Semana de Jul 24th

  • XVII Semana - Segunda-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XVII Semana - Segunda-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    25 de Julho, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares
    XVII Semana - Segunda-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Jeremias 13, 1-11

    1O Senhor ordenou-me: «Vai comprar uma faixa de linho e cinge com ela a tua cintura, mas não a metas na água.» 2E eu comprei a faixa, de acordo com a palavra do Senhor, e com ela me cingi. 3Foi-me dirigida, pela segunda vez, a palavra do Senhor: 4«Toma a faixa que compraste, e que trazes contigo, e encaminha-te para as margens do Eufrates, e esconde-a ali na fenda de uma rocha.» 5Fui e escondi-a, junto do Eufrates, como o Senhor me havia ordenado. 6Passados muitos dias, disse-me o Senhor: «Põe-te a caminho, em demanda das margens do Eufrates, a fim de buscar a faixa que, conforme as minhas ordens, ali escondeste.» 7Dirigi-me, então, ao rio e, tendo cavado, retirei a faixa do lugar onde a escondera. Vi, porém, que a faixa apodrecera e para nada mais servia. 8Então, o Senhor falou-me nestes termos: 9«Isto diz o Senhor: 'Da mesma forma, farei apodrecer a soberba de Judá e o grande orgulho de Jerusalém. 10Este povo perverso, que recusa ouvir as minhas ordens, que segue a obstinação do seu coração e vai atrás de deuses estranhos para os servir e adorar, tornar-se-á semelhante a esta faixa, que para nada serve. 11Assim como uma faixa se liga à cintura de um homem, assim Eu uni a mim toda a casa de Israel e a casa de Judá para que fossem o meu povo, a minha honra, a minha glória e a minha ufania. Eles, porém, não me escutaram'» - oráculo do Senhor.

    Jeremias, por mandato do Senhor, realiza uma acção simbólica a fim de melhor captar a atenção e a compreensão dos seus ouvintes. Estas acções simbólicas são típicas do profetismo. Com o simbolismo da faixa apodrecida, Jeremias dá um tom dramático à sua pregação. Ferat, na Bíblia, designa o rio Eufrates. Mas é improvável que o profeta tenha ido mesmo até esse rio, que fica a 1000 quilómetros de Jerusalém. Identificar Ferat com o Fera, a 6 quilómetros de Anatot, desvirtua o simbolismo do desterro em Babilónia, tão presente na mente do profeta. O mais provável é que Jeremias tenha resolvido interpelar o seu povo com uma parábola em acção. Na parábola, a faixa cingida e depois enterrada na lama até apodrecer, tem um duplo simbolismo, que o profeta acaba por ter que explicar: como a faixa adere ao corpo de quem a cinge, assim Israel era chamado a aderir ao Senhor, respondendo positivamente à Aliança com que Deus, por primeiro, se tinha ligado a ele. Mas, porque o povo tinha quebrado a Aliança, não escutando a voz do Senhor, seguindo as próprias ideias, votando-se à idolatria, faliu na sua vocação, não prestou a Deus o serviço que Lhe devia prestar, tornou-se como uma faixa apodrecida, sem qualquer valor: «Este povo perverso, que recusa ouvir as minhas ordens, ... tornar-se-á semelhante a esta faixa, que para nada serve» (v. 10).

    Evangelho: Mateus 13, 31-35

    Naquele tempo, 31Jesus propôs-lhes outra parábola: «O Reino do Céu é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. 32É a mais pequena de todas as sementes; mas, depois de crescer, torna-se a maior planta do horto e transforma-se numa árvore, a ponto de virem as aves do céu abrigar-se nos seus ramos.»
    33Jesus disse-lhes outra parábola: «O Reino do Céu é semelhante ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha, até que tudo fique fermentado.»
    34Tudo isto disse Jesus, em parábolas, à multidão, e nada lhes dizia sem ser em parábolas. 35Deste modo cumpria-se o que fora anunciado pelo profeta: Abrirei a minha boca em parábolas e proclamarei coisas ocultas desde a criação do mundo.

    As parábolas do grão de mostarda e do fermento, vêm na continuidade das anteriores, que ilustram as características do Reino, acrescentando mais uma: a desproporção entre os seus começos, quase imperceptíveis, e o seu desenvolvimento extraordinário. A Palavra de Deus geralmente é muito discreta. Se não estivermos atentos, quase não se damos por ela. Mas, quando a acolhemos, tem uma tal eficácia interna, que lança raíz e produz efeitos e frutos surpreendentes. É o que acontece com a pequeníssima semente de mostarda: se germina e ganha raíz, pode atingir a altura de três ou quatro metros. Um pouco de fermento faz levedar uma grande quantidade de farinha, capaz de alimentar multidões. A força interior e exterior do Reino de Deus é tal que chega a transformar toda a vida do homem.

    Meditatio

    A faixa que Jeremias comprou e cingiu por ordem de Deus, era um adereço vistoso e de luxo, que caracterizava o seu portador. Na parábola em acção, realizada pelo profeta, simbolizava o orgulho e a soberba de Judá, as suas muralhas, o seu Templo, o seu culto e as suas riquezas. Judá e Israel eram o povo que Deus escolhera para Si, e dotara de muitos bens, para que vivesse em profunda intimidade com Ele, e aderisse à sua vontade, tal como a faixa adere ao corpo do seu portador, partilhando da sua intimidade. Também nós, os baptizados, fomos unidos a Cristo, chamados a partilhar a sua intimidade, a participar da sua natureza divina (cf. 2 Pe, 1-4). Mas, tal como Judá e Israel se tornaram faixa podre, que para nada servia, por causa da sua infidelidade, da sua idolatria e sincretismo religioso, assim também nós podemos perder a intimidade, a comunhão com o Senhor, se desrespeitarmos os compromissos baptismais, ou outros que tenhamos assumido no desenvolvimento da nossa vida cristã, ou por não acolhermos a sua Palavra.
    Jesus dá-nos exemplo de uma vida em completa adesão e união ao Pai e à sua Palavra, a ponto de poder dizer: «Eu e o Pai somos Um» (Jo 10, 30), «a palavra que ouvis não é minha, mas é do Pai, que me enviou» (Jo 14, 24); «O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e consumar a sua obra» (Jo 4, 34). A adesão de Jesus ao Pai levava-O a estar atento à sua vontade, a vê-lo, e a ver a sua acção, em tudo, também nas coisas e nos acontecimentos mais simples. As parábolas que escutamos são disso testemunho: «o Reino do Céu é semelhante a um grão de mostarda» (v. 31). Aquela pequeníssima semente é ocasião de contemplação para Jesus, que vê, no seu surpreendente desenvolvimento, uma imagem da acção do Pai, que torna eficaz o anúncio do Reino. Também a mulher, que esforçadamente amassa a farinha para fazer o pão, leva Jesus a contemplar o enorme trabalho do anúncio do Reino, e na acção do fermento, a eficácia que o Pai dá a esse anúncio, para a transformação do mundo.
    O Filho está em profunda relação com o Pai, e tudo refere a Ele. Mas também quer que aprendamos d´Ele essa mesma contemplação simples, que nos leva a passar das criaturas ao Criador, da Criação à Revelação, porque aquela deve servir esta. Santo Antão dizia: «O meu livro é a natureza das coisas criadas; esse livro está
    à minha disposição sempre que quero ler as palavras de Deus». Como estamos longe nós, homens pós-modernos, da admiração e do espanto com os antigos olhavam para a terra e para o céu, descobrindo neles os sinais da inteligência, da grandeza, do poder de Deus! Se reaprendermos a observar todas as coisas com um olhar contemplativo, aprenderemos a agir como Jesus, em perene união com Deus, presente no coração da realidade.
    O dehoniano contempla em todas as coisas a presença activa do amor de Deus, e o movimento de amor redentor provocado no mundo pela Encarnação de Cristo, para redenção de todos os homens. Uma tal contemplação leva-nos a inserir-nos «nesse movimento de amor redentor, doando-nos aos irmãos, com e como Cristo» (Cst 21).

    Oratio

    Obrigado, Senhor, porque me mostras que sou necessário, mas não indispensável, para o crescimento do Reino. Chamas-me a semear a tua palavra. Mas, só Tu, a fazes germinar e crescer, a tornas fecunda. Por mim mesmo, nada posso fazer, mas, em comunhão Contigo, tudo posso, e participo no milagre da produção de resultados grandiosos, que não entram nas contas e nas estatísticas humanas, mas que alimentam o ser, em profundidade. Obrigado por mo recordares. Assim posso aprender a verdadeira sabedoria, que me faz viver a actuar como se tudo dependesse de mim, mas, ao mesmo tempo, como se tudo dependesse de Ti. Amen.

    Contemplatio

    O reino dos céus é também como um fermento escondido na massa e que a penetra e a transforma. A fé e a graça semeadas por Jesus, e depois dele pelos apóstolos e pelos sacramentos, penetraram no mundo. Porquê três medidas de farinha? Talvez as três províncias evangelizadas por Jesus (Judeia, Galileia e Pereia), ou as três partes do mundo conhecidas naquele tempo, ou as três faculdades da nossa alma.
    O Coração de Jesus lança também o seu fermento de amor. Ganha, penetra, faz fermentar toda a massa das almas. Confiança! Que progressos desde Margarida Maria! O fermento ganhou as dioceses, as províncias, as nações. Dentro em breve já não haverá mais nenhuma paróquia, mais nenhuma alma cristã que não esteja penetrada pelo fermento. (Leão Dehon, OSP 4, p. 180s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra
    «Deus escolheu o que há de fraco no mundo» (1 Cor 1, 37).

    | Fernando Fonseca, scj |

  • XVII Semana - Terça-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XVII Semana - Terça-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    26 de Julho, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares
    XVII Semana - Terça-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Jeremias 14, 17-22

    17«Derramem os meus olhos lágrimas noite e dia, sem descanso porque a jovem, filha do meu povo, foi ferida com um golpe terrível, e sua chaga não tem cura!» 18Se saio aos campos, eis os mortos à espada; se regresso à cidade, eis os dizimados pela fome. Até profetas e sacerdotes vagueiam pelo país, sem nada compreenderem. 19Acaso, rejeitaste inteiramente Judá? Porventura, sentes nojo de Sião? Porque nos feriste sem esperança de cura? Esperávamos a paz, mas nada há de bom; esperávamos a hora do alívio, mas só vemos angústia! 20Senhor! Conhecemos a nossa culpa e a iniquidade dos nossos pais. Pecámos realmente contra ti. 21Mas, por amor do teu nome, não nos abandones nem desonres o trono da tua glória. Lembra-te de nós não anules a tua aliança connosco. 22Será que algum dos ídolos dos pagãos, traz a chuva? Ou é o céu que proporciona as chuvas? Não és Tu, Senhor, o nosso Deus? Nós esperamos em ti, pois és Tu quem faz todas estas coisas.

    Jeremias não se limitou a controvérsias e oráculos condenatórios contra o seu povo, atraíndo antipatias e ódios de morte. O profeta amava o seu povo, e sofria por primeiro, quando se via obrigado a anunciar acontecimentos desagradáveis. E orava pelo seu povo, como nos revela o texto que hoje escutamos.
    Durante uma liturgia penitencial, ou durante o cerco de Jerusalém, o profeta precisou de desabafar, sabendo que era essa também a vontade de Deus. Depois de descrever a situação deplorável do país, ferido de morte e sem chefes à altura da situação (vv. 17ss.), Jeremias faz uma oração de súplica. Intercede pelo povo diante de Deus. Apela para a Aliança, em virtude da qual Deus não se pode esquecer de Israel. Recorda a promessa de salvação e de paz, que não existem (v. 19), e interpela o Senhor a não faltar à sua Aliança, a não abandonar o seu povo. Israel, embora tenha pecado, reconhece, agora, a sua infidelidade, e sente-se sem argumentos, sem méritos para apresentar e se defender dos castigos com que é ameaçado. Jeremias suplica, confiando na fidelidade de Deus e no seu modo de actuar, que não pode ser contrário à sua essência, que é amor, misericórdia, indulgência (cf. Jer 14, 21). O profeta confia em Deus e confia-Lhe o seu povo, cuja sorte lamenta vivamente.

    Evangelho: Mateus 13, 36-43

    Naquele tempo, 36afastando-se das multidões, Jesus foi para casa. E os seus discípulos, aproximando-se dele, disseram-lhe: «Explica-nos a parábola do joio no campo.» 37Ele, respondendo, disse-lhes:«Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem; 38o campo é o mundo; a boa semente são os filhos do Reino; o joio são os filhos do maligno; 39o inimigo que a semeou é o diabo; a ceifa é o fim do mundo e os ceifeiros são os anjos. 40Assim, pois, como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será no fim do mundo: 41o Filho do Homem enviará os seus anjos, que hão-de tirar do seu Reino todos os escandalosos e todos quantos praticam a iniquidade, 42e lançá-los na fornalha ardente; ali haverá choro e ranger de dentes. 43Então os justos resplandecerão como o Sol, no Reino de seu Pai. Aquele que tem ouvidos, oiça!»

    O Evangelho oferece-nos várias parábolas para nos ensinar como é que Deus faz chegar a sua Palavra aos homens. A parábola do joio no campo alerta-nos para a existência de outro semeador: o semeador do mal. Onde Deus semeia, também Satanás semeia. A acção do semeador do mal caracteriza-se por acontecer durante a noite, enquanto os criados dormem. Durante o dia, não seria possível uma tal acção. A separação entre o que é bom e o que é mau só terá lugar no momento da ceifa, isto é, no dia do juízo final (cf. Mt 9, 37; Mc 4, 29; Jo 4, 35). Quando chega o tempo da ceifa - não antes, para não arrancar também o trigo - o dono dirá aos ceifeiros que cortem o trigo e o joio, e que os separem: o joio vai para queimar e o trigo é guardado no celeiro. Esta parábola parece querer que responder a uma questão surgida nas primeiras comunidades: porque existem bons e maus cristãos na Igreja? A resposta é: tanto Deus como Satanás semeiam a sua semente. Deus tolera essa sementeira, e o crescimento e a maturação de ambas as sementes, para dar aos maus oportunidade de conversão.

    Meditatio

    Jeremias dá-nos exemplo de oração em tempo de calamidade. Trata-se uma súplica angustiada, não motivada por qualquer sofrimento pessoal, mas pela compaixão pelo sofrimento do seu povo: «Derramem os meus olhos lágrimas noite e dia, sem descanso porque a jovem, filha do meu povo, foi ferida com um golpe terrível, e sua chaga não tem cura!» (v. 17). A «filha do meu povo» é Jerusalém, mergulhada em grande sofrimento por causa de uma seca prolongada, que provoca uma onda de crimes, de banditismo: «Se saio aos campos, eis os mortos à espada; se regresso à cidade, eis os dizimados pela fome. Até profetas e sacerdotes vagueiam pelo país, sem nada compreenderem» (v. 18). Jeremias sente que, no meio da desgraça, pode fazer alguma coisa: compadecer-se, sofrer com os outros, rezar. E sofre e reza com o seu povo, pelo seu povo. Começa por interrogar a Deus, de modo insistente e atrevido: «Acaso, rejeitaste inteiramente Judá? Porventura, sentes nojo de Sião? Porque nos feriste sem esperança de cura? Esperávamos a paz, mas nada há de bom; esperávamos a hora do alívio, mas só vemos angústia!» (v. 19). Depois, sabendo que as calamidades têm sempre origem na infidelidade à Lei de Deus, na injustiça, e no desprezo das outras pessoas, confessa os pecados do seu povo, e responsabiliza-se por eles: «Senhor! Conhecemos a nossa culpa e a iniquidade dos nossos pais. Pecámos realmente contra ti» (v. 20). Finalmente, apela para a generosidade de Deus: «por amor do teu nome, não nos abandones nem desonres o trono da tua glória. Lembra-te de nós não anules a tua aliança connosco» (v. 21). Em qualquer circunstância, mesmo no pior pecado, em vez de nos abandonarmos ao desespero, há que renovar a confiança no coração misericordioso de Deus, e rezar e suplicar Àquele que pode trazer remédio às piores situações. É isso faz o profeta: «Nós esperamos em ti, pois és Tu quem faz todas estas coisas» (v. 22). Deus, que tudo criou, que estabeleceu a Aliança, permanece fiel.
    Como o joio, no meio do trigo, o mal está presente em todo o lado, também naquelas realidades que são sinal da santidade de Deus, e que gostaríamos de ver imunes de pecado. Quando Santo Agostinho fala da Igreja «santa e pecadora», está consciente da presença do mal na comunidade cristã, que todavia é sacramento da presença de Deus no mundo. S. Paulo experimenta essa realidade quando afirma que gostaria de fazer o bem, mas faz o
    mal (cf. Rm 7, 19). A Igreja não é uma comunidade de "puros", de intocáveis pelo mal, mas uma comunidade de pecadores que experimentaram o amor misericordioso que perdoa e salva. Tomar consciência desta realidade é caminho para aquela humildade que atrai as complacências de Deus e a simpatia dos outros. Como Jeremias, sentimos uma certa solidariedade com os irmãos pecadores, porque não nos julgamos melhores do que eles. E rezamos por eles, mas também por nós, para sermos confirmados na opção tomada de pertencer ao Senhor. Como cristãos, e como dehonianos, unimo-nos, «à intercessão de Cristo» (cf. Hb 7, 25), e sentimo-nos «chamados a colocar toda a nossa vida ao serviço da Aliança de Deus com o seu Povo», e actuamos em prol da «unidade dos cristãos e de todos os homens» (Cst 84).

    Oratio

    Senhor, quantas vezes me atiro contra o que está mal no mundo e na Igreja! Quantas vezes descarrego a minha fúria puritana contra este ou contra aquele, que é ou julgo pecador! Hoje, quero pedir-te por todos: pelos que praticam injustiças, pelos que fazem opções pouco respeitosas da dignidade e unicidade da pessoa humana, pelos que só pensam nos seus interesses... Mostra, mais uma vez, a tua indulgência, a tua paciência, a tua misericórdia para com todos. Continua a dar tempo e oportunidade de conversão a todos, também a mim. Dá-me um coração semelhante ao teu: indulgente, tolerante, misericordioso. Que, vendo facilmente o mal fora de mim, saiba também vê-lo em mim. Não Te canses de perdoar o meu excesso de zelo, a minha rigidez. Derrama o teu Espírito Santo sobre mim, e sobre todos os meus irmãos, para que façamos o bem e não o mal, para que contribuamos, cada um a seu modo, para um mundo mais feliz e uma Igreja mais santa. Amen.

    Contemplatio

    No tempo do rei Dario, Daniel rezava com um fervor admirável pela salvação do povo de Israel. Fazia-se vítima da penitência pelo seu povo. Jejuava, usava cilício e cobria-se de cinza. Como Nosso Senhor, de quem era a figura, considerava-se como carregado pelos pecados do povo.
    «Senhor, dizia, pecámos, afastámo-nos dos vossos mandamentos, desobedecemos aos profetas que nos falavam em vosso nome. Fomos exilados e dispersos, e isso é justo. Os males que pesam sobre nós, tinham sido preditos por Moisés e pelos profetas. Não fizemos penitência, não rezámos, não nos convertemos. Apesar disso, Senhor, não nos querereis fazer misericórdia? Fizestes tanto por nós, tirastes-nos do Egipto com o vosso poder. Agora, reconhecemos os nossos pecados, perdoai-nos. Recorremos à vossa misericórdia que só ela nos pode salvar. Atendei-nos, não tardeis...».
    Rezava ainda, o santo profeta, humildemente prostrado com a fronte por terra, quando o anjo Gabriel lhe veio tocar no ombro, o levantou e consolou dizendo-lhe: «Deus escutou a tua oração, abreviou e fixou o tempo da libertação de todos os homens do jugo do pecado. Depois de setenta semanas de anos, o Cristo virá, resgatará os homens com a sua morte e fundará um novo povo e um novo culto».
    Rezemos como Daniel pelos pecados do povo. (Leão Dehon, OSP 3, p. 301s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Lembra-te de nós, Senhor,
    não anules a tua aliança connosco» (Jr 14, 21).

    | Fernando Fonseca, scj |

  • XVII Semana - Quarta-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XVII Semana - Quarta-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    27 de Julho, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares
    XVII Semana - Quarta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Jeremias 15, 10.16-21

    10Ai de mim, ó mãe, porque me deste à luz! Sou um homem de discórdia e de polémica para toda a terra! Nunca emprestei e ninguém me emprestou; no entanto, todos me maldizem. 15Tu, Senhor, que sabes tudo, lembra-te de mim, ampara-me, e vinga-me dos que me perseguem; que eu não seja apanhado por eles, por causa da tua paciência. Lembra-te como suporto os insultos por tua causa. 16Eu devoro as tuas palavras, onde as encontro; a tua palavra é a minha alegria, e as delícias do meu coração, porque o teu Nome, foi invocado sobre mim, ó Senhor, Deus do universo! 17Nunca me sentei entre os escarnecedores, para com eles me divertir. Forçado pela tua mão, sentei-me solitário, porque me possuía a tua indignação. 18Porque se tornou perpétua a minha dor, e não cicatriza a minha chaga, rebelde ao tratamento? Ai! Serás para mim como um riacho enganador de água inconstante? 19Por esta razão, o Senhor diz-me: «Se te reconciliares comigo, receber-te-ei novamente e poderás estar na minha presença. Se conseguires retirar o precioso do vil, serás como a minha boca. Serão eles, então, que virão a ti e não tu que irás a eles. 20Tornar-te-ei, para este povo, como sólida muralha de bronze. Combaterão contra ti, mas não conseguirão vencer-te, porque Eu estarei a teu lado para te proteger e salvar - oráculo do Senhor. 21Livrar-te-ei das garras dos maus, resgatar-te-ei do poder dos opressores.»

    O texto que escutamos faz parte das chamadas «Confissões de Jeremias». O profeta, em profunda crise vocacional, e mesmo existencial, tem um desabafo duro, cansado, quase blasfemo. Lamenta ter nascido: ele que tanto ama a paz e só vê guerra; ele que se sente impelido a proclamar a Palavra de Deus e que, por causa dela, se vê envolvido em contendas e conflitos (v. 10). O profeta lembra a alegria e o entusiasmo do primeiro encontro com a Palavra do Senhor, que, depois, se tornou o centro e o sentido da sua existência. Deus chamara-o e ele entregara-se completamente. Pertencia a Deus (v. 16), tinha recebido o dever de pregar uma palavra que ia contra a corrente. Por causa dela, experimenta a solidão, não tem amigos com quem se divertir, é recusado e combatido pelos seus contemporâneos (v. 17). Daí o sofrimento sem cura que o atormenta. Daí o grito de denúncia da situação, dirigido a Deus, que lhe parece semelhante a «um riacho enganador de água inconstante» (v. 18).
    Na resposta, Deus confirma o profeta na sua vocação, pedindo-lhe, mais uma vez, total disponibilidade, renovando-lhe a promessa de êxito final na missão, garantindo a Sua presença.

    Evangelho: Mateus 13, 44-46

    Naquele tempo, disse Jesus à multidão: 44«O Reino do Céu é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem encontra. Volta a escondê-lo e, cheio de alegria, vai, vende tudo o que possui e compra o campo. 45O Reino do Céu é também semelhante a um negociante que busca boas pérolas. 46Tendo encontrado uma pérola de grande valor, vende tudo quanto possui e compra a pérola.»

    As parábolas do tesouro casualmente encontrado no campo, e da pérola desejada e finalmente comprada, acentuam a alegria daquele que compreendeu o valor do reino de Deus. Ambos os protagonistas vendem tudo o que têm para adquirirem o tesouro e a pérola, respectivamente. Mas o ensinamento fundamental não é o da entrega incondicional que o Reino exige, com as respectivas renúncias. A palavra fundamental é «cheio de alegria» (v. 44), referida ao homem comovido diante do excepcional achado num campo, e da pérola de grande valor encontrada. Perante essas descobertas, tudo o resto perde valor. Daí que nenhum esforço, nenhuma renúncia, pareçam excessivos para obter tais bens.

    Meditatio

    Com as parábolas do tesouro escondido num campo, que alguém encontrou, e da descoberta de uma pérola de grande valor, Jesus apresenta-nos o Reino como algo extremamente precioso. Quem percebe o imenso privilégio, que é ser chamado a participar no Reino, experimenta uma alegria indizível, e julga pouca coisa desfazer-se tudo para o alcançar.
    Enquanto o evangelho nos fala da alegria de quem encontra o sentido da sua vida na palavra de Deus, no presente, a primeira leitura apresenta-nos a desolação de Jeremias, que encontrou essa alegria no passado, mas que agora vive uma dor sem fim (cf. v. 18). O profeta está em crise vocacional e acusa Deus: «És para mim como um riacho enganador de água inconstante» (v. 18). Mas o inconstante não é Deus; é ele, o profeta, representante do seu povo: «Se te reconciliares comigo, - diz o Senhor - receber-te-ei novamente e poderás estar na minha presença» (v. 19).
    Também nós passamos por crises existenciais, e por crises vocacionais, que ofuscam a alegria experimentada na nossa juventude, no momento em que dissemos «sim» ao Senhor. Mas a alegria experimentada num determinado momento, que iluminou a nossa existência, é fundamento seguro para a redescobrirmos noutras horas e situações da vida, mesmo no meio de grandes sofrimentos. É a memória que nos garante o essencial: a certeza de que o Senhor está vivo e ao nosso lado. O peso da vida, os fracassos, são experiências dolorosas, que nos dilaceram e fazem gritar: «Chega!». Reencontrar a alegria do primeiro encontro, ou procurá-la, se ainda a não encontrámos, é uma verdadeira aventura de vida, é o seu sentido mais profundo. Vale a pena deixar tudo por causa dela. E, se o deixar, enche de alegria (cf. v. 44), quanto mais o encontrar e possuir aquilo pelo qual se deixou tudo! «Eu estarei contigo»! E cada dia, se nos convertermos, se estivermos dispostos a deixar tudo por causa d´Ele, O encontramos, porque Se faz procurar e deixa encontrar. Para nossa e sua alegria!
    «Nós deixámos tudo e seguimos-te» (Mt 19, 29). Como cristãos, e como religiosos, facilmente pomos o acento no «deixámos tudo». Mas, o mais importante, o que nos enche de alegria, é o «seguimos-Te»! Jesus é o nosso tesouro, a nossa pérola rara. Deixar tudo por causa d´Ele, abandonar-nos a Ele, é atrair sobre nós, sobre as nossas inquietações, tristezas e desesperos o Seu amor misericordioso, salvação, luz e alegria para a nossa vida.

    Oratio

    Senhor, Tu és a minha força, a alegria do meu coração. Faz-me saborear a doçura da tua amizade, e o encanto da tua beleza; acende em mim o fogo do teu amor, e o entusiasmo pelos teus projectos. Faz-me compreender que, só sendo todo teu, serei realmente eu. Dá-me força p'ra arriscar, e jogar a minha vida, no esforço de Te alcançar e cumprir tua vontade. Que o fogo do teu Espírito me incendeie o coração! E, deixando tudo por Ti, gritarei louco de amor: «Eis-me aqui! Eis-me aqui, Senhor!». Amen.

    Contemplatio

    O reino de Deus é também semelhante a um tesouro: tesouro da fé, da verdade, da graça; tesouro eucarístico. As almas deixaram o pecado para comprar
    em este tesouro. As almas mais generosas venderam os seus bens e escolheram a pobreza do claustro para possuírem mais plenamente Jesus e a sua graça.
    Agora, o tesouro do Sagrado Coração oferece-se a nós. É o tesouro dos tesouros. É preciso vender tudo para o comprar. É preciso desapegar-nos dos afectos terrestres, é preciso deixar-nos a nós mesmos, pelo espírito de sacrifício e de imolação.
    Jesus dá o seu Coração àqueles que o amam sem reserva. Neste tesouro, encontrarei todos os abismos da graça, da luz, da força, de consolação e de virtude que posso ambicionar.
    A pérola preciosa, o diamante incomparável, é ainda a sabedoria cristã, o Salvador, a eucaristia, a graça; mas é sobretudo o Sagrado Coração.
    S. Paulo considera que tudo é perda junto da ciência eminente de Jesus Cristo Nosso Senhor, porque se despojou de todas as coisas, considerando-as como esterco, a fim de ganhar Cristo (Fl 3,7).
    Jesus é a pedra preciosa, pela qual milhões de almas vendem, deitam fora tudo o que têm, desprezam tudo o que a terra lhes pode oferecer, e dedicam-se ao seu serviço e ao seu amor.
    Mas a pedra preciosa por excelência, é o Coração de Jesus. É Ele quem ganha os corações e quem inspira todos os sacrifícios. É Ele quem está para conquistar o mundo ao amor divino. É Ele quem será no céu o diamante cujos raios iluminarão a cidade santa: a sua luz é o Cordeiro. O cordeiro de Deus é o sol da santa Jerusalém, mas é pelo seu Coração que ele irradia. Não é o Coração de Jesus esta pedra de jaspe brilhante que ilumina o céu: A sua luz é semelhante à pedra preciosa, à pedra de jaspe, ao cristal (Ap 21)? O jaspe vermelho, com as suas veias, assemelha-se o Coração ferido e sangrento. (Leão Dehon, OSP 4, p. 181).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «A tua palavra é a alegria do meu coração» (Jr 15, 16).

    | Fernando Fonseca, scj |

  • XVII Semana - Sexta-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XVII Semana - Sexta-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    29 de Julho, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares
    XVII Semana - Sexta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Jeremias 26, 1-9

    1No começo do reinado de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá, a palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias, nestes termos: 2«Isto diz o Senhor:'Põe-te no átrio do templo e fala ali a todos os habitantes de Judá que vêm prostrar-se no templo do Senhor, e anuncia-lhes todas as palavras que te mandei anunciar, sem omitir nenhuma.
    3Talvez te ouçam e se convertam cada um do seu mau caminho. Arrepender-me-ei então do castigo que, por causa das suas más obras, tinha determinado dar-lhes.'
    4Dir-lhes-ás: 'Isto diz o Senhor: Se não me ouvirdes, se não obedecerdes à lei que vos impus, 5ouvindo as palavras dos profetas, meus servos, que continuamente vos enviei, e a quem não tendes ouvido, 6farei a esta casa o que fiz a Silo e farei desta cidade um objecto de maldição para todos os povos da terra.'» 7Os sacerdotes, os profetas e todo o povo ouviram Jeremias pronunciar estas palavras no templo. 8Porém, mal Jeremias acabara de repetir o que o Senhor lhe ordenara dizer ao povo, os sacerdotes, os profetas e a multidão lançaram-se sobre ele, exclamando: «À morte! 9Porque profetizas, em nome do Senhor, este oráculo: 'Acontecerá a este templo o mesmo que sucedeu a Silo e esta cidade será transformada em deserto, sem habitantes?'» Juntou-se toda a multidão contra Jeremias no templo do Senhor.

    O capítulo 26 de Jeremias, dá-nos o contexto do discurso que vem no capítulo 7. O narrador dos acontecimentos, Baruc, destaca especialmente as consequências desse discurso pronunciado por Jeremias à entrada do Templo: «À morte!», gritaram os sacerdotes e os profetas que viviam à custa do Templo (v. 8), ao qual se juntou a multidão (v. 9). Joaquim tinha lançado por terra as esperanças da reforma religiosa iniciada pelo seu pai, Josias. Jeremias apela para as responsabilidades de todos no que se refere à escuta da Palavra do Senhor. Está em jogo a conversão do povo ou a sua punição (v. 3). Não basta frequentar o Templo e participar nos seus ritos: é preciso escutar e viver a palavra. Não escutar nem obedecer à palavra é morrer
    O discurso de Jeremias desagrada vivamente a todos, que o condenam à morte. Mas o profeta não se retracta. Mais ainda: reconfirma as palavras, que não são dele, mas de Quem o enviou contra a sua própria vontade. A sua disponibilidade para enfrentar o martírio, confirma o carácter divino da sua missão profética.

    Evangelho: Mateus 13, 54-58

    Naquele tempo, 54tendo Jesus chegado à sua terra, ensinava os habitantes na sinagoga deles, de modo que todos se enchiam de assombro e diziam: «De onde lhe vem esta sabedoria e o poder de fazer milagres? 55Não é Ele o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? 56Suas irmãs não estão todas entre nós? De onde lhe vem, pois, tudo isto?» 57E estavam escandalizados por causa dele. Mas Jesus disse-lhes: «Um profeta só é desprezado na sua pátria e em sua casa.» 58E não fez ali muitos milagres, por causa da falta de fé daquela gente.

    Acabado o discurso das parábolas, Mateus introduz, no seu evangelho, outro material narrativo que marca a progressiva separação entre Jesus e Israel, e evidencia a formação específica dada ao grupo dos discípulos (cf. Mt 13, 54-17,27). O episódio de hoje tem um paralelo em Mc 6, 1-6, do qual depende, e refere-se à rejeição de Jesus pelos seus conterrâneos. A apresentação "oficial" de Jesus na sinagoga da sua terra redunda em completo fracasso. Após o assombro inicial, os seus conterrâneos interrogam-se sobre a identidade de Jesus. A frase mais significativa de toda a perícopa é: «estavam escandalizados por causa dele» (v. 57). O evangelho introduz-nos, deste modo, no mistério de Jesus. A atitude dos nazarenos é significativa de todos aqueles que procuram compreender Jesus, partindo unicamente do que pode saber-se sobre Ele: é da nossa terra, filho do carpinteiro, conhecemos a sua família, estudou na nossa sinagoga... Jesus foi incompreendido e desprezado, tal como o foram os profetas... O mesmo sucederá com os seus discípulos. Paulo falará do escândalo da cruz (Mc 14, 27.29; 1 Cor 1, 23). A sorte dos profetas, de Jesus, dos discípulos é sempre a mesma: ser recusados, ser objecto de troça, de desprezo, de perseguição e, muitas vezes, de morte violenta.

    Meditatio

    Como somos hábeis e apressados em iludir a palavra de Deus! Todas as razões nos parecem boas para alcançar esse fim. Jeremias convidava o povo à conversão e anunciava que a obstinação no mal traria graves catástrofes a Jerusalém e ao país. Os chefes do povo, em vez de escutarem o apelo e de agirem em consonância, criticam o profeta, acusam-no, prendem-no. Jesus anuncia o Reino de Deus, fala como nunca ninguém tinha falado, realizava milagres. Mas os seus conterrâneos não suportaram que, alguém, que eles bem conheciam, manifestasse tal «sabedoria e o poder de fazer milagres» (v. 55).
    Não acontece algo de parecido connosco? Quando um discurso ou um modo de agir nos incomodam, não procuramos defender-nos das exigências de mudança, das correcções na nossa vida, pondo em questão as pessoas ou o profeta que nos interpelam? É fácil criticar um discurso, uma homilia e, sobretudo, quem os profere! Os hebreus criticaram Jeremias, que falava em nome de Deus. Acusaram-no de atribuir a Deus projectos escandalosos como a destruição do tempo, casa de Deus, ou da cidade santa. É sempre possível criticar uma pessoa, porque ninguém agrada a todos. Até Jesus foi criticado pelos seus conterrâneos, porque revelava demasiada sabedoria, excessivo poder! E assim se dispensavam de seguir os seus ensinamentos, continuando a viver de acordo com os hábitos de sempre, ainda que não correspondessem às exigências da Lei de Deus! Mas, também nós, podemos cair no mesmo erro, quando ouvimos chamadas de atenção, observações e talvez mesmo repreensões de quem tem o direito de no-las fazer!
    O convite à escuta da Palavra, feito pelos profetas repercute-se ao longo dos séculos, e chega até nós. Em Jesus, a Palavra de Deus ficou definitivamente pronunciada. Mas jamais faltaram profetas, homens e mulheres, que, pela sua vida, pelos seus discursos, pelos seus escritos, reavivassem, na memória dos seus contemporâneos, o conhecimento da beleza e das exigências do Evangelho. Também hoje estão entre nós! Escutamo-los?
    Como dehonianos, havemos de estar disponíveis para acolher a Palavra onde, quando e como quiser revelar-se. Mas também somos chamados a ser «profetas do amor e... servidores da reconciliação dos homens e do mundo em Cristo» (Cst 7), com todas as consequências inerentes a uma tal missão.

    Oratio

    Senhor, faz-me disponível à tua Palavra, ainda que, à primeira vista, pareça desagradável para mim. É o que acontece com muitos medicame
    ntos: ao serem tomados, sabem mal. Mas curam!
    Fala-me, Senhor! Envia os teus profetas que denunciem o meu egoísmo, a minha instalação, as minhas falsas seguranças, também religiosas. Dá-Te a conhecer ao teu servo, manifesta-me a tua santa vontade, porque não quero permanecer fechado no meu egoísmo, nas minhas ideias sobre Ti, tantas vezes mesquinhas, limitadas. Deus da minha mediocridade, da minha saudade de Absoluto, Deus de Jesus Cristo, mostra-me o teu rosto, dá-Te a conhecer, porque és o Senhor da minha vida, e eu creio em Ti. Amen.

    Contemplatio

    Jesus possuía toda a sabedoria como Deus, e mesmo como homem por uma graça infusa, mas quer também possuir a ciência adquirida, para nos dar o exemplo e para nos merecer a graça do amor do trabalho e do gosto pela sabedoria.
    Segue as lições da Sinagoga, estuda a lei, os profetas, a história e os livros ascéticos. Lê os livros sagrados, medita-os. Não tem necessidade deles para si, mas tem necessidade por nós. Assumiu a humanidade tal como ela é, com os seus deveres de estudo e de trabalho.
    A sua ciência adquirida torna-se maravilhosa. Já aos doze anos espanta os doutores da lei no Templo. Explica a Escritura, ficam surpreendidos com a sua prudência e com as suas respostas.
    Durante a sua vida pública, citará constante e abundantemente a Escritura. Na sinagoga de Nazaré, passam-lhe o livro de Isaías, lê, comenta, mostra-lhes como as suas obras tinham sido anunciadas, cita os livros dos reis. As pessoas exclamam: «Donde lhe vem esta ciência, não é ele o filho do carpinteiro que nós conhecemos?» (Lc 2; Mc 6).
    Quando prega na região de Tiberíades, antes e depois do sermão da montanha, cita o Levítico e o Deuteronómio, os Reis, Amós, Isaías, Tobias. Muitas vezes faz alusão aos Salmos (Lc 6). Aos enviados de S. João Baptista, comenta e explica as profecias de Isaías (Lc 7,22).
    Os salmos são o alimento da sua vida interior e das suas orações, mesmo sobre a cruz: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?» (Sl 21). «Meu Pai, entrego a minha alma nas vossas mãos» (Sl 30). Repassa no seu espírito toda a Escritura para se assegurar de que tudo cumpriu. Faltava ainda na sua Paixão a amargura do fel e do /145 (Sl 68). Para a provocar, diz: «Tenho sede».
    Enfim, vendo que tudo está cumprido, verifica-o antes de morrer: Consumatum est.
    Depois da sua ressurreição, vive ainda da Escritura. Explica Moisés e os profetas aos discípulos de Emaús (Lc 24).
    Que resolução vou tomar hoje para crescer em sabedoria e em ciência? (Leão Dehon, OSP 4, p. 121).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Que eu Te escute, Senhor, e me converta a Ti» (cf. Jr 26, 3).

    | Fernando Fonseca, scj |

  • XVII Semana - Sábado - Tempo Comum - Anos Pares

    XVII Semana - Sábado - Tempo Comum - Anos Pares


    30 de Julho, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares
    XVII Semana - Sábado

    Lectio

    Primeira leitura: Jeremias 26, 11-16.24

    Naqueles dias, 11os sacerdotes e os profetas falaram aos príncipes e à multidão: «Este homem merece a morte porque profetizou contra esta cidade, como todos vós ouvistes.» 12Jeremias, porém, respondeu aos príncipes e ao povo: «Foi o Senhor que me enviou a profetizar contra este templo e contra esta cidade os oráculos que ouvistes. 13Reformai, portanto, a vossa vida e as vossas obras, ouvi a palavra do Senhor, vosso Deus, e o Senhor afastará de vós o mal com que vos ameaça. 14Quanto a mim, entrego-me nas vossas mãos. Fazei de mim o que quiserdes e o que melhor vos parecer. 15Sabei, porém, que, se me condenardes à morte, sereis responsáveis pelo sangue inocente, assim como esta cidade e os seus habitantes porque, na verdade, foi o Senhor que me enviou para vos transmitir estes oráculos.» 24Quanto a Jeremias, ele gozava da protecção de Aicam, filho de Chafan, para que não fosse entregue nas mãos do povo a fim de ser condenado à morte.

    Na continuação do texto que escutamos ontem, o de hoje apresenta-nos a reacção ao discurso de Jeremias. Os sacerdotes e os profetas denunciam-no aos chefes do povo, acusando-o de profetizar a destruição do Templo e de Jerusalém, ambos "santos", porque morada de Deus. Essa profecia constituía, pois, uma blasfémia merecedora de sentença de morte. Por sorte, os encarregados da justiça não eram nem os sacerdotes nem os profetas, mas os juízes e os anciãos. Estes, perante a acusação falsa e incompleta dos interessados no culto, que citaram as palavras de Jeremias contra a cidade, mas não contra o Templo, reagiram recordando o que acontecera um século antes com o profeta Miqueias. Este tinha pronunciado idêntica ameaça, o povo tinha-se convertido e Jerusalém fora libertada de Senaqueribe. Era o que também agora pretendia Jeremias.
    A coragem do profeta, manifestada na disposição de enfrentar a morte antes do que trair a Palavra de Deus, também deve ter comovido os juízes que unanimemente reconheceram que não era réu de morte, porque tinha falado em nome de Deus.
    O v. 24, com que termina o texto litúrgico, anota como Jeremias foi salvo pela protecção de Aicam, irmão de Godolias futuro governante de Jerusalém, imposto por Nabucodonosor. Não se trata de coincidências, de resultados de jogos políticos, ou de "milagres" de circo. São acontecimentos e circunstâncias através dos quais se manifesta a acção salvífica de Deus que garantira ao profeta: «Eu estarei a teu lado!». (Jer 15, 20).

    Evangelho: Mateus 14, 1-12

    1Naquele tempo, a fama de Jesus chegou aos ouvidos de Herodes, o tetrarca, 2e ele disse aos seus cortesãos: «Esse homem é João Baptista! Ressuscitou dos mortos e, por isso, se manifestam nele tais poderes miraculosos.» 3De facto, Herodes tinha prendido João, algemara-o e metera-o na prisão, por causa de Herodíade, mulher de seu irmão Filipe. 4Porque João dizia-lhe: «Não te é lícito possuí-la.» 5Quisera mesmo dar-lhe a morte, mas teve medo do povo, que o considerava um profeta. 6Ora, quando Herodes festejou o seu aniversário, a filha de Herodíade dançou perante os convidados e agradou a Herodes, 7pelo que ele se comprometeu, sob juramento, a dar-lhe o que ela lhe pedisse. 8Induzida pela mãe, respondeu: «Dá-me, aqui num prato, a cabeça de João Baptista.» 9O rei ficou triste, mas, devido ao juramento e aos convidados, ordenou que lha trouxessem 10e mandou decapitar João Baptista na prisão. 11Trouxeram, num prato, a cabeça de João e deram-na à jovem, que a levou à sua mãe. 12Os discípulos de João vieram buscar o corpo e sepultaram-no; depois, foram dar a notícia a Jesus.

    O relato de Mateus sobre o martírio de João Baptista, mais sóbrio que o de Marcos (6, 14), baseia-se na história, pois se trata de um acontecimento datado no tempo de Herodes Antipas, filho de Herodes, o Grande, a quem os romanos reconheceram jurisdição sobre a Galileia e a Pereia, no norte da Palestina.
    A decapitação do Baptista é motivada pela sua intransigência moral e pela sua forte personalidade. O profeta não se amedrontava diante de nada nem de ninguém, quando se tratava de denunciar a imoralidade. Não se amedrontou sequer diante de Herodes, que tendo repudiado a consorte, tomou por esposa a mulher de seu irmão. Herodes continha a sua vontade de vingança, porque temia uma rebelião popular. Mas Herodíades não se preocupava com isso. Assim, quando Herodes jurou dar à filha de Herodíades o que quer que lhe pedisse, a adúltera não hesitou em sugerir a cabeça de João (vv. 6-11). E obteve-a! Com o seu martírio, João Baptista terminou a missão de precursor. E Jesus compreendeu que era chamado a percorrer o mesmo caminho.

    Meditatio

    Tanto João Baptista, como Jeremias, eram profetas corajosos e fiéis à sua missão. Ambos conheciam o risco que era denunciar, em nome de Deus, os abusos dos seus contemporâneos, particularmente das autoridades. Ambos foram presos, porque falavam demasiadamente claro e forte contra esses abusos. João foi preso por um monarca absoluto, e a sua sorte dependeu unicamente do arbítrio de Herodes. A situação de Jeremias foi diferente. Os seus acusadores eram os sacerdotes e os profetas. Podia defender-se deles. E começou por afirmar que a sua profecia não era fruto da sua mente, não era uma mensagem inventada, mas palavra de Deus ao povo. Depois, acrescentou que essa palavra não era uma afirmação absoluta, mas uma ameaça condicionada: se o povo arrepiasse caminho, seria salvo: «Reformai a vossa vida e as vossas obras, ouvi a palavra do Senhor, vosso Deus, e o Senhor afastará de vós o mal com que vos ameaça» (v. 13). Estas palavras do profeta redimensionavam a situação e constituíam um insistente convite à conversão. Jeremias concluiu afirmando que, condená-lo, só piorava a situação, porque matar um enviado de Deus aumenta a culpa: «se me condenardes à morte, sereis responsáveis pelo sangue inocente» (v. 15). Perante estas palavras, os chefes e o povo rejeitaram a acusação dos sacerdotes e profetas. Jeremias não foi condenado à morte, e pôde continuar o seu ministério.
    No caso do João Baptista, o capricho de Herodes, ou, mais exactamente, a sua fraqueza, com a perfídia de Herodíades, levaram a melhor. João Baptista, testemunha da verdade, foi calado, foi morto, sem se poder explicar, sem ter quem o defendesse. Julgamentos semelhantes ao de João Baptista, repetiram-se muitas vezes ao longo da história, e continuam a repetir-se ainda hoje. As perseguições são inevitáveis para quem anuncia a verdade de Deus. A verdade incomoda, tal como o amor, porque implica renúncia aos próprios interesses egoístas, e exige abertura aos outros. Jesus disse aos seus discípulos: «Felizes os que sofrem perseguição por causa da justi&c
    cedil;a,porque deles é o Reino do Céu.
    Felizes sereis, quando vos insultarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o género de calúnias contra vós, por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque grande será a vossa recompensa no Céu; pois também assim perseguiram os profetas que vos precederam» (Mt 5, 10-12). À partida, pode parecer mais fácil ficar por uma atitude complacente, por um silêncio diplomático, renunciando à missão profética, a falar em nome de Deus, como é próprio de baptizados, de religiosos. Mas a felicidade só se alcança na partilha da sorte dos profetas e, sobretudo, da sorte do grande profeta, Jesus.

    Oratio

    Senhor Jesus, dá-me a coragem do teu Precursor. Muitas vezes me acanho, quando sou chamado a dar testemunho da fé, a denunciar os abusos da sociedade de que faço parte. O medo de ser incompreendido, o medo de perder alguns amigos, travam-me a língua para falar, e paralisam-me as mãos para agir de modo coerente com o Evangelho que, apesar de tudo, quero viver.
    Infunde em mim, Senhor, o teu Espírito de fortaleza, que me aqueça o coração, me encha de uma alegria mais forte do que o medo, me faça testemunha corajosa da verdade que és Tu. Amen.

    Contemplatio

    S. João Baptista entrega-se à penitência e à reparação pelo seu povo, como os profetas. Como Jeremias, é santificado no seio de sua mãe. É o novo Elias, predito por Malaquias. Desde a sua infância entrega-se à penitência. «Não beberá nem vinho nem cidra», diz o anjo a Zacarias. Passa a sua adolescência no deserto, está vestido com uma túnica de peles de camelo apertada por um cinto de couro; come mel silvestre e gafanhotos. «Que fostes ver ao deserto? diz Jesus aos seus discípulos. Não é um homem molemente vestido. É um anjo, que não come nem bebe» (Mt 11, 18). Nosso Senhor exprime assim a extrema mortificação do Precursor. É um profeta, um asceta. S. Bernardo chama-o patriarca, o mestre e o guia dos religiosos. Como os religiosos contemplativos, amou a solidão, a oração, a penitência; como os religiosos apostólicos, pregou a todas as classes da sociedade, reconduziu um grande número de pecadores, conduziu as almas a Jesus Cristo. Imitemos a sua penitência e o seu zelo.
    S. João Baptista foi mártir da pureza. Amava ardentemente a virgindade. Viveu virgem. Não podia sofrer a visão da impureza. Atacava nos seus discursos todas as desordens de costumes, sem medo de ofender os grandes. Censurou mesmo a Herodes ter tomado por esposa a mulher do seu irmão ainda vivo. É esta firmeza apostólica e este amor da pureza que lhe atraíram a perseguição e lhe valeram o martírio. Herodes e esta mulher que ele tinha desposado contrariamente às leis e à decência não lhe perdoavam as suas censuras. Foi nos excessos mesmos da sua vida sensual e desordenada que conjuraram contra a sua vida. Foi no meio das danças e dos festins que o mandaram matar. Era ao mesmo tempo mártir ou testemunha da santa virtude de pureza, e reparador pelas orgias nas quais pronunciavam a sua condenação. Era um anjo pela sua pureza. O evangelho e os profetas dão-lhe este belo título: «Enviarei o meu anjo diante do Messias», tinha dito o Senhor na profecia de Malaquias (3, 1).
    Nosso Senhor mesmo faz a aplicação desta profecia: «Foi dele, diz, que o profeta disse: Enviarei um anjo diante de vós para vos preparar os caminhos» (Mt 11, 10). (Leão Dehon, OSP 3, p. 688s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Dai Senhor à vossa Igreja, profetas e santos».

    | Fernando Fonseca, scj |

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