Liturgia

Week of Jul 25th

  • S. Maria Madalena

    S. Maria Madalena


    22 de Julho, 2024

    Maria, presumivelmente nascida em Magdala, pequena povoação nas margens do lago de Tiberíade, é uma das mulheres que seguiram e serviram o Senhor durante a sua vida pública (cf. Mt 20, 55s.). Diz-se que, libertada por Jesus da opressão dos demónios, O seguiu fielmente até aos pés da cruz. Quando, no primeiro dia da semana, foi ao túmulo de Jesus, e o encontrou vazio, permaneceu junto dele a chorar e a perguntar pelo seu Mestre. Encontrou-O quando O ouviu chamar pelo seu nome: "Maria!". E tornou-se a primeira testemunha da Ressurreição, levando a Boa Notícia aos próprios Apóstolos.

    Lectio

    Primeira leitura: Cântico dos Cânticos 3, 1-4ª

    Eis o que diz a esposa: No meu leito, toda a noite, procurei aquele que o meu coração ama; procurei-o e não o encontrei. 2Vou levantar-me e dar voltas pela cidade: pelas praças e pelas ruas, procurarei aquele que o meu coração ama.Procurei-o e não o encontrei.3Encontraram-me os guardas que fazem ronda pela cidade: «Vistes aquele que o meu coração ama?» 4Mal me apartei deles, logo encontrei aquele que o meu coração ama.

    O livro do Cântico dos Cânticos, não só consagra o amor entre o homem e a mulher, mas é, sobretudo, a expressão simbólica do amor de Deus pelo seu povo. Também aquele e aquela que têm sede de Deus experimentam longas noites de silêncio, de incompreensível ausência, que lhes purificam os desejos, por vezes bastante redutivos. E, então, reacende-se o desejo de Deus, mais ardente, mais desinteressado, mais vital. É preciso perseverar na ânsia de encontrar a Deus, pedir ajuda e conselho a quem possa ajudar a encontrá-lo, sabendo que Ele é maior do que os nossos desejos e do que aqueles que nos ajudam a procurá-lo. Se não desistirmos de O procurar, Ele aparecerá quando e onde menos O esperarmos.

    Evangelho: João 20, 1.11-18

    No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo logo de manhã, ainda escuro, e viu retirada a pedra que o tapava. 11E ficou junto ao túmulo, da parte de fora, a chorar. Sem parar de chorar, debruçou-se para dentro do túmulo, 12e contemplou dois anjos vestidos de branco, sentados onde tinha estado o corpo de Jesus, um à cabeceira e o outro aos pés. 13Perguntaram-lhe: «Mulher, porque choras?» E ela respondeu: «Porque levaram o meu Senhor e não sei onde o puseram.» 14Dito isto, voltou-se para trás e viu Jesus, de pé, mas não se dava conta que era Ele. 15E Jesus disse-lhe: «Mulher, porque choras? Quem procuras?» Ela, pensando que era o encarregado do horto, disse-lhe: «Senhor, se foste tu que o tiraste, diz-me onde o puseste, que eu vou buscá-lo.» 16Disse-lhe Jesus: «Maria!» Ela, aproximando-se, exclamou em hebraico: «Rabbuni!» - que quer dizer: «Mestre!» 17Jesus disse-lhe: «Não me detenhas, pois ainda não subi para o Pai; mas vai ter com os meus irmãos e diz-lhes: 'Subo para o meu Pai, que é vosso Pai, para o meu Deus, que é vosso Deus.'» 18Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos: «Vi o Senhor!» E contou o que Ele lhe tinha dito.

    Maria de Magdala, com o seu ardente amor por Jesus, permanece fiel mesmo depois da tragédia do Calvário. Procura-o obstinadamente, e nem o sepulcro vazio a fazem desanimar. Esta mulher é símbolo da Igreja/Esposa, e de toda a alma que procura a Cristo, sabendo que não tem para Lhe oferecer senão lágrimas de amor. O Senhor Ressuscitado e Glorioso deixa-se encontrar por quem assim O procura. Mas só O reconheceremos quando Ele nos chamar pelo nome e nos der a perceber que nos conhece mais a fundo do que pensamos. O encontro encher-nos-á de alegria e far-nos-á viver uma vida nova transfigurada pelo Senhor.

    Meditatio

    Maria Madalena é, para nós, modelo de amor ardente, fiel, reverente, um amor que não sabe e não quer estar longe d´Aquele que ama e que O procura mesmo depois da morte.

    Há diversos tipos de investigação, de procura. A investigação científica, a investigação literária, a procura do sucesso. E todas dão algum sentido à vida. Mas a investigação mais adequada ao homem, mais digna dele é a procura de Deus por amor. Tal procura faz o homem sair de si mesmo em direção ao outro, ao amado, a Cristo, Deus feito homem. "Procurei-o e não o encontrei", diz a esposa dos Cantares. E teve que sair de casa e da cidade para o encontrar. Maria Madalena poderia dizer o mesmo, pois nem sequer encontrou o corpo do seu Senhor. Mas não desistiu de O encontrar, como, tantas vezes, fazemos nós, nos momentos de desolação. Ficou junto ao túmulo, a chorar, a fazer perguntas... E encontrou-O! Encontrou-O quando, Ele mesmo, se deu a conhecer, chamando-a pelo nome: "Maria!". Então, abriram-se-lhe os olhos da mente e do coração: "Rabuni!", exclamou. Os nossos esforços são precisos. Mas não são suficientes para encontrar Jesus. A fé é um dom, uma graça. Há que procurar persistentemente, tenazmente, na oração. Mais tarde ou mais cedo o Senhor revela-nos a sua grandeza e poderemos gritar: "Vi o Senhor!" e dar testemunho do Ressuscitado, como Madalena, os Apóstolos e tantos irmãos ao longo da história, e ainda nos nossos dias. Quem conheceu a longa noite da espera e do desejo tornou-se, muitas vezes, testemunha ardorosa e eficaz da Ressurreição do Senhor.

    Oratio

    Santa Maria Madalena, derramando lágrimas, e procurando Jesus, acabaste por encontrá-lo. Bebeste na fonte da misericórdia, e foste saciada. Tornaste-te a primeira testemunha da Ressurreição, e a evangelizadora dos próprios Apóstolos. Hoje, dirijo-me a ti, confiando na tua poderosa intercessão junto do Senhor Jesus. Também eu sou pecador. Também eu procuro o meu Senhor, no meio de muitas trevas. Alcança-me a graça da compunção, a graça da humildade, e o desejo da pátria celeste. Que lave os meus pecados nas lágrimas do arrependimento e seja saciado do amor e da misericórdia que brotam do Lado aberto e do Coração trespassado do meu Senhor. Ámen.

    Contemplatio

    Jesus pede o amor puro, o amor desinteressado. Quer que aceitemos a aridez, se ela se apresenta, e que mesmo procurando-o, saibamos prescindir da doçura da sua presença. Procuremos Jesus com um amor desvelado, como Madalena, com um amor verdadeiramente dedicado, com o desejo de lhe oferecer o perfume do nosso afeto e da nossa compaixão. Não podemos estar sempre junto de Jesus na oração, saibamos também servi-lo na pessoa dos seus irmãos. Jesus diz a Madalena: «Vai ter com os meus irmãos para lhes participares a minha ressurreição». Vamos ter com os seus irmãos para lhes sermos piedosamente úteis, edificando-os, falando-lhes d'Ele, realizando junto deles algum ato de apostolado. Procuremos Jesus fielmente e de todo nunca o abandonemos, nem por temor, nem por desânimo, nem por causa da nossa vida passada, nem por causa das tentações e das perseguições. Com que ardor Madalena procura o seu bem amado! Ela é a primeira junto do sepulcro no dia de Páscoa. Lá está antes do nascer do dia. Corre a informar-se junto de S. Pedro e de S. João. Volta, mantém-se lá à espera, chora. Dirige-se àquele que ela julga ser o jardineiro, e é Jesus mesmo que a recompensa com o seu afeto tão terno. Mas diz-lhe o «Não me toques!», para lhe recordar que o nosso amor deve ser absolutamente puro, sobrenatural e desinteressado. (Leão Dehon, OSP 4, p. 82s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:

    "Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura" (2 Cor 5, 17)

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    S. Maria Madalena (22 Julho)

  • S. Brígida, Religiosa, Padroeira da Europa

    S. Brígida, Religiosa, Padroeira da Europa


    23 de Julho, 2024

    Santa Brígida nasceu na Suécia em 1303. Casou muito jovem e teve oito filhos. Já membro da Ordem terceira de S. Francisco, depois da morte do marido, iniciou uma vida de grande austeridade e penitência, continuando a viver na família. Acabou por fundar uma Ordem Religiosa e, partindo para Roma, foi para todos exemplo de grande virtude. Fez diversas peregrinações e escreveu muitas obras em que narra as suas experiências místicas. Morreu em Roma em 1373. É a santa mais famosa dos países escandinavos. Com S. Catarina de Sena e S. Teresa Benedita da Cruz, é padroeira da Europa.

    Lectio

    Primeira leitura: Gálatas 2, 19-20

    Irmãos: Eu pela Lei morri para a Lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo. 20Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. E a vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim.

    Paulo diz, "pela Lei morri para a Lei, a fim de viver para Deus" (v. 19). Ele era um daqueles judeus que afirmavam que a aceitação da Lei produzia por si mesma (ex opere operato) a vinculação a Deus. Ao converter-se, morreu para essa conceção pelagiana do religioso: considerar que, nas relações do homem com Deus, é o homem que tem a iniciativa. Pelo contrário, a vida religiosa está, por assim dizer, acima do "eu": "Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim." (v. 20). Não se trata de nenhuma substituição. Paulo não está a fazer antropologia, mas a expor a sua experiência religiosa. Se a presença de Deus no homem fosse o resultado de um esforço puramente humano, "a graça de Deus" seria como que "inútil". A fé é sempre um dom gratuito. Não há mecanismo catequético ou evangelizador que, por si só, produza a graça nos crentes. A "graça" é mesmo gratuidade de Deus. Compete-nos "apenas" acolhê-la e corresponder-lhe.

    Evangelho: João 15, 1-8

    Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos: "Eu sou a videira verdadeira e o meu Pai é o agricultor. 2Ele corta todo o ramo que não dá fruto em mim e poda o que dá fruto, para que dê mais fruto ainda. 3Vós já estais purificados pela palavra que vos tenho anunciado. 4Permanecei em mim, que Eu permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes em mim. 5Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanece em mim e Eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer. 6Se alguém não permanece em mim, é lançado fora, como um ramo, e seca. Esses são apanhados e lançados ao fogo, e ardem. 7Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e assim vos acontecerá. 8Nisto se manifesta a glória do meu Pai: em que deis muito fruto e vos comporteis como meus discípulos."

    A alegoria da videira e dos ramos garante-nos que a promessa da presença de Jesus no meio de nós está cumprida. Há que "permanecer" n´Ele para produzir os frutos que Deus espera de nós, ou melhor, permitir ao Espírito, a "seiva" divina, que produza em nós os seus frutos. Por nós mesmos, não podemos produzi-los. A obra de Jesus, que culminou na sua morte, "limpou-nos". No nosso texto é a Palavra que aparece como meio de purificação. Esta Palavra é a comunicação de Jesus aos seus discípulos através da sua vida, da sua morte, da sua pessoa. Há que permanecer n´Ele.

    Meditatio

    Santa Brígida deixou-se purificar pela Palavra. Na capela do SS. Sacramento, na Basílica de S. Paulo, em Roma, há uma estátua de mármore da santa em atitude de quem escuta a voz de Jesus Cristo, que lhe fala da cruz. Aos pés da estátua há uma legenda que diz: "Com o ouvido atento recebe as palavras do seu Deus Crucificado; recebe o Verbo de Deus no seu coração". Efetivamente, uma caraterística de S. Brígida foi a sua intimidade constante com Jesus, a sua familiaridade, as suas íntimas comunicações, e a sua docilidade infantil. O que mais nos espanta nela é a união extraordinária da vida interior e exterior. É uma santa mística que vivia no céu e também uma santa peregrina, em constante movimento de fundações e visitas a santuários.
    Casada com o príncipe Merício, descendente dos reis da Suécia, levou, com o marido, uma vida feliz, no cumprimento fiel dos seus deveres de esposos e de pais. Deus, todavia, tinha um outro projeto de vida para ela. O marido morreu muito mais cedo do que ambos imaginavam. Então, Brígida repartiu equitativamente os bens pelos filhos e consagrou-se inteiramente a Deus, numa vida austera de oração e penitência. Em 1349, Brígida seguiu para Roma com uma filha, a futura S. Catarina da Suécia. Praticou uma vida de grande pobreza, chegando a pedir esmolas. A quem a repreendia, por causa da sua condição nobre, respondeu: "Como Jesus se abaixou sem pedir o vosso consentimento, porque não havia eu de prescindir dele quando me esforço por imitá-lo?".
    Uns dez anos antes de morrer, fundou a ordem de S. Salvador, que ainda hoje existe em diversos países. Depois de peregrinar à Terra Santa, com a filha Catarina e outros dois filhos, regressou a Roma, onde faleceu a 23 de Julho de 1373. Da peregrinação à Terra Santa, dizia: "Foram os mais belos quinze meses da minha vida". Foi na Terra Santa que "se cumpriu o mistério da nossa redenção e donde a Palavra de Deus se difundiu até aos confins do mundo... As pedras sobre as quais caminhou o nosso Redentor permanecem para nós carregadas de recordações e continuam a "gritar" a Boa Nova". É uma espécie de "quinto evangelho". (Exortação Apostólica pós-sinodal Verbum Dei, 89). Como tantos outros cristãos, ao longo dos séculos, S. Brígida, fez essa experiência, no século XIV.

    Oratio

    "Bendito sejais, meu Senhor Jesus Cristo, que, para nossa salvação, permitistes que o vosso Lado e o vosso Coração fossem trespassados pela lança e fizestes brotar abundantemente do vosso peito sangue e água para nossa redenção... Honra sempiterna vos seja dada, meu Senhor Jesus Cristo, que ao terceiro dia ressuscitastes dos mortos e Vos manifestastes vivo àqueles que escolhestes... Louvor e glória eterna a Vós, Senhor Jesus Cristo, que enviastes o Espírito Santo aos corações dos discípulos e comunicastes às almas o vosso imenso amor. Louvor e glória eterna a Vós, Senhor Jesus Cristo". Ámen. (S. Brígida).

    Contemplatio

    Permaneçamos unidos à videira. O agricultor corta da videira os ramos mortos e aqueles que não dão frutos. Limpa os sarmentos que dão frutos, para que produzam ainda mais. «É assim que fará o Pai celeste, diz-nos Nosso Senhor: todo o ramo que não der fruto em mim, cortá-lo-á; atirá-lo-á para longe de mim, será privado da seiva que é a graça e cairá na morte espiritual. Mas os que prometem fruto, podá-los-á, purificá-los-á através de alguma prova e curá-los-á das suas inclinações depravadas, para que deem ainda mais frutos». «Quanto a vós, dizia ainda Nosso Senhor, estais todos podados e purificados pelas instruções que vos dei; mas para que esta purificação se conserve e complete, para que a vossa fecundidade em obras de salvação se desenvolva, uni-vos sempre mais intimamente a mim, permanecei em mim e eu, por minha parte, permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na vinha, se não está aderente à cepa donde tira a seiva vivificante, assim não podeis produzir nada, se não permanecerdes em mim». Sim, Senhor, quero permanecer em vós. Sinto que é a condição da vida, da fecundidade e da felicidade. Quero permanecer em vós pela fidelidade da minha recordação, da minha ternura e da minha dedicação, pela conformidade dos meus pensamentos aos vossos pensamentos, dos meus sentimentos aos vossos sentimentos, das minhas alegrias às vossas alegrias, das minhas tristezas às vossas tristezas, do meu querer à vossa vontade. Só quero ter convosco uma existência, um fim, uma felicidade: a glória de Deus, o reino do Sagrado Coração e a salvação das almas. (Leão Dehon, OSP 3, p. 457s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Permanecei em mim, que Eu permaneço em vós" (Jo 15, 4).

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    S. Brígida, Religiosa, Padroeira da Europa (23 Julho)

  • S. Tiago, Apóstolo

    S. Tiago, Apóstolo


    25 de Julho, 2024

    S. Tiago, chamado "o Maior", para se distinguir de outro apóstolo do mesmo nome, era filho de Zebedeu e de Salomé, e irmão de S. João Evangelista (cf. Mc 15, 40; Mt 27, 56). Com ele, e com Pedro, fez parte do grupo dos primeiros três discípulos de Jesus, o grupo mais íntimo, que acompanhou o Senhor na Transfiguração e na Agonia. Figura proeminente da igreja, Tiago foi preso em Jerusalém, por ordem de Herodes Agripa, sendo o primeiro apóstolo a derramar o seu sangue, em testemunho da sua fé, nos dias da Páscoa (cf. At 12, 1-3), por volta do ano 44. O seu culto desenvolveu-se notavelmente em Compostela que, desde a Idade Média, se tornou um dos centros de peregrinação mais concorridos, em todo o mundo.

    Lectio

    Primeira leitura: Segunda Coríntios 4, 7-15

    Irmãos: Nós trazemos este tesouro em vasos de barro, para que se veja que este extraordinário poder é de Deus e não é nosso. 8Em tudo somos atribulados, mas não esmagados; confundidos, mas não desesperados; 9perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não aniquilados. 10Trazemos sempre no nosso corpo a morte de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifesta no nosso corpo. 11Estando ainda vivos, estamos continuamente expostos à morte por causa de Jesus, para que a vida de Jesus seja manifesta também na nossa carne mortal. 12Assim, em nós opera a morte, e em vós a vida. 13Animados do mesmo espírito de fé, conforme o que está escrito: Acreditei e por isso falei, também nós acreditamos e por isso falamos, 14sabendo que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus, também nos há-de ressuscitar com Jesus, e nos fará comparecer diante dele junto de vós. 15E tudo isto faço por vós, para que a graça, multiplicando-se na comunidade, faça aumentar a acção de graças, para a glória de Deus.

    A liturgia aplica literalmente ao apóstolo Tiago o que Paulo diz a partir da sua própria experiência: "Trazemos sempre no nosso corpo a morte de Jesus" (10ª). Há uma mensagem que começa em Jesus, passa de Jesus a Paulo, de Paulo a Tiago e assim sucessivamente, ao longo da história, formando uma corrente de testemunhas, ou melhor, de "mártires" no sentido próprio do termo. Quem recebe a graça de derramar o sangue por amor de Cristo e dos irmãos, pode dizer, com verdade, que leva em si a morte de Cristo. Mas também o pode dizer quem vive serenamente a radicalidade evangélica no seu dia-a-dia. A Palavra do "mártir" é significativa e eficaz porque, à eloquência da palavra, junta a do sangue derramado.

    Evangelho: Mateus 20, 20-28

    Naquele tempo, aproximou-se de Jesus a mãe dos filhos de Zebedeu, com os seus filhos, e prostrou-se diante dele para lhe fazer um pedido. 21«Que queres?» - perguntou-lhe Ele. Ela respondeu: «Ordena que estes meus dois filhos se sentem um à tua direita e o outro à tua esquerda, no teu Reino.» 22Jesus retorquiu: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu estou para beber?» Eles responderam: «Podemos.»23Jesus replicou-lhes: «Na verdade, bebereis o meu cálice; mas, o sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não me pertence a mim concedê-lo: é para quem meu Pai o tem reservado.» 24Ouvindo isto, os outros dez ficaram indignados com os dois irmãos. 25Jesus chamou-os e disse-lhes: «Sabeis que os chefes das nações as governam como seus senhores, e que os grandes exercem sobre elas o seu poder. 26Não seja assim entre vós. Pelo contrário, quem entre vós quiser fazer-se grande, seja o vosso servo; e 27quem no meio de vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo. 28Também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para resgatar a multidão.»

    Mateus parece usar de uma fina ironia ao narrar o episódio que hoje escutamos. Facilmente desculpamos a mãe, que, como tal, quere o melhor para os filhos. Mas já não somos tão compreensivos para com os dois irmãos que, sem pensar muito, se declaram prontos a beber o cálice com Jesus. Mas Jesus, muito ao seu jeito, transformando a hipótese em profecia, prediz, efetivamente, a morte que Tiago irá padecer por causa da sua radical fidelidade ao Mestre e ao Evangelho. Ao mesmo tempo, aproveita para dar uma lição de humildade útil a todos, também outros apóstolos irritados e desdenhosos.

    Meditatio

    Partimos, hoje, de uma afirmação de Jesus que nos permite penetrar no seu coração, conhecer as suas disposições mais profundas: "o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para resgatar a multidão" (v. 28). Jesus tem consciência de ser o Filho imolado por amor, para redenção dos irmãos. Vive conscientemente e decididamente a espiritualidade do Servo de Javé, a espiritualidade do Cordeiro imolado. E não fica por belas palavras ou ideais meramente românticos. A sua espiritualidade "vitimal" ou, se preferirmos, "oblativa" até à imolação concretiza-se no "serviço" vivido no total despojamento de si mesmo e em plena confiança no Pai. É o Servo de Deus, mas também o servo "de muitos", isto é, de todos aqueles que o Pai lhe confiou como irmãos, oprimidos pelo pecado mas abertos ao dom da libertação. Recebeu das mãos do Pai o cálice da paixão, e bebeu-o até à última gota, até à morte de cruz, entregando-se confiadamente nas mãos do Pai.
    Os Apóstolos também "beberam o cálice do Senhor, e tornaram-se amigos de Deus", como diz a antífona da comunhão da festa de S. Tiago inspirada em Mt 20, 22-23. Foi esta a glória dos Apóstolos, e concretamente a de Tiago, que esperava outra bem diferente, quando decidiu seguir Jesus. Quem está com Jesus só pode aspirar a uma glória semelhante à d´Ele: a de participar na sua cruz, nos seus sofrimentos, em profunda união com Ele, em favor de muitos.

    Oratio

    Senhor Jesus, tu és o Filho de Deus Pai que vives e manifestas a tua submissão numa total disponibilidade. Tu és a Palavra que ilumina o nosso caminho: o que dizes vale para ti e vale para nós, e para todos os que livremente te escolheram como Senhor e Mestre. Viveste o teu martírio em todos os momentos da tua vida na terra. Quem te conhece sabe que, para ti, ser servo significa viver tudo por Deus e tudo pelos irmãos. É a "lei real", de que fala na sua carta, o teu apóstolo Tiago. Enche-me do teu Espírito, para toda a minha vida se torne uma oblação santa e agradável ao Pai, pelos homens. Ámen.

    Contemplatio

    Tiago e João, Pedro e André eram muito afetuosos, muito amigos para com Nosso senhor, sobretudo os três primeiros. Eram os discípulos do Sagrado Coração, os amigos de Jesus. Por isso, Nosso Senhor os tinha sempre junto de si. Eram os seus íntimos, os seus confidentes. Muitas vezes os tomava à parte e lhes dava uma confiança que não dava aos outros. Para a ressurreição da filha de Jairo, a exclusão dos outros é fortemente assinalada no Evangelho. S. Marcos diz: «Jesus não permitiu a nenhum dos seus discípulos que o seguisse, exceto Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago». S. Lucas diz: «Não permitiu a ninguém entrar na casa com os pais, exceto Pedro, Tiago e João» (8, 51). Para a transfiguração, S. Mateus (17, 2) e S. Marcos (9, 1) dizem-nos: Jesus tomou à parte Pedro, Tiago e João, sozinhos consigo, e levou-os à montanha para rezar. O privilégio é ainda acentuado. No repouso do Monte das Oliveiras, diante de Jerusalém, da qual Nosso Senhor predisse a destruição, tem alguns privilegiados sentados junto de si. E era sem dúvida normalmente assim. Estes tinham os seus segredos. Interrogavam-no em segredo, secretamente, diz S. Mateus (24, 4) à parte, separadamente, diz S. Marcos (13, 3); mas quem eram estes quatro privilegiados? S. Marcos dá-nos os seus nomes. Era Pedro, Tiago, João e André. Na Ceia, Pedro, João e Tiago estavam sentados junto de Jesus. Se eu pudesse pelo meu amor e pela minha fidelidade merecer ser um verdadeiro discípulo do Sagrado Coração! Para o Getsémani, S. Mateus (26, 36) e S. Marcos (14, 33) dizem-nos: «Jesus deixou os seus discípulos à entrada do jardim, mas tomou consigo Pedro, Tiago e João». Os outros não estavam suficientemente formados para suportarem sem escândalo o espetáculo da agonia, mas estes três fizeram um melhor noviciado, foram tão dóceis e tão afetuosos! (L. Dehon, OSP 3, p. 311-312).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Beberam o cálice do Senhor, e tornaram-se amigos de Deus"
    (antífona da comunhão da festa de S. Tiago).
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    S. Tiago, Apóstolo (25 Julho)

     

  • S. Joaquim e S. Ana, Pais de Nossa Senhora

    S. Joaquim e S. Ana, Pais de Nossa Senhora


    26 de Julho, 2024

    O evangelho de S. Tiago, escrito apócrifo do século II, reconstrói, decalcando a história de Ana, mãe de Samuel (cf. 1 Sam 1, 1-28), a história da Virgem Maria. Joaquim, idoso sacerdote do templo de Jerusalém, era casado com Ana, mulher estéril. Depois de uma aparição angélica, concebem a futura Mãe do Redentor, que oferecerão a Deus no templo (cf. 21 de Novembro). Mas não há qualquer referência a estes santos nos evangelhos canónicos. Na tradição da Igreja, Joaquim e Ana são protótipos dos esposos cristãos. De há uns anos para cá, a sua festa é também celebrada como "Dia dos Avós".

    Lectio

    Primeira leitura: Ben Sirá 44, 1.10-15

    Louvemos os homens ilustres, nossos antepassados,segundo as suas gerações.10Foram homens de misericórdia, cujas obras de piedade não foram esquecidas. 11Na sua descendência permanecem os seus bens, e a sua herança passa à sua posteridade. 12Os seus descendentes mantiveram-se fiéis à Aliança, os seus filhos também, graças a eles. 13A sua posteridade permanecerá para sempre, e a sua glória não terá fim. 14Os seus corpos foram sepultados em paz, e o seu nome vive de geração em geração; 15Os povos proclamarão a sua sabedoria, e a assembleia cantará os seus louvores.

    Ben Sirá evoca figuras ilustres que marcaram o passado da história de Israel, em ordem a infiltrar, com o seu exemplo, nova vida no presente e a projetar a esperança do povo na direção do futuro. O bem paticado é um capital precioso e fecundo, que permanece, e de que se pode dispor. Quando é praticado em e por homens virtuosos, tece a verdadeira trama da história da salvação. Deus intervém nessa história, para redimir o homem, mas servindo-se do próprio homem. A fidelidade do Senhor tem o seu fundamento no céu, mas radica na terra, graças aos que permanecem fiéis às suas promessas.

    Evangelho: Mateus 13, 16-17

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: "Ditosos os vossos olhos, porque vêem, e os vossos ouvidos, porque ouvem.17Em verdade vos digo: Muitos profetas e justos desejaram ver o que estais a ver, e não viram, e ouvir o que estais a ouvir, e não ouviram.»

    Os discípulos de Jesus têm a sorte de ver a realização das promessas. Gerações de profetas e justos construíram, degrau a degrau, uma história de confiança, de espera e de esperança. Esses profetas e justos são ditosos porque, ainda que não tenham visto nem ouvido o que os discípulos veem e ouvem, acreditaram e apostaram a sua vida baseando-se na Palavra da aliança. Os discípulos são ditosos porque veem e ouvem a Palavra feita carne, Jesus Cristo nossa Vida e Salvação. Eles são o último elo da geração herdeira das promessas e o primeiro da que deve transmitir o testemunho da sua realização.

    Meditatio

    Sabemos muito pouco sobre os pais de Maria. Também eles estão sob a lei do silêncio e do escondimento que Deus aplicou à vida de Maria e à maior parte da vida histórica de Jesus.
    Os evangelhos apócrifos falam das suas dificuldades. Um texto da igreja arménia do século XIII diz-nos que Joaquim e Ana eram justos e puros, levavam uma vida piedosa e um comportamento inocente e imune à calúnia. Eram zelosos na oração, no jejum e na abstinência. Eram uma família assídua ao templo, cheia de caridade, incansável no trabalho e, em consequência, rica de bens. Dividiam o rendimento anual em três partes: uma para o Templo e sustento dos sacerdotes; outra para os pobres, e a terceira para eles mesmos. É lógico pensar que Deus os tenha chamado a participar no mistério de Jesus, cuja chegada prepararam. Permanece a glória de terem sido os pais de Nossa Senhora.
    S. Joaquim e S. Ana encorajam a nossa confiança: Deus é bom e na história da humanidade, história de pecado e de misericórdia, o que fica é a glória, é o positivo que construiu em nós.
    Joaquim e Ana foram escolhidos entre o povo eleito, mas de dura cerviz, para que, entre esse povo, florescesse Maria e, dela, Jesus. É a maior manifestação do amor misericordioso de Deus.
    Agradeçamos ao Senhor. Nós somos os ditosos, nós que vemos e ouvimos, o que muitos profetas e justos apenas entreviram na fé e na esperança.
    Lembremos os nossos avós. Um provérbio africano afirma: "Das panelas velhas, tira-se a melhor sopa". Os "avós" são verdadeiras preciosidades. Há que rodeá-los de cuidados e carinhos, e não desperdiçar o muito que têm para nos dizer e ensinar, particularmente a sua fé e a sua esperança.

    Oratio

    Pai Santo, hoje, "invocarei com confiança S. Joaquim e Santa Ana, que Jesus, teu Filho, honra como seus avós. Eles são poderosos sobre o seu Coração. Dai-me a graça de imitar a sua humildade, a sua confiança, o seu espírito de sacrifício. Lembrando-me de Nazaré, levá-los-ei em espírito até junto de Jesus e de Maria. Ámen. (cf. Leão Dehon, OSP 4, p. 95).

    Contemplatio

    S. Joaquim e Santa Ana tinham chegado a uma idade avançada sem terem filhos como a santa mãe de Samuel. Resignados à vontade de Deus, suplicavam, no entanto, ao mesmo Deus que realizasse os seus desejos dando-lhes um fruto da sua união, que consagrariam ao serviço do templo. Ana sobretudo multiplicava as orações e as boas obras para obter este favor. Um dia em que Joaquim rezava sobre uma colina, onde pastava o seu rebanho, e Ana no seu jardim onde ela tinha feito para si uma solidão, um anjo veio anunciar-lhes que o céu tinha atendido os seus pedidos e que eles iam ser consolados com uma criança de bênção. A oração perseverante é a fonte das maiores graças. No dia 8 de Setembro, Ana deu ao mundo uma filha que, segundo a ordem do Senhor, ela chamou Maria. Com que cuidado educou esta criança abençoada! É representada tendo diante de si a sua filha privilegiada e ensinando-a a ler as divinas Escrituras. Quando Maria atingiu a idade de três anos, Ana e Joaquim, lembrando-se da promessa que tinham feito, levaram-na ao templo de Jerusalém para a oferecerem ao Senhor. Segundo a tradição, Sant'Ana vivia ainda nos primeiros anos de Nosso Senhor. Ela pôde, portanto, levá-lo nos seus braços e sentá-lo nos seus joelhos. Contemplou os seus traços infantis tão belos. Teve conhecimento dos milagres do seu nascimento. Oh! As doces emoções que ela sentiu! A recordação destes felizes momentos faz a sua alegria no céu, bem como a contemplação do seu neto, que reina nos céus eternamente. Invejamos a sua sorte, mas não esquecemos que na comunhão nós levamos também Nosso Senhor no nosso coração. (Leão Dehon, OSP 4, p. 93s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "O fruto do justo é uma árvore de Vida" (Prov 11, 30).

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    S. Joaquim e S. Ana, Pais de Nossa Senhora (26 Julho)

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