alegria.

    ALELUIA

    Aleluia. Aleluia.

    Vinde, Espírito Santo,
    enchei os corações dos vossos fiéis
    e acendei neles o fogo do vosso amor.

    EVANGELHO - Jo 20,19-23

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

    Na tarde daquele dia, o primeiro da semana,
    estando fechadas as portas da casa
    onde os discípulos se encontravam,
    com medo dos judeus,
    veio Jesus, colocou Se no meio deles e disse lhes:
    «A paz esteja convosco».
    Dito isto, mostrou lhes as mãos e o lado.
    Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor.
    Jesus disse lhes de novo:
    «A paz esteja convosco.
    Assim como o Pai Me enviou,
    também Eu vos envio a vós».
    Dito isto, soprou sobre eles e disse lhes:
    «Recebei o Espírito Santo:
    àqueles a quem perdoardes os pecados ser lhes ão perdoados;
    e àqueles a quem os retiverdes serão retidos».

    AMBIENTE

    Este texto (lido já no segundo domingo da Páscoa) situa-nos no cenáculo, no próprio dia da ressurreição. Apresenta-nos a comunidade da nova aliança, nascida da acção criadora e vivificadora do Messias. No entanto, esta comunidade ainda não se encontrou com Cristo ressuscitado e ainda não tomou consciência das implicações da ressurreição. É uma comunidade fechada, insegura, com medo... Necessita de fazer a experiência do Espírito; só depois, estará preparada para assumir a sua missão no mundo e dar testemunho do projecto libertador de Jesus.
    Nos "Actos", Lucas narra a descida do Espírito sobre os discípulos no dia do Pentecostes, cinquenta dias após a Páscoa (sem dúvida por razões teológicas e para fazer coincidir a descida do Espírito com a festa judaica do Pentecostes, a festa do dom da Lei e da constituição do Povo de Deus); mas João situa no anoitecer do dia de Páscoa a recepção do Espírito pelos discípulos.

    MENSAGEM

    João começa por pôr em relevo a situação da comunidade. O "anoitecer", as "portas fechadas", o "medo" (vers. 19 a), são o quadro que reproduz a situação de uma comunidade desamparada no meio de um ambiente hostil e, portanto, desorientada e insegura. É uma comunidade que perdeu as suas referências e a sua identidade e que não sabe, agora, a que se agarrar.
    Entretanto, Jesus aparece "no meio deles" (vers. 19b). João indica desta forma que os discípulos, fazendo a experiência do encontro com Jesus ressuscitado, redescobriram o seu centro, o seu ponto de referência, a coordenada fundamental à volta do qual a comunidade se constrói e toma consciência da sua identidade. A comunidade cristã só existe de forma consistente se está centrada em Jesus ressuscitado.
    Jesus começa por saudá-los, desejando-lhes "a paz" ("shalom", em hebraico). A "paz" é um dom messiânico; mas, neste contexto, significa, sobretudo, a transmissão da serenidade, da tranquilidade, da confiança que permitirão aos discípulos superar o medo e a insegurança: a partir de agora, nem o sofrimento, nem a morte, nem a hostilidade do mundo poderão derrotar os discípulos, porque Jesus ressuscitado está "no meio deles".
    Em seguida, Jesus "mostrou-lhes as mãos e o lado". São os "sinais" que evocam a entrega de Jesus, o amor to
    tal expresso na cruz. É nesses "sinais" (na entrega da vida, no amor oferecido até à última gota de sangue) que os discípulos reconhecem Jesus. O facto de esses "sinais" permanecerem no ressuscitado, indica que Jesus será, de forma permanente, o Messias cujo amor se derramará sobre os discípulos e cuja entrega alimentará a comunidade.
    Vem, depois, a comunicação do Espírito. O gesto de Jesus de soprar sobre os discípulos reproduz o gesto de Deus ao comunicar a vida ao homem de argila (João utiliza, aqui, precisamente o mesmo verbo do texto grego de Gn 2,7). Com o "sopro" de Deus de Gn 2,7, o homem tornou-se um "ser vivente"; com este "sopro", Jesus transmite aos discípulos a vida nova e faz nascer o Homem Novo. Agora, os discípulos possuem a vida em plenitude e estão capacitados - como Jesus - para fazerem da sua vida um dom de amor aos homens. Animados pelo Espírito, eles formam a comunidade da nova aliança e são chamados a testemunhar - com gestos e com palavras - o amor de Jesus.
    Finalmente, Jesus explicita qual a missão dos discípulos (ver. 23): a eliminação do pecado. As palavras de Jesus não significam que os discípulos possam ou não - conforme os seus interesses ou a sua disposição - perdoar os pecados. Significam, apenas, que os discípulos são chamados a testemunhar no mundo essa vida que o Pai quer oferecer a todos os homens. Quem aceitar essa proposta será integrado na comunidade de Jesus; quem não a aceitar, continuará a percorrer caminhos de egoísmo e de morte (isto é, de pecado). A comunidade, animada pelo Espírito, será a mediadora desta oferta de salvação.

    ACTUALIZAÇÃO

    Para a reflexão, considerar as seguintes coordenadas:

    • A comunidade cristã só existe de forma consistente, se está centrada em Jesus. Jesus é a sua identidade e a sua razão de ser. É n'Ele que superamos os nossos medos, as nossas incertezas, as nossas limitações, para partirmos à aventura de testemunhar a vida nova do Homem Novo. As nossas comunidades são, antes de mais, comunidades que se organizam e estruturam à volta de Jesus? Jesus é o nosso modelo de referência? É com Ele que nos identificamos, ou é num qualquer ídolo de pés de barro que procuramos a nossa identidade? Se Ele é o centro, a referência fundamental, têm algum sentido as discussões acerca de coisas não essenciais, que às vezes dividem os crentes?

    • Identificar-se como cristão significa dar testemunho diante do mundo dos "sinais" que definem Jesus: a vida dada, o amor partilhado. É esse o testemunho que damos? Os homens do nosso tempo, olhando para cada cristão ou para cada comunidade cristã, podem dizer que encontram e reconhecem os "sinais" do amor de Jesus?

    • As comunidades construídas à volta de Jesus são animadas pelo Espírito. O Espírito é esse sopro de vida que transforma o barro inerte numa imagem de Deus, que transforma o egoísmo em amor partilhado, que transforma o orgulho em serviço simples e humilde... É Ele que nos faz vencer os medos, superar as cobardias e fracassos, derrotar o cepticismo e a desilusão, reencontrar a orientação, readquirir a audácia profética, testemunhar o amor, sonhar com um mundo novo. É preciso ter consciência da presença contínua do Espírito em nós e nas nossas comunidades e estar atentos aos seus apelos, às suas indicações, aos seus questionamentos.

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O DOMINGO DO PENTECOSTES
    (adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")

    1. A LITURGIA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao Domingo do Pentecostes, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa...

    2. EVIDENCIAR OS CARISMAS.
    O Pentecostes é a festa do nascimento da Igreja. Seria, pois, importante fazer uma liturgia em que aos variados carismas pudessem aparecer. Seria necessário pensar em fazer-se apelo aos talentos de leitores, de salmista, de músico, de director do canto, de decorador, etc... Importa que a assembleia apareça como una e diversa.

    3. NÃO OMITIR A SEQUÊNCIA.
    Não omitir a sequência de Pentecostes depois da segunda leitura e antes da aclamação ao Evangelho. Pode ser lida por duas pessoas (com um fundo musical) ou, melhor ainda, cantada.

    4. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

    No final da primeira leitura:
    Bendito sejas, Deus de luz e de vida, sopro criador e fogo de amor. Nós Te louvamos pelo dom do teu Espírito, que chama todos os povos da terra a proclamar, cada um na sua língua, as maravilhas da tua bondade.
    Nós Te pedimos por todos os membros do teu Povo: torna-nos receptivos às múltiplas linguagens dos nossos irmãos e confiantes no teu espírito de unidade.

    No final da segunda leitura:
    Nós Te bendizemos, Pai, pelo novo corpo do teu Filho, que é a Igreja, e nós Te damos graças por nos teres permitido ser os seus membros, cada um na sua parte e na diversidade das funções confiadas.
    Nós Te pedimos, Espírito Santo, Tu que ages em nós para o bem de todos: nós acolhemos o teu sopro; manifesta em nós a tua presença.

    No final do Evangelho:
    Nós Te damos graças, Pai, pela maravilha realizada por Jesus ressuscitado, porque Ele deu nova força aos seus apóstolos, tirando-os do medo e da paralisia, comunicando-lhes o sopro da sua ressurreição.
    Nós Te suplicamos: que a tua Paz esteja connosco, por Jesus, vencedor de todas as formas de morte, e pelo teu Espírito, que é perdão e santificação.

    5. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
    Pode-se escolher a Oração Eucarística III, que contém uma oração própria para o Pentecostes e que evoca o Espírito...

    6. PALAVRA PARA O CAMINHO.
    Tempestade! Fogo! Portas arrombadas! O Pentecostes é a irrupção do Espírito Santo na vida dos discípulos que vão deixar-se transformar em todas as dimensões do seu ser. O Pentecostes continua! Mas não estamos muitas vezes, face a este Espírito Santo, como diante de uma ameaça nuclear? Ousamos, enfim, deixar-nos irradiar por Ele sem qualquer protecção?

     

     

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    Proposta para
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
    Tel. 218540900 - Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.org

  • Tempo Comum - Anos Ímpares - VIII Semana - Segunda-feira

    Tempo Comum - Anos Ímpares - VIII Semana - Segunda-feira

    29 de Maio, 2023

    Lectio

    Primeira leitura: Ben Sirá 17, 20-28 (gr. 24-29)

    Meu filho: O Senhor permite que se arrependam, deixa recomeçar, e conforta os que perderam a perseverança. 25Converte-te ao Senhor, deixa os teus pecados, suplica diante dele e evita as ocasiões de pecado. 26Volta-te para o Altíssimo, afasta-te da injustiça, - pois Ele próprio te conduzirá, das trevas à claridade da salvação - e detesta profundamente o que é abominável. 27Quem louvará o Altíssimo no Hades, em lugar dos vivos, quem o poderá louvar? 28O morto, como quem não existe, já não pode louvar; o homem vivo e com saúde é que louvará o Senhor. 29Como é grande a misericórdia do Senhor, e o seu perdão para com todos os que a Ele se convertem!

    Ben Sirá, hoje, trata um tema de importância vital: o arrependimento e o perdão. Não é fácil arrepender-se nem é facil perdoar. Mas são atitudes indispensáveis na nossa relação com Deus e com os outros.
    O arrependimento nasce da consciência de que, no nosso modo de pensar e de agir, há sempre algo de incorrecto. Todos nos sentimentos sujeitos a pecar e mesmo pecadores. Que fazer? A palavra de Deus é clara: «Converte-te ao Senhor, deixa os teus pecados» (v. 25). A conversão consiste em deixar de pecar e em voltar-nos para Ele, em regressar ao seu amor. O pecador é incapaz de louvar o Senhor, porque a sua vida é semelhante à dos que «jazem nas trevas e sombras da morte». Um salmista pede a Deus que o livre da morte para que, continuando a viver, tenha oportunidade de O louvar (Sl 88, 11-13).
    Deus oferece o seu perdão ao pecador que se arrepende. Trata-se de um dom da misericórdia divina, pois o homem pecador a nada tem direito.

    Evangelho: Marcos 10, 17-27

    Naquele tempo, Jesus ia Jesus pôr-se a caminho, quando um homem correu para Ele e se ajoelhou, perguntando: «Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?» 18Jesus disse: «Porque me chamas bom? Ninguém é bom senão um só: Deus. 19Sabes os mandamentos: Não mates, não cometas adultério, não roubes, não levantes falso testemunho, não defraudes, honra teu pai e tua mãe.» 20Ele respondeu: «Mestre, tenho cumprido tudo isso desde a minha juventude.» 21Jesus, fitando nele o olhar, sentiu afeição por ele e disse: «Falta-te apenas uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me.» 22Mas, ao ouvir tais palavras, ficou de semblante anuviado e retirou-se pesaroso, pois tinha muitos bens. 23Olhando em volta, Jesus disse aos discípulos: «Quão difícil é entrarem no Reino de Deus os que têm riquezas!» 24Os discípulos ficaram espantados com as suas palavras. Mas Jesus prosseguiu: «Filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! 25É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus.» 26Eles admiraram-se ainda mais e diziam uns aos outros: «Quem pode, então, salvar-se?» 27Fitando neles o olhar, Jesus disse-lhes: «Aos homens é impossível, mas a Deus não; pois a Deus tudo é possível.»

    O diálogo entre Jesus e o homem rico é referido pelos três sinópticos. Mas a versão de Marcos apresenta alguns pormenores interessantes: o homem ajoelha-se diante de Jesus (v. 17); Jesus verifica que se trata de um homem religiosamente sincero e, por isso, sente afeição por ele e fala-lhe (v. 21); tendo ouvido as palavras de Jesus, o homem ficou de semblante anuviado e retirou-se pesaroso (v. 22).
    Jesus está a caminho de Jerusalém. A pergunta deste israelita praticante é séria. Mas Jesus apresenta-lhe uma proposta mais vasta: despojar-se dos seus bens e aderir à comunidade dos discípulos. Assim daria prova da sinceridade com que buscava a vida eterna. Mas o homem, que «tinha muitos bens» (v. 22), não é capaz de dar essa prova. Jesus aproveita a ocasião para sublinhar que as riquezas são um grave obstáculo para entrar no reino de Deus, porque impedem de centrar o coração e os afectos em Deus, de tender para Ele, que é o fim de todos e cada um dos mandamentos e prescrições. Os discípulos ficam espantados, pois sabem que Jesus não quer uma comunidade de esfarrapados Mas o Senhor repete a afirmação servindo-se da riqueza metafórica oriental: «É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus» (v. 25). «Quem pode, então, salvar-se?» (v. 26), perguntam os discípulos. Então, Jesus acrescenta: «Aos homens é impossível, mas a Deus não; pois a Deus tudo é possível» (v. 27). É a «teologia da gratuidade», característica do segundo e evangelho, e em consonância com o pensamento paulino (cf. Rm 11, 6; Ef 2, 5; 1 Cor 15, 10; etc.). Jesus coloca-se numa posição oposta ao «automatismo farisaico», que supunha que o cumprimento de certas regras de pobreza assegurava a vida eterna. Mas nada deve ser absolutizado. Só Deus é absoluto.

    Meditatio

    A libertação do pecado e das riquezas é fundamental para acedermos a valores superiores. Sem essa libertação não alcançamos à «vida eterna».
    Mas não é fácil libertar-nos do pecado, dada a nossa grande fragilidade. Há que estar conscientes dela, para, cada dia, pedir perdão ao Senhor, implorar a sua misericórdia, e estar sempre dispostos a recomeçar. "Hoje começo!", dizia um santo, cada manhã.
    O homem moderno tem dificuldade em pedir perdão, porque, devido aos seus grandes progressos científicos e tecnológicos, se julga auto-suficiente. Fecha-se em si, faz-se medida de si mesmo, tem por bem o que lhe parece bem, se procurar qualquer referência fora de si mesmo. Desse modo, bloqueia o caminho espiritual, ficando impedido de regressar ao Pai.
    O evangelho propõe a libertação das riquezas. O homem de que nos fala Marcos quer encontrar o caminho para a «vida eterna». Mas está enredado nas suas riquezas. Jesus convida-o a desfazer-se delas, não destruindo-as, mas dando-as aos pobres, prometendo-lhe «um tesouro no céu». Mas o homem não consegue dar esse passo. Pensa no que deixa e não na riqueza que é seguir Jesus: deixa tudo o que tens; «depois, vem e segue-me» (v. 21). Mais importante do que o que deixamos, é Aquele que seguimos, com quem partilhamos a vida e a missão. A proposta de Jesus consiste em entrar, desde já, no Reino e de ter, desde já, um tesouro nos céus. Mais que tudo, é a proposta de uma vida de intimidade com o Senhor: «vem e segue-me».
    As riquezas deste mundo podem tornar-se um obstáculo para escutar Jesus e segui-lo. O Senhor reconhece que, deixar essas riquezas, não é fácil: «Quão difícil é entrarem no Reino de Deus os que têm riquezas!» (v. 23). Mas, Ele mesmo, nos aponta o remédio para as nossas dificuldades em desapegar-nos dos bens: «Aos homens é impossível, m
    as a Deus não; pois a Deus tudo é possível» (v. 27). Com a graça do Senhor, tantos cristãos sacrificaram tudo, incluindo a própria vida, para seguir Jesus e Lhe ser fiel nas perseguições. Tantos outros deixaram tudo para se consagrarem na vida religiosa e sacerdotal: «a Deus tudo é possível!».
    Com a graça de Deus, podemos libertar-nos do pecado e das riquezas, e seguir Jesus pelo caminho por onde nos quiser chamar.
    Cristo, lembram-nos as Constituições (n. 44), «convida-nos à bem-aventurança dos pobres no abandono filial ao Pai» (cf. Mt 5, 3). Viver esta bem-aventurança é permitir a Cristo viver a Sua pobreza em nós, com a sua mansidão, aflição, paz, misericórdia. É deixar «viver... Cristo» em nós (cf. Fl 1, 21), é garantir a posse do «tesouro escondido», e da «pérola de grande valor», que é o próprio Cristo das bem-aventuranças, vividas na nossa vida. Por isso, de acordo com as Constituições (n. 44), «recordaremos o seu insistente convite: "Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres; depois vem e segue-Me» (Mt 19,21)" (n. 44).

    Oratio

    Senhor, faz-me sentir que, com a tua graça, não há dificuldades nem obstáculos que não possa ultrapassar, que não há pesos que não possa suportar, nem pecado de que não possa libertar-me. Contigo, tudo é possível! A palavra que, pelo teu Anjo, dirigiste a Maria, confirma aquela que, hoje, me diriges a mim: «A Deus nada é impossível!». Maria, apesar da sua pobreza e da sua humildade, seria mesmo a Mãe do teu Filho. Abre, Senhor, a minha mente e o meu coração, para que compreenda que o essencial consiste em escutar a tua palavra e ser dócil na fé, seguindo confiadamente o caminho que nos propões. Amen.

    Contemplatio

    Satanás, vencido pela segunda vez, volta com uma outra das suas armas mais poderosas, a terceira grande concupiscência, a cupidez. Transporta Jesus sobre uma montanha, mostra-lhe todos os reinos deste mundo e a sua glória, e diz-lhe: Se me adorardes, dar-vos-ei tudo isto. - É como se dissesse: sou o príncipe deste mundo, quereis ser o meu glorioso vassalo? Vede estas vastas regiões, estas terras opulentas, estas cidades prósperas, e todo o resto do mundo, da sua glória e das suas riquezas, posso dar-vos tudo isto. Todas estas coisas me foram entregues, e dou-as a quem quiser... Jesus contenta-se a responder: «Retira-te, está escrito: Adorarás o Senhor Deus e só a ele servirás». Como é que esta tentação podia mesmo de leve tocar o Coração de Jesus, ele que escolheu por preferência os abaixamentos da incarnação, as humilhações de Belém, as privações do exílio, o trabalho mercenário de Nazaré? Mas para nós, todas estas tentações são sedutoras, o dinheiro, o bem-estar, as comodidades da vida, mesmo que devesse sofrer a justiça e a pureza da alma. Onde está o remédio? Está ainda na meditação da vida de Jesus, no amor daquele que quis ser pobre para nos resgatar, para expiar as nossas cobiças: Belém, Nazaré e o Calvário, leiamos, meditemos, rezemos. Amaremos o desapego, o sacrifício, cada um segundo a nossa vocação e a nossa graça. As pessoas do mundo podem tentar adquirir uma fortuna moderada respeitando as leis de Deus. As almas mais generosas irão até à pobreza voluntária. (Leão Dehon, OSP3, p. 226s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Como é grande a misericórdia do Senhor, e o seu perdão
    para com todos os que a Ele se convertem!» (Sir 17, 29).

    __________________

    Subsídio litúrgico a cargo de Fernando Fonseca, scj

  • Tempo Comum - Anos Ímpares - VIII Semana - Terça-feira

    Tempo Comum - Anos Ímpares - VIII Semana - Terça-feira

    30 de Maio, 2023

    Lectio

    Primeira leitura: Ben Sirá 35, 1-12

    Aquele que observa a Lei faz numerosas oferendas; oferece sacrifício salutar o que guarda os preceitos. 2Aquele que se mostra generoso oferece flor de farinha, e o que usa de misericórdia oferece um sacrifício de louvor. 3Fugir do mal é o que agrada ao Senhor, e quem fugir da injustiça obtém o perdão dos pecados. 4Não te apresentes diante do Senhor com as mãos vazias, porque todos estes ritos obedecem a um preceito. 5A oblação do justo enriquece o altar, e o seu perfume sobe ao Altíssimo. 6O sacrifício do justo é aceitável, a sua memória não será esquecida. 7Dá glória a Deus com generosidade e não regateies as primícias das tuas mãos. 8Faz todas as tuas oferendas com semblante alegre, consagra os dízimos com alegria. 9Dá ao Altíssimo, segundo o que Ele te tem dado; dá com ânimo generoso, segundo as tuas posses, 10porque o Senhor retribuirá a dádiva, recompensar-te-á de tudo, sete vezes mais. 11Não procures corrompê-lo com presentes, porque não os aceitará; não te apoies num sacrifício injusto. 12Pois o Senhor é um juiz, e não faz distinção de pessoas.

    Ben Sirá é simultaneamente um ritualista e um moralista, isto é, um homem apegado ao culto e apegado à Lei. Uma vez que vê o cumprimento da Lei como culto a Deus, podemos dizer que predomina nele o espírito do culto: «Aquele que observa a Lei faz numerosas oferendas;oferece sacrifício salutar o que guarda os preceitos» (v. 1). Nos versículos seguintes, o autor sagrado documenta um profundo conhecimento dos diferentes actos de culto com que se honrava a Deus.
    Com a afirmação «a oblação do justo enriquece o altar, e o seu perfume sobe ao Altíssimo. O sacrifício do justo é aceitável» (vv. 5-6ª), Ben Sirá relaciona o compromisso ou santidade de vida com o rito de oferta no templo, antecipando e satisfazendo aquela exigência de unidade/comunhão da pessoa que Mateus afirmará de maneira categórica: «Se fores, portanto, apresentar uma oferta sobre o altar e ali te recordares de que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão; depois, volta para apresentar a tua oferta» (Mt 5, 23s.). Ao mesmo tempo, o autor sagrado, apela para a generosidade nas ofertas ao Senhor, lembrando Ex. 23, 15: «ninguém se apresente diante de mim de mãos vazias», porque «o Senhor retribuirá a dádiva, recompensar-te-á de tudo, sete vezes mais» (v. 7). O homem sábio experimentou repetidamente que, com Deus, nunca ficamos a perder.

    Evangelho: Marcos 10, 28-31

    Naquele tempo, Pedro começou a dizer-lhe: «Aqui estamos nós que deixámos tudo e te seguimos.» 29Jesus respondeu: «Em verdade vos digo: quem deixar casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou campos por minha causa e por causa do Evangelho, 30receberá cem vezes mais agora, no tempo presente, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, juntamente com perseguições, e, no tempo futuro, a vida eterna. 31Muitos dos que são primeiros serão últimos, e muitos dos que são últimos serão primeiros.»

    O discurso de Jesus, depois do colóquio com o homem rico, deixou os discípulos apavorados. Pedro toma a palavra para tentar clarificar a confusão que se abatera sobre todos: que será de nós que «deixámos tudo e te seguimos»? (v. 28). Jesus garante-lhes que Deus não se deixa vencer em generosidade. Acolherá na vida eterna aqueles que, deixando tudo, O seguem; mas também lhes permite usufruir, desde já, da riqueza dos seus dons, e está com eles para os apoiar nas perseguições. Marcos faz uma lista detalhada dos bens de que os discípulos podem, desde já, usufruir, e conclui com a máxima sobre os primeiros e os últimos no Reino (cf. Mt 19, 30; 20, 26; Lc 13, 30). Há que estar atento contra as falsas seguranças, e empenhar-se num permanente esforço de conversão.

    Meditatio

    Uma leitura superficial dos textos bíblicos, que a liturgia de hoje nos oferece, pode induzir-nos em erro e levar-nos a concluir que a nossa relação com Deus é semelhante à que podemos ter com um banco: depositamos determinada soma e, no devido tempo, vamos levantar os juros. Na primeira leitura o rendimento seria sete vezes maior do que o depósito. No evangelho, os ganhos seriam a cem por cento. Mas, obviamente, não estamos a fazer uma boa leitura dos textos.
    O Sábio oferece-nos uma catequese completa sobre os sacrifícios. O piedoso israelita não deve descuidar as oblações prescritas na Lei. Os sacrifícios de animais, no Templo, devem ser feitos com generosidade e alegria: «não regateies as primícias das tuas mãos. Faz todas as tuas oferendas com semblante alegre, consagra os dízimos com alegria» (vv. 7b-8). Mas demora-se a explicar que a vida é mais importante do que as vítimas. O mais importante é construir uma relação interior com o Senhor. É esse o objectivo principal da Lei. Mas há que estar atentos ao próximo, porque o bem que se faz aos outros também é sacrifício agradável a Deus. Dar esmolas equivale a um sacrifício de louvor a Deus.
    O evangelho mostra-nos os Apóstolos que aderiam a Jesus e O seguem. Também aqui, como no texto de Ben Sirá, se trata de entrar em comunhão com Alguém. O que mais vale é a oferta da nossa vida, na fidelidade à vontade de Deus, na generosidade em seguir os seus ensinamentos. A oferta de um qualquer dom é apenas epifania da oferta de nós mesmos. É o que se passa, por exemplo, na profissão religiosa: não damos a Deus a nossa castidade, a nossa pobreza, a nossa obediência. Damo-nos a nós mesmos, em castidade, em pobreza, em obediência. Também a recompensa do dom, por parte de Deus, que Lhe fazemos, acontece a nível pessoal: é-nos dada «a vida eterna», isto é, a visão de Deus, a comunhão plena e definitiva com a Trindade. Seguir a Cristo, significa entrar com Ele, por Ele e n´Ele, no mistério da Trindade. É este o verdadeiro «cem vezes mais».
    Na celebração eucarística, vivemos este mistério. Oferecemos o pão e o vinho, que recebemos da bondade e da generosidade do Criador, para que se tornem, para nós, «Pão da vida» e «Vinho da salvação». Esta é a dinâmica da nossa vida cristã, que nos deve encher de alegria, porque somos, na verdade, envolvidos pela generosidade divina que tudo nos dá, para que o possamos oferecer e receber ainda mais. Trata-se de uma verdadeira exigência do amor, da caridade que anima a Igreja: quanto recebemos do amor de Deus, deve ser partilhado largamente com os outros... Jesus ordena-o aos discípulos, quando os envia em missão: «Recebestes gratuitamente, dai gratuitamente» (Mt 10, 8). Para nós, mais especificamente, é o desejo de fazer nosso o zelo apaixonado de Jesus pelo Reino, pela prega&ccedi
    l;ão da Boa Nova. Para compreender o amor de Cristo, para lhe corresponder, é preciso partilhar as suas opções, as Suas preocupações... «Como poderíamos, efectivamente, compreender o amor que Cristo nos tem, senão amando como Ele em obras e em verdade?» Este texto das nossas Constituições (n. 18) sublinha a nossa disponibilidade para a missão, para a sua urgência, compreendida como dom, como sacrifício, como Cristo a viveu.

    Oratio

    Nós Te bendizemos, Deus Pai, que nos preparaste o mundo e chamaste à vida para revelar o teu amor paterno e materno por todos nós. Nós Te bendizemos, Deus Filho, que entraste na nossa história e nos salvaste, participando no desígnio de amor do Pai para toda a humanidade. Nós Te bendizemos, Deus Espírito Santo, porque és a força que nos abre os olhos para vermos a verdadeira história escondida sob as aparências do dia a dia, e os milagres que acontecem em nós e no nosso mundo. Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, aceita o dom que, com particular fervor, Te fazemos, hoje, de nós mesmos e de tudo o que temos e fazemos, como oblação à tua glória. Glória a Ti para sempre! Amen.

    Contemplatio

    Jesus oferece-se a si mesmo pelas mãos de Maria. Na aparência, está inconsciente, mas no seu Coração não o está. Oferece a sua vida, a sua paixão, a sua morte, para expiar a ingratidão dos homens e a minha. Perdão, ó meu Jesus! Maria oferece o seu filho. Aguardando que este grande holocausto se consuma sobre o calvário, ela sacrifica, sob o golpe das tristes profecias de Simeão, o repouso e as seguranças do seu coração maternal, ao mesmo tempo que a sua honra virginal, comprometida por este facto que ela consente, ela, a Mãe puríssima e castíssima, a passar por impura, como o são perante a lei de Moisés as outras mães. José, intimamente unido a Jesus e a Maria, oferece-se para levar as mágoas e as dores inseparáveis da alta missão de que é honrado. Simeão, quando viu Jesus, renuncia a tudo, mesmo à vida. Ana levou uma longa vida de jejuns e de orações na espera e na esperança do Messias. Está pronta, como Simeão, a morrer depois de o ter visto. Todos permaneceram fiéis. E eu, eu fiz muitas vezes oferendas, tomei resoluções, formulei votos. Em que situação me encontro? Tenho sido fiel? Não me retomei muitas vezes? Posso esperar a coroa prometida à fidelidade, se continuo assim? Que fazer? Oferecer-me ainda, mas desta vez com firmeza, não me apoiando sobre a minha vontade vacilante, mas mantendo-me unido aos sagrados Corações de Jesus e de Maria, que me sustentarão se eu me aplico firmemente a compreender e a imitar as suas disposições. (Leão Dehon, OSP3, p. 117s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Faz todas as tuas oferendas com semblante alegre,
    consagra os dízimos com alegria» (Sir 35, 8).

    __________________

    Subsídio litúrgico a cargo de Fernando Fonseca, scj

  • Tempo Comum – Anos Ímpares – VIII Semana – Quarta-feira

    Tempo Comum – Anos Ímpares – VIII Semana – Quarta-feira

    31 de Maio, 2023

    Tempo Comum – Anos Ímpares – VIII Semana – Quarta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Ben Sirá 36, 1.4-5.10-17

    Tem piedade de nós, ó Senhor, Deus de todas as coisas; olha para nós e espalha o teu temor sobre todas as nações. 4Que reconheçam, como também nós reconhecemos, que fora de ti, Senhor, não há outro Deus. 5Renova os teus prodígios, faz novos milagres. 10Reúne todas as tribos de Jacob, toma-as como tua herança, como no princípio. 11Tem piedade, Senhor, do teu povo, que foi chamado pelo teu nome, e de Israel, que trataste como filho primogénito. 12Tem piedade da cidade do teu santuário, de Jerusalém, lugar do teu repouso. 13Enche Sião do louvor das tuas maravilhas, e o teu povo com a tua glória. 14Dá testemunho a favor daqueles que, desde o princípio, são tuas criaturas, leva a efeito as profecias, em teu nome proferidas. 15Recompensa os que pacientemente esperam em ti, a fim de que os teus profetas sejam acreditados. 16Ouve, Senhor, a súplica dos teus servos, segundo a bênção de Aarão sobre o teu povo, 17e todos sobre a terra reconhecerão que Tu és Senhor, o Deus dos séculos.
    O autor sagrado eleva uma bela oração a Deus em favor do seu povo, Israel. O povo escolhido tem necessidade de ser libertado e de reencontrar a sua missão de ser amostra das promessas de Deus, farol da fidelidade e do amor de Deus por todos os povos. Israel foi, muitas vezes, fiel à sua missão. Mas, tantas outras, foi infiel, quebrando a Aliança. Assim perdia o canal de ligação à fonte da sua própria vida. A dramática experiência do exílio, que deitou por terra as suas esperanças, comprometendo a sua missão histórico-teológica entre os povos. A partir daqui, encontramos dois importantes pontos da leitura. O primeiro é o que nos fala da consciência de culpa, que leva a pedir o perdão de Deus, baseados apenas na Sua misericórdia: «Tem piedade…» é o refrão dirigido a Deus em favor do «povo», de «Israel», de «Sião», de «Jerusalém». A insistência no pronome possessivo «teu» recorda a Deus o compromisso que assumiu para com o povo; mas também recorda ao povo que continua a ser pertença de Deus, apesar dos seus pecados.
    Outro ponto importante é a referência à globalidade, inserindo Israel no contexto dos povos. Israel não é apenas o povo escolhido para ser o povo de Deus; é também o povo por meio do qual Deus há-de ser conhecido e amado por todos os povos. É a consciência missionária e universalista de Israel que começa a desenvolver-se.

    Evangelho: Marcos 10, 32-45

    Naquele tempo, Jesus e os discípulos iam a caminho, subindo para Jerusalém, e Jesus seguia à frente deles. Estavam espantados, e os que seguiam estavam cheios de medo. Tomando de novo os Doze consigo, começou a dizer-lhes o que lhe ia acontecer: 33«Eis que subimos a Jerusalém e o Filho do Homem vai ser entregue aos sumos sacerdotes e aos doutores da Lei, e eles vão condená-lo à morte e entregá-lo aos gentios. 34E hão-de escarnecê-lo, cuspir sobre Ele, açoitá-lo e matá-lo. Mas, três dias depois, ressuscitará.» 35Tiago e João, filhos de Zebedeu, aproximaram-se dele e disseram: «Mestre, queremos que nos faças o que te pedimos.» 36Disse-lhes: «Que quereis que vos faça?» 37Eles disseram: «Concede-nos que, na tua glória, nos sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda.» 38Jesus respondeu: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu bebo e receber o baptismo com que Eu sou baptizado?» 39Eles disseram: «Podemos, sim.» Jesus disse-lhes: «Bebereis o cálice que Eu bebo e sereis baptizados com o baptismo com que Eu sou baptizado; 40mas o sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não pertence a mim concedê-lo: é daqueles para quem está reservado.» 41Os outros dez, tendo ouvido isto, começaram a indignar-se contra Tiago e João. 42Jesus chamou-os e disse-lhes: «Sabeis como aqueles que são considerados governantes das nações fazem sentir a sua autoridade sobre elas, e como os grandes exercem o seu poder. 43Não deve ser assim entre vós. Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo 44e quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o servo de todos. 45Pois também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por todos.»

    O texto evangélico que escutámos refere diversos episódios ocorridos durante a caminhada de Jesus para Jerusalém. Jesus avança rodeado de discípulos apavorados e de pessoas cheias de medo. Pela terceira vez, fala da paixão, que se aproxima. Fá-lo com muitos pormenores (vv. 33ss.). Mas os discípulos parecem nada compreender. Os filhos de Zebedeu continuam interessados em alcançar uma boa posição no Reino: um quer ficar à direita de Jesus e outro à esquerda (v. 37). Em Mateus, é a mãe que pede esses lugares para os filhos (cf. Mt 20, 20). Os outros discípulos estão preocupados com assuntos que nada têm a ver com os do Senhor. Mas Jesus revela aspectos centrais relativos ao discipulado: o essencial é a docilidade a Deus e ao seu projecto. Ele próprio decidirá a posição de cada um no Reino. Em Mateus será o Pai a tomar tal decisão (cf. Mt 20, 23).
    Ser discípulo de Jesus é ser, como Ele, dócil ao Pai, partilhar a missão que o Pai Lhe confiou: beber o mesmo cálice, mergulhar no mesmo baptismo. É seguir o caminho do servo sofredor (Is 52, 13-53, 12), servir a todos até ao dom da própria vida em resgate de muitos… O resgate (lýtron) é o preço a pagar por um prisioneiro de guerra, por um escravo. Este resgate é pago, não a Deus, mas ao príncipe deste mundo (Jo 12,31; 1 Jo 5, 19), ao deus deste mundo (2 Cor 4, 4), que mantém escrava a humanidade. E Jesus resgata a humanidade, não para se tornar Ele mesmo um «rei» opressor, mas paradoxalmente um «rei» servo. Também os cristãos não podem contrapor ao «poder demoníaco» um «poder cristão», mas colocar-se de modo amoroso e humilde ao serviço da humanidade.

    Meditatio

    O povo de Israel, escolhido para ser luz das nações, atraiçoou a Aliança, envolvendo-se em aventuras pecaminosas que o levaram ao exílio. Desse modo, não realizou a sua vocação nem ajudou os outros povos. Na primeira leitura, pela boca de Ben Sirá, o povo reconhece as suas culpas, mostra o seu arrependimento e pede perdão, sem alegar desculpas, pois está consciente das responsabilidades que tem na sua própria falência. Reconhece que a misericórdia de Deus é a sua única tábua de salvação. Por isso, clama repetidamente: «Tem piedade de nós,Senhor» (v. 3ª). A salvação de Israel irá acontecer com a dos outros povos que o Sábio cita na sua oração. Brilha no horizonte um raio de esperança.
    O evangelho mostra-se a triste figura dos Apóstolos.
    Havia tempo que andavam com o Senhor. Mas pareciam não ter aprendido nada, pois andavam empenhados na divisão do poder. Tudo começa com a atitude arrogante dos filhos de Zebedeu, Tiago e João. Mas, se estes erram, também os outros se mostram pecadores, porque se deixam levar por sentimentos de hostilidade contra os dois irmãos: «Os outros dez, tendo ouvido isto, começaram a indignar-se contra Tiago e João» (v. 41). E Jesus tem que intervir. Recomenda aos dois irmãos que se ponham nas mãos de Deus, que tudo dispõem como acha melhor. Ensina a todas que a autoridade não é um posto de afirmação pessoal, de busca dos próprios interesses, mas um serviço a exercer com humildade e generosidade. Se for necessário, aquele que preside deve estar disposto a dar a própria vida no exercício da missão que lhe foi confiada. Assim faz o próprio Jesus. No princípio do evangelho, lemos: «o Filho do Homem vai ser entregue» (v. 33). Os verbos seguintes explicam em que consiste essa entrega: ser condenado, escarnecido, flagelado, morto. Depois de todos esses verbos, vêm outros na voz activa: «o Filho do Homem veio para servir e dar a sua vida em resgate por todos» (v. 45). O Filho do homem veio para ser entregue; o Filho do homem veio para servir e dar a vida. Não basta ser passivos, sofrer os acontecimentos, as situações. Há que ser activo: servir, dar a vida. É realmente admirável quando um cristão aceita um evento negativo, como a cruz, e o torna positivo, fazendo dele um dom de amor. É o caso de Jesus que dá a vida em resgate de todos.
    As nossas antigas Constituições (1956) afirmavam que «o fim especial» dos religiosos do Instituto era «professar» uma particular devoção ao sacratíssimo Coração de Jesus (I, 2, parágrafo 2). Ora, «professar» é testemunhar e, na qualidade de testemunhas, “servir” evangelicamente, tal como fez Cristo, testemunha do Pai, «que não veio para ser servido mas para servir e dar a vida por muitos» (Mt 20, 28), caso contrário, a nossa “especial devoção” ao Coração de Jesus torna-se intimismo, devocionismo.

    Oratio

    Pai santo, só Tu podes transformar o sofrimento em dom generoso de vida. Foi o que fez o teu Filho, quando decidiu dar-nos o seu Corpo e o seu Sangue, na Eucaristia. Transformaste o evento doloroso em dom, para, depois, no-lo dares em sacramento. O sacramento, por sua vez, torna-nos capazes de transformar os nossos próprios eventos, isto é, de acolher todos os acontecimentos da vida, mesmo quando são difíceis, e transformá-los em sacrifício generoso de união a Cristo, morto e ressuscitado. Graças à Eucaristia, essa força está em nós e o espírito de Cristo move-nos a usá-la permanentemente na generosidade e na fidelidade. Que a nossa vida se torna eucaristia, bom generoso e gratuito, para tua glória e bem dos irmãos, particularmente dos mais carenciados. Amen.

    Contemplatio

    Ecce venio. Eis-me aqui, Senhor, ofereço-me, dou-me convosco, em união com os sentimentos do vosso divino Coração. Recebei a minha alma e o meu corpo; a minha memória, a minha inteligência, a minha vontade; os meus olhos, as minhas orelhas, a minha língua e todos os meus sentidos. Dou-me a vós. Acolhei-me e não permitais que me retome. (Leão Dehon, OSP3, p. 120).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «O Filho do Homem veio para servir e dar a sua vida em resgate por todos» (Mc 10, 45).

    __________________

    Subsídio litúrgico a cargo de Fernando Fonseca, scj

    Visitação da Virgem Santa Maria

    Visitação da Virgem Santa Maria


    31 de Maio, 2023

    A Festa de Visitação começou a ser celebrada no século XIII, pelos Franciscanos. Bonifácio IX (1389-1384) introduziu-a no calendário universal da Igreja. Tradicionalmente celebrada a 2 de Julho, a festa foi antecipada pelo novo calendário para o dia 31 de Maio, ficando assim entre a Solenidade da Anunciação (25 de Março) e o Nascimento de João Batista (24 de Junho). Depois da Anunciação, Maria foi visitar a prima Isabel, partilhando com ela a alegria que experimentava perante as "maravilhas" n´Ela operadas pelo Senhor. Impele-a também a essa visita a sua caridade feita disponibilidade e discrição. Para Lucas, Maria é a verdadeira Arca da Aliança, a morada de Deus entre os homens. Isabel reconhece esse fato e reverencia-o. Toda a visitação de Maria é um acontecimento de Jesus.

    Lectio

    Primeira leitura: Sofonias 3, 14-18ª

    Rejubila, filha de Sião,solta gritos de alegria, povo de Israel! Alegra-te e exulta com todo o coração, filha de Jerusalém!15O Senhor revogou as sentenças contra ti, e afastou o teu inimigo. O Senhor, rei de Israel, está no meio de ti. Não temerás mais a desgraça. 16Naquele dia, dir-se-á a Jerusalém: «Não temas, Sião! Não se enfraqueçam as tuas mãos! 17O Senhor, teu Deus, está no meio de ti como poderoso salvador! Ele exulta de alegria por tua causa, pelo seu amor te renovará. Ele dança e grita de alegria por tua causa, 18como nos dias de festa.»

    O reinado de Josias (séc. VI a. C.) foi marcado por permanentes infidelidades de Israel a Deus. O povo, esquecendo a Aliança com Deus, fazia alianças humanas e deixava-se levar pelas modas, cedendo ao culto de deuses estrangeiros. Perante esta situação, Sofonias ergue a voz para proclamar "o dia terrível de Javé" em que o pecado dos povos, também de Judá, seria manifestado e julgado. Mas o profeta sabe que o juízo de Deus é sempre um convite à conversão. Assim, abre uma perspetiva de luz e de esperança. A "filha de Sião" deve alegrar-se com a perspetiva desse dia (cf. 16b), o dia messiânico, dia de misericórdia e de um amor novo entre Deus e o seu povo. A presença de Deus entre o seu povo será motivo de renovada esperança, porque Deus é "poderoso salvador" (v. 17).

    Evangelho: Lucas 1, 39-56

    Por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, a uma cidade da Judeia. 40Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. 41Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 42Então, erguendo a voz, exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre.43E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? 44Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio. 45Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor.» 46Maria disse, então: «A minha alma glorifica o Senhor47e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva. De hoje em diante, me chamarão bem-aventurada todas as gerações. 49O Todo-poderoso fez em mim maravilhas. Santo é o seu nome.50A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem.51Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos.52Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. 53Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias.54Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia,55como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência, para sempre.» 56Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois regressou a sua casa.

    Maria e Isabel acolhem em si a ação de Deus. Maria acolhe-a de modo ativo, dando o seu consenso. Isabel acolhe-a de modo passivo. Ambas experimentam a ação poderosa do Espírito Santo. Isabel tem no ventre o Precursor. Graças a essa presença, pode já indicar, na Mãe, o Filho e proclamar bendita Aquela que "acreditou" (v. 45). Maria responde ao cântico de Isabel com o Magnificat, que revela a ação poderosa de Deus nela, aquela ação que realiza as promessas feitas a Abraão e à sua descendência. O Magnificat é a primeira manifestação pública de Jesus, ainda escondido, mas atuante naqueles que, como Maria, o acolhem na fé e com amor.

    Meditatio

    Maria ensina-nos a acolher o Senhor. Acolhe-o com louvor: "A minha alma glorifica o Senhor!" Assim fizera David que acolheu a Arca de Deus com exultação e a colocou na sua cidade, Jerusalém, no meio do júbilo do seu povo.
    Como David e, sobretudo, como Maria, precisamos de acolher a Deus e dar-lhe o lugar a que tem direito na nossa vida. Somos pequenos e fracos, é certo. Mas Deus chama-nos a acolhê-lo, a recebê-lo em nossa casa com alegria e disponibilidade. Não podemos deixá-lo à porta. Não podemos recebê-lo continuando fechados nas nossas preocupações, nos nossos interesses mais ou menos egoístas. Não podemos receber a Deus como se recebe alguém que vem negociar connosco, ou como se recebe um fornecedor, um cobrador, ou um qualquer serviçal. Há que recebê-lo com a honra a que tem direito, com alegria, com cânticos de júbilo, com exultação. Maria acolheu o Senhor, não para ser servida, mas para servir. Acolheu-o cantando: "A minha alma glorifica o Senhor!". Maria e Isabel ensinam-nos também a acolher os outros. Para acolher alguém, precisamos de sair de nós mesmos. Maria saiu fisicamente de sua casa e deslocou-se à montanha da Judeia para visitar Isabel. Isabel, para acolher a Maria, saiu de si mesma e reconheceu, na jovem mulher que a visitava, a Mãe do seu Senhor. Maria acolhera a palavra do Anjo acerca da prima e foi visitá-la como a alguém abençoado pelo Senhor. Acolher uma pessoa é sempre acolher aquilo que Deus realiza nessa pessoa, acolher a sua vocação profunda.
    Peçamos a Maria que, como o Pe. Dehon, e no seu "seguimento", saibamos contribuir para instaurar o reino da justiça e da caridade cristã no mundo (cf. Souvenirs XI). Um sinal dos tempos muito apreciado, pelos crentes e pelos não crentes, é a solidariedade com os carenciados, sejam eles da nossa família ou vivam mais perto ou mais longe de nós. O mesmo se diga da ajuda aos povos em vias de desenvolvimento, muitas vezes atormentados pela fome, causada por guerras crónicas ou por catástrofes e calamidades naturais (Cf. A.A., n. 14).

    Oratio

    Senhor, hoje, quero rezar-te com o P. Dehon: "A minha alma glorifica o Senhor por todos os seus benefícios: pela sua vinda na Incarnação, pelos seus ensinamentos luminosos, pela efusão do seu sangue, pela instituição da Eucaristia, pelo dom do seu Coração, sobretudo, e pelas graças pessoais com que me cumula todos os dias." (OSP 3, p. 22s.)

    Contemplatio

    Maria entoa o cântico de ação de graças que ficará como expressão de ação de graças de todos os filhos de Deus. Como dizer o enlevo do seu Coração? Ela atribui tudo à glória de Deus, esquecendo-se de si mesma. É o sentido de todo o cântico. Foi Deus quem fez nela grandes coisas. É a obra da sua misericórdia. Veio no poder do seu braço para humilhar os soberbos e para levantar os pequenos. Veio despojar os que se agarravam aos bens da terra e enriquecer com os seus dons os que estavam em necessidade. - Veio cumprir as promessas feitas aos patriarcas. Em todo este mistério da Visitação transbordam a caridade do Coração de Jesus que derrama as suas graças sobre aqueles que visita, e o humilde reconhecimento do coração de Maria, que nos ensina a dizer a Deus toda a nossa gratidão atribuindo-lhe fielmente todo o bem que opera em nós, seus pobres servidores bem humildes e bem pequenos. O Magnificat servir-nos-á de cântico de ação de graças para agradecermos ao Sagrado Coração de Jesus as suas visitas e a sua permanência em nós pela Eucaristia e pela graça. (Leão Dehon, OSP 3, p. 22).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "A minha alma glorifica o Senhor" (Lc 1, 46).

    ----
    Visitação da Virgem Santa Maria (31 Maio)

plugins premium WordPress