Liturgia

Week of Mar 11th

  • Segunda - 4ª Semana da Quaresma

    Segunda - 4ª Semana da Quaresma

    11 de Março, 2024

    Lectio
    Primeira leitura: Isaías 65, 17-21

    Assim fala o Senhor: 17 Olhai, Eu vou criar um novo céu e uma nova terra; o passado não será mais lembrado e não voltará mais à memória. 18 Alegrem-se e rejubilem para sempre por aquilo que vou criar. Olhai, vou criar uma Jerusalém cheia de alegria e um povo cheio de entusiasmo. 19 Eu mesmo me alegrarei com esta Jerusalém e me entusiasmarei com o meu povo. Doravante não se ouvirão nela choros nem lamentos. 20 Não haverá ali criança que morra de tenra idade, nem adulto que não chegue à velhice, pois será ainda novo aquele que morrer aos cem anos, e quem não chegar aos cem anos será como um amaldiçoado. 21 Construirão casas e habitarão nelas, plantarão vinhas e comerão o seu fruto.

    Regressado do exílio, o povo continua a resistir à voz do Senhor, a descuidar-se na invocação do seu nome (vv. 1-7) e a cair na idolatria, provocando a sua justa ira. O profeta intervém e lembra que será diferente a sorte dos que praticam a justiça, reconhecendo a Deus o lugar que Lhe pertence e prestando-Lhe o devido culto, e a dos rebeldes (vv. 8-16a). O texto que hoje escutamos abre perspectivas de um futuro feliz, revelando a grandeza do projecto de Deus, que não envolve apenas cada um, mas atinge todo o universo. Os sofrimentos passados vão ser esquecidos, porque Deus vai realizar uma nova criação. Nos versículos que escutamos, parece misturar-se o cântico do coração de Deus e o da humanidade: ao júbilo divino pela sua cidade santa, pelo seu povo renovado, corresponde a alegria do mesmo povo perante a maravilhosa re-criação operada por Deus. Na nova Jerusalém cessará toda a tristeza, a elevada mortalidade infantil. Será grande a longevidade. A liberdade e a estabilidade política garantirão a prosperidade e a paz. Esta promessa realízar-se-á definitivamente em Jesus Cristo que, pela sua obra salvífica, transformará o mundo.

    Evangelho: João 4, 43-54

    Naquele tempo, 43 Jesus partiu da Samaria e foi para a Galileia. 44 Ele mesmo tinha declarado que um profeta não é estimado na sua própria terra. 45 No entanto, quando chegou à Galileia, os galileus receberam-no bem, por terem visto o que fizera em Jerusalém durante a festa; pois eles também tinham ido à festa. 46 Veio, pois, novamente a Caná da Galileia, onde tinha convertido a água em vinho. Ora havia em Cafarnaúm um funcionário real que tinha o filho doente. 47 Quando ouviu dizer que Jesus vinha da Judeia para a Galileia, foi ter com Ele e pediu-lhe que descesse até lá para lhe curar o filho, que estava a morrer. 48 Então Jesus disse-lhe: «Se não virdes sinais extraordinários e prodígios, não acreditais.» 49 Respondeu-lhe o funcionário real: «Senhor, desce até lá, antes que o meu filho morra.» 50Disse-Ihe Jesus: «Vai, que o teu filho está salvo.» O homem acreditou nas palavras que Jesus lhe disse e pôs-se a caminho. 51 Enquanto ia descendo, os criados vieram ao seu encontro, dizendo: «O teu filho está salvo.» 52perguntou-Ihes, então, a que horas ele se tinha sentido melhor. Responderam: «A febre deixou-o há pouco, depois do meio-dia» 530 pai viu, então, que tinha sido exactamente àquela hora que Jesus lhe dissera: «O teu filho está salvo». E acreditou ele e todos os da sua casa. 54Jesus realizou este segundo sinal miraculoso ao ir da Judeia para a Galileia.

    S. João, ao narrar a cura, à distância, do filho do funcionário real, quer apresentar-nos Jesus como Palavra de vida. O Senhor regressava à Galileia. A fama do que fizera em Jerusalém, durante a festa, tinha-O precedido. Desta vez, os galileus receberam-no bem. Mas Jesus decide ir a Caná, onde fizera o seu primeiro milagre. Surge, então, o funcionário real que Lhe pede para descer a Cafarnaúm para curar o seu filho doente. O verbo «descer», em que João insiste, justifica-se pela posição geográfica de Cafarnaúm, mas também pela intenção do evangelista em nos apresentar Aquele que, «por nós homens e pela nossa salvação, desceu do céu». Jesus reprova a fé imperfeita do funcionário de Herodes. Mas ele não desiste. Jesus cura-lhe o filho, símbolo da humanidade doente e moribunda. Oferece-lhe uma palavra de vida. Mas exige a fé.

    O sinal extraordinário, o prodígio de Jesus é a Palavra. Quem acredita nela e lhe obedece, experimenta milagres. O funcionário acolheu a palavra: «Vai, que o teu filho está sstvo (v. 50). Acreditou, obedeceu, partiu para sua casa. E vieram-lhe ao encontro os servos que lhe dizem: «O teu filho está sstvo. (v. 53). A fé, que caminhou na obscuridade (v. 52ss.) cresceu: «Acreditou ele e todos os da sua casa» (v. 53).

    Meditatio

    A Palavra de Jesus é o sinal extraordinário e o prodígio que nos oferece. Quem acolhe a Palavra e acredita nela, vê rasgaram-se horizontes inesperados, experimenta milagres. Permanecer na Palavra, guardando-a no coração, e cumprindo-a, mesmo que seja preciso caminhar na escuridão, apenas iluminado por ela, significa participar na obra divina da nova criação, santificação e transfiguração do universo.

    Jesus pediu ao funcionário real a fé na sua palavra: «Vai, que o teu filho está sstvt». O homem acreditou e o seu filho ficou curado. Acreditou na palavra de Jesus. Acreditou em Jesus, porque Jesus é a Palavra de Deus feita carne. Acreditou e partiu, obediente e confiante. E alcançou a vida para o seu filho. Acreditar e obedecer, acolher a palavra e pô-Ia em prática é uma questão de vida ou de morte. O homem aflito teve a força de crer na palavra de Jesus, que nada fez de especial, apenas falou. Não insistiu para que Jesus mudasse os seus planos e fizesse o que lhe pedia. Acreditou e partiu confiando na verdade da palavra de Jesus.

    Quantas vezes, também nós, nos vemos na situação de ter que acreditar na Palavra, sem vermos ou antes de vermos qualquer sinal. Rezamos, somos iluminados, mas tudo parece permanecer imutável. .. É o momento de progredirmos na fé, que não é simples verificação, mas acreditar na palavra e n ' Aquele que a pronuncia. Se soubermos caminhar na fé, mesmo na noite escura do sofrimento e da provação, a Palavra será como uma lâmpada para os nossos passos. E, quando o Senhor quiser, encontraremos a confirmação luminosa do seu poder que faz maravilhas. Então, a nossa fé tornar-se-é exultação e júbilo. Será aquela fé firme e segura, que transforma a alma e a faz caminhar em novidade de vida, em plenitude cristã.

    A confiança do funcionário real na palavra de Jesus, o seu abandono à palavra de Jesus, o seu caminhar na fé por um caminho obscuro, tornou eficaz a sua intercessão pelo filho que estava doente em Cafarnaúm. O jovem foi curado, foi salvo.

    As nossas Constituições lembram-nos que a nossa cooperação na obra da redenção, passa pelo "apostolado". Mas, mais cedo ou mais tarde, pode
    também passar pela simples confiança e abandono à palavra de Jesus, em situações de grande "sofrimento", de solidão, de noite escura, de imolação, de cruz, de morte ... ", onde apenas a Palavra nos ilumina e dá conforto (cf. Cst 24).

    Então, a nossa vida será reparadora na oferta, na paciência, no abandono, quer dizer, na disponibilidade da "vítima" para a imolação, em comunhão com a paixão e a morte redentora do Senhor ... , e, confiados na Palavra, entregaremos voluntariamente a nossa vida em favor dos irmãos, olhando para Cristo trespassado, que nos precedeu neste amor redentor (cf. 1 Jo 3, 16).

    Oratio

    Senhor Jesus, Tu és a palavra viva e vivificadora do Pai. Quero escutar-Te cada dia, quero encontrar-me Contigo, cada vez que acolho a tua Palavra. Como Maria, tua e minha mãe, quero guardá-Ia no coração, meditá-Ia, rezá-Ia, para me entregar a ela com uma fé simples, que rasga novos horizontes e faz ver as tuas obras prodigiosas e colaborar nelas.

    Obrigado, Senhor, pela tua Palavra. Que ela seja sempre a luz dos meus passos, a garantia da minha esperança, a motivação suprema da minha confiança e da minha entrega sem reservas ao teu serviço e ao serviço dos irmãos. Que a tua Palavra floresça no meu coração e dê frutos de bem para este mundo e para o reino dos céus. Amen.

    Contemplatio

    E qual é então, Senhor, o caminho da paz? - É a fé viva e confiante. Credes no meu Pai, crede também em mim. Tendes confiança no meu Pai, tende também confiança em mim.

    É a fé que pacifica, são as vistas, as esperanças sobrenaturais, que sustêm e que consolam.

    A fé faz-me ver Deus, a sua vontade, o seu amor, mesmo naquilo que me perturba. Devo crer sem hesitar e sem raciocinar, crer com o meu coração que Nosso Senhor me vê sofrer e penar, mas também que se compraz em me ver ter paciência com ele e por ele. Escuta os meus suspiros, as minhas orações; conta, recolhe as minhas lágrimas; abençoa os meus esforços, aprecia os meus sacrifícios; prepara-me dias de graças e de consolações; prepara a minha coroa, a minha morada, na casa da sua eternidade.

    Ah! A fé prática, que fonte de graça, de paz e de consolação! Se tivesse um pouco de fé, como um grão de mostarda! Se acreditasse praticamente no Evangelho! Se me recordasse com fé que Nosso Senhor passou curando todas as enfermidades; que perdoou a Madalena, à mulher adúltera, à samaritana; que ressuscitou Lázaro; que sofreu por mim todas as dores da sua agonia e da sua paixão; que deu a sua vida para me salvar!

    Se me recordasse que é bom, como o bom samaritano, como o bom Pastor, como o pai do filho pródigo! Se tivesse uma fé mais viva, e mais prática na Eucaristia! Se acreditasse mais firmemente que Nosso Senhor foi para o céu para me preparar um lugar, estaria ainda triste, angustiado e perturbado?

    Oh! Como esta palavra de Nosso Senhor tem um sentido profundo: «Que o vosso coração não se perturbe! Crede em mim como credes em meu Pai!» (Leão Dehon, OSP 3, p. 427s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:

    «Deus, vinde em nosso auxílio; Senhor, socorrei-nos e salvai-nos» (SI 69, 2).

  • Terca-feira - 4ª Semana da Quaresma

    Terca-feira - 4ª Semana da Quaresma

    12 de Março, 2024

    Lectio

    Primeira leitura: Ezequiel 47, 1-9.12

    Naqueles dias, o Anjo reconduziu-me à entrada do templo. Debaixo do limiar da porta saía água, em direcção ao Oriente, pois a fachada do templo estava voltada para o Oriente. As águas corriam da parte inferior, do lado direito do templo, ao sul do altar. O Anjo fez-me sair pela porta setentrional e contornar o templo por fora, até à porta exterior, que está voltada para o Oriente. As águas corriam do lado direito. Depois saiu na direcção do Oriente com uma corda na mão; mediu mil côvados e mandou-me atravessar: a água chegava-me aos tornozelos. Mediu outros mil côvados e mandou-me atravessar: a água chegava-me aos joelhos. Mediu ainda mil côvados e mandou-me atravessar: a água chegava-me à cintura. Por fim, mediu mais mil côvados: era uma torrente que eu não podia atravessar. As águas tinham aumentado até se perder o pé, formando um rio impossível de transpor. Disse-me então o Anjo: «Viste, filho do homem?» E fez-me voltar para a margem da torrente. Quando cheguei, vi nas margens da torrente uma grande quantidade de árvores, de um e outro lado. O Anjo disse-me: «Esta água corre para a região oriental, desce até Arabá e entra no mar, para que as suas águas se tornem salubres. Em toda a parte aonde chegar esta torrente, todo o ser vivo que nela se move terá novo alento e o peixe será muito abundante. Porque aonde esta água chegar, tornar-se-ão sãs as outras águas e haverá vida por toda a parte aonde chegar esta torrente. À beira da torrente, nas duas margens, crescerá toda a espécie de árvores de fruto: a sua folhagem não murchará, nem acabarão os seus frutos. Todos os meses darão frutos novos, porque as águas vêm do santuário. Os frutos servirão de alimento e as folhas de remédio».

    Numa terra árida, como a Palestina, uma nascente era vista como verdadeira bênção de Deus e símbolo do seu poder. Por isso, muitas vezes, construía-se junto dela um templo. O profeta Ezequiel contempla uma fonte que brota dos fundamentos do próprio templo e corre para Oriente, por onde entrara a Glória do Senhor para morar no meio do povo regressado do exílio. A nascente deu origem, primeiro a uma pequena corrente de água, nada comparável aos grandes rios da Mesopotâmia, que os exilados tinham contemplado. Mas, pouco a pouco, a corrente engrossa até se tornar um rio navegável. Ezequiel é convidado a experimentar no seu corpo a grandeza e a força da torrente, bem como a sua fecundidade e eficácia: ela torna verdejante o deserto e salubre o Mar Morto que se enchem de vida. E surge uma época de prosperidade.

    Esta visão profética realiza-se em Jesus, verdadeiro templo, de cujo Lado aberto jorra a água viva do Espírito (cf. Jo 7, 38; 19, 34).

    Evangelho: João 5, 1-3a.5-16

    Naquele tempo, por ocasião de uma festa dos judeus, Jesus subiu a Jerusalém. Existe em Jerusalém, junto à porta das ovelhas, uma piscina, chamada, em hebraico, Betsatá, que tem cinco pórticos. Ali jazia um grande número de enfermos, cegos, coxos e paralíticos. Estava ali também um homem, enfermo havia trinta e oito anos. Ao vê-lo deitado e sabendo que estava assim há muito tempo, Jesus perguntou-lhe: «Queres ser curado?» O enfermo respondeu-Lhe: «Senhor, não tenho ninguém que me introduza na piscina, quando a água é agitada; enquanto eu vou, outro desce antes de mim». Disse-lhe Jesus: «Levanta-te, toma a tua enxerga e anda». No mesmo instante o homem ficou são, tomou a sua enxerga e começou a caminhar. Ora aquele dia era sábado. Diziam os judeus àquele que tinha sido curado: «Hoje é sábado: não podes levar a tua enxerga». Mas ele respondeu-lhes: «Aquele que me curou disse-me: ‘Toma a tua enxerga e anda’». Perguntaram-lhe então: «Quem é que te disse: ‘Toma a tua enxerga e anda’». Mas o homem que tinha sido curado não sabia quem era, porque Jesus tinha-Se afastado da multidão que estava naquele local. Mais tarde, Jesus encontrou-o no templo e disse-lhe: «Agora estás são. Não voltes a pecar, para que não te suceda coisa pior». O homem foi então dizer aos judeus que era Jesus quem o tinha curado. Desde então os judeus começaram a perseguir Jesus, por fazer isto num dia de sábado.

    Jesus, salvação de Deus, passa por entre os doentes e deficientes que se acumulam à volta da piscina, junto à Porta da Ovelhas, em Jerusalém. Dá especial atenção a um homem que ali jaz paralítico há 38 anos e faz-lhe uma pergunta aparentemente óbvia: «Queres ficar são;», Mas a pergunta, e a ordem que se segue, são suficientes para que este homem, que talvez já nada esperava da vida, se reanime, se erga, volte a agarrar na vida com coragem e até dê testemunho de Cristo àqueles que teimavam em permanecer paralisados na interpretação literal da Lei. Enquanto o paralítico quis ser curado, os adversários de Jesus não quiseram deixar-se curar da sua cegueira e rigidez, passando a uma aberta hostilidade.

    Ao encontrar, mais tarde, no templo, o doente curado, Jesus dirige-lhes palavras de grande exigência, dando-lhe a entender que o pecado e as suas consequências são algo de pior que 38 anos de paralisia. Há que deixar-se curar completamente dos males do corpo, mas também do mal da alma. É uma opção a fazer livremente cada dia: deixar-se curar e não pecar.

    Meditatio

    As leituras de hoje falam-nos ambas de água que cura. O Evangelho diz-nos que Jesus é o verdadeiro médico e o verdadeiro remédio para os nossos males. A água é apenas símbolo da sua graça.

    Os Padres da Igreja reconheceram no templo, de que nos fala a visão de Ezequiel, o verdadeiro Templo que é Jesus de Lado aberto e Coração trespassado na cruz, donde jorram sangue e água, símbolos do Espírito que dá a vida. Ezequiel contempla o templo, de cujo lado direito, brota a água prodigiosa que leva a vida e a fecundidade ao deserto e ao próprio Mar Morto. Este mar tem água. Mas é uma água que não permite a vida, porque saturada de sal. Pelo contrário, a água que vem do Templo, é viva e gera vida, porque é pura.

    É a transformação que o Espírito de Deus realiza em nós e nas nossas comunidades, quando O acolhemos e nos abrimos à sua acção. Em cada um de nós, e nas nossas comunidades, há um «Mar Morto», um espaço de amargura, de preconceitos, de egoísmo que tornam difíceis as nossas relações e estéril o nosso apostolado. Só o Espírito Santo nos pode transformar. No baptismo recebemos o Espírito Santo, como uma pequena fonte, que há-de ir crescendo, à medida que nos abrimos a Ele e colaboramos na sua acção, até se tornar em nós uma torrente capaz de transformar a nossa vida e de tornar fecundo o nosso apostolado.

    o Evangelho fala-nos do paralítico que, havia 38 anos, esperava junto à piscina uma oportunidade para entrar nela e ser curado. Como ele, muitos dos nossos irmãos jazem impotentes nas margens da esperança, desiludidos de tudo, talvez até da religião e, por isso, incapazes de mergulharem na vida. São estes homens e mulheres do nosso tempo que Cristo vem procurar, onde quer que estejam, paralisados pelo sofrimento, pelo pecado e pelas circunstâncias da vida. Também a eles, Jesus pergunta: «Queres ficar são;». Parece uma pergunta desnecessária. Mas Jesus sabe que é a resposta pessoal que renova e faz sentir a cada um a sua dignidade humana, a sua liberdade e responsabilidade. Perante a resposta do paralítico, Jesus diz-lhe simplesmente: «Levanta-te, toma a tua enxerga e anda». O poder da Palavra de Deus dispensa os ritualismos ou o uso de águas medicinais. A Palavra de Deus cura, rompe cadeias, liberta. Liberta o corpo e liberta o espírito, porque há paralisias bem piores do que as corporais, que tolhem o coração no pecado. A Igreja, por vontade de Cristo, dispõe da Palavra e da graça que brotaram do seu Lado aberto na cruz, para as distribuir aos homens, sobretudo no Baptismo, na Eucaristia e nos outros sacramentos.

    Abramo-nos ao dom do Espírito Santo, invoquemo-I' O e demos-Lhe lugar nos nossos diálogos comunitários. Experimentemos os seus saborosos frutos: a caridade, a paz, a alegria, a bondade, a benevolência, a mansidão, etc. Não só pessoalmente, mas também comunitariamente.

    Estamos convencidos de que a realidade escatológica dos "novos céus' e da "nova terra", onde "habita a justiça" (2 Pe 3, 13), obra do Espírito que tudo renova, pode ser uma realidade actual, antecipada, a nível pessoal, mas também a nível comunitário.

    Tudo depende se damos ou não a Deus a possibilidade de realizar em nós a profecia de Ezequiel: "Dar-vos-ei um coração novo' (36, 26); Jesus manso e humilde de coração, dá-me o Teu coração (cf. n. 3)! "Infundirei em vós um espírito novo' (36, 26): "Vem, Espírito Santo ... " (cf. nn. 3.11.23.42.57).

    Oratio

    Vem, Senhor Jesus! Vem procurar o homem que jaz deprimido e doente, desesperado pelo pecado, que o domina e que lhe tolhe todo o movimento. Vem também procurar-me a mim. Aproxima-te de todos e de cada um de nós, para que possamos ouvir a tua pergunta: «Queres ficar são;». Vem mergulhar-nos no profundo abismo do teu amor misericordioso, capaz de tudo renovar, recriar e tornar fecundo. Renova em cada um de nós a graça do baptismo, para que a viva fielmente, em conformidade com os dons recebidos. Dá a água das lágrimas da penitência para que seja purificado. Então, liberto do pecado que me paralisa, poderei caminhar na tua presença e correr ao encontro dos meus irmãos para lhes anunciar o teu amor que redime e salva. Amen.

    Contemplatio

    E saiu sangue e água, diz S. João. O ferro ao retirar-se deixou jorrar uma dupla fonte de sangue e de água, na qual os Padres da Igreja viram o símbolo desta outra maravilha de amor, os sacramentos, canais preciosos da graça da salvação. - Rio de água que, no santo baptismo e no banho da penitência, lava a alma da mácula original; rio de sangue que cai todas as manhãs nos cálices dos altares, para se expandir pelo mundo fora, consolar a Igreja sofredora do Purgatório e reanimar a Igreja que combate sobre a terra; rio refrescante, onde o coração, ressequído pelos trabalhos e pelas tentações, vai saciar-se de piedade, de caridade e de santa alegria.

    Senhor, concedei-me beber desta água e deste sangue, para não mais tenha esta sede doentia das coisas do mundo que me tortura, e que eu seja inebriado pelo vosso amor (Leão Dehon, OSP 3, p. 367s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Dá-me, Senhor, a alegria da salvação. (SI 50, 14a):

  • Quarta-feira - 4ª Semana da Quaresma

    Quarta-feira - 4ª Semana da Quaresma

    13 de Março, 2024

    Lectio
    Primeira leitura: Isaías 49, 8-15

    8 Eis o que diz o Senhor: «Eu respondi-te no tempo da graça, e socorri-te no dia da salvação. Defendi-te e designei-te como aliança do povo, para restaurares o país e repartires as heranças devastadas, "per» dizeres aos prisioneiros: 'Saí da prisão!' E aos que estão nas trevas: 'Vinde à luz!' .Ao longo dos caminhos encontrarão que comer, e em todas as dunas arranjarão alimento. 10 Não padecerão fome nem sede, e não os molestará o vento quente nem o sol, porque o que tem compaixão deles os guiará, e os conduzirá em direcção às fontes. 11 Transformarei os meus montes em caminhos planos, e as minhas estradas serão alteadas. 12Vede como eles chegam de longe! Uns vêm do Norte e do Poente, e outros, da terra de Siene.» 13Cantai, Ó céus! Exulta de alegria, ó terra! Prorrompei em exclamações, ó montes! Na verdade, o Senhor consola o seu povo, e se compadece dos desamparados. 14 Sião dizia: «O Senhor abandonou­-me, o meu dono esqueceu-se de mim.» 15Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu nunca te esqueceria.

    Deus dá nova coragem ao seu Servo experimentado pelo sofrimento e dilata os confins da sua missão a toda a terra. A sua primeira acção consistirá na libertação dos Israelitas do Egipto, porque chegou o tempo da misericórdia, o dia da salvação (v. 8). Deus entra no curso da história humana para a transformar. O Servo é como Moisés: mediador da Aliança. Como Josué, restaurará e redistribuirá a terra. Será o arauto de um novo êxodo, que será çulado pelo próprio Senhor. Os exilados enchem-se de esperança.

    A partir do v. 12, o profeta contempla de Jerusalém o povo que regressa à pátria, vindo de Babilónia e de outras paragens onde andava disperso. O próprio universo exulta e entoa hinos ao Senhor que «se compadece dos desamparados». O seu amor é semelhante ao de uma mãe pelos seus filhos: um amor cheio de ternura e profundidade, um amor visceral. O nosso Deus não é um deus longínquo, um juiz implacável. É um Deus próximo e solícito.

    Evangelho: João 5, 17-30

    17 Naquele tempo, disse Jesus aos judeus: «O meu Pai continua a realizar obras até agora, e Eu também cominuo!» 18 Perante isto, mais vontade tinham os judeus de o matar, pois não só anulava o Sábado, mas até chamava a Deus seu próprio Pai, fazendo-se assim igual a Deus. 19 Jesus tomou, pois, a palavra e começou a dizer-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: o Filho, por si mesmo, não pode fazer nada, senão o que vir fazer ao Pai, pois aquilo que este faz também o faz igualmente o Filho. 20 De facto, o Pai ama o Filho e mostra-lhe tudo o que Ele mesmo faz; e há-de mostrar-­lhe obras maiores do que estas, de modo que ficareis assombrados. 21 Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos e os faz viver, também o Filho faz viver aqueles que quer. 220 Pai, aliás, não julga ninguém, mas entregou ao Filho todo o julgamento, 23para que todos honrem - o Filho como honram o Pai. Quem não honra o Filho não honra o Pai que o enviou. 24 Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não é sujeito a julgamento, mas passou da morte para a vida. 25 Em verdade, em verdade vos digo: chega a hora - e é já - em que os mortos hão-de ouvir a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão, 26 pois, assim como o Pai tem a vida em si mesmo, também deu ao Filho o poder de ter a vida em si mesmo; 27 e deu-lhe o poder de fazer o julgamento, porque Ele é Filho do Homem. 28 Não vos assombreis com isto: é chegada a hora em que todos os que estão nos túmulos hão-de ouvir a sua V04 29 e sairão: os que tiverem praticado o bem, para uma ressurreição de vida; e os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de condenação. 30 Por mim mesmo, Eu não posso fazer nada: conforme ouço, assim é que julgo; e o meu julgamento é justo, porque não busco a minha vontade, mas a daquele que me enviou.»

    Aos judeus, que O perseguem por curar em dia de sábado, Jesus revela a sua identidade de Filho de Deus, e coloca-se acima da Lei. Segundo especulações judaicas, de que encontramos vestígios no v. 17, o repouso sabático dizia respeito à obra criadora de Deus, mas não à permanente actividade pela qual incessantemente dá a vida e julga. Nos vv. 19-30, Jesus mostra que se conforma em tudo ao agir de Deus: «o Filho, por si mesmo, não pode fazer nada, senão o que vir fazer ao Pap> (v. 19). Esta afirmação surge novamente no v. 30, revelando o sentido de todo o texto. A total unidade de acção entre o Pai e o Filho resulta da total obediência do Filho, que ama o Pai e partilha do seu amor pelos homens pecadores. O Pai doa ao Filho o que só a Ele pertence, o poder sobre a vida e a autoridade no juízo (vv. 21 s.). Esta íntima relação entre o Pai e o Filho pode alargar-se aos homens pela escuta obediente da palavra de Jesus.

    Meditatio

    Deus fez do seu Servo, que é Jesus Cristo, sinal e instrumento de aliança com o seu povo: «designei-te como aliança do povo». Esta afirmação permite-nos penetrar mais profundamente no mistério de Cristo. Em primeiro lugar, leva-nos a contemplar a sua união com o Pai. Jesus é o Filho muito amado, que contempla tudo quanto o Pai faz, para também Ele o fazer: «o Filho, por si mesmo, não pode fazer nada, senão o que vir fazer ao Pai, pois aquilo que este faz também o faz igualmente o Filh(J». O Filho de Deus veio ao mundo, não para fazer a sua vontade, mas a vontade do Pai: «porque não busco a minha vontade, mas a daquele que me enviou». Por isso, Jesus é imagem viva, activa, do Pai: «O meu Pai continua a realizar obras até agora, e Eu também continuo», Porque está perfeitamente unido ao Pai, Jesus Cristo pode ser aliança para o povo. Como Filho muito amado do Pai, vem convidar todos os homens para a festa da vida. A ninguém é negado esse convite. O único abandonado é precisamente o Filho muito amado, que um Amor maior entrega à morte para a todos dar a vida.

    Intimamente unido ao Pai, o Filho fez-Se solidário connosco e veio revelar-nos o amor misericordioso de Deus. Jesus Cristo é aliança de Deus connosco para nos dar a vida. Transmite-nos a palavra de Deus para nos transmitir a vida de Deus: «assim como o Pai ressuscita os mortos e os faz viver, também o Filho faz viver aqueles que quer», Os mortos são os que vivem em pecado, porque, desligados de Deus, não têm em si a vida divina e não podem amar a Deus nem aos irmãos. Só a Palavra de Deus, que revela o amor o seu amor misericordioso, comunica a vida e dá capacidade para amar.

    O evangelho de hoje revela-nos que, para estarmos unidos a Deus, precisamos de estar unidos a Cristo. É permitindo e realizando essa união com o Pai que Cristo se revel
    a aliança de Deus para nós.

    O Pe. Dehon vivia uma profunda união com Deus, através da união a Cristo, já desde os primeiros anos de seminário, em Roma. "Bem depressa Nosso Senhor tomou conta da minha alma. Colocou as disposições que deviam ser a nota dominante da minha vida, apesar das mil e uma faltas: devoção ao Seu Divino Coração, humildade, conformidade com a sua vontade, união a Ele, vida de amor. Este devia ser o meu ideal e a minha vida para sempre. Nosso Senhor mostrava-mo, reconduzia-me sem descanso e assim me preparava para a missão que me destinava para a obra do seu Coração"( NHV IV, p. 183). Esta profunda união com Deus, por Cristo, levou-o a uma grande solidariedade com os irmãos, especialmente com os que viviam em maiores dificuldades. É o que nos pedem também as nossas Constituições: "A nossa união com Cristo" (Cst. 18), "no seu amor pelo Pai e pelos homens" (Cst. 17) manifesta-se, não só "na escuta da Palavra e na partilha do Pão" (Cst. 17), mas também "na disponibilidade e no amor para com todos" (Cst. 18).

    Oratio

    Senhor Jesus, Tu és verdadeiramente Aquele em Quem encontramos o Pai. Mas és também Aquele em Quem encontramos os irmãos e as irmãs. Só em Ti os podemos amar de verdade. Por isso, queremos permanecer em Ti, especialmente neste tempo da Quaresma, quando já se aproxima a celebração do teu mistério pascal. Várias vezes, durante o dia, queremos penetrar no teu Coração para nele bebermos o amor ao Pai e o amor aos irmãos. Tu és a nossa aliança, a nova e eterna aliança que o Pai nos oferece. Queremos viver em Ti. Amen.

    Contemplatio

    É nas meditações dos sofrimentos de Nosso Senhor que havemos de retirar as forças necessárias para seguirmos os exemplos de abandono que Ele deu na sua vida de menino. O desejo de nos unirmos aos seus sofrimentos adoça as penas que podemos encontrar na imolação de nós mesmos. Estas penas, unimo-Ias à sua imolação do Calvário e são um meio de nos associarmos à sua dolorosa Paixão. Esta união de intenção é-lhe muito agradável. O amor com o qual a fazemos aumenta o seu valor aos seus olhos.

    O seu amor é assim um meio de suportar todas as provações pelas quais devemos passar, de aligeirar e mesmo de transformar em alegrias tudo o que sem isto seria mágoa ou amargura.

    Somos flagelados com ele, quando lhe oferecemos amorosamente as mortificações da carne e as humilhações do orgulho. Somos coroados de espinhos, quando unimos amorosamente aos seus sofrimentos todas as contrariedades que provamos. Caminhamos com Ele na via dolorosa do Calvário, quando seguimos, unidos a Ele pelo amor, as vias onde lhe apraz fazer-nos passar. Somos pregados à cruz com Ele quando unimos à sua crucifixão as situações penosas ou dolorosas nas quais lhe apraz colocar os seus amigos. Agonizamos com Ele sobre a cruz, quando unimos às suas penas as angústias de uma situação na qual quer que nos encontremos.

    Quem quer que ama passa por provações. É preciso sofrer estas provações com Ele, em união com os sofrimentos da sua Paixão. A união de amor identifica de algum modo os nossos sofrimentos com os de Jesus. Mas não é necessário para isso que experimentemos dores semelhantes às suas. São-lhe sempre semelhantes quando são generosamente aceites e oferecidas em união com as suas.

    Mas esta união pede o recolhimento habitual, a recordação constante das bondades de Nosso Senhor e do seu amor e uma doce intimidade habitual com Ele.

    Nosso Senhor fala desta união que lhe é cara quando diz: Aquele que faz (por amor para com o meu Pai e por mim) a vontade do meu Pai celeste (e a minha) esse é meu irmão, e minha irmã e minha mãe (Leão Dehon, OSP 3, p. 254s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Lembrai-vos, Senhor, do vosso amor» (SI 24, 6a).

  • Quinta-feira - 4ª Semana da Quaresma

    Quinta-feira - 4ª Semana da Quaresma

    14 de Março, 2024

    Lectio

    Primeira leitura: Êxodo 32,7-14

    7 O Senhor disse a Moisés: «Vai, desce, porque o teu povo, aquele que tiraste do Egipto, está pervertido. 8 Desviaram-se bem depressa do caminho que lhes prescrevi. Fizeram um bezerro de metal fundido, prostraram-se diante dele, ofereceram-lhe sacrifícios e disseram: «Israel, aqui tens o teu deus, aquele que te fez sair do Egipto.» 90 Senhor prosseguiu: «Vejo bem que este povo é um povo de cerviz dura. 10 Agora, deixa-me; a minha cólera vai inflamar-se contra eles e destruí-Ios-ei. Mas farei de ti uma grande nação.» 11 Moisés implorou ao Senhor, seu Deus, dizendo-­lhe: «Porquê, Senhor, a tua cólera se inflamará contra o teu povo, que fizeste sair do Egipto com tão grande poder e com mão tão poderosa? 12Não é conveniente que se possa dizer no Egipto: 'Foi com má intenção que Ele os fez sair, foi para os matar nas montanhas e suprimi-los da face da Terra!' Não te deixes dominar pela cólera e abandona a decisão de fazer mal a este povo. 13 Recorda-te de Abraão, de Isaac e de Israel, teus servos, aos quais juraste por ti mesmo: tornarei a vossa descendência tão numerosa como as estrelas do céu e concederei à vossa posteridade esta terra de que falei, e eles hão-de recebê-Ia como herança eterna.» 14 E o Senhor arrependeu-se das ameaças que proferira contra o seu povo.

    Havia pouco que Deus estabelecera aliança com Israel, e a confirmara com uma solene promessa (cf. Ex 24, 3). Moisés ainda estava no monte Sinai, onde recebia das mãos de Deus às tábuas da Lei, documento base dessa aliança. Entretanto, o povo caía na idolatria, adorando o bezerro de ouro, obra das suas mãos, como se fosse o Deus que o tirara Egipto (v. 8). Deus, acende-se em ira e informa Moisés do sucedido (v. 7): a aliança fora quebrada. Deus quer repudiar Israel, apanhado em flagrante adultério, e começar uma nova história cheia de esperanças (v. 10) com Moisés, que permanecera fiel. Mas Moisés, que recebera a missão de guiar Israel à terra prometida, não abandona o seu povo, não cede à tentação de pensar apenas em si mesmo. Como Abraão, diante da cidade pecadora (cf. Gn 18), Moisés intercede pelo povo pecador. Procura «acalmar» a justa ira de Deus, fazendo uma certa «chantagem» (cf. v. 12) e recordando-Lhe as promessas feitas aos antigos patriarcas. A sua oração toca o coração de Deus. As características antropomórficas, com que Deus é descrito neste episódio, atestam a antiguidade deste texto.

    Evangelho: João 5, 31-47

    Naquele tempo, disse Jesus aos judeus . .31 «Se Eu testemunhasse a favor de mim próprio, o meu testemunho não teria valor, 2 há outro que testemunha em favor de mim, e Eu sei que o seu testemunho, favorável a mim, é verdadeiro.33Vós enviastes mensageiros a João, e ele deu testemunho da verdade. 34 Não é porém, de um homem que Eu recebo testemunho, mas digo-vos isto para vos salvardes.35João era uma lâmpada ardente e luminosa, e vós, por um instante, quisestes alegrar-vos com a sua luz. 36 Mas tenho a meu favor um testemunho maior que o de João, pois as obras que o Pai me confiou para levar a cabo, essas mesmas obras que Eu faço, dão testemunho de que o Pai me enviou. 37 E o Pai que me enviou mantém o seu testemunho a meu favor. Nunca ouvistes a sua VO-4 nem vistes o seu rosto, 38 nem a sua palavra permanece em vó~ visto não crerdes neste que Ele enviou. 39 Investigai as Escrituras, dado que julgais ter nelas a vida eterna: são elas que dão testemunho a meu favor. 40 Vós, porém, não quereis vir a mim, para terdes a vtdet" Eu não ando à procura de receber glória dos nomens:". a vós já vos conheço, e sei que não há em vós o amor de Deus. 43 Eu vim em nome de meu Pai, e vós não me recebeis; se outro viesse em seu próprio nome, a esse já o receberíeis. 44Como vos é possível acreditar, se andais à procura da glória uns dos outros. e não procurais a glória que vem do Deus único?5Não penseis que Eu vos vou acusar diante do Pai; há quem vos acuse: é Moisés, em quem continuais a pôr a vossa esperança. 46 De facto, se acreditásseis em Moisés talvez acreditásseis em mim, porque ele escreveu a meu respeito. 47 Mes, se vós não acreditais nos seus escritos, como haveis de acreditar nas minhas palavras?»

    Jesus continua a responder aos Judeus. O discurso apologético vai endurecendo. Aumenta gradualmente a separação entre o «eu» de Jesus e o «vós» dos adversários. O texto marca o culminar do processo intentado por Deus contra o seu povo predilecto, mas obstinadamente rebelde, cego e surdo.

    Jesus apresenta quatro testemunhos que deveriam levar os seus ouvintes a reconhecê-lo como Messias, enviado pelo Pai, como Filho de Deus: as palavras de João Baptista, homem enviado por Deus; as obras que ele mesmo realizou por mandado de Deus; a voz do Pai; e, finalmente, as Escrituras. Estes testemunhos, na sua diversidade, têm duas características que os unem: por um lado, em resposta à acusação de blasfémia dirigida contra Jesus pelos Judeus, remetem para o agir salvífico de Deus; por outro lado, elas não dizem nada de realmente novo.

    Os Judeus estão sob processo porque não procuram a «a glória que vem do Deus úma» (v. 44), mas tomam a glória uns dos outros. Caíram, assim, numa cegueira radical, interior. Agarrados à Lei, recusam o Espirito. Jesus revela-lhes o risco que correm e avisa-os: pensam alcançar a vida eterna perscrutando os escritos de Moisés, mas são esses mesmos escritos que os acusam. O intercessor deverá tornar-se seu acusador? O texto termina convidando cada um a examinar a autenticidade e a verdade da própria fé.

    Meditatio

    O povo de Israel, revela uma memória curta. Foi libertado por Deus, no meio de prodígios e celebrou livremente a aliança com o Senhor. Mas, logo que sobrevieram novas dificuldades, esqueceu-se de tudo e caiu na idolatria. Assim pode acontecer também connosco. Mas o verdadeiro crente não abandona a Deus, quando surgem dificuldades, como se fosse Ele a causá-Ias. Pelo contrário, continua a sentir-se dependente de Deus, ligado a Ele e, como Moisés, não desiste de orar por si e de interceder pelos irmãos. A oração de intercessão revela maturidade na fé. O crente adulto na fé vê as provações dos irmãos como suas. Por isso reza por eles, faz-se intercessor universal, disposto a carregar sobre si as fraquezas dos outros, e a sofrer para que possam ser aliviados. Foi a atitude de Moisés; será a atitude de Jesus.

    Ao reagir contra o pecado do povo, Deus diz a Moisés: «a minha cólera vai inflamar-se contra eles e destru-tos-ei Mas farei de ti uma grande nação. (v. 10). O povo pecou e merecia ser destruído. Mas os desígnios de Deus deviam cumprir. Por isso, propõe a Moisés tornar-se pai de um novo povo. Moisés recusa a proposta de Deus e implora:
    «Não te deixes dominar pela cólera e abandona a decisão de fazer mal a este pOV(J» (v. 12). Mais adiante faz ele uma proposta a Deus: «perdoa-lhes este pecado, ou então apaga-me do livro que escreveste (Ex 32, 32), isto é, destrói-me também a mim. Moisés solidarizou-se completamente com o seu povo, para alcançar de Deus a salvação do seu povo.

    Tudo isto se realiza de modo completamente inesperado no mistério de Cristo.

    Na morte de Cristo, Deus destrói o povo. A morte de Cristo é destruição do mundo antigo, do homem velho, como escreve S. Paulo. Mas não é apenas destruição, porque a morte do Senhor leva à ressurreição. Jesus é, pois, o novo Moisés que aceita morrer com o povo e pelo povo, mas é também o novo Moisés, pai de uma nova grande nação. A palavra de Deus, «farei de ti uma grande nsçãt», realiza-se na ressurreição de Cristo. De modo imprevisível, as Escrituras dão testemunho da ressurreição de Cristo.

    Lemos nas Constituições: «Unidos à acção de graças e à intercessão de Cristo, somos chamados a colocar toda a nossa vida ao serviço da Aliança de Deus com o seu Povo» (n. 84). A nossa vida oferecida a Deus, para sua glória, e para o serviço dos irmãos, e uma atitude de perdão e de súplica pelos pecadores, são um óptimo testemunho de Deus-Amor, que não se demonstra com teorias, mas que transparece na vida daqueles em cujos corações habita.

    Oratio

    Senhor Jesus, que Te manifestas como Filho de Deus, realizando as suas obras, tem piedade de nós. Acolhe-nos no teu Coração misericordioso e dá-nos a vida. Tu, que és a testemunha fiel e verdadeira do Pai, faz-nos ouvir a sua voz. Filho obediente do Pai, faz-nos recordar a paixão eu sofreste por nós, e a descobri-Ia naqueles que continuam a vivê-Ia no corpo e na alma. Filho inocente do Pai, intercede por nós pecadores e permite-nos solidarizar-nos Contigo nessa intercessão. Queremos ir a Ti para termos a vida, a Ti que és a presença incarnada de Deus-misericórdia. Amen.

    Contemplatio

    «Nada resistirá às vossas orações, diz-nos Nosso Senhor, porque vou para o meu Pai, para ser vosso protector, vosso intercessor e vosso advogado, e tudo o que pedirdes ao meu Pai em meu nome, fá-lo-eí, ve-lo hei-de conceder, para que o meu Pai seja glorificado no seu Filho; e o que lhe pedirdes em meu nome, fá-lo-eí».

    As minhas orações serão, portanto, atendidas, se forem feitas no nome de Jesus, com uma intenção pura e uma vontade conforme aos seus desígnios.

    Tenho muito que rezar, pelo Igreja, pela minha pátria, pela minha família, pelas alas, por todos os interesses da glória de Deus, e rezo, mas quão fracamente! Não sei fazer valer os méritos de Nosso Senhor. A minha fé é demasiado superficial, não sei mergulhar nos tesouros do Coração de Jesus, para comprar as graças de que tenho necessidade.

    Tenho feito valer bem nas minhas orações, o sangue de Jesus, as suas lágrimas, as suas chagas, as orações das suas vigílias e da sua agonia?

    Não estou suficientemente penetrado do valor destes tesouros, porque as minhas orações e meditações são frias e distraídas.

    «O que pedirdes na oração, com fé, diz Nosso Senhor, haveis de obter». É a vida de oração, é a união ao Coração de Jesus, é o amor ardente por Nosso Senhor e a justa apreciação dos seus méritos, que hão fecundar as minhas orações (Leão Dehon, OSP 3, p. 450s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Eu vim em nome de meu Pai» (Jo 5, 43a).

     

  • Sexta-feira - 4ª Semana da Quaresma

    Sexta-feira - 4ª Semana da Quaresma

    15 de Março, 2024

    Lectio

    Primeira leitura: Sabedoria 2, la.12-22

    1 Dizem os ímpios, nos seus falsos raciocínios:«Breve e triste é a nossa vida, não há remédio algum quando chega a morte. E também não se conhece ninguém que tenha regressado do mundo dos mortos. 12 Armemos laços ao justo porque nos incomoda, e se opõe à nossa forma de actuar. Censura-nos as transgressões da Lei, acusa-nos de sermos infiéis à nossa educeçõo," Ele afirma ter o conhecimento de Deus e chama-se a si mesmo filho do Senhori'" Ele tornou-se uma viva censura para os nossos pensamentos; só o acto de o vermos nos incomoda, 15 pois a sua vida não é semelhante à dos outros e os seus caminhos são muito diferentes.16 Ele considera-nos como escória e afasta-se dos nossos caminhos como de imundícies. Declara feliz a sorte final do justo e gloria-se de ter a Deus por pai. 17 Vejamos, pois, se as suas palavras são verdadeiras, e que lhe acontecerá no fim da vida. 18 Porque, se o justo é filho de Deus, Deus há-de ampará-lo e tirá-lo das mãos dos seus adversários. 19 Provemo-lo com ultrajes e torturas para avaliar da sua paciência e comprovar a sua resistência. 20 Condenemo-lo a uma morte infame, pois, segundo ele diz, Deus o protegerá.» 21Estes são os seus pensamentos, mas enganam-se porque os cega a sua malícia. 22 Ignoram os desígnios secretos de Deus, não esperam a recompensa da piedade e não acreditam no prémio reservado às almas simples.

    o autor sagrado, depois de ter convidado a uma vida segundo a justiça (cf. Sab 1, 1-15), dá a palavra aos ímpios que expõem a sua «filosofia»: a vida deve ser vivida na busca frenética do prazer, eliminando - não importa com que violência - tudo o que for obstáculo a esse prazer. Trata-se de uma filosofia errada, de «falsos reaoamos» (v. 1), fruto da ignorância, pois «ignoram os desígnios secretos de DeU9> (v. 22).

    Os ímpios de que fala o texto são presumivelmente os hebreus apóstatas da comunidade de Jerusalém que, aliados aos pagãos, perseguem os irmãos que permaneceram fiéis a Deus e à aliança. A sua forma de vida é insuportável: armam ciladas, insultam e condenam à morte, desafiando o próprio Deus (cf. v. 18; v. 20).

    O «resto» de Israel vive a sua paixão e profetiza a do Messias. É Jesus o verdadeiro justo, o Filho predilecto, o manso posto à prova, escarnecido (v. 19) e condenado a uma morte infame (v. 20). É Ele, sobretudo que, tendo posto toda a confiança no Pai, ressurge do abismo da morte. A esperança do Antigo Testamento adquire uma dimensão inesperada, e ultrapassa toda a «profecia»: pelo mérito de um só, todos são tornados «justos», desde que estejam abertos à graça.

    Evangelho: João 7, 1-2.25-30

    Naquele tempo, Jesus continuava pela Galileia, pois não queria andar pela Judeia, visto que os judeus procuravam metá-ta/Estev» próxima a festa judaica das Tendas. 10Contudo, depois de os seus irmãos partirem para a festa, Ele partiu também, não publicamente, mas quase em segredo. 25 Então, alguns de Jerusalém comentavam: «Não é este a quem procuravam, para o matar?6Vede como Ele fala livremente e ninguém lhe diz nada! Será que realmente as autoridades se convenceram de que Ele é o Messias?7Mas nós sabemos donde Ele ~ ao passo que, quando chegar o Messias, ninguém saberá donde vem.»28Entretanto, Jesus, ensinando no templo, bradava: «Então sabeis quem Eu sou e sabeis donde venho?! Pois Eu não venho de mim mesmo; há um outro, verdadeiro, que me enviou, e que vós não conheceis. 29 Eu é que o conheço, porque procedo dele e foi Ele que me enviou.»30Procuravam, então, prendê-lo, mas ninguém lhe deitou a mão, pois a sua hora ainda não tinha chegado.

    Jesus não é um provocador. Mas a sua pessoa suscita interrogações e inquietações crescentes nos seus contemporâneos, enquanto os chefes Judeus, movidos pela sua aversão, decidem rnatá-lO (v. 1b). Jesus aguarda serenamente a hora do Pai. Não foge, mas também não apressa os tempos. Evita a Judeia e, quando decide subir a Jerusalém, fá-lo «quase em searedo. (v. 24). Mas é rapidamente reconhecido e logo as opiniões se dividem, agora sobre a sua messianidade. Para alguns, membros de círculos apocalípticos, se Jesus vem de Nazaré, não é mais do que um impostor (vv. 26s.) pois, para eles, «quando chegar o Messias, ninguém saberá donde vem» (v. 27). Entretanto, Jesus sabia bem donde vinha. Por isso, «bradava», proclamando de modo solene e autorizado: «Eu não venho de mim mesmo; há um outro, verdadeiro, que me enviou, e que vós não conheceis. Eu é que o conheço, porque procedo dele e foi Ele que me enviou» (vv. 28-29). Com subtil ironia, afirma que a sua origem é efectivamente desconhecida dos que julgam saber muito e, por isso, não o reconhecem como enviado de Deus. Estas palavras ecoam nos ouvidos dos adversários como ironia, insulto e blasfémia. Tentam apoderar-se d ' Ele, mas não conseguem, pois é Ele o Senhor do tempo e das circunstâncias. Submeteu-se totalmente aos desígnios do Pai, e a sua hora ainda não tinha chegado.

    Meditatio

    João gosta de jogar com os símbolos. No seu evangelho, os pormenores têm sempre um valor simbólico. É o caso da conjura contra Jesus colocada poucos dias antes da festa dos Tendas. Nesta festa, agradecia-se a Deus pelas colheitas, mas também se recordavam os 40 anos de caminhada no deserto. Construíam-se tendas mesmo em Jerusalém. Muitos retiravam-se nelas para meditarem. Era um regresso simbólico ao deserto.

    A controvérsia referida por João situa-se na vigília deste tempo propício à meditação. É como que um último esforço, feito por Jesus, para levar os seus adversários a meditarem sobre a sua pessoa e sobre as «obras» por Ele realizadas. Não resultou em relação aos judeus. Julgam conhecer a Jesus e saber tudo sobre Ele. Na verdade, não sabem. Jesus aproveita a ocasião para Se manifestar mais claramente: «Eu não venho de mim mesmo; há um outro, verdadeiro, que me enviou, e que vós não conheceis. Eu é que o conheço, porque procedo dele e foi Ele que me enviou» (vv. 28b-29). Mas o resultado foi o aumento da hostilidade dos judeus. Decidem prender Jesus e acabarão por fazê-lo.

    Mas a tentativa de Jesus pode resultar em relação a nós, se acolhermos a sugestão da liturgia de hoje e aproveitarmos a caminhada, que estamos a fazer rumo à Páscoa, para relermos e meditarmos este texto tão denso e inesgotável, e nos interrogarmos mais a fundo sobre o mistério da pessoa de Jesus e aderirmos a Ele com um amor maior.

    O livro da Sabedoria mostra-nos que, mesmo as coisas mais positivas, podem ser aproveitadas para fazer o mal ou para fazer pior. Se o justo é manso, os maus dizem: «Provemo-lo com ultrajes e torturas para a
    valiar da sua paciência» (v. 19). Se se diz Filho de Deus e se ufana de ter a Deus por Pai, decidem experimentá-lo e condená-lo a uma morte infamante, para ver se Deus o protege! (cf. Sab 2, 18-20).

    Peçamos ao Senhor que nos dê um coração simples e aberto às suas iniciativas surpreendentes para tomarmos a atitude dos justos e rejeitarmos a dos pecadores.

    A adesão à Pessoa de Cristo é essencial para uma autêntica vida cristã e dehoniana. O nosso zelo apostólico brota dessa adesão. Foi o que sucedeu com o Pe. Dehon: a sua "adesão a Cristo, nascida do íntimo do coração" realizava-se "em toda a sua vida ". A "mística" da sua vida íntima, da sua vida espiritual era a mesma "mística" que sustentava o seu apostolado social.

    Esta "adesão" deve ser entendida, não o sentido fraco de um simples "acordo", mas no sentido forte de "aderir", até se identificar com Cristo e viver a sua vida, os seus "mistérios", os seus "sentimentos: Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mini' (Gal 2, 20).

    Oratio

    Senhor Jesus, manso e humilde de coração, dá-nos a graça de revivermos em nós atua mansidão e a tua humildade. Como Tu, queremos, em toda e qualquer situação, mesmo diante do mal, da oposição e da hostilidade, manifestar a luz e a bondade. Queremos também aceitar que, em algumas ocasiões, a atitude dos outros seja de crítica e de condenação contra nós. Ajuda-nos a manter a paciência e a calma nessas ocasiões, como Tu as soubeste manter. Que jamais nos deixemos tomar pela ira e pela raiva, mas saibamos corrigir-nos do que julgarmos necessário. Então, estaremos no bom caminho, Contigo, homem das dores e da esperança. Amen.

    Contemplatio

    Tal homem, tal coração. Ecce homo! Eis o homem das dores! - Eis o coração todo ferido pela ingratidão daqueles que ama.

    Na sua primeira revelação Nosso Senhor recebe Margarida Maria sobre o seu Coração, e só lhe fala de amor.

    «O meu Coração, diz, está tão apaixonado de amor pelos homens, e por ti em particular, que não pode mais conter em si as chamas da sua ardente caridade e como quer expandi-Ias por meio de ti».

    Mas pouco depois, manifesta-lhe os seus sofrimentos e pede-lhe o amor de compaixão.

    Já durante a sua adolescência, tinha-lhe aparecido várias vezes sob a figura de um Ecce homo.

    Faz o mesmo durante o seu noviciado, mostra-se a ela coberto de chagas para a encorajar a vencer-se.

    É também a sua atitude nas suas grandes revelações, todas as vezes que lhe pede a reparação, e em particular quando se lamenta da ingratidão, da infidelidade, da tibieza de algumas almas do povo escolhido.

    «Um dia, diz ela, Nosso Senhor apresentou-se a mim coberto de chagas, tendo o seu corpo todo sangrento e o seu Coração todo dilacerado de dor, e disse-me: Eis no que me reduziu o meu povo eleito, que tinha destinado para aplacar a minha justiça, e me persegue secretamente ... » (Leão Dehon, OSP 2, p. 327s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:

    «Eis o Coração que tanto amou os homens» (Jesus a Santa Margarida Maria).

  • Sábado - 4ª Semana da Quaresma

    Sábado - 4ª Semana da Quaresma

    16 de Março, 2024

    Lectio

    Primeira leitura: Jeremias 11, 18-20

    o Senhor instruiu-me e eu entendi. E então vi com clareza o seu proceder para comigo. 19 E eu, como manso cordeiro conduzido ao matadouro, ignorava as maquinações tramadas contra mim, dizendo: «Destruamos a árvore no seu vigor; arranquemo-Ia da terra dos vivos, que o seu nome caia no esquecimento.»2oMas o Senhor do universo, justo juiz, sonda os rins e o coração. Que eu seja testemunha da tua vingança sobre eles, pois a ti confio a minha causa. 21 Por isso, assim fala o Senhor contra os homens de Anetot, que conspiram contra a minha vida, dizendo: «Cessa de proclamar oráculos em nome do Senhor, se não queres morrer às nossas mãos»

    Escutamos, hoje, a primeira das chamadas «confissões de Jeremias», que são como pedaços de luz que nos permitem entrever a caminhada interior do profeta pelas repercussões pessoais da sua missão. Trata-se de um testemunho precioso, único na Bíblia. Por vontade de Deus, Jeremias descobre que os seus conterrâneos tinham armado uma cilada para o arrancarem do meio deles (v. 19). Não sabemos quais as causas históricas da conjura. Mas o modo como o profeta viveu essa situação tornou-­se paradigmático. Jeremias, vítima inocente, compara-se a um cordeiro levado ao matadouro, imagem já presente no quarto cântico do Servo sofredor de Javé (cf. Is 53, 7) e amplamente usada no Novo Testamento para descrever o Messias sofredor que, em silêncio, expia o pecado do mundo (cf. Jo 1, 29; 1 Pe 1, 19; Ap 5, 6ss.).

    Martirizado no corpo e no espírito, o profeta, manso, atreve-se a pedir a Deus a vingança dos seus inimigos. Jeremias é um homem do Antigo Testamento, que segue a lei de Talião. Jesus será o verdadeiro inocente que morre, abandonando nas mãos do Pai, não só a ele mesmo, mas também os seus adversários e algozes, para que sejam perdoados. Jeremias é figura. Jesus é a realidade. É Ele o verdadeiro cordeiro conduzido ao matadouro sem lançar um balido.

    Evangelho: João 7, 40-53

    Naquele tempo, 40 entre a multidão de pessoas que escutaram estas palavras, dizia-se: «Ele é realmente o Profeta.»41Diziam outros: «É o Messias.» Outros, porém, replicavam: «Mas pode lá ser que o Messias venha da Galileia? 2Não diz a Escritura que o Messias vem da descendência de David e da cidade de Belém, donde era David?»43 Deste modo, estabeleceu-se um desacordo entre a multidão, por sua causa. 44 Alguns deles queriam prendê-lo, mas ninguém lhe deitou a mão. 45 Depois os guardas voltaram aos sumos sacerdotes e aos fariseus, que lhes perguntaram: «Porque é que não o trouxestes?»460s guardas responderam: «Nunca nenhum homem falou assim!» 47 Replicaram-lhes os fariseus: «Será que também vós ficastes seauzdos?" Porventura acreditou nele algum dos chefes, ou dos fariseus~9Mas essa multidão, que não conhece a Lei, é gente maldita!»50Nicodemos, aquele que antes fora ter com Jesus e que era um deles, asse-mes:" «Porventura permite a nossa Lei julgar um homem, sem antes o ouvir e sem averiguar o que ele anda a fazer?»52 Responderam-lhe eles: «Também tu és galileu? Investiga e verás que da Galileia não sairá nenhum profeta.»53E cada um foi para sua casa.

    João mostra-nos a multidão que rodeia Jesus e se interroga sobre a sua identidade e faz palpites. A palavra autorizada do Senhor fascina os próprios guardas enviados para O prenderem (v. 46). Mas há dois argumentos de peso, com sentido contrário: Jesus vem da Galileia, e as Escrituras dizem que o Messias havia de nascer em Belém. Mais ainda: os chefes do povo e os fariseus não acreditam n 'Ele; como pode o povo comum ter uma opinião diferente? Os detentores do poder e da sabedoria olham a situação com sarcasmo e desprezo, porque temem perder o seu prestígio. Apenas Nicodemos ousa invocar a Lei que não condena ninguém sem antes ser ouvido. O resultado é ser, também ele, tachado de ignorante.

    João termina abruptamente a narrativa (cf. v. 53), deixando uns com maior desejo de conhecer Jesus e outros mais decididos na recusa d ' Ele. Mas a Palavra não emudece: ainda não tinha chegado a sua hora.

    Meditatio

    Aproxima-se a Paixão. As leituras fazem-nos escutar o grito sofrido de Jeremias e as interrogações sobre a identidade de Jesus. O profeta faz-nos ver até que ponto havemos de estar dispostos a sofrer para sermos fiéis a Deus, e servi-I' O de coração puro. O evangelho dá-nos conta do avolumar das controvérsias e das hostilidades contra Jesus, verdadeiro cordeiro que serenamente se encaminha para o matadouro.

    Os guardas, enviados a prender Jesus, voltam sem cumprir a ordem, porque «Nunca nenhum homem falou essin» (v. 46). Mas os fariseus, de coração cada vez mais endurecido, ripostam: «Será que também vós ficastes sedundos?» (v. 47b). Barricados nos seus preconceitos, não querem ouvir nada sobre Jesus. Apenas O querem prender.

    Também hoje as opiniões se dividem acerca de Jesus. Muitos fecham-se nas suas dúvidas e na sua indiferença, porque recusam Aquele que pode trazer a paz aos corações e a união entre os homens. Muitos não buscam realmente a verdade, mas apenas confirmar os seus preconceitos. Também não faltam ameaças, perseguições, condenações de inocentes. Felizmente também não faltam pessoas corajosas, como Nicodemos, capazes de desafiar a opinião dos «poderosos», porque estão decididamente apaixonados pela verdade. Para estar com Cristo, é preciso estar cordialmente abertos aos desejos de Deus, à verdade de Deus, à luz de Deus. Então seremos capazes de acolher a Cristo em todos os momentos e situações da vida.

    Não foi fácil, para os contemporâneos de Jesus, acreditar n ' Ele. Devemos estar gratos àqueles que acreditaram e nos transmitiram a fé. Com esta gratidão, havemos também de nos sentir estimulados a procurar Cristo onde Ele se nos revela, hoje. É a única coisa importante, na nossa vida: reconhecer a Cristo, encontrar-nos verdadeiramente com Ele, aderir a Ele de todo o coração.

    A leitura e a meditação destes textos, confrontando-os com a nossa história, são uma preciosa ajuda para conhecer Cristo, para viver Cristo e para colaborarmos na construção do Reino de Deus.

    Nesta colaboração, deve animar-nos a "mística" do "nosso carisma profético" (Cst. 27), isto é, a oblação reparadora, unida na "oblação reparadora de Cristo ao Pai pelos homens" (Cst. 6) e em sintonia com as "orientações apostólicas que caracterizam a (nossa) missão na Igreja" (Cst. 31). Actuar de modo diferente é empobrecer a nós mesmos e ao nosso apostolado; mas é empobrecer as Igrejas locais que servimos, não as tornando participantes das riquezas do nosso carisma. Pode acontecer que nos aconteça algo de semelhante ao que aconteceu a Jeremias e, sobretudo, a Cristo. Mas é então que a nossa «mística» h&aac
    ute;-de estar mais viva para animar a nossa oblação, que pode incluir a imolação.

    Oratio

    Senhor Jesus, quero rezar-te, hoje, com Leão Dehon: «Creio e confesso, Senhor, que Tu és o Cristo, o Filho de Deus; esta fé exige que Te sirva, que Te ame, que seja dócil aos teus conselhos, fiel a todas as exigências da minha vocação e da minha missão, e consagrado ao reino do teu Sagrado Coração, para o qual devo contribuir. Creio, Senhor, mas aumentai a minha fé, que é sempre fraca e vacilante». Amen.

    Contemplatio

    Nosso Senhor explica-nos. «Não me acreditareis, diz aos seus inimigos, não me respondereis, não me deixareis». Isto é, ireis até ao fim da vossa ira e da vossa injustiça. Ides condenar-me à morte e executar a sentença. Ora bem, é precisamente por isso que o Pai me vai glorificar e fazer-me sentar à sua direita, em todo o esplendor da sua glória e do seu poder: Ex hoc autem erit Filius hominis sedens a dextris virtutis Dei.

    Foi porque Jesus quis sofrer e morrer pela glória do seu Pai e pela nossa salvação, que o seu Pai o coroa e que nós o aclamamos como nosso redentor.

    Oh! Como tudo isto é contrário às nossas vistas naturais e terrestres!

    Jesus diz a Judas: «Faz depressa». Diz aos apóstolos: «Desejei comer a última páscoa, na qual começa a minha Paixão. - Tenho pressa em ser baptizado no meu sangue ... ».

    Se amássemos pelo menos os nossos pequenos sacrifícios quotidianos: a regra, a obediência, a modéstia. Isso levar-nos-ia a amar a penitência e a mortificação.

    Por Nosso Senhor alguma coisa pode-nos custar? (Leão Dehon, OSP 3, p. 311s.)

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:

    «Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho unigenito: (Jo 3, 16).

     

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