Liturgia

Week of Set 19th

  • 25º Domingo do Tempo Comum - Ano B

    25º Domingo do Tempo Comum - Ano B


    19 de Setembro, 2021

    ANO B
    25º DOMINGO DO TEMPO COMUM

    Tema do 25º Domingo do Tempo Comum

    A liturgia do 25º Domingo do Comum convida os crentes a prescindir da "sabedoria do mundo" e a escolher a "sabedoria de Deus". Só a "sabedoria de Deus" - dizem os textos bíblicos deste domingo - possibilitará ao homem o acesso à vida plena, à felicidade sem fim.
    O Evangelho apresenta-nos uma história de confronto entre a "sabedoria de Deus" e a "sabedoria do mundo". Jesus, imbuído da lógica de Deus, está disposto a aceitar o projecto do Pai e a fazer da sua vida um dom de amor aos homens; os discípulos, imbuídos da lógica do mundo, não têm dificuldade em entender essa opção e em comprometer-se com esse projecto. Jesus avisa-os, contudo, de que só há lugar na comunidade cristã para quem escuta os desafios de Deus e aceita fazer da vida um serviço aos irmãos, particularmente aos humildes, aos pequenos, aos pobres.
    A segunda leitura exorta os crentes a viverem de acordo com a "sabedoria de Deus", pois só ela pode conduzir o homem ao encontro da vida plena. Ao contrário, uma vida conduzida segundo os critérios da "sabedoria do mundo" irá gerar violência, divisões, conflitos, infelicidade, morte.
    A primeira leitura avisa os crentes de que escolher a "sabedoria de Deus" provocará o ódio do mundo. Contudo, o sofrimento não pode desanimar os que escolhem a "sabedoria de Deus": a perseguição é a consequência natural da sua coerência de vida.
    LEITURA I - Sab 2,12.17-20

    Leitura do Livro da Sabedoria

    Disseram os ímpios:
    «Armemos ciladas ao justo,
    porque nos incomoda e se opõe às nossas obras;
    censura-nos as transgressões à lei
    e repreende-nos as faltas de educação.
    Vejamos se as suas palavras são verdadeiras,
    observemos como é a sua morte.
    Porque, se o justo é filho de Deus,
    Deus o protegerá e o livrará das mãos dos seus adversários.
    Provemo-lo com ultrajes e torturas
    para conhecermos a sua mansidão
    e apreciarmos a sua paciência.
    Condenemo-lo à morte infame,
    porque, segundo diz, Alguém virá socorrê-lo.

    AMBIENTE

    O "Livro da Sabedoria" é o mais recente de todos os livros do Antigo Testamento (aparece durante o séc. I a.C.). O seu autor - um judeu de língua grega, provavelmente nascido e educado na Diáspora (Alexandria?) - exprimindo-se em termos e concepções do mundo helénico, faz o elogio da "sabedoria" israelita, traça o quadro da sorte que espera o "justo" e o "ímpio" no mais-além e descreve (com exemplos tirados da história do Êxodo) as sortes diversas que tiveram os pagãos (idólatras) e os hebreus (fiéis a Jahwéh).
    Estamos em Alexandria (Egipto), num meio fortemente helenizado. As outras culturas - nomeadamente a judaica - são desvalorizadas e hostilizadas. A enorme colónia judaica residente na cidade conhece mesmo, sobretudo nos reinados de Ptolomeu Alexandre (106-88 a.C.) e de Ptolomeu Dionísio (80-52 a.C.), uma dura perseguição. Os sábios helénicos procuram demonstrar, por um lado, a superioridade da cultura grega e, por outro, a incongruência do judaísmo e da sua proposta de vida... Os judeus são encorajados a deixar a sua fé, a "modernizar-se" e a abrir-se aos brilhantes valores da cultura helénica.
    É neste ambiente que o sábio autor do Livro da Sabedoria decide defender os valores da fé e da cultura do seu Povo. O seu objectivo é duplo: dirigindo-se aos seus compatriotas judeus (mergulhados no paganismo, na idolatria, na imoralidade), convida-os a redescobrirem a fé dos pais e os valores judaicos; dirigindo-se aos pagãos, convida-os a constatar o absurdo da idolatria e a aderir a Jahwéh, o verdadeiro e único Deus... Para uns e para outros, o autor pretende deixar este ensinamento fundamental: só Jahwéh garante a verdadeira "sabedoria" e a verdadeira felicidade.
    O texto que nos é proposto faz parte da primeira parte do livro (cf. Sab 1-5). Aí, o autor reflecte longamente e em pormenor sobre o destino dos "justos" e o destino dos "ímpios".
    Na secção que vai de Sab 1,16-2,24, o autor do Livro da Sabedoria apresenta o quadro da vida dos "ímpios". Depois de apresentar os raciocínios dos "ímpios" (cf. Sab 1,16-2,9) e as suas reacções de desprezo face aos "justos" (cf. Sab 2,10-20), o sábio autor desta reflexão partilha com os seus leitores a sua própria crítica às atitudes incoerentes dos "ímpios" (cf. Sab 2,21-24). Mostrando o sem sentido da conduta dos "ímpios", ele pretende dizer aos seus concidadãos que vale a pena ser "justo" e manter-se fiel aos valores tradicionais da fé de Israel.

    MENSAGEM

    Esses "ímpios" de que fala o sábio autor do nosso texto são, certamente, os pagãos hostis, que zombavam dos costumes e dos valores religiosos judaicos e que levavam uma vida de corrupção e de imoralidade; mas são também, com toda a certeza, os judeus apóstatas, que se tinham deixado contaminar pela cultura grega, que haviam abandonado as tradições dos antepassados e que consideravam a religião judaica um conjunto de tradições obscurantistas, impróprias da "modernidade".
    A vida desses "justos" que assumiram os valores de Deus e que, mesmo no meio da hostilidade geral, procuram preservar os seus valores e viver de forma coerente com a sua fé, constitui um incómodo e uma dura interpelação para os "ímpios". A coerência, a honestidade, a verticalidade e a fidelidade dos "justos" constituem um permanente espinho que magoa os "ímpios" e que não os deixa sentirem-se em paz com a sua consciência.
    A reacção dos "ímpios" apresenta-se sempre em forma de perseguição, de ciladas, de ultrajes, de torturas e, em último caso, de assassínios. Trata-se de uma realidade que os justos de todas as épocas conhecem bem.
    A vida dos "justos" estará, então, condenada ao fracasso? Valerá a pena enfrentar a perseguição e conservar-se fiel a Deus e às suas propostas? O texto que nos é hoje proposto como primeira leitura não responde a estas questões; no entanto, o autor do Livro da Sabedoria dirá, mais à frente, que a fidelidade do justo será recompensada e que a sua vida desembocará nessa vida plena e definitiva que Deus reserva para aqueles que seguem os seus caminhos.

    ACTUALIZAÇÃO

    • Por detrás do confronto entre o "ímpio" e o "justo", está o confronto entre a "sabedoria do mundo" e a "sabedoria de Deus". Trata-se de duas realidades em permanente choque de interesses e diante das quais temos, tantas vezes, de fazer a nossa opção. Para mim, qual destas duas realidades faz mais sentido? Por qual delas costumo optar?

    • O que é a "sabedoria do mundo"? A "sabedoria do mundo" é a atitude de quem, fechado no seu orgulho e auto-suficiência, resolve prescindir de Deus e dos seus valores, de quem vive para o "ter", de quem põe em primeiro lugar o dinheiro, o poder, o êxito, a fama, a ambição, os valores efémeros. Trata-se de uma "sabedoria" que, em lugar de conduzir o homem à sua plena realização, o torna vazio, frustrado, deprimido, escravo. Pode apresentar-se com as cores sedutoras da felicidade efémera, com as exigências da filosofia da moda, com a auréola brilhante da intelectualidade, ou com o brilho passageiro dos triunfos humanos; mas nunca dará ao homem uma felicidade duradoura.

    • O que é a "sabedoria de Deus"? A "sabedoria de Deus" é a atitude daqueles que assumiram e interiorizaram as propostas de Deus e se deixam conduzir por elas. Atentos à vontade e aos desafios de Deus, procuram escutá-l'O e seguir os seus caminhos; tendo como modelo de vida Jesus Cristo, vivem a sua existência no amor e no serviço aos irmãos; comprometem-se com a construção de um mundo mais fraterno e lutam pela justiça e pela paz. Trata-se de uma "sabedoria" que nem sempre é entendida pelos homens e que, tantas vezes, é considerada um refúgio para os simples, os incapazes, os pouco ambiciosos, os vencidos, aqueles que nunca moldarão o edifício social. Parece, muitas vezes, apenas gerar sofrimento, perseguição, incompreensão, dor, fracasso. No entanto, trata-se de uma "sabedoria" que leva o homem ao encontro da verdadeira felicidade, da verdadeira realização, da vida plena.

    • Quem escolhe a "sabedoria de Deus", não tem uma vida fácil. Será incompreendido, caluniado, desautorizado, perseguido, torturado... Contudo, o sofrimento não pode desanimar os que escolhem a "sabedoria de Deus": a perseguição é a consequência natural da sua coerência de vida. Não devemos ficar preocupados quando o mundo nos persegue; devemos ficar preocupados quando somos aplaudidos e adulados por aqueles que escolheram a "sabedoria do mundo".
    SALMO RESPONSORIAL - Salmo 53 (54)

    Refrão: O Senhor sustenta a minha vida.

    Senhor, salvai-me pelo vosso nome,
    pelo vosso poder fazei-me justiça.
    Senhor, ouvi a minha oração,
    atendei às palavras da minha boca.

    Levantaram-se contra mim os arrogantes
    e os violentos atentaram contra a minha vida.
    Não têm a Deus na sua presença.

    Deus vem em meu auxílio,
    o Senhor sustenta a minha vida.
    De bom grado oferecerei sacrifícios,
    cantarei a glória do vosso nome, Senhor.
    LEITURA II - Tiago 3,16-4,3

    Leitura da Epístola de São Tiago

    Caríssimos:
    Onde há inveja e rivalidade,
    também há desordem e toda a espécie de más acções.
    Mas a sabedoria que vem do alto
    é pura, pacífica, compreensiva e generosa,
    cheia de misericórdia e de boas obras,
    imparcial e sem hipocrisia.
    O fruto da justiça semeia-se na paz
    para aqueles que praticam a paz.
    De onde vêm as guerras?
    De onde procedem os conflitos entre vós?
    Não é precisamente das paixões que lutam nos vossos membros?
    Cobiçais e nada conseguis: então assassinais.
    Sois invejosos e não podeis obter nada:
    então entrais em conflitos e guerras.
    Nada tendes, porque nada pedis.
    Pedis e não recebeis, porque pedis mal,
    pois o que pedis é para satisfazer as vossas paixões.

    AMBIENTE

    Depois de convidar os crentes à autenticidade e coerência da fé (cf. Tg 1,2-27) e de os exortar a expressar a fé em atitudes concretas (cf. Tg 2,1-24), o autor da Carta de Tiago elenca, na terceira parte desta carta (cf. Tg 3,1-4,10), uma série de aspectos particulares que precisam da atenção e do cuidado dos crentes.
    Estes aspectos particulares tratados na terceira parte da carta são, certamente, questões e situações que incomodavam as comunidades cristãs de origem judaica a quem a carta se dirige (e que não estão circunscritas à Palestina, mas espalhadas por todo o mundo greco-romano, sobretudo nas regiões próximas da Palestina, como a Síria, o Egipto ou a Ásia Menor). O primeiro aspecto particular a que o autor se refere é ao cuidado a ter com a língua (cf. Tg 3,1-12); o segundo refere-se à necessidade de os crentes rejeitarem a "sabedoria do mundo" e de acolherem a "sabedoria que vem do alto" (cf. Tg 3,13-18); o terceiro é uma análise sobre a origem das discórdias que envenenam a vida das comunidades cristãs (cf. Tg 4,1-10). O texto que nos é proposto junta alguns versículos do segundo com alguns versículos do terceiro ponto.
    O objectivo do autor da Carta de Tiago continua a ser, também nesta terceira parte, purificar a existência cristã e exortar os crentes para que não percam os valores cristãos autênticos.

    MENSAGEM

    A primeira parte do nosso texto (cf. Tg 3,16-18) exorta os crentes a viverem de acordo com a "sabedoria de Deus".
    A "sabedoria do mundo" gera inveja, contendas, falsidade (cf. Tg 3,14), rivalidade, desordem e toda a espécie de más acções (cf. Tg 3,16). Acaba por destruir a vida da própria pessoa e por impedir a comunhão dos irmãos. Trata-se de uma "sabedoria" incompatível com as exigências da adesão a Cristo.
    Ao contrário, a "sabedoria de Deus" é "pura, pacífica, compreensiva e generosa, cheia de misericórdia e boas obras, imparcial e sem hipocrisia" (Tg 3,17). São sete as "qualidades" da "sabedoria" aqui enumeradas: dado que o número sete significa "perfeição", "plenitude", o autor da Carta de Tiago está, assim, a propor aos crentes um caminho de perfeição, de realização total, de vida plena. Se o cristão quer viver em paz (isto é, em comunhão) com Deus, deve acolher a "sabedoria de Deus" e actuar de acordo com ela em cada passo da sua existência.
    Na segunda parte do nosso texto (cf. Tg 4,1-3), o autor da Carta analisa as causas da situação de conflito e de discórdia que se nota em muitas das comunidades cristãs e que é incompatível com as exigências do compromisso com Cristo. Esse quadro resulta do facto de os crentes não terem ainda interiorizado a proposta de Cristo... Em lugar de fazerem da sua vida, como Cristo, um dom de amor aos irmãos, e de traduzirem esse amor em gestos concretos de partilha, de serviço, de solidariedade, de fraternidade, estes crentes vivem fechados no seu egoísmo e no seu orgulho. O seu coração está dominado pela cobiça, pela inveja, pela vontade de se sobrepor aos outros... E essas "paixões" más traduzem-se naturalmente, a nível da relação comunitária, em atitudes de luta, de inveja, de rivalidade, de ciúme, de arrogância, de ira. Vivem de acordo com a "sabedoria do mundo" e não de acordo com a "sabedoria de Deus".
    Naturalmente, a sua oração não é escutada por Deus... O que eles pedem a Deus não é para satisfazer as suas necessidades materiais, mas para satisfazer as suas "paixões", o seu orgulho, a sua cobiça, a sua vontade de se sobrepor aos outros irmãos. Uma oração que assenta em bases egoístas não pode ser escutada por Deus.

    ACTUALIZAÇÃO

    • O Baptismo é, para todos os crentes, o momento da opção por Cristo e pela proposta de vida nova que Ele veio apresentar; é o momento em que os crentes escolhem a "sabedoria de Deus" e passam a conduzir a sua vida pelos critérios de Deus. A partir desse momento, a vida dos crentes deve ser expressão da vida de Deus, dos valores de Deus, do amor de Deus. Num mundo que se constrói, tantas vezes, à margem de Deus, os cristãos devem ser os rostos dessa vida nova que Deus quer oferecer ao mundo. Estou consciente desta realidade? Tenho vivido de forma coerente com os compromissos que assumi no dia do meu Baptismo? Os valores que conduzem a minha vida são os valores que brotam da "sabedoria de Deus"?

    • No entanto, muitos baptizados continuam a conduzir a sua vida de acordo com a "sabedoria do mundo". Passam, com indiferença, ao lado dos desafios que Deus faz, instalam-se no egoísmo e na auto-suficiência, vivem para o "ter", deixam que a sua existência seja dirigida por critérios de ambição e de ganância, recusam-se a fazer da sua vida uma partilha generosa com os irmãos... O autor da Carta de Tiago avisa: cuidado, pois a opção pela "sabedoria do mundo" não é um caminho para a realização plena do homem; só gera infelicidade, desordem, guerras, rivalidades, conflitos, morte. Nós, os cristãos, temos de estar permanentemente num processo de conversão para que a "sabedoria do mundo" não ocupe todo o nosso coração e não nos impeça de atingir a vida plena.

    • Quando pautamos a nossa vida pela "sabedoria do mundo", isso tem consequências nas relações que estabelecemos com aqueles que caminham ao nosso lado. A ambição, a inveja, o orgulho, a competição, o egoísmo, criam divisões e destroem a comunidade. As nossas comunidades cristãs (ou religiosas) dão testemunho da "sabedoria de Deus" ou da "sabedoria do mundo"? As rivalidades, os ciúmes, as críticas destrutivas, a indiferença, as palavras que magoam, as lutas pelo poder, as tentativas de afirmação pessoal à custa do irmão, são compatíveis com a "sabedoria de Deus" que escolhemos no dia do nosso Baptismo?

    • Uma palavra para o tema da oração, abordado no último versículo do nosso texto... Quando o nosso coração está cheio da "sabedoria do mundo", a nossa oração não faz sentido; torna-se um monólogo egoísta, uma pedinchice de coisas que se destinam a satisfazer as nossas "paixões", as nossas ambições, os nossos interesses pessoais. Antes de falar com Deus, precisamos de mudar o nosso coração, de reequacionar os nossos valores e as nossas prioridades, de aprender a ver o mundo e a vida com os olhos de Deus. Só então a nossa oração fará sentido: será um diálogo de amor e de comunhão, através do qual escutamos Deus, percebemos os seus planos, acolhemos essa vida que Ele nos quer oferecer.
    ALELUIA - cf. 2Tes 2,14

    Aleluia. Aleluia.

    Deus chamou-nos por meio do Evangelho,
    para alcançarmos a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo.
    EVANGELHO - Mc 9,30-37

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

    Naquele tempo,
    Jesus e os seus discípulos caminhavam através da Galileia,
    mas Ele não queria que ninguém o soubesse;
    porque ensinava os discípulos, dizendo-lhes:
    «O Filho do homem vai ser entregue às mãos dos homens
    e eles vão matá-l'O;
    mas Ele, três dias depois de morto, ressuscitará».
    Os discípulos não compreendiam aquelas palavras
    e tinham medo de O interrogar.
    Quando chegaram a Cafarnaum e já estavam em casa,
    Jesus perguntou-lhes:
    «Que discutíeis no caminho?»
    Eles ficaram calados,
    porque tinham discutido uns com os outros
    sobre qual deles era o maior.
    Então, Jesus sentou-Se, chamou os Doze e disse-lhes:
    «Quem quiser ser o primeiro será o último de todos
    e o servo de todos».
    E, tomando uma criança, colocou-a no meio deles,
    abraçou-a e disse-lhes:
    «Quem receber uma destas crianças em meu nome
    é a Mim que recebe;
    e quem Me receber
    não Me recebe a Mim, mas Àquele que Me enviou».

    AMBIENTE

    Já dissemos no passado domingo que a preocupação essencial de Marcos na segunda parte do seu Evangelho (cf. Mc 8,31-16,8) é apresentar Jesus como "o Filho de Deus". No entanto, Marcos tem o cuidado de demonstrar que Jesus não veio ao mundo para cumprir um destino de triunfos e de glórias humanas, mas para cumprir a vontade do Pai e oferecer a sua vida em dom de amor aos homens. É neste contexto que devemos situar os três anúncios feitos por Jesus acerca da sua paixão e morte (cf. Mc 8,31-33; 9,30-32; 10,32-34).
    O texto que nos é proposto neste domingo é, precisamente, o segundo desses anúncios. O grupo já deixou Cesareia de Filipe (onde Jesus, pela primeira vez, tinha falado da sua paixão e morte, como lemos no Evangelho do passado domingo) e está agora a atravessar a Galileia. Muito provavelmente, a próxima ida para Jerusalém está no horizonte dos discípulos e eles têm consciência de que em Jerusalém se vai jogar a cartada decisiva para esse projecto em que tinham decidido apostar. Nesta fase, todos acreditam ainda que Jesus irá entrar na cidade na pele de um Messias político, poderoso e invencível, capaz de libertar Israel, pela força das armas, do domínio romano.
    Ao longo dessa "caminhada para Jerusalém", Jesus vai catequizando os discípulos, ensinando-lhes os valores do Reino e mostrando-lhes, com gestos concretos, que o projecto do Pai não passa por esquemas de poder e de domínio. O nosso texto faz parte de uma dessas instruções aos discípulos. Será que eles entendem a lógica de Deus e estão dispostos a embarcar, com Jesus, na aventura do Reino?

    MENSAGEM

    O texto divide-se em duas partes. Na primeira, Jesus anuncia a sua próxima paixão, em Jerusalém; na segunda, Jesus ensina aos discípulos a lógica do Reino: o maior, é aquele que se faz servo de todos.
    Na primeira parte (vers. 30-32), Marcos põe na boca de Jesus um segundo anúncio da sua paixão, morte e ressurreição, com palavras ligeiramente diferentes do primeiro anúncio (cf. Mc 8,31-33), mas com o mesmo conteúdo. As palavras de Jesus denotam tranquilidade e uma serena aceitação desses factos que irão concretizar-se num futuro próximo. Jesus recebeu do Pai a missão de propor aos homens um caminho de realização plena, de felicidade sem fim; e Ele vai fazê-lo, mesmo que isso passe pela cruz. A serenidade de Jesus vem-Lhe da total aceitação e da absoluta conformidade com os projectos do Pai.
    Os discípulos mantêm-se num estranho silêncio diante deste anúncio. Marcos explica que eles não entendem a linguagem de Jesus e que têm medo de O interrogar (vers. 32). As palavras de Jesus são claras; o que não é claro, para a mentalidade desses discípulos, é que o caminho do Messias tenha de passar pela cruz e pelo dom da vida. A morte, na perspectiva dos discípulos, não pode ser caminho para a vitória. O "não entendimento" é, aqui, o mesmo que discordância: intimamente, eles discordam do caminho que Jesus escolheu seguir, pois acham que o caminho da cruz é um caminho de fracasso. Apesar de discordarem de Jesus eles não se atrevem, contudo, a criticá-l'O. Provavelmente recordam a dura reacção de Jesus quando Pedro, logo a seguir ao primeiro anúncio da paixão, Lhe recomendou que não aceitasse o projecto do Pai (cf. Mc 8,32-33).
    A segunda parte (vers. 33-37) situa-nos em Cafarnaum, "em casa" (será a casa de Pedro?). A cena começa com uma pergunta de Jesus: "Que discutíeis pelo caminho?" (vers. 33). O contexto sugere que Jesus sabe claramente qual tinha sido o tema da discussão. Provavelmente, captou qualquer coisa da conversa e ficou à espera da oportunidade certa - na tranquilidade da "casa" - para esclarecer as coisas e para continuar a instrução dos discípulos.
    Só neste ponto Marcos informa os seus leitores de que os discípulos tinham discutido, pelo caminho, "sobre qual deles era o maior" (vers. 34). O problema da hierarquização dos postos e das pessoas era um problema sério na sociedade palestina de então. Nas assembleias, na sinagoga, nos banquetes, a "ordem" de apresentação das pessoas estava rigorosamente definida e, com frequência, geravam-se conflitos inultrapassáveis por causa de pretensas infracções ao protocolo hierárquico. Os discípulos estavam profundamente imbuídos desta lógica. Uma vez que se aproximava o triunfo do Messias e iam ser distribuídos os postos-chave na cadeia de poder do reino messiânico, convinha ter o quadro hierárquico claro. Apesar do que Jesus lhes tinha dito pouco antes acerca do seu caminho de cruz, os discípulos recusavam-se a abandonar os seus próprios sonhos materiais e a sua lógica humana.
    Jesus ataca o problema de frente e com toda a clareza, pois o que está em jogo afecta a essência da sua proposta. Na comunidade de Jesus não há uma cadeia de grandeza, com uns no cimo e outros na base... Na comunidade de Jesus, só é grande aquele que é capaz de servir e de oferecer a vida aos seus irmãos (vers. 35). Dessa forma, Jesus deita por terra qualquer pretensão de poder, de domínio, de grandeza, na comunidade do Reino. O discípulo que raciocinar em termos de poder e de grandeza (isto é, segundo a lógica do mundo) está a subverter a ordem do Reino.
    Jesus completa a instrução aos discípulos com um gesto... Toma uma criança, coloca-a no meio do grupo, abraça-a e convida os discípulos a acolherem as "crianças", pois quem acolhe uma criança acolhe o próprio Jesus e acolhe o Pai (vers. 36-37). Na sociedade palestina de então, as crianças eram seres sem direitos e que não contavam do ponto de vista legal (pelo menos enquanto não tivessem feito o "bar mitzvah", a cerimónia que definia a pertença de um rapaz à comunidade do Povo de Deus). Eram, portanto, um símbolo dos débeis, dos pequenos, dos sem direitos, dos pobres, dos indefesos, dos insignificantes, dos marginalizados. São esses, precisamente, que a comunidade de Jesus deve abraçar. No contexto da conversa que Jesus está a ter com os discípulos, o gesto de Jesus significa o seguinte: o discípulo de Jesus é grande, não quando tem poder ou autoridade sobre os outros, mas quando abraça, quando ama, quando serve os pequenos, os pobres, os marginalizados, aqueles que o mundo rejeita e abandona.
    No pequeno e no pobre que a comunidade acolhe, é o próprio Jesus (que também foi pobre, débil, indefeso) que Se torna presente.

    ACTUALIZAÇÃO

    • Os anúncios da paixão testemunham que Jesus, desde cedo, teve consciência de que a missão que o Pai Lhe confiara ia passar pela cruz. Por outro lado, a serenidade e a tranquilidade com que Ele falava do seu destino de cruz mostram uma perfeita conformação com a vontade do Pai e a vontade de cumprir à risca os projectos de Deus. A postura de Jesus é a postura de alguém que vive segundo a "sabedoria de Deus"... Ele nunca conduziu a vida ao sabor dos interesses pessoais, nunca pôs em primeiro lugar esquemas de egoísmo ou de auto-suficiência, nunca Se deixou tentar por sonhos humanos de poder ou de riqueza... Para Ele, o factor decisivo, o valor supremo, sempre foi a vontade do Pai, o projecto de salvação que o Pai tinha para os homens. Nós, cristãos, um dia aderimos a Jesus e aceitamos percorrer o mesmo caminho que Ele percorreu. Que valor e que significado tem, para nós, essa vontade de Deus que dia a dia descobrimos nos pequenos acidentes da nossa vida? Temos a mesma disponibilidade de Jesus para viver na fidelidade aos projectos do Pai? O que é que dirige e condiciona o nosso percurso: os nossos interesses pessoais, ou os projectos de Deus?

    • Neste episódio, os discípulos são o exemplo clássico de quem raciocina segundo a "sabedoria do mundo". Quando Jesus fala em servir e dar a vida, eles não concordam e fecham-se num silêncio amuado; e logo a seguir, discutem uns com os outros por causa da satisfação dos seus apetites de poder e de domínio. Aquilo que os preocupa não é o cumprimento da vontade de Deus, mas a satisfação dos seus interesses próprios, dos seus sonhos pessoais. A atitude dos discípulos mostra a dificuldade que os homens têm em entender e acolher a lógica de Deus. Contudo, a reacção de Jesus diante de tudo isto é clara: quem quer seguir Jesus tem de mudar a mentalidade, os esquemas de pensamento, os valores egoístas e abrir o coração à vontade de Deus, às propostas de Deus, aos desafios de Deus. Não é possível fazer parte da comunidade de Jesus, se não estivermos dispostos a realizar este processo.

    • O Evangelho de hoje convida-nos a repensar a nossa forma de nos situarmos, quer na sociedade, quer dentro da própria comunidade cristã. A instrução de Jesus aos discípulos que o Evangelho deste domingo nos apresenta é uma denúncia dos jogos de poder, das tentativas de domínio sobre os irmãos, dos sonhos de grandeza, das manobras para conquistar honras e privilégios, da busca desenfreada de títulos, da caça às posições de prestígio... Esses comportamentos são ainda mais graves quando acontecem dentro da comunidade cristã: trata-se de comportamentos incompatíveis com o seguimento de Jesus. Nós, os seguidores de Jesus, não podemos, de forma alguma, pactuar com a "sabedoria do mundo"; e uma Igreja que se organiza e estrutura tendo em conta os esquemas do mundo não é a Igreja de Jesus.

    • Na nossa sociedade, os primeiros são os que têm dinheiro, os que têm poder, os que frequentam as festas badaladas nas revistas da sociedade, os que vestem segundo as exigências da moda, os que têm sucesso profissional, os que sabem colar-se aos valores politicamente correctos... E na comunidade cristã? Quem são os primeiros? As palavras de Jesus não deixam qualquer dúvida: "quem quiser ser o primeiro, será o último de todos e o servo de todos". Na comunidade cristã, a única grandeza é a grandeza de quem, com humildade e simplicidade, faz da própria vida um serviço aos irmãos. Na comunidade cristã não há donos, nem grupos privilegiados, nem pessoas mais importantes do que as outras, nem distinções baseadas no dinheiro, na beleza, na cultura, na posição social... Na comunidade cristã há irmãos iguais, a quem a comunidade confia serviços diversos em vista do bem de todos. Aquilo que nos deve mover é a vontade de servir, de partilhar com os irmãos os dons que Deus nos concedeu.

    • A atitude de serviço que Jesus pede aos seus discípulos deve manifestar-se, de forma especial, no acolhimento dos pobres, dos débeis, dos humildes, dos marginalizados, dos sem direitos, daqueles que não nos trazem o reconhecimento público, daqueles que não podem retribuir-nos... Seremos capazes de acolher e de amar os que levam uma vida pouco exemplar, os marginalizados, os estrangeiros, os doentes incuráveis, os idosos, os difíceis, os que ninguém quer e ninguém ama?
    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 25º DOMINGO DO TEMPO COMUM
    (adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao 25º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa... Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. BILHETE DE EVANGELHO.
    Nunca os discípulos teriam ousado discutir diante do seu Mestre para saber quem era o maior. Eis a razão pela qual eles preferem calar-se. Que contraste entre a discussão dos discípulos sobre a sua promoção social e o anúncio de Jesus sobre o seu abaixamento! Como as suas palavras não parecem ser compreendidas pelos seus amigos, Ele vai fazer-lhes sinal através de um gesto: coloca uma criança no meio deles. A criança não conhece o prestígio, é desconsiderada pela sociedade... Jesus identifica-Se com esta criança: "Quem receber uma destas crianças em meu nome é a Mim que recebe". Jesus não Se identifica com os grandes, mas com os pequenos. Ele vai mais longe, identifica-Se com o seu Pai: "Quem Me receber não Me recebe a Mim, mas Àquele que Me enviou". O evangelista não descreve as reacções dos discípulos, mas, naquele dia, estes compreenderam certamente que, se queriam ser seus discípulos, não deveriam procurar ser maiores que o seu Mestre.

    3. À ESCUTA DA PALAVRA.
    "Que discutíeis no caminho? Eles ficaram calados, porque tinham discutido uns com os outros sobre qual deles era o maior". Ser o maior, o primeiro, o melhor, o mais forte... É a terrível tentação do poder! Ela nunca abandonou o próprio Jesus. As suas três tentações, no deserto, andam à volta do poder. Em toda a sua vida, até à cruz, esta tentação vai acompanhá-l'O sempre... Variadas vezes, Jesus repreende os seus discípulos, coloca-os de aviso contra a tentação do poder: "Se alguém quer ser o primeiro, que ele seja o último de todos e o servidor de todos". Jesus pregou tudo isso com palavras e com actos. Basta recordar o episódio do lava-pés na última ceia. O poder, para Jesus, é serviço ao crescimento do amor e da vida. É preciso reconhecer que, na sua história, a Igreja agiu muitas vezes ao contrário do Evangelho... Apesar dos progressos notáveis, em particular depois do Concílio Vaticano II, há ainda muito caminho a fazer. É preciso intensificar a nossa súplica, para que o Espírito não deixe nenhum membro da Igreja tranquilo, a fim de que todos sejamos interpelados pelo Evangelho. Daí depende a credibilidade do testemunho cristão no mundo!

    4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE...
    Fazer o ponto da situação... É-nos dada a ocasião, nesta semana, para fazer o ponto sobre os nossos valores, sobre o que é importante para nós na vida: o que conta verdadeiramente para mim? A segunda leitura e o Evangelho podem ajudar-nos a reflectir nisso. Tomar o tempo para se questionar simplesmente, em verdade, diante do Senhor: no fundo, o que é que eu procuro, o que espero da vida?

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
    Tel. 218540900 - Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.org

  • S. Mateus, Apóstolo

    S. Mateus, Apóstolo


    21 de Setembro, 2021

    S. Mateus era um cobrador de impostos, profissão pouco bem conceituada. Jesus chamou-o a segui-lo. É o próprio Mateus que, de modo muito simples, nos conta a sua conversão (cf. Mt 9, 1-9). Lucas evidencia o banquete oferecido por Mateus, em que Jesus está presente e revela o seu amor misericordioso pelos pecadores. Dotado de certa cultura, Mateus foi o primeiro a recolher por escrito os acontecimentos da vida de Jesus, que testemunhara, agrupando-lhe nesse quadro os ensinamentos do Mestre. O seu evangelho, escrito entre os anos 62 e 70, é especialmente destinado aos seus compatriotas judeus. Apresenta Jesus como o novo Moisés, aquele que dá ao novo Povo de Deus a nova lei do amor. Mateus dá também grande atenção à Igreja que Jesus convoca, salva e institui.

    Lectio

    Primeira leitura: Efésios 4, 1-7.11-13

    Eu, o prisioneiro no Senhor, exorto-vos, pois, a que procedais de um modo digno do chamamento que recebestes; 2com toda a humildade e mansidão, com paciência: suportando-vos uns aos outros no amor, 3esforçando-vos por manter a unidade do Espírito, mediante o vínculo da paz. 4Há um só Corpo e um só Espírito, assim como a vossa vocação vos chamou a uma só esperança; 5um só Senhor, uma só fé,um só baptismo;  6um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por todos e permanece em todos. 7Mas, a cada um de nós foi dada a graça, segundo a medida do dom de Cristo. 11E foi Ele que a alguns constituiu como Apóstolos, Profetas, Evangelistas, Pastores e Mestres, 12em ordem a preparar os santos para uma actividade de serviço, para a construção do Corpo de Cristo, 13até que cheguemos todos à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, ao homem adulto, à medida completa da plenitude de Cristo.

    Paulo exorta os cristãos a uma vida digna da sua vocação, formando "um só corpo" em Cristo Jesus. A condição de prisioneiro dava-lhe maior autoridade para fazer uma tal exigência. A harmonia, a paz, são indispensáveis para viver em unidade. Esta unidade espiritual entre os cristãos é motivada pela sociabilidade e comunitariedade próprias da vida cristã: a Igreja é "um só corpo" animado por "um só Espírito" e por "uma só esperança" na salvação eterna a que a fé em Cristo nos convida. "Um só" é o Senhor, Jesus, que derrubou o muro da separação e da inimizade, e deu a todos a fé e o batismo, como meios de salvação. Acima de tudo, está a única paternidade divina: há "um só Deus e Pai de todos" (v. 6).

    Evangelho: Mateus 9, 9-13
    Naquele tempo, Jesus ia a passar quando viu um homem chamado Mateus, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe: «Segue-me!» E ele levantou-se e seguiu-o. 10Encontrando-se Jesus à mesa em sua casa, numerosos cobradores de impostos e outros pecadores vieram e sentaram-se com Ele e seus discípulos. 11Os fariseus, vendo isto, diziam aos discípulos: «Porque é que o vosso Mestre come com os cobradores de impostos e os pecadores?»12Jesus ouviu-os e respondeu-lhes: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. 13Ide aprender o que significa: Prefiro a misericórdia ao sacrifício. Porque Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores.

    Meditatio

    Ao narrar o seu chamamento por Jesus, o primeiro evangelista, conforme observa S. Jerónimo, usa o seu próprio nome, Mateus. Os outros três evangelistas, ao narrarem o mesmo episódio, chamam-no Levi, o seu segundo nome, provavelmente menos conhecido, talvez para esconder o seu nome de publicano. Mateus, pelo contrário, reconhece-se como publicano, um grupo de pessoas pouco honestas e desprezadas, porque colaboradores dos ocupantes romanos. Mas, Jesus chamou-o, com escândalo de muitos "bem-pensantes".
    Mateus apresenta-se como um publicano perdoado e chamado por Jesus. A vocação de apóstolo não se baseia em méritos pessoais, mas unicamente na misericórdia do Senhor. Só quem se dá conta da sua pobreza, da sua pequenez, aceitando-a como o "lugar" onde Deus derrama a sua misericórdia infinita, está em condições de se tornar apóstolo, de tocar as almas em profundidade, porque comunica o amor de Deus, o seu amor misericordioso: "Prefiro a misericórdia ao sacrifício. Porque Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores." (v. 13). Como diz Paulo, o verdadeiro apóstolo está cheio de humildade, de mansidão, de paciência, uma vez que experimentou em si mesmo a paciência, a mansidão e a humildade divina, que se inclina sobre os pecadores e os ergue com paciência da sua situação.
    O Deus revelado pela palavra e pela ação de Jesus é um Deus misericordioso, que acolhe os que andam perdidos, oferecendo-lhes uma nova ocasião para se reconstruírem, por meio da graça, até atingirem a perfeita unidade da fé, que na primeira leitura é a "medida completa da plenitude de Cristo".

    Oratio

    Pai misericordioso, concede-nos a graça de reconhecer na nossa história pessoal o chamamento fundamental da vida, que o teu Filho e nosso Senhor nos dirige com amor. Que te respondamos com um "sim" pronto e generoso, nas pequenas e grandes ocasiões da nossa vida. Assim poderemos concretizar aquela obra pessoal e comunitária que devemos realizar na Igreja. Que o nosso testemunho de cristãos e de Igreja possa contribuir para a conversão do nosso mundo ao teu amor misericordioso. Ámen.

    Contemplatio

    Mateus/Levi era publicano ou cobrador de impostos. Os homens desta profissão eram muito desprezados entre os Judeus, abusavam muito das suas funções para oprimirem as populações! Nosso Senhor quis, no entanto, escolher um dos seus apóstolos de entre eles. Levi estava no seu escritório, junto do lago de Genesaré, quando Jesus dele se apercebeu e lhe disse para o seguir. O publicano abandonou imediatamente o lugar lucrativo que ocupava, para se ligar a Nosso Senhor. Todo feliz e reconhecido pela sua vocação, convidou o divino Salvador e os seus discípulos para virem tomar uma refeição em sua casa. Convidou ao mesmo tempo vários publicanos seus amigos para os atrair a Jesus. Os fariseus ficaram escandalizados e disseram aos discípulos do Salvador: «Porque é que o vosso mestre come com os publicanos e os pecadores?». Jesus, ouvindo as suas murmurações, deu esta bela resposta: «Os médicos são para os doentes, e não para aqueles que estão de boa saúde. Eu vim chamar, não os justos, mas os pecadores». Palavra encorajadora caída do Coração de Jesus! Não percamos confiança, embora sejamos pecadores. (L. Dehon, OSP 4, p. 275).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Eu não vim chamar os justos,
    mas os pecadores" (Mt 9, 13).

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    S. Mateus, Apóstolo (21 Setembro)

    Tempo Comum - Anos Ímpares - XXV Semana - Terça-feira

    Tempo Comum - Anos Ímpares - XXV Semana - Terça-feira

    21 de Setembro, 2021

    Lectio

    Primeira leitura: Esdras 6, 7-8.12b.14-20

    Naqueles dias, Dario, rei da Pérsia, escreveu às autoridades da província ocidental do Eufrates, dizendo: 7«Deixai continuar os trabalhos do templo de Deus e que o governador dos judeus e seus anciãos o reconstruam no seu lugar. 8Também ordeno como se deve proceder para com esses anciãos dos judeus a fim de que seja reconstruído o templo de Deus: das receitas reais, provenientes dos impostos, pagos na outra margem do rio, pague-se integralmente a esses homens, para que a obra não sofra interrupção; 12bEu, Dario, dei esta ordem. Que ela seja pontualmente executada.» 14Os anciãos dos judeus prosseguiram com êxito a reconstrução do templo, segundo as profecias de Ageu, o profeta, e de Zacarias, filho de Ido. Terminaram a construção, segundo a ordem do Deus de Israel e segundo a ordem de Ciro, de Dario e de Artaxerxes, reis da Pérsia. 15Concluiu-se o edifício no terceiro dia do mês de Adar, no sexto ano do reinado de Dario. 16Os filhos de Israel, os sacerdotes, os levitas e os demais repatriados celebraram com júbilo a dedicação do templo de Deus. 17Ofereceram, para esta dedicação, cem touros, duzentos carneiros, quatrocentos cordeiros e doze bodes, como vítimas expiatórias pelos pecados de todo o Israel. 18Distribuíram os sacerdotes segundo as suas classes e os levitas segundo as suas divisões, para celebrarem o culto de Deus em Jerusalém, conforme as prescrições do livro de Moisés. 19Os repatriados celebraram a Páscoa no dia catorze do primeiro mês. 20Os sacerdotes e os levitas, sem excepção, purificaram-se e, assim, todos estavam puros. Imolaram a Páscoa por todos os repatriados, pelos seus irmãos sacerdotes e por eles mesmos.

    Dario deu continuidade à política de Ciro, facilitando o regresso dos judeus a Jerusalém, e apoiando a reconstrução da cidade e do templo (6, 6-12). O terceiro dia do mês de Adar, no sexto ano do reinado de Dario, corresponde a 1 de Abril de 515 a.C. Foi o ano em que terminaram as obras do templo e também a sua dedicação.
    O apoio das autoridades imperiais foi importante para a reconstrução da cidade e do templo de Jerusalém. Mas as palavras de Ageu e de Zacarias foram ainda mais importantes. O autor bíblico anota que, por detrás dos decretos de Dario e de Artaxerxes, estava a ordem de Deus, do «Deus de Israel», que queria dar novamente força, unidade e esperança ao seu povo. A dedicação do templo, o retomar do culto legítimo e a celebração de uma páscoa ecuménica (cf. v. 20) marcam a nova e decisiva etapa na vida do povo de Deus, que continua a beneficiar das maravilhas de Deus experimenta êxodo.

    Evangelho: Lucas 8, 19-21

    Naquele tempo, 19sua mãe e seus irmãos vieram ter com Ele, mas não podiam aproximar-se por causa da multidão. 20Anunciaram-lhe: «Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem ver-te.» 21Mas Ele respondeu-lhes: «Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática.»

    Lucas apresenta-nos um quadro de rara finura e profundidade. Não denota polémica em relação à família de Jesus, como acontece nos textos paralelos de Mateus e de Marcos. A atenção de Lucas vai para aquilo que, de facto, interessa: a escuta e a prática da Palavra, que criam e definem o verdadeiro sentido de família de Jesus.
    Um dia, «Sua mãe e seus irmãos vieram ter com Ele» (v. 19). Lucas usa um verbo que exprime o desejo de ver Jesus. A forma singular realça a figura da Mãe, que é o sujeito. Para o evangelista, a vinda dos familiares é uma ocasião que permite a Jesus pronunciar a sentença sobre os seus verdadeiros parentes: a escuta e a prática da Palavra cria laços mais fortes do que os do sangue. Esta possibilidade, todavia, não exclui os parentes que vieram visitá-l´O. Lucas exalta a família gerada pela Palavra. Mas não menospreza os laços com a família de sangue.

    Meditatio

    Uma das problemáticas mais prementes da sociedade actual é a relacionada com a família, onde emergem graves dificuldades, por causa da falta de valores e da clivagem das relações. As consultas sócio-psicológicas e as intervenções legislativas são insuficientes para ultrapassar o mal-estar. É preciso regressar à mensagem evangélica sobre a família.
    Jesus reconhece o valor da família, enquanto radicada na intenção original do Criador. Mas também lhe relativiza a importância. O valor da família, como nos recorda o evangelho de hoje, é inferior e subordinado ao da nova família do Reino. A urgência do apelo à conversão e ao acolhimento do Reino explica certas exigências de Jesus.
    A primeira leitura fala da «casa de Deus», e o evangelho fala da família de Jesus. Na Bíblia, o termo casa tanto significa edifício como família. Quando se fala da «casa de David», tanto se entende a habitação como a estirpe de David.
    De acordo com as palavras de Jesus, se escutamos a Palavra de Deus, e a pusermos em prática, tornamo-nos seus irmãos, e até sua mãe. Formamos a família de Jesus. Tornamo-nos «casa de Deus», isto é, sua família e seu templo. Realiza-se, desse modo, o projecto de Deus em habitar com os homens. Não só no meio deles, mas neles, para os unir numa aliança que os faz um único edifício, uma única família e, até, um só corpo, o corpo de Cristo.
    Todas as nossas acções devem tender para este fim: formar o templo de Deus, o corpo de Cristo. Para isso, é essencial escutar a Palavra de Deus, acolher a Palavra de Deus que nos transforma, fazendo de nós pedras vivas que podem entrar na construção da casa de Deus. A Palavra de Deus é poder de Deus e é capaz de nos assimilar ao seu projecto para que, de verdade, possamos «santificar o seu nome», sendo família do Senhor, corpo de Cristo.
    Reencontramos, assim, o ideal que os profetas Ageu e Zacarias procuravam infundir no povo dos exilados regressados a Jerusalém, e incomodados com as dificuldades da empresa. Escutar, como Maria, a Palavra, pô-la em prática como Ela, e viver a consequente bem-aventurança, não significa entrar numa atmosfera de felicidade intimista, mas tornar-se activos colaboradores do sonho de Deus: formar uma família de filhos e filhas, grande como a humanidade inteira.

    Oratio

    Obrigado, Senhor, por me teres chamado a fazer parte da família do Reino, e a experimentar nela a ternura e a força do teu amor de Pai. Dá-me a tua graça, para que me torne, cada vez mais, semelhante a Maria, tua e nossa mãe, modelo de obediência inteligente e actuante à tua Palavra. Como Ela, quero entrar numa escuta silenciosa e adorante da tua Palavra, único caminho para compreender os teus desígnios sobre mim. Que o silêncio interior me separe de mim mesmo, e me conduza ao firmamento do teu Espírito. Então me sentirei "uno" com todos os outros irmãos e
    irmãs em Cristo. Amen.

    Contemplatio

    S. Paulo contemplava sem dúvida este modelo ideal (da Família) de Nazaré, quando traçou o quadro de uma família santa. Revesti-vos, diz, com as virtudes de Jesus Cristo; a misericórdia, a bondade, a humildade, a modéstia, a paciência... Tudo o que fazeis, fazei-lo em nome de Jesus Cristo, dando graças a Deus Pai. Mulheres, sede submissas a vossos maridos como a Deus; esposos, amai as vossas esposas e não sejais duros para com elas; filhos, obedecei em tudo a vossos pais, assim Deus o quer; servos, obedecei aos vossos senhores por amor de Deus. É o quadro da família cristã. (Leão Dehon, OSP 3, p. 82).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
    «Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática» (Lc 8, 21).

  • Beato João Maria de Cruz, Presbítero e Mártir

    Beato João Maria de Cruz, Presbítero e Mártir


    22 de Setembro, 2021

    Padroeiro das Vocações Dehonianas

    (Próprio de Congregação dos SCJ, Dehonianos)
    No dia 25 de setembro de 1891 nasceu em Santo Esteban de los Patos (Ávila) Mariano Garcia Méndez. A sua família era simples, mas rica em virtudes e profundamente cristã. Aos 10 anos de idade, sentiu-se chamado por Cristo para o sacerdócio. Viveu o seu sacerdócio, primeiro como pároco e, depois de muita busca, também como religioso da nossa Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, Dehonianos, tomando o nome de João Maria da Cruz. Dotado de profundo zelo apostólico e foi também o "anjo protetor" do Seminário Dehoniano de Puente La Reina e promotor vocacional da Congregação em Espanha. A Guerra Civil Espanhola levou-o a testemunhar a fé e sua condição de sacerdote, protestando fortemente contra o incêndio da igreja dos Santos Juanes, em Valência. Preso, permaneceu um mês no cárcere, onde exerceu um intenso apostolado. No dia 23 de Agosto de 1936, era já noite, foi fuzilado em Silla (Valência). Reconhecidas as suas virtudes e o seu martírio pela Igreja, foi beatificado pelo Papa João Paulo II, no dia 11 de março de 2001.

    Lectio

    Primeira leitura: Romanos 8, 31b-39

    Irmãos: Se Deus está por nós, quem pode estar contra nós? 32Ele, que nem sequer poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não havia de nos oferecer tudo juntamente com Ele? 33Quem irá acusar os eleitos de Deus? Deus é quem nos justifica!34Quem irá condená-los? Jesus Cristo, aquele que morreu, mais, que ressuscitou, que está à direita de Deus é quem intercede por nós. 35Quem poderá separar-nos do amor de Cristo?A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? 36De acordo com o que está escrito: Por causa de ti, estamos expostos à morte o dia inteiro, fomos tratados como ovelhas destinadas ao matadouro.37Mas em tudo isso saímos mais do que vencedores, graças àquele que nos amou. 38Estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem as potestades, 39nem a altura, nem o abismo, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus, Senhor nosso.

    Depois de ter explicado vários aspetos da vida nova em Cristo e as motivações que fundamentam a fé cristã, Paulo conclui esta secção da sua carta com um hino ao amor de Deus. O hino brota-lhe do coração como uma torrente, provocada pela sua experiência do amor de Deus na sua vida e na da comunidade dos santos. Conhecedor do desígnio do Pai, o Apóstolo canta o papel de Cristo Salvador e Senhor. Nada poderá afastar o cristão do amor que Cristo tem por nós: nem tribulação, nem a angústia, nem a perseguição, nem a a fome, nem a nudez, nem o perigo, a espada. Mas em tudo isso saímos mais do que vencedores, graças àquele que nos amou. (cf. v. 36s.). Nenhuma força terrena e nenhum espírito hostil ao homem poderá separar-nos do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus. O amor é o fundamento indestrutível da vida e da esperança cristãs.

    Evangelho: João 15, 18-21

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Se o mundo vos odeia, reparai que, antes que a vós, me odiou a mim. 19Se viésseis do mundo, o mundo amaria o que é seu; mas, como não vindes do mundo, pois fui Eu que vos escolhi do meio do mundo, por isso é que o mundo vos odeia. 20Lembrai-vos da palavra que vos disse: o servo não é mais que o seu senhor. Se me perseguiram a mim, também vos hão-de perseguir a vós. Se cumpriram a minha palavra, também hão-de cumprir a vossa. 21Mas tudo isto vos farão por causa de mim, porque não reconhecem aquele que me enviou.

    Jesus acabara de falar do amor que havia entre Ele e os discípulos, e que devia haver também entre eles (Jo 15, 9-17). Mas os discípulos vivem no mundo que odeia Jesus e odiará os seus discípulos. Amados por Jesus, e amigos de Jesus, são odiados pelo mundo.
    A primeira experiência da Igreja foi a perseguição iniciada pelos judeus e prosseguida pelos gentios. A perseguição é algo de normal na vida dos cristãos, porque não são do mundo, não lhe pertencem, e estão acima dele porque dão testemunho contra ele, contra os seus pecados. Além disso, "o servo não é mais do que o seu senhor". Não pode ter melhor sorte.

    Meditatio

    Quem ama, imita. O melhor modo de corresponder ao amor de Cristo é imitá-lo. Os mártires seguiram-no até à efusão do sangue, até assemelhar-se a Ele na paixão. Foram muitos que, ao longo dos séculos, como supremo testemunho da sua fé em Jesus Cristo e no seu Evangelho, derramaram o seu sangue. Foi o que aconteceu também em Espanha, entre 1936 e 1939, durante a guerra civil, que ensanguentou aquele país. Uma das vítimas foi o P. João Maria da Cruz, da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, Dehonianos. Nas suas cartas, conversas e comentários, o P. João falava das dificuldades que encontrava durante a guerra civil, quando andava de aldeia em aldeia, de cidade em cidade, a pedir ajudas e a procurar vocações. Nas suas notas pessoais verifica-se claramente que se preparava para o martírio: "oxalá pudesse ser mártir", dizia ele a uma senhora idosa de Puente la Reina, onde era muito popular e conhecido como o "santinho". A 10 de Agosto de 1936, poucos dias antes de ser fuzilado, escrevia, do Cárcere Modelo de Valência, ao Superior Geral da Congregação, P. L. Philippe: "Deus seja bendito! Cumpra-se em tudo a sua santíssima vontade. Considero-me muito feliz por poder sofrer alguma coisa por Ele, que tanto sofreu por mim, pobre pecador... Seja tudo pelo Coração Sacratíssimo de Jesus e pela sua Santíssima Mãe, em espírito de amor e de reparação".
    O P. João tinha experimentado o amor de Deus revelado co Coração trespassado de Cristo. Nada o assustava. O seu desejo íntimo era deixar-se imolar a si mesmo, em união com Cristo, como oblação santa e agradável a Deus, "em espírito de amor e de reparação".
    O sacrifício de Cristo não pode permanecer isolado, não partilhado. Pelo contrário, o martírio do Senhor Jesus é um apelo ao nosso martírio. É por isso que Paulo, na carta aos Romanos, escreve: "Exorto-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais os vossos corpos (isto é, vós mesmos) como sacrifício, vivo, santo e agradável a Deus; é este o vosso culto espiritual" (Rom 12, 1). Cristo foi consagrado e imolado ao Pai, em favor dos homens. Também os cristãos, e particularmente os religiosos e sacerdotes são consagrados e imolados, para se tornarem, com Cristo, construtores do Reino de Deus entre os homens, isto é, reparadores com Cristo reparador. Como dehonianos, é assim que estamos abertos ao "acolhimento do Espírito", damos "uma resposta ao amor de Cristo por nós", estamos em "comunhão no Seu amor pelo Pai" e cooperamos "na sua obra redentora no coração do mundo" (Cst 23).

    Oratio

    Pai santo, que deste ao Beato João Maria da Cruz a graça do sacrifício de amor unitivo, infunde em nós o Espírito Santo. Animados pela sua força divina, queremos corresponder ao teu amor, e dar a nossa vida por aqueles que devem ser edificados. Assim testemunharemos a nossa piedade para com todos, e confessaremos a nossa fé em Jesus Cristo, Senhor. Acolhendo o martírio quotidiano, ou o martírio do sangue, queremos ser advogados e consoladores, oblatos e intercessores, em favor dos nossos irmãos e da humanidade inteira. Ámen.

    Contemplatio

    O bom Mestre propõe aos seus discípulos motivações para sofrerem corajosamente as provações e o próprio martírio, se tal acontecer. Estas motivações são, ainda hoje, a força dos nossos missionários, que, com tanta boa vontade, enfrentam todos os perigos, com o secreto desejo de derramarem o seu sangue pelo Salvador. O primeiro encorajamento que nos dá o bom Mestre é o seu próprio exemplo: «O discípulo, diz, não está acima do Mestre; se me perseguiram, também vos hão-de perseguir a vós». Depois do exemplo de Nosso Senhor, diz S. Bernardo, já não há perseguições nem sofrimentos que possam assustar um cristão; torná-lo participante do cálice do seu divino Filho é uma honra que Deus lhe faz. Nosso Senhor acrescenta que não devemos temer, porque a verdade sairá sempre vitoriosa da mentira e da calúnia; e, aliás, se os nossos inimigos podem atingir o nosso corpo, são impotentes contra a nossa alma e não podem separá-la de Deus. Além disso, a Providência divina vela sobre os seus servos e em particular sobre os apóstolos do Evangelho. Nosso Senhor confessará e glorificará diante de seu Pai os que o tiverem confessado sobre a terra. O último encorajamento e o mais tocante é a alta dignidade dos apóstolos, que são os representantes de Nosso Senhor e outros Ele mesmo. Ele vingá-los-á contra os seus inimigos, tal como recompensará os que os receberem, os que lhes testemunharem respeito e dedicação. (L. Dehon, OSP 2, pp. 311-312).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Quem poderá separar-nos do amor de Cristo?" (Rm 8, 35).

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    Beato João Maria de Cruz, Presbítero e Mártir, Padroeiro das Vocações Dehonianas (22 Setembro)

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