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  • Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo - Ano B

    Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo - Ano B

    3 de Junho, 2021

    Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo - Ano B

    Nota inicial:
    Não tendo sido possível preparar os habituais comentários para a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, após os textos litúrgicos colocamos algumas sugestões para valorizar a Palavra de Deus e alguns apoios para meditação: a homilia de Bento XVI para o Ano B desta Solenidade em 2012; as recentes catequeses do Papa Francisco sobre a Eucaristia.

    LEITURA I - Ex 24,3-8

    Leitura do Livro do Êxodo

    Naqueles dias,
    Moisés veio comunicar ao povo
    todas as palavras do Senhor e todas as suas leis.
    O povo inteiro respondeu numa só voz:
    «Faremos tudo o que o Senhor ordenou».
    Moisés escreveu todas as palavras do Senhor.
    No dia seguinte, levantou-se muito cedo,
    construiu um altar no sopé do monte
    e ergueu doze pedras pelas doze tribos de Israel.
    Depois mandou que alguns jovens israelitas
    oferecessem holocaustos e imolassem novilhos,
    como sacrifícios pacíficos ao Senhor.
    Moisés recolheu metade do sangue, deitou-o em vasilhas
    e derramou a outra metade sobre o altar.
    Depois, tomou o Livro da Aliança
    e leu-o em voz alta ao povo, que respondeu:
    «Faremos quanto o Senhor disse e em tudo obedeceremos».
    Então, Moisés tomou o sangue
    e aspergiu com ele o povo, dizendo:
    «Este é o sangue da aliança que o Senhor firmou convosco,
    mediante todas estas palavras».

    SALMO RESPONSORIAL - Salmo 147

    Refrão 1: Tomarei o cálice da salvação
    e invocarei o nome do Senhor.

    Refrão 2: Elevarei o cálice da salvação,
    invocando o nome do Senhor.

    Como agradecerei ao Senhor
    tudo quanto Ele me deu?
    Elevarei o cálice da salvação,
    invocando o nome do Senhor.

    É preciosa aos olhos do Senhor
    a morte dos seus fiéis.
    Senhor, sou vosso servo, filho da vossa serva:
    quebrastes as minhas cadeias.

    Oferecer-Vos-ei um sacrifício de louvor,
    invocando, Senhor, o vosso nome.
    Cumprirei as minhas promessas ao Senhor,
    na presença de todo o povo.

    LEITURA II - Heb 9, 11-15

    Leitura da Epístola aos Hebreus

    Irmãos:
    Cristo veio como sumo sacerdote dos bens futuros.
    Atravessou o tabernáculo maior e mais perfeito,
    que não foi feito por mãos humanas,
    nem pertence a este mundo,
    e entrou de uma vez para sempre no Santuário.
    Não derramou sangue de cabritos e novilhos,
    mas o seu próprio Sangue,
    e alcançou-nos uma redenção eterna.
    Na verdade, se o sangue de cabritos e de toiros
    e a cinza de vitela,
    aspergidos sobre os que estão impuros,
    os santificam em ordem à pureza legal,
    quanto mais o sangue de Cristo,
    que pelo Espírito eterno
    Se ofereceu a Deus como vítima sem mancha,
    purificará a nossa consciência das obras mortas,
    para servirmos ao Deus vivo!
    Por isso, Ele é mediador de uma nova aliança,
    para que, intervindo a sua morte
    para remissão das transgressões
    cometidas durante a primeira aliança,
    os que são chamados
    recebem a herança eterna prometida.

    SEQUÊNCIA

    Terra, exulta de alegria,
    Louva o teu pastor e guia,
    Com teus hinos, tua voz.

    Quanto possas tanto ouses,
    Em louvá-l'O não repouses:
    Sempre excede o teu louvor.

    Hoje a Igreja te convida:
    O pão vivo que dá vida
    Vem com ela celebrar.

    Este pão - que o mundo creia –
    Por Jesus na santa Ceia
    Foi entregue aos que escolheu.

    Eis o pão que os Anjos comem
    Transformado em pão do homem;
    Só os filhos o consomem:
    Não será lançado aos cães.

    Em sinais prefigurado,
    Por Abraão imolado,
    No cordeiro aos pais foi dado,
    No deserto foi maná.

    Bom pastor, pão da verdade,
    Tende de nós piedade,
    Conservai-nos na unidade,
    Extingui nossa orfandade
    E conduzi-nos ao Pai.

    Aos mortais dando comida,
    Dais também o pão da vida:
    Que a família assim nutrida
    Seja um dia reunida
    Aos convivas lá do Céu.

    ALELUIA - Jo 6, 51

    Aleluia. Aleluia.

    Eu sou o pão vivo descido do Céu, diz o Senhor.
    Quem comer deste pão viverá eternamente.

    EVANGELHO - Mc 14, 12-16-22-26

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

    No primeiro dia dos Ázimos,
    em que se imolava o cordeiro pascal,
    os discípulos perguntaram a Jesus:
    «Onde queres que façamos os preparativos
    para comer a Páscoa?»
    Jesus enviou dois discípulos e disse-lhes:
    «Ide à cidade.
    Virá ao vosso encontro um homem com uma bilha de água.
    Segui-o e, onde ele entrar, dizei ao dono da casa:
    «O Mestre pergunta: Onde está a sala,
    em que hei de comer a Páscoa com os meus discípulos?»
    Ele vos mostrará uma grande sala no andar superior,
    alcatifada e pronta.
    Preparai-nos lá o que é preciso».
    Os discípulos partiram e foram à cidade.
    Encontraram tudo como Jesus lhes tinha dito
    e prepararam a Páscoa.
    Enquanto comiam, Jesus tomou o pão,
    recitou a bênção e partiu-o,
    deu-o aos discípulos e disse:
    «Tomai: isto é o meu Corpo».
    Depois tomou um cálice, deu graças e entregou-lho.
    E todos beberam dele.
    Disse Jesus:
    «Este é o meu Sangue, o Sangue da nova aliança,
    derramado pela multidão dos homens.
    Em verdade vos digo:
    Não voltarei a beber do fruto da videira,
    até ao dia em que beberei do vinho novo no reino de Deus».
    Cantaram os salmos e saíram para o Monte das Oliveiras.

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA A SOLENIDADE DO CORPO E SANGUE DE CRISTO

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao Domingo da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa... Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. VALORIZAR ESPAÇOS E GESTOS EUCARÍSTICOS.
    Valorizar os espaços e gestos eucarísticos, assim como os que se relacionam com a Palavra, é atitude de sempre. Mas isso pode ser relevado em particular neste domingo:
    – cuidar com mais atenção da preparação do altar e seus elementos, podendo prever-se uma procissão das oferendas;
    – valorizar o momento penitencial em ligação com o Batismo que nos conduz à Eucaristia;
    – proclamar a oração eucarística n.º 4, que evoca as alianças sucessivas até à Nova Aliança;
    – dar realce aos grandes gestos da oração eucarística, como a elevação do Corpo de Cristo e do cálice, a doxologia final, assim como a fração do pão;
    – preparar hoje a distribuição da comunhão sob as duas espécies;
    – prever, no momento de ação de graças, uma oração em que alguém possa testemunhar de que modo concreto a Eucaristia o faz viver no quotidiano;
    – proclamar a bênção solene e o envio final, recordando a nossa missão de «dar de comer» a todos os que têm necessidade.

    3. À ESCUTA DA PALAVRA.
    A fé da Igreja na presença do seu Senhor ressuscitado no mistério da Eucaristia remonta à origem da comunidade cristã. São Paulo transmite o que recebeu da tradição, cerca de 25 anos depois da morte de Jesus. É a narração mais antiga da Eucaristia. A Igreja nunca abandonou esta centralidade. Também o Evangelho de Marcos dá-nos hoje um relato semelhante da instituição da Eucaristia.
    A Solenidade do Corpo e do Sangue de Cristo foi instituída em meados do século XIII, numa época em que se comungava muito pouco e onde se levantavam dúvidas sobre a «presença real» de Jesus na hóstia consagrada depois da celebração da Eucaristia. A Igreja respondeu, não com longos discursos, mas com um ato: sim, Jesus está verdadeiramente presente mesmo depois do fim da missa. E para provar esta fé, criou-se o hábito de organizar procissões com a hóstia consagrada pelas ruas, fora das igrejas.
    Hoje, não é raro encontrar católicos que põem em dúvida esta permanência da presença Jesus no pão eucarístico. As palavras de Jesus esclarecem-nos: «Este é o meu Corpo... Este cálice é a nova Aliança no meu sangue». Estas afirmações de Jesus, na noite de quinta-feira santa, não dependiam nem da fé nem da compreensão dos apóstolos. É Jesus que se compromete, que dá o pão como sendo o seu corpo, o cálice de vinho como sendo o cálice da nova Aliança no seu sangue. Só Ele pode ter influência neste pão e neste vinho.
    Hoje, é o sacerdote ordenado que pronuncia as palavras de Jesus, mas não é ele que lhes dá sentido e realidade. É sempre Jesus ressuscitado que se compromete, exatamente como na noite de quinta-feira santa. O sacerdote e toda a comunidade com ele são convidados a aderir na fé a esta ação de Jesus. Mas não têm o poder de retirar a eficácia das palavras que não lhes pertencem. A Igreja tem razão em celebrar esta permanência da presença de Jesus. Que esta seja para nós fonte de maravilhamento e de ação de graças!

    4. PALAVRA PARA O CAMINHO: COMER PARA VIVER.
    É a lei biológica da nossa condição humana: é preciso comer para viver. A nossa vida espiritual exige também ser alimentada e cuidada, para crescer e ser fecunda. Jesus revela todo o seu amor pelos homens e o seu desejo de os saciar com o verdadeiro alimento: a sua própria vida, o seu corpo entregue como Pão da Vida, o seu sangue derramado como sangue da Aliança.
    Assim, comungar é ser alimentado pela vida de Jesus, enriquecido pelas suas próprias forças, ser capaz do seu amor. Do mesmo modo que comemos para viver, comungamos na Eucaristia para viver como discípulos de Jesus... Que fazemos das nossas comunhões? Que vidas fazem elas crescer em nós?
    Para meditar estas interrogações, perguntemo-nos verdadeiramente sobre o que nos faltaria se não tivéssemos Eucaristia...
    A Eucaristia é verdadeiramente «vital» para nós? Se assim não for, um período de «jejum eucarístico», um tempo de retiro espiritual para lhe descobrir o sentido, podem ajudar a reencontrar a grandeza deste sacramento. Se assim for, procuremos rezar por aqueles que são privados da Eucaristia e sofrem, e peçamos ao Senhor para lhes dar de novo a graça do seu amor.
    E como andamos de adoração? Com a Festa do Corpo de Deus vem também a questão das procissões e da adoração eucarísticas. Se a ocasião se proporcionar, vivamos este tempo de adoração em ligação com a própria celebração, como prolongamento desta e para melhor nos prepararmos ao serviço dos nossos irmãos.
    Na próxima sexta-feira celebramos a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Mais uma relevante coincidência que nos impele a recentrar o nosso coração no Coração de Jesus, de modo essencial na Eucaristia celebrada e adorada!

    ANEXO 1
    Homilia de Bento XVI para a Solenidade do Corpo de Deus em 2012 [Ano B]

    Prezados irmãos e irmãs!
    Esta tarde gostaria de meditar convosco sobre dois aspetos, ligados entre si, do Mistério eucarístico: o culto da Eucaristia e a sua sacralidade. É importante retomá-los em consideração para os preservar de visões incompletas do próprio Mistério, como aquelas que se relevaram no passado recente.
    Antes de tudo, uma reflexão sobre o valor do culto eucarístico, em particular da adoração do Santíssimo Sacramento. É a experiência que, também esta tarde, nós viveremos após a Missa, antes da procissão, durante a sua realização e no seu encerramento. Uma interpretação unilateral do Concílio Vaticano II tinha penalizado esta dimensão, limitando praticamente a Eucaristia ao momento celebrativo. Com efeito, foi muito importante reconhecer a centralidade da celebração, no qual o Senhor convoca o seu povo, o reúne ao redor da dúplice mesa da Palavra e do Pão de vida, o alimenta e o une a Si no ofertório do Sacrifício. Esta valorização da assembleia litúrgica, em que o Senhor age e realiza o seu mistério de comunhão, permanece obviamente válida, mas ela deve ser recolocada no equilíbrio justo. Com efeito - como acontece com frequência - para ressaltar um aspeto termina-se por sacrificar outro. Neste caso, a justa evidência conferida à celebração da Eucaristia prejudicou a adoração, como gesto de fé e de oração dirigido ao Senhor Jesus, realmente presente no Sacramento do altar. Este desequilíbrio teve repercussões inclusive na vida espiritual dos fiéis. Com efeito, concentrando toda a relação com Jesus Eucaristia unicamente no momento da Santa Missa, corre-se o risco de esvaziar da sua presença o resto do tempo e do espaço existenciais. E assim compreende-se menos o sentido da presença constante de Jesus no meio de nós e connosco, uma presença concreta, próxima, no meio das nossas casas, como «Coração vibrante» da cidade, do povoado, do território com as suas várias expressões e atividades. O Sacramento da Caridade de Cristo deve permear toda a vida quotidiana.
    Na realidade, é errado opor a celebração à adoração, como se uma com a outra estivessem em concorrência. É precisamente o contrário: o culto do Santíssimo Sacramento constitui como que o «ambiente» espiritual em cujo contexto a comunidade pode celebrar bem e na verdade a Eucaristia. A ação litúrgica só pode expressar o seu pleno significado e valor se for precedida, acompanhada e seguida por esta atitude interior de fé e de adoração. O encontro com Jesus na Santa Missa realiza-se verdadeira e plenamente quando a comunidade é capaz de reconhecer que no Sacramento Ele habita a sua casa, nos espera, nos convida à sua mesa e depois, quando a assembleia se dissolve, permanece connosco, com a sua presença discreta e silenciosa, e acompanha-nos com a sua intercessão, continuando a receber os nossos sacrifícios espirituais e a oferecê-los ao Pai.
    A este propósito, apraz-me sublinhar a experiência que juntos viveremos também esta noite. No momento da adoração, nós estamos todos no mesmo plano, de joelhos diante do Sacramento do Amor. O sacerdócio comum e o ministerial encontram-se unidos no culto eucarístico. É uma experiência muito bonita e significativa, que vivemos várias vezes na Basílica de São Pedro e também nas inesquecíveis vigílias com os jovens - recordo, por exemplo, as de Colónia, Londres, Zagreb e Madrid. É evidente para todos que estes momentos de vigília eucarística preparam a celebração da Santa Missa e predispõem os corações para o encontro, de tal modo ele seja ainda mais fecundo. Estarmos todos em silêncio prolongado diante do Senhor presente no seu Sacramento é uma das experiências mais autênticas do nosso ser Igreja, que é acompanhado de maneira complementar pela celebração da Eucaristia, ouvindo a Palavra de Deus, cantando, aproximando-nos juntos da mesa do Pão de Vida. Comunhão e contemplação não se podem separar, pois caminham juntas. Para me comunicar verdadeiramente com outra pessoa devo conhecê-la, saber estar em silêncio ao seu lado, ouvi-la e fitá-la com amor. O amor autêntico e a amizade verdadeira vivem sempre desta reciprocidade de olhares, de silêncios intensos, eloquentes e repletos de respeito e de veneração, de tal maneira que o encontro seja vivido profundamente, de modo pessoal e não superficial. E infelizmente, se falta esta dimensão, também a própria comunhão sacramental pode tornar-se, da nossa parte, um gesto superficial. No entanto, na comunhão autêntica, preparada pelo diálogo da oração e da vida, nós podemos dirigir ao Senhor palavras de confiança, como aquelas que há pouco ressoaram no Salmo responsorial: «Senhor, sou teu servo, filho da tua serva; / quebraste as minhas cadeias. / Hei de oferecer-te sacrifícios de louvor / invocando, Senhor, o teu nome» (Sl 115, 16-17).
    Agora gostaria de passar brevemente ao segundo aspeto: a sacralidade da Eucaristia. Também aqui ressentimos, no passado recente, de um determinado desentendimento a respeito da mensagem autêntica da Sagrada Escritura. A novidade cristã em relação ao culto foi influenciada por uma certa mentalidade secularista dos anos sessenta e setenta do século passado. É verdade, e permanece sempre válido, que o centro do culto já não se encontra nos ritos e nos sacrifícios antigos, mas no próprio Cristo, na sua pessoa, na sua vida e no seu mistério pascal. E todavia, desta novidade fundamental não se deve concluir que o sagrado já não existe, mas que ele encontrou o seu cumprimento em Jesus Cristo, Amor divino encarnado. A Carta aos Hebreus, que ouvimos esta tarde na segunda Leitura, fala-nos precisamente da novidade do sacerdócio de Cristo, «Sumo Sacerdote dos bens futuros» (Hb 9, 11), mas não afirma que o sacerdócio terminou. Cristo «é Mediador de uma nova aliança» (Hb 9, 15), estabelecida no seu sangue, que purifica «a nossa consciência das obras mortas» (Hb 9, 14). Ele não aboliu o sagrado, mas completou-o, inaugurando um novo culto, que é sem dúvida plenamente espiritual, mas que no entanto, enquanto estivermos a caminho no tempo, ainda se serve de sinais e de ritos, que só virão a faltar no final, na Jerusalém celeste, onde já não haverá templo algum (cf. Ap 21, 22). Graças a Cristo, a sacralidade é mais verdadeira, mais intensa e, como acontece no caso dos mandamentos, também mais exigente! Não é suficiente a observância ritual, mas exigem-se a purificação do coração e o compromisso da vida.
    Apraz-me ressaltar também que o sagrado tem uma função educativa, e inevitavelmente o seu desaparecimento empobrece a cultura, em particular a formação das novas gerações. Se, por exemplo, em nome de uma fé secularizada que já não precisa de sinais sagrados, fosse abolida esta procissão urbana do Corpus Christi, o perfil espiritual de Roma ficaria «nivelado» e por isso a nossa consciência pessoal e comunitária seria debilitada. Ou então, pensemos numa mãe e num pai que, em nome de uma fé dessacralizada, privassem os próprios filhos de toda a ritualidade religiosa: na realidade, acabariam por deixar este campo livre aos numerosos sucedâneos presentes na sociedade consumista, a outros ritos e sinais, que mais facilmente poderiam tornar-se ídolos. Deus, nosso Pai, não agiu assim com a humanidade: mandou o seu Filho ao mundo não para abolir, mas para levar a cumprimento também o sagrado. No ápice desta missão, na última Ceia, Jesus instituiu o Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue, o Memorial do seu Sacrifício pascal. Agindo deste modo, Ele pôs-se no lugar dos sacrifícios antigos, mas fê-lo no âmbito de um rito, que ordenou aos Apóstolos que perpetuassem como sinal supremo do verdadeiro Sagrado, que é Ele mesmo. Caros irmãos e irmãs, é com esta fé que nós celebramos hoje e cada dia o Mistério eucarístico e que O adoramos como Centro da nossa vida e âmago do mundo! Amém.

    ANEXO 2
    Catequeses do Papa Francisco sobre a Eucaristia

    Catequese 1.
    Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
    Hoje, falar-vos-ei da Eucaristia. A Eucaristia insere-se no âmago da «iniciação cristã», juntamente com o Batismo e a Confirmação, constituindo a nascente da própria vida da Igreja. Com efeito, é deste Sacramento do Amor que derivam todos os caminhos autênticos de fé, de comunhão e de testemunho.
    O que vemos quando nos congregamos para celebrar a Eucaristia, a Missa, já nos faz intuir o que estamos prestes a viver. No centro do espaço destinado à celebração encontra-se o altar, que é uma mesa coberta com uma toalha, e isto faz-nos pensar num banquete. Sobre a mesa há uma cruz, a qual indica que naquele altar se oferece o sacrifício de Cristo: é Ele o alimento espiritual que ali recebemos, sob as espécies do pão e do vinho. Ao lado da mesa encontra-se o ambão, ou seja o lugar de onde se proclama a Palavra de Deus: e ele indica que ali nos reunimos para ouvir o Senhor que fala mediante as Sagradas Escrituras, e portanto o alimento que recebemos é também a sua Palavra.
    Na Missa, Palavra e Pão tornam-se uma coisa só, como na Última Ceia, quando todas as palavras de Jesus, todos os sinais que Ele tinha realizado, se condensaram no gesto de partir o pão e de oferecer o cálice, antecipação do sacrifício da cruz, e naquelas palavras: «Tomai e comei, isto é o meu corpo... Tomai e bebei, isto é o meu sangue».
    O gesto levado a cabo por Jesus na Última Ceia é a extrema ação de graças ao Pai pelo seu amor, pela sua misericórdia. Em grego, «ação de graças» diz-se «eucaristia». É por isso que o Sacramento se chama Eucaristia: é a suprema ação de graças ao Pai, o qual nos amou a tal ponto que nos ofereceu o seu Filho por amor. Eis por que motivo o termo Eucaristia resume todo aquele gesto, que é de Deus e ao mesmo tempo do homem, gesto de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
    Por conseguinte, a celebração eucarística é muito mais do que um simples banquete: é precisamente o memorial da Páscoa de Jesus, o mistério fulcral da salvação. «Memorial» não significa apenas uma recordação, uma simples lembrança, mas quer dizer que cada vez que nós celebramos este Sacramento participamos no mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo. A Eucaristia constitui o apogeu da obra de salvação de Deus: com efeito, fazendo-se pão partido para nós, o Senhor Jesus derrama sobre nós toda a sua misericórdia e todo o seu amor, a ponto de renovar o nosso coração, a nossa existência e o nosso próprio modo de nos relacionarmos com Ele e com os irmãos. É por isso que geralmente, quando nos aproximamos deste Sacramento, dizemos que «recebemos a Comunhão», que «fazemos a Comunhão»: isto significa que, no poder do Espírito Santo, a participação na mesa eucarística nos conforma com Cristo de modo singular e profundo, levando-nos a prelibar desde já a plena comunhão com o Pai, que caracterizará o banquete celestial, onde juntamente com todos os Santos teremos a felicidade de contemplar Deus face a face.
    Estimados amigos, nunca daremos suficientemente graças ao Senhor pela dádiva que nos concedeu através da Eucaristia! Trata-se de um dom deveras grandioso e por isso é tão importante ir à Missa aos domingos. Ir à Missa não só para rezar, mas para receber a Comunhão, o pão que é o corpo de Jesus Cristo que nos salva, nos perdoa e nos une ao Pai. É bom fazer isto! E todos os domingos vamos à Missa, porque é precisamente o dia da Ressurreição do Senhor. É por isso que o Domingo é tão importante para nós! E com a Eucaristia sentimos esta pertença precisamente à Igreja, ao Povo de Deus, ao Corpo de Deus, a Jesus Cristo. Nunca compreenderemos todo o seu valor e toda a sua riqueza. Então, peçamos-lhe que este Sacramento possa continuar a manter viva na Igreja a sua presença e a plasmar as nossas comunidades na caridade e na comunhão, segundo o Coração do Pai. E fazemos isto durante a vida inteira, mas começamos a fazê-lo no dia da nossa primeira Comunhão. É importante que as crianças se preparem bem para a primeira Comunhão e que cada criança a faça, pois trata-se do primeiro passo desta pertença forte a Jesus Cristo, depois do Batismo e do Crisma.

    Catequese 2.
    Caros irmãos e irmãs, bom dia!
    Na última catequese elucidei o modo como a Eucaristia nos introduz na comunhão real com Jesus e o seu mistério. Agora podemos formular algumas interrogações a propósito da relação entre a Eucaristia que celebramos e a nossa vida, como Igreja e como simples cristãos. Como vivemos a Eucaristia? Quando vamos à Missa aos domingos, como a vivemos? É apenas um momento de festa, uma tradição consolidada, uma ocasião para nos encontrarmos, para estarmos à vontade, ou então é algo mais?
    Existem sinais muito concretos para compreender como vivemos tudo isto, como vivemos a Eucaristia; sinais que nos dizem se vivemos bem a Eucaristia, ou se não a vivemos muito bem. O primeiro indício é o nosso modo de ver e considerar os outros. Na Eucaristia Cristo oferece sempre de novo o dom de si que já concedeu na Cruz. Toda a sua vida é um gesto de partilha total de si mesmo por amor; por isso, Ele gostava de estar com os discípulos e com as pessoas que tinha a oportunidade de conhecer. Para Ele, isto significava partilhar os seus desejos, os seus problemas, aquilo que agitava as suas almas e vidas. Pois bem, quando participamos na Santa Missa encontramo-nos com homens e mulheres de todos os tipos: jovens, idosos e crianças; pobres e abastados; naturais do lugar e estrangeiros; acompanhados pelos familiares e pessoas sós... Mas a Eucaristia que eu celebro leva-me a senti-los todos verdadeiramente como irmãos e irmãs? Faz crescer em mim a capacidade de me alegrar com quantos rejubilam, de chorar com quem chora? Impele-me a ir ao encontro dos pobres, dos enfermos e dos marginalizados? Ajuda-me a reconhecer neles o rosto de Jesus? Todos nós vamos à Missa porque amamos Jesus e, na Eucaristia, queremos compartilhar a sua paixão e ressurreição. Mas amamos, como deseja Jesus, os irmãos e irmãs mais necessitados? Por exemplo, nestes dias vimos em Roma muitas dificuldades sociais, ou devido às chuvas, que causaram prejuízos enormes para bairros inteiros, ou devido à falta de trabalho, consequência da crise económica no mundo inteiro. Pergunto-me, e cada um de nós deve interrogar-se: eu que vou à Missa, como vivo isto? Preocupo-me em ajudar, em aproximar-me, em rezar por quantos devem enfrentar este problema? Ou então sou um pouco indiferente? Ou, talvez, preocupo-me em tagarelar: reparaste como se veste esta pessoa, ou como está vestida aquela? Às vezes é isto que se faz depois da Missa, mas não podemos comportar-nos assim! Devemos preocupar-nos com os nossos irmãos e irmãs que têm necessidade por causa de uma doença, de um problema. Hoje, far-nos-á bem pensar nos nossos irmãos e irmãs que devem enfrentar estes problemas aqui em Roma: problemas devidos à tragédia provocada pelas chuvas, questões sociais e de trabalho. Peçamos a Jesus, que recebemos na Eucaristia, que nos ajude a ajudá-los!
    Um segundo indício, muito importante, é a graça de nos sentirmos perdoados e prontos para perdoar. Por vezes, alguém pergunta: «Por que deveríamos ir à igreja, visto que quem participa habitualmente na Santa Missa é pecador como os outros?». Quantas vezes ouvimos isto! Na realidade, quem celebra a Eucaristia não o faz porque se considera ou quer parecer melhor do que os outros, mas precisamente porque se reconhece sempre necessitado de ser acolhido e regenerado pela misericórdia de Deus, que se fez carne em Jesus Cristo. Se não nos sentirmos necessitados da misericórdia de Deus, se não nos sentirmos pecadores, melhor seria não irmos à Missa! Nós vamos à Missa porque somos pecadores e queremos receber o perdão de Deus, participar na redenção de Jesus e no seu perdão. Aquele «Confesso» que recitamos no início não é um «pro forma», mas um verdadeiro ato de penitência! Sou pecador e confesso-o: assim começa a Missa! Nunca devemos esquecer que a Última Ceia de Jesus teve lugar «na noite em que Ele foi entregue» (1 Cor 11, 23). Naquele pão e naquele vinho que oferecemos, e ao redor dos quais nos congregamos, renova-se de cada vez a dádiva do corpo e do sangue de Cristo, para a remissão dos nossos pecados. Temos que ir à Missa como pecadores, humildemente, e é o Senhor que nos reconcilia.
    Um último indício inestimável é-nos oferecido pela relação entre a celebração eucarística e a vida das nossas comunidades cristãs. É preciso ter sempre presente que a Eucaristia não é algo que nós fazemos; não é uma nossa comemoração daquilo que Jesus disse e fez. Não! É precisamente uma ação de Cristo! Ali, é Cristo quem age, Cristo sobre o altar! É um dom de Cristo, que se torna presente e nos reúne ao redor de Si, para nos alimentar com a sua Palavra e a sua vida. Isto significa que a própria missão e identidade da Igreja derivam dali, da Eucaristia, e ali sempre adquirem forma. Uma celebração pode até ser impecável sob o ponto de vista exterior, maravilhosa, mas se não nos levar ao encontro com Jesus corre o risco de não oferecer alimento algum ao nosso coração e à nossa vida. Através da Eucaristia, ao contrário, Cristo quer entrar na nossa existência e permeá-la com a sua graça, de tal modo que em cada comunidade cristã haja coerência entre liturgia e vida.
    O coração transborda de confiança e de esperança, pensando nas palavras de Jesus, citadas no Evangelho: «Quem comer a minha carne e beber o meu sangue terá a vida eterna; e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia» (Jo 6, 54). Vivamos a Eucaristia com espírito de fé, de oração, de perdão, de penitência, de júbilo comunitário, de solicitude pelos necessitados e pelas carências de numerosos irmãos e irmãs, na certeza de que o Senhor cumprirá aquilo que nos prometeu: a vida eterna. Assim seja!

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
    Tel. 218540900 - Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.pt

    SS. Carlos Lwanga e Companheiros, Mártires

    SS. Carlos Lwanga e Companheiros, Mártires


    3 de Junho, 2021

    Carlos Luanga e os seus vinte e um companheiros, ugandeses, foram martirizados entre 1885 e 1886, por ordem do rei Mwanga. Tendo abraçado a fé, graças à pregação dos Padres Brancos, opuseram-se ao rei, esclavagista e pederasta. Uns foram decapitados e outros queimados vivos. Foram canonizados por Paulo VI, em 1964.

    Lectio

    Primeira leitura: 2 Macabeus 7, 1-2.9-14

    Naqueles dias, foram presos sete irmãos com a mãe, aos quais o rei, por meio de golpes de azorrague e de nervos de boi, quis obrigar a comer carnes de porco, proibidas pela lei. 2Um deles, tomou a palavra e falou assim: «Que pretendes perguntar e saber de nós? Estamos prontos a antes morrer do que violar as leis dos nossos pais.» 3O rei, irritado, ordenou que aquecessem ao fogo sertãs e caldeirões. 4Logo que ficaram em brasa, ordenou que cortassem a língua ao que primeiro falara, lhe arrancassem a pele da cabeça e lhe cortassem também as extremidades das mãos e dos pés, na presença dos irmãos e da mãe. 5Mutilado de todos os seus membros, o rei mandou aproximá-lo do fogo e, vivo ainda, assá-lo na sertã. Enquanto o cheiro da panela se espalhava ao longe, os outros, com a mãe, animavam-se a morrer corajosamente, dizendo: 6«Deus, o Senhor, nos vê e, na verdade, Ele terá compaixão de nós, como diz claramente Moisés no seu cântico de admoestação: Ele terá piedade dos seus servidores.» 7Morto, deste modo, o primeiro, conduziram o segundo ao suplício. Arrancaram-lhe a pele da cabeça com os cabelos e perguntaram-lhe: «Comes carne de porco, ou preferes que o teu corpo seja torturado, membro por membro?» 9Prestes a dar o último suspiro, disse: «Ó malvado, tu arrebatas-nos a vida presente, mas o rei do universo há-de ressuscitar-nos para a vida eterna, se morrermos fiéis às suas leis.» 10Depois deste, torturaram o terceiro, o qual, mal lhe pediram a língua, deitou-a logo de fora e estendeu as mãos corajosamente. 11E disse, cheio de confiança: «Do Céu recebi estes membros, mas agora menosprezo-os por amor das leis de Deus, mas espero recebê-los dele, de novo, um dia.» 12O próprio rei e os que o rodeavam ficaram admirados com o heroísmo deste jovem, que nenhum caso fazia dos sofrimentos.13Morto também este, aplicaram os mesmos suplícios ao quarto, 14o qual, prestes a expirar, disse: «É uma felicidade perecer à mão dos homens, com a esperança de que Deus nos ressuscitará; mas a tua ressurreição não será para a vida.»

    Perante a perseguição de Antíoco IV, que pretendia impor a cultura e a religião gregas em todo o reino, também em Jerusalém, o autor do 2 Macabeus apresenta o testemunho heroico dos seus irmãos perseguidos. Os Macabeus lutam para evitar a normalização política e religiosa, que vai contra a identidade e a liberdade do povo de Deus. Hoje escutamos a impressionante narrativa do martírio dos sete irmãos e da sua mãe. Os Mártires de Uganda, em nome da fé cristã, e dos seus princípios morais, resistiram ao tirano Mwanga, pagando o seu atrevimento com a própria vida.

    Evangelho: Mateus 5, 1-12ª

    Naquele tempo, ao ver a multidão, Jesus subiu a um monte. Depois de se ter sentado, os discípulos aproximaram-se dele. 2Então tomou a palavra e começou a ensiná-los, dizendo:3«Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu. 4Felizes os que choram, porque serão consolados. 5Felizes os mansos, porque possuirão a terra.  6Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. 7Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. 8Felizes os puros de coração, porque verão a Deus. 9Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.  10Felizes os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu. 11Felizes sereis, quando vos insultarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o género de calúnias contra vós, por minha causa.12Exultai e alegrai-vos, porque grande será a vossa recompensa no Céu.

    Mateus apresenta a Jesus como o novo Moisés, que promulga a nova lei. O reino de Deus está presente e atuante no mundo. A situação do homem, tornado filho de Deus, é nova. Há que viver de acordo com ela, há que construir uma sociedade nova. Há que viver "segundo o espírito" e não "segundo a carne" (cf. Gl 5, 10ss.). O novo estilo de vida, pessoal e coletivo, - ser construtores de paz, misericordiosos, amigos da justiça, puros de coração, pobres em espírito, vai contra os princípios e hábitos do mundo. Por isso, há que contar com o sofrimento e a perseguição, tal como aconteceu com Cristo. Mas Cristo diz-lhes: "Exultai e alegrai-vos, porque grande será a vossa recompensa no Céu. (v. 12).

    Meditatio

    Ao canonizar os mártires, que hoje celebramos, Paulo VI pronunciou estas palavras: "Estes Mártires Africanos acrescentam ao álbum dos vencedores, chamado Martirológio, uma página ao mesmo trágica e grandiosa, verdadeiramente digna de figurar ao lado das célebres narrações da África antiga, as quais, neste tempo em que vivemos, julgávamos, por causa da nossa pouca fé, que nunca mais viriam a ter semelhante continuação... Estes Mártires Africanos dão, sem dúvida, início a uma nova era... Com efeito, a África, orvalhada com o sangue destes mártires, que são os primeiros desta nova era, (e queira Deus que sejam os últimos - tão grande e precioso é o seu holocausto), a África renasce livre e resgatada".
    Nos Mártires de Uganda realizou-se a palavra de Jesus: "Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto." (Jo 12, 24). As novas comunidades cristã, no coração da África, nascem marcadas pelo seu martírio. O seu sangue é semente de novas comunidades, que floresceram e continuarão a florescer em África, comunidades jovens, dinâmicas e evangelizadoras.
    Os Mártires de Uganda são para nós um ícone vivo. São um desafio a construir, com clareza de identidade, a sociedade contemporânea e, como escreveu João Paulo II, a "não deixar faltar a este mundo o clarão da divina beleza que ilumine o caminho da existência humana".
    Como batizados, participamos no sacerdócio de Cristo, mas, com Ele e como Ele, somos também "vítimas" do seu e nosso sacerdócio: "Saiamos, então, ao seu encontro fora do acampamento, suportando a sua humilhação... ofereçamos continuamente a Deus um sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome." (Heb 13, 13.15). Os Mártires participam na oblação que Jesus Cristo faz de Si mesmo, para glória e alegria de Deus, e para redenção da humanidade. Com efeito, comenta Cipriani, "O sacrifício de Cristo não pode permanecer isolado, não partilhável; o Seu martírio é um apelo ao nosso martírio". S. Paulo, ao escrever aos Romanos, diz-lhes: "Exorto-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais os vossos corpos (isto é, vós mesmos) como sacrifício, vivo, santo e agradável a Deus; é este o vosso culto espiritual" (Rom 12, 1).

    Oratio

    Senhor nosso Deus, que fazeis do sangue dos mártires semente de cristãos, concedei que a seara da vossa Igreja, regada com o sangue de São Carlos Lwanga e seus companheiros, produza sempre abundante colheita para o vosso reino. Ámen. (Coleta da Missa).

    Contemplatio

    As ladainhas cantam a glória do nome de Jesus, o seu valor, a sua fecundidade... É um nome glorioso pelas suas origens celestes: Jesus, filho do Deus vivo; Jesus, esplendor do Pai; Jesus pureza da luz eterna; Jesus, rei de glória; Jesus, sol de justiça, tende piedade de nós. É um nome glorioso sobre a terra, pela sua beleza sobrenatural e pela sua grande missão: Jesus, filho da Virgem Maria; Jesus amável; Jesus admirável; Jesus, Deus forte; Jesus, Pai do século que há-de vir; Jesus, anjo do grande conselho; Jesus muito poderoso tende piedade de nós. É um nome glorioso pelas suas virtudes: Jesus, muito paciente; Jesus muito obediente; Jesus manso e humilde de coração; Jesus que amais a castidade; Jesus, que nos amastes; Jesus, Deus de paz; Jesus, autor da vida; Jesus, modelo de toda a virtude; Jesus zelador das almas, tende piedade de nós. É um nome glorioso pelos seus títulos mais amáveis: Jesus, nosso Deus; Jesus, nosso refúgio; Jesus, pai dos pobres; Jesus, tesouro dos fiéis; Jesus, bom Pastor; Jesus, verdadeira luz; Jesus, sabedoria eterna; Jesus, bondade infinita; Jesus, nosso caminho e nossa vida; tende piedade de nós. É um nome glorioso pela sua preeminência sobre todas as glórias: Jesus, alegria dos anjos; Jesus, rei dos patriarcas; Jesus, senhor dos apóstolos; Jesus, doutor dos evangelistas; Jesus, mártir e força dos mártires; Jesus, confessor e luz dos confessores; Jesus, virgem e pureza das virgens; Jesus, santo e coroa de todos os santos, tende piedade de nós. Verdadeiramente este nome está acima de todos os nomes. (Leão Dehon, OSP 3, p.59s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Felizes sereis quando vos perseguirem por minha causa." (cf. Mt 5, 12).
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    SS. Carlos Lwanga e Companheiros, Mártires (03 Junho)

  • Santo Anjo da Guarda de Portugal

    Santo Anjo da Guarda de Portugal


    10 de Junho, 2021

    A devoção ao Anjo da Guarda é muito antiga em Portugal. Tomou, porém, incremento especial com as Aparições do Anjo, em Fátima, aos Pastorinhos. Pio XII aprovou a comemoração do Anjo de Portugal no Calendário Litúrgico de Portugal.

    Mensageiros de Deus, em momentos decisivos da História da Salvação, os Anjos estão encarregados da guarda dos homens (Mt 18, 10; At 12, 13) e da proteção da Igreja (Ap 12, 1-9). A fé cristã crê também possuir cada nação em particular um Anjo encarregado de velar por ela.

    Lectio

    Primeira leitura: Daniel, 10, 2a, 5-6.12-14b

    Naqueles dias, levantando os olhos, vi um homem vestido de linho. Tinha sobre os rins uma cinta de ouro de Ufaz. 6O corpo era como que de crisólito; a face brilhava como o relâmpago, os olhos como fachos ardentes, os braços e os pés tinham o aspecto do bronze polido e a sua voz ressoava como o rumor de uma multidão. 12Disse-me: «Não tenhas medo, Daniel, porque, desde o primeiro dia em que te aplicaste a compreender e te humilhaste diante do teu Deus, a tua oração foi atendida e é por causa de ti que eu aqui venho. 13O príncipe do reino da Pérsia resistiu-me durante vinte e um dias; mas Miguel, um dos primeiros príncipes, veio em meu socorro. Deixei-o a bater-se com os reis da Pérsia, 14e aqui estou para te fazer compreender o que deve acontecer ao teu povo nos últimos dias."

    Nos capítulos 7 a 12 de Daniel, encontramos uma série de apocalipses ou revelações relacionados entre si, apesar de serem unidades independentes e autónomas. Abundam os elementos simbólicos: o grande mar, os quatro ventos, os quatro animais, o pequeno chifre, o ancião e o filho do homem, para além de outros pormenores de números e colorido. Para compreender todos estes símbolos, teríamos de nos colocar no mundo do autor e na sua mentalidade, simultaneamente judaica, profética e apocalítica. Estão em jogo a história e a mitologia, a tradição e o futuro messiânico. A finalidade é conseguir suscitar a convicção de que no fim dos tempos, que está próximo, o reino de Deus será entregue ao povo dos santos de Deus, o resto profético. O anjo de Deus defende esse povo. De modo semelhante, todos os povos e nações têm um Anjo encarregado por Deus de os proteger e defender em todos os perigos, de modo que a vida temporal se oriente para a eterna e todos os povos possam vir a formar o único Povo de Deus.

    Evangelho: Lucas 2, 8-14

    Na mesma região encontravam-se uns pastores que pernoitavam nos campos, guardando os seus rebanhos durante a noite. 9Um anjo do Senhor apareceu-lhes, e a glória do Senhor refulgiu em volta deles; e tiveram muito medo. 10O anjo disse-lhes: «Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo: 11Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor. 12Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura.» 13De repente, juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste, louvando a Deus e dizendo: 14«Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens do seu agrado.»

    Lucas leva-nos a Belém, cidade das promessas de Israel, para falar do nascimento de Jesus. Mas a verdade mais profunda do nascimento de Jesus é anunciada pelo anjo da força e da presença de Deus no meio dos homens, que quebra o silêncio da noite e proclama: "Nasceu-vos o Salvador" (2, 11). É a verdade da Boa Nova de um mundo novo, dirigida aos pastores, que vivem afastados e não têm lugar nas cidades dos homens, que não se ocupam das coisas da lei judaica (do cerimonial) e, por conseguinte, são impuros. A eles, e a todos os humildes da terra, é dirigida a mensagem da verdade salvadora: "Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor" (v. 11).

    Meditatio

    "A existência dos seres espirituais, não-corporais, a que a Sagrada Escritura habitualmente chama anjos, é uma verdade de fé. P testemunho da Escritura é tão claro como a unanimidade da Tradição" (Catecismo da Igreja Católica).
    Deus nunca deixa só o homem desorientado e desanimado. Do mesmo modo, protege os povos e nações, particularmente nos momentos de maiores dificuldades. Há uma criação visível que, pelo menos em parte, vemos com os olhos do corpo. Mas há também uma criação invisível que só podemos perceber através dos sentidos espirituais, através da fé, da oração, da iluminação interior que nos vem do Espírito Santo.
    Quem são, portanto, os anjos? São, em primeiro lugar, um sinal luminoso da Providência, da paterna bondade de Deus, que jamais deixa faltar aos filhos aquilo de que precisam. Intermediários entre a terra e o céu, os anjos são criaturas invisíveis postas à nossa disposição, e à disposição dos povos e nações, para nos guiar no caminho de regresso a casa do Pai. Vêm do Céu para nos reconduzir ao Céu. Fazem-nos, desde já, saborear algo das realidades celestes.
    O cuidado e a guarda dos nossos anjos podem, por vezes, experimentar-se de modo muito concreto e sensível, desde que saibamos reconhecê-los. Trata-se de encontros "casuais", que todavia se tornam fundamentais e determinantes na vida de uma pessoa ou de uma ajuda imprevista e inesperada em situações de perigo. Pode ser também uma intuição repentina que nos permite dar-nos conta de um erro, de um esquecimento. Como não sentir-nos guiados, protegidos e amavelmente socorridos? Os anjos protegem-nos de perigos de que nos damos conta, sobretudo, do perigo de nos tornarmos autossuficientes, surdos a Deus e desobedientes à sua palavra. Além disso, sugerem-nos pensamentos retos e humildes, bons sentimentos. Desde o seu começo até à morte, a vida humana é acompanha pela assistência e intercessão dos anjos: "Cada fiel tem a seu lado um anjo protetor e pastor para o guiar na vida" (S. Basílio Magno). De igual modo, "toda a vida da Igreja beneficia da ajuda misteriosa e poderosa dos anjos" (At 5, 18-20; 8, 26-29; 10, 3-8; 12, 6-11; 27, 23-25). Porque não pensar que acontece com os povos e nações o que acontece com cada homem e com a Igreja? Peçamos ao Anjo de Portugal que nos livre de todas as adversidades, nos defenda nas adversidades, dirija os nossos passos, como nação, no caminho da salvação e da paz.

    Oratio

    Senhor, Pai Santo, proclamamos a vossa imensa glória, que resplandece nos Anjos e nos Arcanjos, e, honrando estes mensageiros celestes, exaltamos a vossa infinita bondade, porque a veneração que eles merecem é sinal da vossa incomparável grandeza sobre as criaturas. Hoje, com a multidão dos Anjos, que celebram a vossa divina majestade, queremos adorar-vos e bendizer-vos. Ámen. (cf. Prefácio dos Anjos)

    Contemplatio

    Os Anjos louvam a Deus e servem-n'O. "Eles são milhares de milhares, diz Daniel, à volta do trono de Deus, ocupados em servi-l'O" (Dan 7, 10). "Anjos do céu, diz o salmo, bendizei o Senhor, vós que executais as suas ordens" (Sl 102). Deus envia-os junto das criaturas. O seu nome significa "mensageiros". "São os enviados de Deus, diz S. Paulo, vêm ajudar os homens a realizarem a sua salvação" (Heb 1, 14). Há os anjos das nações e os anjos de cada um de nós. Deus dizia ao seu povo por Moisés: "Enviarei o meu anjo diante de vós. Conduzir-vos-á, guardar-vos-á e dirigir-vos-á para a terra que vos prometi" (Ex 23). Deus acrescentava: "Honrai-o, escutai a sua voz quando vos fala por Moisés. Se lhe obedecerdes, sereis abençoados e triunfareis sobre os vossos inimigos. Se o desprezardes, sereis castigados" (Ibid.). "Deus ordenou aos seus anjos,para que te guardem em todos os teus caminhos. Eles hão-de elevar-te na palma das mãos, para que não tropeces em nenhuma pedra." (Sl 90). Trata-se aqui dos anjos de cada um de nós. (Leão Dehon, OSP 4, p. 316).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Bendito seja o Senhor,
    que nos protege por meio do seu Anjo" (Judite 13, 20).

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    Santo Anjo da Guarda de Portugal  (10 Junho)

  • S. Barnabé, Apóstolo

    S. Barnabé, Apóstolo


    11 de Junho, 2021

    José, cognominado Barnabé, isto é, filho da consolação, é chamado apóstolo embora não tenha pertencido ao grupo dos Doze. Era membro da comunidade judaica de Chipre, em Jerusalém. Não conheceu pessoalmente Jesus, mas converteu-se logo nos primeiros anos do Cristianismo, e teve um papel importante na expansão da Igreja. Daí ser chamado apóstolo. Foi ele que apresentou Paulo à comunidade de Jerusalém, garantindo-lhe a sua recente conversão. Conduziu Paulo a Antioquia, apresentando-o também lá à comunidade dos fiéis. Acompanhou o Apóstolo na sua primeira viagem missionária, cerca do ano 60. Depois, separou-se de Paulo, regressando a Chipre onde terá sido martirizado no ano 60.

    Lectio

    Primeira leitura: Atos 11, 21b-26; 13, 1-3.

    Naqueles dias, foi grande o número dos que abraçaram a fé e se converteram ao Senhor. 22A notícia chegou aos ouvidos da igreja de Jerusalém, e mandaram Barnabé a Antioquia. 23Assim que ele chegou e viu a graça concedida por Deus, regozijou-se com isso e exortou-os a todos a que se conservassem unidos ao Senhor, de coração firme; 24ele era um homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé. Assim, uma grande multidão aderiu ao Senhor. 25Então, Barnabé foi a Tarso procurar Saulo. 26Encontrou-o e levou-o para Antioquia. Durante um ano inteiro, mantiveram-se juntos nesta igreja e ensinaram muita gente. Foi em Antioquia que, pela primeira vez, os discípulos começaram a ser tratados pelo nome de «cristãos.» 1Havia na igreja, estabelecida em Antioquia, profetas e doutores: Barnabé, Simeão, chamado 'Níger', Lúcio de Cirene, Manaen, companheiro de infância do tetrarca Herodes, e Saulo. 2Estando eles a celebrar o culto em honra do Senhor e a jejuar, disse-lhes o Espírito Santo: «Separai Barnabé e Saulo para o trabalho a que Eu os chamei.» 3Então, depois de terem jejuado e orado, impuseram-lhes as mãos e deixaram-nos partir.

    O nosso texto mostra-nos o papel de Barnabé como elo de união entre a igreja mãe de Jerusalém e a comunidade de Antioquia. Assim, colaborou na evangelização e na edificação da Igreja.
    A sua relação com Paulo também foi importante. Apresentou-o às comunidades de Jerusalém e de Antioquia garantindo a conversão à fé cristã daquele que todos conheciam e temiam como terrível perseguidor. Fê-lo seu companheiro de missão, apesar de Paulo acabar por ultrapassá-lo no intento de inculturar a fé. Ambos foram missionários empreendedores e geniais a quem devem as comunidades de todos os tempos.

    Evangelho: Mateus 10, 7-13

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus Apóstolos: Ide e proclamai que o Reino do Céu está perto. 8Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demónios. Recebestes de graça, dai de graça. 9Não possuais ouro, nem prata, nem cobre, em vossos cintos; 10nem alforge para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem cajado; pois o trabalhador merece o seu sustento. 11Em qualquer cidade ou aldeia onde entrardes, procurai saber se há nela alguém que seja digno, e permanecei em sua casa até partirdes. 12Ao entrardes numa casa, saudai-a. 13Se essa casa for digna, a vossa paz desça sobre ela; se não for digna, volte para vós.

    Jesus percorre cidades e aldeias a anunciar o evangelho do Reino e a curar doentes, e verifica que as multidões andam desorientadas e abandonadas como ovelhas sem pastor. Então, chama Doze dos seus discípulos para estarem com Ele e partilharem a sua missão. Dá-lhes poder sobre os espíritos imundos e para curar os doentes. Segundo Mateus esta missão dirige-se exclusivamente às ovelhas perdidas da casa de Israel: como Jesus, também os seus apóstolos - por agora - devem concentrar os seus esforços num horizonte bem delimitado, enquanto esperam maiores aberturas, depois da Páscoa do Senhor. Os missionários devem proclamar o que Jesus disse e fez, e nada mais; devem exercer o seu ministério em absoluta gratuidade.

    Meditatio

    O discurso missionário de Jesus revela-nos a magnanimidade do seu coração. A pobreza de meios, na pregação do Evangelho, não é um limite mas abertura na confiança e na generosidade. A pobreza faz-nos livres e capazes de dar a todos, por causa do Reino de Deus, gratuitamente o que recebemos: "Recebestes de graça, dai de graça." (v. 8).
    S. Barnabé realizou esta página do Evangelho na sua vida. O livro dos Atos informa-nos que ele, possuindo um campo, o vendeu, entregando aos Apóstolos, o produto da venda. Fez o que o jovem rico não teve coragem de fazer (Mt 19, 21; Mc 10, 21). A confiança em Deus, com que faz este gesto, é acompanhada pela confiança nos outros. Ao chegar a Antioquia, em vez de se preocupar com aqueles "pagãos" recém-convertidos ao Evangelho, Barnabé reage com total confiança: "Assim que ele chegou e viu a graça concedida por Deus, regozijou-se com isso" (v. 23). Não é um apagador de entusiasmos, preocupado com a observância de minúcias. É "um homem de Deus, cheio de Espírito Santo e de fé" (At 2, 24), que "exorta a todos a que se conservem unidos ao Senhor" (cf. v. 23). O mais importante é aderir a Cristo. Deste modo, "uma grande multidão aderiu ao Senhor" (v. 24).
    Outro aspeto que nos revela a amplitude do seu coração é o seguinte: ao dar-se conta da fecundidade daquele campo de apostolado, não o reservou só para si, mas "foi a Tarso procurar Saulo" (At 10, 25). Quando Paulo se tornou mais importante do que ele no apostolado entre os pagãos, pode dizer-se de Barnabé o que dizem os Atos, quando da sua chegada a Antioquia: "regozijou-se com isso" (v. 23).
    Barnabé está completamente à disposição de Cristo. Por isso, o Espírito Santo pode reservá-lo para uma missão mais universal: a evangelização das nações.
    Em Barnabé, vemos resplandecer a confiança e generosidade, baseadas na pobreza do coração. Dizem as nossas Constituições: "A partilha dos bens no amor fraterno permite-nos verificar que, na Igreja e com a Igreja, somos sinal no meio dos nossos irmãos. Esta pobreza segundo o Evangelho convida-nos a libertar-nos da sede de posse e de prazer que sufoca o coração do homem. Estimula-nos a viver na confiança e na gratuidade do amor" (n. 46).

    Oratio

    Senhor, que belo modelo a imitar. S. Barnabé é um discípulo muito amável, bom, piedoso e caridoso para com o próximo. Possui, além disso, as virtudes mais austeras, pois se despojou dos seus bens, e desafiou todas as contradições. A seu exemplo, quero sacudir a minha tibieza, e viver a gratuidade que carateriza os verdadeiros missionários. Educai o meu coração, e fazei-o aproximar do ritmo do vosso Coração. Dai-me um coração manso e humilde como o vosso. Ámen.

    Contemplatio

    S. Barnabé não era do número dos doze apóstolos, mas foi-lhe acrescentado e trabalhou muito com S. Paulo. Levita e cipriota, estudava as santas Letras em Jerusalém sob a direção do Rabino Gamaliel, quando foi testemunha da cura do paralítico na piscina. Uniu-se então imediatamente aos discípulos de Nosso Senhor. Era um homem jovem, amável e bom. Era bom, dizem os Atos, e cheio de fé e ricamente dotado com os dons do Espírito Santo. Os apóstolos chamaram-no Barnabé, o que quer dizer «o Filho da consolação». Depois do Pentecostes, estava em Damasco quando aconteceu o milagre da conversão de S. Paulo. Fez-se o anjo da guarda de S. Paulo, conduziu-o a Jerusalém e apresentou-o aos apóstolos. Trabalharam juntos vários anos, e receberam a missão de pregar a fé aos gentios. Ganharam quase toda a cidade de Antioquia. Barnabé era de uma família abastada. Tinha uma bela propriedade na ilha de Chipre. Vendeu-a e apresentou o valor aos apóstolos. Dava assim o grande exemplo do desapego e da vida religiosa. Havia em Antioquia um grupo de padres, de profetas e de doutores. O Espírito Santo revelou-lhes positivamente a missão de Paulo e de Barnabé para a conversão dos gentios. Enviaram, portanto, estes dois apóstolos para os países do ocidente. Barnabé e Paulo passaram na ilha de Chipre onde fizeram maravilhas e ganharam para a fé o próprio procônsul, Sérgio Paulo. De lá foram para a Ásia Menor e pregaram na Pisídia, em Perga, em Antioquia, em Icónio, em Listra. Foi uma alternativa de sucessos e de perseguições. (L. Dehon, OSP 2, pp. 311-312).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Recebestes de graça, dai de graça". (Mt 10, 8).

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    S. Barnabé, Apóstolo (11 Junho)

    Solenidade do Sagrado Coração de Jesus - Ano B

    Solenidade do Sagrado Coração de Jesus - Ano B


    11 de Junho, 2021

    ANO B
    SOLENIDADE DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

    LEITURA I - Os 11, 1.3-4.8c-9

    De Deus só sabemos falar à maneira humana, e Ele mesmo, quando quis entrar em diálogo connosco, falou-nos em linguagem de homem, que outra não sabemos entender. É nesta linguagem que o profeta nos anuncia, de maneira veemente, o amor de Deus por nós.

    Leitura da Profecia de Oseias
    Eis o que diz o Senhor: «Quando Israel era ainda criança, já Eu o amava; do Egipto chamei o meu filho. Eu ensinava Efraim a andar e trazia-o nos braços; mas não compreenderam que era Eu quem cuidava deles. Atraía-os com laços humanos, com vínculos de amor. Tratava-os como quem pega um menino ao colo, inclinava-Me para lhes dar de comer. O meu coração agita-se dentro de Mim, estremece de compaixão. Não cederei ao ardor da minha ira, nem voltarei a destruir Efraim. Porque Eu sou Deus e não homem, sou o Santo no meio de ti e não venho para destruir».

    SALMO RESPONSORIAL - Is 12, 2-3.4bcd.5-6

    Refrão: Ireis com alegria às fontes da salvação.
    Ou: Bebereis com alegria das fontes da salvação.

    Deus é o meu Salvador,
    tenho confiança e nada temo.
    O Senhor é a minha força e o meu louvor,
    Ele é a minha salvação.

    Tirareis água, com alegria,
    das fontes da salvação.
    Agradecei ao Senhor,
    bendizei o seu nome.

    Anunciai aos povos a grandeza das suas obras,
    proclamai a todos que o seu nome é santo.
    Cantai ao Senhor, porque Ele fez maravilhas,
    anunciai-as em toda a terra.

    Entoai cânticos de alegria e exultai,
    habitantes de Sião:
    porque é grande no meio de vós
    o Santo de Israel.

    LEITURA II - Ef 3, 8-12.14-19

    O amor de Deus conhece-se pela manifestação que d'Ele nos é feita em seu Filho. É por Ele que nos é dado conhecer o desígnio do Pai, o qual não é outro senão o de chamar todos os homens para formarem um só corpo em Cristo Jesus, corpo este de que a Igreja é sinal.

    Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios

    Irmãos: A mim, o último de todos os cristãos, foi concedida a graça de anunciar aos gentios a insondável riqueza de Cristo e de manifestar a todos como se realiza o mistério escondido, desde toda a eternidade, em Deus, criador de todas as coisas. E agora é por meio da Igreja, que se dá a conhecer aos principados e potestades celestes a multiforme sabedoria de Deus, realizada, conforme o seu eterno desígnio, em Jesus Cristo, Nosso Senhor. Assim, é pela fé em Cristo que podemos aproximar-nos de Deus com toda a confiança. Por isso, dobro os joelhos diante do Pai, de quem recebe o nome toda a paternidade nos céus e na terra, para que Se digne, segundo as riquezas da sua glória, armar-vos poderosamente pelo seu Espírito, para que se fortifique em vós o homem interior e Cristo habite pela fé em vossos corações. Assim, profundamente enraizados na caridade, podereis compreender, com todos os cristãos, a largura, o comprimento, a altura e a profundidade do amor de Cristo, que ultrapassa todo o conhecimento, e assim sejais totalmente saciados na plenitude de Deus.

    ALELUIA - Mt 11, 29ab

    Aleluia. Aleluia.
    Tomai o meu jugo sobre vós, diz o Senhor, e aprendei de Mim,
    que sou manso e humilde de coração.

    Ou: 1 Jo 4, 10b

    Deus amou-nos e enviou o seu Filho,
    como vítima de expiação pelos nossos pecados.

    EVANGELHO - Jo 19, 31-37

    A melhor representação do Coração de Jesus é o Senhor crucificado, deixando sair do seu lado, aberto pela lança, o sangue e a água, figura dos sacramentos da Igreja, aí, nesse momento, nascida como Eva nascera do lado de Adão adormecido.
    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
    Por ser a Preparação da Páscoa, e para que os corpos não ficassem na cruz durante o sábado - era um grande dia aquele sábado - os judeus pediram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados. Os soldados vieram e quebraram as pernas ao primeiro, depois ao outro que tinha sido crucificado com ele. Ao chegarem a Jesus, vendo-O já morto, não Lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados trespassou-Lhe o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. Aquele que viu é que dá testemunho e o seu testemunho é verdadeiro. Ele sabe que diz a verdade, para que também vós acrediteis. Assim aconteceu para se cumprir a Escritura, que diz: «Nenhum osso lhe será quebrado». Diz ainda outra passagem da Escritura: «Hão de olhar para Aquele que trespassaram».

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS

    Não sendo possível apresentar em tempo útil comentários à liturgia da Palavra da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, colocamos breves introduções tiradas da página do Secretariado Nacional da Liturgia.
    Sendo igualmente o Dia Mundial de Oração pela Santificação dos Sacerdotes, transcrevemos a mensagem que a Congregação do Clero nos ofereceu para este dia.
    Colocamos também a homilia do Papa Francisco de 2015 a partir da primeira leitura de Oseias e algumas interpelações para promover a cultura do coração iluminada pelo Coração de Jesus.

    1. HOMILIA DO PAPA FRANCISCO A PARTIR DA PRIMEIRA LEITURA DE OSEIAS
    [12 de junho se 2015, no Retiro Mundial dos Sacerdotes]
    Na primeira Leitura penetramos na ternura de Deus: Ele narra ao seu povo quanto o ama, quanto se ocupa dele. Aquilo que Deus diz ao seu povo nesta Leitura tirada do capítulo 11 do profeta Oseias, di-lo a cada um de nós. E será bom pegar neste texto, num momento de solidão, para nos pormos na presença de Deus e ouvir: «Amei-te quando ainda eras uma criança; amei-te na tua infância; salvei-te; tirei-te da terra do Egipto, livrei-te da escravidão», da escravidão do pecado, da escravidão da autodestruição e de todas as formas de escravidão que cada um conhece, que teve e que ainda tem dentro de si. «Salvei-te! Ensinei-te a caminhar». Como é bom ouvir que Deus me ensina a caminhar! O Todo-Poderoso abaixa-se e ensina-me a caminhar. Recordo esta frase do Deuteronómio, quando Moisés diz ao seu povo: «Ouvi, vós - eles têm a cabeça tão dura! - quando vistes um deus tão perto do seu povo, como Deus está próximo de nós?». E a proximidade de Deus é esta ternura: ensinou-me a caminhar! Sem Ele eu não saberia caminhar no Espírito. «Eu segurava-te pela mão. Mas não compreendeste que Eu te guiava; pensavas que te deixaria sozinho». Esta é a história de cada um de nós. «Eu atava-te com vínculos humanos, não com leis punitivas». Com vínculos de amor, laços de amor. O amor liga, mas liga na liberdade; vincula dando-te espaço a fim de que tu respondas com amor. «Eu era para ti como aquele que aproxima uma criança do seu rosto e a beija. Eu inclinava-me e dava-te de comer». Esta é a nossa história, pelo menos é a minha história. Cada um de nós pode ler aqui a sua própria história. «Diz-me, como te posso abandonar agora? Como te posso entregar ao inimigo?». Nos momentos em que temos medo, na hora em que nos sentimos inseguros, Ele diz-nos: «Se Eu fiz tudo isto por ti, como podes pensar que te deixo sozinho, que te possa abandonar?».
    No litoral da Líbia, os vinte e três mártires coptas estavam convictos de que Deus não os teria abandonado. E deixaram-se decapitar, pronunciando o nome de Jesus! Sabiam que, enquanto lhes cortavam a cabeça, Deus não os teria abandonado.
    «Como te posso tratar como inimigo? O meu coração comove-se dentro de mim e inflama-se toda a minha ternura». Inflama-se a ternura de Deus, esta ternura ardente: Ele é o Único capaz de ter uma ternura ardorosa. Não darei vazão à ira pelos pecados existentes, por todas estas incompreensões, porque eles adoram ídolos. Pois Eu sou Deus, sou o Santo no meio de vós. Trata-se de uma declaração de amor de um pai ao seu filho. E a cada um de nós.
    Quantas vezes penso que temos medo da ternura de Deus, e dado que tememos a ternura de Deus, impedimos a sua experiência em nós mesmos. E por isso, muitas vezes somos duros, severos, castigadores... Somos pastores sem ternura!
    O que nos diz Jesus, no capítulo 15 de Lucas? Sobre aquele pastor que se deu conta de que tinha noventa e nove ovelhas e que lhe faltava uma. Deixou-as bem protegidas, fechou-as à chave e foi à procura daquela, que estava presa no meio dos arbustos... E não a espancou, nem a repreendeu: pegou nela ao colo, abraçou-a e curou-a, porque estava ferida. Quanto a vós, fazeis o mesmo com os vossos fiéis, quando vos dais conta de que falta um deles no rebanho? Ou estamos habituados a ser uma Igreja com uma única ovelha na grei, deixando que as outras noventa e nove se percam nos montes? Comove-te toda esta ternura? És um pastor de ovelhas ou tornaste-te um pastor que permanece a «pentear» a única ovelha que não se afastou? Porque só procuras a ti mesmo, esquecendo-te da ternura que te concedeu o teu Pai, como no-lo narra aqui, no capítulo 11 de Oseias. E esqueceste o modo como se concede a ternura. O Coração de Cristo é a ternura de Deus. «Como posso deixar que esmoreças? Como posso abandonar-te? Quando estás sozinho, desnorteado, perdido, vem ter comigo e Eu salvar-te-ei, consolar-te-ei!».
    Hoje, peço-vos que sejais pastores com a ternura de Deus, que deixeis o «chicote» pendurado na sacristia e que sejais pastores com ternura, inclusive para com aqueles que vos criam problemas. É uma graça! É uma graça divina! Não cremos num Deus etéreo, mas num Deus que se fez carne, que tem um Coração e que este Coração nos fala assim: «Vinde a mim, se estiverdes cansados e oprimidos, e Eu aliviar-vos-ei. Mas tratai os mais pequeninos com ternura, com a mesma ternura com a qual Eu os trato!». É isto que nos diz hoje o Coração de Jesus Cristo, e é isto que peço nesta Missa, tanto para vós como para mim mesmo.

    2. MENSAGEM PARA O DIA MUNDIAL DE ORAÇÂO PELA SANTIFICAÇÃO DOS SACERDOTES
    [Congregação para o Clero]
    Caros sacerdotes,
    O Dia Mundial de Oração pela Santificação dos Sacerdotes, celebrado na Solenidade do Coração de Jesus, dá-nos o ensejo de nos colocar na presença do Senhor para renovar a memória do nosso encontro com Ele, dando assim um novo vigor à nossa missão de servir o Povo de Deus. Não devemos, de facto, esquecer que o fascínio da vocação que nos atraiu e o entusiasmo com que escolhemos o caminho da especial consagração ao Senhor, bem como os prodígios a que assistimos na nossa vida presbiteral, têm a sua origem na troca de olhar que se deu entre Deus e cada um de nós.
    Todos nós, de facto, "tivemos na nossa vida algum encontro com Ele" e, cada um de nós pode fazer a sua memória espiritual e voltar à alegria desse momento, "em que senti que Jesus olhava para mim" (Papa Francisco, Homilia em Santa Marta, 24 de abril de 2015).
    Também os primeiros discípulos viveram a alegria da amizade com Jesus, que mudou para sempre a sua vida. Mas, depois do anúncio da Paixão, um véu de obscuridade cobriu o seu coração, escurecendo-lhes o caminho. O ardor do seguimento, o sonho do Reino de Deus inaugurado pelo Mestre e os primeiros frutos da missão vieram então a confrontar-se com uma realidade dura e incompreensível, que faz vacilar a esperança, alimenta as dúvidas e ameaça apagar a alegria do anúncio do Evangelho.
    É o que sempre pode acontecer, também na vida de um sacerdote. A grata memória do encontro inicial, a alegria do seguimento e o zelo do mistério apostólico, talvez vividos ao longo de anos e em situações nem sempre fáceis, podem dar lugar ao cansaço e ao desânimo, abrindo espaço ao deserto interior da aridez e envolvendo a nossa vida sacerdotal na sombra da tristeza.
    Mas, precisamente nesses momentos, o Senhor, que nunca esquece a vida dos seus filhos, convida-nos a subir com Ele ao Monte, como fez com Pedro, Tiago e João, transfigurando-Se diante deles. Levando-os "ao alto" e "apartando-os", Jesus leva-os a empreender a maravilhosa viagem da transformação: do deserto ao Tabor e da escuridão à luz.
    Caros sacerdotes, sentimos cada dia a necessidade de ser transfigurados por um encontro sempre novo com o Senhor que nos chamou. Deixar-se "conduzir para o alto" e permanecer "retirados" com Ele não é uma exigência do ofício, uma prática exterior ou um inútil tirar tempo às tarefas do ministério, mas é a fonte que jorra e corre em nós para impedir que o nosso "eis-me aqui" seque e se torne árido.
    Na contemplação da cena evangélica da Transfiguração do Senhor, podemos, então, colher três pequenos passos, que nos ajudarão a confirmar a nossa adesão ao Senhor e a renovar a nossa vida sacerdotal: subir ao alto, deixar-se transformar, ser luz para o mundo.

    1. Subir ao alto, porque, se ficarmos sempre concentrados no que se tem a fazer, corremos o risco de ficar prisioneiros do presente, de ser absorvidos pelas tarefas quotidianas, de ficar excessivamente concentrados em nós próprios e de, assim, acumular canseiras e frustrações que poderão ser mortíferas. Por outro lado, "subir ao alto" é o remédio para as tentações da "mundanidade espiritual", que, mesmo sob das aparências religiosas, nos afastam de Deus e dos irmãos e nos levam a pôr a segurança nas coisas do mundo. Ao contrário, o que nos faz falta é mergulhar cada dia no amor de Deus, sobretudo através da oração. Subir ao monte faz-nos lembrar que a nossa vida é um constante erguer-se para a luz que vem do alto, uma caminhada para o Tabor da presença de Deus que abre horizontes novos e surpreendentes. É uma realidade que não pretende levar-nos a fugir dos nossos empenhos pastorais e dos desafios quotidianos que nos perseguem, mas que procura lembrar-nos que Jesus é o centro do ministério sacerdotal, e que tudo podemos só n'Aquele que nos dá força (Fil 4, 13). Por isso, "a subida dos discípulos ao monte Tabor leva-nos a refletir sobre a importância de nos desapegarmos das coisas mundanas, a fim de fazer um caminho rumo ao alto e contemplar Jesus. Trata-se de nos pormos à escuta atenta e orante de Cristo, o Filho amado do Pai, procurando momentos de oração que permitem o acolhimento dócil e jubiloso da Palavra de Deus" (Papa Francisco, Angelus, 6 de agosto de 2017).

    2. Deixar-se transformar, porque a vida sacerdotal não é um programa onde tudo já está programado com antecedência ou um cargo burocrático a desempenhar segundo um esquema preestabelecido; ao contrário, é a experiência viva de uma relação quotidiana com o Senhor, que faz com que sejamos sinal do seu amor junto do Povo de Deus. Por isso, "não poderemos viver o ministério com alegria sem viver momentos de oração pessoal, cara a cara com o Senhor, falando, conversando com Ele" (Papa Francisco, Encontro com os párocos de Roma, 15 de fevereiro de 2018). Nesta experiência, somos iluminados pelo Rosto do Senhor e transformados pela sua presença. Também a vida sacerdotal é um "deixar-se transformar" pela graça de Deus, para que o nosso coração se torne misericordioso, inclusivo e compassivo como o de Cristo. Trata-se simplesmente de ser - como recentemente recordou o Santo Padre - "sacerdotes normais, simples, mansos, equilibrados, mas capazes de se deixar regenerar constantemente pelo Espírito" (Papa Francisco, Homilia na Concelebração Eucarística com os Missionários da Misericórdia, 10 de abril de 2018). Uma tal regeneração faz-se, antes de mais, através da oração, que muda o coração e transforma a vida: cada um de nós "torna-se" Aquele que reza. É bom recordar, neste Dia Mundial de Oração pela Santificação dos Sacerdotes, que "a santidade é feita de abertura habitual à transcendência, que se expressa na oração e na adoração. O santo é uma pessoa com espírito orante, que tem necessidade de comunicar com Deus" (Papa Francisco, Gaudete et exsultate, n. 147). Subindo ao Monte, seremos iluminados pela luz de Cristo e poderemos descer à planície e levar a todos a alegria do Evangelho.

    3. Ser luz para o mundo, porque a experiência do encontro com o Senhor põe-nos na estrada do serviço aos irmãos; a sua Palavra não deixa que nos fechemos no privado da devoção pessoal e no perímetro do templo; e, sobretudo, a vida sacerdotal é um chamamento missionário, que exige a coragem e o entusiasmo de sair de nós próprios para anunciar ao mundo inteiro o que ouvimos, vimos e tocámos na nossa experiência pessoal (cf. 1 Jo 1, 1-3). Dar a conhecer aos outros a ternura e o amor de Jesus, para que cada um possa usufruir da sua presença que livra do mal e transforma a existência, é a primeira tarefa da Igreja e, portanto, o primeiro grande empenho apostólico dos presbíteros. Se há um desejo que temos de cultivar é o de "ser sacerdotes capazes de 'elevar' o sinal da salvação no 'deserto' do mundo, isto é, a Cruz de Cristo, como fonte de conversão e de renovação para toda a humanidade e para o próprio mundo" (Papa Francisco, Homilia na Concelebração Eucarística com os Missionários da Misericórdia, 10 de abril de 2018). O fascínio do encontro com o Senhor deve encarnar-se num compromisso de vida ao serviço do Povo de Deus, que, caminhando muitas vezes no vale obscuro das canseiras, do sofrimento e do pecado, precisa de Pastores luminosos e radiantes como Moisés. De facto, "no final da admirável experiência da Transfiguração, os discípulos desceram do monte (cf. v. 9). É o percurso que podemos realizar também nós. A redescoberta cada vez mais viva de Jesus não constitui um fim em si, mas induz-nos a 'descer do monte'... Transformados pela presença de Cristo e pelo fervor da sua Palavra, seremos sinal concreto do amor vivificador de Deus por todos os nossos irmãos, sobretudo por quem sofre, por quantos se encontram na solidão e no abandono, pelos doentes e pela multidão de homens e mulheres que, em diversas partes do mundo, são humilhados pela injustiça, pela prepotência e pela violência" (Papa Francisco, Angelus, 6 de agosto de 2017).
    Caros sacerdotes, que a beleza deste dia, consagrado ao Coração de Jesus, possa fazer crescer em nós o desejo da santidade. A Igreja e o mundo precisam de sacerdotes santos! O Papa Francisco, na nova Exortação Apostólica sobre a santidade, Gaudete et exsultate, aludiu aos sacerdotes apaixonados pela comunicação e anúncio do Evangelho, afirmando que "a Igreja não precisa de muitos burocratas e funcionários, mas de missionários apaixonados, devorados pelo entusiasmo de comunicar a verdadeira vida. Os santos surpreendem, desinstalam, porque a sua vida nos chama a sair da mediocridade tranquila e anestesiadora" (Papa Francisco, Gaudete et exsultate, n. 138). Haverá que realizar, sobretudo interiormente, este caminho de transfiguração: subir ao Monte, deixar-se transformar pelo Senhor, para, em seguida, tornar-se luz para o mundo e para as pessoas que nos são confiadas. Que Maria Santíssima, Mulher luminosa e Mãe dos Sacerdotes, vos acompanhe e guarde sempre.

    3. PROMOVER A CULTURA DO CORAÇÃO [Manuel Barbosa]
    Promover uma autêntica cultura do coração, sempre a partir do amor de Deus e na contemplação do Coração de Cristo e de Maria.

    1. Ser e viver segundo o Coração de Jesus pelo Coração de Maria, como missão de quem adere a Jesus como seus discípulos missionários.

    2. Viver em cordialidade, feita de acolhimento e hospitalidade, proximidade e acompanhamento, como resposta às necessidades e expectativas do mundo, vendo a realidade existente com olhos novos da fé, afinal o olhar do coração.

    3. Agir como pessoas com coração novo em Cristo, ter amor extraordinário pela Palavra, pela Eucaristia, pela Reconciliação, em estilo de fecundas vidas plenas de misericórdia.

    4. Ter paixão por Cristo e paixão pela Humanidade, assumindo atitudes de espírito comprometido em abertura amorosa, como profetas do coração, da graça e da misericórdia.

    5. Acolher os perdidos e os excluídos, os ignorados e os afastados, os sozinhos e os abandonados, os descartados e marginalizados, sempre inspirados pelo hospitaleiro Coração do Bom Pastor.

    6. Contemplar os rostos próximos com olhar gratuito de coração, com humilde, sincera e sentida abertura ao outro e ao mistério da sua presença, cultivando uma cultura de vida e de amor, toda contrária à violência e à guerra, ao conflito e à intolerância, à indiferença e à cultura de morte, ao aborto e à eutanásia; uma cultura do coração que contraria tudo o que atenta à vida no seu todo.

    7. Semear e construir misericórdia, convivendo com o mundo, na constante procura do fraterno diálogo, tornando-se instrumentos de perdão e de reconciliação, fomentando a harmonia e a paz.

    8. Globalizar o amor como alma das famílias, das comunidades, da sociedade, abrindo o coração a todos sem aceção nem exclusão, fazendo do Coração de Cristo o centro a que importa sempre regressar.

    9. Abraçar a sério a Cruz de Cristo na Luz da Páscoa, peregrinando em testemunho de serviço e amor, com ternura, mansidão e bondade, sempre na misericórdia de Deus.

    10. Ser anunciador do coração, do Coração de Cristo que transforma o coração do homem sob a ação do seu Espírito.
    Num mundo sem coração, a marca do Coração de Cristo, plena expressão do Amor de Deus derramado em nós no seu Espírito, não será a mais apropriada?
    Como tudo seria diferente se houvesse na Igreja e no mundo uma autêntica cultura do coração, a sugerir no húmus do nosso coração atitudes de vida consoantes à Vida no Coração de Deus!

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Ricardo Freire, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
    Tel. 218540900 - Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.org

  • Imaculado Coração da Virgem Santa Maria

    Imaculado Coração da Virgem Santa Maria


    12 de Junho, 2021

    Sábado a seguir ao segundo Domingo depois do Pentecostes

    A devoção ao Imaculado Coração de Maria é conhecida desde o século XVII, juntamente com a devoção ao Coração de Jesus. Depois das Aparições de Nossa Senhora em Fátima, teve grande incremento. Os dois Corações, de Jesus e de Maria, são inseparáveis: onde está Um também está o Outro. Jesus é o Redentor da Humanidade e Maria, a Mãe Corredentora. No dia 13 de Outubro de 1942, em plena Segunda Guerra mundial, o papa Pio XII, correspondendo ao desejo da Senhora manifestado em Fátima, consagrou o mundo ao seu Imaculado Coração.

    Lectio

    Primeira leitura: Isaías 61, 9-11

    A descendência do povo de Deus será célebre entre as nações, e a sua posteridade entre os povos. Todos os que os virem hão-de reconhecê-los como a linhagem abençoada pelo Senhor. 10Rejubilo de alegria no Senhor, e o meu espírito exulta no meu Deus, porque me revestiu com as vestes da salvação e me envolveu num manto de triunfo. Como um noivo que cinge a fronte com o diadema, e como uma noiva que se adorna com as suas jóias. 11Porque, assim como a terra faz nascer as plantas, e o jardim faz brotar as sementes, assim o Senhor Deus faz germinar a justiça e o louvor diante de todas as nações.

    O nosso texto é a terceira parte de Is. 61. Reflete a mesma situação histórica: o cativeiro em Babilónia e a libertação. Mas o profeta vê mais longe. O dia da vingança e o ano da misericórdia não trazem a felicidade definitiva, mas apontam para os tempos escatológicos em que os sinais de tristeza e de aflição serão transformados em unguento e coroa de felicidade e glória. Lucas conta-nos que Jesus aplicou a si mesmo as palavras do profeta. Cristo inaugurou a era messiânica. A presença do Espírito sobre ele, no momento do Batismo, foi como que a sua consagração para a obra salvífica a que estava destinado. A Igreja prolonga na história a função messiânica de Jesus. A Mãe de Jesus teve e tem uma missão muito especial nessa função. E aquilo que Deus quer realizar em todos já aconteceu em Maria, Mãe do Senhor e sua colaboradora íntima. A obra do Messias já se completou nela, elevada ao Céu em corpo e alma, e sentada ao lado de Cristo, coroada de glória.

    Evangelho: Lucas 2, 41-51

    Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, pela festa da Páscoa. 42Quando Ele chegou aos doze anos, subiram até lá, segundo o costume da festa. 43Terminados esses dias, regressaram a casa e o menino ficou em Jerusalém, sem que os pais o soubessem. 44Pensando que Ele se encontrava na caravana, fizeram um dia de viagem e começaram a procurá-lo entre os parentes e conhecidos. 45Não o tendo encontrado, voltaram a Jerusalém, à sua procura. 46Três dias depois, encontraram-no no templo, sentado entre os doutores, a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas. 47Todos quantos o ouviam, estavam estupefactos com a sua inteligência e as suas respostas. 48Ao vê-lo, ficaram assombrados e sua mãe disse-lhe: «Filho, porque nos fizeste isto? Olha que teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura!» 49Ele respondeu-lhes: «Porque me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?» 50Mas eles não compreenderam as palavras que lhes disse. 51Depois desceu com eles, voltou para Nazaré e era-lhes submisso. Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração.

    Jesus, que vem de Deus, deve ocupar-se das coisas do seu Pai. A sua sabedoria não lhe vem dos mestres da terra, mas de Deus. É por isso que, com 12 anos apenas, pode dialogar com os doutores do seu povo, estando na casa de Deus, seu Pai verdadeiro. Os seus pais, José e Maria, procuram-no angustiados. Jesus, porém, transcende-os; deve ocupar-se das coisas do seu Pai e eles não entendem. A presença de Deus em Jesus ultrapassa todas as hipóteses de compreensão dos homens. Impunha-se uma cisão: Maria e José não são donos de Jesus. Ele tem um Pai que O chama a realizar um projeto que eles não podiam, por ora, compreender. Nascendo numa família humana, Jesus provém da profundidade do mistério de Deus e, por isso, transcende-a. Daí a dificuldade dos pais em compreender e conviver com Jesus, à medida que vai crescendo, como sugere Lucas (2, 35).

    Meditatio

    O Coração de Maria é o refúgio dos pecadores. Deus quis muito particularmente fazer de Maria a esperança e a salvação dos pecadores. Os Padres da Igreja não se calam sobre este privilégio de Maria. A Idade Média, muito ávida de símbolos, comparou Maria ao astro da noite, porque ilumina o pecador, que caminha na noite dos seus pecados. «O sol, criado para brilhar durante o dia, é, diz o cardeal Hugo, a figura de Jesus, cuja luz alegra os justos que vivem no grande dia da graça divina; a lua, criada para luzir durante a noite, é a figura de Maria, cuja luz ilumina os pecadores, mergulhados na noite do pecado». - «Se alguém, diz Inocêncio III, se encontra miseravelmente empenhado na noite do pecado, levante os olhos para o astro da noite, que invoque Maria!». «A divina misericórdia, diz João Eudes, reina tão perfeitamente no Coração de Maria, que lhe faz levar o nome de Rainha e de Mãe de misericórdia. Ganhou de tal modo o coração da divina misericórdia, que lhe deu as chaves de todos os seus tesouros, e tornou-a absolutamente senhora». Recusará ela a sua ajuda aos pecadores, ela que durante a sua vida ofereceu o seu divino Filho por eles, no Templo e no Calvário?
    O Coração de Maria é saúde dos enfermos. Maria é só bondade e, assim pode esperar-se tudo da generosidade do seu Coração, a cura dos corpos como a das almas. Muitas vezes os seus benefícios revestem o brilho de um milagre, como acontece em Lourdes e em tantos outros santuários... Toda a história testemunha a misericórdia de Maria. Invocam-na na doença, no sofrimento, na provação, e os ex-votos dos nossos santuários dizem quando ela é prestável. "Maria, diz S. João Crisóstomo, é um oceano de misericórdia".
    O Coração de Maria é a esperança de todos os aflitos. A divina Providência tinha reservado este papel a Maria. Foi figurada por Ester e Judite que salvaram o povo de Deus. Por toda a parte os fiéis, confiantes e reconhecidos, ergueram-lhe santuários sob os títulos graciosos de Nossa Senhora do Bom Socorro, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Maria Auxiliadora, Maria Consoladora dos aflitos. Preludiou na sua vida mortal este ministério de misericórdia, ao correr para assistir a sua prima Isabel, ao ajudar os esposos de Caná, ao assumir o encargo de prestar a S. João os seus cuidados maternais, depois da morte do Salvador. Em Caná, é a protetora das famílias. Adotando S. João, assume a tutela e o cuidado do sacerdócio e da Igreja, representados por S. João ao pé da cruz... A Igreja canta em sua honra este hino de confiança: «Salve, Rainha, Mãe de misericórdia, vida e doçura, esperança nossa!» (Leão Dehon, OSP 3, 670s.).

    Oratio

    Ó minha celeste Rainha, ó minha divina Mãe, vivei e reinai no meu coração, para aí fazerdes viver e reinar o Coração de Jesus. Aniquilai no meu coração tudo o que pode desagradar ao vosso divino Filho. Estabelecei nele o soberano império do seu Coração e do vosso, para que estes dois corações, tão estreitamente unidos, nele reinem soberana e eternamente para o puro amor de Deus e para a sua maior glória. Ámen. (Leão Dehon, OSP 3, p. 510).

    Contemplatio

    A obra da transformação do nosso coração no de Jesus e de Maria ultrapassa incomparavelmente todas as forças humanas. Nós devemos, para o conseguirmos, implorar com humildade e fervor o socorro da graça divina. Entreguemo-nos ao poder do Pai e à graça do Espírito Santo, diz-nos o S. João Eudes, e peçamos ao Coração adorável de Jesus para se unir ao nosso. E comenta neste espírito a conhecida oração: «Ó Jesus, que viveis em Maria». - «Ó Coração sagrado, viveis e reinais perfeitamente no Coração da vossa divina Mãe, sois tudo e tudo operais nela; sois a sua vida, o seu coração, o seu espírito, o seu tesouro...Mas, ó amabilíssimo Coração, tendes também um desejo imenso de viver e de reinar no coração dos vossos filhos, e de lhes fazer viver convosco uma vida santa e celeste. Perdoai-me todos os obstáculos que pus até agora ao cumprimento desse desejo, pelos meus pecados e pelas minhas infidelidades sem número... De novo me dou e me entrego todo a vós, e não quero mais respirar senão para trabalhar sem cessar para fazer com que vivais e reinais na minha alma e em todas as almas que vos aprouver confiar-me. Quero aplicar nisso todos os meus pensamentos, todas as minhas palavras e todas as minhas obras». (Leão Dehon, OSP 3, p. 522s).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Viva o Coração de Jesus,
    pelo Coração de Maria!" (Exclamação usada entre os Dehonianos).

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    Imaculado Coração da Virgem Santa Maria (Sábado a seguir ao segundo Domingo depois do Pentecostes)

  • S. António de Lisboa, Presbítero e Doutor da Igreja

    S. António de Lisboa, Presbítero e Doutor da Igreja


    13 de Junho, 2021

    S. António nasceu em Lisboa, em 1195. No batismo, recebeu o nome de Fernando. Em 1210 entrou para os Cónegos Regulares de S. Agostinho, no mosteiro de S. Vicente de Fora, em Lisboa. Dois anos depois, desejando uma vida mais recolhida, transferiu-se para o Mosteiro de S. Cruz, em Coimbra. Ordenado sacerdote, em 1220, ao ver os restos mortais dos primeiros mártires franciscanos, mortos em Marrocos, sentiu um novo apelo vocacional e mudou-se para a Ordem dos Frades Menores, tomando o nome de António. Em 1221 participou no "Capítulo das Esteiras", junto à Porciúncula, e viu Francisco de Assis. Depois de alguns anos no escondimento e na oração, começou a pregar com grande sucesso e frutos. Converteu hereges em Itália e em França. Morreu aos 33 anos de idade, perto de Pádua, onde foi sepultado. No dia do Pentecostes de 1232, um ano depois da sua morte, foi canonizado pelo Papa Gregório IX.

    Lectio

    Primeira leitura: Sir 39, 8-14 (gr. 6-11)

    Aquele que medita na lei do Altíssimo, for a vontade do Soberano Senhor, ele será repleto do espírito de inteligência; então, ele derramará, como chuva, as palavras da sabedoria; e louvará o Senhor, na sua oração. 7Possuirá a rectidão do julgamento e da ciência e ele meditará nos mistérios de Deus. 8Ensinará ele próprio a doutrina que aprendeu e porá a sua glória na Lei da Aliança do Senhor. 9Muitos louvarão a sua sabedoria, que jamais ficará no esquecimento. A sua recordação não desaparecerá e o seu nome viverá de geração em geração. 10As nações proclamarão a sua sabedoria, a assembleia publicará o seu louvor.

    Segundo o Ben Sirá, o sábio adquire a sabedoria não apenas pelo estudo, pela tradição e pela experiência pessoal, mas sobretudo pelas súplicas e pela oração. Se o Altíssimo o quiser, o sábio ver-se-á gratuita e copiosamente cheio do dom da inteligência, de maneira que ele mesmo se possa converter em fonte de sabedoria para os outros. Isto levá-lo-á a dar graças a Deus. Graças à sabedoria recebida de Deus, o sábio saberá conduzir-se retamente e poderá aprofundar, na oração, os mistérios divinos. Ver-se-á capacitado para instruir os outros e a sua glória será a aliança do Senhor. Como recompensa do seu ministério, o sábio receberá o elogio dos seus contemporâneos, e das gerações sucessivas, incluindo os pagãos: nunca esquecerão a sua inteligência e a sua fama transmitir-se-á de geração em geração.

    Evangelho: Mateus 5, 13-19
    Naquele tempo, disse Jesusaos seus discípulos: "Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se corromper, com que se há-de salgar? Não serve para mais nada, senão para ser lançado fora e ser pisado pelos homens. 14Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; 15nem se acende a candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas sim em cima do candelabro, e assim alumia a todos os que estão em casa. 16Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu.» 17«Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas. Não vim revogá-los, mas levá-los à perfeição. 18Porque em verdade vos digo: Até que passem o céu e a terra, não passará um só jota ou um só ápice da Lei, sem que tudo se cumpra. 19Portanto, se alguém violar um destes preceitos mais pequenos, e ensinar assim aos homens, será o menor no Reino do Céu. Mas aquele que os praticar e ensinar, esse será grande no Reino do Céu.

    Dois provérbios, em forma de parábolas definem, no nosso texto, a missão dos discípulos de Cristo: sal e luz. Temperamos os alimentos com o sal: os discípulos hão de ser, no mundo, como o sal que dá sabor, que preserva da corrução. No mundo judaico, a metáfora do sal significava também a sabedoria. Os discípulos possuem a sabedoria do Evangelho. Se, quimicamente falando, o sal não pode perder o sabor, à força de se usado, pode deixar de salgar. Se a Palavra de Deus perdeu a sua força no antigo Israel, tem de conservá-la no novo Israel, a Igreja.
    A metáfora da luz também se refere à Palavra. Jesus, que é a luz, tem a Palavra (Jo 8, 12.31s.; 14, 9-10). O mesmo se pode dizer dos discípulos de Cristo: são a luz do mundo (Fl 2, 15); são a cidade edificada sobre o monte (v. 14); têm a luz, a palavra de Deus (Mc4, 21; Lc 8, 16; 11, 33).

    Meditatio

    Ao fazer memória dos mártires e dos outros santos, a Igreja proclama o mistério pascal realizado naqueles homens e mulheres que sofreram com Cristo e com Ele foram glorificados, propondo aos fiéis os seus exemplos, que a todos atraem ao Pai por Cristo, e implora, pelos seus méritos, os benefícios de Deus (cf CIC, 1173).
    S. António de Lisboa, que hoje celebramos, foi dotado de extraordinária preparação intelectual e de grandes capacidades de comunicação. Com a sua sabedoria evangélica provocou admiração, confundiu os hereges, converteu os pecadores. Com as suas virtudes e milagres, fascinou o povo. Pregador itinerante, S. António incarnou o Evangelho de Cristo, levando de cidade em cidade a sua paz, no estilo de uma vida obediente à vontade de Deus, disponível para os incómodos e canseiras da missão, e compassivo para todas as realidades humanas provados pelo sofrimento em qualquer das suas muitas formas. Atribuía tudo ao poder da oração. O testemunho de vida de S. António reflete a envolvente beleza de quem vive permanentemente em íntima comunhão com Deus, unicamente impelido pelo desejo de cumprir a sua vontade e de manifestar o seu imenso amor por todas as criaturas. S. António, humilde e pobre, e, por isso mesmo, digno filho do Pobrezinho de Assis, deixa transparecer os grandes prodígios de Deus: os milagres físicos e espirituais que o Altíssimo realiza naqueles que confiam n´Ele, apoiados numa fé quotidiana, autêntica e inabalável.
    A luz e a criatividade da Palavra escutada, meditada e rezada, produzem em S. António os frutos de uma caridade incansável, paciente, sem preconceitos e tenaz diante das dificuldades. O que mais anseia é anunciar a ternura de Deus, a sua bondade e a infinita misericórdia com que nos revela o seu coração de Pai. S. António alerta-nos para o essencial, para a amizade com Deus, fonte de todo o bem, da paz e da alegria, que nada nem ninguém nos pode jamais tirar. Meditando na sua vida, descobrimos as maravilhas da fidelidade de Deus, que segue com amor o caminho de quem procura o seu rosto, tornando-o participante dos seus dons e colaborador do seu projeto de vida sobre a humanidade.

    Oratio

    Grande santo, éreis pelo vosso ardente amor a Nosso Senhor um santo do Sagrado Coração, ajudai-nos a fazer reinar o Coração de Jesus nos nossos corações e na sociedade. (Leão Dehon, OSP 3, p. 649).

    Contemplatio

    Santo António foi um apóstolo do Coração de Jesus. A Providência não quis que chegasse a Marrocos, foi lançado sobre as costas da Sicília. Vai aquecer ainda o seu coração junto do de S. Francisco de Assis. O seu talento revela-se, fazem-no professor, depois missionário. Ganha almas inumeráveis ao amor de Nosso Senhor. Foi, no séc. XIII, diz o P. Marie-Antoine, o doutor e o escritor do Coração de Jesus. Conduz sempre os seus ouvintes ao pensamento do amor, como objetivo final da vida cristã, e é no Coração do Salvador que mostra a fonte e o trono deste amor. Diz: «Sim, a ferida do lado de Jesus é um sol que ilumina todo o homem. Pela abertura do Sagrado Coração foi aberta a porta do paraíso donde nos vem toda a luz. É lá que está o asilo assegurado da arca da paz e da salvação. O Salvador abriu o seu lado e o seu Coração à pomba, isto é, à alma religiosa, a fim de que pudesse encontrar um lugar de refúgio. Sede como a pomba que estabelece o seu ninho no mais profundo da pedra. Se Jesus Cristo é a pedra, a cavidade da pedra é a chaga do lado de Jesus, que leva ao seu Coração. Havia na antiga lei dois altares, o altar de bronze ou dos holocaustos, que estava fora do santuário, e o altar de ouro do santuário mesmo. O altar de bronze da lei nova é o corpo sangrento de Cristo imolado em presença do povo; o altar de ouro é o seu Coração ardente de amor, e lá está o incenso que sobe para o céu». Os seus sucessos eram maravilhosos. Se queremos ganhar almas para Nosso Senhor, é preciso primeiro excitar-nos ao seu amor. O fervor do nosso coração comunicar-se-á facilmente àqueles que estiverem em relação connosco. (Leão Dehon, OSP 3, p. 649s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Vós sois o sal da terra. Vós sois a luz do mundo" (Mt 5, 13-14).

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    S. António de Lisboa, Presbítero e Doutor da Igreja (13 Junho)

  • S. João Baptista

    S. João Baptista

    24 de Junho, 2021

    João Batista, além da Virgem Maria, é o único santo de quem a Liturgia celebra o nascimento para a terra. João, como "Precursor" de Jesus teve, de fato, um papel único na História da Salvação. Filho de Zacarias e de Isabel, a sua vida não desabrochou por iniciativa humana, mas por dom de Deus a dois pais de idade avançada e, por isso, já sem possibilidade de gerar filhos. Situado na charneira entre o Antigo e o Novo Testamento, como Precursor, João é considerado profeta de um e outro Testamento. O paralelismo estabelecido por Lucas entre a infância de Jesus e de João Batista levou a Liturgia a celebrar o nascimento de ambos: o de Jesus no solstício de Inverno e o de João no solstício de Verão.

    Lectio

    Primeira leitura: Isaías 49, 1-6

    Povos de Além-Mar, escutai-me: povos de longe, prestai atenção. Quando ainda estava no ventre materno, o Senhor chamou-me, quando ainda estava no seio da minha mãe, pronunciou o meu nome.2Fez da minha palavra uma espada afiada, escondeu-me na concha da sua mão. Fez da minha mensagem uma seta penetrante, guardou-me na sua aljava.3Disse-me: «Israel, tu és o meu servo, em ti serei glorificado. 4Eu dizia a mim mesmo: "Em vão me cansei, em vento e em nada gastei as minhas forças." Porém, o meu direito está nas mãos do Senhor, e no meu Deus a minha recompensa. 5E agora o Senhor declara-me que me formou desde o ventre materno, para ser o seu servo, para lhe reconduzir Jacob, e para lhe congregar Israel. Assim me honrou o Senhor. O meu Deus tornou-se a minha força. 6Disse-me: «Não basta que sejas meu servo, só para restaurares as tribos de Jacob, e reunires os sobreviventes de Israel. Vou fazer de ti luz das nações, para que a minha salvação chegue até aos confins da terra.

    Como o Servo de Javé, João Baptista foi chamado a uma especial missão, desde que foi concebido o seio de sua mãe. Como Ele, recebeu um nome, um chamamento e uma revelação. Como Ele, teve que enfrentar a dureza e o sofrimento no desempenho da missão. Por isso, o nosso texto, retirado dos "Cânticos do Servo de Javé" adequa-se a João Baptista. O verdadeiro profeta realiza a missão, confiando unicamente n´Aquele que o escolheu, chamou e enviou. E só d´Ele espera recompensa.

    Segunda leitura: Atos 13, 22-26

    Naqueles dias, Paulo falou deste modo: Deus concedeu aos filhos de Israel David como rei, e a seu respeito deu este testemunho: 'Encontrei David, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará todas as minhas vontades.' 23Da sua descendência, segundo a sua promessa, Deus proporcionou a Israel um Salvador, que é Jesus. 24João preparou a sua vinda, anunciando um baptismo de penitência a todo o povo de Israel. 25Quase a terminar a sua carreira, João dizia: 'Eu não sou quem julgais; mas vem, depois de mim, alguém cujas sandálias não sou digno de desatar.' 26Irmãos, filhos da estirpe de Abraão, e os que de entre vós são tementes a Deus, a nós é que foi dirigida a palavra de salvação.

    O discurso de Paulo em Antioquia, com explícita referência a João Batista, mostra a importância que o profeta tinha na primitiva comunidade cristã. Paulo refere-se também a David. David e João foram dois profetas que, de modo diferente, e em tempos distintos, prepararam a vinda do Messias: David recebeu a promessa do Messias; João preparou a vinda do mesmo, pregando um batismo de penitência.
    Impressiona, nesta página, a clareza com que João identifica Jesus, e se define a si mesmo. É este o primeiro dever do verdadeiro profeta.

    Evangelho: Lucas 1, 57-66.80

    Naquele tempo, chegou o dia em que Isabel devia dar à luz e teve um filho. 58Os seus vizinhos e parentes, sabendo que o Senhor manifestara nela a sua misericórdia, rejubilaram com ela.59Ao oitavo dia, foram circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome do pai, Zacarias. 60Mas, tomando a palavra, a mãe disse: «Não; há-de chamar-se João.» 61Disseram-lhe: «Não há ninguém na tua família que tenha esse nome.» 62Então, por sinais, perguntaram ao pai como queria que ele se chamasse. 63Pedindo uma placa, o pai escreveu: «O seu nome é João.»E todos se admiraram. 64Imediatamente a sua boca abriu-se, a língua desprendeu-se-lhe e começou a falar, bendizendo a Deus. 65O temor apoderou-se de todos os seus vizinhos, e por toda a montanha da Judeia se divulgaram aqueles factos. 66Quantos os ouviam retinham-nos na memória e diziam para si próprios: «Quem virá a ser este menino?» Na verdade, a mão do Senhor estava com ele.80Entretanto, o menino crescia, o seu espírito robustecia-se, e vivia em lugares desertos, até ao dia da sua apresentação a Israel.

    O paralelismo estabelecido por Lucas, ao narrar a infância do Batista e a de Jesus é rico sob os pontos de vista literário e teológico. O nascimento de João preanuncia o de Jesus. João, ainda no ventre materno, anuncia um outro Menino. O nome de João é prelúdio do de Jesus. O extraordinário evento da maternidade de Isabel prepara outro, o da maternidade de Maria. A missão de João faz-nos pregustar a de Jesus. Trata-se de uma única missão, em dois tempos; dois tempos de uma única história que se desenrola em ritmos alternos mas sincronizados. Não devemos contrapor a missão do Batista e a de Jesus.

    Meditatio

    A festa do nascimento de João Batista leva-nos a pensar no amor preveniente de Deus e na importância das suas preparações para o acolhermos devidamente e com fruto. Deus prepara o nascimento de João: um anjo anuncia a Zacarias que a sua mulher, idosa e estéril, vai ter um filho, cujo nascimento alegrará a muitos; inesperadamente, o nome da criança não é Zacarias, mas João, cujo significado é: "Deus faz graça"; João é enviado a preparar os caminhos do Senhor, o "ano de graça" do Senhor, a vinda de Jesus. Como o agricultor prepara o terreno antes de lhe lançar a semente, assim Deus prepara os tempos e os corações para receberem os seus dons. É por isso que havemos de viver vigilantes, de estar atentos à ação de Deus em nós e nos outros, para a sabermos discernir no meio dos acontecimentos humanos e nas mais variadas situações da nossa vida. João ajuda-nos a estarmos atentos a Jesus e ao que Ele quer fazer em nós e no nosso mundo. João acreditou e indicou Jesus aos que o seguiam: "depois de mim, virá alguém maior do que eu... Eis o Cordeiro de Deus!"
    Por todas estas razões, a festa de hoje é um dia de alegria para a Igreja. E, todavia, João foi um profeta austero, que pregou a penitência com uma linguagem pouco amável: "Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da cólera que está para vir? Produzi, pois, frutos dignos de conversão e não vos iludais a vós mesmos, dizendo: 'Temos por pai a Abraão!'" (Mt 3, 7-8). O profeta exortava a uma penitência que se torna alegria, alegria da purificação, alegria da vinda do Senhor.
    A missão de João Batista é, de certo modo, a missão de todo o crente: preparar a vinda do Senhor, o que é mais do que simplesmente anunciar. É preciso por ao serviço de Jesus não só as nossas palavras, mas também a nossa vida toda.

    Oratio

    S. João Batista, glorioso Precursor de Jesus, verdadeiro amigo do Esposo, ensinai-me o espírito de penitência e o amor da pureza para alcançar uma união, cada vez maior, com Jesus, o Salvador, e com Maria, sua Mãe. Ensinai-me a viver essa união em todos os momentos da minha vida, incluindo o meu apostolado em que procuro preparar, como vós, os caminhos do Senhor. Que a minha ternura por Jesus se torne, cada vez mais, semelhante à vossa. Ámen.

    Contemplatio

    João ainda não nascera quando Jesus e Maria vão visitá-lo à Judeia. Estremece no seio de sua mãe. É abençoado e santificado pela presença de Jesus e pela visita de Maria. É um amigo para Jesus, di-lo ele mesmo: «O amigo do esposo, diz, alegra-se quando escuta a voz do seu amigo, é por isso que hoje estou alegre» (Jo 3, 29). Quando Jesus menino volta do Egipto, visita o seu pequeno amigo passando pela Judeia. Cada ano, nos dias de Páscoa, estão juntos em Jerusalém. Reencontram-se no Jordão. S. João conhece a missão do seu amigo e parente, proclama a sua missão: «Eis, diz, o Cordeiro de Deus, eis aquele que tira os pecados do mundo». Pregam um ao outro, mas S. João envia os seus discípulos a Cristo. Recebe as suas graças de Jesus e conduz as almas a Jesus. Tal deve ser a nossa união com Jesus e Maria. Maria dar-nos-á Jesus. Sede amigos para Jesus pela vossa assiduidade, pelo vosso afeto, pela vossa confiança. Conduzamos-lhe as almas, não procuremos em nada reter a sua afeição por nós, admiremos nisto o desapego de S. João. Ide a Jesus, diz a todos, nada sou senão uma voz que prega no deserto, não sou digno de desatar os seus sapatos. (Leão Dehon, OSP 3, p. 689).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Profeta do Altíssimo,
    irás à sua frente a preparar os seus caminhos" (Lc 1, 76).

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    S. João Baptista (24 Junho)

  • S. Pedro e S. Paulo, Apóstolos

    S. Pedro e S. Paulo, Apóstolos


    29 de Junho, 2021

    Desde o século III que a Liturgia une na mesma celebração as duas colunas da Igreja, Pedro e Paulo. Mestres inseparáveis de fé e de inspiração cristã pela sua autoridade, simbolizam todo o Colégio Apostólico. Pedro era natural de Betsaida, onde exercia a profissão de pescador. Jesus chamou-o e confiou-lhe a missão de guiar e confirmar os irmãos na fé. É uma das primeiras testemunhas de Jesus ressuscitado e, como arauto do Evangelho, toma consciência da necessidade de abrir a Igreja aos gentios (At 10-11). Paulo de Tarso, perseguidor acérrimo da Igreja, converte-se no caminho de Damasco. A partir daí, a sua vivacidade e brilhantismo são postos ao serviço do Evangelho. Fortemente apaixonado por Cristo, percorre o Mediterrâneo para anunciar o Evangelho da salvação, especialmente aos pagãos. Depois de terem sofrido toda a espécie de perseguições, ambos são martirizados em Roma. Regando com o seu sangue o mesmo terreno, "plantaram" a Igreja de Deus.

    Lectio

    Primeira leitura: Atos, 12, 1-11

    Naqueles dias, o rei Herodes maltratou alguns membros da Igreja. 2Mandou matar à espada Tiago, irmão de João, 3e, vendo que tal procedimento agradara aos judeus, mandou também prender Pedro. Decorriam os dias dos Ázimos. 4Depois de o mandar prender, meteu-o na prisão, entregando-o à guarda de quatro piquetes, de quatro soldados cada um, na intenção de o fazer comparecer perante o povo, a seguir à Páscoa. 5Enquanto Pedro estava encerrado na prisão, a Igreja orava a Deus, instantemente, por ele. 6Na noite anterior ao dia em que Herodes contava fazê-lo comparecer, Pedro estava a dormir entre dois soldados, bem preso por duas correntes, e diante da porta estavam sentinelas de guarda à prisão. 7De repente, apareceu o Anjo do Senhor e a masmorra foi inundada de luz. O anjo despertou Pedro, tocando-lhe no lado e disse-lhe: «Ergue-te depressa!» E as correntes caíram-lhe das mãos. 8O anjo prosseguiu: «Põe o cinto e calça as sandálias.» Pedro assim fez. Depois, disse-lhe: «Cobre-te com a capa e segue-me.» 9Pedro saiu e seguiu-o. Não se dava conta da realidade da intervenção do anjo, pois julgava que era uma visão. 10Depois de atravessarem o primeiro e o segundo posto da guarda, chegaram à porta de ferro que dá para a cidade, a qual se abriu por si mesma. Saíram, avançando por uma rua, e logo o anjo se retirou de junto dele. 11Pedro, voltando a si, exclamou: «Agora sei que o Senhor enviou o seu anjo e me arrancou das mãos de Herodes e de tudo o que o povo judeu esperava.»

    Pelos anos 41-44 da nossa era, reinava na Judeia Herodes Agripa, que moveu uma perseguição contra a Igreja. Foi por essa ocasião que Pedro foi preso, durante a páscoa hebraica, e teria a mesma sorte de Jesus, se Deus não tivesse intervindo com um milagre (vv. 1-4) : um anjo libertou Pedro da morte certa. Tal fato deixou os cristãos espantados e admirados com a benevolência de Deus. No evento foi importante a oração da Igreja, compenetrada da importância única da missão de Pedro. Mais tarde, também S. Paulo recuperará, de modo idêntico, a sua liberdade (At 16, 25-34).

    Segunda leitura: 2 Timóteo 4, 6

    Caríssimo, eu já estou pronto para oferecer-me como sacrifício; avizinha-se o tempo da minha libertação. 7Combati o bom combate, terminei a corrida, permaneci fiel. 8A partir de agora, já me aguarda a merecida coroa, que me entregará, naquele dia, o Senhor, justo juiz, e não somente a mim, mas a todos os que anseiam pela sua vinda. 17O Senhor, porém, esteve comigo e deu-me forças, a fim de que, por meu intermédio, o anúncio fosse plenamente proclamado e todos os gentios o escutassem. Assim fui arrebatado da boca do leão. 18O Senhor me livrará de todo o mal e me levará a salvo para o seu Reino celeste. A Ele, a glória, pelos séculos dos séculos. Ámen!

    Este texto apresenta-nos o que podemos chamar o testamento de Paulo. O Apóstolo pressente próxima a sua morte e dá-nos a conhecer o seu estado de espírito: sente-se só e abandonado pelos irmãos, mas não vítima, porque a sua consciência está tranquila e o Senhor está com ele. Guardou a fé e cumpriu a sua vocação missionária com fidelidade. Compara-se à libação derramada sobre as vítimas nos sacrifícios antigos. Quer morrer como viveu, isto é, como verdadeiro lutador, uma vez que se entregou a Deus e aos irmãos. A vitória é certa! As suas palavras são já um cântico de vitória, porque está próximo o seu encontro com Cristo Ressuscitado.

    Evangelho: Mateus 16, 13-19

    Naquele tempo, Jesus ao chegar à região de Cesareia de Filipe, Jesus fez a seguinte pergunta aos seus discípulos: «Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?»  14Eles responderam: «Uns dizem que é João Baptista; outros, que é Elias; e outros, que é Jeremias ou algum dos profetas.» 15Perguntou-lhes de novo: «E vós, quem dizeis que Eu sou?»16Tomando a palavra, Simão Pedro respondeu: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo.»17Jesus disse-lhe em resposta: «És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu. 18Também Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Abismo nada poderão contra ela.19Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu.»

    O nosso texto evangélico de hoje consta de duas partes: a resposta de Pedro acerca da messianidade de Jesus, Filho de Deus (vv. 13-16) e a promessa do primado que Jesus confere a Pedro (vv. 17-19). O povo reconhecia Jesus como um profeta. Mas os Doze têm uma opinião muito própria, que é expressa por Pedro: Jesus é o Messias, o Filho de Deus (cf. v. 16). Essa opinião, mais do que baseada na experiência que tinham de Jesus, era fruto da ação do Espírito neles: "não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu." (v. 17). Por causa desta confissão, Pedro será a rocha sobre a qual Cristo edificará a sua Igreja. A Pedro e aos seus sucessores é confiada a missão de serem o fundamento visível da realidade invisível que é Cristo Ressuscitado. O poder de ligar e desligar, expresso na metáfora das chaves, indica a autoridade sobre a Igreja.

    Meditatio

    Celebrar os Apóstolos Pedro e Paulo é um testemunho de fé na Igreja "una, santa, católica, apostólica". Pedro é, efetivamente, a pedra que se apoia diretamente sobre a pedra angular que é Cristo. Pedro, e Paulo são os últimos elos de uma corrente que nos liga a Jesus. Celebrando Pedro e Paulo celebramos os "fundadores" da nossa fé, os genearcas do povo cristão. Ambos foram martirizados em Roma, na perseguição de Nero, por volta do ano 64 d. C.
    O Novo Testamento permite-nos reconstruir, o itinerário da vida dos dois apóstolos e dar-nos conta da gratuidade da escolha divina. Pedro era um pescador da Galileia. Passava os dias no lago de Tiberíade, com o seu pai Jonas e com o seu irmão André. O seu trabalho consistia em lançar as redes, esperar, retirá-las e, depois, à tarde, remendá-las, sentado na margem.
    Foi aí que, uma tarde, quando lançava as redes para uma última pescaria, ouviu, com o seu irmão, o chamamento de Jesus que passava: "Segui-me; farei de vós pescadores de homens" (Mc 1, 17). Começou, assim, a sua extraordinária aventura; seguiu o Mestre da Galileia para a Judeia; daí, depois da morte de Jesus, percorreu a Palestina, até se mudar para Antioquia e, daí, chegou finalmente a Roma.
    Em Roma animou a fé dos crentes, esteve preso, e foi morto no Vaticano, onde ficou para sempre, não só com o seu túmulo, mas também com o seu mandato: ficou naqueles que lhe sucederam naquela que os cristãos chamaram sempre "a cátedra de Pedro", até ao papa que hoje governa a Igreja. Nele, Pedro continua a ser "a rocha", sobre a qual Cristo continua a edificar a sua Igreja, o sinal da unidade para "aqueles que invocam o nome do Senhor". Não muito longe de Pedro, repousa Paulo que, de perseguidor, se tornou o Apóstolo dos Gentios, o missionário ardoroso do Evangelho. O seu martírio revelou a substância da sua fé. A evangelização das duas colunas da Igreja apoia-se, não sobre uma mensagem intelectual, mas sobre uma praxis profunda, sofrida e testemunhada com a palavra de Jesus.
    O lugar de Pedro e dos seus sucessores não é um cargo honorífico ou uma recompensa de méritos. É um serviço, o serviço de apascentar as ovelhas do Senhor: "Apascenta as minhas ovelhas", disse Jesus (Jo 21, 15ss). Com o dever de dar testemunho d´Ele, Jesus confiou a Pedro a sua própria missão de Servo e Pastor. Testemunha de Cristo, pastor e servo dos crentes são prerrogativas que, de Cristo passaram a Pedro e, de Pedro, aos seus sucessores, os bispos de Roma
    Rezemos pelo Santo Padre, sucessor de Pedro, para que Ele, que o confiou uma tal missão, o ilumine e o torne, cada vez mais, capaz de confirmar na fé os seus irmãos. Escreve o P. Dehon: "Para mim, o Papa é como Cristo na terra. Devo honrá-lo, amá-lo, obedecer-lhe... Os amigos do Coração de Jesus são amigos de Pedro." (Leão Dehon, OSP 3, p. 705).

    Oratio

    Senhor, vós nos concedeis a alegria de celebrar hoje a festa dos santos apóstolos Pedro e Paulo: Pedro, que foi o primeiro a confessar a fé em Cristo, e Paulo, que a ilustrou com a sua doutrina; Pedro, que estabeleceu a Igreja nascente entre os filhos de Israel, e Paulo que anunciou o Evangelho a todos os povos; ambos trabalharam, cada um segundo a sua graça, para formar a única família de Cristo; agora, associados na mesma coroa de glória, recebem do povo fiel a mesma veneração. Por isso, vos damos graças e proclamamos a vossa glória. Ámen. (cf. Prefácio da Missa).

    Contemplatio

    Pedro é o continuador de Cristo, o substituto, o vigário de Cristo. É de certo modo o Cristo velado, como na Eucaristia. O seu ensino é o de Cristo. É o instrumento do Coração de Jesus... Nosso Senhor prometeu antecipadamente a Pedro a sua primazia, que é a continuação do poder de Cristo: «Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as potências do inferno não prevalecerão contra ela» (Mt 16, 18). «Dar-te-ei as chaves do reino dos céus: tudo o que ligares será ligado e tudo o que desligares será desligado» (Mt 16, 19). «Quando fores convertido, confirmarás os teus irmãos» (Lc 22, 32). Quando chegou o dia, Nosso Senhor realizou a sua promessa. Transmitiu a Pedro a sua autoridade de pastor: «Pedro, porque me amas muito, porque me amas mais do que os outros, apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas». Pedro, pastor supremo da Igreja, é depositário e administrador de todos os dons do Coração de Jesus. Preside à administração dos sacramentos... Abre e fecha o tesouro do Coração de Jesus. Que respeito, que obediência devo a Pedro e aos seus sucessores! (Leão Dehon, OSP 3, p. 704s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "O Senhor, porém, esteve comigo e deu-me forças" (2 Tm 4, 17).

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    S. Pedro e S. Paulo, Apóstolos (29 Junho)

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