Liturgia

Week of Jan 15th

  • 02º Domingo do Tempo Comum - Ano A

    02º Domingo do Tempo Comum - Ano A


    15 de Janeiro, 2023

    ANO A
    2º DOMINGO DO TEMPO COMUM

    Tema do 2º Domingo do Tempo Comum

    A liturgia deste domingo coloca a questão da vocação; e convida-nos a situá-la no contexto do projecto de Deus para os homens e para o mundo. Deus tem um projecto de vida plena para oferecer aos homens; e elege pessoas para serem testemunhas desse projecto na história e no tempo.
    A primeira leitura apresenta-nos uma personagem misteriosa - Servo de Jahwéh - a quem Deus elegeu desde o seio materno, para que fosse um sinal no mundo e levasse aos povos de toda a terra a Boa Nova do projecto libertador de Deus.
    A segunda leitura apresenta-nos um "chamado" (Paulo) a recordar aos cristãos da cidade grega de Corinto que todos eles são "chamados à santidade" - isto é, são chamados por Deus a viver realmente comprometidos com os valores do Reino.
    O Evangelho apresenta-nos Jesus, "o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo". Ele é o Deus que veio ao nosso encontro, investido de uma missão pelo Pai; e essa missão consiste em libertar os homens do "pecado" que oprime e não deixa ter acesso à vida plena.

    LEITURA I - Is 49,3.5-6

    Leitura do Livro de Isaías

    Disse-me o Senhor:
    «Tu és o meu servo, Israel,
    por quem manifestarei a minha glória».
    E agora o Senhor falou-me,
    Ele que me formou desde o seio materno,
    para fazer de mim o seu servo,
    a fim de lhe reconduzir Jacob e reunir Israel junto d'Ele.
    Eu tenho merecimento aos olhos do Senhor
    e Deus é a minha força.
    Ele disse-me então:
    «Não basta que sejas meu servo,
    para restaurares as tribos de Jacob
    e reconduzires os sobreviventes de Israel.
    Vou fazer de ti a luz das nações,
    para que a minha salvação chegue até aos confins da terra».

    AMBIENTE

    O Deutero-Isaías (o autor do texto que nos é hoje proposto e que mais uma vez nos aparece como veículo da Palavra de Deus) é um profeta da época do exílio, que desenvolveu o seu ministério na Babilónia, entre os exilados (como, aliás, já dissemos no passado domingo). A sua mensagem - de consolação e de esperança - aparece nos capítulos 40-55 do Livro de Isaías.
    Contudo, há nesses capítulos quatro textos (cf. Is 42,1-9; 49,1-13; 50,4-11; 52,13-53,12) que se distinguem - quer em termos literários, quer em termos temáticos - do resto da mensagem... São os quatro cânticos do Servo de Jahwéh. Apresentam um misterioso servo de Deus, a quem Jahwéh confiou uma missão. A missão do Servo cumpre-se no sofrimento e no meio das perseguições; mas do sofrimento do Servo resultará a redenção para o Povo. No fim, o Servo será recompensado por Jahwéh e será exaltado.
    A primeira leitura de hoje propõe-nos parte do segundo cântico do Servo de Jahwéh. Aqui, esse Servo é explicitamente identificado com Israel (embora alguns autores suponham que a determinação "Israel" não é original no texto e que foi aqui acrescentada como uma interpretação): seria a figura do Povo de Deus, chamado a ser testemunha de Jahwéh no meio dos outros povos.

    MENSAGEM

    O nosso texto apresenta-se como uma declaração solene do Servo (Israel) "às ilhas" e "às cidades longínquas" (vers. 1).
    Na sua declaração, o Servo manifesta, em primeiro lugar, a consciência da eleição: ele foi escolhido por Deus desde o seio materno (vers. 5a.b). A expressão põe em relevo a origem de toda a vocação profética: é Deus que escolhe, que chama, que envia. Referindo-se a Israel, a expressão faz alusão às origens do Povo, à eleição e à aliança: Israel existe porque Deus o escolheu entre todos os povos, revelou-lhe o seu rosto, constituiu-o como Povo, libertou-o da escravidão, conduziu-o através do deserto e estabeleceu com ele uma relação especial de comunhão e de aliança.
    A eleição e a aliança pressupõem, contudo, a missão e o testemunho. A missão deste Servo a quem Deus chamou é, em primeiro lugar, "reconduzir Jacob e reunir Israel" a Jahwéh (vers. 5c.d). Aqui faz-se referência, provavelmente, ao regresso do Povo à órbita da aliança (considerada rompida pelo pecado do Povo), à reunião de todos os exilados e ao regresso à Terra Prometida.
    A missão do Servo é, depois, ampliada "às nações" (vers. 6): Israel deve dar testemunho da salvação de Deus, de forma a que a proposta salvadora e libertadora chegue, por intermédio do Servo/Povo aos homens e mulheres de toda a terra. Não deixa de impressionar a grandiosidade da missão confiada, em contraste com a situação de opressão, de apagamento, de fragilidade em que vivem os exilados... Aqui afirma-se o jeito de Deus, que age no mundo, salva e liberta recorrendo a instrumentos frágeis e indignos.

    ACTUALIZAÇÃO

    Para a reflexão e partilha, podem ser considerados os seguintes elementos:

    • A leitura propõe à nossa reflexão esse tema sempre pessoal, mas sempre enigmático que é a vocação. Somos convidados, na sequência, a tomar consciência da vocação a que somos chamados e das suas implicações. Não se trata de uma questão que apenas atinge e empenha algumas pessoas especiais, com um lugar à parte na comunidade eclesial (os padres, as freiras...); mas trata-se de um desafio que Deus faz a cada um dos seus filhos, que a todos implica e que a todos empenha.

    • A figura do Servo de Jahwéh convida-nos, em primeiro lugar, a tomar consciência de que na origem da vocação está Deus: é Ele que elege, que chama e que confia a cada um uma missão. A nossa vocação é sempre algo que tem origem em Deus e que só se entende à luz de Deus. Temos consciência de que somos escolhidos por Deus desde o seio materno, isto é, desde o primeiro instante da nossa existência? Temos consciência de que é Deus que alimenta a nossa vocação e o nosso compromisso no mundo? Temos consciência de que só a partir de Deus a nossa vocação faz sentido e o nosso empenhamento se entende? Temos consciência de que a vocação implica uma relação de comunhão, de intimidade, de proximidade com Deus?

    • A vocação não se esgota, contudo, na aproximação do homem a Deus, mas é sempre em ordem a um testemunho e a uma intervenção no mundo (mesmo que se trate de uma vocação contemplativa). O homem chamado por Deus é sempre um homem que testemunha e que é um sinal vivo de Deus, dos seus valores e das suas propostas diante dos outros homens. Sinto que a minha vocação se realiza no testemunho da salvação e da libertação de Deus aos meus irmãos? A vocação a q
    ue Deus me chama leva-me a ser uma luz de esperança no mundo? A salvação de Deus atinge o mundo e torna-se uma realidade concreta no meu testemunho e no meu ministério?

    • Ao reflectirmos na lógica da vocação, é preciso estarmos cientes de que toda a vocação tem origem em Deus, é alimentada por Deus, e de que Deus se serve, muitas vezes, da nossa fragilidade, caducidade e indignidade para actuar no mundo. Aquilo que fazemos de bom e de bonito não resulta, portanto, das nossas forças ou das nossas qualidades, mas de Deus. O coração do profeta não tem, portanto, qualquer razão para se encher de orgulho, de vaidade e de auto-suficiência: convém ter consciência de que por detrás de tudo está Deus, e que só Deus é capaz de transformar o mundo, a partir dos nossos pobres gestos e das nossas frágeis forças.

    SALMO RESPONSORIAL - Salmo 39(40)

    Refrão: Eu venho, Senhor, para fazer a vossa vontade.

    Esperei no senhor com toda a confiança
    e Ele atendeu-me.
    Pôs em meus lábios um cântico novo,
    um hino de louvor ao nosso Deus.

    Não Vos agradaram sacrifícios nem oblações,
    mas abristes-me os ouvidos;
    não pedistes holocaustos nem expiações,
    então clamei: «Aqui estou».

    «De mim está escrito no livro da Lei
    que faça a vossa vontade.
    Assim o quero, ó meu Deus,
    a vossa lei está no meu coração».

    Proclamei a justiça na grande assembleia,
    não fechei os meus lábios, Senhor, bem o sabeis.
    Não escondi a vossa justiça no fundo do coração,
    proclamei a vossa fidelidade e salvação.

    LEITURA II - 1 Cor 1,1-3

    Início da primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios

    Irmãos:
    Paulo, por vontade de Deus
    escolhido para Apóstolo de Cristo Jesus
    e o irmão Sóstenes,
    à Igreja de Deus que está em Corinto,
    aos que foram santificados em Cristo Jesus,
    chamados à santidade,
    com todos os que invocam, em qualquer lugar,
    o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso:
    A graça e a paz de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo
    estejam convosco.

    AMBIENTE

    Nos próximos seis domingos, a liturgia vai propor-nos a leitura da primeira carta de Paulo aos cristãos da comunidade de Corinto. Para entendermos cabalmente a mensagem, convém determo-nos um pouco sobre o ambiente em que o texto nos situa.
    No decurso da sua segunda viagem missionária, Paulo chegou a Corinto, depois de atravessar boa parte da Grécia, e ficou por lá cerca 18 meses (anos 50-52). De acordo com Act 18,2-4, Paulo começou a trabalhar em casa de Priscila e Áquila, um casal de judeo-cristãos. No sábado, usava da palavra na sinagoga. Com a chegada a Corinto de Silvano e Timóteo (2 Cor 1,19; Act 18,5), Paulo consagrou-se inteiramente ao anúncio do Evangelho. Mas não tardou a entrar em conflito com os judeus e foi expulso da sinagoga.
    Corinto era uma cidade nova e muito próspera. Servida por dois portos de mar, possuía as características típicas das cidades marítimas: população de todas as raças e de todas as religiões. Era a cidade do desregramento para todos os marinheiros que cruzavam o Mediterrâneo, ávidos de prazer, após meses de navegação. Na época de Paulo, a cidade comportava cerca de 500.000 pessoas, das quais dois terços eram escravos. A riqueza escandalosa de alguns contrastava com a miséria da maioria.
    Como resultado da pregação de Paulo, nasceu a comunidade cristã de Corinto. A maior parte dos membros da comunidade eram de origem grega, embora em geral, de condição humilde (cf. 1 Cor 11,26-29; 8,7; 10,14.20; 12,2); mas também havia elementos de origem hebraica (cf. Act 18,8; 1 Cor 1,22-24; 10,32; 12,13).
    De uma forma geral, a comunidade era viva e fervorosa; no entanto, estava exposta aos perigos de um ambiente corrupto: moral dissoluta (cf. 1 Cor 6,12-20; 5,1-2), querelas, disputas, lutas (cf. 1 Cor 1,11-12), sedução da sabedoria filosófica de origem pagã que se introduzia na Igreja revestida de um superficial verniz cristão (cf. 1 Cor 1,19-2,10).
    Tratava-se de uma comunidade forte e vigorosa, mas que mergulhava as suas raízes em terreno adverso. Na comunidade de Corinto, vemos as dificuldades da fé cristã em inserir-se num ambiente hostil, marcado por uma cultura pagã e por um conjunto de valores que estão em profunda contradição com a pureza da mensagem evangélica.

    MENSAGEM

    Paulo começa esta carta com a saudação e a acção de graças, típicas das cartas paulinas. Na saudação, carregada de conteúdo teológico, Paulo reivindica a sua condição de escolhido por Deus (de apóstolo), sugerindo que está revestido de autoridade para proclamar com plena garantia o Evangelho. Esta reivindicação sugere que, no contexto coríntio, havia quem punha em causa a sua autoridade apostólica e o seu testemunho. Os destinatários da carta são, evidentemente, os membros da comunidade cristã de Corinto; no entanto, a mensagem serve para os cristãos de todas as épocas e de todas as latitudes.
    Neste parágrafo inicial, o vocábulo chamado assume um lugar especial: Paulo foi chamado por Deus a ser apóstolo e os coríntios são uma comunidade de chamados à santidade. Transparece aqui, como na primeira leitura, a convicção de que Deus tem um projecto para os homens e para o mundo e que todos - quer Paulo, quer os cristãos de Corinto, são chamados a um compromisso efectivo com esse projecto.
    O que é que significa ser chamado à santidade? No contexto paulino, os santos são todos aqueles que acolheram a proposta libertadora de Jesus e aceitaram os valores do Evangelho. Os "santos" são os "separados": os coríntios são "santos" porque, ao aceitar a proposta de Jesus, escolheram viver "separados" do mundo. "Separados" não significa "alheados"; mas significa viver de acordo com valores e esquemas diferentes dos valores e esquemas consagrados pelo mundo.
    A palavra "klêtos" ("chamado"), aqui usada, supõe Deus como sujeito: foi Deus que chamou Paulo; é Deus que chama os coríntios. Mais uma vez fica claro que o chamamento provém da iniciativa divina e que só se compreende a partir de Deus e à luz da acção de Deus.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão pode partir dos seguintes dados:

    • Deus chama os homens e as mulheres à santidade. Tenho consciência do apelo que Deus, nesta linha, me faz também a mim? Estou disponível e bem disposto para aceitar esse desafio?

    • Realizar a vocação à santidade não implica seguir caminhos impossíveis de ascese, de privação, de sacrifício; mas significa, sobretudo, acolher a proposta libertadora que Deus oferece em Jesus e viver d
    e acordo com os valores do Reino. É dessa forma que concretizo a minha vocação à santidade? Tenho a coragem de viver e de testemunhar, com radicalidade, os valores do Evangelho, mesmo quando a moda, o orgulho, a preguiça, os interesses financeiros, o "politicamente correcto", a opinião dominante me impõem outras perspectivas?

    • Convém ter sempre presente que a Igreja, a comunidade dos "chamados à santidade", é constituída por "todos os que invocam, em qualquer lugar, o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo". É importante termos consciência de que, para além da cor da pele, das diferenças sociais, das distâncias sociais ou culturais, das perspectivas diferentes sobre as questões secundárias da vivência da religião, o essencial é aquilo que nos une e nos faz irmãos: Jesus Cristo e o reconhecimento de que Ele é o Senhor que nos conduz pela história e nos oferece a salvação.

    ALELUIA - Jo 1,14a.12a

    Aleluia. Aleluia.

    O Verbo fez-Se carne e habitou entre nós.
    Àqueles que O receberam
    deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.

    EVANGELHO - Jo 1,29-34

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

    Naquele tempo,
    João Baptista viu Jesus, que vinha ao seu encontro,
    e exclamou:
    «Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.
    Era d'Ele que eu dizia:
    "Depois de mim virá um homem,
    que passou à minha frente, porque existia antes de mim".
    Eu não O conhecia,
    mas para Ele Se manifestar a Israel
    é que eu vim baptizar em água».
    João deu mais este testemunho:
    «Eu vi o Espírito Santo
    descer do Céu como uma pomba e repousar sobre Ele.
    Eu não O conhecia,
    mas quem me enviou a baptizar em água é que me disse:
    "Aquele sobre quem vires o Espírito Santo descer e repousar
    é que baptiza no Espírito Santo".
    Ora eu vi e dou testemunho de que Ele é o Filho de Deus».

    AMBIENTE

    A perícopa que nos é proposta integra a secção introdutória do Quarto Evangelho (cf. Jo 1,19-3,36). Aí o autor, com consumada mestria, procura responder à questão: "quem é Jesus?"
    João dispõe as peças num enquadramento cénico. As diversas personagens que vão entrando no palco procuram apresentar Jesus. Um a um, os actores chamados ao palco por João vão fazendo afirmações carregadas de significado teológico sobre Jesus. O quadro final que resulta destas diversas intervenções apresenta Jesus como o Messias, Filho de Deus, que possui o Espírito e que veio ao encontro dos homens para fazer aparecer o Homem Novo, nascido da água e do Espírito.
    João Baptista, o profeta/percursor do Messias, desempenha aqui um papel especial na apresentação de Jesus (o seu testemunho aparece no início e no fim da secção - cf. Jo 1,19-37; 3,22-36). Ele vai definir aquele que chega e apresentá-lo aos homens. Ao não assinalar-se o auditório, sugere-se que o testemunho de João é perene, dirigido aos homens de todos os tempos e com eco permanente na comunidade cristã.

    MENSAGEM

    João é, portanto, o apresentador oficial de Jesus. De que forma e em que termos o vai apresentar?
    A catequese sobre Jesus que aqui é feita expressa-se através de duas afirmações com um profundo impacto teológico: Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo; e é o Filho de Deus que possui a plenitude do Espírito.
    A primeira afirmação ("o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" - Jo 1,29) evoca, provavelmente, duas imagens tradicionais extremamente sugestivas. Por um lado, evoca a imagem do "servo sofredor", o cordeiro levado para o matadouro, que assume os pecados do seu Povo e realiza a expiação (cf. Is 52,13-53,12); por outro lado, evoca a imagem do cordeiro pascal, símbolo da acção libertadora de Deus em favor de Israel (cf. Ex 12,1-28). Qualquer uma destas imagens sugere que a pessoa de Jesus está ligada à libertação dos homens.
    A ideia é, aliás, explicitada pela definição da missão de Jesus: Ele veio para tirar ("eliminar") "o pecado do mundo". A palavra "pecado" aparece, aqui, no singular: não designa os "pecados" dos homens, mas um "pecado" único que oprime a humanidade inteira; esse "pecado" parece ter a ver, no contexto da catequese joânica, com a recusa da proposta de vida com que Deus, desde sempre, quis presentear a humanidade (é dessa recusa que resulta o pecado histórico, que desfeia o mundo e que oprime os homens). O "mundo" designa, neste contexto, a humanidade que resiste à salvação, reduzida à escravidão e que recusa a luz/vida que Jesus lhe pretende oferecer... Deus propôs-se tirar a humanidade da situação de escravidão em que esta se encontra; enviou ao mundo Jesus, com a missão de realizar um novo êxodo, que leve os homens da terra da escravidão para a terra da liberdade.
    A segunda afirmação (o "Filho de Deus" que possui a plenitude do Espírito Santo e que baptiza no Espírito - cf. Jo 1,32-34) completa a anterior. Há aqui vários elementos bem sugestivos: o "cordeiro" é o Filho de Deus; Ele recebeu a plenitude do Espírito; e tem por missão baptizar os homens no Espírito.
    Dizer que Jesus é o Filho de Deus é dizer que Ele é o Deus que se faz pessoa, que vem ao encontro dos homens, que monta a sua tenda no meio dos homens, a fim de lhes oferecer a plenitude da vida divina. A sua missão consiste em eliminar "o pecado" que torna o homem escravo e que o impede de abrir o coração a Deus.
    Dizer que o Espírito desce sobre Jesus e permanece sobre Ele sugere que Jesus possui definitivamente a plenitude da vida de Deus, toda a sua riqueza, todo o seu amor. Por outro lado, a descida do Espírito sobre Jesus é a sua investidura messiânica, a sua unção ("messias" = "ungido"). O quadro leva-nos aos textos do Deutero-Isaías, onde o "Servo" aparece como o eleito de Jahwéh, sobre quem Deus derramou o seu Espírito (cf. Is 42,1), a quem ungiu e a quem enviou para "anunciar a Boa Nova aos pobres, para curar os corações destroçados, para proclamar a libertação aos cativos, para anunciar aos prisioneiros a liberdade" (Is 61,1-2).
    Jesus é, finalmente, aquele que baptiza no Espírito Santo. O verbo "baptizar" aqui utilizado tem, em grego, duas traduções: "submergir" e "empapar (como a chuva empapa a terra)"; refere-se, em qualquer caso, a um contacto total entre a água e o sujeito. "Baptizar no Espírito" significa, portanto, um contacto total entre o Espírito e o homem, uma chuva de Espírito que cai sobre o homem e lhe empapa o coração. A missão de Jesus consiste, portanto, em derramar o Espírito sobre o
    homem; e o homem que adere a Jesus, "empapado" do Espírito e transformado por essa fonte de vida que é o Espírito, abandona a experiência da escuridão ("o pecado") e alcança o seu pleno desenvolvimento, a plenitude da vida.
    A declaração de João convida os homens de todas as épocas a voltarem-se para Jesus e a acolherem a proposta libertadora que, em nome de Deus, Ele faz: só a partir do encontro com Jesus será possível chegar à vida plena, à meta final do Homem Novo.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão pessoal e comunitária pode tocar os seguintes pontos:

    • Em primeiro lugar, importa termos consciência de que Deus tem um projecto de salvação para o mundo e para os homens. A história humana não é, portanto, uma história de fracasso, de caminhada sem sentido para um beco sem saída; mas é uma história onde é preciso ver Deus a conduzir o homem pela mão e a apontar-lhe, em cada curva do caminho, a realidade feliz do novo céu e da nova terra. É verdade que, em certos momentos da história, parecem erguer-se muros intransponíveis que nos impedem de contemplar com esperança os horizontes finais da caminhada humana; mas a consciência da presença salvadora e amorosa de Deus na história deve animar-nos, dar-nos confiança e acender nos nossos olhos e no nosso coração a certeza da vida plena e da vitória final de Deus.

    • Jesus não foi mais um "homem bom", que coloriu a história com o sonho ingénuo de um mundo melhor e desapareceu do nosso horizonte (como os líderes do Maio de 68 ou os fazedores de revoluções políticas que a história absorveu e digeriu); mas Jesus é o Deus que Se fez pessoa, que assumiu a nossa humanidade, que trouxe até nós uma proposta objectiva e válida de salvação e que hoje continua presente e activo na nossa caminhada, concretizando o plano libertador do Pai e oferecendo-nos a vida plena e definitiva. Ele é, agora e sempre, a verdadeira fonte da vida e da liberdade. Onde é que eu mato a minha sede de liberdade e de vida plena: em Jesus e no projecto do Reino ou em pseudo-messias e miragens ilusórias de felicidade que só me afastam do essencial?

    • O Pai investiu Jesus de uma missão: eliminar o pecado do mundo. No entanto, o "pecado" continua a enegrecer o nosso horizonte diário, traduzido em guerras, vinganças, terrorismo, exploração, egoísmo, corrupção, injustiça... Jesus falhou? É o nosso testemunho que está a falhar? Deus propõe ao homem o seu projecto de salvação, mas não impõe nada e respeita absolutamente a liberdade das nossas opções. Ora, muitas vezes, os homens pretendem descobrir a felicidade em caminhos onde ela não está. De resto, é preciso termos consciência de que a nossa humanidade implica um quadro de fragilidade e de limitação e que, portanto, o pecado vai fazer sempre parte da nossa experiência histórica. A libertação plena e definitiva do "pecado" acontecerá só nesse novo céu e nova terra que nos espera para além da nossa caminhada terrena.

    • Isso não significa, no entanto, pactuar com o pecado, ou assumir uma atitude passiva diante do pecado. A nossa missão - na sequência da de Jesus - consiste em lutar objectivamente contra "o pecado" instalado no coração de cada um de nós e instalado em cada degrau da nossa vida colectiva. A missão dos seguidores de Jesus consiste em anunciar a vida plena e em lutar contra tudo aquilo que impede a sua concretização na história.

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 2º DOMINGO DO TEMPO COMUM
    (adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao 2º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa...

    2. DAR ATENÇÃO ÀS PROCISSÕES.
    Ao longo dos domingos que precedem o tempo da Quaresma, pode-se dar uma atenção particular ao desenrolar das procissões na missa. Por exemplo, a procissão de entrada, que não é apenas para o presidente da assembleia acompanhado de um ou outro acólito... Podem entrar nesta procissão: um leigo com a cruz, os acólitos ou leigos que vão servir ao altar (podem levar cada um uma vela), os que vão fazer a primeira e a segunda leitura (um deles leva o leccionário), assim como o leitor da oração dos fiéis. Para acolher a procissão, enquanto se canta, a assembleia dirige o olhar para o fundo da igreja e acompanha com o olhar o movimento da procissão. Chegados ao altar, depois da inclinação ou genuflexão, colocam o livro e as velas, tomando os seus lugares. A celebração continua...

    3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

    No final da primeira leitura:
    Deus, Pai do teu povo, nós Te bendizemos pelo envio de salvadores, os profetas, os juízes e os reis, mas sobretudo pelo envio do teu Filho, o teu eleito, em quem puseste toda a tua alegria, e que Se manifestou como a luz das nações.
    Nós Te confiamos as vítimas das inumeráveis angústias da nossa terra, todos os infelizes que aspiram a reencontrar a luz, a liberdade e a paz.

    No final da segunda leitura:
    Cristo Jesus, Tu que és o Senhor de todos e que revestiste a nossa condição humana, Tu que o Pai revelou como o Messias e encheu com a sua força, nós Te damos graças pela tua obra de salvação.
    Nós Te confiamos os nossos irmãos e irmãs que procuram a luz e a verdade, como fazia outrora o centurião Cornélio. Dá-nos a coragem de ir ao seu encontro, como outrora o apóstolo Pedro.

    No final do Evangelho:
    Pai de Jesus e nosso Pai, nós Te damos graças pelo baptismo de Jesus no Jordão, porque nele nos revelaste a nova humanidade, da qual Jesus é a cabeça. Faz de nós também teus filhos bem-amados e cumula-nos com o teu Espírito.
    Nós Te pedimos pelos novos baptizados, pelos padrinhos e madrinhas, pelos pais e pelas equipas que asseguram a preparação para o baptismo.

    4. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
    Pode-se escolher a Oração Eucarística II para as Missas da Reconciliação.

    5. PALAVRA PARA O CAMINHO.
    Testemunho... A palavra "Servidor" regressa hoje em força, em Isaías, enquanto João nos convida a contemplar o Cordeiro de Deus investido da Força do Espírito, ao qual dá testemunho. E nós? O nosso testemunho ficará limitado a estas palavras do Credo proclamado ao domingo? Ou leva-nos a empenharmo-nos em acções concretas no seguimento do Servidor?

     

     

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
    Tel. 218540900 - Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.org

  • Tempo Comum - Anos Ímpares - II Semana - Segunda-feira

    Tempo Comum - Anos Ímpares - II Semana - Segunda-feira


    16 de Janeiro, 2023

    Tempo Comum - Anos Ímpares - II Semana - Segunda-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Hebreus 5, 1-10

    1Todo o Sumo Sacerdote tomado de entre os homens é constituído em favor dos homens, nas coisas respeitantes a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados. 2Pode compadecer-se dos ignorantes e dos que erram, pois também ele está cercado de fraqueza; 3por isso, deve oferecer sacrifícios, tanto pelos seus pecados, como pelos do povo. 4E ninguém tome esta honra para si mesmo, mas somente quem é chamado por Deus, tal como Aarão. 5Assim também Cristo não se atribuiu a glória de se tornar Sumo Sacerdote, mas concedeu-lha aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, Eu hoje te gerei. 6E, como diz noutro passo: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec. 7Nos dias da sua vida terrena, apresentou orações e súplicas àquele que o podia salvar da morte, com grande clamor e lágrimas, e foi atendido por causa da sua piedade. 8Apesar de ser Filho de Deus, aprendeu a obediência por aquilo que sofreu 9e, tornado perfeito, tornou-se para todos os que lhe obedecem fonte de salvação eterna, 10tendo sido proclamado por Deus Sumo Sacerdote segundo a ordem de Melquisedec.

    O cristão pode manter-se firme nas provações porque Cristo exerce em seu favor a função de Sumo sacerdote diante de Deus. O autor começa por apresentar as características do Sumo sacerdote do Antigo Testamento: chamado de entre os outros homens para intervir em favor deles diante de Deus (v.1); capaz de compreender os homens, porque, Ele mesmo, é homem (v. 2); recebeu essa missão do próprio Deus. Depois, a começar pela última característica, demonstra que Jesus é o único e o Sumo sacerdote da Nova Aliança: escolhido por Deus, de Quem também é Filho, possui um sacerdócio eterno; a sua misericórdia para com os homens leva-O a oferecer-se a Si mesmo, apesar de não ter pecado, abrindo o caminho da salvação eterna para todos os homens. Assim chegamos ao centro da Carta aos Hebreus, onde o autor nos apresenta Cristo no momento em que oferece ao Pai a sua vontade de partilhar o sofrimento humano até à morte de cruz. Com «orações e súplicas», com «grande clamor e lágrimas» (v. 7), realiza a oferta de Si mesmo e agrada ao Pai pela respeitosa submissão à sua divina vontade. Então, o Pai torna-O «perfeito» (v. 9), isto é, capaz de obter a salvação para todos aqueles que acolhem a sua Palavra. É emocionante o modo como o autor da carta aos Hebreus fala da humanidade de Cristo e da sua fraqueza. A sua experiência de sofrimento ensinou-Lhe o que significa para o homem a obediência a Deus enquanto dura a vida terrena, o sacrifício e a dor que a fidelidade a Deus lhe acarretam . Por isso, está à altura de comprender os homens, seus irmãos, e é capaz de solidarizar-se com eles.

    Evangelho: Marcos 2, 18-22

    Naquele tempo, 18os discípulos de João e os fariseus guardavam o jejum. Vieram dizer-lhe: «Porque é que os discípulos de João e os dos fariseus guardam jejum, e os teus discípulos não jejuam?» 19Jesus respondeu: «Poderão os convidados para a boda jejuar enquanto o esposo está com eles? Enquanto têm consigo o esposo, não podem jejuar. 20Dias virão em que o esposo lhes será tirado; e então, nesses dias, hão-de jejuar.»
    21«Ninguém deita remendo de pano novo em roupa velha, pois o pano novo puxa o tecido velho e o rasgão fica maior. 22E ninguém deita vinho novo em odres velhos; se o fizer, o vinho romperá os odres e perde-se o vinho, tal como os odres. Mas vinho novo, em odres novos.»

    O comportamento dos discípulos dá azo a uma polémica dos escribas contra Jesus. Ao contrário dos grupos religiosos do seu tempo, incluindo o de João Baptista, os discípulos do Galileu não praticavam o jejum. Porquê? Porque Jesus tinha introduzido no mundo o tempo gozoso das núpcias entre Deus, o esposo, e o seu povo, a esposa. Não fazia sentido reiterar um sinal que indicava luto. Além disso, não havia que precipitar os acontecimentos: tempos viriam em que a adesão dos discípulos a Jesus havia de lhes custar momentos difíceis em que, para fazer penitência, não seria preciso estabelecer o jejum.
    As palavras sobre o «pano novo em roupa velha» e sobre «vinho novo em odres velhos» convidam-nos a compreender a novidade introduzida pelo Evangelho, confirmando a suspensão do sinal do jejum. A roupa velha da lei não consegue tolerar o pano novo representado por Jesus. No banquete de Deus com a humanidade, de que Jesus nos torna participantes, está presente o vinho novo do Espírito que rebenta os odres velhos dos corações endurecidos.

    Meditatio

    A palavra de Deus alerta-nos para a tentação de gerirmos a vida «religiosa» em vista da nossa segurança pessoal, de interpretarmos as Escrituras com critérios de racionalidade para nos protegermos das suas propostas radicais, por vezes incómodas, e de «usarmos» o culto como escudo protector para uma santidade construída à nossa medida. A única relação com Deus, que realmente nos dá segurança, é a modulada pela obediência. Obedecer a Deus é viver em união com Cristo, abertos ao Espírito, deixando-nos guiar por Ele, mais do que pelo nosso «bom senso», sempre dispostos a verificar a consistência das nossas habituais formas exteriores de manifestar a fé, convertendo-nos a uma maior autenticidade, e comprometendo com ela a nossa existência. É a novidade de vida proclamada pelo evangelho. O próprio Senhor inaugura essa novidade, oferecendo a Deus, não já coisas convencionais, mas a sua existência, como escutamos na primeira leitura. Os discípulos de João e os fariseus preocupavam-se, não com a forma de vida que levavam, mas com acrescentos a essa vida, tais como penitências para honrar a Deus. Para Jesus, o mais importante é a vida que se leva, e não o que se lhe acrescenta, tal como certas cerimónias ou penitências suplementares. Cristo sacerdote oferece a sua vida e não sacrifícios convencionais: «Nos dias da sua vida terrena, apresentou orações e súplicas àquele que o podia salvar da morte, com grande clamor e lágrimas, e foi atendido por causa da sua piedade» (v. 7). Jesus Cristo transformou em oferta a Deus o drama da sua vida.
    Esta transformação requer oração intensa e luta. É o que contemplamos na agonia de Jesus. O Senhor luta, com orações e súplicas, contra as dificuldades da vida e contra a necessidade da paixão. Assim transforma tudo em oferta digna de Deus, cheia do Espírito de Deus.
    Jesus também espera de nós, não coisas sobrepostas à nossa vida, mas sim a nossa própria vida transformada em sacrifício. São certamente necessárias orações e mortificações, que ajudam a transformar a vida. Mas o mais importante é essa transformação, é fazer da nossa existência uma oferta a Deus (cf. Rm 12, 1s).
    Na eucaristia, unidos a Cristo, oferecemos ao Pai o seu sacrifício. Mas havemos de acr
    escentar-lhe a oferta de nós mesmos e da nossa vida, com as suas alegrias, dificuldades, tentações, desejos e esperanças. É este o sacrifício que agrada ao Senhor, o sacrifício da transformação da nossa vida, que o próprio Espírito de Jesus realiza em nós, se formos dóceis à sua acção.
    Esta espiritualidade, tão claramente expressa como oração na Prece Eucarística III, é comum a todos os cristãos. Os dehonianos procuram vivê-la com particulares acentuações e tonalidades, de acordo com o seu carisma.

    Oratio

    Senhor Jesus, dá-me o teu Espírito Santo para que, na docilidade às suas inspirações e à sua acção, viva este dia como sacerdote e oferenda agradável ao Pai. Reveste-me de santidade, cinge-me de castidade, protege-nos com a tua Cruz santa e gloriosa. Que o meu coração seja altar donde suba constantemente o perfume da oração. Que o meu corpo e a minha mente, que a minha vida e a minha vontade, sejam a oferenda viva e agradável, unida à tua, para glória e alegria do Pai. Amen.

    Contemplatio

    Entre os patriarcas, três sobretudo são louvados pelo Espírito Santo nas Escrituras e pela Igreja no cânon da missa, por causa da santidade dos seus sacrifícios, e também por causa das relações dos seus sacrifícios com o do Salvador. As oblações de Abel foram agradáveis ao Senhor por causa da sua fé em Deus, mas sobretudo por causa da sua fé no Redentor prometido. Abel foi vítima ele mesmo como o Salvador... Melquisedec figurava o Salvador, como sacerdote do sacrifício do altar. S. Paulo sublinhou os seus traços de semelhança. Melquisedec é o rei da paz. Oferece o seu sacrifício em Jerusalém. Apresenta a Deus o pão e o vinho, e recebe a homenagem de Abraão. O sacrifício oferecido por Abraão tem as relações mais surpreendentes com o sacrifício do Calvário. Como Deus Pai, Abraão oferece o seu filho Isaac, e prepara-se para o atingir no coração. O altar é o mesmo, é a colina de Sião. Isaac submete-se generosamente à vontade do seu pai. Leva ele mesmo a madeira do seu sacrifício. Isaac sobrevive à sua imolação e torna-se o pai de um povo numeroso. Também o novo Isaac sairá do túmulo e o seu sacrifício dará ao seu Pai uma família inumerável. Abel, Melquisedec, Isaac não representam admiravelmente a santidade, a justiça e a doçura do Coração de Jesus? Mas quando Deus tomou como parte os filhos de Israel e se fez o seu legislador, manifestou mais claramente os seus desígnios. Deu-lhes todo um código litúrgico. Regulou todo o culto e especialmente a oferenda dos sacrifícios em vista do Messias que estes sacrifícios preparavam e anunciavam. Havia hóstias para o holocausto, vítimas pelo pecado, sacrifícios de acção de graças e orações. Todas as vítimas deviam ser puras e sem manchas. Os cordeiros imolados em grande número simbolizavam particularmente o Cordeiro divino. Assim o sacrifício do Homem-Deus é de todas as idades. Constituía desde o começo o fundo do culto e da religião verdadeira. O Cordeiro divino era imolado nestas figuras e na fé implícita dos patriarcas e dos Israelitas. S. João mostra-nos no apocalipse uma multidão imensa de todas as idades e de todas as nações em adoração diante do Cordeiro ferido no coração e cantando o seu cântico a Deus e ao Cordeiro. Não foi somente nos desígnios divinos que o Cordeiro de Deus foi imolado e que o seu Coração foi ferido desde toda a eternidade; mas também sobre a terra, no altar do verdadeiro Deus e na fé dos verdadeiros crentes; imolação figurativa e profética na antiga lei; real e sangrenta no Calvário; real ainda, mas não sangrenta na Eucaristia. (Leão Dehon, OSP 4, p. 250ss.)

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Jesus aprendeu a obediência por aquilo que sofreu» (Hebr 5, 8).

  • Santo Antão, Abade

    Santo Antão, Abade


    17 de Janeiro, 2023

    S. Antão nasceu em 252, no Egipto Médio. Os seus pais eram ricos proprietários rurais. Quando tinha 20 anos, ao entrar numa igreja, ouviu proclamar Mt 10, 21: "Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens..." Fulminado pelo convite de Jesus, vendeu os campos recebidos em herança, reservando uma parte deles para a sua irmã, e iniciou a vida ascética. Primeiro juntou-se a um velho monge, perto da sua aldeia. Depois, encerrou-se num sepulcro cerca de 13 anos. Submetido a fortes tentações do demónio, empenhou-se ainda mais na luta ascética, fixando-se num fortim abandonado, onde permaneceu vinte anos. Em 306, deixou o seu retiro aceitando receber discípulos. Para escapar aos malefícios da fama, que começava a rodeá-lo, refugiou-se no monte Kolzum. Aí morreu a 17 de Janeiro de 356, com a idade de cento e cinco anos, muitos dos quais passados a ensinar os anacoretas, a curar os enfermos, e a refutar os hereges. Embora rigorosamente não tenha sido o primeiro monge o seu ministério carismático e autorizado fez dele, para sempre, o pai dos monges. A sua vida, escrita pelo seu contemporâneo e amigo, S. Atanásio, tornou-se a "primeira regra" para quem optava pela vida ascética nos ermos.
    Primeira Leitura: Miqueias, 6, 6-8

    Com que me apresentarei ao Senhor, e me prostrarei diante do Deus excelso? Irei à sua presença com holocaustos, com novilhos de um ano? 7Porventura o Senhor receberá com agrado milhares de carneiros ou miríades de torrentes de azeite? Hei-de sacrificar-lhe o meu primogénito pelo meu crime, o fruto das minhas entranhas pelo meu próprio pecado? 8Já te foi revelado, ó homem, o que é bom, o que o Senhor requer de ti: nada mais do que praticares a justiça, amares a lealdade e andares humildemente diante do teu Deus.

    Recorrendo ao género literário chamado "requisitório judicial", o profeta procura levar o povo a ser fiel à Aliança. Tocado no seu íntimo, por reconhecer não ter correspondido ao amor do Senhor, o fiel pergunta: "Com que me apresentarei ao Senhor, e me prostrarei diante do Deus excelso?" (v. 6). O profeta recusa a oferta de sacrifícios exteriores, exigindo a conversão verdadeira, que leve a "praticar a justiça, amar a lealdade e andar humildemente diante do teu Deus" (cf. v. 8). É a essência da verdadeira religião interior, o compêndio da Lei e dos Profetas, o antecipado sumário religioso proposto por Jesus (cf. Mt 22,34-40). É a religião, não como objeto em si mesma, mas como veícolo de diálogo com Deus e com os homens. O amor como fundamento das relações humanas e divinas. E isto dito no século VIII a. C.
    Evangelho: Mateus 19, 16-21
    Naquele tempo, quando se punha a caminho, alguém correu para Jesus e ajoelhou-se, perguntando: «Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?» 18Jesus disse: «Porque me chamas bom? Ninguém é bom senão um só: Deus. 19Sabes os mandamentos: Não mates, não cometas adultério, não roubes, não levantes falso testemunho, não defraudes, honra teu pai e tua mãe.» 20Ele respondeu: «Mestre, tenho cumprido tudo isso desde a minha juventude.» 21Jesus, fitando nele o olhar, sentiu afeição por ele e disse: «Falta-te apenas uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me.»

    O encontro de Jesus com o jovem rico é referido pelos três Sinópticos. Mas só Mateus fala de "um jovem", chamando a Jesus "Mestre". Marcos e Lucas acrescentam: "bom Mestre".
    Jesus propõe ao jovem as exigências do Reino, da "perfeição", isto é, a renúncia aos próprios bens em favor dos pobres e o seu seguimento incondicional. O jovem fica triste, porque punha a sua alegria exactamente nesses bens, e não queria deixá-los. Faltava-lhe, pois, a única coisa necessária: um coração livre e bem disposto para acolher aquela "vida eterna" que dizia desejar.
    Não se pode seguir Jesus sem estar dispostos a quebrar as amarras que impeçam a dociliddade e a obediência ao Mestre divino. Ele olha para todos com amor. Mas só se deixa atrair por aqueles que têm um coração humilde, pobre e livre.
    Meditatio

    Pensando em S. Antão, e no movimento monástico a que a sua vida e os seus ensinamentos deram um decisivo impulso, as leituras, que hoje escutamos, suscitam em nós uma verdadeira comoção. Antão escutou-as como Palavra do Senhor dirigida a ele. A sua resposta foi generosa, radical, iniciando um itinerário espiritual que nos pode inspirar. Antão desejava ardentemente agradar a Deus, e deixou-se conduzir pelo Espírito na busca do caminho adequado. A primeira resposta, quando se libertou os bens terrenos, abriu-o a um compromisso cada vez mais exigente e forte na busca humilde de Deus, longe dos olhares dos homens. Vencidas as paixões, Antão pôde servir serenamente os outros, tornando-se para todos um amigo, um irmão, um pai. Assim ensinou e cuidou daqueles que o procuraram como mestre de ascetismo, inventando, por assim dizer, um novo modelo de vida cristã, caracterizado pela liberdade, pela ascese, pela fidelidade à Palavra, pelo amor a Cristo e ao próximo. Reconhecido como "pai dos monges", S. Antão é, sobretudo, um modelo de vida cristã empenhada. Escreve S. Atanásio: "Antão trabalhava com as suas mãos, pois ouvira a palavra da Escritura: Quem não quiser trabalhar não coma". Do fruto do seu trabalho destinava parte para comprar o pão que comia; o resto distribui-o pelos pobres. Rezava constantemente, pois aprendera que é preciso rezar interiormente, sem cessar; era tão atento à leitura que nada lhe esquecia do que tinha lido na Escritura: tudo retinha de tal maneira que a sua memória acabou por substituir o livro".
    Oratio

    Senhor, dá-me ouvidos para escutar a tua Palavra e coração para a acolher. Que ela transforme a minha vida e me faça progredir decididamente pelo caminho que me chamas a percorrer e apoias com as tuas graças. Enche-me do teu Espírito, aquele grande Espírito de fogo que acendestes em S. Antão. Que esse mesmo Espírito me leve a viver no bulício do mundo, ou na paz da vida consagrada, aquela vida heroica que S. Antão viveu na solidão do deserto e, sobretudo, me leve a renunciar a mim mesmo para Te amar acima de todas as coisas. Ámen.
    Contemplatio

    Desde o sermão da montanha, Nosso Senhor tinha indicado os conselhos de perfeição: «Há, dizia, um caminho estreito, mas são raros os que o encontram». Propunha já a pobreza voluntária: «Não acumuleis tesouros sobre a terra, onde a traça e os vermes os corroem, onde os ladrões escavam e roubam. Vendei o que tendes e fazei esmolas. Preparai tesouros no céu... Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração» (Mt 6). Depois vem a aplicação. Um jovem de nobre família vem lançar-se aos pés de Jesus, perguntando-lhe qual é o melhor caminho a seguir. O Coração de Jesus é tocado, observa com afeto o jovem, ama-o, propõe-lhe os conselhos de perfeição. É uma vocação: «vai, diz-lhe, vende o que tens, dá-o aos pobres, e vem comigo. Que graça insigne! Ser chamado por Jesus a viver com ele, abandonando-se à sua providência! (L. Dehon, OSP 4, p. 105).
    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    «Quem quer vencer as tentações, não confie em si mas em Deus» (Pensamento de S. Antão, citado por S. Atanásio).

     

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    Santo Antão, Abade (17 Janeiro)

    Tempo Comum - Anos Ímpares - II Semana - Terça-feira

    Tempo Comum - Anos Ímpares - II Semana - Terça-feira


    17 de Janeiro, 2023

    Tempo Comum - Anos Ímpares - II Semana - Terça-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Hebreus 6, 10-20

    Irmãos, 10Deus não é injusto, para esquecer as vossas obras e o amor que mostrastes pelo seu nome, pondo-vos ao serviço dos santos e servindo-os ainda agora. 11Desejamos, porém, que cada um de vós mostre o mesmo zelo para a plena realização da sua esperança até ao fim, 12de modo que não vos torneis preguiçosos, mas imiteis aqueles que, pela fé e pela perseverança, se tornam herdeiros das promessas. 13Quando Deus fez a promessa a Abraão, como não tinha ninguém maior por quem jurar, jurou por si mesmo, 14dizendo: Na verdade, Eu te abençoarei e multiplicarei a tua descendência. 15E assim, Abraão, tendo esperado com paciência, alcançou a promessa. 16Ora, os homens juram por alguém maior do que eles, e o juramento é para eles uma garantia que põe fim a toda a controvérsia. 17Por isso, querendo Deus mostrar mais claramente aos herdeiros da promessa que a sua decisão era imutável, interveio com um juramento, 18para que, graças a duas acções imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, encontrássemos grande estímulo, nós os que procurámos refúgio nele, agarrando-nos à esperança proposta. 19Nessa esperança temos como que uma âncora segura e firme da alma, que penetra até ao interior do véu 20onde Jesus entrou como nosso precursor, tornando-se Sumo Sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec.

    O autor da carta aos Hebreus fixa a sua atenção nos perigos que ameaçavam os seus leitores, talvez a perseguição durante a qual havia sempre alguém que acabava por cair na apostasia. Dai a exortação à fidelidade e o apontar do prémio e sua garantia. Foi-nos oferecida uma grande esperança, uma esperança segura e firme que nos faz penetrar nos céus com Jesus, que é para nós Caminho para o Pai. Jesus é o Sumo sacerdote - prefigurado em Melquisedec - que penetrou no santuário, isto é, nos céus, e está sentado à direita do Pai sempre a interceder por nós. «Nós os que procurámos refúgio em Deus, agarrando-nos à esperança proposta» (v. 18) vemos realizada em Jesus a nossa aspiração. Assim verificamos que Deus, que prometeu recompensar toda a obra de bem, como Jesus nos revelou, é verdadeiro e bom. Um simples copo de água, dado em seu nome, não ficará sem recompensa. Deus «não é injusto» (v. 10) e não esquece o que se faz aos irmãos na fé, por seu amor. Há que não ceder à preguiça e imitar os Patriarcas, especialmente Abraão, nosso pai na fé, e perseverar até à realização das promessas, particularmente a de alcançarmos o Senhor Jesus na sua glória. As promessas e o juramento feitos a Abraão são válidos também para nós. É esta a esperança segura, o princípio do optimismo e da coragem para permanecer na fé, âncora da alma.

    Evangelho: Marcos 2, 23-28

    Passeava Jesus através das searas num dia de sábado, os discípulos puseram-se a colher espigas pelo caminho. 24Os fariseus diziam-lhe: «Repara! Porque fazem eles ao sábado o que não é permitido?» 25Ele disse: «Nunca lestes o que fez David, quando teve necessidade e sentiu fome, ele e os que estavam com ele? 26Como entrou na casa de Deus, ao tempo do Sumo Sacerdote Abiatar, e comeu os pães da oferenda, que apenas aos sacerdotes era permitido comer, e também os deu aos que estavam com ele?» 27E disse-lhes: «O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado. 28O Filho do Homem até do sábado é Senhor.»

    Este breve texto realça a autoridade definitiva de Jesus e um dos princípios centrais do Evangelho: a libertação da «alienação legal». Como dirá S. Paulo, Cristo veio libertar o homem da tirania da Lei (cf. Rom 3, 20; 4, 13; 6, 14; 8, 2; Gal 1, 4-5, etc). A autoridade do «filho do homem» é uma autoridade em favor do homem. Jesus não veio condenar o homem, mas salvá-lo de toda a alienação, em primeiro lugar da alienação legal. Toda a lei, mesmo a mais sagrada, é em função do homem e não vice-versa.
    Marcos não indica claramente o objecto da transgressão dos discípulos. Mas, mais do que eles, é Jesus que é posto em questão. O Senhor responde: «Nunca lestes o que fez David, quando teve necessidade e sentiu fome, ele e os que estavam com ele?» (v. 25). Se o velho rei, por motivos de força maior, podia passar sobre a lei, quanto mais Jesus o podia fazer! Mais ainda: a autoridade de Jesus permitia-lhe ab-rogar o sábado e substituí-lo por outro dia. O Evangelho transcende a «ordem estabelecida». O cristão relativiza a ordem legal quando ela não está «em função do homem».

    Meditatio

    A primeira leitura, bastante complicada, apresenta-nos um pensamento fundamental simples e muito importante: é preciso conservar a esperança: «cada um de vós mostre o mesmo zelo para a plena realização da sua esperança até ao fim» (v. 11). A esperança dá juventude, dá dinamismo. A falta de esperança provoca velhice precoce e leva a todo o tipo de desordens, como ensina Paulo aos Romanos. Para nos manter na esperança, Deus adaptou-se aos modelos humanos: fez um juramento a Abraão e deu-nos um sumo sacerdote perfeito, Jesus Cristo. Uma vez que Ele nos representa, a sua glorificação é também nossa e, por isso, a nossa esperança é como «uma âncora segura e firme da alma, que penetra até ao interior do véu onde Jesus entrou como nosso precursor» (vv. 19-20). Se Jesus penetrou no céu como nosso precursor, temos a certeza de lá O encontrar.
    Além destes grandes motivos de esperança, temos muitos outros que Jesus nos deixou durante a sua vida histórica. No evangelho de hoje, Ele apresenta-nos Deus como o Senhor do tempo e da história, como liberdade absoluta, que não é reduzível a qualquer medida humana ou religiosa. A liberdade soberana de Deus coincide com o seu amor, que se manifesta na predilecção pelos mais pequenos, na capacidade de ver para além das aparências, no reconhecer o primado da pessoa humana afirmada na criação e jamais desmentido.
    Pergunto-me: na minha vida, mostro-me realmente filho deste Deus? Acolho a sua liberdade escrava de amor e assumo-a como atitude de vida?
    As opções divinas desorientam-me quando infringem ou põem em crise o status quo. É mais fácil orientar-me por regras claras e exactas do que pôr no centro a pessoa, toda e qualquer pessoa, com as suas exigências e características, que por vezes me desagradam, e até posso julgar inadequadas. A palavra de Deus convida-me e provoca-me a saber discernir a verdade das coisas lembrando-me que Ele é senhor de tudo. O evangelho é claramente contrário à rigidez cega, ao fanatismo. Exige o sacrifício de si mesmo, mas sempre à luz da misericórdia de Deus. Paulo e
    screverá aos Coríntios: «Ainda que eu distribua todos os meus bens e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, de nada me aproveita» (1 Cor 13, 3).
    O nosso compromisso da pobreza, que significa a entrega de toda a nossa vida ao serviço do Evangelho, é também um testemunho de esperança. Lemos nas Constituições: vivendo a pobreza, «seremos discípulos do Padre Dehon, que teve sempre uma particular atenção para com os homens do seu tempo, sobretudo os mais pobres: aqueles a quem faltam biblioteca, razões de viver e esperança» (Cst 52).

    Oratio

    Senhor, meu Deus, é a Ti que pertence o tempo e a história. Tu és liberdade! Tu és amor, que se revela na predilecção pelos mais pequenos e fracos, no ver além das aparências, no reconhecer o primado da pessoa humana sobre toda as leis e instituições. Enche-me do teu Espírito para que me saiba movimentar nos teus espaços, onde os pequenos são os grandes, onde a atenção aos outros vale mais do que a lei escrita. Ensina-me a discernir o que realmente conta, para além das aparências, para além do imediato, para além do politicamente correcto.
    Enche-me do teu Espírito que me purifique da rigidez e do fanatismo, e acende em a fé firme, a caridade ardente e a esperança segura. Amen.

    Contemplatio

    O terceiro fruto da devoção à paixão é a esperança. Jesus Cristo está preso à cruz para nos esperar, as suas mãos querem-nos abraçar, o seu lado aberto deixa escaparem-se correntes de sangue de graça. Devemos portanto alegrar-nos, porque destas chagas santas saem a salvação, a vida e a ressurreição. S. Tomé, ao meter os dedos nestas chagas santas, delas retirou a fé e graças abundantes. Nós também, delas retiraremos todos os socorros de que temos necessidade.
    Tal é em poucas palavras a devoção às cinco chagas. Ela produziu e produzirá sempre um grande bem na Igreja. Não é preciso todavia crer que a devoção ao Sagrado Coração não seja mais do que uma parte desta devoção. Ao adorarmos, ao contemplarmos as chagas do Salvador, mesmo a do lado, não entramos ainda necessariamente na via do amor, se não subirmos até ao Coração de Jesus, fonte de todos os seus sacrifícios. É lá que devemos entrar, se quisermos imolar uma hóstia plena e inteiramente agradável a Deus.
    Para nós, o amor tudo abarca, domina e contém todas as outras devoções. Não as exclui, mas transforma-as todas em devoção de amor. (Leão Dehon, OSP 2, p. 353s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «A esperança é âncora segura e firme da alma » (Hebr 6, 19).

  • Tempo Comum - Anos Ímpares - II Semana - Quarta-feira

    Tempo Comum - Anos Ímpares - II Semana - Quarta-feira


    18 de Janeiro, 2023

    Tempo Comum - Anos Ímpares - II Semana - Quarta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Hebreus 7, 1-3.15-17

    Irmãos: 1Melquisedec, rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, foi ao encontro de Abraão quando ele voltava da derrota infligida aos reis e abençoou-o; 2Abraão concedeu-lhe o dízimo de todas as coisas; o seu nome significa, em primeiro lugar, rei de justiça, e depois, «rei de Salém», que quer dizer «rei de paz». 3Sem pai, sem mãe, sem genealogia, sem princípio de dias nem fim de vida, assemelha-se ao Filho de Deus e permanece sacerdote para sempre. 15E isto é ainda mais evidente, quando aparece outro sacerdote à semelhança de Melquisedec, 16instituído, não segundo o mandamento de uma lei humana, mas segundo o poder de uma vida indestrutível. 17Na verdade, dele se testemunha:Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec.

    No texto da Carta aos Hebreus, que hoje escutamos, entra em cena Melquisedec, figura misteriosa de que o autor sagrado se serve para provar e realçar, não só o sacerdócio de Cristo, mas também a superioridade deste relativamente ao sacerdócio levítico. Melquisedec significa «rei de justiça», qualificado pelo autor como «sacerdote do Deus Altíssimo». Enquanto as ascendências de outras figuras do Antigo Testamento são minuciosamente descritas, Melquisedec diz-se que é «Sem pai, sem mãe, sem genealogia, sem princípio de dias nem fim de vida» (v. 3). Este «rei de paz» (v. 2), superior ao próprio Abraão, que abençoe as oferendas de pão e de vinho, no Vale do Rei, e a quem Abraão paga os dízimos, é figura de Jesus, único sumo e santo sacerdote, não em virtude de uma descendência carnal, mas por ser Filho de Deus. O seu sacerdócio torna-O eterno e único mediador entre Deus e os homens. Verdadeiro Deus e verdadeiro homem, fala ao Pai usando palavras humanas e é aceite porque é o único santo e imaculado. O seu sacerdócio e o seu culto levam simultaneamente à plenitude a realeza de David - a cuja descendência Jesus pertence segundo a carne - e o sacerdócio do Antigo Testamento representado por Melquisedec. Agora, o povo de Deus pode aceder ao culto novo e perfeito inaugurado por Jesus no seu corpo imolado na cruz e à nova lei, o Evangelho.

    Evangelho: Marcos 3, 1-6

    Naquele tempo, 1Jesus entrou de novo na sinagoga, onde estava um homem que tinha uma das mãos paralisada. 2Ora eles observavam-no, para ver se iria curá-lo ao sábado, a fim de o poderem acusar. 3Jesus disse ao homem da mão paralisada: «Levanta-te e vem para o meio.» 4E a eles perguntou: «É permitido ao sábado fazer bem ou fazer mal, salvar uma vida ou matá-la?» Eles ficaram calados. 5Então, olhando-os com indignação e magoado com a dureza dos seus corações, disse ao homem: «Estende a mão.» Estendeu-a, e a mão ficou curada. 6Assim que saíram, os fariseus reuniram-se com os partidários de Herodes para deliberar como haviam de matar Jesus.

    Jesus entra na sinagoga em dia de sábado. Há um homem doente que O espera. Mas também há quem esteja atento para apanhar Jesus em qualquer falha contra a lei. Jesus dá-se conta da hostilidade mais ou menos disfarçada dos seus adversários e enfrenta-os decididamente. Põe no centro o homem que tinha a mão paralisada e interroga os adversários sobre a liceidade de fazer ou não fazer o bem em dia de sábado. Responde com um silêncio eloquente, que causa tristeza a Jesus. É a quinta e última polémica de Jesus com os seus adversários, em que acaba por reafirmar o Evangelho transcende toda a «ordem estabelecida», e que ela deve ser relativizada quando não concorrer para o bem do homem. O clima está cada vez mais carregado. Mas o Senhor não se deixa intimidar. Continua fielmente o seu serviço profético, insistindo numa instituição sabática que sirva o homem. É um drama que se irá repetir muitas vezes até ao fim. Fazer bem ao homem, exigirá a Deus o preço da eliminação do seu Filho.

    Meditatio

    O autor da Carta aos Hebreus, com admiração, vê na misteriosa figura de Melquisedec uma imagem de Cristo ressuscitado, que não tem pai nem mãe terrenos. A novidade de vida da ressurreição não tem origem terrestre. Jesus ressuscitado é Filho de Deus, também na sua natureza humana, e permanece assim sacerdote eterno. Esta descrição mostra a atitude dos primeiros cristãos na leitura do Antigo Testamento. Com alegria, por vezes com espanto, viam nele delinear-se a figura de Cristo, e enchiam-se de júbilo ao verificar que Deus tinha preparado a revelação de Cristo desde há muito tempo. «O Novo Testamento está escondido no Antigo», dirá Santo Agostinho, e Cristo, ao chegar, ilumina todo o Antigo Testamento. O que parecia misterioso e quase inexplicável torna-se claro porque se revela uma profecia de Cristo.
    Também nós somos chamados a ler o Antigo Testamento a esta luz cristã e a encontrar nele uma fonte de grande consolação espiritual, porque se aprofunda a nossa fé e nos damos conta com alegria que Deus, desde sempre, dispôs todas as coisas e todos os acontecimentos para glorificação do seu Filho. Ele veio para ser o santo e sumo sacerdote, e para nos dar a sua maravilhosa dignidade. Uma vez consumado na cruz o seu santo sacrifício, todo o homem pode oferecer ao Pai, por meio d´Ele e participando no seu sacerdócio, o único e perfeito sacrifício. Cada um reencontrou a inesperada dignidade de falar com Deus, de Lhe oferecer toda a Criação e, mais ainda, de ser aos seus olhos uma imagem viva do seu Filho muito amado no qual pôs todo o seu enlevo.
    No evangelho contemplamos a vitória do Filho de Deus feito homem sobre a paralisia de um homem e sobre a interpretação opressiva da Lei pelos fariseus. Os seus adversários, indiferentes ao significado transcendente do milagre, só queriam surpreendê-lo a fazer uma cura ao sábado para O acusarem de violar o dia santificado. Mas Jesus indignado e entristecido com aquela cegueira moral, continua a cumprir o seu programa messiânico, obediente e fiel ao Pai, atento e solícito para com os homens.

    Oratio

    Obrigado, Senhor, porque vieste reabrir o caminho que conduz a Deus. Obrigado por Te compadeceres da paralisia da nossa mão e, sobretudo, da paralisia do nosso coração. Pões-nos sempre no centro das tuas atenções e curas-nos as mãos para as podermos abrir e acolher o dom que és Tu mesmo, tornado por amor pão e vinho para a nossa fome e a nossa sede. Com o teu exemplo, ensinas-nos a não fecharmos as mãos para guardarmos só para nós os teus dons. Pelo teu Espírito de amor, fazes-nos entrar no movimento de amor oblativo, que inauguraste no mundo com a tua Encarnação, ensinas-nos que a gratuitidade e a oferta nos tornam livres e felizes. Obrigado, Senhor, nos curares a paralisia das nossas mãos e do nosso coração. Que Contigo e por Ti, sejamos oblação santa ao Pai, em favor dos irmãos. Amen.

    Contemplatio

    O sacerdócio da antiga lei
    era muito imperfeito. Deus jurou estabelecer um sacerdócio novo, segundo a ordem de Melquisedec. Jesus é o único sacerdote, permanece eternamente, possui um sacerdócio eterno, e está sempre pronto para salvar os que se aproximam de Deus pelo seu intermédio, estando sempre vivo para interceder por nós. É o pontífice santo que nos faltava, o pontífice inocente, separado dos pecadores e mais elevado que os céus, que não é obrigado, como os outros, a oferecer todos os dias vítimas pelos seus próprios pecados (Heb 7). Ele é sacerdote e é vítima de propiciação. Ofereceu-se por nós (1Jo 2,2). Vem a uma alma sacerdotal. «Vós sois, diz-nos S. Pedro, uma ordem de santos sacerdotes, destinados a oferecer a Deus hóstias espirituais que lhe sejam agradáveis por Jesus Cristo. O Coração de Jesus é o altar dos vossos sacrifícios, vós sois a raça escolhida, a ordem dos sacerdotes reis, a nação santa, o povo conquistado, a fim de que publiqueis as grandezas daquele que vos chamou das trevas à sua grande luz» (1Pd 2). Irei, portanto, diante do tabernáculo, Jesus aí aceitará a consagração do meu coração, para dele fazer um coração verdadeiramente sacerdotal. Aí oferecerei hóstias de louvor, de amor, de impetração, de reparação. Apresentá-las-ei a Deus sobre o Coração de Jesus que é o altar por excelência. Só ele pode oferecer ao seu Pai hóstias que sejam agradáveis, porque ele é o único sacerdote eterno. (Leão Dehon, OSP 3, p. 646s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «De todos Te compadeces, ó Senhor, que amas a vida!» (Sb 23, 26).

  • Tempo Comum - Anos Ímpares - II Semana - Quinta-feira

    Tempo Comum - Anos Ímpares - II Semana - Quinta-feira


    19 de Janeiro, 2023

    Tempo Comum - Anos Ímpares - II Semana - Quinta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Hebreus 7, 25-8, 6

    Irmãos, 25Jesus pode salvar de um modo definitivo, os que por meio dele se aproximam de Deus, pois Ele está vivo para sempre, a fim de interceder por eles. 26Tal é, com efeito, o Sumo Sacerdote que nos convinha: santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores e elevado acima dos céus, 27que não tem necessidade, como os outros sacerdotes, de oferecer vítimas todos os dias, primeiro pelos seus próprios pecados e depois pelos do povo, porque Ele o fez uma vez por todas, oferecendo-se a si mesmo. 28A Lei, com efeito, constitui sumos sacerdotes a homens sujeitos à debilidade; mas a palavra do juramento, posterior à Lei, constitui o Filho perfeito para sempre.
    1O ponto principal do que estamos a dizer é que temos um Sumo Sacerdote que se sentou nos céus à direita do trono da Majestade, 2como ministro do santuário e da verdadeira tenda, construída pelo Senhor e não pelo homem. 3Todo o Sumo Sacerdote é constituído para oferecer dons e sacrifícios; daí a necessidade de também ele ter algo para oferecer. 4Se Cristo estivesse na terra, nem sequer seria sacerdote, pois já existem aqueles que oferecem os dons segundo a Lei. 5Esses prestam um culto que é uma imagem e uma sombra das realidades celestes, como foi revelado a Moisés quando estava para construir a tenda. Foi-lhe dito: Presta atenção, faz tudo segundo o modelo que te foi mostrado no monte. 6Mas, de facto, ele obteve um ministério tanto mais elevado, quanto maior é a aliança de que é mediador, a qual foi estabelecida sobre melhores promessas.

    O autor da Carta aos Hebreus apresenta-nos Jesus como o Sumo sacerdote de que precisávamos, um Sumo sacerdote «santo, inocente, imaculado» (v. 26). Ao contrario dos sumos sacerdotes do Antigo Testamento, Ele não precisa de oferecer um sacrifício pelos seus pecados, antes de o oferecer pelos nossos, porque ofereceu a Si mesmo perfeitamente, completamente, de uma vez para sempre imolando-se na cruz. E chegámos ao ponto capital de tudo o que o autor vai dizendo: Jesus que assumiu plenamente a natureza humana, é e permanece eternamente o Filho sentado à direita do Pai, sempre vivo a interceder por nós. O que era apenas sombra e figura no Antigo Testamento foi perfeitamente realizado porque, em Jesus, Deus veio ao nosso encontro para nos aproximar d´Ele. Em Cristo, coincidem o oferente e a oferta, o sacerdote e a vítima, realizando uma mediação única e extraordinária entre Deus e o homem. Cristo ofereceu-Se a Si mesmo pelo sacrifício da entrega da sua vida, que teve lugar de uma vez para sempre.

    Evangelho: Marcos 3, 7-12

    Naquele tempo, 7Jesus retirou-se para o mar com os discípulos. Seguiu-o uma imensa multidão vinda da Galileia. E da Judeia, 8de Jerusalém, da Idumeia, de além-Jordão e das cercanias de Tiro e de Sídon, uma grande multidão veio ter com Ele, ao ouvir dizer o que Ele fazia. 9E disse aos discípulos que lhe aprontassem um barco, a fim de não ser molestado pela multidão, 10pois tinha curado muita gente e, por isso, os que sofriam de enfermidades caíam sobre Ele para lhe tocarem. 11Os espíritos malignos, ao vê-lo, prostravam-se diante dele e gritavam: «Tu és o Filho de Deus!» 12Ele, porém, proibia-lhes severamente que o dessem a conhecer.

    Nos textos escutados nos últimos dias, Jesus mostra que é inútil querer aproveitar as instituições judaicas para nelas infundir a novidade evangélica do reino de Deus. Então retira-se para o mar de Genesaré. A sua acção, que até aí se desenvolvera na sinagoga, ou perto dela, abria-se agora a horizontes mais vastos. Começa uma nova secção do evangelho de Marcos. A actividade de Jesus alarga-se e causa admiração nas multidões que O rodeiam com tal entusiasmo que põem em risco a sua integridade física. Jesus tem de pedir aos discípulos que Lhe aprontem um barco para se precaver. Mas o entusiasmo das multidões é ainda superficial, porque não leva à decisão da fé (6, 6). São pessoas que sofrem de várias doenças e que se lançam sobre Ele (cf. v. 9) como que para Lhe arrancar uma força benéfica que os cure. Os demónios aproveitam a situação para encenar uma grande propaganda sobre Jesus: «Tu és o Filho de Deus» (v. 11). Dizem a verdade, mas de um modo que a tornam vã. Querem antecipar a glória de Jesus para tentar evitar a cruz que a torna verdadeira. Mas Jesus proíbe-os de falarem d´Ele. Jesus não é um curandeiro, mas o enviado do Pai que narra o que Deus quer dar a conhecer de Si mesmo, e o que realmente pede aos homens, inclusivamente nos seus actos religiosos.

    Meditatio

    Marcos descreve a multidão que precipitadamente envolve Jesus, levando-O a entrar numa barca para não ser molestado. O Senhor atrai pela sua bondade, pelo seu poder, gente da Galileia, da Judeia, de Jerusalém, mas também de regiões mais afastadas, como a Idumeia, a Transjordânia, Tiro e Sidon, terras pagãs. Vinham para obter a cura dos seus doentes e para alcançar a paz de Deus para os seus ansiosos corações.
    A Carta aos Hebreus abre outra perspectiva a quem se sente aflito pelas doenças e outras provações da vida. Falando de Jesus, afirma: «Tal é o Sumo Sacerdote que nos convinha: santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores e elevado acima dos céus» (v. 26). O Filho de Deus fez-se homem para realizar um acto único, perfeito, agradável ao Pai, oferecendo-Se a Si mesmo na fraqueza, na morte. Toda a sua existência, que culminou no dom de Si mesmo na cruz, tem a ver connosco, com a nossa vida, com as nossas canseiras e sofrimentos. Não vale a pena vivê-los afogados em vãos lamentos, em mal reprimida insatisfação. É melhor lançá-los generosamente no tesouro do seu generoso sofrer por amor, naquele acto perene que o torna sempre vivo a interceder por nós. Não há efectivamente ocupação ou adversidade que possa impedir-nos de lançar o olhar do nosso coração para a sua cruz e encher-nos da força de um acto de renovada adesão à vontade do Pai. Só assim saborearemos a doçura de ser curados das chagas do nosso cansaço para reencontramos a alegria de sermos filhos no Filho.
    O texto de Marcos termina com os demónios a quererem revelar, antes do tempo, a identidade de Jesus e a sua grandeza. O Senhor opõe-se severamente porque sabe que a sua obra exige o sacrifício de Si mesmo, e que a sua dignidade de Filho de Deus só poderá ser verdadeiramente revelada na cruz. É o que também nos diz a primeira leitura: «Ele não tem necessidade, como os outros sacerdotes, de oferecer vítimas todos os dias, primeiro pelos seus próprios pecados e depois pelos do povo, porque Ele o fez uma vez por todas, oferecendo-se a si mesmo» (v. 27). Cristo realizou o culto perfeito, que não é apenas um símbolo como o antigo culto dos sacerdotes hebreus, que apenas era «uma imagem e uma sombra das realidades celestes» (v. 5). Ele recebeu um ministério mais elevado, que realiza de verdade o projecto de comunhão com o sacrifício de Si mesmo.
    Na oração sacerdotal
    , Jesus mostra-se consciente da obra que tem para realizar «santificando a Si mesmo», isto é, sacrificando a sua vida. O Filho de Deus não assumiu a natureza humana só para curar as nossas doenças. Assumiu-a, sobretudo, para transformar a nossa natureza e restabelecer a relação entre Deus e nós. Como escreve o autor da Carta aos Hebreus, Cristo recebeu «um ministério tanto mais elevado, quanto maior é a aliança de que é mediador, a qual foi estabelecida sobre melhores promessas» (Heb 8, 6).
    Em cada missa, havemos de aproximar-nos de Cristo com a pressa impaciente das multidões da Palestina e das regiões próximas, não só para que nos cure, mas para que nos ajude a descobrir um novo sentido para os nossos sofrimentos e, sobretudo, a uni-los aos seus para glória e alegria do Pai e salvação do mundo. O seu sacrifício, oferecido uma só vez, está à nossa disposição, para nos curar de todos os males, mas também para nos dar a graça necessária para transformar a nossa vida, com Ele, n´Ele e por Ele, oferta viva, santa e agradável.

    Oratio

    Senhor, Jesus Cristo, sacerdote da nova e eterna aliança, que consagraste o pão e o vinho como sinal da tua oblação, ensina-nos a oferecer contigo o sacrifício, associa-nos à tua oferenda agradável, e torna-nos participantes da tua Ressurreição. Fortalecidos com o teu pão, queremos caminhar para Ti, e trabalhar pela unidade do teu Corpo, na paz e na concórdia. Tu, que nos chamas a comungar o teu Corpo e Sangue, entra em nossa casa e fica connosco para sempre. Amen.

    Contemplatio

    Uma primeira aplicação desta conformidade à vontade divina, é fazermos as nossas acções comuns em união com o Sagrado Coração. Santa Gertrudes teve esta luz, que todas as obras feitas em espírito de fé são absorvidas pelos membros do corpo sagrado de Nosso Senhor para serem purificadas e enobrecidas, depois são apresentadas por Nosso Senhor à Santíssima Trindade. Mas as obras feitas por amor e unicamente pela glória de Deus, são absorvidas pelo divino Coração de Jesus, que as torna perfeitas para as apresentar ao seu Pai. Quanto é então vantajoso fazer todas as nossas obras em união com o divino Coração! A vida do Sagrado Coração é-lhes comunicada. As acções mais comuns são assim enobrecidas e divinizadas: «Quer comais, quer bebais, quer façais outra coisa qualquer, diz S. Paulo, fazei tudo no nome de Jesus Cristo». Nosso Senhor ensinou assim a Santa Gertrudes a santificar as suas refeições, o seu trabalho, o seu repouso e o seu sono unindo-as às intenções do divino Coração. Tomemos também este hábito tão salutar. (Leão Dehon, OSP 4, p. 446).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Cristo está vivo para sempre, a fim de interceder por eles». (Hebr 7, 25).

  • Tempo Comum - Anos Ímpares - II Semana - Sexta-feira

    Tempo Comum - Anos Ímpares - II Semana - Sexta-feira


    20 de Janeiro, 2023

    Tempo Comum - Anos Ímpares - II Semana - Sexta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Hebreus 8, 6-13

    Irmãos: 6Jesus obteve um ministério tanto mais elevado, quanto maior é a aliança de que é mediador, a qual foi estabelecida sobre melhores promessas. 7Se, na verdade, a primeira fosse perfeita, não haveria lugar para a segunda. 8De facto, censurando-os, diz: Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que farei com a casa de Israel e com a casa de Judá uma aliança nova, 9não como a aliança que fiz com os seus pais no dia em que os tomei pela mão, para os fazer sair do Egipto; porque eles não permaneceram na minha aliança, também Eu me desinteressei deles - diz o Senhor. 10Esta é a aliança que estabelecerei com a casa de Israel, depois daqueles dias. Diz o Senhor: Porei as minhas leis na sua mente e as imprimirei nos seus corações; serei o seu Deus e eles serão o meu povo. 11Ninguém ensinará o seu próximo nem o seu irmão, dizendo: 'Conhece o Senhor'; porque todos me conhecerão, do mais pequeno ao maior, 12pois perdoarei as suas iniquidades e não mais me lembrarei dos seus pecados. 13Ao falar de uma aliança nova, Deus declara antiquada a primeira; ora, o que se torna antiquado e envelhece está prestes a desaparecer.

    Depois de centrar a atenção no sacerdócio de Cristo, o autor da Carta aos Hebreus passa para o tema da Nova Aliança. Um sacerdócio novo implica uma lei nova. Por sua vez, uma lei nova implica uma aliança nova, uma aliança que substitua a antiga. Jesus é o mediador dessa nova aliança: «este cálice é a nova Aliança no meu sangue, que vai ser derramado por vós» (Lc 22, 20), disse o Senhor na última Ceia. Em cada eucaristia, no momento da consagração, revivemos admirados e comovidos o mistério da «Aliança nova» (v. 13): «Este é o cálice do meu Sangue, do Sangue da nova e eterna aliança, que será derramado por vós e por todos, para remissão dos pecados». O autor detém-se a descrever a «aliança nova» servindo-se de Jr 31. Com a «aliança nova», Deus ultrapassa a Aliança antiga, que fora selada por ritos exteriores. O povo quebrou essa aliança. Mas Deus náo se rendeu e estipulou outra aliança destinada a penetrar no íntimo do homem, na sua mente e no seu coração. Deus nunca desiste de Se dar a conhecer ao homem nem de ser por ele amado. Na Aliança nova, finalmente, cada um «conhecerá», isto é amará Aquele que é misericórdia e perdão (Ex 34, 6s.) A cruz do seu Filho muito amado, Jesus, será o lugar da suprema manifestação de Deus.

    Evangelho: Marcos 3, 13-19

    Naquele tempo, 13Jesus subiu a um monte, chamou os que Ele queria e foram ter com Ele. 14Estabeleceu doze para estarem com Ele e para os enviar a pregar, 15com o poder de expulsar demónios. 16Estabeleceu estes doze: Simão, ao qual pôs o nome de Pedro; 17Tiago, filho de Zebedeu, e João, irmão de Tiago, aos quais deu o nome de Boanerges, isto é, filhos do trovão; 18André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão, o Cananeu, 19e Judas Iscariotes, que o entregou.

    Deus não desiste de ligar mais intimamente a Si a humanidade, como já vimos na primeira leitura. Por meio de Jesus, escolhe alguns que experimentem mais profundamente o seu amor e se tornem testemunhas, arautos na nova Aliança junto dos irmãos. É para isso que Jesus forma a sua nova família, um grupo de pessoas dispostas a acolhê-lo, que também devem converter-se. Falar de família, é acentuar a relação pessoal e afectiva que deve existir entre Jesus e os seus discípulos, que são o germe do novo Israel, os fundamentos da futura Igreja.
    Tudo acontece sobre um «monte». Os montes são lugares propícios para as revelações de Deus (cf. 6, 43; 9, 2). As grandes decisões de Deus sobre o seu povo foram tomadas sobre os montes (cf. Ex 1, 20; 24, 12; Num 27, 12; Dt 1, 6-8, etc). Aqui é Cristo que chama, escolhe e constitui a comunidade. Marcos não diria isto, se não acreditasse que Jesus era Deus. O grupo é convocado para «ir ter com Ele» (v. 13 e, em primeiro lugar, para «estar com Ele» (v. 14). O novo povo de Deus constitui-se à volta de Jesus, que se apresenta como referência absoluta, assumindo uma função que pertencia à Lei. Isto causava escândalo aos Judeus. Os discípulos recebem os próprios poderes de Jesus, actuando com a força do Evangelho. A vocação implica a missão de testemunhar o amor de Deus pelos homens.

    Meditatio

    Na primeira leitura, escutamos o belo texto de Jeremias sobre a «aliança nova» (v. 8), que trará uma viragem na relação dos homens com Deus. A «aliança nova» não será «como a aliança que fiz com os seus pais no dia em que os tomei pela mão, para os fazer sair do Egipto» (v. 9), diz o Senhor. A primeira aliança ficava pelo exterior, pela observância da Lei dada por Deus. Mas, sendo exterior, a Lei tornava-se, sobretudo, um obstáculo para muitos, porque, quando uma lei é imposta, a primeira reacção do homem é opor-se a ela. Os hebreus veneravam a Lei, mas poucos a observavam de verdade. Aliás, o profeta anuncia a aliança nova num tempo em que, por causa das graves violações da Lei, Deus castigara severamente o seu povo com a destruição do Templo e com o exílio em Babilónia. Mas é exactamente nesse momento dramático que Deus surpreende com a promessa de uma aliança nova e de uma Lei, não já escrita em tábuas de pedra, mas nas mentes e nos corações: «Porei as minhas leis na sua mente e as imprimirei nos seus corações» (v. 10). Isto quer dizer que os homens estarão intimamente de acordo com Deus, amarão a sua vontade, terão desejo de cumpri-la, terão a mesma vontade e os mesmos desejos de Deus. É a aliança instituída por Jesus com o seu sacrifício. Ele mesmo se torna a nossa lei na caridade universal. Afirmamo-lo na eucaristia: «Este é o cálice do meu sangue, o sangue da nova e eterna aliança». Esta aliança definitiva e perfeita, une-nos definitivamente com Deus e une-nos entre nós. É bom lembrarmos isto, numa época do ano em que as igrejas cristãs rezam pela unidade.
    O evangelho apresenta-nos outra condição para a unidade: a eleição dos Doze, a instituição que exprime a pluralidade na unidade, a que se deve aderir para estar unidos a Deus. As divisões na igreja têm origem na falta de fé e de adesão à autoridade. Os pastores da Igreja são certamente homens fracos e imperfeitos. Mas Jesus constituiu-os para conservarem a unidade. Por há que rodeá-los de afecto e compreensão. Cristo Jesus está com eles!
    «Que todos sejam um só. Como Tu, ó Pai, estás em Mim, e Eu em Ti, que também eles estejam em Nós, para que o mundo creia que Tu me enviaste», rezava Jesus (Jo 17, 21). Notemos a insistência do Senhor, não só sobre a unidade no amor, mas também so
    bre a dimensão missionária da comunidade cristã unida no amor. O mesmo se pode dizer da comunidade religiosa. «Ut sint unum» é um dos motes caros ao Pe. Dehon.

    Oratio

    Pai santo, nós Te bendizemos, por nos teres dado o teu Filho Jesus. Ele levou até ao extremo o seu amor por nós e entregou a sua vida para nos reunir na tua família. Escuta mais uma vez a sua oração que, pela nossa boca, se ergue para Ti: «Pai, guarda-os no teu amor de modo que sejam um só, como Tu estás em Mim e Eu em Ti». Aceita a oblação da nossa vida fraterna, as alegrias e os sofrimentos que partilhamos, o compromisso de vivermos reconciliados. Anima com o teu Espírito as nossas comunidades, para que permaneçam no teu amor e experimentem a plenitude da tua alegria. Amen.

    Contemplatio

    O cenáculo e o calvário eram o ponto final dos sacrifícios da antiga lei. Jesus era o verdadeiro cordeiro, sacrificado de uma maneira mística no cenáculo e de uma maneira sangrenta no calvário. Dos dois lados Jesus oferece o seu corpo e o seu sangue: «Eis o meu corpo que é entregue por vós, diz no cenáculo; eis o meu sangue que será derramado por vós». É o sacrifício novo, é a oblação pura que será oferecida por toda a parte segundo a profecia de Malaquias. Todos os caracteres dos antigos sacrifícios encontram-se aí reunidos. É o mais perfeito dos holocaustos, o único capaz de dar a Deus uma glória infinita, porque um Deus nele se humilha até tomar as aparências mais humildes. É um sacrifício eucarístico, onde Jesus Cristo mesmo se encarrega de pagar a dívida do nosso reconhecimento. É um sacrifício propiciatório: o Salvador tomou ele mesmo os nossos pecados no seu corpo, para que morrêssemos para o pecado e vivêssemos na justiça (1Pd 2, 24). É um sacrifício impetratório: Jesus é o nosso advogado junto de seu Pai (Jo 2, 1). É uma fonte infinita de graças. Os sacrifícios da antiga lei não lhe podem ser comparados. Deus dizia no Sl 49: Não tenho necessidade dos vossos gemidos nem dos vossos carneiros, é um sacrifício de louvor, um sacrifício espiritual que desejo: e no Sl 39: não quero mais os vossos holocaustos e as vossas oferendas. E o Verbo de Deus respondeu ao seu Pai: Eis-me aqui, venho oferecer o meu corpo e o meu sangue como um sacrifício voluntário que substituirá todos os da antiga lei. (Leão Dehon, OSP 4, p. 241s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Que todos sejam um só» (Jo 17, 21)

  • Tempo Comum - Anos Ímpares - II Semana - Sábado

    Tempo Comum - Anos Ímpares - II Semana - Sábado


    21 de Janeiro, 2023

    Tempo Comum - Anos Ímpares - II Semana - Sábado

    Lectio

    Primeira leitura: Hebreus 9,2-3.11-14

    Irmãos: 2Na primeira aliança, tinha-se construído uma tenda, a primeira, chamada o Santo, na qual se encontrava o candelabro e a mesa dos pães da oferenda. 3Por detrás do segundo véu estava a tenda chamada Santo dos Santos. 11Mas, Cristo veio como Sumo Sacerdote dos bens futuros, através de uma tenda maior e mais perfeita, que não é feita por mão humana, isto é, não pertence a este mundo criado. 12Entrou uma só vez no Santuário, não com o sangue de carneiros ou de vitelos, mas com o seu próprio sangue, tendo obtido uma redenção eterna. 13Se, de facto, o sangue dos carneiros e dos touros e a cinza da vitela com que se aspergem os impuros, os santifica, purificando-os no corpo, 14quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo a Deus, sem mácula, purificará a nossa consciência das obras mortas, para que prestemos culto ao Deus vivo!

    O autor da Carta aos Hebreus continua a falar do sacerdócio de Cristo, da sua capacidade de ser intermediário entre Deus e os homens, e entre os homens e Deus. A mediação de Cristo não se realiza como no Antigo Testamento, ou seja, penetrando num lugar material, no Santo dos Santos, onde o Sumo Sacerdote podia entrar apenas uma vez por ano. Com Jesus, tudo muda: o culto exterior torna-se interior porque Cristo entra uma vez para sempre no santuário do céu oferecendo o seu Corpo santíssimo como oferenda viva e agradável a Deus, alcançando-nos, pelo seu Sangue, a salvação. Esse Sangue é o preço do sacrifício perfeito em que, também nós, participamos. Animado pelo Espírito, Jesus ofereceu-Se ao Pai, dando-nos a possibilidade de também nós entrarmos na festa do dom recíproco entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. O novo culto não é um conjunto de ritos exteriores, mas um movimento festivo de honra prestada e recebida entre as Pessoas da Santíssima Trindade. Em Jesus, realizou-se o que era impossível aos sacerdotes da antiga aliança. Por isso, Jesus Cristo é chamado pontífice dos bens futuros (2, 5), da cidade futura (13, 14), da herança eterna prometida (9, 15).

    Evangelho: Marcos 3, 20-21

    Naquele temo, 20Jesus chegou a casa com os seus discípulos. E de novo a multidão acorreu, de tal maneira que nem podiam comer. 21E quando os seus familiares ouviram isto, saíram a ter mão nele, pois diziam: «Está fora de si!»

    A presença e a actividade de Jesus adquirem notável ressonância. Mas essa ressonância não leva necessariamente à fé. Jesus tem de enfrentar as primeiras recusas, a começar pela dos seus familiares que decidem tomar medidas drásticas contra os embaraços que lhes estava a causar, pois diziam: «Está fora de si!» (v. 21). A consanguinidade não é suficiente para criar sintonia com o Evangelho. Jesus vive o dom total de Si mesmo para com todos. Os seus familiares, em vez de O apoiarem e seguirem, querem impor-Lhe bom senso, prudência humana. No fundo estamos perante a mesma questão de sempre: ou seguir Jesus, doando-nos sem cálculos nem reservas, ou tentar tomar conta d´Ele de um qualquer modo, como fizeram os seus inimigos, para O vergarmos aos nossos interesses mesquinhos.

    Meditatio

    A Carta aos Hebreus fala-nos do dom total de Si mesmo feito por Jesus Cristo. Jesus, animado por um «Espírito eterno, ofereceu-se a si mesmo a Deus, sem mácula» (v. 14). Cristo realizou a oblação perfeita de Si mesmo, uma oblação bem diferente das oblações do culto antigo, antes referido. Jesus entrou no santuário, «não com o sangue de carneiros ou de vitelos, mas com o seu próprio sangue» (v. 12). Oferecer coisas externas é relativamente fácil; oferecer a si mesmo é mais difícil. Jesus mostrou-nos este caminho: não ofertas externas, mas ofertas pessoais. Oferecer a si mesmo, pôr-se à disposição do amor de Deus, para o serviço dos irmãos e das irmãs, até ao ponto de pôr em perigo a própria vida, se for necessário!
    Jesus pôde fazer esta oferta pessoal perfeita porque não tinha qualquer mancha, era imaculado, perfeitamente íntegro. Por outro lado, pôde oferecer-Se a Si mesmo porque tinha uma generosidade inspirada pelo Espírito Santo: «pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo a Deus» (v. 14). A sua oblação transformou o sangue derramado em sangue de aliança, em sangue que purifica e santifica. O sangue de Cristo, graças a esta oblação, «purificará a nossa consciência das obras mortas» e pôr-nos-á em condições de «prestarmos culto ao Deus vivo!»
    Na verdade, Jesus estava «fora de si» (v. 21). S. Paulo fala-nos da «loucura da cruz» (1 Cor 1, 18), uma loucura de amor, uma loucura fecunda. Depois de Jesus, quantos seus discípulos foram acusados de loucos por desprezarem a sabedoria deste mundo e se entregarem completamente à sabedoria da cruz, oferecendo-se inteiramente a Deus e ao serviço dos irmãos. Pensemos em Francisco de Assis, em João de Deus, em Leão Dehon. A loucura de Deus, como diz Paulo, é mais sábia que a sabedoria racional dos homens, porque é uma loucura que vem do amor e que, portanto, salva.
    Como Cristo «se deu totalmente ao Pai» (Cst 35) assim também «Se entregou totalmente... aos homens» (Cst 35). O que o Senhor rezou pelos apóstolos, também o reza por cada um de nós: «Por eles Me consagro (sacrifico, ofereço) a Mim mesmo, para que também eles sejam consagrados na verdade» (Jo 17, 19). O Pai, em Cristo, purificando-nos com o Seu sangue, habilitou-nos para o serviço do Deus vivo, para uma verdadeira vida de oblação (cf. Heb 9, 14), «ao Pai pelos irmãos» (Cst 6). «Essa vida leva-nos a procurar, cada vez mais fielmente, com o Senhor pobre e obediente, a vontade do Pai a nosso respeito e a respeito do mundo e torna-nos atentos aos apelos que o Pai nos dirige através dos acontecimentos pequenos e grandes e nas expectativas e realizações humanas» (Cst 35).

    Oratio

    Senhor Jesus Cristo, que concedeste ao Pe. Dehon a graça e a missão de enriquecer a Igreja com um Instituto religioso apostólico que vivesse da sua inspiração evangélica, ajuda-nos a fazer frutificar esse carisma, segundo as exigências da mesma Igreja e do mundo. Dá-nos o teu Espírito Santo para unirmos a nossa vida religiosa e apostólica à tua oblação reparadora ao Pai pelos homens. Que, pela nossa solidariedade contigo, a comunidade humana seja santificada e se torne uma oblação agradável a Deus. Abençoa-nos e abençoa todas as nossas iniciativas e trabalhos. Atentos aos sinais dos tempos, e em comunhão com a vida da Igreja, queremos contribuir para instaurar no mundo o reino da justiça e da caridade cristãs. Amen.

    Contemplatio

    É pelo seu Coração que Jesus exerce principalmente o seu sacerdócio. O salmo no-lo diz: Deus escreveu no Coração de Jesus a lei do sacrifício novo. S. Paulo repete-o: Pela oblaçã
    o de si mesmo, Jesus santificou-nos (Heb 10, 14). É o amor do Coração de Jesus pelo seu Pai e por nós que inspira e dirige a sua oblação e a sua imolação. A Igreja no-lo recorda na santa liturgia: no hino do tempo pascal, Ad regias agni dapes, mostra-nos o amor-sacerdote, ou o Coração sacerdotal de Jesus oferecendo o sacrifício redentor: «É a caridade, é o amor-sacerdote, que derramou o sangue e imolou a carne do divino cordeiro sobre a cruz». «Como amava os seus, Jesus amou-os até ao fim» (Jo13). Depois de uma vida toda de sacrifício, entrega-se aos perseguidores e aos seus carrascos que o crucificam. «É, diz, para que o mundo seja testemunha do amor que tenho pelo meu Pai» (Jo 14). «Amou-me, diz S. Paulo, e entregou-se por mim» (Gl 2). (Leão Dehon, OSP 3, p. 687).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Pelo Espírito eterno, Cristo ofereceu-se a si mesmo a Deus» (Heb 9, 14)»

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