Liturgia

Week of Fev 18th

  • Segunda-feira - 1ª Semana da Quaresma

    Segunda-feira - 1ª Semana da Quaresma

    19 de Fevereiro, 2024

    Lectio

    Primeira leitura: Levítico 19, 1-2.11-18

    o Senhor dirigiu-se a Moisés, dizendo: 2*«Fala a toda a comunidade dos filhos de Israel e diz-lhes: sede santos, porque Eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo.

    11Não furtareis, não mentireis, nem enganareis em detrimento de um compatriota. 12Não jurareis falso, em meu nome; desse modo profanareis o nome do vosso Deus. Eu sou o Senhor. 13Não roubarás nem furtarás nada ao teu próximo; o salário do jornaleiro não passará a noite em teu poder até à manhã seguinte. 14Não insultarás um surdo, não colocarás tropeços diante de um cego. Teme o teu Deus. Eu sou o Senhor: 15Não cometerás injustiças nos julgamentos. Não prejudicarás o pobre, nem serás complacente para com o poderoso. Julgarás o teu compatriota com imparcialidade. 16Não semearás o mal no meio do teu povo. Não peças o sangue do teu próximo. Eu sou o Senhor.17*Não odiarás o teu próximo no teu coração; mas repreende o teu compatriota para não caíres em pecado por causa dele. 18Não te vingarás nem guardarás rancor aos filhos do teu povo, mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor

    A primeira leitura, que pertence ao chamado «Código de Santidade» que encontramos no Levítico, apresenta a toda a comunidade de Israel o mandamento da santidade. Mandamento motivado pela santidade de Deus (v. 2). Deus é o Totalmente Outro, radicalmente diferente do que é o homem. Mas quere-o participante da sua santidade. Depois deste mandamento, seguem algumas normas de moral pessoal e social. O respeito pela santidade de Deus deve inspirar o respeito pelo próximo, particularmente pelos mais fracos e os deficientes (v. 14). Às exortações negativas: «Não fareis isto ou aquilo ... », seguem exortações prepositivas destinadas a construir uma sociedade humana mais fraterna: «amarás o teu próximo como a ti mesmos (v. 18b). O amor pelos outros, fundamentado em Deus, edifica a comunidade humana na santidade.

    Evangelho: Mateus 25, 31-46

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 31 *«Quando o Filho do Homem vier na sua glória, acompanhado por todos os seus anjos, há-de sentar-se no seu trono de glória. 32*Perante Ele, vão reunir-se todos os povos e Ele separará as pessoas umas das outras, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. 33,,4 sua direita porá as ovelhas e à sua esquerda, os cabritos. 340 Rei dirá, então, aos da sua direita: 'Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. 35porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, 36estava nu e destes-me que vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo.' 37Então, os justos vão responder-lhe: 'Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? 38Quando te vimos peregrino e te recolhemos, ou nu e te vestimos? 39E quando te vimos doente ou na prisão, e fomos visitar-te?' 40*E o Rei vai dizer-lhes, em resposta: 'Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes.' 41Em seguida dirá aos da esquerda: 'Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, que está preparado para o diabo e para os seus anjos! 42porque tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, 43era peregrino e não me recolhestes, estava nu e não me vestistes, doente e na prisão e não fostes visitar-me.' 44Por sua ve-4 eles perguntarão: 'Quando foi que te vimos com fome, ou com sede, ou peregrino, ou nu, ou doente, ou na prisão, e não te socorremos?' 45E1e responderá, então: 'Em verdade vos digo: Sempre que deixastes de fazer isto a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer.' 46*Estes irão para o suplício eterno, e os justos, para a vida eterna.»

    o texto de Mateus está na linha da tradição apocalíptica bíblica e judaica (cf. Daniel .. ). Trata-se de uma revelação relativa às coisas últimas, ao juízo universal. Nela aparece o Filho de homem, figura simultaneamente humana e celeste e que tem um papel fundamental na instauração do reino de Deus e na recondução dos eleitos para Deus. Jesus identifica-se com esta personagem gloriosa. Ele virá encerrar a história, e assumir a realeza que foi escondida no tempo.

    Tal como os pastores reuniam, ao cair da noite, o rebanho e separavam os animais segundo a espécie, assim fará o Rei-Pastor com a humanidade reunida à sua volta Esta separação inclui um juízo. O critério da divisão será a caridade. Jesus mostra como esta figura real quer identificar-se com cada um dos irmãos mais pequenos. É no encontro com cada um dos homens que se joga o nosso destino eterno: usámos ou não usámos de misericórdia com eles. Será essa a única matéria em exame no juízo final.

    Meditatio

    Ao pronunciar o discurso que escutámos no evangelho, Jesus não quer descrever os acontecimentos finais em si mesmos. Quer, sim realçar o significado central da sua pessoa. Os homens serão julgados pela sua atitude diante da pessoa de Jesus, que Se identifica com os carenciados: Mas essa atitude verifica-se pela atitude diante dos outros, especialmente dos mais carenciados: foi «a mim mesmo o fizestes» ou «foi a mim que o deixastes de fazer». Por isso, nos incita à misericórdia, à caridade, para com eles. Esta identificação surpreende-nos. Esperávamos, talvez, que Deus ordenasse a caridade fraterna em nome da sua vontade, que quer o bem e a felicidade de todos. Mas esse era o modo de falar do Antigo Testamento: «Eu sou o SENHOR. Não odiarás ... Não te vingarás nem guardarás rancor aos filhos do teu povo, mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o SENHO/?» (Cf. Lev 19, 16-18). Apelando para a sua autoridade divina, manda afastar de nós todo o mal, manda praticar a justiça. É já caminho para a caridade. Trata-se de não fazer o mal a ninguém por respeito a Deus. No evangelho, Jesus já não fala da sua autoridade, mas da sua pessoa. Identifica-se com os pobres. Já não estamos diante da simples justiça. Estamos diante da caridade. Já não é suficiente não fazer o mal. É preciso fazer o bem, ir ao encontro dos carenciados. Os pecados de omissão também serão objecto de juízo.

    No n. 28 das nossas Constituições, lemos: «Sequiosos de intimidade com o Senhor, procuramos os sinais da sua presença na vida dos homens, onde actua o seu amor salvador. Partilhando as nossas alegrias e sofrimentos, Cristo identificou-Se com os pequenos e com os pobres, aos quais anuncia a Boa Nova». No mesmo número, as Constituições lembram as palavras do Senhor: "Em verdade vos digo: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a Mim que o fizestes" (Mt 25,40). "O Espírito do Senhor está sobre Mim ... enviou-Me para anunciar a Boa Nova aos pobres, a libertação a
    os cativos, a vista aos cegos, a liberdade aos oprimidos, a proclamar um ano de graça do Senhor"(lc 4,18-19).

    Ao orientar-nos para o apostolado dos "pequenos" e dos "pobres", as Constituições começam com uma experiência contemplativa: "Sequiosos de intimidade com Senhor". Haurindo o amor oblativo na sua fonte, que é Cristo, por meio da "oração de intimidade", reconhecemos (isto é, fazemos experiência de vida) e cremos (isto é, aderimos com todo o nosso ser) "ao amor que Deus tem por nós" (1 Jo 4, 16) e, se a experiência contemplativa for autêntica, sentimos a necessidade de irradiar este amor entre os irmãos, isto é, de viver "a oração perene" (ou caridade perene), de acordo com a exortação de Jesus: é preciso "rezar(= amar) sempre, sem desfalecer" (Lc 18, 1). É a passagem espontânea da contemplação à acção e o regresso da acção à contemplação, naquele único amor oblativo, que anima tanto a acção como a contemplação. É, pois, um desejo espontâneo de amor, que procura "os sinais da presença" do Senhor "na vida dos homens, onde actua o seu amor" (Cst 28).

    Nas "alegrias" e nas "angústias" de cada homem, por bom ou mau que seja, voltamos a ouvir a pergunta de Jesus: "A quem procurais?' (Jo 1, 38); "Quem procurais?" (Jo 18, 4.7), "A quem procuras?' (Jo 21, 15). Consciente ou inconscientemente a resposta é: "Queremos ver Jesus' (Jo 12, 21), porque é Ele o nosso amor, a nossa alegria, a nossa paz e também porque todo o anseio de redenção, de libertação, de bondade, de misericórdia, de perdão, de ajuda ... , até mesmo de remorso, é um querer ver Jesus. É Ele a redenção, a libertação, a bondade, a misericórdia, o perdão personificados.

    Onde esta Jesus, onde actua o seu "amor que salva", também nós queremos estar presentes, unidos "no seu amor pelo Pai e pelos homens" (Cst 17), especialmente pelos "pequenos" e pelos "pobres" (Cst 28), porque "Cristo se identificou" com eles (Cst 28; Cf. Mt 25, 40).

    Oratio

    Senhor Jesus, dá-me a dimensão divina da tua caridade. Quero ajudar-Te, ajudando todos os irmãos carenciados de bens materiais, de atenção, de conforto e de compreensão. Tu disseste: «O que fizestes a um destes pequeninos, foi a Mim que o fizestes». No caminho de Damasco, disseste a Saulo que perseguia os cristãos; «Eu sou Jesus a quem tu persegues-. A Martinho, que dividiu o manto com um pobre, também disseste: «Hoje, Martinho catecúmeno revestiu-Me com o seu manto». Estes exemplos iluminam o evangelho e dão-me força para percorrer o mesmo caminho, certo de que, na atenção generosa para com todos os carenciados, começo desde já a viver a vida eterna, porque Te amo como a mim mesmo, irmão em Cristo, irmão­ Cristo. Amen.

    Contemplatio

    «O meu Pai e eu, diz o Senhor, somos assim glorificados». É, de facto, o amor divino pelos homens que é imitado e continuado. A nossa união fraterna faz a alegria de Deus nosso Pai. Ela faz também a nossa força e a nossa consolação. As obras da caridade fraterna são também um poderoso meio de apostolado e o instrumento da conversão dos povos. O mundo vê que nos amamos e fica emocionado.

    Esta caridade tem tido os seus inumeráveis mártires, que têm fecundado a Igreja e enchido o céu. Todos aqueles que sacrificaram a sua vida nos trabalhos e nos perigos do apostolado sob todas as suas formas são mártires da caridade. Enfrentaram as fadigas, as doenças, as dificuldades do clima, a hostilidade dos infiéis para irem em socorro dos que sofrem ou que estão nas trevas da idolatria. Era o espírito da caridade que os conduzia.

    Dando-nos o seu preceito novo, Nosso Senhor dá-nos, no Espírito Santo, a graça de o cumprirmos.

    Se correspondermos a este espírito de caridade, havemos de praticar entre nós a doçura, a paciência, a benevolência. As obras de misericórdia ser-nos-ão caras e fáceis. Teremos gosto em tomar conta dos pequenos, dos pobres, dos ignorantes, daqueles que sofrem. Havemos de nos recordar da palavra do bom Mestre: «O que fazeis aos pequenos e aos deserdados, tenho como feito por mim».

    Se tivermos uma caridade ardente e abundante, levá-la-emos até ao sacrifício. Despojar-nos-emos, afadigar-nos-emos para socorrer o nosso próximo, e, se for preciso, daremos a nossa vida por ele como Nosso Senhor a deu por nós (Leão Dehon, OSP 3, p. 419s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Foi a Mim que o fizestes» (Mt 25, 40).

     

    https://youtu.be/i6gINUmw4gw

  • Terça-feira - 1ª Semana da Quaresma

    Terça-feira - 1ª Semana da Quaresma

    20 de Fevereiro, 2024

    Lectio

    Primeira leitura: Isaías 55, 10-11

    Assim fala o Senhor: 10Assim como a chuva e a neve descem do céu, e não voltam mais para lá, senão depois de empapar a terra, de a fecundar e fazer germinar, para que dê semente ao semeador e pão para comer, 11 o mesmo sucede à palavra que sai da minha boca não voltará para mim vazia, sem ter realizado a minha vontade e sem cumprir a sua missão.

    A secção do Deutero-Isaías, conclui (Is 55) com o retomar de temas como o perdão, o regresso à pátria, a participação na natureza divina, o poder da palavra de Deus. A palavra é a mediação através da qual o homem sente a Deus como próximo e, ao mesmo tempo, como ausente, uma vez que «os seus caminhos não são os nossos cemmhos- (v. 9).

    A Palavra é uma realidade viva, enviada do céu para realizar a salvação. É «etiau», pois é capaz de realizar o seu objectivo, tal como a chuva e a neve, que fecundam a terra e lhe dão capacidade de produzir frutos.

    Esta imagem enchia certamente de consolação o povo cativo em Babilónia, cuja esperança de regressar à terra encontrava seguro apoio na Palavra de Deus.

    A mesma Palavra nos enche de consolação e esperança, pois Cristo é a Palavra omnipotente feita carne, enviada do céu para que a nossa terra dê o seu fruto. Ele, que por nós morreu e ressuscitou, abriu-nos um caminho inesperado para a casa de Deus.

    Evangelho: Mateus 6, 7-15

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 7*Nas vossas orações, não sejais como os gentios, que usam de vãs repetições, porque pensam que, por muito falarem, serão atendidos. 8Não façais como eles, porque o vosso Pai celeste sabe do que necessitais antes de vós lho pedirdes.» 9*«Rezai, pois, assim: 'Pai nosso, que estás no Céu, santificado seja o teu nome, 10*venha o teu Reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no Céu. 11*Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia, 12*perdoa-nos as nossas ofensas, como nós perdoamos aos que nos ofenderam 13*e não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. ' 14Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai celeste vos perdoará a vós. 15Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai vos não perdoará as vossas.»

    Mateus introduz o «Pai-nosso» no «Sermão da Montanha», precedido por alguns ensinamentos de Jesus sobre o modo de rezar: não rezar como os pagãos, que julgam dever usar muitas palavras para atrair a atenção ou a benevolência das suas divindades (v. 7); Deus, nosso Pai, está sempre atento a cada um de nós e conhece aquilo de que precisamos (v. 8). Mais do que falar muito, há que ter, diante d ' Ele, uma atitude de filhos. Jesus ensina-nos a chamá-Lo abbá, isto é, papá, paizinho, introduzindo-nos na intimidade da comunhão que existe entre Ele e o Pai.

    «Santificado seja o vosso nome-. Não se trata de nós santificarmos a Deus, que é O Santo, mas de que, pelas nossas palavras e pela nossa vida, todos os homens e mulheres do mundo O louvem, O adorem, O reconheçam como Senhor e se tornem e vivam como seus filhos.

    «Venha a nós o vosso reino». O reino já está no meio de nós. Mas é preciso reconhecê-lo e acolhê-lo, aceitando a senhoria de Deus.

    «Seja feita a vossa vontade», A vontade de Deus cumpre-se no céu e na terra.

    Mas é preciso que se cumpra em cada um de nós. Por isso, quer que a acolhamos e adiramos a ela com amor, como Jesus.

    «O pão nosso ... ». Este pão é tudo aquilo que o homem precisa para viver dignamente como criatura e filho de Deus, desde o alimento, à casa, às condições de vida, até ao Pão, que é o próprio Jesus (cf. Jo 6).

    «Perdoai-nos ... ». Precisamos do perdão de Deus para entrarmos no Reino; mas não podemos pedir para nós o que recusamos aos outros ...

    «Não nos deixeis cair em tentação ... ». Pedimos que, diante das provações da vida, jamais deixemos de acreditar na bondade de Deus, nosso Pai, e jamais reneguemos a fé em Jesus Cristo, cedendo ao Maligno.

    «Livrai-nos do ma!...». É um pedido que reforça o anterior, pois o Maligno é o instigador do mal, o tentador.

    Meditatio

    A palavra realmente eficaz sobre o nosso coração, e sobre o coração de Deus, é aquela que, como a chuva e como a neve, vem do céu, é aquela que sai da boca do próprio Deus. Por isso, Jesus nos oferece um enorme dom, quando partilha connosco a sua oração, e nos ensina a rezar. Na primitiva igreja, o «Pai nosso» fazia parte das coisas secretas da fé cristã, protegidas pela lei do arcano. Os catecúmenos recebiam-­no na vigília do baptismo, quando também lhes era apresentada a Eucaristia. Quem recebiam o «Pai nosso» guardavam-no como uma relíquia, e esperavam ansiosamente pelo momento em que, saindo da fonte baptismal, rodeados pelos irmãos e apresentados pela Mãe Igreja, diziam, pela primeira vez, «Pai», dando-se a conhecer como filhos de Deus.

    É bom recordarmos estas coisas, que nos são referidas, entre outros, por Tertuliano, porque talvez tenhamos banalizado a «oração do Senhor», dizendo-a sem pensar, ou dizendo-a como se diz qualquer outra oração em momento de necessidade ou de medo. Deixámos talvez perder o sentido tremendo que se esconde naquelas palavras saídas da boca de Deus e dirigidas aos ouvidos do mesmo Deus! Precisamos de recuperar o «Pai nosso» da rotina que o cobre como um qualquer material isolante, ou como uma camada de pó que o não deixa brilhar dentro de nós, que nos impede de nos emocionarmos quando escutamos as suas primeiras palavras: «Pai nosso». Há que voltar a recebê-lo do Coração de Jesus, tal como o receberam os Apóstolos no dia em que disseram: «Senhor, ensina-nos a rezar» (Lc 11, 1-4) e o ouviram pela primeira vez.

    Peçamos a Cristo que nos ensina a repetir o «Pai nosso» com o seu próprio Coração, para que cresça em nós, dia após dia, o amor filial e confiante para com o nosso Pai celeste e, com a oração, cresça em nós a caridade, que se torne perdão para todos os irmãos. Então, a nossa terra será fecunda, dará novos frutos, dará o pão da misericórdia para saciar a fome de todos os homens. Com Cristo, a nossa invocação sobe até Deus e torna-se a Sua própria invocação: "Abbá, Pai!' (cf. Mc 14, 36; Rom 8, 15; Gal 4, 6). Esta oração ao Pai é fortalecida pelo Espírito (cf. Gal 4, 6; Rom 8, 26- 27), que nos anima a rezar: «seja feita a vossa vontade», É a nossa reparação, o nosso "sim" de amor à vontade do Pai, unido ao Sim filial de Cristo (cf. Jo 4, 34; Lc 22, 42).

    Oratio

    Ó Jesus, Tu és a Palavra feita carne, a palavra eficaz, enviada pelo Pai à terra e que a Ele voltas depois de teres realizado o seu projecto de amor e salvação em favor da humanidade. Por isso, as tuas palavras estão carregadas de extraordinário poder.

    Tu ensinas-nos a dizer: «Psi-nosso». Infunde em nós o teu Espírito Santo, para que o digamos com os sentimentos e as disposições que tinhas no teu próprio Coração. Aumenta em nós o amor filial e confiante no Pai, e o amor generoso e cheio de compreensão e misericórdia para com os irmãos.

    Que a tua palavra fecunde o nosso árido coração e o faça produzir frutos de vida nova, e pão de amor, compaixão e perdão que sacie todos quantos encontrarmos nos caminhos da vida. Amen.

    Contemplatio

    o amor do Coração de Jesus por nós não se extinguiu com a sua vida mortal.

    As necessidades não terminaram, a sua oração devia, portanto, continuar a subir até ao trono de Deus. Jesus-Eucaristia presta ao seu Pai as mesmas homenagens que lhe prestava na terra. Dirige-lhe as mesmas orações por nós: «Semper vivens ad interpellandum pro nobis» (Heb 7) ( «Vivo a interceder por nós»),

    Está sobre o altar em estado de suplicante. O seu coração sente intensamente todas as nossas necessidades, a sua boca é o intérprete de todos os homens, os seus suspiros falam por todas as nossas misérias.

    No meio de nós, como outrora junto dos seus apóstolos, dirige ainda ao seu Pai esta bela oração: «Pai-nosso que estais nos céus ... »

    Algumas almas rezam com Ele, mas quantas são tíbias, indiferentes ou mudas!

    Somente Ele é que não tem necessidade de rezar, e somente Ele é que não se cansa de rezar. Reza na Eucaristia e reza ainda no céu: «Nós temos, diz S. João, um advogado junto de Deus Pai» (Jo 2).

    Ah! Rezemos com Jesus, levemos uma vida de oração, para louvar a Deus e para solicitar a nossa salvação e a dos nossos irmãos (Leão Dehon, OSP 3, p.12).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Pai nosso» (Mt 6, 9).

    https://youtu.be/mKZxBe2A1NY

     

  • Quarta-feira - 1ª Semana da Quaresma

    Quarta-feira - 1ª Semana da Quaresma

    21 de Fevereiro, 2024

    Lectio
    Primeira leitura: Jonas 3, 1-10

    lA palavra do SENHOR foi dirigida pela segunda vez a Jonas, nestes termos: 2«Levanta-te e vai a Nínive, à grande cidade e apregoa nela o que Eu te ordenar.» 3*Jonas levantou-se e foi a Nínive, segundo a ordem do SENHOR. Nínive era uma cidade imensamente grande, e eram precisos três dias para a percorrer. 4Jonas entrou na cidade e andou um dia inteiro a apregoar: «Dentro de quarenta dias Nínive será destruída.» 5*Os habitantes de Nínive acreditaram em Deus, ordenaram um jejum e vestiram-se de saco desde o maior ao menor. 6*A notícia chegou ao conhecimento do rei de Nínive; ele levantou-se do seu trono, tirou o seu manto, cobriu-se de saco e sentou-se sobre a cinza. 7*Em seguida, foi publicado na cidade, por ordem do rei e dos príncipes, este decreto: «Os homens e os animais, os bois e as ovelhas não comam nada, não sejam levados a pastar nem bebam água. 80s homens e animais cubram-se de roupas grosseiras, e clamem a Deus com força; converta-se cada um do seu mau caminho e da violência que há nas suas mãos. 9Quem sabe se Deus não se arrependerá, e acalmará o ardor da sua ira, de sorte que não pereçamos?» 10*Deus viu as suas obras, como se convertiam do seu mau caminho, e, arrependendo-se do mal que tinha resolvido fazer-lhes, não lho fez

    o livro de Jonas ensina-nos que a misericórdia de Deus não se limita ao povo eleito, mas atinge todos os homens. O profeta é, pela segunda vez, enviado a Nínive, capital da Assíria. Vai anunciar a destruição dessa enorme cidade, destruição motivada pela maldade dos seus habitantes. Na primeira vez, Jonas tentou esquivar-se à missão, demasiado grande para alguém tão pequeno e frágil. Como poderia anunciar a destruição de uma superpotência, no seu próprio território? Mas Deus não o deixou escapar. Agora, obediente, vai cumprir a missão que lhe foi confiada.

    Em nome de Deus, dirige aos ninivitas palavras de ameaça de repreensão. A sua pregação toca os corações, incluindo o do rei: «acreditaram em Deus», diz o texto, usando o mesmo verbo com que Gen 15, 6 fala da fé de Abraão. Todos, na cidade, fizeram penitência, com oração, em atitude de verdadeira conversão.

    Os versículos 9ss. São muito importantes: a mudança de vida é apoiada pela esperança de que os decretos de Deus não sejam irrevogáveis, de que Deus não deixará de perdoar a quem se mostra arrependido. Os ninivitas, pagãos, revelam conhecer o verdadeiro rosto do Deus de Israel, lento para a ira e rico de misericórdia.

    Evangelho: Lucas 11, 29-32

    29*Naquele tempo, aglomerava-se uma grande multidão à volta de Jesus e Ele começou a dizer: «Esta geração é uma geração perversa; pede um sinal, mas não lhe será dado sinal algum, a não ser o de Jonas. 30*Pois, assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim o será também o Filho do Homem para esta geração. 31 *A rainha do Sul há-de levantar-se, na altura do juízo, contra os homens desta geração e há-de condená-los, porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão; ora, aqui está quem é maior do que Salomão! 320s ninivitas hão-de levantar-se, na altura do juízo, contra esta geração e hão-de condená-la, porque fizeram penitência ao ouvir a pregação de Jonas; ora, aqui está quem é maior do que Jonas.»

    Jesus recusa um sinal que satisfaça a curiosidade e a sede do maravilhoso e, na sua resposta, deixa intuir a sua verdadeira identidade: «aqui está quem é maior do que Jonas» (v. 32). É ele o Sinal que Deus lhes envia. É Ele o Messias desejado, mas não reconhecido, porque se apresenta de modo diferente àquele que Israel esperava.

    «Para esta çereção. (v. 31), o Filho do homem é um apelo à conversão, tal como Jonas o foi para os ninivitas. Como o profeta, Jesus não oferece sinais espectaculares, mas simplesmente a Palavra e a misericórdia de Deus. A referência a Nínive a à rainha de Sabá sublinha a universalidade do chamamento à salvação. Mas, enquanto alguns povos pagãos souberam escutar os enviados de Deus, e se converteram, a geração a quem Jesus se dirige, não O escuta, permanece na cegueira e na dureza de coração. Há-de ser condenada pelos ninivitas e pela rainha de Sabá, no dia do juízo (w. 31ss), porque não soube reconhecer a Cristo, nas humildes aparências de Jesus de Nazaré.

    Meditatio

    Os apelos à conversão repetem-se durante este tempo da Quaresma. Há que escutá-los e acolhê-los deixando-nos tocar e iluminar pela Palavra. Jonas dirigiu esse apelo aos ninivitas. A nós é o próprio Jesus, bem «maior do que Jonas» que o dirige. Por isso, devemos perguntar-nos se já começámos a converter-nos, a lutar decididamente contra o mal que está em nós e fora de nós, no nosso mundo, com as armas da oração e do sacrifício. Não podemos estar à espera de uma graça «barata» e «e de efeito fácil», ou estar à espera de confirmações extraordinárias, de milagres ou de sinais convincentes.

    O grande sinal que o Pai nos envia é Jesus, que carrega sobre si as nossas culpas, para nos salvar. Sinal do céu é o Crucificado. Voltar-nos para Ele e contemplá­Lo, contemplar as suas chagas e, particularmente, o seu Lado aberto e o seu Coração trespassado é o início e o caminho da conversão. Diante d ' Ele, ninguém pode ficar indiferente, nem os pagãos, como os ninivitas, nem os crentes, como os contemporâneos de Jesus. Muitos virão de longe - do pecado, de mentalidades e culturas remotas - para tomar consciência da sabedoria do Crucificado. Muitos hão-de converter-se, acreditando no Profeta feito Servo sofredor por amor. E nós? Rezemos mais. Será a oração a dar-nos maior disponibilidade para acolher o dom da misericórdia, que o Pai nos faz em Jesus Cristo, morto e ressuscitado, a dar-nos maior disponibilidade para nos tornarmos, nós mesmos, dom para Deus e dom para os irmãos.

    As nossas Constituições recomendam-nos "o encontro frequente com o Senhor na oração» em ordem à «conversão permanente ao Evangelho» e à «disponibilidade de coração e de atitudes, para acolher o Hoje de Deus» (Cst 144). Esta recomendação vale para todos os tempos, pois, tal como a Igreja, também cada um de nós, e a Congregação, precisa de uma "contínua reforma" (UR 6), purificação, conversão. Precisamos de uma "conversão permanente ao Evangelho" (Cst 144).

    Oratio

    Pai santo, justo e misericordioso, que nunca Te cansas de me chamar à conversão, para que possa experimentar a alegria da comunhão Contigo, perdoa-me se teimo em não me abrir ao teu apelo. Perdoa-me se hesito em abandonar-me a Ti, pedindo sinais extraordinários e garantias seguras, a Ti que, para me salvar, perdeste tudo na cruz.

    Purifica-me, purifica o meu medo, a minha mesquinhez, a dureza do meu coração. Infunde em mim o teu Espírito, que me faça ver a medida infinita da tua misericórdia, a profundidade insondável da tua sabedoria. Então, alegre e sereno, caminharei mais expeditamente ao teu encontro, na caridade. Amen.

    Contemplatio

    Para nos convertermos, façamos duas curtas estações: uma junto ao inferno, a outra no Calvário.

    Detenhamo-nos um instante junto ao inferno. Eis estes abismos terríveis criados para receberem os demónios e todos os condenados, lugares de sofrimentos onde seviciam o fogo e o desespero.

    Vejamos lá almas que seguiram o caminho que nós seguimos hoje, com os nossos defeitos, com a nossa moleza, com a nossa tibiez. Eis onde elas acabaram. Pensemos nisto alguns instantes. Pesemos todos os nossos lados fracos ...

    Vamos depois ao Calvário. Eis as consequências dos nossos pecados: a longa agonia do Salvador, as suas humilhações, os seus sofrimentos, a flagelação, a coroa de espinhos, as dilacerações do seu Coração, os cravos, a cruz, a morte.

    Contemos as suas chagas, as das suas mãos e dos seus pés, as da flagelação sobre os seus ombros e sobre todo o seu corpo, as que os seus espinhos fizeram à sua cabeça, à sua nobre fronte, aos seus olhos. Contemos as suas lágrimas. Vejamos sair do seu lado a última gota do seu sangue.

    Seremos nós insensíveis como pedras? Perdemos todo o sentimento? Lancemo-nos aos pés de Jesus como Madalena.

    Permaneçamos lá um bom momento.

    Recebamos sobre a nossa cabeça as últimas gotas do sangue do seu Coração. Choremos e peçamos o nosso perdão (Leão Dehon, OSP 3, p. 114s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Convertei-vos e acreditai no Evangelho» (Mc 1, 15b).

    https://youtu.be/hIL1PJOaI4Q

  • Quinta-feira - 1ª Semana da Quaresma

    Quinta-feira - 1ª Semana da Quaresma

    22 de Fevereiro, 2024

    Lectio
    Primeira leitura: Ester 4, 17 n.p-r.aa-bb.gg-hh

    Naqueles dias, a rainha Ester, tomada de angústia mortal, procurou refúgio no Senhor e fez esta súplica ao Senhor, Deus de Israel: «Meu Deus, meu único rei, assiste-me no meu desamparo, pois não tenho outro socorro senão a ti, 15porque vou pôr a minha vida em risco. 16*No seio da família, ouvi desde criança, Senhor, que escolheste Israel entre todos os povos, e os nossos pais entre todos os seus antepassados, para fazer deles a tua herança perpétua, e que cumpriste todas as promessas. 23Lembra-te de nós, Senhor. Manifesta-te no dia da nossa tribulação e dá­me coragem, Senhor, rei dos deuses, dominador de todos os poderes! 24Coloca nos meus lábios, quando estiver na presença do leão, palavras apropriadas e muda o seu coração em ódio contra aquele que nos é hostil, a fim de que pereça com todos os seus partidários. 25Livra-nos com a tua mão e assiste-me no meu abandono, a mim, que não tenho senão a ti, Senhor.

    A jovem esposa do rei da Pérsia, Ester, toma conhecimento de que, devido a intrigas palacianas, fora decretado o extermínio dos hebreus deportados no reino. A rainha, na tentativa de salvar o povo a que pertencia, decide expor-se ao perigo, intercedendo por ele junto do marido. Mas, antes de se apresentar ao rei, apresenta-se ao Senhor, numa atitude de penitência e de oração.

    Assim reconhece que o verdadeiro rei é Deus e professa que Ele é o Único. Só Ele pode salvar o seu povo.

    Apresenta-se diante de Deus na sua pequenez e fragilidade e fala-lhe da sua solidão. E Deus escuta a sua súplica angustiada: o Só é o único auxílio daquela que está só. O «Só», a «só». A distância torna-se proximidade. Ester lembra a Deus as suas promessas em favor de Israel (v. 17) e, por outro lado, confessa o pecado do seu povo. As promessas de Deus, e o arrependimento do seu povo, levam-na a pedir ao Senhor a salvação da sua gente e a pedir, para si mesma, a coragem, a sabedoria e a ajuda necessárias para cumprir com êxito a sua missão de intercessora.

    Evangelho: Mateus 7, 7-12

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 7«Pedi, e ser-vos-é dado; procurai, e encontrareis; batei, e hão-de abrir-vos. 8Pois, quem pede, recebe; e quem procura, encontra; e ao que bate, hão-de abrir. 9Qual de vós, se o seu filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? 100u, se lhe pedir peixe, lhe dará uma serpente? 110ra bem, se vós, sendo maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está no Céu dará coisas boas àqueles que lhas pedirem.» 12*«Portanto, o que quiseraes que vos façam os homens, fazei-o também a eles, porque isto é a Lei e os Profetas.»

    Jesus ensina, de modo semelhante aos rabinos, a necessidade da oração de súplica e que a mesma é seguramente escutada. Haverá contradição com o que ensinou pouco antes (cf. Mt 6, 7s.)? Não, certamente, porque na oração não é preciso desperdiçar muitas palavras. O Pai «sabe», mas é preciso assumir a atitude do mendigo, isto é, reconhecer a própria condição de fraqueza e dependência de Deus.

    E Deus dá a quem pede e abre a quem bate: «Será dedos, «será sberto-, por Deus, entenda-se! Se um pai dá pão ao filho que lhe pede pão, e não outra coisa parecida, também Deus dará «coisas boes- a quem Lhas pedir. O Pai escuta sempre os pedidos dos filhos e dá-lhes o que é melhor para eles.

    O modo de agir de Deus, leva-nos a agir de modo semelhante com os irmãos. É preciso estar atentos às suas necessidades. O verdadeiro discípulo põe no centro o Pai e os outros, e não a si mesmo: «O que qútserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles, porque isto é a Lei e os Protetes» (v. 12).

    Meditatio

    A palavra de Deus leva-nos, hoje, a meditar sobre a oração. A primeira leitura apresenta-nos a oração de Ester, numa situação de extrema angústia, não por causa dela própria, mas por causa do seu povo ameaçado de morte. A rainha, de raça judaica, apresenta-se só diante de Deus para Lhe recordar a vocação do seu povo e a história passada semeada de benefícios divinos. Ester não confia em si mesma, nos seus méritos, mas na bondade e na misericórdia de Deus tantas vezes demonstrada. E alcança o que pede.

    Jesus ensina-nos a rezar de modo confiante e perseverante, porque Deus é nosso Pai e nos ama com um amor eterno, de que não se arrepende. Ouvimos tantas vezes estas afirmações que talvez já não nos impressionem. Mas são a pura verdade, que nos hão-de encher de confiança, e mesmo de atrevimento, na nossa oração.

    A comunhão com Deus, a que Jesus nos convida, é uma experiência que nos renova interiormente: «Pedi, e ser-vos-e dado; procurai, e encontrareis; batei, e hão­de abrir-vos. Pois, quem pede, recebe; e quem procura, encontra; e ao que bate, hão­de abrir» (vv. 7-8). A oração confiante e perseverante não desilude, porque Deus só pode dar coisas boas a quem lhas pede. Ele sabe do que precisamos. Na oração, mais do que apresentar os nossos desejos, há que abandonar-nos aos que Ele tem sobre nós.

    A nossa oração há-de começar, pois, com um acto de contemplação gratuita, fixando o nosso olhar no rosto do Pai misericordioso. Então deixaremos cair os nossos muitos pedidos, deixando crescer em nós um só pedido: que se cumpra em nós a sua vontade. É que, contemplando o rosto de Deus, experimentamos a certeza de que somos seus filhos muito amados e que, portanto, nada nos faltará daquilo que realmente precisamos.

    Se precisamos de rezar demorada mente, não é para convencer a Deus das nossas necessidades, mas para transformarmos os nossos desejos e fazê-los coincidir com a vontade divina que quer o nosso bem.

    Ser "féis à oraçãd' (Act 2, 42) é ser fiéis ao "nosso carisma profético" (Cst 27), é realizar a primeira união da nossa "vida religiosa e apostólica à oblação reparadora de Cristo ao Pai pelos homens" (Cst 6). Só realizando com a ajuda do Espírito, dos seus dons, dos seus frutos, dos seus carismas, o nosso carisma de oblação, damos um conteúdo de vida, de realismo à "fidelidade" que nos recomenda o n. 76 das nossas Constituições.

    É pouco ser fiéis às certamente necessárias práticas de piedade pessoais e comunitárias. As orações devem levar-nos à oração e ajudar-nos a descobrir o seu núcleo vital: rezar é amar. A caridade é a oração que dá valor a todas as orações e práticas de piedade e torna fecundo o "nosso apostolado".

    Cristo convida-nos, como Seus discípulos e, sobretudo, como Seus "amigos" à "assid
    uidade" na oração-caridade, e "nós queremos corresponder a esse convite": é preciso "rezar incessantemente ... " (1 Tes 5, 17; cf. Ef 5, 20).

    Oratio

    Senhor, hoje, quero aprender a apresentar-Te os meus pedidos sem condicionar as tuas respostas, porque sei que só dás coisas boas a quem Te pede. Tu não és um distribuidor automático, que dás necessariamente aquilo que Te é pedido, nem a oração é magia para obter um qualquer efeito pretendido. Quero pedir-Te confiadamente e com perseverança aquilo que julgo importante pata mim, para a Igreja, para o mundo. Mas deixo-te o cuidado de encontrar a melhor solução, de escolheres o dom que me queres fazer. E estou certo que sempre o farás com uma criatividade que em muito ultrapassará os meus pedidos. E, quando me deres o que Te peço, aproveitarei essa graça para crescer na união Contigo, transformando o teu dom em instrumento de progresso espiritual, abrindo-me ao teu amor e ao amor dos irmãos. Amen.

    Contemplatio

    «Até aqui, diz-nos Nosso Senhor, não pedistes nada ao meu Pai em meu nome com uma fé viva; pedi e recebereis, e a vossa alegria será ptens».

    «Pedi em meu nome, e não tenho necessidade de vos dizer que rezarei a meu Pai por vós e que serei o vosso poderoso intercessor, podeis pensá-lo. Aliás, o meu Pai ama-vos ternamente e está todo pronto para vos atender, porque me amastes, a mim seu Filho, porque me seguistes. Prendestes-vos a mim, acreditastes na minha divindade, pedi a meu Pai e recebereis».

    Nosso Senhor teve de acrescentar, todavia, que estas promessas consoladoras não se realizariam senão depois da grande prova da sua morte. «Antes destes belos dias, acrescentou, em que a vossa oração será todo-poderosa, sereis desencorajados e dispersos, mas preveni-vos a fim de que a vossa fé seja fortalecida para a perseguição».

    Para nós, a ressurreição do Salvador e as maravilhas da acção do Espírito Santo são factos adquiridos, tenhamos, portanto, uma confiança invencível na bondade de Deus e no valor dos méritos de Nosso Senhor, tenhamos confiança no Coração de Jesus o qual nos foi aberto simbolicamente pela lança do centurião (Leão Dehon, OSP 3, p. 467s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Pedi, e ser-vos-é dado» (Mt 7, 7).

    https://youtu.be/lgmNT1qHbyk

  • Sexta-feira - 1ª Semana da Quaresma

    Sexta-feira - 1ª Semana da Quaresma

    23 de Fevereiro, 2024

    Lectio

    Primeira leitura: Ezequiel 18, 21-28

    Assim fala o Senhor. 21 *«Se o pecador renuncia a todos os pecados que cometeu, se observa todas as minhas leis e pratica o direito e a justiça, ele deve viver, não morrerá. 22Não serão lembradas as faltas que cometeu, viverá por causa da justiça que praticou. 23Porventura me hei-de comprazer com a morte do pecador õráculo do Senhor DEUS- e não com o facto de ele se converter e viver? 24Mas se o justo se desvia da sua justiça e pratica o mal, imitando os crimes abomináveis a que se entrega o pecador, porventura viverá? A justiça que praticou não será recordada; por causa da infidelidade a que se entregou e do pecado que cometeu, morrerá. 25Porém, vós dizeis: 'O modo de proceder do Senhor não é justo. ' Escutai, pois, casa de Israel:

    Então é o meu modo de agir que não é justo? Ou é o vosso que o não é ? 26Se o justo se afasta da sua justiça para praticar o mal e morre por causa disto, é por causa do mal que praticou que ele morrerá. 27Se o pecador se afasta do pecado que cometeu para praticar o direito e a justiça, ele merece viver. 28Se ele se afasta dos pecados que cometeu, viverá certamente, não morrerá.

    o capítulo 18 de Ezequiel assinala um notável progresso da revelação. Israel já compreendera que a sua dignidade derivava da sua eleição, de ser «povo eteni». Também já tinha tomado consciência da responsabilidade colectiva do pecado (cf. Dt 5, 9s.). Mas Jeremias alertara também para o «pecado pessoa!», isto é, para o facto de que cada um é o primeiro responsável pelas suas acções (cf. Jer 31, 29ss). Ezequiel retoma estas afirmações e vai mais longe.

    Os exilados estavam convencidos de que sofriam pelos pecados dos pais.

    Ezequiel diz-lhes que é cada um que decide o seu destino, com o seu modo de agir, e acrescenta que, também o destino pessoal, não é imutável. Deus é Deus de vida e não encontra felicidade na morte do pecador. Espera e suscita a conversão de cada um, para que viva.

    Por isso, a vida nova é uma possibilidade ao alcance do pecador, que pode converter-se. Mas também o justo deve continuar atento e perseverante no cumprimento da vontade de Deus. Ninguém é justo de uma vez por todas. Mas é aderindo a Deus e à sua vontade, cada dia, que vivemos na justiça.

    Evangelho: Mateus 5, 20-26

    20Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Se a vossa justiça não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus, não entrareis no Reino do Céu.» 21 *«Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não matarás. Aquele que matar terá de responder em juízo. 22*Eu, porém, digo-vos: Quem se irritar contra o seu irmão será réu perante o tribunal; quem lhe chamar 'imbecil' será réu diante do Conselho; e quem lhe chamar 'louco' será réu da Geena do fogo. 23Se fores, portanto, apresentar uma oferta sobre o altar e ali te recordares de que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, 24deixa lá a tua oferta diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão; depois, volta para apresentar a tua oferta. 25*Com o teu adversário mostra-te conciliador, enquanto caminhardes juntos, para não acontecer que ele te entregue ao juiz e este à guarda e te mandem para a prisão. 26Em verdade te digo: Não sairás de lá até que pagues o último centavo.»

    Jesus exige aos seus discípulos, para entrarem no reino dos céus, uma justiça superabundante, em comparação com a dos escribas e fariseus. Mas pede ainda mais, porque dá aquilo que pede. E é esta a grande novidade que tudo muda. Não se trata apenas de observar as prescrições e proibições da Lei. É preciso partir do coração, donde brotam as motivações profundas do nosso agir.

    A partir do v. 21, o texto que escutámos, oferece várias explicitações sobre essa justiça superior, introduzidas por: «foi dito», expressão no chamado passivo divino que, portanto, significa: «Deus disse». O homicídio, que é um crime que é levado a juízo, começa no coração de quem o comete. Por isso, quem se ira contra o irmão merece igual castigo. Uma injúria exige maior pena: o juízo do sinédrio. Um insulto ofensivo merece a condenação pelo supremo Juiz, com o fogo eterno (v. 22). Também o culto, mais do que uma purificação exterior, exige um coração pacificado e construtor de paz. Por isso, não tolera divisões entre os irmãos, e sabe dar o primeiro passo em ordem à reconciliação, condição essencial para ter comunhão com o Senhor (vv. 23ss.).

    O v. 25 sublinha a urgência da reconciliação em perspectiva escatológica: o outro já não é o irmão, mas o adversário, o acusador. É preciso reconciliar-se também com ele, porque no fim do caminho está à nossa espera o justo Juiz. É preciso estar preparado para enfrentar o seu juízo.

    Meditatio

    A conversão do pecador, enquanto vive neste mundo, é possível. Deus promete a vida a quem se converter: «não morrerá. .. viverá por causa da justiça que prsticoo» (cf. vv. 21.22). É um recurso da misericórdia divina para nos motivar à conversão.

    No evangelho, Jesus aconselha a pôr-nos de acordo com o nosso adversário, enquanto vamos a caminho. Esse adversário, em certo sentido, pode ser o próprio Deus, quando estamos em pecado. Mas, como nos diz a primeira leitura, também podemos pôr-nos de acordo com Ele: «Se o pecador renuncia a todos os pecados ... se observa todas as minhas leis e pratica o direito e a justiça, ele deve viver, não morrerá. Não serão lembradas as faltas que cometeu ... viverá. .. » (vv. 21-22). O maior pecado consiste em desesperar da salvação. Pensar que é impossível mudar, é uma terrível tentação, que pode encerrar-nos definitivamente nos nossos defeitos e pecados. Deus, pela boca do profeta, diz-nos que é possível mudar e incita-nos à mudança, porque prefere dar-nos a vida do que o castigo eterno: «Porventura me hei­de comprazer com a morte do pecador õráculo do Senhor DEUS - e não com o facto de ele se converter e viver?» (v. 23). Tal como o pai do filho pródigo, o que Deus mais quer é ver-nos voltar para Ele.

    A atitude de Deus, deve iluminar a nossa relação com todos os irmãos, também com aqueles que julgamos pecadores ou cheios de defeitos. Quem somos nós para julgar o nosso próximo. Há mesmo que evitar classificá-los em compartimentos estanques de bons e de maus. Com efeito, se o bom se pode tornar mau, o mau também se pode tornar bom, pode converter-se, mudar de vida. A caridade sabe esperar a hora da mudança, a conversão, a melhoria de vida e de atitudes dos outros. As nossas Constituições lembram-nos: «A caridade deve ser uma esperança activa daquilo que os outros podem vir a ser com a ajuda do nosso apoio fraterno» (Cst 64).

    Mais do que classificar os irmãos, há que ajudá-los a mudar, a converter-se. Mas será bom lembrar todo o n. 64 das Constituições: «Certamente imperfeitos, como todo o cristão, queremos, no entanto, criar um ambiente que promova o progresso espiritual de cada um. Como consegui-lo, a não ser aprofundando no Senhor as nossas relações, mesmo as mais normais, com cada um dos nossos irmãos? A caridade deve ser uma esperança activa daquilo que os outros podem vir a ser com a ajuda do nosso apoio fraterno. O sinal da sua autenticidade será a simplicidade com que todos se esforçam por compreender o que cada um tem a peito (cf. ET 39)>>.

    Quando se aproximavam de Jesus, os pecadores tornavam-se mais justos do que os fariseus. Estes limitavam a sua justiça ao conhecimento da Lei e à prática escrupulosa dos preceitos. O pecador que é tocado pelo amor de Jesus muda interiormente, ao nível do próprio ser.

    Na relação com o Senhor, e aprofundando n ' Ele as nossas relações fraternas, podemos mudar para melhor e ajudar os outros a melhor também.

    A caridade é também "uma esperança activa daquilo que os outros podem vir a ser com a ajuda do nosso apoio fraterno. O sinal da sua autenticidade será a simplicidade com que todos se esforçam por compreender aquilo que cada um tem a peito (cf. ET 39" (n. 64). Cada um tem a peito a sua dignidade e liberdade, porque, sem estes valores, não são criaturas humanas, nem filhos de Deus, nem religiosos.

    Oratio

    Jesus misericordioso, faz-me compreender que posso mudar para melhor, que posso converter-me e que estás disposto a ajudar-me a transformar-me com a tua graça. Afasta de mim a tentação do desespero ou da acomodação nos meus defeitos. Aproximando-me de Ti, posso converter-me, transformar-me interiormente, conformando-me cada vez mais à tua imagem e semelhança.

    Faz-me acreditar que também os meus irmãos podem mudar e tornar-se, cada vez mais, tua imagem e semelhança, também com a minha ajuda.

    Eis-me aqui, Senhor: converte-me e converter-me-ei! Uma vez convertido, faz de mim instrumento e servidor da reconciliação dos homens Contigo e entre si. Para que tenha a vida, e a tenham em abundância! Amen.

    Contemplatio

    Esta parábola (do filho pródigo) é fecunda em ensinamentos. Os publica nos e os pecadores vinham ter com Nosso Senhor. Ele recebia-os com bondade. Os fariseus e os escribas estavam escandalizados. Com esta parábola Nosso Senhor encoraja os pecadores arrependidos e generosos, mostra-lhes a sua ternura com a qual acolhe as ovelhas desgarradas. E assim, responde indirectamente aos fariseus.

    Quando uma alma se separa de Nosso Senhor para se entregar às suas paixões, Ele não faz um milagre para a reter contra a sua vontade. Lamenta que façamos um mau uso dos seus dons, mas não atenta contra a nossa liberdade, não pode. Deplora o mau uso que fazemos de um privilégio que deu aos homens para lhes permitir darem ao seu Pai e a Ele um amor livre, e de servirem a Deus não como escravos, mas como servos afeiçoados, voluntária e livremente agarrados ao seu mestre. Como o pai desta parábola, deixa o pobre coração abusar em todo a liberdade dos dons que recebeu.

    Deixa o pecador esgotar o primeiro furor da paixão; depois quando vem o período da fadiga e do tédio, vem com as suas primeiras inspirações salutares (Leão Dehon, OSP 4, p. 123).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:

    «Se o pecador renuncia aos seus pecados ... viverá» (cf. Ez 18, 21-22)

    https://youtu.be/jw7Ou8N5sDg

  • Sábado - 1ª Semana da Quaresma

    Sábado - 1ª Semana da Quaresma

    24 de Fevereiro, 2024

    Lectio

    Primeira leitura: Deuteronómio 26, 16-19

    Moisés falou ao seu povo dizendo: 16«Hoje, o SENHOR, teu Deus, ordena-te que cumpras estas leis e preceitos. Observa-os e cumpre-os com todo o teu coração e com toda a tua alma. 17Hoje, declaraste ao SENHOR que Ele seria o teu Deus e que andarias nos seus caminhos, observando as suas leis, os seus preceitos e os seus mandamentos. 18Por sua vez, o SENHOR declarou-te hoje que serias o seu povo particular, como te tinha dito, e que deverias observar todos os seus mandamentos; 19que te tornaria superior em honra, fama e esplendor a todos os povos que Ele tinha criado; que serias um povo consagrado ao SENHOR, teu Deus, como Ele tinha dito»

    Este texto tem a forma de um tratado de aliança, e está colocado entre o corpo legislativo do Deuteronómio (capítulos 11-26) e as bênçãos e maldições que decorrem da observância ou da transgressão dos decretos do Senhor. Juridicamente, em Israel, o pacto representa a forma mais radical para construir a comunhão entre pessoas. Cria-se uma situação em que os contraentes trocam entre si o que têm de mais pessoal. Na presença de testemunhas, e com um documento público, cada uma das partes propõe e aceita um duplo compromisso recíproco.

    Mas a liturgia de hoje apresenta-nos um tipo de «pacto» muito especial: não é um pacto entre dois homens, mas entre Deus e um povo, entre Deus fiel e Israel. É um pacto teológico, onde os dois contraentes não se colocam no mesmo nível.

    A perícopa tem um claro significado didáctico e manifesta a experiência que Israel fez de Deus. Deus não é um ser longínquo, inacessível; Deus é comunhão, é vontade de salvação para o povo escolhido. É Ele que elege, por amor e gratuitamente o povo (cf Dt 4, 3-7). É Ele que dá a Israel leis e mandamentos, que são um caminho de vida e um modelo de sabedoria (cf. Bar 4, 1-4). Israel é chamado a corresponder a essa graça pela obediência e pela fidelidade a Deus.

    Evangelho: Mateus 5, 43-48

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 43*«Ouvistes o que foi dito:

    Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. 44Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem. 45*Fazendo assim, tornar-vos-eis filhos do vosso Pai que está no Céu, pois Ele faz com que o sol se levante sobre os bons e os maus e faz cair a chuva sobre os justos e os pecadores. 46Porque, se amais os que vos amam, que recompensa haveis de ter? Não fazem já isso os cobradores de impostos? 47E, se saudais somente os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não o fazem também os pagãos? 48Portanto, sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste.»

    Mateus oferece-nos, neste texto, a última antítese com que Jesus revela o cumprimento dos ensinamentos da Lei. O Levítico ordenara o amor ao próximo e proibira a vingança e o rancor «contra os filhos do teu POV(]» (Lev 19, 18). Mas o ensino rabínico e outros contemporâneos de Jesus, como os essénios e os zelotas, admitiam o acrescento, que não é bíblico: «odiarás o teu inimigo». Jesus vai mais além: exige uma caridade sem limites, e que chegue mesmo aos inimigos. Porquê? Porque é assim que o Pai nos ama, e nos quer parecidos com Ele. A universalidade do amor cristão idealista. É concreta: propõe o amor a todos, também a quem não nos ama, não nos cumprimenta ... É esse amor que distingue os discípulos de Cristo dos pagãos e dos pecadores. É, pois um amor que ultrapassa o simplesmente humano e natural, e nos projecta para o horizonte infinitamente perfeito do Pai. A gratuidade do amor torna-se lei que regula a relação com Deus e com os homens. É essa a justiça superior que Jesus exige para se entrar no Reino.

    Meditatio

    A Aliança de que nos fala o Deuteronómio era um pacto de mútua fidelidade entre Deus e o Povo de Israel: «Hoje, o SENHOR, teu Deus, ordena-te que cumpras estas leis e preceitos ... o SENHOR declarou-te hoje que serias o seu povo particular. .. ». Jesus revela-nos que a obediência às leis e preceitos tinha como objectivo fazer dos membros do povo de Deus filhos do mesmo Deus, semelhantes ao Pai, perfeitos como Ele é perfeito, e que essa perfeição havia de se manifestar na misericórdia, na gratuidade, na bondade para com todos, e para além de qualquer medida. Buscar a perfeição consistirá em procurar uma cada vez maior conformidade com o coração de Deus, com o coração do seu Filho feito homem.

    A aliança com Deus deve transformar toda a nossa vida, em profundidade, e não apenas no que se refere à observância exterior das leis e preceitos do Senhor. Jesus vai até mais longe falando, não de aliança, mas de filiação: «Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem. Fazendo assim, tornar-vos-eis filhos do vosso Pai que está no CéLP> (vv. 44-45). O nosso comportamento deve ser inspirado pelo desejo de nos tornarmos cada vez mais semelhantes ao nosso Pai do céu. É nisto que consiste o amor perfeito. Trata-se de oferecer o dom maior, o perdão. Foi desse modo que Cristo nos amou na cruz, deixando-nos o exemplo e a graça necessária para nos conformarmos a Ele. Amando os inimigos, rezando por quem nos quer mal, tornamo-­nos filhos de Deus. Já o somos pelo baptismo. Mas tornamo-nos cada vez mais filhos do Pai misericordioso que está no céu. E a nossa maior recompensa será o amor do Pai derramado nos nossos corações.

    Para viver a fraternidade na comunidade pomos em prática os ensinamentos de Jesus: "Sede misericordiosos, como é misericordioso o vosso Pai. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e ser-vos-é perdoado; dai e ser-vos-é dado; uma boa medida ... , porque a medida que empregardes com os outros será usada convosco' (Lc 6, 36-38). Não leiamos superficialmente estas palavras de Jesus. Reflictamos bem sobre elas. Se as pusermos em prática, com a ajuda do Espírito Santo, experimentaremos uma profunda serenidade interior, seremos criaturas de paz, de alegria, de bondade e de mansidão.

    "Na comunhão, mesmo para além dos conflitos, e no perdão recíproco quereríamos mostrar que a fraternidade por que os homens anseiam é possível em Jesus Cristo e dela quereríamos ser fiéis servidores" (Cst 65). O condicional é utilizado muito oportunamente, porque a construção de uma comunidade fraterna, da comunhão, não é fácil. Infelizmente na comunidade religiosa, como na comunidade cristã, também nascem inimizades, pequenas, mesquinhas, porque causadas, geralmente, por corações tacanhos, feridos pelo ciúme e pela inveja. São, porém, inimizades que provocam muito sofrimento em quem deles é objecto, sem culpa. Valem, então, as palavras de Jesus: "Amai os vossos inimigos, fazei bem àqueles que vos odeiam (ou que, sem um verdadeiro ódio, são invejosos, ciumentos), bendizei aqueles que vos amaldiçoam (no sentido de que falam mal de vós), rezai por aqueles que vos maltratam (não fisicamente, mas moralmente) (Lc 6, 27-28). "Para que sejais filhos do vosso Pai celeste, que faz nascer o sol para os bons e para os maus, e manda a chuva para os justos e os injustos ... Sede, portanto, perfeitos como é perfeito o Pai celeste' (Mt 5, 45-46).

    Oratio

    Senhor Jesus, que no teu rosto humano nos revelaste o rosto do Pai, faz que, olhando para Ti, que não Te envergonhaste de ser nosso irmão, aprendamos a viver como filhos obedientes à vontade de Deus. Ele derramou o seu amor gratuito e generoso nos nossos corações, renovando-os, fazendo de nós seus filhos e teus irmãos. Infunde, agora, em nossos corações, o teu Espírito Santo, que faça crescer em nós o homem interior, à tua imagem e semelhança, para vivermos, cada vez mais, como verdadeiros filhos do Pai e como bons irmãos de todos os homens, também daqueles de quem não gostamos, ou que nos fazem sofrer. Acolhendo a graça divina, que repara em nós a imagem do Pai, e a aperfeiçoa, seremos servidores da paz e da reconciliação na Igreja e no mundo. Amen.

    Contemplatio

    Sede misericordiosos, diz-nos Nosso Senhor, como o vosso Pai é misericordioso (Lc 6, 36). Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito (Mt 5, 48). E S. Paulo acrescentou: «Sede os imitadores de Deus, como seus filhos bem amados, e caminhai no amor, assim como Jesus Cristo nos amou, e se entregou a si mesmo por nós oferecendo-se a Deus como vítima de agradável dom (Ef 5, 1).

    Caminhemos no amor, na caridade fraterna, como convém a filhos de Deus. - Sois todos irmãos, dír-nos-á muitas vezes Nosso Senhor. Omnes enim fratres estis (Mt 23).

    Éramos irmãos pela criação, tornámo-nos irmãos pela graça e pela adopção divina. O Evangelho acentuou e enobreceu a fraternidade. Assim os nossos sentimentos devem ser inspirados por esta fraternidade delicada. Haveis de evitar, diz Nosso Senhor, irritar-vos contra os vossos irmãos. - Haveis de procurar o seu bem como o vosso próprio bem. - Mesmo se são vossos inimigos, permanecem vossos irmãos e não os haveis de odiar. - Haveis de rezar por eles, haveis de vos consumir pela sua salvação. - Não os julgareis nos vossos corações, não tendes missão para isso, seria uma falta (Lc 6, 37) (leão Dehon, OSP 4, p. 66).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:

    «Sede misericordiosos, como é misericordioso o vosso Pai» (Lc 6,36).

    https://youtu.be/p262yjE67qo

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