22 de Setembro, 2022

Beato João Maria de Cruz, Presbítero e Mártir

Beato João Maria de Cruz, Presbítero e Mártir


22 de Setembro, 2022

Padroeiro das Vocações Dehonianas

(Próprio de Congregação dos SCJ, Dehonianos)
No dia 25 de setembro de 1891 nasceu em Santo Esteban de los Patos (Ávila) Mariano Garcia Méndez. A sua família era simples, mas rica em virtudes e profundamente cristã. Aos 10 anos de idade, sentiu-se chamado por Cristo para o sacerdócio. Viveu o seu sacerdócio, primeiro como pároco e, depois de muita busca, também como religioso da nossa Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, Dehonianos, tomando o nome de João Maria da Cruz. Dotado de profundo zelo apostólico e foi também o "anjo protetor" do Seminário Dehoniano de Puente La Reina e promotor vocacional da Congregação em Espanha. A Guerra Civil Espanhola levou-o a testemunhar a fé e sua condição de sacerdote, protestando fortemente contra o incêndio da igreja dos Santos Juanes, em Valência. Preso, permaneceu um mês no cárcere, onde exerceu um intenso apostolado. No dia 23 de Agosto de 1936, era já noite, foi fuzilado em Silla (Valência). Reconhecidas as suas virtudes e o seu martírio pela Igreja, foi beatificado pelo Papa João Paulo II, no dia 11 de março de 2001.

Lectio

Primeira leitura: Romanos 8, 31b-39

Irmãos: Se Deus está por nós, quem pode estar contra nós? 32Ele, que nem sequer poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não havia de nos oferecer tudo juntamente com Ele? 33Quem irá acusar os eleitos de Deus? Deus é quem nos justifica!34Quem irá condená-los? Jesus Cristo, aquele que morreu, mais, que ressuscitou, que está à direita de Deus é quem intercede por nós. 35Quem poderá separar-nos do amor de Cristo?A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? 36De acordo com o que está escrito: Por causa de ti, estamos expostos à morte o dia inteiro, fomos tratados como ovelhas destinadas ao matadouro.37Mas em tudo isso saímos mais do que vencedores, graças àquele que nos amou. 38Estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem as potestades, 39nem a altura, nem o abismo, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus, Senhor nosso.

Depois de ter explicado vários aspetos da vida nova em Cristo e as motivações que fundamentam a fé cristã, Paulo conclui esta secção da sua carta com um hino ao amor de Deus. O hino brota-lhe do coração como uma torrente, provocada pela sua experiência do amor de Deus na sua vida e na da comunidade dos santos. Conhecedor do desígnio do Pai, o Apóstolo canta o papel de Cristo Salvador e Senhor. Nada poderá afastar o cristão do amor que Cristo tem por nós: nem tribulação, nem a angústia, nem a perseguição, nem a a fome, nem a nudez, nem o perigo, a espada. Mas em tudo isso saímos mais do que vencedores, graças àquele que nos amou. (cf. v. 36s.). Nenhuma força terrena e nenhum espírito hostil ao homem poderá separar-nos do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus. O amor é o fundamento indestrutível da vida e da esperança cristãs.

Evangelho: João 15, 18-21

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Se o mundo vos odeia, reparai que, antes que a vós, me odiou a mim. 19Se viésseis do mundo, o mundo amaria o que é seu; mas, como não vindes do mundo, pois fui Eu que vos escolhi do meio do mundo, por isso é que o mundo vos odeia. 20Lembrai-vos da palavra que vos disse: o servo não é mais que o seu senhor. Se me perseguiram a mim, também vos hão-de perseguir a vós. Se cumpriram a minha palavra, também hão-de cumprir a vossa. 21Mas tudo isto vos farão por causa de mim, porque não reconhecem aquele que me enviou.

Jesus acabara de falar do amor que havia entre Ele e os discípulos, e que devia haver também entre eles (Jo 15, 9-17). Mas os discípulos vivem no mundo que odeia Jesus e odiará os seus discípulos. Amados por Jesus, e amigos de Jesus, são odiados pelo mundo.
A primeira experiência da Igreja foi a perseguição iniciada pelos judeus e prosseguida pelos gentios. A perseguição é algo de normal na vida dos cristãos, porque não são do mundo, não lhe pertencem, e estão acima dele porque dão testemunho contra ele, contra os seus pecados. Além disso, "o servo não é mais do que o seu senhor". Não pode ter melhor sorte.

Meditatio

Quem ama, imita. O melhor modo de corresponder ao amor de Cristo é imitá-lo. Os mártires seguiram-no até à efusão do sangue, até assemelhar-se a Ele na paixão. Foram muitos que, ao longo dos séculos, como supremo testemunho da sua fé em Jesus Cristo e no seu Evangelho, derramaram o seu sangue. Foi o que aconteceu também em Espanha, entre 1936 e 1939, durante a guerra civil, que ensanguentou aquele país. Uma das vítimas foi o P. João Maria da Cruz, da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, Dehonianos. Nas suas cartas, conversas e comentários, o P. João falava das dificuldades que encontrava durante a guerra civil, quando andava de aldeia em aldeia, de cidade em cidade, a pedir ajudas e a procurar vocações. Nas suas notas pessoais verifica-se claramente que se preparava para o martírio: "oxalá pudesse ser mártir", dizia ele a uma senhora idosa de Puente la Reina, onde era muito popular e conhecido como o "santinho". A 10 de Agosto de 1936, poucos dias antes de ser fuzilado, escrevia, do Cárcere Modelo de Valência, ao Superior Geral da Congregação, P. L. Philippe: "Deus seja bendito! Cumpra-se em tudo a sua santíssima vontade. Considero-me muito feliz por poder sofrer alguma coisa por Ele, que tanto sofreu por mim, pobre pecador... Seja tudo pelo Coração Sacratíssimo de Jesus e pela sua Santíssima Mãe, em espírito de amor e de reparação".
O P. João tinha experimentado o amor de Deus revelado co Coração trespassado de Cristo. Nada o assustava. O seu desejo íntimo era deixar-se imolar a si mesmo, em união com Cristo, como oblação santa e agradável a Deus, "em espírito de amor e de reparação".
O sacrifício de Cristo não pode permanecer isolado, não partilhado. Pelo contrário, o martírio do Senhor Jesus é um apelo ao nosso martírio. É por isso que Paulo, na carta aos Romanos, escreve: "Exorto-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais os vossos corpos (isto é, vós mesmos) como sacrifício, vivo, santo e agradável a Deus; é este o vosso culto espiritual" (Rom 12, 1). Cristo foi consagrado e imolado ao Pai, em favor dos homens. Também os cristãos, e particularmente os religiosos e sacerdotes são consagrados e imolados, para se tornarem, com Cristo, construtores do Reino de Deus entre os homens, isto é, reparadores com Cristo reparador. Como dehonianos, é assim que estamos abertos ao "acolhimento do Espírito", damos "uma resposta ao amor de Cristo por nós", estamos em "comunhão no Seu amor pelo Pai" e cooperamos "na sua obra redentora no coração do mundo" (Cst 23).

Oratio

Pai santo, que deste ao Beato João Maria da Cruz a graça do sacrifício de amor unitivo, infunde em nós o Espírito Santo. Animados pela sua força divina, queremos corresponder ao teu amor, e dar a nossa vida por aqueles que devem ser edificados. Assim testemunharemos a nossa piedade para com todos, e confessaremos a nossa fé em Jesus Cristo, Senhor. Acolhendo o martírio quotidiano, ou o martírio do sangue, queremos ser advogados e consoladores, oblatos e intercessores, em favor dos nossos irmãos e da humanidade inteira. Ámen.

Contemplatio

O bom Mestre propõe aos seus discípulos motivações para sofrerem corajosamente as provações e o próprio martírio, se tal acontecer. Estas motivações são, ainda hoje, a força dos nossos missionários, que, com tanta boa vontade, enfrentam todos os perigos, com o secreto desejo de derramarem o seu sangue pelo Salvador. O primeiro encorajamento que nos dá o bom Mestre é o seu próprio exemplo: «O discípulo, diz, não está acima do Mestre; se me perseguiram, também vos hão-de perseguir a vós». Depois do exemplo de Nosso Senhor, diz S. Bernardo, já não há perseguições nem sofrimentos que possam assustar um cristão; torná-lo participante do cálice do seu divino Filho é uma honra que Deus lhe faz. Nosso Senhor acrescenta que não devemos temer, porque a verdade sairá sempre vitoriosa da mentira e da calúnia; e, aliás, se os nossos inimigos podem atingir o nosso corpo, são impotentes contra a nossa alma e não podem separá-la de Deus. Além disso, a Providência divina vela sobre os seus servos e em particular sobre os apóstolos do Evangelho. Nosso Senhor confessará e glorificará diante de seu Pai os que o tiverem confessado sobre a terra. O último encorajamento e o mais tocante é a alta dignidade dos apóstolos, que são os representantes de Nosso Senhor e outros Ele mesmo. Ele vingá-los-á contra os seus inimigos, tal como recompensará os que os receberem, os que lhes testemunharem respeito e dedicação. (L. Dehon, OSP 2, pp. 311-312).

Actio

Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
"Quem poderá separar-nos do amor de Cristo?" (Rm 8, 35).

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Beato João Maria de Cruz, Presbítero e Mártir, Padroeiro das Vocações Dehonianas (22 Setembro)

XXV Semana - Quinta-feira - Tempo Comum - Anos Pares

XXV Semana - Quinta-feira - Tempo Comum - Anos Pares


22 de Setembro, 2022

Tempo Comum - Anos Pares

XXV Semana - Quinta-feira

Lectio

Primeira leitura: Qohélet 1, 2-11
2Ilusão das ilusões - disse Qohélet- ilusão das ilusões: tudo é ilusão. 3Que proveito pode tirar o homem de todo o esforço que faz debaixo do Sol? 4Uma geração passa, outra vem; e a terra permanece sempre. 5O Sol nasce e o Sol põe-se e visa o ponto donde volta a despontar. 6O vento vai em direcção ao sul, depois ruma ao norte; e gira, torna a girar e passa, e recomeça as suas idas e vindas. 7Todos os rios correm para o mar, e o mar não se enche. Para onde sempre correram, continuam os rios a correr. 8Todas as palavras estão gastas, o homem não consegue já dizê-las. A vista não se sacia com o que vê, nem o ouvido se contenta com o que ouve. 9Aquilo que foi é aquilo que será; aquilo que foi feito, há-de voltar a fazer-se: e nada há de novo debaixo do Sol! 10Se de alguma coisa alguém diz: «Eis aí algo de novo!», ela já existia nas eras que nos precederam. 11Não há memória das coisas antigas; e também não haverá memória do que há-de suceder depois; nem ficará disso memória entre aqueles que hão-de vir mais tarde.
Ao interrogar-se sobre o sentido da vida, o Livro de Qohélet responde: «Tudo é ilusão» (v. 2), ou, mais exactamente, «vacuidade». As traduções gregas e latinas da Bíblia escrevem «vaidade». Mas a palavra hebraica hevel, traduzida em português por ilusão, ou por vaidade, significa neblina, fumo, algo de vácuo, de inconsistente: ao longe pode encantar, mas, ao perto, desilude. Tal é a vida do homem: realidade enganosa, caduca, absurda. O Qohélet é realmente drástico e provocador. Porquê? Porque, de facto, é grande o contraste entre a precariedade do homem e o permanecer da natureza: «Uma geração passa, outra vem; e a terra permanece sempre» (v. 4). Todos dizem que o homem é mais importante do que as coisas; mas as coisas permanecem e o homem passa. Se olharmos para além das aparências, verificamos que o homem como que se debate dentro de um círculo do qual não consegue sair. Tudo se move, mas tudo continua igual. Tudo volta ao ponto de partida, tal como o sol no seu movimento diurno, tal como o vento ou a água dos rios. Também o afadigar-se do homem é como que um rodopiar à volta de si mesmo, fazendo e desfazendo, sem jamais chegar à meta definitiva. O mundo novo que o homem procura construir escapa-lhe continuamente das mãos, como areia por entre os dedos.
Talvez Qohélet esteja a falar da própria esperança messiânica. Era uma esperança religiosa, mas rodeada de muitas conotações terrenas. Por isso Qohélet a contesta. Haverá sempre o limite da morte. O homem jamais se saciará de ver, de ouvir. Sempre lhe escapará o sentido do conjunto. Portanto, tudo é vaidade? O Novo Testamento irá esclarecer-nos devidamente: tudo é vaidade, excepto a caridade.

Evangelho: Lucas 9, 7-9
Naquele tempo, 7o tetrarca Herodes ouviu dizer tudo o que se passava; e andava perplexo, pois alguns diziam que João ressuscitara dos mortos; outros, 8que Elias aparecera, e outros, que um dos antigos profetas ressuscitara. 9Herodes disse: «A João mandei-o eu decapitar, mas quem é este de quem oiço dizer semelhantes coisas?» E procurava vê-lo.
Herodes está perplexo: quem é Jesus de quem todos falam? Fazem-se diversas conjecturas: é João ressuscitado, é Elias, é um profeta. O povo apercebe-se da grandeza de Jesus. Mas erra ao compará-lo com figuras do passado. Jesus é uma novidade absoluta. Para compreendê-lo é preciso olhar para Ele, e mais ninguém.
Herodes é um homem culto e prático. Quer encontrar Jesus e dar-se pessoalmente conta da sua identidade. Se fosse movido por boas intenções, como no caso de Zaqueu (cf. Lc 19, 3), seria uma atitude positiva. Mas não era esse o caso. Já o confessar a si mesmo, cinicamente e sem remorsos, ter matado João Baptista, para calar a sua voz incómoda, mostra como a sua vontade de ver Jesus era apenas curiosidade superficial. Tudo isso ficará claro na narrativa da paixão (cf. Lc 23, 8-10). Herodes representa o homem curioso que não quer tornar-se discípulo de Jesus, mas apenas quer ver fenómenos extraordinários, talvez até realizados por Jesus. É o prurido de ouvir novidades, que também Paulo condenará.

Meditatio
Como compreender a página do Qohélet, que hoje escutamos? Essa compreensão não dependerá da situação em que nos encontramos. Se estamos cheios de forças, ou empenhados em tarefas muito absorventes, parece-nos amarga e até inoportuna. Se nos sentimos desconfortáveis, em fase de avaliação da nossa existência, parece-nos impiedosamente verdadeira. Mas, para além dos estados de espírito, revela-se uma página realista e necessária, porque fotografa a situação do que existe e está destinado a passar, a desvanecer-se, a não deixar rasto. Trata-se de uma página que os poetas e pensadores retomaram, e muitas vezes actualizaram com acentos tocantes, por vezes, desesperados. Mas, para o cristão é apenas o primeiro passo, necessariamente seguido pelo segundo: a certeza de que é a partir deste nada, que se pode construir tudo, se o recebermos de Deus e o usarmos de acordo com a sua vontade. Podemos pois fazer uma dupla meditação: sobre o nada e sobre o tudo; sobre o modo como não nos deixarmos absorver pelo nada e sobre o modo como dar consistência a estas aparências tão frágeis. Esta meditação é possível com o concurso do realismo da razão e do realismo da fé. O livro do Qohélet é importante para a formação da consciência cristã. Desde que não seja o único. O mistério pascal, fundamento da fé, junta a morte e a ressurreição, derrota e vitória, fracasso e reconhecimento da perenidade de quem permanece fiel a Deus.
O texto evangélico mostra-nos como Jesus suscitava interrogações à sua volta. Levanta-se até a questão da ressurreição: terá João ressuscitado dos mortos? Terá aparecido Elias? Terá ressuscitado um dos antigos profetas? Estamos perante um conceito de ressurreição que daria razão a Qohélet: seria um regresso a coisas já vistas. Os profetas voltariam a viver a vida que já viveram. Mas a ressurreição de Cristo é algo de completamente novo e abre-nos a uma esperança nova. Não voltaremos à vida mortal, mas seremos transformados pela força do Espírito que ressuscitou Jesus: «Se alguém está em Cristo, é uma nova criação. O que era antigo passou; eis que sugiram coisas novas» (2 Cor 5, 17).
O Qohélet dizia que não havia novidades sobre a terra. No nosso tempo até há muitas novidades: viagens interplanetárias, descobertas científicas, novos meios de comunicação e transporte.... Mas o homem continua o mesmo, e usa tudo isso
para objectivos que são os de sempre: afirmar-se, dominar os outros, acumular bens para si, que acabam por ser roubados, apodrecer ou ser deixados a outros que nada fizeram por eles... Mas há uma novidade maravilhosa, que dá gosto à vida, que dá optimismo e alegria ao coração e nos enche de profunda confiança: Jesus Cristo ressuscitado, Coração da Humanidade e do Mundo, Princípio de um Mundo Novo! Conhecendo esta novidade, capaz de transformar o mundo, temos o dever de a comunicar a todos os que, como o Qohélet proclamam: «tudo é ilusão» (v. 2). Cristo Ressuscitado é uma novidade maravilhosa, que dá gosto novo à vida e enche o coração de optimismo, de alegria, de confiança.

Oratio
Senhor, são muitas as ocasiões que pões ao meu dispor para meditar na "infinita vaidade de todas as coisas". Não queres que me agarre a nada porque, fora de Ti, tudo é inconsistente. Agradeço-te porque, hoje, Te serviste do Qohélet para mo lembrar. Quero louvar-te e dar-te graças por tudo quanto me ofereces na natureza e nos irmãos. Quero louvar-te e dar-te graças por tudo quanto de bom pões ao meu dispor. Mas só Tu és a minha verdadeira e definitiva riqueza, a minha verdadeira e única felicidade.
Faz-me sentir o teu amor eterno, para que não me detenha em nada deste mundo, e mantenha o olhar fixo em Ti, origem e fim de todas as coisas. Não me deixes cair no pessimismo em que a caducidade das coisas e da vida me podem induzir. Se me fizeres sentir a vacuidade de quanto me rodeia, que eu busque preenchê-la em Ti, e só de Ti, que és o meu Ontem, o meu Hoje e o meu Amanhã! Amen.

Contemplatio
O que é o pó e a cinza? É o sinal da destruição; é o selo que o tempo, o incêndio e a morte imprimem nas coisas da terra. Que resta dos monumentos mais famosos da antiguidade, das capitais mais ilustres, da Roma antiga, de Atenas, de Tebas, de Babilónia? Cinza e pó. Onde estão estes edifícios sumptuosos, estas obras-primas da arte que se chamava as maravilhas do mundo? Cinza e pó. Onde estão os restos dos heróis e dos sábios de outrora? Cinza e pó.
A Igreja quer que... nos recordemos da vaidade das coisas humanas; mas quer sobretudo que meditemos sobre a nossa origem, sobre a nossa criação, sobre o pecado do primeiro homem e das suas consequências: «Lembra-te que saíste do pó e que a ele tornarás». É a sentença divina depois da queda. O homem foi tirado do barro, não devia voltar a ele. Devia ser confirmado em graça e glorificado no seu corpo tal como na alma. Pecou e com o pecado a morte entrou no mundo: Per peccatum, mors (Rom 5, 12). Que estragos! ... Que sou eu? Cinza e pó. O pó é levado pelo vento. Assim acontece com a minha pobre natureza. Sou acessível a todo o vento da tentação. A minha vontade é tão móvel como o pó. Em que é então que me posso orgulhar? Que lição de humildade!
Porque é que o barro e a cinza se orgulham, pergunta o Sábio (Eccli 10, 8). Todos os homens, diz ainda, são apenas terra e cinza (17, 31). Os povos, depois de um rápido brilho, são como um amontoado de cinza depois do incêndio, diz Isaías (33, 12).
A nossa vida desaparecerá como se extingue uma faúlha, diz o Sábio, e o nosso corpo cairá feito em cinzas (Sab 2, 3).
Abraão dizia: «Ousarei falar a Deus, eu que não sou senão cinza e pó?» (Gen 18, 27). No entanto, falou a Deus com humildade e confiança... Sou apenas nada, no entanto irei ter com Deus... Irei com a consciência da minha fraqueza, mas mesmo assim confiante, porque Deus é bom, porque o Filho de Deus tomou um coração para me amar... (Leão Dehon, OSP 2, pp. 195 ss.).

Actio
Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«Dai-me, Senhor, a sabedoria do coração» (Lc 8, 21).
| Fernando Fonseca, scj |

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