Liturgia

Week of Ago 19th

  • 20º Domingo do Tempo Comum - Ano B

    20º Domingo do Tempo Comum - Ano B


    18 de Agosto, 2024

    ANO B
    20º DOMINGO DO TEMPO COMUM

    Tema do 20º Domingo do Tempo Comum

    A liturgia do 20º Domingo do Tempo Comum repete o tema dos últimos domingos: Deus quer oferecer aos homens, em todos os momentos da sua caminhada pela terra, o "pão" da vida plena e definitiva. Naturalmente, os homens têm de fazer a sua escolha e de acolher esse dom.
    No Evangelho, Jesus reafirma que o objectivo final da sua missão é dar aos homens o "pão da vida". Para receber essa vida, os discípulos são convidados a "comer a carne" e a "beber o sangue" de Jesus - isto é, a aderir à sua pessoa, a assimilar o seu projecto, a interiorizar a sua proposta. A Eucaristia cristã (o "comer a carne" e "beber o sangue" de Jesus) é um momento privilegiado de encontro com essa vida que Jesus veio oferecer.
    A primeira leitura oferece-nos uma parábola sobre um banquete preparado pela "senhora sabedoria" para os "simples" e para os que querem vencer a insensatez. Convida-nos à abertura aos dons de Deus e à disponibilidade para acolher a vida de Deus (o "pão de Deus que desce do céu").
    A segunda leitura lembra aos cristãos a sua opção por Cristo (aquele Cristo que o Evangelho de hoje chama "o pão de Deus que desceu do céu para a vida do mundo"). Convida-os a não adormecerem, a repensarem continuamente as suas opções e os seus compromissos, a não se deixarem escorregar pelo caminho da facilidade e do comodismo, a viverem com empenho e entusiasmo o seguimento de Cristo, a empenharem-se no testemunho dos valores em que acreditam.

    LEITURA I - Prov 9,1-6

    Leitura do Livro dos Provérbios

    A Sabedoria edificou a sua casa e levantou sete colunas.
    Abateu os seus animais,
    preparou o vinho e pôs a mesa.
    Enviou as suas servas
    a proclamar nos pontos mais altos da cidade:
    «Quem é inexperiente venha por aqui».
    E aos insensatos ela diz:
    «Vinde comer do meu pão e beber do vinho que vos preparei.
    Deixai a insensatez e vivereis;
    segui o caminho da prudência».

    AMBIENTE

    O "Livro dos Provérbios" apresenta várias colecções de ditos, de sentenças, de máximas, de provérbios ("mashal") onde se cristaliza o resultado da reflexão e da experiência ("sabedoria") de várias gerações de "sábios" antigos (israelitas e alguns não israelitas). O objectivo desses provérbios é definir uma espécie de "ordem" do mundo e da sociedade que, uma vez apreendida e aceite pelo indivíduo, o levará a uma integração plena no meio em que está inserido. Dessa forma, o indivíduo poderá viver sem traumas nem sobressaltos que destruam a sua harmonia interior e o incapacitem para dar o seu contributo à comunidade. Ficará, assim, de posse da chave para viver em harmonia consigo mesmo e com os outros, e assegurará uma vida feliz, tranquila e próspera.
    O livro apresenta-se como tendo sido composto por Salomão (cf. Prov 1,1), o rei "sábio", conhecido pelos seus dotes de governação, pelos seus dons literários, por numerosas sentenças sábias (cf. 1 Re 3,16-28; 5,7; 10,1-9.23) e que se tornou uma espécie de "padrão" da tradição sapiencial... Na realidade, não podemos aceitar, de forma acrítica, essa indicação: a leitura atenta do livro revela que estamos diante de colecções de proveniência diversa, compostas em épocas diversas. Alguns dos materiais apresentados no livro podem ser do séc. X a.C. (época de Salomão; no entanto, isso não implica que venham do próprio Salomão); outros, no entanto, são bem mais recentes.
    O nosso texto integra uma secção que poderíamos chamar, genericamente, "instruções e advertências" (cf. Prov 1,8-9,16). Trata-se de um conjunto de exortações e de instruções de um pai/educador, convidando o filho a adquirir a "sabedoria". É dentro desta secção que nos aparece a antítese entre a "senhora sabedoria" e a "senhora loucura" (cf. Prov 9,1-6.13-18) - um dos textos emblemáticos do "Livro dos Provérbios". A primeira leitura deste domingo é, precisamente, a primeira parte da antítese (a apresentação da "senhora sabedoria").
    Segundo os especialistas, esta secção é a parte mais recente do "Livro dos Provérbios" e não pode ser anterior ao séc. IV ou III a.C. Provavelmente, foi escrita como introdução ao "Livro dos Provérbios" quando todas as outras secções já estavam organizadas.

    MENSAGEM

    O que está em causa, nesta reflexão dos "sábios" de Israel, é a questão das opções de vida. Os homens podem escolher entre a "senhora sabedoria" e a "senhora loucura" (que é apresentada também na sequência - cf. Prov 9,13-18); e essa opção vai ditar, naturalmente, o êxito, a realização, a felicidade, a vida, ou o inêxito, o fracasso, a desgraça, a morte.
    O texto que nos é proposto é uma espécie de propaganda da "senhora sabedoria"; a sua finalidade é levar os destinatários da mensagem a realizarem a opção correcta - a opção que lhes garante a vida e a felicidade. Através de uma parábola, o "sábio" autor deste texto apresenta a "senhora sabedoria" e o convite que ela dirige a todos aqueles que querem descobri-la.
    A "senhora sabedoria" é apresentada como uma dama fina, da alta sociedade, que construiu uma "casa" (vers. 1). Essa "casa" tem, naturalmente, "sete colunas", pois o número sete é, no universo cultural judaico, o número da plenitude, da perfeição. A "casa" da "senhora sabedoria" é, portanto, uma "casa" onde se pode encontrar a perfeição, a plenitude.
    Na sua "casa", a "senhora sabedoria" organiza um "banquete"... Prepara comida e vinho em abundância e põe a mesa (vers. 2); depois, envia as suas servas para que levem a toda a cidade o convite para participar na festa (vers. 3). Provavelmente, esta "casa" para onde a "dona sabedoria" convida é a escola regida pelos "sábios" de Israel e onde se ensinava a "sabedoria". A "comida" e o "vinho" devem referir-se ao "alimento sapiencial" aí servido (quer dizer, a essas regras práticas ensinadas pelos "sábios" nas escolas sapienciais, e destinadas a "armar" os alunos para enfrentarem os problemas do dia a dia, de forma a terem êxito nos seus empreendimentos e a serem felizes).
    Quem são os destinatários do convite feito pela "senhora sabedoria"? São os "simples" (na tradução que nos é proposta no Missal Romano, fala-se dos "inexperientes) e os "insensatos" (vers. 4-6). Estes últimos, porém, devem previamente estar dispostos a deixar a insensatez e a seguir o "caminho da prudência". Os "simples" equivalem aos "pobres" da literatura bíblica: são os pequenos, os humildes, aqueles que não vivem instalados em esquemas de orgulho e de auto-suficiência e têm sempre o coração aberto a Deus e às suas propostas. Os "insensatos" que querem seguir o caminho da prudência são aqueles que não se conformam com a sua fragilidade e debilidade e estão dispostos a fazer um esforço no sentido de reformular a sua vida... Uns e outros têm o coração aberto ao convite da "sabedoria" e estão dispostos a acolher os seus dons.

    ACTUALIZAÇÃO

    • O que está aqui em causa é, portanto, a questão das opções de vida. Optar pela "senhora sabedoria" significa escolher a vida, a felicidade, a realização; optar pela "senhora loucura" significa escolher a morte, a infelicidade, o fracasso... O problema das escolhas correctas é o problema que mais nos angustia e inquieta, ao longo da nossa caminhada pela vida. A Palavra de Deus que nos é proposta contém um convite inquestionável a irmos ao banquete da "senhora sabedoria", a alimentarmo-nos dos seus dons, a abrirmos o coração às suas propostas. É esse o caminho da verdadeira realização e da verdadeira felicidade.

    • A "sabedoria" ensinada em Israel (bem como nos países circunvizinhos) é um conjunto de normas práticas, deduzidas da experiência e da reflexão, destinadas a formar homens íntegros, justos, leais, prudentes, capazes de saber como actuar em cada circunstância e de cumprir a sua missão, sem violar a ordem cósmica e social. Trata-se, apenas, de uma "sabedoria" profana, de um humanismo, de um conjunto de regras para orientar o comportamento e as relações sociais, sem qualquer referência ao mundo transcendente? Que lugar é que Deus ocupa nesta reflexão? Deus será necessário ao homem que quer ser "sábio"? O "sábio" israelita é também um crente, com tudo o que isso implica. Ao longo do Livro dos Provérbios, os "sábios" de Israel afirmam repetidamente que o verdadeiro fundamento da "sabedoria" é o "temor de Deus" (cf. Prov 10,27; 14,26; 15,16.33; 16,6; 19,23; 22,4; 23,17; 24,21; 31,30), como se considerassem que Deus não pode ser excluído da vida do homem que quer ter êxito e ser feliz. O termo "temor" não acentua (como nas línguas modernas) a dimensão do "medo"; mas indica uma atitude do crente diante de Deus caracterizada pela reverência, pelo respeito, pela obediência, pela confiança. Ora, de acordo com os "sábios" do "Livro dos Provérbios", essa atitude religiosa face a Deus é condição indispensável para a aquisição de uma "sabedoria" genuína, de um verdadeiro conhecimento. Não há, pois, "sabedoria" autêntica sem uma abertura decidida à transcendência. Todos nós queremos, naturalmente, aceitar o convite da "senhora sabedoria", saborear os alimentos que ela nos oferece e munir-nos dos instrumentos necessários para triunfar na vida, para alcançar a realização e a felicidade; no entanto, com frequência, buscamos a nossa realização plena e a nossa felicidade contra Deus ou, pelo menos, à margem de Deus e dos seus valores... Para nós, crentes, o encontro com a "senhora sabedoria" passa pela escuta de Deus e dos seus planos, pela entrega confiada nas mãos de Deus, pela obediência radical às propostas de vida que Deus nos faz. Não poderemos chegar à nossa realização plena ignorando Deus e as suas propostas.

    • É por isso que só os "simples" e os "insensatos que querem deixar a insensatez e seguir o caminho da prudência" são admitidos à mesa da "senhora sabedoria". Os "simples" são aqueles que não têm o coração demasiado cheio de si próprio, que não se fecham no orgulho e na auto-suficiência, que reconhecem a sua pequenez e finitude e que se entregam com humildade e confiança nas mãos de Deus; os "insensatos que buscam o caminho da prudência" são aqueles que estão dispostos a mudar, que não se conformam com a vida do homem velho e querem ir mais além... Uns e outros são o paradigma de uma determinada atitude: a atitude de abertura aos dons de Deus, de disponibilidade para acolher a vida de Deus... São aqueles que reconhecem que precisam de Deus e dos seus dons pois, por si sós, são incapazes de encontrar o caminho para a realização, para a felicidade, para a vida plena.

    SALMO RESPONSORIAL - Salmo 33 (34)

    Refrão: Saboreai e vede como o Senhor é bom.

    A toda a hora bendirei o Senhor,
    o seu louvor estará sempre na minha boca.
    A minha alma gloria-se no Senhor:
    escutem e alegrem-se os humildes.

    Temei o Senhor, vós os seus fiéis,
    porque nada falta aos que O temem.
    Os poderosos empobrecem e passam fome,
    aos que procuram o Senhor não faltará riqueza alguma.

    Vinde, filhos, escutai-me,
    vou ensinar-vos o temor do Senhor.
    Qual é o homem que ama a vida,
    que deseja longos dias de felicidade?

    Guarda do mal a tua língua
    e da mentira os teus lábios.
    Evita o mal e faz o bem,
    procura a paz e segue os seus passos.
    LEITURA II - Ef 5,15-20

    Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios

    Irmãos:
    Vede bem como procedeis.
    Não vivais como insensatos, mas como pessoas inteligentes.
    Aproveitai bem o tempo, porque os dias que correm são maus.
    Por isso não sejais irreflectidos,
    mas procurai compreender qual é a vontade do Senhor.
    Não vos embriagueis com o vinho, que é causa de luxúria,
    mas enchei-vos do Espírito Santo,
    recitando entre vós salmos, hinos e cânticos espirituais,
    cantando e salmodiando em vossos corações,
    dando graças, por tudo e em todo o tempo, a Deus Pai,
    em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.

    AMBIENTE

    A segunda leitura deste domingo apresenta-nos, mais uma vez, um texto dessa carta que Paulo enviou da prisão (de Roma?) a diversas comunidades cristãs da zona ocidental da Ásia Menor (entre as quais se contava a comunidade cristã de Éfeso).
    O nosso texto pertence à segunda parte da carta (cf. Ef 4,1-6,20). Nessa "exortação aos baptizados", Paulo retoma alguns dos temas tradicionais do catecismo primitivo e convida os cristãos a deixarem a antiga forma de viver para assumir a nova, revestindo-se de Cristo (cf. Ef 4,17-31), imitando Deus (cf. Ef 4,32-5,2), passando das trevas à luz (cf. Ef 5,3-20). Como cenário de fundo da reflexão paulina está sempre a necessidade de os cristãos deixarem a vida do homem velho, para assumirem a vida do Homem Novo. É neste sentido que devem ser entendidos essas normas práticas de conduta que Paulo apresenta aos seus cristãos no texto que nos é proposto.
    Estamos no início da década de 60... Passou já o entusiasmo inicial que levou muitos crentes (os de Éfeso também) a uma adesão entusiástica a Jesus e à sua proposta de vida... Agora, a monotonia, a instalação, o comodismo são realidades que estão presentes em muitas comunidades e na vida de muitos cristãos. Embora preso, Paulo continua a preocupar-se com a vida dos cristãos e das comunidades que ele acompanhou; por isso, vai exortar os crentes a uma vida de coerência com os compromissos um dia assumidos diante de Cristo e diante dos irmãos da comunidade.

    MENSAGEM

    O nosso texto é antecedido pelo fragmento de um antigo hino cristão que convida os crentes a despertarem do sono em que jazem e a redescobrirem a luz de Cristo (cf. Ef 5,14). O que é que significa, na perspectiva de Paulo, acordar de novo para a luz, ou o viver como "filhos da luz"?
    Os cristãos, definitivamente comprometidos com Cristo desde o dia do seu Baptismo, não podem, estupidamente ("como insensatos" - vers. 15), voltar aos valores do homem velho. É verdade que os tempos não são favoráveis e não ajudam a que se viva com coerência a própria fé e os valores de Jesus; mas é precisamente nesses ambientes mais difíceis e adversos que se torna mais necessário dar testemunho dos projectos de Deus e cumprir a vontade do Senhor (vers. 16-17).
    "Não vos embriagueis com vinho, que leva à vida desregrada, mas deixai-vos encher do Espírito" (vers. 18) - aconselha Paulo. O "vinho" representa aqui, provavelmente, todos esses valores materiais que seduzem os homens, que os levam ao desregramento e que os fazem esquecer os seus compromissos; o Espírito significa a vida de Deus - essa vida que os crentes receberam no dia do seu Baptismo, que deve encher os seus corações e que deve transformar-se em gestos de amor e de doação a Deus e aos irmãos.
    O nosso texto termina com um convite à oração, ao louvor, à acção de graças ao Senhor. Os crentes não podem esquecer a sua ligação ao Senhor e o seu diálogo com Ele, pois é esse diálogo que os mantém atentos e vigilantes, comprometidos com o projecto de Deus. Quando a oração é feita em comunidade, ela torna-se partilha mútua e uma caminhada comum na descoberta dos planos de Deus para os homens e para o mundo (vers. 19-20).

    ACTUALIZAÇÃO

    • A tentação da acomodação, da instalação, do "deixar correr", do viver o seguimento de Cristo de forma "morna" e pouco empenhada, do deixarmo-nos envolver por comportamentos e valores pouco consentâneos com o nosso compromisso com Cristo, é uma tentação real e que todos nós conhecemos bem. Como diz Paulo, é uma estupidez termos descoberto a vida verdadeira e deixarmos que o homem velho do egoísmo e do pecado nos domine de novo... O texto da Carta aos Efésios que nos é proposto é um convite a não adormecermos, a repensarmos continuamente as nossas opções e os nossos compromissos, a não nos deixarmos escorregar pelo caminho da facilidade e do comodismo, a vivermos com empenho e entusiasmo o seguimento de Cristo, a empenharmo-nos no testemunho dos valores em que acreditamos. A opção que fizemos no dia do nosso Baptismo tem de ser confirmada e revitalizada por uma infinidade de novas opções, todos os dias da nossa vida.

    • Paulo recomenda aos seus cristãos que não se embriaguem "com vinho, que leva à vida desregrada". Dizíamos acima que o embriagar-se com "vinho" representa, nestas circunstâncias, o deixar-se seduzir por esses valores materiais que afastam os homens dos valores eternos, dos valores do Reino... Pessoalmente, quais são os valores a que eu dou mais importância? Algum desses valores constitui um obstáculo para que eu viva, de forma verdadeiramente comprometida, os valores de Jesus e do Evangelho?

    • O viver como "filhos da luz" implica ainda, na perspectiva de Paulo, a oração, o louvor, a acção de graças. Um crente que tem Deus como a coordenada fundamental da sua existência e que se sente chamado a fazer parte da família de Deus é um crente que vive em diálogo contínuo com Deus. É nesse diálogo que ele percebe os planos e os projectos de Deus para si próprio e para o mundo e encontra a coragem para percorrer o caminho da fidelidade e do compromisso. Consigo encontrar tempo e disponibilidade para falar com Deus, para escutar as propostas que Ele me apresenta? Estou consciente dos dons de Deus e respondo-Lhe com o louvor e a acção de graças?

    ALELUIA - Jo 6,56

    Aleluia. Aleluia.

    Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue
    permanece em mim e Eu nele, diz o Senhor.
    EVANGELHO - Jo 6,51-58

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

    Naquele tempo,
    disse Jesus à multidão:
    «Eu sou o pão vivo que desceu do Céu.
    Quem comer deste pão viverá eternamente.
    E o pão que Eu hei-de dar é minha carne,
    que Eu darei pela vida do mundo».
    Os judeus discutiam entre si:
    «Como pode ele dar-nos a sua carne a comer?»
    E Jesus disse-lhes:
    «Em verdade, em verdade vos digo:
    Se não comerdes a carne do Filho do homem
    e não beberdes o seu sangue,
    não tereis a vida em vós.
    Quem come a minha carne e bebe o meu sangue
    tem a vida eterna;
    e Eu o ressuscitarei no último dia.
    A minha carne é verdadeira comida
    e o meu sangue é verdadeira bebida.
    Quem come a minha carne e bebe o meu sangue
    permanece em Mim e eu nele.
    Assim como o Pai, que vive, Me enviou
    e eu vivo pelo Pai,
    também aquele que Me come viverá por Mim.
    Este é o pão que desceu do Céu;
    não é como o dos vossos pais, que o comeram e morreram:
    quem comer deste pão viverá eternamente».

    AMBIENTE

    O trecho que nos é proposto neste domingo como Evangelho situa-nos ainda na sinagoga de Cafarnaum (cf. Jo 6,59) e no contexto do discurso sobre o "pão que desceu do céu para dar vida ao mundo". Neste trecho, no entanto, Jesus vai um pouco mais além: convida os seus interlocutores a comer a sua carne e a beber o seu sangue.
    Alguns biblistas pensam que esta parte do discurso é uma reflexão da primitiva comunidade cristã que reinterpretou a primeira parte do discurso, explicitando-a a partir da celebração eucarística posterior; outros pensam que João reelaborou uma série de materiais que estariam inicialmente incluídos no relato da última ceia e que foram deslocados para aqui por conveniências teológicas (na sua versão da última ceia, João preferiu dar relevo à lavagem dos pés; contudo, não quis omitir o discurso eucarístico de Jesus, um dado tão importante para a tradição cristã. Sendo assim, transladou-o para outro lugar; e o lugar mais indicado para o situar pareceu-lhe ser, precisamente, na continuação do discurso sobre o "pão descido do céu para dar vida ao mundo"). Em qualquer caso, esta parte do discurso (cf. Jo 6,51-58) não deve ter sido feita na sinagoga de Cafarnaum... Ela só faz sentido após a instituição da Eucaristia, na última ceia.
    O discurso sobre o "pão da vida" (cf. Jo 6,22-58) ficou, portanto, no esquema de João, com o seguinte enquadramento lógico: os homens buscam o pão material; Jesus traz-lhes o "pão do céu que dá vida ao mundo"; e o pão eucarístico realiza, de forma plena, a missão de Jesus no sentido de dar vida ao homem.

    MENSAGEM

    Depois de Se apresentar como "o pão vivo que desceu do céu" para dar aos homens a vida definitiva (vers. 51a), Jesus identifica esse "pão" com a sua "carne" (vers. 51b). A palavra "carne" (em grego: "sarx") designa a realidade física do homem, na sua condição débil, transitória e caduca. Ora, foi precisamente na "carne" de Jesus - isto é, no seu corpo físico - que se manifestou, em gestos concretos, a sua doação e o seu amor até ao extremo. Na realidade física de Jesus, Deus tornou-Se presente e visível no meio dos homens, mostrou a sua vontade de comunicar com os homens e manifestou-lhes o seu amor. É esta "carne" (isto é, a sua vida física, o "lugar" onde Deus Se manifesta aos homens e lhes mostra o seu amor) que Jesus vai dar a "comer" para que o mundo tenha vida.
    Os judeus não entendem as palavras de Jesus (vers. 51). Quando Jesus Se apresentou como "pão vivo descido do céu para dar a vida ao mundo", eles entenderam que Jesus pretendia ser uma espécie de "mestre de sabedoria" que trazia aos homens palavras de Deus (também isso, eles tinham dificuldade em aceitar; mas, pelo menos, entendiam aonde Ele queria chegar)... Mas agora Jesus fala em "comer" a sua carne. O que significam as suas palavras? São palavras difíceis de entender, se não nos colocarmos numa perspectiva eucarística; e, por isso, os judeus não as entendem... Para a comunidade de João, contudo, as palavras de Jesus são claras, pois são entendidas tendo em conta a celebração e o significado da Eucaristia.
    Na sequência, Jesus reitera a sua afirmação, desta vez com mais desenvolvimentos: Ele não só vai dar a "comer" a sua carne, mas também a beber o seu sangue; e quem os aceitar recebe vida definitiva (vers. 53-54). A referência ao "sangue" coloca-nos no contexto da paixão e da morte. Dizer que Jesus é "carne" significa que Ele Se tornou pessoa como nós, assumiu a nossa condição de debilidade, aceitando passar, até, pela experiência da morte. Dizer que o pão que Ele há-de dar é a sua "carne para a vida do mundo" significa que Jesus fez da sua vida um dom, uma "entrega" por amor aos homens; e que o momento mais alto dessa vida feita "dom" e "entrega" é a morte na cruz. Na cruz, manifestou-se, através da "carne" de Jesus - isto é, através da sua realidade física - o seu amor, o seu dom, a sua entrega... Ora, é essa realidade que se manifestou na cruz - realidade de amor, de doação, de entrega - que os discípulos são convidados a "comer" e a "beber". "Comer" e "beber" significam, neste contexto, "aderir", "acolher", interiorizar", "assimilar".
    A questão é, portanto, esta: Jesus não está a falar da sua "carne" física e do seu "sangue" físico... Está a pedir, simplesmente, que os seus discípulos acolham e assimilem essa vida de amor, de dom, de entrega, que Ele mostrou na sua pessoa (isto é, nos seus gestos, no seu amor, na sua doação aos homens) e que teve a sua expressão mais radical na cruz, quando Jesus, por amor, ofereceu totalmente a sua vida, até à última gota de sangue. Quem "acolher" e "assimilar" esta vida e aceitar viver da mesma forma - no amor e no dom total da vida, até à morte - terá vida plena e definitiva.
    A Eucaristia actualiza esta realidade na comunidade cristã e na vida dos crentes. Esse mesmo Jesus que amou até às últimas consequências, que pôs a sua vida ao serviço dos homens, que Se deu na cruz, oferece-Se como alimento aos seus. O discípulo que "come" e "bebe" a sua "carne" e o seu "sangue" assimila esta proposta e compromete-se a viver e a dar a vida como Ele (vers. 55).
    Um dos efeitos de "comer a carne" e "beber o sangue" de Jesus é ficar em união íntima, em comunhão de vida com Jesus. O discípulo que interioriza a proposta de Jesus identifica-se com Ele e torna-se um com Ele (vers. 56). O cristão é, antes de mais, alguém que recebe vida de Jesus e vive em união com Ele.
    Outro efeito de "comer a carne" e "beber o sangue" de Jesus é comprometer-se com o mesmo projecto de Jesus. Jesus Cristo foi enviado pelo Pai ao mundo para dar vida ao mundo e o seu plano consiste em concretizar esse projecto; o cristão assimila esse mesmo projecto e dedica toda a sua existência a concretizá-lo no meio dos homens (vers. 57).
    É neste caminho que se chega a essa vida plena e definitiva que Jesus veio propor aos homens. Do "comer a carne" e "beber o sangue" de Jesus nascerá uma nova humanidade de gente livre, que venceu a morte e que vive para sempre (vers. 58).
    O discurso que João põe na boca de Jesus não se dirige aos judeus (pois os judeus não eram capazes de entender as palavras de Jesus), mas dirige-se aos discípulos. O seu objectivo é explicar o programa de Jesus, pedir aos discípulos que assimilem esse programa e o testemunhem no meio dos homens. A Eucaristia cristã ("comer a carne" e beber o sangue") é, assim, uma forma privilegiada de "actualizar" na vida dos crentes a vida e o amor de Jesus, de estar em comunhão com Jesus, de "assimilar" o projecto de Jesus e de o concretizar no mundo.

    ACTUALIZAÇÃO

    • Nas semanas anteriores, a liturgia disse-nos, repetidamente, que Jesus era o "pão descido do céu para dar vida ao mundo"... O Evangelho deste domingo liga esta afirmação com a Eucaristia: uma das formas privilegiadas de Jesus continuar presente, no tempo, a "dar vida" ao mundo é através do "pão" que Ele distribui à mesa da Eucaristia. A Eucaristia que as comunidades cristãs celebram cada domingo (ou mesmo cada dia) não é um rito tradicional a que "assistimos" por obrigação, para acalmar a consciência ou para cumprir as regras do "religiosamente correcto"; mas é um encontro com esse Cristo que Se faz "dom" e que vem ao nosso encontro para nos oferecer a vida plena e definitiva. Como é que eu "sinto" a Eucaristia? Que importância é que ela assume na minha vida e na minha existência cristã?

    • Participar no encontro eucarístico, "comer a carne" e "beber o sangue" de Jesus é encontrar-se, hoje, com esse Cristo que veio ao encontro dos homens e que tornou presente na sua "carne" (na sua pessoa física) uma vida feita amor, partilha, entrega, até ao dom total de si mesmo na cruz ("sangue"). Participar no encontro eucarístico, "comer a carne" e "beber o sangue" de Jesus, é acolher, assimilar e interiorizar essa proposta de vida, aceitar que ela é um caminho para a felicidade, para a realização plena do homem, para a vida definitiva.

    • Sentar-se à mesa da Eucaristia é também identificar-se com Jesus, viver em união com Ele. Na Eucaristia, o alimento servido é o próprio Cristo. Por isso, é a própria vida de Cristo que passa a circular nas veias dos crentes. Quem acolhe essa vida que Jesus oferece torna-se, portanto, um com Ele. Comer cada domingo (ou cada dia) à mesa com Jesus desse alimento que Ele próprio dá e que é a sua pessoa, leva os crentes a uma comunhão total de vida com Jesus e a fazer parte da família do próprio Jesus. Convém termos consciência desta realidade: celebrar a Eucaristia é aprofundarmos os laços familiares que nos unem a Jesus, identificarmo-nos com Ele, deixarmos que a sua vida circule em nós. Este crente, identificado com Cristo, torna-se uma pessoa nova, à imagem de Cristo.

    • Na concepção judaica, a partilha do mesmo alimento à volta da mesa gera entre os convivas familiaridade e comunhão. Assim, os crentes que participam da Eucaristia passam a ser irmãos: em todos circula a mesma vida, a vida do Cristo do amor total. Dessa forma, a participação na Eucaristia tem de resultar no reforço da comunhão dos irmãos. Uma comunidade que celebra a Eucaristia e que vive depois na divisão, no ciúme, no conflito, no orgulho, na auto-suficiência, na indiferença para com as dores e as necessidades dos irmãos, é uma comunidade que não está a ser coerente com aquilo que celebra; e, nesse caso, a celebração eucarística é uma incoerência e uma mentira.

    • Finalmente, o "comer a carne" e "beber o sangue" de Jesus implica um compromisso com esse mesmo projecto que Jesus procurou concretizar em toda a sua vida, em todos os seus gestos, em todas as suas palavras. Como Jesus, o crente que celebra a Eucaristia tem de levar ao mundo e aos homens essa vida que aí recebe... Tem de lutar, como Jesus, contra a injustiça, o egoísmo, a opressão, o pecado; tem de esforçar-se, como Jesus, por eliminar tudo o que desfeia o mundo e causa sofrimento e morte; tem de construir, como Jesus, um mundo de liberdade, de amor e de paz; tem de testemunhar, como Jesus, que a vida verdadeira é aquela que se faz amor, serviço, partilha, doação até às últimas consequências. Se a Eucaristia for, de facto, uma experiência profunda e sentida de adesão a Cristo e ao seu projecto, dela resultará o imperativo de uma entrega semelhante à de Cristo em favor dos nossos irmãos e da construção de um mundo novo.

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 20º DOMINGO DO TEMPO COMUM
    (adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao 20º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa... Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. BILHETE DE EVANGELHO.
    O conviva é aquele que "vive com" o tempo de uma refeição. Jesus faz continuamente referência à relação que O une a seu Pai; eles vivem a convivência, Eu vivo pelo Pai", diz Jesus. Mas acrescenta: "também aquele que Me come viverá por Mim". Em cada Eucaristia, não estamos ao lado de Cristo ressuscitado, Ele vem morar em nós para viver em nós. Temos de dizer, como São Paulo: "Não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim". É isso a comunhão, esta união total. É o momento de dizer: "Este mistério é grande!" É grande, porque nunca acabaremos de nos maravilhar e de dar graças. Hoje, se Cristo vem habitar em nós, é para que nós habitemos n'Ele. Vivamos as nossas Eucaristias verdadeiramente como um tempo de convivência.

    3. À ESCUTA DA PALAVRA.
    Jesus é insistente: não pára de repetir que os seus discípulos devem comer a sua carne e beber o seu sangue! Ainda hoje, tal linguagem é chocante, inaceitável para a nossa razão e para a nossa sensibilidade. Sabemos, é certo, que São João escreve depois da Ressurreição e que as palavras de Jesus só se podem aceitar e compreender a essa luz. Uma das palavras-chave do discurso de Jesus é "morar": aqui e em tantas passagens do Evangelho... Morar com alguém é entrar na sua intimidade, para ficar juntos. É isso que Deus quer: "estar com" com os homens, "Emanuel", para que nós estejamos também com Ele. Não podemos aceder ao sentido profundo das palavras de Jesus sobre a sua carne a comer e o seu sangue a beber se não nos colocarmos no registo do amor que exige a presença, o "estar com" dos dois seres que se amam. No amor, é tudo ou nada. O seu amor por nós é tal que Ele quer dar-Se na totalidade do seu ser e quer que esse dom dure sempre. Esta experiência já acontece humanamente: num momento de intensa comunhão com o ser amado, desejamos ardentemente que isso dure sempre. Ao escolher o meio do banquete eucarístico para colocar em nós a sua presença de Ressuscitado, Jesus quer enraizar-Se em nós e alimentar o gérmen da Vida eterna que será doravante a sua. Eis porque Ele pode afirmar: "quem comer deste pão viverá eternamente". Participar na Eucaristia, comungar do corpo e do sangue de Jesus ressuscitado, é oferecer-Lhe o nosso "espaço humano" muito concreto, toda a nossa pessoa para que Ele venha habitar em nós. Então podemos, desde agora, ser um com Ele: "já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim!".

    4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE...
    O importante é viver e partilhar a vida. Nesta semana, poderíamos estar particularmente atentos àqueles que têm dificuldade em viver, porque o seu sofrimento é demasiado pesado... Talvez poderemos, simplesmente, estar presentes a seu lado e dizer-lhes uma palavra de vida, algumas palavras do coração que saibam reacender a esperança.

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
    Tel. 218540900 - Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.org

  • S. João Eudes, Presbítero

    S. João Eudes, Presbítero


    19 de Agosto, 2024

    S. João Eudes nasceu em França, em 1601. Tendo estudado num colégio dos Jesuítas, acabou por entrar no Oratório de Paris, em 1624, onde foi iniciado na espiritualidade por Bérulle e Condren. Dedicou-se à pregação de missões populares e ao ministério do confessionário. Em 1642 fundou a congregação dos Eudistas e a de Nossa Senhora da Caridade, que tiveram importante papel na divulgação da devoção ao Sagrado Coração de Jesus. João Eudes foi o autor dos primeiros textos para a celebração litúrgica dos sagrados Corações de Jesus e de Maria. Faleceu em 1680.

    Lectio

    Primeira leitura: Efésios 3, 14-19

    Irmãos: Eu dobro os joelhos diante do Pai, 15do qual recebe o nome toda a família, nos céus e na terra: 16que Ele vos conceda, de acordo com a riqueza da sua glória, que sejais cheios de força, pelo seu Espírito, para que se robusteça em vós o homem interior; 17que Cristo, pela fé, habite nos vossos corações; que estejais enraizados e alicerçados no amor, 18para terdes a capacidade de apreender, com todos os santos, qual a largura, o comprimento, a altura e a profundidade... 19a capacidade de conhecer o amor de Cristo, que ultrapassa todo o conhecimento, para que sejais repletos, até receberdes toda a plenitude de Deus.

    Toda a família, isto é, qualquer grupo que possamos imaginar, nos céus e na terra, tem por autor o mesmo e único Deus. O internacionalismo de Paulo é absoluto e universal. No império romano eram toleradas, e até apoiadas, todas as religiões, na condição de que não pretendessem ser internacionais. Paulo tinha consciência de ser instrumento de uma irrupção do divino, que o impelia a percorrer o caminho do universalismo absoluto. Mas desconhecia as consequências sociais e políticas da sua cosmovisão religiosa. O Apóstolo fala do "homem interior" que terá de ser "fortificado pelo Espírito". Vislumbra a grandiosidade da meta para a qual se dirige a partir da saída de si mesmo. Só através da fé os cristãos poderão "apreender qual a largura, o comprimento, a altura e a profundidade" (v. 18) de algo que é indizível, "o amor de Cristo, que ultrapassa todo o conhecimento" (v. 19), até ficarem "repletos de toda a plenitude de Deus" (v. 19).

    Evangelho: da féria (ou do Comum)

    Meditatio

    O Padre Eudes, a maravilha do seu século, no dizer de M. Olier, depois de ter penetrado até ao mais íntimo das almas de Jesus e de Maria e depois de ter perscrutado os seus mistérios, tão tardou a encontrar um alimento para a sua piedade na devoção aos Sagrados Corações de Jesus e de Maria. Esclarecido pelas luzes sobrenaturais da Irmã Maria des Vallées e provavelmente também pelas suas próprias revelações, não quis ter outra meta para o seu amor e para as suas homenagens senão estes Corações Sagrados, Resolveu consagrar a sua vida a estabelecer e a propagar o culto destes dois Corações, que uniu como fazendo um só todo moral, considerando-os como um mesmo Coração em unidade de espírito, de sentimento, de vontade e de afeto. Começa a sua propaganda em 1640, e a primeira grande revelação de Margarida Maria não data senão de 1673. «Ele foi, diz o Padre Regnault (diretor do Mensageiro do Sagrado Coração), um zelador excecional ao qual cabe a honra insigne de ter sido o primeiro a trabalhar na propagação do culto do Sagrado Coração». - «O Padre Eudes, diz o cardeal Perraud, foi suscitado por Deus para preparar o mundo cristão a receber a grande devoção da qual uma revelação miraculosa devia confiar mais tarde o apostolado à visitandina de Paray».
    O Padre Eudes começou por fundar duas congregações, consagradas aos sagrados Corações de Jesus e de Maria. A sua Congregação de Padres propagou esta devoção em várias dioceses. Depois erigiu confrarias dedicadas à mesma devoção e obteve para elas a aprovação da Santa Sé. Fundou várias capelas em honra dos dois Sagrados Corações. A de São Salvador, na diocese de Coutance, é designada numa bula de Clemente X sob o nome preciso de igreja do Coração de Jesus e de Maria. A sua construção deu lugar às ofertas mais generosas da parte de todas as classes da sociedade. O Padre Eudes preparava assim o público, em França, para receber as manifestações de Paray-le-Monial.
    Até 1670, o Padre Eudes tinha unido mais ou menos constantemente os dois Corações do Filho e da Mãe, considerando-os na sua união moral. A partir desta altura, faz de cada um destes Corações objeto de um culto especial.
    O Padre Eudes redige então esta missa deliciosa do Sagrado Coração que se chamou a missa do fogo tanto é animada por um amor ardente. Foi aprovada em várias dioceses. Escreve o seu belo ofício, que exprime tão bem o espírito suave e terno de Jesus, e que nos revela, como diz o Padre Le Doré, os tesouros de mansidão, de misericórdia e de bondade que encerra o Coração tão cheio de amor do divino Mestre. São como outros tantos jatos de fogo que se escapam uns atrás dos outros do Coração de Jesus e da alma que canta o seu amor, as suas grandezas e os seus encantos.
    Várias comunidades religiosas adotaram o ofício da missa, nomeadamente as beneditinas do Santíssimo Sacramento e a abadia de Montmartre.
    No seu livro sobre o Coração adorável de Jesus, publicado em 1670, o Padre Eudes exprime já todos os sentimentos que Margarida Maria devia receber diretamente do Coração de Jesus, pouco tempo depois.
    Como ela, une a reparação ao amor. Diz-nos que um dos sentimentos do Coração de Jesus que mais merece ser objeto da nossa devoção é esta imensa dor de que está penetrado desde a sua agonia até ao Calvário, e que o inundaria todos os dias, se a dor pudesse entrar no céu.
    Mostra-nos também no Coração de Jesus o altar de ouro do divino amor, a cidade de refúgio das almas provadas, e ensaiado já o tesouro de todas as graças e de todas as reparações. (Leão Dehon, OSP 4, p. 171s.).

    Oratio

    Senhor, com S. João Eudes, como com todos os apóstolos do vosso divino Coração, consagro-vos o meu coração, para o entregar ao vosso amor e à reparação que esperais dos vossos amigos. Ámen. (Leão Dehon OSP 4, p. 172).

    Contemplatio

    Jesus comunica-nos a sua vida divina unindo-se a nós pela graça: «Eu sou a vida, diz, e vim para a espalhar nas almas» (Jo 10, 10). - «Eu vivo e vós viveis da minha própria vida» (Jo 4, 19). - «Quem tem o Filho de Deus em si, tem a vida» (Jo 5, 12). É pelo seu Coração que Jesus nos comunica a sua vida divina. «Este Coração sagrado, diz o Padre Eudes, é o princípio da vida não só do Homem-Deus, mas da mãe e dos filhos de Deus. - O Coração espiritual de Jesus, isto é, a sua alma santíssima, unido à sua divindade, é o princípio da sua vida espiritual e moral. - É também o princípio da vida da Mãe de Deus. O Filho-Deus recebia de Maria a vida material e transmitia-lhe a vida espiritual e sobrenatural. - O Coração de Jesus é também o princípio da vida sobrenatural de todos os filhos de Deus. Como é a vida do chefe, é também a vida dos membros. Em Jesus, diz S. Tomás, está a plenitude da graça ou da vida das almas. Ela está depositada no seu Coração, como num reservatório universal, de onde ela corre para a humanidade a fim de a santificar». Nosso Senhor disse-nos isso várias vezes: «Se alguém me ama, o meu Pai amá-lo-á, e nós viremos a ele, e faremos nele a nossa morada» (Jo 14, 23). Jesus habita em nós pela sua graça, e o seu Coração une-se ao nosso coração para aí se tornar o princípio vivo da vida espiritual e divina em nós (Père Eudes: Le royaume de Jesus, et le coeur admirable de Marie). (Leão Dehon, OSP 3, p. 508).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Cristo habite, pela fé, nos vossos corações" (Ef 3, 17).

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    S. João Eudes, Presbítero (19 Agosto)

  • A Virgem Santa Maria

    A Virgem Santa Maria


    22 de Agosto, 2024

    A festa litúrgica de "A Virgem Santa Maria, Rainha", ou da realeza de Maria, foi auspiciada por alguns congressos marianos a partir do ano de 1900. Em 1925, Pio XI instituiu a festa de Cristo Rei. Em 1954, na conclusão do centenário da proclamação do dogma da Imaculada Conceição, Pio XII anunciou esta festa para o dia 31 de Maio. Na reforma do calendário, promovida pelo Vaticano II, a festa foi fixada na oitava da Assunção de Nossa Senhora, a 22 de Agosto, para manifestar a conexão que existe entre a realeza de Maria e a sua Assunção ao céu.

    Lectio

    Primeira leitura: Isaías 9, 1-6

    O povo que andava nas trevas viu uma grande luz;habitavam numa terra de sombras, mas uma luz brilhou sobre eles. 2Multiplicaste a alegria, aumentaste o júbilo; alegram-se diante de ti como os que se alegram no tempo da colheita, como se regozijam os que repartem os despojos. 3Pois Tu quebraste o seu jugo pesado, a vara que lhe feria o ombro e o bastão do seu capataz, como na jornada de Madian.4Porque a bota que pisa o solo com arrogância e a capa empapada em sangue serão queimadas e serão pasto das chamas.5Porquanto um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado; tem a soberania sobre os seus ombros, e o seu nome é: Conselheiro-Admirável, Deus herói, Pai-Eterno, Príncipe da paz. 6Dilatará o seu domínio com uma paz sem limites, sobre o trono de David e sobre o seu reino. Ele o estabelecerá e o consolidará com o direito e com a justiça, desde agora e para sempre. Assim fará o amor ardente do Senhor do universo.

    O nosso texto, expressão da esperança messiânica de Israel, pode ser interpretado sob o ponto de vista cristológico-mariano. Proclamado por Isaías depois do ano 740 a. C., tem um tom de festa e encorajamento, apesar das nuvens negras que pairam sobre Israel. Os vv. 5ss podem ser lidos segundo a chave que a festa de hoje nos sugere. A realeza de Maria permanece ligada e subordinada à realeza do Messias, Cristo Senhor. O Libertador esperado é o menino que "nasceu para nós: Conselheiro-Admirável, Deus herói, Pai-Eterno, Príncipe da paz" (v. 5). Estas imagens aplicadas à realeza de Cristo são alegóricas, porque o seu reino não é deste mundo, e a sua paz é diferente da que o mesmo mundo nos pode dar. Jesus é manso e humilde de coração. O mesmo se pode dizer da realeza de Maria, humilde serva do Senhor.

    Evangelho: Lucas 1, 26-38

    Naquele tempo, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré,27a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria. 28Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» 29Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação. 30Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. 31Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus.32Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, 33reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.» 34Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» 35O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. 36Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril,37porque nada é impossível a Deus.» 38Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela.

    Em toda esta bela cena, Deus é o principal ator: fala pelo seu anjo, age de modo criador por meio do Espírito, atualiza-se no "Filho", que nasce de Maria. Maria é expressão da humildade que se mantém aberta ao mistério de Deus, é enriquecida pelo mesmo Deus, e concretiza a esperança de Israel. Isabel terá toda a razão quando proclamar, dirigindo-se a Maria: "Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. 43E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor?" (Lc 1, 43). O apelativo "bendita" oferece-nos uma pequena janela que nos permite entrever a senhoria ou realeza de Maria. De fato, é "Bendito seja o Rei que vem em nome do Senhor!" (Lc 19, 37) e "Bendito seja o que vem em nome do Senhor! Bendito o Reino do nosso pai David que está a chegar." (Mc 11, 9s.). Jesus é o fruto "bendito" do ventre de Maria. O clarão que ilumina a consciência de Maria remete para a senhoria do filho concebido por obra do Espírito Santo, e não tanto para qualquer sua soberania pessoal. Por isso, exulta em Deus, seu salvador (cf. Lc 1, 46ss.).

    Meditatio

    Hoje, somos chamados a contemplar Aquela que, sentada à direita do rei dos séculos, resplandece como rainha e intercede por nós como mãe. A figura da rainha-mãe permanece em muitas culturas populares como protótipo de solenidade, de senhoria, de cordialidade, de benevolência. O culto e a própria iconografia representam espontaneamente Maria na postura de uma rainha, revestida de beleza e de glória, muitas vezes sentada e coroada de estrelas, feita, ela mesma, trono do filho que tem nos braços, o Menino Jesus. A liturgia contempla esse ícone de Maria, mãe e rainha. Contempla a ligação de Maria serva a Senhor Deus como participação na realeza de Cristo. Trata-se de uma realeza que é serviço, colaboração com Cristo na salvação da humanidade. A obra de Cristo exigiu a sua morte no Calvário. Junto dele estava a sua mãe. A realeza de Cristo custou-lhe a Paixão e a Morte. A de Maria custou-lhe as dores que a Paixão e a Morte de Jesus lhe causaram.
    O povo cristão costuma invocar Maria como Rainha da Paz. Trata-se de uma conotação com o oráculo de Isaías que fala do "príncipe da paz". Jesus Cristo é a nossa paz, afirma Paulo (cf. Ef 2, 14). Maria é mãe do príncipe da paz. O Menino que nasceu para nós é o fruto bendito do ventre de Maria, é o Senhor, fonte da paz. A paz é sonho e utopia, que convidam ao acolhimento do Senhor da Paz, Jesus Cristo, filho de Maria. Ela é a Virgem pacificada e operadora de paz. O sonho e a utopia convidam-nos a acreditar em Jesus e a realizar obras de paz, que são testamento seu e dom do Espírito.
    O privilégio da maternidade divina de Maria, fonte e a causa das suas grandezas, das suas graças, do seu poder e da sua glória, faz dela a Rainha de todas as criaturas. Veneremo-la, tenhamos confiança nela, amemo-la.

    Oratio

    Salve, Virgem Santa Maria, mãe generosa do Senhor do universo, rei de paz e de justiça. Mulher humilde, acolhida já no céu pelo amor do Pai, inspira o nosso serviço na edificação do reino de Cristo. Mãe feliz, que acreditaste, fica connosco para nos ajudar a guardar e a alimentar a lâmpada da nossa fé. Esposa do Espírito Santo, ensina-nos a perseverar nas obras de misericórdia, de justiça, de paz. Ámen.

    Contemplatio

    O Profeta real repete o seu admirável cântico: «Vejo à vossa direita, ó meu Príncipe, uma Rainha vestida com um manto de ouro todo adornado de bordados. As virgens, depois dela, apresentam-se ao meu Rei com santa alegria» (Sl 44). - Isaías, transportado pelo espírito de Deus, canta num arroubamento sublime: «Eis a Virgem que devia conceber e dar à luz um Filho». A voz de Deus domina todas as exclamações de alegria: «Vinde minha esposa, diz, vinde, minha bem-amada, vinde do Líbano para ser coroada» (Cântico). A Santíssima Trindade concede a Maria a auréola do Martírio, do doutoramento e da virgindade, ornamenta a sua augusta fronte com a coroa real. Eis a Rainha de glória, mas também Rainha de bondade e de misericórdia. Vinde a ela vós todos que estais em dificuldade. O seu poder não tem outros limites que os do amor que o seu Filho tem por ela. Ela é o asilo dos pecadores, a protetora dos justos, a esperança e o sustentáculo da Igreja, o refúgio dos povos e dos reis. Os espíritos celestes são os seus ministros, o género humano os seus súbditos, as três Igrejas o seu reino. Ela é três vezes Rainha. - O segredo do seu poder é o amor que lhe leva o Coração de Jesus. Se o Coração de Jesus é a fonte das graças e o tesouro do céu, quem melhor do que Maria pode ir até a esta fonte e abrir este tesouro? Este coração, não é feito do sangue e da carne de Maria? Rainha do Sagrado Coração, abençoai-nos - se o Sagrado Coração de Jesus é o sol da cidade celeste, o Coração de Maria é como a lua brilhante que nos transmite os seus raios. (Leão Dehon, OSP 4, p. 159s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Bendita a Mãe do meu Senhor!" (cf. Lc 1, 42s).

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    A Virgem Santa Maria (22 Agosto)

  • S. Bartolomeu, Apóstolo

    S. Bartolomeu, Apóstolo


    24 de Agosto, 2024

    S. Bartolomeu é um dos Doze escolhidos por Jesus (cf. Mt 1, 11ss.; Lc 6, 12) para andarem com Ele, serem dotados dos seus poderes e enviados em missão. Identificado com Natanael, amigo de Filipe (cf. Jo 1, 43-51; 22, 2), era natural de Caná. Pouco sabemos sobre Bartolomeu e sobre a sua missão. De acordo com Jo 1, 43ss., era um homem simples e reto, aberto à esperança de Israel. Diversas tradições colocam-no em diferentes regiões do mundo, o que pode indicar um raio de ação muito vasto. Segundo uma dessas tradições, foi esfolado vivo na Pérsia, coroando a sua laboriosa vida missionária com a glória do martírio.

    Lectio

    Primeira leitura: Apocalipse 21, 9b-14

    O Anjo falou-me dizendo: Vou mostrar-te a noiva, a esposa do Cordeiro.» 10E transportou-me, em espírito, a uma grande e alta montanha e mostrou-me a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, de junto de Deus. 11Tinha o resplendor da glória de Deus: brilhava como pedra preciosa, como pedra de jaspe cristalino; 12tinha uma grande e alta muralha com doze portas; nas portas havia doze anjos e em cada uma estava gravado o nome de uma das doze tribos de Israel: 13ao oriente havia três portas, ao norte três portas, ao sul três portas e ao ocidente três portas. 14A muralha da cidade tinha doze alicerces, nos quais estavam gravados doze nomes, os nomes dos doze Apóstolos do Cordeiro.

    A Igreja, no Apocalipse, é a cidade santa, que recolhe as doze tribos de Israel, isto é, o novo Israel de Deus. Os seus muros apoiam-se sobre doze colunas, que são os doze apóstolos. No nosso texto, a Igreja é também chamada "noiva", "a noiva, a esposa do Cordeiro" (v. 9), para evidenciar o vínculo de amor com que Deus Se ligou à humanidade, e Cristo se uniu à Igreja. Cada um dos apóstolos participa e testemunha este amor no seu ministério e, finalmente, no martírio. Por isso, os Doze são também chamados "Apóstolos do Cordeiro" (v. 14). De fato, não só exercem o ministério que Jesus hes confiou, mas também, e principalmente, participam no seu mistério pascal, bebendo com Ele o cálice (cf. Mt 20, 22).

    Evangelho: João 1, 45-51

    Naquele tempo, Filipe encontrou Natanael e disse-lhe: «Encontrámos aquele sobre quem escreveram Moisés, na Lei, e os Profetas: Jesus, filho de José de Nazaré.» 46Então disse-lhe Natanael: «De Nazaré pode vir alguma coisa boa?» Filipe respondeu-lhe: «Vem e verás!»47Jesus viu Natanael, que vinha ao seu encontro, e disse dele: «Aí vem um verdadeiro israelita, em quem não há fingimento.» 48Disse-lhe Natanael: «Donde me conheces?» Respondeu-lhe Jesus: «Antes de Filipe te chamar, Eu vi-te quando estavas debaixo da figueira!» 49Respondeu Natanael: «Rabi, Tu és o Filho de Deus! Tu és o Rei de Israel!»50Retorquiu-lhe Jesus: «Tu crês por Eu te ter dito: 'Vi-te debaixo da figueira'? Hás-de ver coisas maiores do que estas!» 51E acrescentou: «Em verdade, em verdade vos digo: vereis o Céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo por meio do Filho do Homem.»

    Jesus dirige a Natanael um elogio que o deixa surpreendido: "Aí vem um verdadeiro israelita, em quem não há fingimento." (v. 47). Com efeito, as palavras de Jesus incluíam a verificação que nos deixa entrever um pouco mais o espírito de Natanael: o seu amor pela verdade. O apóstolo era um homem que procurava a verdade. A sua inteligência abre-se ao mistério que se revela. É o que também se verificará quando da primeira aparição de Jesus ressuscitado. Da procura passa à fé. Por isso, este apóstolo é um ícone do verdadeiro crente que, iluminado pela Palavra, agudiza a sua capacidade visiva interior e que, pela fé, reconhece em Jesus o Salvador esperado.

    Meditatio

    Jesus conhece o coração do homem. Por isso, pode chamar, com autoridade, aqueles que quer mais perto de si. O Senhor chama para pôr os homens em relação com o céu, para revelar o seu ser, que está em completa relação com o Pai e connosco, ponto de convergência do movimento de Deus rumo aos homens e do anseio dos homens por Deus: Filho do homem e Filho de Deus. Na verdade, quem se aproxima de Jesus vê o céu aberto e os anjos de Deus subir e descer sobre o Filho do homem.
    Os Doze estão com Jesus porque devem ver o Pai agir e permanecer no Filho do homem, numa união que se manifestará plenamente na paixão de Jesus, quando for erguido na cruz e novamente introduzido na glória do Pai. Então se realizará p sonho de Jacob.
    Todos somos chamados a esta profunda revelação. Na Eucaristia revivemos o mistério da morte e da glorificação de Jesus, sacerdote e vítima da nova aliança entre o Pai e os homens. E, com Ele, queremos ser também sacerdotes e vítimas fazendo a oblação de nós mesmos, para glória e alegria de Deus e para salvação da humanidade. O Senhor revela-se a nós como aos Apóstolos, os doze alicerces, sobre os quais se apoia a muralha da cidade, "a noiva, a esposa do Cordeiro" (v. 9).

    Oratio

    Senhor, reacende a nossa fé na contemplação dos mistérios que nos revelas, na festa do apóstolo Bartolomeu. Nós te agradecemos por nos teres reunido na Igreja. Nós te agradecemos por todos aqueles e aquelas que, de coração sincero, continuam a difundir no mundo inteiro, apoiados pelo teu Espírito Santo, a fé e o amor dos Apóstolos. Ámen.

    Contemplatio

    Deus compraz-se naqueles que caminham diante dele na simplicidade do seu coração (Prov. 11). Deus detesta os corações duplos e hipócritas. Aqueles que usam a dissimulação e a astúcia provocam a sua cólera (Job 36). O Espírito Santo retira-se daqueles que são duplos e dissimulados (Sab 1, 5). Natanael ganhou o coração de Nosso Senhor pela simplicidade e retidão do seu coração (Jo 1, 47). Deus não desprezará nunca a simplicidade, diz Job. Não rejeitará aqueles que se aproximam dele com simplicidade (Job 8,10). O Espírito Santo assegura-nos que os cumulará com os seus dons e as suas bênçãos (Prov. 28,10). O simples é bem sucedido nos seus desígnios e Deus abençoa-O. Segue os caminhos de Deus; pode caminhar com confiança (Prov. 10,9 e 29). Deus frustrará os que são dúplices e dará as suas graças aos humildes (Prov. 3,34). Os simples são acarinhados, estimados por Jesus, como aquelas crianças do Evangelho que Jesus atraía apesar dos seus apóstolos. «É imitando esta inocência e esta candura de crianças, dizia Jesus, que vos haveis de tornar agradáveis ao meu coração» (Mt 18). Como é que havemos de hesitar em amar e em praticar a simplicidade?(Leão Dehon, OSP 3, p. 48s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Rabi, Tu és o Filho de Deus! Tu és o Rei de Israel!" (Jo 1, 49).

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    S. Bartolomeu, Apóstolo (24 Agosto)

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