Liturgia

Semana de Mai 7th

  • 05º Domingo da Páscoa - Ano A

    05º Domingo da Páscoa - Ano A


    7 de Maio, 2023

    ANO A
    5º Domingo da Páscoa

    Tema do 5º Domingo da Páscoa

    A liturgia deste domingo convida-nos a reflectir sobre a Igreja - a comunidade que nasce de Jesus e cujos membros continuam o "caminho" de Jesus, dando testemunho do projecto de Deus no mundo, na entrega a Deus e no amor aos homens.
    O Evangelho define a Igreja: é a comunidade dos discípulos que seguem o "caminho" de Jesus - "caminho" de obediência ao Pai e de dom da vida aos irmãos. Os que acolhem esta proposta e aceitam viver nesta dinâmica tornam-se Homens Novos, que possuem a vida em plenitude e que integram a família de Deus - a família do Pai, do Filho e do Espírito.
    A primeira leitura apresenta-nos alguns traços que caracterizam a "família de Deus" (Igreja): é uma comunidade santa, embora formada por homens pecadores; é uma comunidade estruturada hierarquicamente, mas onde o serviço da autoridade é exercido no diálogo com os irmãos; é uma comunidade de servidores, que recebem dons de Deus e que põem esses dons ao serviço dos irmãos; e é uma comunidade animada pelo Espírito, que vive do Espírito e que recebe do Espírito a força de ser testemunha de Jesus na história.
    A segunda leitura também se refere à Igreja: chama-lhe "templo espiritual", do qual Cristo é a "pedra angular" e os cristãos "pedras vivas". Essa Igreja é formada por um "povo sacerdotal", cuja missão é oferecer a Deus o verdadeiro culto: uma vida vivida na obediência aos planos do Pai e no amor incondicional aos irmãos.

    LEITURA I - Actos 6,1-7

    Leitura dos Actos dos Apóstolos

    Naqueles dias,
    aumentando o número dos discípulos,
    os helenistas começaram a murmurar contra os hebreus,
    porque no serviço diário não se fazia caso das suas viúvas.
    Então os Doze convocaram a assembleia dos discípulos
    e disseram:
    «Não convém que deixemos de pregar a palavra de Deus
    para servirmos às mesas.
    Escolhei entre vós, irmãos,
    sete homens de boa reputação,
    cheios do Espírito Santo e de sabedoria
    para lhes confiarmos esse cargo.
    Quanto a nós, vamos dedicar-nos totalmente
    à oração e ao ministério da palavra».
    A proposta agradou a toda a assembleia;
    e escolheram Estêvão,
    homem cheio de fé e do Espírito Santo,
    Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão,
    Parmenas e Nicolau, prosélito de Antioquia.
    Apresentaram-nos aos Apóstolos
    e estes oraram e impuseram as mãos sobre eles.
    A palavra de Deus ia-se divulgando cada vez mais;
    o número dos discípulos
    aumentava consideravelmente em Jerusalém
    e submetia-se à fé também grande número de sacerdotes.

    AMBIENTE

    A primeira leitura deste domingo pertence, ainda, à secção que apresenta o testemunho da Igreja de Jerusalém. No entanto, vão aparecer-nos pela primeira vez esses "helenistas" que irão ter um papel fundamental na ulterior expansão do cristianismo.
    O nosso texto dá conta de um clima de alguma tensão entre os "hebreus" e os "helenistas". Quem são estes grupos?
    Trata-se, sempre, de membros da comunidade cristã de Jerusalém. Os "hebreus" são cristãos de origem judaica, originários da Palestina, que falam o aramaico, que lêem a Escritura em hebraico e que teriam sido convertidos pela pregação de Jesus e dos apóstolos. Continuam, no entanto, muito apegados às suas tradições e têm, normalmente, um alto apreço pela Lei e pelas interpretações dos rabis.
    Os "helenistas" são cristãos de origem judaica, também, mas originários da "diáspora" israelita - isto é, das comunidades judaicas espalhadas por todo o império romano e, até, por fora dele. Falam o grego e lêem as Escrituras em grego. Residem em Jerusalém temporariamente. O seu contacto com outras realidades culturais torna-os, ordinariamente, mais tolerantes e abertos à novidade.
    Com dois grupos tão diversos - quer do ponto de vista cultural, quer do ponto de vista religioso, quer do ponto de vista social - a integrar a mesma comunidade, era natural que, mais tarde ou mais cedo, surgissem tensões e conflitos. Aparentemente, aquilo que provoca a questão evocada no nosso texto é um problema de ordem material: na distribuição dos alimentos aos membros necessitados da comunidade, as viúvas helenistas sentiam-se prejudicadas. O facto provocou queixas, levando à intervenção dos líderes da comunidade. De qualquer forma, Lucas não entra em demasiados pormenores sobre a questão.

    MENSAGEM

    Na realidade, Lucas não está interessado em fornecer-nos pormenores de ordem histórica, mas antes em fornecer-nos um quadro teológico que nos permita conhecer o rosto da Igreja e entender a forma como ela se apresenta ao mundo. Nesta perspectiva, há quatro ideias fundamentais que o nosso texto nos propõe.
    A primeira resulta do próprio facto relatado... A Igreja aparece, nesta história, não como um quadro ideal de perfeição, mas como uma comunidade bem real e bem normal, formada por homens e mulheres, onde as tensões, os preconceitos, as rivalidades, as invejas e os ciúmes marcam a experiência diária de caminhada. Isto não deve assustar-nos ou decepcionar-nos: resulta das limitações e finitude que também fazem parte da nossa existência histórica. A Igreja não é uma comunidade de homens e mulheres perfeitos; mas é uma comunidade que está - ou tem de estar - em contínuo processo de conversão, ao longo de cada passo da sua caminhada na história.
    A segunda diz respeito à estrutura hierárquica e ao modo de exercer (na Igreja) o serviço da autoridade. Não há dúvida que Lucas conhecia, já, uma estrutura hierárquica em que os Doze desempenhavam o serviço da orientação e da direcção da comunidade. Por isso, eles aparecem na nossa história como as referências fundamentais, a quem os membros da comunidade recorrem, a fim de resolver a questão das diferenças entre os vários grupos. De qualquer forma, fica a impressão, pelo desenrolar da acção, que os Doze não estão interessados em esquemas de poder absoluto; antes, procuram envolver a comunidade no processo, fazendo com que todos participem na procura de soluções para os problemas comuns.
    A terceira revela a Igreja como uma comunidade de serviço. Fala-se na escolha de sete homens "cheios do Espírito Santo", cuja missão é o serviço das mesas. Na verdade, estes "sete" aparecem, noutros episódios, mais ligados ao serviço da Palavra do que ao serviço das mesas (é possível que estes "sete" - todos com nomes gregos - sejam os dirigentes da comunidade cristã judeo-helenística e que Lucas tenha fundido duas tradições diversas: a dos pregadores e dirigentes do grupo helenista, com a dos escolhidos para uma função propriamente diaconal, de serviço e ministério assistencial). De qualquer forma, nada invalida esta verdade fundamental: a comunidade cristã é uma realidade que tem no centro da sua dinâmica o serviço - seja o serviço da Palavra, seja o serviço de assistência aos irmãos mais pobres. É impensável uma comunidade cristã onde não esteja bem viva esta dimensão diaconal.
    A quarta tem a ver com o papel relevante que o Espírito desempenha nas "crises" de crescimento que fazem parte da caminhada comunitária. O Espírito aparece ligado, seja à vocação (dos que são chamados a exercer a diaconia - cf. Act 6,3), seja à missão (o gesto de impor as mãos pode significar, quer a escolha para um serviço comunitário, quer a invocação do Espírito para que eles possam concretizar a missão que lhes foi confiada). De qualquer forma, a Igreja é a comunidade do Espírito, criada, animada e dinamizada pelo Espírito.
    O nosso texto termina com um pequeno sumário (cf. Act 6,7) cujo objectivo é assinalar o avanço irresistível da Boa Nova, por acção dos discípulos de Jesus, animados pelo Espírito.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão pode considerar os seguintes pontos:

    • É difícil encontrarmos, no nosso tempo, uma realidade que suscite tantas paixões e ódios como a Igreja: uns defendem-na intransigentemente, justificando até as falhas mais injustificáveis, outros atacam-na cegamente, culpando-a de todos os males do mundo. Uns e outros deviam ter presente que se trata de uma comunidade que vem de Jesus e é animada pelo Espírito, mas formada por homens; que ela é a testemunha no mundo do plano de salvação de Deus, mas é também (dada a sua faceta humana) uma realidade "a fazer-se", em contínuo processo de conversão. Os homens do nosso tempo devem exigir que a Igreja seja fiel à sua missão no mundo; mas devem também compreender as suas falhas, dificuldades e infidelidades.

    • A comunidade cristã referida no nosso texto leva-nos a uma época muito recuada, em que as estruturas não estavam ainda definidas e organizadas; mas, no quadro que Lucas nos propõe, há já irmãos investidos do serviço da autoridade (os Doze), que são ponto de referência quando surgem questões e problemas. Os Doze, no entanto, não reservam para si toda a autoridade, nem aceitam ser os únicos protagonistas no processo de condução da comunidade... De acordo com o quadro que nos é apresentado, eles convocam a comunidade, convidam-na a escolher as pessoas a quem devem ser confiados certos serviços, envolvem-na na busca do caminho. Infelizmente, ao longo dos séculos esquecemos, muitas vezes, esta dinâmica: a Igreja foi muitas vezes apresentada como uma sociedade de desiguais, onde uns mandam e outros obedecem em silêncio. É preciso redescobrir o valor do diálogo e da participação, na Igreja. Não se trata de discutir se a Igreja deve ou não ser uma sociedade democrática; trata-se de termos consciência de que somos uma família onde todos temos voz, porque em todos habita o mesmo Espírito; trata-se de potenciar mecanismos de escuta, de diálogo e de participação, a fim de que a Igreja seja uma família, onde todos participam na descoberta dos caminhos do Espírito.

    • Desde o início, a Igreja aparece como uma comunidade de serviço: os membros da comunidade cristã são convidados a seguir Jesus, que fez da sua vida uma entrega total ao serviço de Deus, ao serviço do Reino e ao serviço dos homens. Quando Deus concede determinados dons e confia determinadas missões, não se trata de privilégios que conferem à pessoa mais dignidade ou mais importância: trata-se de dons que devem ser postos ao serviço da comunidade, em ordem à construção da comunidade. As missões que nos são confiadas no âmbito comunitário não podem ser utilizados para promoção pessoal ou para concretizar sonhos egoístas; mas devem ser missões que desempenhamos com verdadeiro espírito de serviço, em benefício dos irmãos.

    SALMO RESPONSORIAL - Salmo 32 (33)

    Refrão 1: Esperamos, Senhor, na vossa misericórdia.

    Refrão 2: Venha sobre nós a vossa bondade,
    porque em Vós esperamos, Senhor.

    Justos, aclamai o Senhor,
    os corações rectos devem louvá 1'O.
    Louvai o Senhor com a cítara,
    cantai Lhe salmos ao som da harpa.

    A palavra do Senhor é recta,
    da fidelidade nascem as suas obras.
    Ele ama a justiça e a rectidão:
    a terra está cheia da bondade do Senhor.

    Os olhos do Senhor estão voltados para os que O temem,
    para os que esperam na sua bondade,
    para libertar da morte as suas almas
    e os alimentar no tempo da fome.

    LEITURA II - 1 Pedro 2,4-9

    Leitura da Primeira Epístola de São Pedro

    Caríssimos:
    Aproximai vos do Senhor, que é a pedra viva,
    rejeitada pelos homens,
    mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus.
    E vós mesmos, como pedras vivas,
    entrai na construção deste templo espiritual,
    para constituirdes um sacerdócio santo,
    destinado a oferecer sacrifícios espirituais,
    agradáveis a Deus por Jesus Cristo.
    Por isso se lê na Escritura:
    «Vou pôr em Sião uma pedra angular, escolhida e preciosa;
    e quem nela puser a sua confiança não será confundido».
    Honra, portanto, a vós que acreditais.
    Para os incrédulos, porém,
    «a pedra que os construtores rejeitaram
    tornou se pedra angular»,
    «pedra de tropeço e pedra de escândalo».
    Tropeçaram por não acreditarem na palavra,
    à qual foram destinados.
    Vós, porém, sois «geração eleita, sacerdócio real,
    nação santa, povo adquirido por Deus,
    para anunciar os louvores»
    d'Aquele que vos chamou das trevas para a sua luz admirável.

    AMBIENTE

    Há já algumas semanas que a Primeira Carta de Pedro acompanha a nossa caminhada litúrgica. Já sabemos, portanto, que ela se destina a comunidades cristãs de certas zonas rurais da Ásia Menor; essas comunidades são maioritariamente formadas por cristãos de classes sociais baixas, vulneráveis à hostilidade do mundo que os rodeia, para quem se aproximam tempos muito difíceis (por causa das perseguições que se adivinham). Estamos no final do século I (talvez no final da década de 80).
    O autor recorda aos destinatários da carta o exemplo de Cristo, que passou pela cruz, antes de chegar à ressurreição. Toda a carta é um convite à esperança: apesar dos sofrimentos do tempo presente, os crentes não devem desanimar, pois estão destinados a triunfar com Cristo. Pede-se-lhes que enfrentem corajosamente as adversidades e que viam com fidelidade o seu compromisso baptismal.
    O texto que nos é proposto faz parte de uma secção parenético-doutrinal (cf. 1 Pe 2,1-10), que tem como finalidade exortar os cristãos a crescer na fé, de forma a chegarem à salvação.

    MENSAGEM

    A imagem determinante deste texto é a da "pedra" (vers. 4.5.6.7.8), que é usada, sobretudo, referida a Cristo.
    A imagem leva-nos a Is 28,16, onde se refere ao novo Templo que o próprio Jahwéh, no futuro, vai construir e que será um sinal da intervenção de Deus em favor do seu Povo. Isaías anuncia que Deus vai colocar em Sião uma pedra, provada, angular, de alicerce, que terá uma inscrição: "quem nela se apoia, não vacila". A imagem (retomada pelo Sal 118,22) adquire, no judaísmo tardio, uma conotação messiânica: o "Messias" será essa pedra, sobre a qual Deus vai construir a sua intervenção salvadora na história, em favor do seu Povo.
    O autor da Primeira Carta de Pedro aplica esta imagem a Cristo. Cristo é essa pedra escolhida, preciosa, viva (alusão à ressurreição, significa, também, que é dela que brota vida para o Povo de Deus), sobre a qual Deus fundamenta a sua intervenção salvadora em favor dos homens.
    Os cristãos são convidados a aproximar-se de Cristo (isto é, a aderir à sua proposta, a segui-l'O no caminho do dom da vida, a cimentarem a sua comunhão com Ele) e a entrar na construção do edifício de Cristo - um edifício espiritual, cujo fim é "oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus" (vers. 5). No antigo Templo de Jerusalém - construído com pedras materiais - ofereciam-se sacrifícios de animais para expressar a comunhão do Povo com Jahwéh; mas, no novo Templo (que tem Cristo como pedra angular e os cristãos como pedras vivas, ligadas a Cristo), oferecer-se-ão sacrifícios espirituais: uma vida santa, vivida na entrega a Deus e no dom aos irmãos. Os membros desta "construção" serão um povo de sacerdotes, que diariamente oferecerão a Deus aquilo que têm de mais precioso: a sua vida e o seu amor.
    Esta "construção" será rejeitada pelos homens (alude-se, aqui, à paixão e morte de Jesus; alude-se, também, às dificuldades que os crentes em geral e os destinatários da carta em particular encontram na vivência e no testemunho da sua fé); mas, para Deus, esta comunidade/Templo será uma "geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido por Deus para anunciar os louvores" (vers. 9). A citação leva-nos a Ex 19,5-6, onde se refere à comunidade da "aliança": o seu uso neste contexto significa que, agora, apesar da rejeição do mundo, os cristãos são a comunidade da "nova aliança", o povo que Deus libertou, que Deus conduziu da escravidão para a liberdade e a quem Deus encarregou de testemunhar diante do mundo o seu projecto de salvação.

    ACTUALIZAÇÃO

    Considerar as seguintes questões:

    • Depois de dois mil anos de cristianismo, parece que nem sempre se nota a presença efectiva de Cristo nesses caminhos em que se constrói a história do mundo e dos homens. O verniz cristão de que revestimos a nossa civilização ocidental não tem impedido a corrida aos armamentos, os genocídios, os actos bárbaros de terrorismo, as guerras religiosas, o capitalismo selvagem... Os critérios que presidem à construção do mundo estão, demasiadas vezes, longe dos valores do Evangelho. Porque é que isto acontece? Podemos dizer que Cristo é, para os cristãos, a referência fundamental? Nós cristãos fizemos d'Ele, efectivamente, a "pedra angular" sobre a qual construímos a nossa vida e a história do nosso tempo?

    • Os cristãos são "pedras vivas" de um "templo espiritual" do qual Cristo é a "pedra angular". A imagem traduz a realidade de uma comunidade que se junta à volta de Cristo, que vive em união com Ele, que comunga do seu destino, que assume totalmente o seu projecto. A esta comunidade chama-se Igreja... Sinto-me pedra integrante deste "edifício"? Procuro, todos os dias, limar as arestas que me impedem de aderir - de forma mais plena - a Cristo? Procuro, todos os dias, revitalizar o "cimento" que me une às outras pedras do edifício - os meus irmãos?

    • As "pedras vivas" do Templo do Senhor formam um Povo de sacerdotes, cuja missão é viver uma vida coerente com os compromissos assumidos no dia do Baptismo - isto é, viver (como Cristo) na entrega a Deus e no amor aos irmãos. Quais são os "sacrifícios" que eu procuro entregar a Deus, todos os dias? A minha "oferta" a Deus é um conjunto de ritos desligados da vida (por mais sagrados que sejam) ou é a vivência do amor, nos gestos simples do dia a dia?

    • Neste texto há ainda um convite a não ter medo da incompreensão do mundo. O próprio Cristo foi rejeitado pelos homens; mas a sua fidelidade aos projectos do Pai fizeram d'Ele a "pedra angular" da construção de Deus. É esse exemplo que devemos ter diante dos olhos, quando doer mais a incompreensão do mundo.

    ALELUIA - Jo 14,6

    Aleluia. Aleluia.

    Eu sou o caminho, a verdade e a vida, diz o Senhor;
    ninguém vai ao Pai senão por mim.

    EVANGELHO - Jo 14,1-12

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:
    «Não se perturbe o vosso coração.
    Se acreditais em Deus, acreditai também em Mim.
    Em casa de meu Pai há muitas moradas;
    se assim não fosse, Eu vo lo teria dito.
    Vou preparar vos um lugar
    e virei novamente para vos levar comigo,
    para que, onde Eu estou, estejais vós também.
    Para onde Eu vou, conheceis o caminho».
    Disse Lhe Tomé:
    «Senhor, não sabemos para onde vais:
    como podemos conhecer o caminho?»
    Respondeu lhe Jesus:
    «Eu sou o caminho, a verdade e a vida.
    Ninguém vai ao Pai senão por Mim.
    Se Me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai.
    Mas desde agora já O conheceis e já O vistes».
    Disse Lhe Filipe:
    «Senhor, mostra nos o Pai e isto nos basta».
    Respondeu lhe Jesus:
    «Há tanto tempo que estou convosco
    e não Me conheces, Filipe?
    Quem Me vê, vê o Pai.
    Como podes tu dizer: 'Mostra nos o Pai'?
    Não acreditas que Eu estou no Pai e o Pai está em Mim?
    As palavras que Eu vos digo, não as digo por Mim próprio;
    mas é o Pai, permanecendo em Mim, que faz as obras.
    Acreditai Me: Eu estou no Pai e o Pai está em Mim;
    acreditai ao menos pelas minhas obras.
    Em verdade, em verdade vos digo:
    quem acredita em Mim fará também as obras que Eu faço
    e fará ainda maiores que estas,
    porque Eu vou para o Pai».

    AMBIENTE

    Estamos na fase final da caminhada histórica do "Messias". Até este momento, Jesus cumpriu a sua missão em confronto aberto com os dirigentes judeus. Precisamente o último e mais importante dos seus "sinais" - a ressurreição de Lázaro - levou o Sinédrio a decidir matá-l'O (cf. Jo 11,45-54). Jesus está consciente de que a morte está no seu horizonte próximo.
    O ambiente em que este trecho nos coloca é o de uma ceia de despedida. Nessa ceia (realizada na quinta-feira à noite, pouco tempo antes da prisão, na véspera da morte), estão Jesus e os discípulos. No decurso da ceia, Jesus despede-Se dos discípulos e faz-lhes as suas últimas recomendações. As palavras de Jesus soam a "testamento" final: Ele sabe que vai partir para o Pai e que os discípulos vão continuar no mundo.
    Os discípulos, da sua parte, já perceberam que o ambiente é de despedida e que, daí a poucas horas, o seu "mestre" lhes vai ser tirado. Estão inquietos e preocupados. A aventura que eles começaram com Jesus, na Galileia, terá chegado ao fim? Essa relação que eles construíram com o "mestre" irá morrer? Os discípulos não sabem o que vai acontecer nem que caminho vão, a partir daí, percorrer. Sobretudo, não sabem como é que manterão, após a partida de Jesus, a sua relação com Ele e com o Pai.
    É neste contexto que podemos situar as palavras de Jesus que o Evangelho de hoje nos apresenta.

    MENSAGEM

    A catequese desenvolvida pelo autor do Quarto Evangelho, neste diálogo de Jesus com os discípulos, é de uma impressionante densidade teológica. Fundamentalmente, trata-se de uma catequese sobre "o caminho": o "caminho" que Jesus percorreu e que é o mesmo "caminho" que os discípulos são convidados a percorrer. Vamos tentar esmiuçar o conteúdo e pôr em relevo os pontos fundamentais.
    O plano de salvação de Deus passa por estabelecer com os homens uma relação de comunhão, de familiaridade, de amor. Por isso, Jesus veio ao mundo: para tornar os homens "filhos de Deus" ("aos que O receberam, aos que crêem n'Ele, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus" - Jo 1,12).
    Como é que Jesus concretizou esse projecto? Ele "montou a sua tenda no meio dos homens" (Jo 1,14) e ofereceu aos homens um "caminho" de vida em plenitude: mostrou aos homens, na sua própria pessoa, como é que eles podem ser Homens Novos - isto é, homens que vivem na obediência total aos planos do Pai e no amor aos irmãos. Viver desse jeito é viver numa dinâmica divina, entrar na intimidade do Pai, tornar-se "filho de Deus".
    Na ceia de despedida a que o nosso texto se refere, Jesus sente que está a começar o último acto da missão que o Pai lhe confiou (criar o Homem Novo). Falta oferecer aos discípulos a última lição - a lição do amor que se dá até à morte; falta também o dom do Espírito, que capacitará os homens para viverem como Jesus, na obediência a Deus e na entrega aos homens. Para que esse último acto se cumpra, Jesus tem de passar pela morte: tem de "ir para o Pai". Ao dizer "vou preparar-vos um lugar" (vers. 2b), Jesus sugere que tem de ir ao encontro do Pai, para que os homens possam (pela lição do amor e pelo dom do Espírito) fazer parte da família de Deus.
    Nessa família, há lugar para todos os homens ("na casa de meu Pai há muitas moradas" - vers. 2a): basta que sigam "o caminho" de Jesus - isto é, que escutem as suas propostas e que aceitem viver como Homens Novos, no amor e no dom da vida. A "casa do Pai" é a comunidade dos seguidores de Jesus (a Igreja).
    Qual é o "caminho" para chegar a fazer parte dessa família de Deus? - perguntam os discípulos (eles foram testemunhas da vida que Jesus levou e, portanto, conhecem de cor o "mapa" desse "caminho"; mas continuam a recusar-se a acreditar que o dom da vida seja um caminho obrigatório para fazer parte da família de Deus - vers. 4-5).
    A resposta é simples... O "caminho" é Jesus (vers. 6): é a sua vida, os seus gestos de amor e de bondade, a sua morte (dom da vida por amor) que mostram aos homens o itinerário que eles devem percorrer. Ao aceitarem percorrer esse "caminho" de identificação com Jesus, os homens estão a ir ao encontro da verdade e da vida em plenitude. Quem aceita percorrer esse "caminho" de amor, de entrega, de dom da vida, chega até ao Pai e torna-se - como Jesus - "filho de Deus".
    Mais: ao identificarem-se com Jesus, os discípulos estabelecem uma relação íntima e familiar com o Pai, porque o Pai e Jesus são um só (vers. 7-12). O Pai está presente em Jesus. Quem adere a Jesus e estabelece com Ele laços de amor, já faz parte da família do Pai, porque Jesus é o Deus que veio ao encontro dos homens: as obras de Jesus são as obras do Pai; o seu amor é o amor do Pai; a vida que Ele oferece é a vida que o Pai dá aos homens.
    Em conclusão: os discípulos de Jesus têm de percorrer um "caminho", até chegarem a ser família de Deus. Esse "caminho" foi traçado por Jesus, na obediência a Deus e no amor aos homens. É no final desse "caminho" que os discípulos - tornados Homens Novos - encontrarão o Pai e serão integrados na família de Deus.
    No entanto, Jesus não é somente o modelo do "caminho"; ao mesmo tempo, Ele oferece como dom a força, a energia (o Espírito) para que o homem possa percorrer "o caminho". É o Espírito do Senhor ressuscitado que renova e transforma o homem, no sentido de o levar, cada dia, a tornar-se Homem Novo, que vive na obediência a Deus e no amor aos irmãos. Desta dinâmica, nasce a comunidade de Homens Novos, a família de Deus, a Igreja.

    ACTUALIZAÇÃO

    Para a reflexão, considerar os seguintes dados:

    • A Igreja é essa comunidade de Homens Novos, que se identifica com Jesus que, animada pelo Espírito, segue "o caminho" de Jesus (caminho de obediência aos planos do Pai e de dom da vida aos irmãos), que procura dar testemunho de Jesus no meio dos homens e que é a "família de Deus". No dia do nosso baptismo, fomos integrados nesta família... A nossa vida tem sido coerente com os compromissos que, então, assumimos? Sentimo-nos "família de Deus", ou deixamos que o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência falem mais alto e escolhemos caminhar à margem desta família? É verdade que esta família tem falhas, e é verdade que nem sempre encontramos nela humanidade e amor. Que fazemos, então: afastamo-nos, ou esforçamo-nos para que ela viva de forma mais coerente e verdadeira?

    • Falar do "caminho" de Jesus é falar de uma vida dada a Deus e gasta em favor dos irmãos, numa doação total e radical, até à morte. Os discípulos são convidados a percorrer, com Jesus, esse mesmo "caminho". Paradoxalmente, dessa entrega (dessa morte para si mesmo) nasce o Homem Novo, o homem na plenitude das suas possibilidades, o homem que desenvolveu até ao extremo todas as suas potencialidades. É esse "caminho" que eu tenho vindo a percorrer? A minha vida tem sido uma entrega a Deus e doação aos meus irmãos? Tenho procurado despir-me do egoísmo e do orgulho que impedem o Homem Novo de aparecer?

    • A comunhão do crente com o Pai e com Jesus não resulta de momentos mágicos nos quais, através da recitação de certas fórmulas ou do cumprimento de certos ritos, a vida de Deus bombardeia e inunda incondicionalmente o crente; mas a intimidade e a comunhão com Jesus e com o Pai estabelecem-se percorrendo o caminho do amor e da entrega, em doação total a Deus e aos irmãos. Quem quiser encontrar-se com Jesus e com o Pai, tem de sair do egoísmo e a fazer da sua vida um dom a Deus e aos homens.

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 5º DOMINGO DA PÁSCOA
    (adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")

    1. A LITURGIA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao 5º Domingo da Páscoa, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa...

    2. VALORIZAR O ALTAR.
    A segunda leitura é extraída da Primeira Carta de Pedro: Jesus é a pedra viva... a pedra angular... a pedra rejeitada pelos construtores... Através de iluminação ou de flores, poder-se-á pôr em destaque o altar, símbolo de Cristo, pedra sobre a qual repousa a Igreja, templo espiritual. Liturgicamente, é o altar (e não o sacrário) que está no centro do espaço de celebração das nossas igrejas. Seria bom igualmente pôr em evidência a ligação entre o altar e a cruz: "a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular".

    3. BILHETE DE EVANGELHO.
    Dar um passo... Alguém dizia, durante uma homilia: "a fé começa pelos pés!" De facto, a fé é uma resposta e uma caminhada. Foi a aventura destes onze homens reunidos numa sala, em Jerusalém. Estavam cheios de medo, mas lançaram-se, algum tempo mais tarde, pelas ruas da Palestina e para além disso. Sentiram-se possuídos pelo Espírito recebido no Pentecostes. É a aventura das crianças que, nestes dias, vão começar a comungar: são convidadas ao Banquete do Senhor, vão responder a este convite. É a aventura dos jovens que, por ocasião da sua profissão de fé, decidiram dar um passo para Deus, ousando dizer: "Creio!". É a aventura dos jovens que, em certo período do ano, vão ser confirmados, um passo que lhes faz pedir a ajuda do Espírito. Somos todos convidados a dar um passo, para o Senhor e para os nossos irmãos. Sim, sejamos cristãos a caminho.

    4. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

    No final da primeira leitura:
    Pai, nós Te damos graças pelo teu Espírito Santo, que suscita em todo o tempo, nas nossas comunidades, iniciativas para o acolhimento do teu Reino.
    Nós Te pedimos por todos os ministérios e serviços na Igreja, pelos diáconos, leitores, catequistas, pelos cristãos empenhados nas pastorais especializadas, a saúde, a informação, etc.

    No final da segunda leitura:
    Nós Te damos graças por Jesus Ressuscitado: Ele é a pedra viva e a pedra angular, que a morte não conseguiu eliminar. Ele é a rocha sobre a qual repousa a nossa fé. Por Ele e n'Ele nós Te apresentamos as nossas oferendas espirituais.
    Nós Te pedimos pelo teu povo, templo espiritual, nação santa, sacerdócio real, para que ele testemunhe em todo o lugar a tua admirável luz.

    No final do Evangelho:
    Pai, nós Te bendizemos por Jesus, teu Filho, porque Ele é para nós o Caminho, a Verdade e a Vida. N'Ele descobrimos o teu rosto.
    Nós Te pedimos: pelo teu Espírito Santo, faz-nos reconhecer e habitar na tua presença. Que Jesus, a tua Palavra viva, habite em nós e suscite obras de salvação. Que Ele nos conduza para Ti.

    5. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
    Pode-se escolher a Oração Eucarística I, dizendo o nome dos Apóstolos, em particular os citados no Evangelho.

    6. PALAVRA PARA O CAMINHO.
    "Sede as pedras vivas..." Que espécie de pedras somos nós na construção da nossa Igreja em 2005? Pedras que procuram ajustar-se umas às outras, em harmonia com a "Pedra angular"? Ou pedras que se opõem umas às outras e se eliminam mutuamente? Que "Templo espiritual" estamos nós a construir?

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    Proposta para
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
    Tel. 218540900 - Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.org

  • Nossa Senhora de Fátima

    Nossa Senhora de Fátima


    13 de Maio, 2023

    A 13 de Maio de 1917, Nossa Senhora apareceu aos Três Pastorinhos, Lúcia, Francisco e Jacinta. Nos meses seguintes, até Outubro inclusive, a Virgem Maria voltaria a manifestar-se nos dias 13, exceto em Agosto, quando se manifestou no dia 19, nos Valinhos. Nesses encontros, Nossa Senhora recordou, em linguagem muito simples, acessível aos pastorinhos, as verdades fundamentais do Evangelho. A sua mensagem pode resumir-se nos termos de "oração e penitência", oração e conversão. As aparições foram reconhecidas pela Igreja como dignas de fé. Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI foram peregrinos de Fátima.
    Lectio

    Primeira leitura: Apocalipse 21, 1-5a

    Eu, João, vi, então, um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido e o mar já não existia. 2E vi descer do céu, de junto de Deus, a cidade santa, a nova Jerusalém, já preparada, qual noiva adornada para o seu esposo. 3E ouvi uma voz potente que vinha do trono e dizia:«Esta é a morada de Deus entre os homens. Ele habitará com eles; eles serão o seu povo e o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus. 4Ele enxugará todas as lágrimas dos seus olhos; e não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor. Porque as primeiras coisas passaram.» 5O que estava sentado no trono afirmou: «Eu renovo todas as coisas.»

    A grande utopia da ressurreição do homem e do mundo chegará a ser realidade. A cidade nova não tem nada da antiga: nem da Jerusalém israelita, nem sequer da Igreja cristã. É algo de novo que integra aquilo que o antigo tinha de melhor numa espécie de continuidade descontínua. João admira-se de não haver templo na cidade nova. Para o cristianismo, todo o universo é templo: Deus pode revelar-se onde quiser.
    A liturgia aplica este texto a Maria. Deus revelou-se nela. Ela foi a verdadeira Arca de Deus no meio do seu povo. Glorificada no Céu, não esquece aqueles que lhe foram confiados como filhos. Daí, as suas numerosas intervenções ao longo da história, como as de Fátima, em 1917. Ela faz tudo para que, em cada um dos seus filhos, se realize o que já se realizou n´Ela.

    Evangelho: João 19, 25-27

    Naquele tempo, estavam junto à cruz de Jesus estavam, de pé, sua mãe e a irmã da sua mãe, Maria, a mulher de Clopas, e Maria Madalena. 26Então, Jesus, ao ver ali ao pé a sua mãe e o discípulo que Ele amava, disse à mãe: «Mulher, eis o teu filho!» 27Depois, disse ao discípulo: «Eis a tua mãe!» E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua.

    A mãe de Jesus aparece no princípio e no fim da vida pública de Jesus, ou seja, nas bodas de caná (Jo 2, 1ss.) e junto à cruz do Senhor (Jo 19, 1ss.). Nas bodas de Caná, Jesus dirige-lhe palavras que devem entender-se no sentido de separação: Jesus diz-lhe que não intervenha na fase da sua vida pública, que estava a iniciar. A partir desse momento, Maria como que desaparece de cena. Mas, agora que chegou a hora de Jesus, Maria reaparece, pois é também a sua hora. Em ambas as situações Jesus se lhe dirige chamando-a "mulher" e não mãe, como seria normal. O Senhor parece querer apresentá-la como a mulher estreitamente unida a Ele na realização da obra da redenção, a mulher de que se fala no Génesis (Gn 3, 15) e no Apocalipse (Ap 12). As palavras que Jesus dirige a Maria: "Eis o teu filho!" têm um sentido mais profundo do que o imediatamente literal. A Igreja encarregou-se de aprofundá-lo. O afeto e a relação maternal - a maternidade espiritual de Maria - concentrar-se-ão naqueles por quem o seu Filho está a dar a vida. João personifica todos os seguidores de Jesus. Segundo a teologia paulina, os crentes são "irmãos" de Cristo, participantes da sua filiação.

    Meditatio
    "Por ocasião das cerimónias religiosas que têm lugar nestes dias em Fátima, Portugal, em honra da Virgem Mãe de Deus, onde acorrem numerosas multidões de fiéis para venerarem o seu coração maternal e compassivo, desejamos mais uma vez chamar a atenção de todos os filhos da Igreja para o inseparável vínculo que existe entre a maternidade espiritual de Maria e os deveres que têm para com Ela os homens resgatados. Julgamos ser de grande utilidade para as almas dos fiéis considerar duas verdades muito importantes para a renovação da vida cristã. A primeira verdade é esta: Maria é Mãe da Igreja, não só por ser Mãe de Jesus Cristo e sua íntima colaboradora na nova economia da graça, quando o Filho de Deus n'Ela assumiu a natureza humana para libertar o homem do pecado mediante os mistérios da sua carne, mas também porque brilha à comunidade dos eleitos como admirável modelo de virtude. Depois de ter participado no sacrifício redentor de seu Filho, e de maneira tão íntima que mereceu ser por Ele proclamada Mãe não somente do discípulo João, mas - seja consentido afirmá-lo - do género humano, por este de algum modo representado, Ela continua agora no Céu a desempenhar a sua função materna de cooperadora no nascimento e desenvolvimento da vida divina em cada alma dos homens remidos. Mas de que modo coopera Maria no crescimento da vida da graça nos membros do Corpo Místico? Antes de tudo, pela sua oração incessante, inspirada por uma ardentíssima caridade. A Virgem Santa, de facto, gozando embora da contemplação da Santíssima Trindade, não esquece os seus filhos que caminham, como Ela outrora, na peregrinação da fé; pelo contrário, contemplando-os em Deus e conhecendo bem as suas necessidades, em comunhão com Jesus Cristo que está sempre vivo para interceder por nós, deles se constitui Advogada, Auxiliadora, Amparo e Medianeira. No entanto, a cooperação da Mãe da Igreja no desenvolvimento da vida divina nas almas não consiste apenas na sua intercessão junto do Filho. Ela exerce sobre os homens remidos outra influência importantíssima, a do exemplo, segundo a conhecida máxima: as palavras movem, o exemplo arrasta. Realmente, tal como os ensinamentos dos pais adquirem maior eficácia quando são acompanhados pelo exemplo duma vida conforme as normas da prudência humana e cristã, assim também a suavidade e o encanto das excelsas virtudes da Imaculada Mãe de Deus atraem irresistivelmente as almas para a imitação do divino modelo, Jesus Cristo, de que Ela foi a mais perfeita imagem. Mas nem a graça do divino Redentor nem a poderosa intercessão de sua e nossa Mãe espiritual poderiam conduzir-nos ao porto da salvação, se a tudo isso não correspondesse a nossa perseverante vontade de honrar Jesus Cristo e a Virgem Mãe de Deus com a fiel imitação das suas sublimes virtudes. É, pois, dever de todos os cristãos imitar religiosamente os exemplos de bondade que lhes deixou a Mãe do Céu. É esta a segunda verdade sobre a qual nos agrada chamar a vossa atenção. É em Maria que os cristãos podem admirar o exemplo que lhes mostra como realizar, com humildade e magnanimidade, a missão que Deus confiou a cada um neste mundo, em ordem à sua eterna salvação e à do próximo. Uma mensagem de suma utilidade parece chegar hoje aos fiéis da parte d'Aquela que é a Imaculada, a toda santa, a cooperadora do Filho na restauração da vida sobrenatural das almas. A santa contemplação de Maria incita-os, de facto, à oração confiante, à prática da penitência, ao santo temor de Deus, e recorda-lhes com frequência aquelas palavras com que Jesus Cristo anunciava estar perto o reino dos Céus: Arrependei-vos e acreditai no Evangelho, bem como a sua severa advertência: Se não vos arrependerdes, perecereis todos de maneira semelhante. Comemorando-se este ano o vigésimo quinto aniversário da solene consagração da Igreja a Maria Mãe de Deus e ao seu Coração Imaculado, feita pelo Nosso Predecessor Pio XII no dia 31 de Outubro de 1942, por ocasião da Radiomensagem à Nação Portuguesa - consagração que Nós mesmo renovámos no dia 21 de Novembro de 1964 - exortamos todos os filhos da Igreja a renovar pessoalmente a sua própria consagração ao Coração Imaculado da Mãe da Igreja e a viver este nobilíssimo ato de culto com uma vida cada vez mais conforme à vontade divina, em espírito de serviço filial e devota imitação da sua celeste Rainha. (Paulo VI, 13 de Maio de 1967).

    Oratio

    Pai Santo, nós vos louvamos e bendizemos, ao celebrarmos a festa da Virgem Santa Maria. Recebendo o vosso Verbo em seu Coração Imaculado, ela mereceu concebê-lo em seu seio virginal e, dando à luz o Criador do universo, preparou o nascimento da Igreja. Junto à cruz, aceitou o testamento da caridade divina e recebeu todos os homens como seus filhos, pela morte de Cristo gerados para a vida eterna. Enquanto esperava, com os Apóstolos, a vinda do Espírito Santo, associando-se às preces dos discípulos, tornou-se modelo admirável da Igreja em oração. Elevada à glória do Céu, assiste com amor materno a Igreja ainda peregrina sobre a terra, protegendo misericordiosamente os seus passos a caminho da pátria celeste, enquanto espera a vinda gloriosa do Senhor. Nós vos louvamos e bendizemos, Senhor! Ámen. (cf. Prefácio da Missa).

    Contemplatio

    Ó Coração sagrado do meu Jesus, eu vos adoro e vos dou graças infinitas por terdes dirigido para a minha salvação o martírio que suportastes à vista dos sofrimentos do santíssimo Coração de Maria ao pé da cruz, porque ma destes como soberana e como mãe. Tal é o vosso amor por mim que lhe pedistes para me tomar como seu filho em vosso lugar, para me amar, para ter compaixão das minhas misérias, para me assistir, para me proteger, para me guardar e para me governar como seu filho. Talvez, ó meu Salvador, não encontrastes maior consolação para a vossa divina Mãe do que dar-lhe filhos perversos e pecadores, a fim de que ela empregue o seu poder e a imensa caridade do seu Coração em conseguir a sua conversão e salvação. Sede bendito e louvado para sempre, ó Coração sagrado do meu Redentor, por terdes querido que nenhum dos vossos sofrimentos, e os de vossa santa Mãe, fosse perdido por mim, mas que todos servissem para curar as minhas feridas e enriquecer-me com verdadeiros bens. (Leão Dehon, OSP 4, p. 262s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Esta é a morada de Deus entre os homens." (Ap 21, 3).

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    Nossa Senhora de Fátima  (13 Maio)