Week of Out 30th

  • XXXI Semana - Segunda-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XXXI Semana - Segunda-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    31 de Outubro, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares
    XXXI Semana - Segunda-feira
    Lectio

    Primeira leitura: Filipenses 2, 1-4

    Irmãos: 1Se tem algum valor uma exortação em nome de Cristo, ou um conforto afectuoso, ou uma solidariedade no Espírito, ou algum afecto e compaixão, 2então fazei com que seja completa a minha alegria: procurai ter os mesmos sentimentos, assumindo o mesmo amor, unidos numa só alma, tendo um só sentimento; 3nada façais por ambição, nem por vaidade; mas, com humildade, considerai os outros superiores a vós próprios, 4não tendo cada um em mira os próprios interesses, mas todos e cada um exactamente os interesses dos outros.

    Depois de exortar os Filipenses a comportar-se de modo digno do Evangelho, e de se oferecer a si mesmo como exemplo de luta contra os adversários da Boa Nova, Paulo continua o discurso de modo mais claro: primeiro aponta o fundamento que é Cristo (v. 1), depois, ao terminar, uma consequência de carácter antropológico (v. 4). Pelo meio (v. 2) o Apóstolo afirma o seu direito a receber uma gratificação pessoal pelo seu ministério: «fazei com que seja completa a minha alegria: procurai ter os mesmos sentimentos, assumindo o mesmo amor, unidos numa só alma, tendo um só sentimento» (v. 2).
    O "se" com que começa o versículo 1 não exprime uma hipótese, mas uma certeza. Este recurso literário é importante para compreendermos o pensamento de Paulo porque, na sua concepção, tudo o que existe de bom, de belo e de santo, deriva de Cristo e do seu mistério pascal, que se dilata na mente, no coração e nas relações entre os crentes. A segunda parte da leitura (v. 3s.) contém uma formulação negativa em vista da positiva. Paulo exorta a extirpar da comunidade todo o espírito de rivalidade, de vaidade ou de vanglória, recomendando a humildade, a estima uns pelos outros, o desinteresse pessoal e a generosidade a toda a prova (cf. v. 3s.).

    Evangelho: Lucas 14, 12-14

    Naquele tempo, 12Disse Jesus a um dos principais fariseus, que O tinha convidado para uma refeição: «Quando deres um almoço ou um jantar, não convides os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem os teus vizinhos ricos; não vão eles também convidar-te, por sua vez, e assim retribuir-te. 13Quando deres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. 14E serás feliz por eles não terem com que te retribuir; ser-te-á retribuído na ressurreição dos justos.»

    Mais uma vez, no ambiente de uma refeição, depois de ter curado um hidrópico em dia de sábado, e depois de ter proposto uma parábola, Jesus adverte o chefe dos fariseus que O tinha convidado. As palavras de Jesus brotam da sua experiência, da observação atenta das realidades e comportamentos dos que O rodeiam. O Mestre interpreta tudo de modo simbólico e transfere-o para o domínio religioso. As duas partes deste pequeno texto correspondem-se perfeitamente: o paralelismo antitético facilita a sua compreensão: «Quando deres um almoço ou um jantar... pelo contrário, quando deres um banquete...». O ensinamento claro de Jesus vai direito à sensibilidade dos seus destinatários. Jesus alerta para um comportamento de aparente generosidade, que, na realidade, é egoísta. Este tipo de comportamento, não só é mesquinho, mas também compromete as relações interpessoais. A situação oposta, sugerida por Jesus, traduz, pelo contrário, um convite genuinamente evangélico, que leva ao centro da doutrina de Jesus: privilegiar os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos, que são aqueles que o Senhor ama. É a mensagem das bem-aventuranças (Lc 6, 20-26). A bem-aventurança, e a promessa do v. 14, completam admiravelmente o ensinamento de Jesus.

    Meditatio

    Por vezes, atrás de um gesto aparentemente magnânimo, como convidar alguém para uma refeição, pode esconder-se um sentimento egoísta. É o que sucede quando o convite é feito apenas por obrigação, por conveniência social, por mera simpatia ou porque se espera retribuição. Obviamente, o tema do evangelho, que tem ressonância já no final da primeira leitura, é o da gratuidade, acompanhado e valorizado pela «opção preferencial pelos pobres», que não é uma descoberta dos cristãos de hoje, mas a quinta-essência do Evangelho. Todavia, este termo precisa de ser libertado do significado simplesmente material, que hoje somos tentados a dar-lhe, uma vez que valorizamos excessivamente o aspecto económico das nossas acções e gestos: tudo o que fazemos, tudo o que produzimos, há-de ter um valor económico. Jesus, pelo contrário, quer educar-nos a uma avaliação também espiritual, isto é, integral e mais completa das nossas acções e opções.
    Gratuidade significa e implica, por conseguinte: mais atenção aos outros do que a nós mesmos, reconhecer nos outros um valor objectivo, porque todos levam em si a imagem e a semelhança de Deus, sendo, por isso mesmo, dignos de atenção, de estima e de amor.
    Compreendemos, então, o sentido da bem-aventurança proclamada por Jesus no v. 14 desta página do evangelho e, sobretudo, a promessa de uma recompensa que, segundo a lógica de Deus, temos assegurada quando da «ressurreição dos justos».
    Lemos nas Constituições: a «pobreza segundo o Evangelho convida-nos a libertar-nos da sede de posse e de prazer que sufoca o coração do homem. Estimula-nos a viver na confiança e na gratuidade do amor» (n. 46). Por outras palavras, a pobreza evangélica torna-se exercício de verdadeira caridade, a exemplo dos primeiros cristãos de Jerusalém: «Entre eles não havia ninguém necessitado, pois todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas, traziam o produto da venda e depositavam-no aos pés dos Apóstolos. Distribuía-se, então, a cada um, conforme a necessidade que tivesse» (Act 4, 34-35).
    Quem partilha desinteressadamente os bens, convida as realidades humanas a serem sacramento da presença amorosa de Deus entre os homens e instrumentos de comunhão entre os irmãos. O verdadeiro pobre, segundo o Evangelho é aquele que, trabalhando, multiplica os bens (os talentos) e contribui para melhorar a vida de todos (cf. parábola dos talentos, Mt 25, 14-30).
    Na multiplicação dos bens, e na relação com os outros, há um perigo: é-se tentados a possuir, a assegurar bens e a entrar em concorrência, em luta com os outros e, se formos mais fortes, mais hábeis, podemos chegar a instrumentalizá-los a explorá-los. Desse modo, em vez de sermos bons companheiros de viagem e irmãos que se ajudam mutuamente, podemos tornar-nos senhores dos outros, possui-los como coisas. É assim que o homem, com violência, satisfaz a sua ânsia de domínio, priva os outros da sua liberdade, e os instrumentaliza para se auto-afirmar. Assim, isola-se no seu egoísmo e, não reconhecendo a dignidade humana dos outros, despedaça todo a verdadeira relaç&atilde
    ;o pessoal, e nega a si mesmo realizar-se como pessoa. Torna-se um tirano, um explorador, um bruto, e não uma pessoa. A gratuidade realiza o homem, torna-o feliz.

    Oratio

    Senhor, dá-me uma vontade sincera de partilhar, generosa e gratuitamente, o que sou e o que tenho, com todos os meus irmãos, para que me torne sacramento do teu amor e instrumento de comunhão na Igreja e no mundo. Ajuda-me a ser pobre, segundo o teu Evangelho, não só contentando-me com o que recebi, mas sentindo-me responsável pela multiplicação e distribuição dos bens, contribuindo assim para melhorar a vida de todos. Então, a minha pobreza será caridade.
    Que eu jamais me deixe prender pela ânsia em possuir e pelo desejo do prazer. Animado pelo teu Espírito, ajuda-me a viver na confiança em Ti e na gratuidade do amor pelos meus irmãos. Amen.

    Contemplatio

    S. Paulo prega-nos a caridade, a sua necessidade, os seus deveres, a sua perpetuidade, a sua excelência (1 Cor 13).
    «Ainda que tivesse o dom das línguas, diz S. Paulo, com o dom da ciência e da profecia e uma fé capaz de transportar as montanhas, se não tenho caridade não sou nada. Ainda que desse todos os meus bens aos pobres e passasse no fogo pelo meu próximo, se faço isso por vaidade e não por caridade, não é nada».
    Ó Deus de caridade, dai-me a caridade, a participação na vossa bondade, sem a qual nada vos pode agradar. Que eu me torne vosso filho verdadeiramente bom e amante, amante por vós sobretudo que mereceis tanto amor, amante também para com o meu próximo, para com os vossos filhos que são meus irmãos. A caridade é paciente, é benevolente. Não é invejosa, agitada, orgulhosa. Não é egoísta, mas dedicada. Não é irascível. Não suspeita facilmente o mal. Não se alegra com as fraquezas do próximo.
    Suporta todas as contradições. Sinto que ela me falta muito, humilho-me por isso e Peço-vos perdão, ó meu Deus. Quero caminhar na caridade, crescer na caridade, praticar as suas obras e começar hoje com algum acto prático.
    A caridade é o dom mais precioso. Não acaba com a vida. Ela continua e aperfeiçoa-se no céu. Os outros dons cessarão, os dons das línguas e da profecia, e a ciência incompleta da terra. Mesmo a fé cessará, porque nós veremos a Deus, e a esperança também, porque nos encontraremos no termo. A caridade é eterna. Aqui em baixo, a fé, a esperança e a caridade são necessárias. No céu, só a caridade permanecerá.
    Devo, portanto, amar a caridade acima de tudo. Devo desejá-la, pedi-la a Deus e nela me exercitar sem cessar. (Leão Dehon, OSP 3, p. 183s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Não tenhais em mira os vossos interesses, mas os dos outros» (Fl 2, 4).

    | Fernando Fonseca, scj |

     

  • XXXI Semana - Terça-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XXXI Semana - Terça-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    1 de Novembro, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares

    XXXI Semana - Terça-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Filipenses 2, 5-11
    Irmãos: 5Tende entre vós os mesmos sentimentos, que estão em Cristo Jesus: 6Ele, que é de condição divina,não considerou como uma usurpação ser igual a Deus; 7no entanto, esvaziou-se a si mesmo, tomando a condição de servo. Tornando-se semelhante aos homens e sendo, ao manifestar-se, identificado como homem, 8rebaixou-se a si mesmo, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. 9Por isso mesmo é que Deus o elevou acima de tudo e lhe concedeu o nome que está acima de todo o nome, 10para que, ao nome de Jesus, se dobrem todos os joelhos, os dos seres que estão no céu, na terra e debaixo da terra; 11 e toda a língua proclame: "Jesus Cristo é o Senhor!", para glória de Deus Pai.
    Escutamos, hoje, um dos mais belos e intensos textos de Novo Testamento. Trata-se de um hino cristológico de fundamental importância, provavelmente recolhido por Paulo de uma tradição anterior e que ele nos transmite. O Apóstolo introduz o texto com uma exortação: «Tende entre vós estes sentimentos, que estão em Cristo Jesus» (v. 5). Não estamos perante uma vaga recomendação, mas perante uma autorizada indicação a caminhar, vivendo como Jesus viveu. A exemplaridade de Jesus é fundamentada no «seu mistério» que, por sua vez, ilumina a vida dos cristãos.
    O hino subdivide-se em duas partes: Os vv. 6-8 descrevem a katábasis, o esvaziamento de Jesus que, sendo Deus, se fez homem, «tomando a condição de servo» e humilhando-se «até à morte e morte de cruz». Os vv. 9-11 descrevem a anábasis, isto é, a exaltação de Jesus pelo Pai, ao ressuscitá-lo dos mortos e ao conceder-lhe «o nome que está acima de todo o nome», adorável no céu e na terra, e que deve ser proclamado a todo o mundo: «Jesus Cristo é o Senhor!» (v. 11). O mistério de Cristo é sintetizado de modo linear e completo: a fé do cristão encontra aqui o seu centro e a sua síntese, graças a Paulo que, não só se fez evangelizador dele, mas também - em primeiro lugar - foi discípulo e testemunha.

    Evangelho: Lucas 14, 15-24
    Naquele tempo, disse a Jesus um dos que estavam com ele à mesa: 15«Feliz o que comer no banquete do Reino de Deus!» 16Ele respondeu-lhe:«Certo homem ia dar um grande banquete e fez muitos convites. 17À hora do banquete, mandou o seu servo dizer aos convidados: 'Vinde, já está tudo pronto.' 18Mas todos, unanimemente, começaram a esquivar-se. O primeiro disse: 'Comprei um terreno e preciso de ir vê-lo; peço-te que me dispenses.' 19Outro disse: 'Comprei cinco juntas de bois e tenho de ir experimentá-las; peço-te que me dispenses.' 20E outro disse: 'Casei-me e, por isso, não posso ir.' 21O servo regressou e comunicou isto ao seu senhor. Então, o dono da casa, irritado, disse ao servo: 'Sai imediatamente às praças e às ruas da cidade e traz para aqui os pobres, os estropiados, os cegos e os coxos.' 22O servo voltou e disse-lhe: 'Senhor, está feito o que determinaste, e ainda há lugar.' 23E o senhor disse ao servo: 'Sai pelos caminhos e azinhagas e obriga-os a entrar, para que a minha casa fique cheia.' 24Pois digo-vos que nenhum daqueles que foram convidados provará do meu banquete.»
    Lucas passa espontaneamente de um banquete humano ao banquete escatológico. Por isso, liga a parábola ouvida ontem à de hoje, introduzindo a expressão: «Feliz o que comer no banquete do Reino de Deus!» (v. 15). Trata-se da participação na comunhão com Deus, quando da «ressurreição dos justos»: a dimensão escatológica da nossa fé e da nossa experiência é mais do que evidente.
    A parábola refere vários convites e várias recusas daqueles que não compreenderam a novidade da presença de Jesus, nem sentiram necessidade da salvação. É interessante sublinhar como nesta parábola está delineada a história da salvação: a cada convite e a cada recusa pode-se quase pensar que correspondam outras tantas fases de uma história visitada por Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.
    O momento culminante da parábola parece ser a palavra do dono da casa: «Sai imediatamente às praças e às ruas da cidade e traz para aqui os pobres, os estropiados, os cegos e os coxos» (v. 21). Equivale a dizer que, no banquete messiânico, irão tomar parte os excluídos e serão excluídos os que a ele teriam direito. Confirma-se mais uma vez a lei da Nova Aliança, a bondade de Deus, o objectivo central da mensagem e da presença de Jesus no meio de nós.

    Meditatio
    O texto evangélico apresenta-nos, hoje, uma das chamadas "parábolas do convite divino". Esta parábola, assim entendida, ajuda-nos a compreender toda a liturgia deste dia. Notamos, por um lado, a figura daquele que convida: o Pai que, em todo o tempo e lugar, por meio do Filho, manifesta a sua vontade de salvação universal. Aparece-nos também a figura daquele que, em nome de Deus-Pai, se fez por nós "evangelho", no sentido em que não se contentou em falar em nome de Deus, mas se fez Palavra incarnada, viva no meio de nós. E, ao lado do Pai e do Filho, aparecem-nos os convidados, que somos nós e todos aqueles que, nos vários tempos e lugares, entram em contacto com a Boa Nova. E é aqui que nos damos conta da dramaticidade da narrativa, que já não é uma simples parábola, mas uma história viva, coerente e sempre actual. Nessa história, cada um de nós é chamado a "jogar" a si mesmo em total liberdade de decisão, mas também na responsabilidade das suas opções. É óptimo que a parábola torne claro para nós aquilo que é do agrado de Deus, aquilo que Jesus veio fazer ao mundo, o objecto da pregação apostólica: Deus ama, tem predilecção e tem como filhos muito amados aqueles que a sociedade marginaliza e considera insignificantes e inúteis. O convite que, portanto, nos é dirigido é que sejamos pobres em sentido evangélico, isto é, tenhamos consciência do nosso pecado, nos enchamos de dor e desejemos encontrar o Médico divino. Esse Médico é Jesus, que se humilhou a si mesmo para assumir a nossa pobreza, o nosso pecado, e morrer para nossa redenção. Nós somos chamados a esvaziar-nos do nosso pecado para nos enchermos da sua riqueza e participarmos da sua glória.
    Na parábola (cf. Lc 14, 17-24), os convidados recusam-se a participar porque estão impedidos pelos bens terrenos: os campos, as cinco juntas de bois, a mulher... A profissão dos Conselhos Evangélicos, liberta-nos dos impedimentos que nos afastam do acolhimento do convite do Senhor para o banquete da salvação. Fazem-nos livres para acolher o dom de Deus. O esforço para alcançar essa liberdade em Jesus Cristo é, para o mundo, um testemunho e, para nós, uma tarefa
    permanente (Cst n. 40) que realizamos pela profissão dos conselhos evangélicos, com os votos de celibato consagrado, de pobreza e de obediência (cf. LG 44; PC 1), que nos libertam para o amor autêntico, segundo o espírito das Bem-aventuranças (cf. LG 31) (Cst. 40).
    Lembra a Lumen Gentium: «os religiosos, pelo seu estado, dão alto e exímio testemunho de que o mundo não pode transfigurar-se e oferecer-se a Deus sem o espírito das bem-aventuranças (LG 31b)». Mas todos os cristãos são chamados a praticar as bem-aventuranças em virtude da sua "profissão" baptismal: «Os cristãos, que tomam parte activa no desenvolvimento... mantenham, no meio das actividades terrestres, a justa hierarquia dos valores, fidelidade a Cristo e ao Seu Evangelho, de tal modo que toda a sua vida, individual e social, fique embebida do espírito das bem-aventuranças, particularmente do espírito de pobreza» (GS n. 72). O espírito de pobreza torna-nos disponíveis para acolher o dom de Deus. Nós, dehonianos, pela profissão religiosa e pela prática dos conselhos evangélicos, devemos ser as testemunhas por excelência, no meio do povo de Deus, desta exigência das bem-aventuranças na prática de uma autêntica vida cristã.

    Oratio
    Senhor, liberta-me dos obstáculos que me impedem de acolher cordialmente os teus dons e, sobretudo, o dom que és Tu mesmo. Liberta-me do meu passado, glorioso ou carregado de injustiças e de ressentimentos; liberta-me do meu presente mesquinho ou cativante. Liberta-me para Te aceitar na minha vida e Te seguir pelos caminhos do Evangelho, anunciando e levando a todos a verdadeira liberdade.
    Que, no meio da multidão super ocupada na busca dos próprios interesses, ou no gozo dos prazeres mais ou menos legítimos, eu esteja atento e corresponda aos teus convites, sem recorrer a desculpas esfarrapadas.
    Ajuda-me a seguir-te com honestidade e constância, realizando fielmente a minha missão, pequena ou grande, muitas vezes exigente e nem sempre popular. Só Tu és o meu caminho, que quero percorrer com alegria todos os dias da minha vida. Amen.

    Contemplatio
    Entre estes ultrajes, alguns devem ser assinalados; e em primeiro lugar a negligência com a qual vários sacerdotes celebram o santo Sacrifício da Missa e várias pessoas dedicadas, na aparência, à piedade recebem a santa Comunhão. Nesta categoria entram todos aqueles que, não honrados com o sacerdócio, mas pertencendo a uma sociedade religiosa, ou chamados à piedade, recebem a santa Comunhão com indiferença ou dela se afastam pela dureza do coração e pelo esquecimento. Nosso Senhor mesmo assinala no Evangelho como esta conduta lhe é sensível. - Um rei, diz, tinha mandado preparar um festim de núpcias, e quando chegou a hora, enviou os seus servos a chamar os convidados, mas todos recusavam sob um pretexto ou outro. Um quer ir ver uma casa que comprou, é a vã curiosidade; o outro comprou cinco juntas de bois que vai experimentar, é o apego aos bens deste mundo; o outro casou-se, é o amor dos prazeres. - Assim acontece com a Eucaristia. Aquele que está dominado pela curiosidade, pela avareza ou pela volúpia, mesmo quando não caísse em pecado mortal, ou se abstém realmente da santa Eucaristia, ou dela se afasta pelo coração; recebe-a por rotina, por hábito, sem preparação, sem desejo, sem esforço por se corrigir, sem acção de graças, sem o seu coração, numa palavra.
    É assim que tratamos o amor no seu sacramento mesmo? E, todavia, se consultássemos o seu interesse espiritual bem entendido, que frutos retiraríamos de uma só Missa bem celebrada, de uma Comunhão bem feita?
    Catarina Emmerich pinta-nos muito vivamente estas distracções perfeitamente voluntárias, e que vêm não da imaginação, mas do coração. - Viu, diz ela, um padre indo ao altar para celebrar; colocou sobre ele o cálice, depois revestido com os seus ornamentos sacerdotais, foi para uma casa do campo que possuía, a fim de vigiar os animais, ou a outros lugares análogos, sem pensar mais no santo Sacrifício.
    É absolutamente a parábola dos convidados aplicada àqueles que assumem a aparência de celebrarem os santos mistérios, mas cujo coração está bem longe de lá, todo ocupado no objecto da sua paixão. Que dor para o Coração sacerdotal de Jesus! Onde está o meu sacerdote, diz? Onde está o meu amigo? Tenho o meu Coração e as minhas mãos cheios de graças para lhos dar. - Não está lá, Senhor, está onde ama, como diz Sto. Agostinho, e não vos ama muito. - O Coração Eucarístico de Jesus já não pode sofrer, mas que sofrimento experimentou desta ingratidão, durante a sua vida mortal, Ele tão terno, tão bom e tão delicado! (Leão Dehon, OSP 2, p. 481s.).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Jesus Cristo é o Senhor!»
    | Fernando Fonseca, scj |

  • Comemoração de Todos os fiéis Defuntos

    Comemoração de Todos os fiéis Defuntos


    2 de Novembro, 2022

    A Igreja, acolhendo uma tradição monástica que vem do século XI, dedica o dia 2 de Novembro à memória dos fiéis defuntos. Depois de ter celebrado a glória e a felicidade dos Santos, no dia 1 de Novembro, a Igreja dedica o dia 2 à oração de sufrágio pelos "irmãos que adormeceram na esperança da ressurreição". Assim fica perfeita a comunhão de todos os crentes em Cristo.
    Lectio
    Primeira leitura: Job 19, 1.23-27ª

    Job respondeu, dizendo: 2«Até quando afligireis a minha alma e me atormentareis com vãs palavras? 23Quem me dera que as minhas palavras se escrevessem e se consignassem num livro, 24ou gravadas em chumbo com estilete de ferro, ou se esculpissem na pedra para sempre! 25Eu sei que o meu redentor vive e prevalecerá, por fim, sobre o pó da terra; 26e depois de a minha pele se desprender da carne, na minha própria carne verei a Deus. 27Eu mesmo o verei, os meus olhos e não outros o hão-de contemplar! As minhas entranhas consomem-se dentro de mim.

    Os amigos de Job tentam consolá-lo, recorrendo a uma sabedoria superficial, expressa em frases feitas e lugares comuns. É o que tantas vezes acontece quando pretendemos confortar alguém que sofre. As palavras de Job são muito diferentes. No meio do sofrimento, vendo-se às portas da morte e trespassado pela solidão, compreende que Deus é o seu redentor, aquele parente próximo que, segundo os costumes hebreus, deve comprometer-se a resgatar, à sua própria custa, ou a vingar, o seu familiar em caso de escravidão, de pobreza, de assassínio. Job sente Deus como o seu último e definitivo defensor, como alguém que está vivo e se compromete em favor do homem que morre, porque entre Deus e o homem há uma espécie de parentesco, um vínculo indissolúvel. Job afirma-o com vigor: os seus olhos contemplarão a Deus com a familiaridade de quem não é estranho à sua vida.
    Segunda leitura: Romanos 5, 5-11

    Irmãos: A esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. 6De facto, quando ainda éramos fracos é que Cristo morreu pelos ímpios. 7Dificilmente alguém morrerá por um justo; por uma pessoa boa talvez alguém se atreva a morrer. 8Mas é assim que Deus demonstra o seu amor para connosco: quando ainda éramos pecadores é que Cristo morreu por nós. 9E agora que fomos justificados pelo seu sangue, com muito mais razão havemos de ser salvos da ira, por meio dele. 10Se, de facto, quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com Ele pela morte de seu Filho, com muito mais razão, uma vez reconciliados, havemos de ser salvos pela sua vida. 11Mais ainda, também nos gloriamos em Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem agora recebemos a reconciliação.

    O homem pode ter esperança diante da morte. Como intuiu Job, Deus é, de verdade, o nosso Redentor, porque nos ama. Empenhou-se em resgatar-nos da escravidão do pecado e da morte com o preço do sangue do seu Filho (vv. 6-9) e de modo absolutamente gratuito. De facto, nós éramos pecadores, ímpios, inimigos; mas o Senhor reconheceu-nos como "seus", e morreu por nós arrancando-nos à morte eterna. Acolhemos esta graça por meio do batismo, participando no mistério pascal de Cristo. A sua morte reconciliou-nos com o Pai, e a sua ressurreição permite-nos viver como salvos. Quebrando os laços do pecado, e deixando-nos guiar pelo Espírito derramado em nossos corações, atualizamos cada dia a graça do nosso novo nascimento.
    Evangelho: João 6, 37-40

    Naquele tempo, Jesus disse à multidão: Todos os que o Pai me dá virão a mim; e quem vier a mim Eu não o rejeitarei, 38porque desci do Céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. 39E a vontade daquele que me enviou é esta: que Eu não perca nenhum daqueles que Ele me deu, mas o ressuscite no último dia. 40Esta é, pois, a vontade do meu Pai: que todo aquele que vê o Filho e nele crê tenha a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia.»

    O centro desta perícopa é a vontade de Deus, para a qual está totalmente voltada a missão de Jesus (v. 38). Essa vontade é um desígnio de vida e de salvação oferecido a todos os homens, pela mediação de Cristo, para que nenhum se perda (v. 39). O desígnio de Deus manifesta, pois, a sua ilimitada gratuidade e, ao mesmo tempo, a sua caridade atenta e cuidadosa por cada um de nós. Para acolhê-la, é preciso o livre consentimento da fé: que acredita no Filho tem, desde já, a vida eterna, porque adere Àquele que é a ressurreição e a vida, o único que pode levar-nos para além do intransponível limite da morte.
    Meditatio

    O silêncio é a melhor atitude perante a morte. Introduzindo-nos no diálogo da eternidade e revelando-nos a linguagem do amor, põe-nos em comunhão profunda com esse mistério imperscrutável. Há um laço muito forte entre os que deixaram de viver no espaço e no tempo e aqueles que ainda vivem neles. É verdade que o desaparecimento físico dos nossos entes queridos nos causa grande sofrimento, devido à intransponível distância que se estabelece entre eles e nós. Mas, pela fé e pela oração, podemos experimentar uma íntima comunhão com eles. Quando parece que nos deixam, é o momento em que se instalam mais solidamente na nossa vida, permanecem presentes, fazem parte da nossa interioridade. Encontramo-los na pátria que já levamos no coração, lá onde habita a Santíssima Trindade. Escreveu o Pe. Dehon: "Vivo muito com os meus mortos: os meus pais, amigos, antigos diretores, antigos alunos. Uma centena dos meus religiosos já partiu para junto do Bom Deus, entre eles, homens que muito trabalharam e rezaram... Saúdo-os todas as manhãs e todas as noites, com os meus padroeiros celestes" (NQT XLIV, 139).
    Paulo encoraja-nos a vivermos positivamente o mistério da morte, confrontando-nos com ela todos os dias, aceitando-a como lei de natureza e de graça, para sermos progressivamente despojados do que deve perecer até nos vermos milagrosamente transformados no que devemos ser. Deste modo, a "morte quotidiana" revela-se um nascimento: o lento declínio e o pôr-do-sol tornam-se aurora luminosa. Todos os sofrimentos, canseiras e tribulações da vida fazem parte desta "morte quotidiana" que nos levará à vida imortal. Havemos de viver fixando os olhos na bem-aventurada esperança, confiando na fidelidade do Senhor, que nos prometeu a eternidade. Vivendo assim, quando chegar ao termo desta vida, não veremos descer as trevas da noite, mas veremos erguer-se a aurora da eternidade, onde teremos a alegria de nos sentir uma só coisa com o Senhor. Depois de muitas tribulações, seremos completamente seus, e essa pertença será plena bem-aventurança na visão do seu rosto.
    Para o cristão, o sofrimento é um tempo de "disponibilidade pura", de "pura oblação" e, ao mesmo tempo, uma forma eminente de apostolado, em união a Cristo vítima, na comunhão dos santos, para salvação do mundo. Vivendo assim, prepara-se, assim, para o supremo ato de oblação, para o último apostolado, o da morte: configurados "a Cristo na morte" (Fil 3, 10) (Cf. Cst n. 69).Se a morte de Cristo na Cruz é o ato de apostolado mais eficaz, que remiu o mundo, o mesmo se pode dizer da morte do cristão em união com a morte de Cristo. Não se quer com isto dizer que, sob o ponto de vista humano, a morte do cristão deva ser uma "morte bonita", tal como não foi bonita, com certeza, a morte de Cristo aos olhos dos homens. Foi, pelo contrário, uma "liturgia esquálida", de abandono e de desolação. O importante é que seja uma morte "para Cristo e em Cristo" (S. Inácio de Antioquia, SC 10, 132). Imolados com Ele, com Ele ressuscitaremos.
    Se, na humildade do dia a dia, vivemos a nossa oblação-imolação com Cristo, oblato e imolado pela salvação do mundo, estamos preparados para o último apostolado da nossa vida: a oblação-imolação da nossa morte, o extremo sacrifício, consumado pelo fogo do Espírito, como aconteceu na morte de Cristo na cruz: "Por um Espírito eterno ofereceu a Si mesmo sem mancha, a Deus" (Heb 9, 14). A morte é, então, a nossa última oferta, o momento da suprema, pura oblação: "Se morrermos com Ele, com Ele viveremos" (2 Tm 2, 11).
    Oratio

    Senhor, quero hoje rezar-te por aqueles que desapareceram no mistério da morte. Dá o descanso àqueles que expiam, luz aos que esperam, paz aos que anseiam pelo teu infinito amor. Descansem em paz: na paz do porto seguro, na paz da meta alcançada, na tua paz, Senhor. Vivam no teu amor aqueles que amaste, aqueles que me amaram. Não esqueças o bem que me fizeram, o bem que fizeram a outros. Esquece tudo o mal que praticaram, risca-o do teu livro. Aos que passaram pela dor, àqueles que parecem ter sido imolados por um iníquo destino, revela, com o teu rosto, os segredos da tua justiça, os mistérios do teu amor. Concede-me aquela vida interior que permite comunicar com o mundo invisível em que se encontram os nossos defuntos: esse mundo fora do tempo e do espaço, esse mundo que não é lugar, mas estado, e mundo que não está longe de mim, mas à minha volta, esse mundo que não é de mortos, mas de vivos. Ámen.
    Contemplatio

    O amor ultrapassa o temor e a esperança. O amor não destrói o temor nem a esperança, mas retira-lhes o que o amor-próprio lhe pode misturar de visões mercenárias. O amor não conhece habitualmente outro temor senão o temor filiar, isto é, o medo de desagradar a um Pai bem-amado. Sendo filho do amor, este temor é de uma atenção e delicadeza totalmente diferentes do medo da justiça divina e dos seus castigos. Leva a evitar as mínimas faltas, as mais pequenas imperfeições voluntárias. Em vez de comprimir e de gelar o coração, alarga-o e aquece-o. Não causa nenhuma perturbação, nenhum alarme; e mesmo quando escapa alguma falta, reconduz docemente a alma ao seu Deus através de um arrependimento tranquilo e sincero. Procura acalmar-se e reparar abundantemente da mágoa que se lhe pôde causar. De resto, não se inquieta nem perde a confiança. O amor tira também à esperança o que ela tem de demasiado pessoal. Aquele que ama não sabe outra coisa senão contar com Deus, nem fazer boas obras principalmente com o objetivo de acumular méritos; e por este nobre desinteresse, merece incomparavelmente mais. Esquecendo tudo o que fez por Deus, não pensa noutra coisa senão em fazer ainda mais. Não se apoia sobre si mesmo; visa a recompensa celeste menos sob o título de recompensa do que como uma garantia de amar o seu Deus com todas as suas forças e de ser por Ele amado durante a eternidade. Sem excluir a esperança, que lhe é natural, considera a felicidade mais do lado do bom agrado do seu Deus e da sua glória que lhe pertence do que do lado do seu próprio interesse. E quando o amor está no seu ponto mais elevado de perfeição, estaria disposto a sacrificar a sua felicidade própria à vontade divina, se exigisse dele este sacrifício. Coloca a sua felicidade no cumprimento desta vontade. O coração dos Santos atingiu mesmo sobre a terra este grau de pureza. É a disposição dos bem-aventurados no céu. É preciso, portanto, que o amor seja purificado a este grau neste mundo, ou no outro pelas penas do purgatório. Há, portanto, que deliberar sobre esta escolha? E quando a via do amor não tivesse outra vantagem senão a de nos isentar do purgatório ou de lhe abreviar consideravelmente a duração, poderíeis hesitar em abraçá-la? (Leão Dehon, OSP 2, p. 16s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive a palavra:
    «Dai-lhes, Senhor, o eterno descanso,
    entres os esplendores da luz perpétua.
    Fazei que descansem em paz.
    Ámen»

     

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    Comemoração de Todos os fiéis Defuntos (2 de Novembro)

    XXXI Semana - Quarta-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XXXI Semana - Quarta-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    2 de Novembro, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares

    XXXI Semana - Quarta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Filipenses 2, 12-18
    12Caríssimos, 12na mesma medida em que sempre fostes obedientes - não só como aconteceu na minha presença, mas agora com muito mais razão na minha ausência - trabalhai com temor e tremor pela vossa salvação. 13Pois é Deus quem, segundo o seu desígnio, opera em vós o querer e o agir. 14Fazei tudo sem murmurações nem discussões, 15para serdes irrepreensíveis e íntegros, filhos de Deus sem mancha, no meio de uma geração perversa e corrompida; nela brilhais como astros no mundo. 16Conservai a palavra da vida. Para mim será um motivo de glória para o dia de Cristo, por não ter corrido em vão nem me ter esforçado em vão. 17Mas alegro-me até mesmo se o meu sangue tiver de ser derramado em sacrifício e oferta pela vossa fé; sim, com todos vós me alegro. 18Do mesmo modo, alegrai-vos também vós; sim, alegrai-vos comigo.
    Paulo dirige algumas recomendações aos cristãos de Filipos. Cada uma tem a sua motivação e explicação.
    Em primeiro lugar, os cristãos devem dedicar-se com temor e tremor à sua salvação (v. 12); ao mesmo tempo, devem lembrar-se de que só Deus pode suscitar neles a capacidade de viver de acordo com a sua vontade (v. 13).
    Em segundo lugar, os cristãos devem resplandecer como astros no mundo (v. 15); não para se exibirem, mas para conservarem «a palavra da vida» (v. 16ª).
    Em terceiro lugar, os cristãos hão-de contribuir para o crescimento da alegria do Apóstolo, na medida em que se dispuserem a oferecer a vida em sacrifício agradável a Deus, em oblação; isto, não por simples satisfação pessoal, mas para se assemelharem a Cristo Jesus e se disporem para a comunhão com o Pai (v. 16b-17).

    Evangelho: Lucas 14, 25-33
    Naquele tempo, 25Seguiam com ele grandes multidões; e Jesus, voltando-se para elas, disse-lhes: 26«Se alguém vem ter comigo e não me tem mais amor que ao seu pai, à sua mãe, à sua esposa, aos seus filhos, aos seus irmãos, às suas irmãs e até à própria vida, não pode ser meu discípulo. 27Quem não tomar a sua cruz para me seguir não pode ser meu discípulo. 28Quem dentre vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro para calcular a despesa e ver se tem com que a concluir? 29Não suceda que, depois de assentar os alicerces, não a podendo acabar, todos os que virem comecem a troçar dele, 30dizendo: 'Este homem começou a construir e não pôde acabar.' 31Ou qual é o rei que parte para a guerra contra outro rei e não se senta primeiro para examinar se lhe é possível com dez mil homens opor-se àquele que vem contra ele com vinte mil? 32Se não pode, estando o outro ainda longe, manda-lhe embaixadores a pedir a paz. 33Assim, qualquer de vós, que não renunciar a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo.»
    Depois de deixar a casa do fariseu, Jesus encontra-se com a multidão. E o seu discurso torna-se mais íntimo e radical. No texto de hoje, temos duas parábolas (vv. 28-32), precedidas (vv. 25-27) e seguidas por dois convites à renúncia (v. 33). Ambas as parábolas convidam à reflexão antes de empreender qualquer iniciativa, para nos darmos conta se temos capacidade para as terminar. Há que evitar a ligeireza e a temeridade. Uma vez que se decidiu, também é preciso avançar com fidelidade: um fracasso devido à indecisão ou à saudade seria imperdoável. Também o seguimento de Jesus, no caminho que o leva decididamente para Jerusalém e para o Calvário, é uma empresa muito exigente pela qual é preciso jogar toda a vida. É sobre esta realidade que se fundamenta o convite inicial e final desta página evangélica, onde lemos uma das mais radicais exigências de Jesus.
    "Odiar" o pai e a mãe, carregar a cruz e seguir Jesus, renunciar a todos os bens (vv. 26s., e 33), são algumas das exigências que não deixam margem para dúvidas. Pelo contrário, o seu carácter paradoxal fere a nossa sensibilidade e leva-nos a gritar de escândalo. Mas isso seria um modo, mais ou menos elegante, de nos subtrairmos ao convite de Jesus, para continuarmos a fazer o que nos é mais fácil.

    Meditatio
    A acção e as palavras de Jesus nada a ver com uma campanha eleitoral, como as que nós conhecemos, onde o candidato promete mundos e fundos: tudo será melhor, não haverá problemas, a vida será mais fácil e feliz para todos... Jesus, pelo contrário, sendo seguido por «uma grande multidão» - e, portanto, tendo sucesso - não lhe alimenta ilusões, mas dirige-lhe algumas das palavras mais duras que Lhe saíram da boca. Apresenta claramente a exigência da radicalidade evangélica de que falámos na lectio. Essa radicalidade não é genérica nem irracional. O seu convite implica opções que deixam transparecer as grandes motivações da radicalidade que Jesus exige aos discípulos.
    A primeira das opções recai sobre a própria pessoa de Jesus: «Se alguém vem ter comigo... Quem não tomar a sua cruz para me seguir não pode ser meu discípulo» (vv. 26-27). A renúncia aos bens e às pessoas não é fim em si mesma, mas tem em Jesus, mestre e salvador, a sua primeira e última motivação. Não se deixa a família e os bens só por deixar. Deixa-se para alcançar Aquele que nos alcançou. Poder tornar-se discípulo de Jesus é um ganho tão grande que vale a pena deixar tudo e todos por causa d´Ele. O amor a Jesus Cristo é a grande motivação de todas as nossas renúncias, incluindo, se tal for preciso, a renúncia à própria vida. A opção por Cristo implica renúncias que não apresentam uma racionalidade simplesmente humana, mas uma razão que acabará por trazer a definitiva satisfação à mente e ao coração do discípulo.
    É especialmente Lucas que recolhe estes ensinamentos de Jesus. Escrevia para uma comunidade que precisava de ser incentivada a crescer na sua adesão ao essencial do Evangelho. Precisa de evitar distracções com coisas secundárias como preocupações terrenas e desculpas fúteis. Algo de muito actual também para nós.
    «Na Igreja, fomos iniciados na Boa Nova de Jesus Cristo: "Nós conhecemos e cremos no amor que Deus nos tem" (1 Jo 4,16). Recebemos o dom da fé que dá fundamento à nossa esperança... orienta a nossa vida e nos inspira a deixar tudo para seguir a Cristo...» (Cst n. 9).
    A nossa experiência de fé pode resumir-se em três pontos: é uma «adesão total e alegre à Pessoa de Jesus» (Cst n. 14); é uma «união com Cristo no seu amor pelo Pai e pelos homens» (Cst n. 17), por meio da oblação de amor, segundo as exigências de
    uma vocação reparadora, que comporta a experiência da cruz (cf. Cst nn. 17-25); é uma participação na «missão da Igreja» no mundo de hoje (Cst nn. 26-39). Note-se o radicalismo desta fé: adesão de toda a nossa vida à vida de Cristo, isto é, uma fé que «orienta a nossa vida e nos inspira a deixar tudo para seguir a Cristo» (Cst 9; cf. Cst nn. 13-14). Cristo é a motivação fundamental das nossas opções pessoais e comunitárias. É, de verdade, a mais definitiva razão das nossas renúncias e o baricentro da nossa vida.

    Oratio
    Senhor, Tu és a Verdade. Não Te enganas, nem nos enganas. E indicas-nos claramente as condições da felicidade que nos prometes: queres-nos pobres, pobres nos afectos, pobres nas coisas materiais, pobres naquilo que pensaríamos dar-nos uma vida feliz.
    As tuas palavras chocam-nos. Não nos mandaste amar-nos uns aos outros como Tu mesmo nos amas? Porque nos mandas, agora, odiar pai e mãe e a nossa própria vida? Queres com isso dizer-nos que havemos de renunciar a todo o amor possessivo para avançarmos no caminho do amor oblativo, apoiando-nos em Ti. Envia sobre nós o teu Santo Espírito que nos faça compreender que é bastante rico quem te possui a Ti e que só é pobre de afectos quem Te recusa. Infunde em nós o teu Santo Espírito, que faça crescer em nós a caridade verdadeira, e nos dê a força necessária para que, carregando a nossa cruz, sigamos os teus passos. Amen.

    Contemplatio
    Quem está no sacrário? É a pedra preciosa, junto da qual o ouro não é nada. O reino dos céus, diz Nosso Senhor (Mt 13), é semelhante a uma pedra preciosa que um negociante descobre. Vende tudo o que tem para a conseguir. Nós temos no tabernáculo o Rei dos reis.
    Está à nossa disposição com o seu reino que é a sua graça sobre a terra aguardando a sua glória no céu. Não deveríamos deixar tudo e tudo sacrificar por este reino?
    Infelizmente deixei muitas vezes a Eucaristia e o Coração de Jesus pelas criaturas, como o povo de Israel que sacrificava o serviço de Deus por um bocado de pão (Ez 13, 19).
    Mas a pedra preciosa não está longe. Ainda é tempo. Posso encontrá-la e comprá-la, se faço os sacrifícios necessários. A Eucaristia está lá, o Coração de Jesus está lá no tabernáculo. Mas Nosso Senhor fixa-me um preço de resgate, é o tal sacrifício que é preciso fazer, é o tal apego que é preciso romper. Conheço este preço pelo meu exame particular, conheço-o pelas minhas confissões habituais. Sei o que é preciso sacrificar, mas a coragem falta-me.
    Senhor, ajudai-me, peço-vos pela bondade do vosso coração e pela intercessão de Maria. (Leão Dehon, OSP 3, p. 632).

    Actio
    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    «Brilhai como astros no mundo» (cfr. Filip 2, 15s.)
    | Fernando Fonseca, scj |

  • XXXI Semana - Quinta-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XXXI Semana - Quinta-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    3 de Novembro, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares

    XXXI Semana - Quinta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Filipenses 3, 3-8ª
    3Irmãos: 3Nós é que somos pela circuncisão: nós, os que prestamos culto pelo Espírito de Deus, nos gloriamos em Cristo Jesus e não confiamos na carne - 4ainda que eu tenha razões para, também eu, pôr a confiança precisamente nos méritos humanos. Se qualquer outro julga poder confiar nesses méritos, eu posso muito mais: 5circuncidado ao oitavo dia, sou da raça de Israel, da tribo de Benjamim, um hebreu descendente de hebreus; no que toca à Lei, fui fariseu; 6no que toca ao zelo, perseguidor da Igreja; no que toca à justiça - a que se procura na lei - irrepreensível. 7Mas, tudo quanto para mim era ganho, isso mesmo considerei perda por causa de Cristo. 8Sim, considero que tudo isso foi mesmo uma perda, por causa da maravilha que é o conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor: por causa dele, tudo perdi e considero esterco, a fim de ganhar a Cristo.
    Paulo inicia a parte exortativa da carta aos filipenses com um resumo autobiográfico para tentar mover aqueles que se fecham ao apelo evangélico e procuram denegrir a sua pessoa e a sua missão. Assim se compreende o carácter polémico desta página.
    O Apóstolo aproveita a ocasião para apresentar a todos, e não só aos filipenses, a sua origem hebraica, a sua vocação apostólica e a sua fidelidade à mesma. Paulo faz-nos compreender que, para compreendermos as suas cartas, é preciso ter em conta o evento do caminho de Damasco, que marca a sua conversão e o começo da sua missão. O encontro com Cristo revolucionou completamente o seu modo de ver as coisas e os seus critérios de avaliação dos acontecimentos e das pessoas. Acima de tudo e de todos, para ele, está Cristo Senhor em quem havemos de acreditar, que envia em missão e que, sobretudo, temos de amar. Paulo di-lo com uma frase muito significativa: «considero mesmo que tudo isso foi uma perda, por causa da maravilha que é o conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor» (v. 8).
    Este é o único lugar, nas cartas paulinas, onde aparece o pronome possessivo «meu» junto ao título cristológico «Senhor». O pronome indica, não só que Paulo se encontrou com Cristo ressuscitado, mas também a grande intimidade que alcançou com Ele.

    Evangelho: Lucas 15, 1-10
    Naquele tempo, 1Aproximavam-se dele todos os cobradores de impostos e pecadores para o ouvirem. 2Mas os fariseus e os doutores da Lei murmuravam entre si, dizendo: «Este acolhe os pecadores e come com eles.» 3Jesus propôs-lhes, então, esta parábola:
    4«Qual é o homem dentre vós que, possuindo cem ovelhas e tendo perdido uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai à procura da que se tinha perdido, até a encontrar? 5Ao encontrá-la, põe-na alegremente aos ombros 6e, ao chegar a casa, convoca os amigos e vizinhos e diz-lhes: 'Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida.' 7Digo-vos Eu: Haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não necessitam de conversão.» 8«Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas, se perde uma, não acende a candeia, não varre a casa e não procura cuidadosamente até a encontrar? 9E, ao encontrá-la, convoca as amigas e vizinhas e diz: 'Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma perdida.' 10Digo-vos: Assim há alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se converte.»
    Estamos no coração do evangelho de Lucas. É no capítulo 15 que o segundo evangelista concentra a mensagem principal da sua obra: o evangelho da misericórdia. Ao mesmo tempo, Lucas aproxima-se o mais possível do Jesus histórico, que veio anunciar e incarnar, no meio de nós, o amor misericordioso do Pai.
    Lucas começa por apresentar o contexto histórico (vv. 1-3) em que Jesus contou as três parábolas. Os publicanos e pecadores vinham «para o ouvirem» (v. 1). Os fariseus e os escribas «murmuravam» contra ele. As parábolas da ovelha perdida e da dracma perdida - com a do pai misericordioso, que Jesus apresenta como ícone de Deus-Pai - devem ser interpretadas à luz desse contexto histórico, pois iluminam a situação daquilo ou de quem estava perdido e a alegria de quem pôde encontrar o que estava perdido.
    A alegria do homem serve para falar da alegria de Deus. Lucas sublinha três vezes essa alegria do Pai, que tanto amou o mundo que lhe deu o seu Filho, tirando desse dom a máxima alegria para Si.

    Meditatio
    A primeira leitura dá-nos matéria para uma reflexão sofre a pobreza espiritual como atitude diante das nossas qualidades e dos bens materiais. Esta pobreza aproxima-nos de Deus. Pelo contrário, a riqueza espiritual separa-nos de Deus e dos outros, porque nos faz sentir auto-suficientes. Confiamos nas coisas que temos, confiamos nas nossas qualidades, e pensamos que não precisamos de Deus nem dos outros. Por vezes até somos levados a julgar-nos superiores aos demais. Todos estes bens, espirituais ou materiais, que nos levam à auto-suficiência e ao orgulho, são chamados «carne» por Paulo. O Apóstolo tinha motivos para se julgar auto-suficiente e ser orgulhoso. Mas preferiu tornar-se mendigo da salvação para a receber de Cristo, como quem depende da sua misericórdia e não se julga melhor que os outros.
    Cristo é o dom gratuito de Deus, dom que ninguém merece, dom gratuito, que nos foi dado unicamente pela misericórdia divina.
    Esta pobreza espiritual é fonte de alegria, porque nos permite conhecer a Cristo e fazer dele o valor supremo da nossa vida, tal como Paulo. O conhecimento de Cristo dá-nos alegria, não uma alegria exterior e efémera, mas uma alegria profunda e duradoira, que cresce na medida em que é partilhada com os outros. Paulo partilha a sua alegria com os filipenses. Trata-se de uma alegria semelhante àquela que sente o Pai do céu, quando um pecador se converte; trata-se da alegria do Bom Pastor, pronto a dar a vida pela salvação de um só pecador; mas também se trata da alegria que nos vem de sabermos que temos no céu um Pai misericordioso, de termos em Cristo um mediador compassivo e amoroso, e de sabermos que temos na terra alguém que dele recebeu o ministério de perdoar os nossos pecados, para que aprendamos a ser compreensivos e misericordiosos com os nossos irmãos.
    Cada um de nós, na vida comunitária ou no ministério, há-de ter sempre diante dos olhos Cristo pobre, manso e humilde de coração, para não sucumbir aos desejos de riqueza, de auto-suficiência, de domínio, para estar livre de preconceitos, de simpatias e antipatias e de tantas paixões que tão facilmente se desenvolvem no coração humano, se não estiver cheio do Espírito de Deus.
    São muitos os frutos da «carne» que podem tornar pesada a vida da comunidade religiosa, e pôr entraves na acção pastoral. Quantos obstáculos à liberdade de amar e à alegria vêm na nossa auto-suficiência e do nosso orgulho! Quantos "conflitos" (Cst
    . 65), quantos "limites" (Cst. 66)! Como precisamos dos frutos do Espírito: caridade que é cordialidade, alegria, paz, paciência, bondade, benevolência, mansidão, fidelidade a Cristo, deixar-nos dominar e conduzir, não pelo nosso eu, mas pelo Espírito de Deus!

    Oratio
    Senhor Jesus Cristo, Verbo de Deus feito homem! Ao incarnar, de rico que eras, fizeste-te pobre, para que nos tornássemos ricos com a tua pobreza. Na Eucaristia, de forte que eras fizeste-te fraco, para que nos tornássemos fortes com a tua fraqueza!
    Queremos, hoje, mais uma vez escutar a bem-aventurança que, um dia, proclamaste: «Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos céus», o Reino do amor, da paz e da alegria.
    Faz-nos pobres em espírito, humildes e simples, como Maria, a Bem-aventurada por excelência. Faz-nos pobres, pequenos e simples, como aqueles pelos quais exultastes «no Espírito Santo». Que a pobreza em espírito, a humildade sejam o segredo da nossa alegria, a base da nossa fé, da nossa adesão total a Deus e ao Seu amor. E então, cada dia, como teus humildes servos, e servos dos nossos irmãos, diremos com tua Mãe: «Eis a serva... faça-se... A minha alma glorifica o Senhor». E, como a Virgem exultaremos de alegria em Deus-Pai, pelas grandes coisas que, olhando à nossa pobreza, irás fazer em nós e por meio de nós. Amen.

    Contemplatio
    Servir o seu Deus por amor é também a via mais doce. Ela agarra-vos pelo coração e o vosso coração é feito para amar. Conduz docemente, mas muito eficazmente a vossa vontade para o que Deus deseja. O amor coloca o coração perfeitamente á vontade, o que nenhum outro sentimento poderia fazer. O medo constrange; a esperança não está totalmente isenta de um certo regresso à inquietude; o amor não conhece nem os tormentos do medo, nem os alarmes da esperança reduzida a si mesma.
    O amor inspira a alegria, que é o segundo fruto do Espírito Santo, porque a caridade é o primeiro (Gl 5, 22). E que alegria! Uma alegria pura, uma alegria íntima, inalterável, uma alegria que é o antegozo da dos Bem-aventurados. O amor mantém a alma na paz, que é, depois da alegria, um fruto do Espírito Santo. O amor nunca causa perturbação. A perturbação da alma tem três fontes: ou a má consciência, ou o amor-próprio, ou o demónio. O amor mantém a consciência no melhor estado; trabalha sem cessar para destruir o amor-próprio; despreza as negras sugestões do demónio; resiste-lhe, triunfa sobre ele. Deus é a paz e, como não O possuímos aqui em baixo senão pelo amor, o amor é também o único meio de gozar a paz. (Leão Dehon, OSP 2, 18s.).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Quem procura o Senhor, encontra a alegria» (da Liturgia)
    | Fernando Fonseca, scj |

  • XXXI Semana - Sexta-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XXXI Semana - Sexta-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    4 de Novembro, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares

    XXXI Semana - Sexta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Filipenses 3, 17 - 4,1
    Irmãos: 17Sede todos meus imitadores, irmãos, e olhai atentamente para aqueles que procedem conforme o modelo que tendes em nós. 18É que muitos - de quem várias vezes vos falei e agora até falo a chorar - são, no seu procedimento, inimigos da cruz de Cristo: 19o seu fim é a perdição, o seu Deus é o ventre, e gloriam-se da sua vergonha - esses que estão presos às coisas da terra. 20É que, para nós, a cidade a que pertencemos está nos céus, de onde certamente esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. 21Ele transfigurará o nosso pobre corpo, conformando-o ao seu corpo glorioso, com aquela energia que o torna capaz de a si mesmo sujeitar todas as coisas. 1Portanto, meus caríssimos e saudosos irmãos, minha coroa e alegria, permanecei assim firmes no Senhor, caríssimos.
    Paulo apresenta aos filipenses, que querem tornar-se discípulos do Crucificado, dois caminhos possíveis: a dos «inimigos da cruz de Cristo» (3, 18), isto é, aqueles cujo «Deus é o ventre, e põem a glória na sua vergonha» (v. 19) e estão absorvidos pelos seus interesses terrenos. Para estes «o seu fim é a perdição» (v. 19ª). Entrevemos um grupo de cristãos que, apesar da experiência feita, se esqueceram do baptismo recebido e enveredaram por uma experiência de vida contrária ao Evangelho.
    O outro caminho é o daqueles que se mantiveram fiéis à «regra de vida» que aprenderam de Paulo. O Apóstolo não hesita em apresentar-se como «exemplo» (v. 17), não tanto por causa dos seus dons naturais, mas por causa do dom de graça que recebeu no caminho de Damasco e que revolucionou completamente a sua vida, dando-lhe um novo rumo: novo da novidade de Cristo morto e ressuscitado.
    Os fiéis de Filipos são convidados a fazer uma opção livre e consciente não só em virtude do seu exemplo, mas, sobretudo, em virtude da esperança na cidade que «está nos céus» e da qual «esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo» (v. 20). É tal o bem que espero (a pátria celeste, a alegria indefectível e a comunhão amorosa) que toda a pena me dá gozo (a batalha dura que cada um é chamado a travar nesta terra). Estamos perante a dinâmica do «já» e do «ainda não».

    Evangelho: Lucas 16, 1-8
    Naquele tempo, 1Disse Jesus aos seus discípulos:«Havia um homem rico, que tinha um administrador; e este foi acusado perante ele de lhe dissipar os bens. 2Mandou-o chamar e disse-lhe: 'Que é isto que ouço a teu respeito? Presta contas da tua administração, porque já não podes continuar a administrar.' 3O administrador disse, então, para consigo: 'Que farei, pois o meu senhor vai tirar-me a administração? Cavar não posso; de mendigar tenho vergonha. 4Já sei o que hei-de fazer, para que haja quem me receba em sua casa, quando for despedido da minha administração.' 5E, chamando cada um dos devedores do seu senhor, perguntou ao primeiro: 'Quanto deves ao meu senhor?' Ele respondeu: 6'Cem talhas de azeite.' Retorquiu-lhe: 'Toma o teu recibo, senta-te depressa e escreve cinquenta.' 7Perguntou, depois, ao outro: 'E tu quanto deves?' Este respondeu: 'Cem medidas de trigo.' Retorquiu-lhe também: 'Toma o teu recibo e escreve oitenta.' ? senhor elogiou o administrador desonesto, por ter procedido com esperteza. É que os filhos deste mundo são mais sagazes que os filhos da luz, no trato com os seus semelhantes.»
    Só tendo presente o contexto de todo o capítulo, que tem o seu centro no v. 14 («Os fariseus, como eram avarentos, ouviam as suas palavras e troçavam dele»), podemos compreender o pensamento de Jesus nesta parábola. A primeira parábola (vv. 1-8) ensina o modo correcto de usar os bens; a segunda parábola (vv. 19-31) ensina como não devem ser usados. Em ambas, a lição recai sobre o amor ao dinheiro.
    Na primeira parábola, o louvor do administrador infiel pode causar espanto ou mesmo escândalo; mais adiante Lucas compara Deus a um juiz injusto (Lc 18, 1-8); em Mt 10, 16, os discípulos são convidados a ser espertos como as serpentes. Mas não havemos de nos escandalizar: Jesus não nos dá por modelo um qualquer vigarista ou fulano astuto. Pelo contrário, lembra-nos que somos responsáveis pelos bens que não são exclusivamente nossos, mas que devemos considerar dons de Deus e, portanto, tratar com prudência e com audácia dignas de filhos de Deus.
    Ao fim e ao cabo, Jesus quer que os filhos da luz, na sua caminhada terrena, sejam mais sagazes do que os filhos deste mundo (v. 8b). A sagacidade de que fala Jesus é directamente funcional ao desejo e à consecução do verdadeiro bem.

    Meditatio
    As parábolas que Jesus nos conta, hoje, pretendem fazer pensar e tomar decisões arrojadas. Se queremos ser discípulos do Senhor, não podemos esquivar-nos a responder, ou tentar fugir ao cumprimento dos nossos deveres. É preciso, em primeiro lugar, aceitar confrontar-se com os filhos deste mundo. Muitas vezes somos convidados a ter coragem, não só diante das propostas divinas, mas também diante daqueles que nada querem com Jesus Cristo e o seu Evangelho. É precisa a audácia de quem sabe ser depositário de uma mensagem superior a qualquer outra e de uma promessa que não será retirada.
    O capítulo 16 de Lucas, na sua globalidade, sugere-nos outro convite, que torna concreta a nossa coragem evangélica: considerar como nossos primeiros e mais caros amigos os pobres. Se chegarmos a isso, seremos realmente «espertos», à maneira de Jesus. Foi por essa esperteza que o administrador desonesto foi louvado por Jesus.
    A decisão por Jesus, e pelo amor para com o próximo, é urgente, porque a hora da morte está perto. É preciso esperá-la com serenidade, tal como Paulo. Aliás, não esperamos a morte, mas o Salvador, o Senhor Jesus. Esperamo-lo como Ressuscitado, como vencedor da morte, como aquele que transfigurará o nosso corpo à imagem do seu corpo glorioso. A nossa espera está cheia de confiança, desde que vivamos como cidadãos do céu: «a cidade a que pertencemos está nos céus» (Fl 3, 20).
    Viver como cidadãos dos céus não quer dizer viver nas nuvens, mas viver na caridade, na esperança, na fé. Viver como cidadãos dos céus significa encontrar o Senhor em cada momento, em cada acto da nossa vida. Então, Ele assume-os e transforma-os. Vivendo assim, aguardamos serenamente a morte, sabendo que Jesus já foi transfigurado pela sua morte de cruz e que esse evento já venceu o último obstáculo, tornando-o ocasião de triunfo para Deus e de salvação para nós.
    Escreve Paulo aos romanos: «Se Deus é por nós, quem será contra nós? Ele, que não poupou o próprio Filho, mas O entregou por todos nós, como não havia de nos dar também, com Ele, todas as coisas?... Quem poderá separar-nos do amor de Cristo?... Em tudo isto, somos nós mais que vencedores por Aquele que nos amou. Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida..., nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, Nosso Senhor» (Rm 8, 31.32.35.37-39).
    «Acreditar neste amor - escrevia o Pe. Dehon - é toda a nossa fé». «Et nos credidimus caritati» («Nós acreditámos no amor»). Fazer as obras do amor é o cumprimento de todos os preceitos: «Qui diligit, legem implevit» («Quem ama cumpre a Lei») (NQ III, 60; 14.10.1886).

    Oratio
    Senhor, faz-me compreender que a minha pátria está no céu e que o dia da minha morte será o dia do encontro definitivo contigo. Dá-me a esperteza de tudo submeter a essa esperança segura, quando tenho que tomar decisões importantes para a minha vida ou para a vida daqueles que me estão ou virão a estar confiados. Que eu não hesite eu optar por Ti e pelos interesses do Reino. Livra-me da tentação de servir a dois senhores, do medo de descobrir a minha pequenez, do pavor de perder as minhas seguranças. Que eu seja honesto comigo e com os outros. Que o seja especialmente contigo. Amen.

    Contemplatio
    Vede Jesus em acção. Ele encontra a viúva de Naim. Ela chora, Ele chora também misericordia motus; restitui o seu filho à vida (Lc 7).
    Um dia, Marta e Maria Madalena anunciam-lhe chorando a morte do seu irmão. Chora ainda, et lacrimatus est Jesus.
    A Cananeia grita a Jesus: «Senhor, filho de David, tende piedade de mim». Ele prova-a primeiro com uma aparência de insensibilidade. Mas logo cede à inclinação do seu coração, e cura a filha da pobre mulher.
    Todo o relato do Evangelho está cheio de curas milagrosas. «Jesus, diz S. Pedro, passou fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo demónio» (Act 10).
    «Jesus, diz S. Mateus, percorria a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando a boa nova do reino de Deus e curando todas as doenças e todas as enfermidades. O seu nome espalhava-se por toda a Síria. Apresentavam-lhe todos os doentes, os enfermos, os possessos, os paralíticos, e curava-os» (Mt 4).
    «A multidão que se comprimia para ser curada, diz S. Marcos, era tal que por vezes o Salvador era impedido de tomar o seu alimento. Os seus discípulos já não podiam comer o seu pão. Iam ao ponto de se irritarem contra Ele e de querer pôr fim ao seu zelo que eles viam como uma paixão. Quoniam in furorem versus est» (Mc 3, 21). - Oh! A santa loucura de Jesus!
    Padres de Jesus, vamos ter com os doentes, mesmo que devamos às vezes ser incomodados na hora das nossas refeições ou do nosso sono.
    Que bondade! Que condescendência! Que delicada atenção do divino Mestre por todos os que sofrem! Não se vê que alguma vez tivesse recusado o pedido a alguém. Dizia-lhes: «Que quereis que vos faça?». - «Que me cureis!». - E curava-os imediatamente.
    Eram cegos, surdos, coxos, paralíticos, possessos do demónio, leprosos. Começava por excitar a sua confiança, chamando-os com o nome mais terno: «Meu filho, minha filha, tende confiança, vós sereis curados». O seu zelo não se deixava deter pelos escrúpulos dos fariseus a respeito do repouso do sábado. Dizia-lhes: «Deixaríeis o vosso burro num poço ou a vossa ovelha num fosso no dia de sábado? Porque quereis então que Eu deixe os doentes na sua triste situação?». (Leão Dehon, OSP 2, p. 364s.).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «A nossa pátria está nos céus» (Fl 3, 20).
    | Fernando Fonseca, scj |

  • XXXI Semana - Sábado - Tempo Comum - Anos Pares

    XXXI Semana - Sábado - Tempo Comum - Anos Pares


    5 de Novembro, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares

    XXXI Semana - Sábado

    Lectio

    Primeira leitura: Filipenses 4, 10-19
    Irmãos: 10É grande a alegria que sinto no Senhor por, finalmente, terdes feito com que desabrochasse o vosso amor por mim. É que tínheis o interesse, mas faltava a oportunidade. 11Não falo assim por me sentir carecido. Pois, no meu caso, aprendi a ser autónomo nas situações em que me encontre. 12Sei passar por privações, sei viver na abundância. Em toda e qualquer situação, estou preparado para me saciar e passar fome, para viver na abundância e sofrer carências. 13De tudo sou capaz naquele que me dá força. 14Entretanto, fizestes bem em tomar parte na minha tribulação. 15Vós bem o sabeis, filipenses: no início da pregação do Evangelho, quando saí da Macedónia, nenhuma outra igreja esteve em comunhão comigo na permuta de dar e receber, a não ser apenas vós: 16em Tessalónica e por duas vezes me enviastes socorro para as minhas necessidades. 17Não é que eu esteja à procura de donativos; o que procuro, sim, é que aumente o produto, que está registado na vossa conta. 18Sim, tudo recebi em abundância. Estou plenamente fornecido, depois de receber de Epafrodito o que veio da vossa parte: um odor perfumado, um sacrifício que Deus aceita e lhe é agradável. 19E o meu Deushá-de compensar-vos plenamente em todas as necessidades, segundo a sua riqueza, na glória que se tem em Cristo Jesus.
    Paulo teve sempre uma excelente relação com a comunidade de Filipos: até aceitou ser ajudado por ela com bens materiais. Aqui manifesta a sua alegria, não só pelos dons recebidos, mas também pela caridade que eles pressupõem. E Paulo encontra-se num momento particularmente difícil da sua missão.
    Sublinhemos, em primeiro lugar, a liberdade apostólica de que Paulo se honra: poderia dispensar tudo, porque aprende a ser pobre com quem é pobre (vv. 11s.). Trata-se de uma liberdade radical que todavia não se subtrai aos vínculos da comunhão, gerada na caridade.
    Mas é sobretudo a caridade dos filipenses, como sinal da caridade de Cristo, que inspira esta página. Paulo pôs todo o seu empenho apostólico para alcançar este ideal. O que mais buscou foi aquele dom que, por meio da escuta da Palavra e da fé, os liga a Cristo, seu Salvador. A passagem é do dom oferecido ao Apóstolo, para o dom recebido de Deus: resulta uma relação tripla que liga o doado ao doador por meio daquele que se fez servidor de ambos. E é bom notar que a alegria do Apóstolo vem, em primeiro lugar, da verificação de que, agindo assim, os crentes vivem em plenitude aquele humanismo cristão que foi descrito nos vv. 8s. deste mesmo capítulo.

    Evangelho: Lucas 16, 9-15
    Naquele tempo: disse Jesus aos seus discípulos: 9«Arranjai amigos com o dinheiro desonesto, para que, quando este faltar, eles vos recebam nas moradas eternas. 10Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é infiel no pouco também é infiel no muito. 11Se, pois, não fostes fiéis no que toca ao dinheiro desonesto, quem vos há-de confiar o verdadeiro bem? 12E, se não fostes fiéis no alheio, quem vos dará o que é vosso? 13Nenhum servo pode servir a dois senhores; ou há-de aborrecer a um e amar o outro, ou dedicar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro.» 14Os fariseus, como eram avarentos, ouviam as suas palavras e troçavam dele. 15Jesus disse-lhes: «Vós pretendeis passar por justos aos olhos dos homens, mas Deus conhece os vossos corações. Porque o que os homens têm por muito elevado é abominável aos olhos de Deus.
    Depois de contar a parábola do administrador desonesto, Jesus toma a palavra para explicitar a doutrina. Primeiro, refere-se à morte, momento no qual o dinheiro perderá todo o seu interesse, pois nos será tirada a administração de qualquer bem (v. 9). Depois, vem o convite à fidelidade, frente ao perigo da infidelidade (vv. 10s.). Trata-se de um discurso sapiencial, com que Jesus procura a nossa adesão livre e alegre ao ideal da pobreza evangélica. Se a caridade não se ligar à pobreza, dificilmente terá as características de um ideal evangélico.
    Jesus também enuncia uma verdade apodíctica: «Servo algum pode servir a dois senhores... Não podeis servir a Deus e ao dinheiro» (v. 13). O discípulo de Cristo não tem alternativa. O amor por um implica o ódio pelo outro. O amor por um implica o serviço, porque o amor que não se torna serviço não é verdadeiro. Foi o que Jesus mostrou com a sua vida, antes de o dizer com palavras.
    Por fim, Jesus convida à humildade, diante dos fariseus que se têm por «por justos aos olhos dos homens» (v. 15). Caridade, serviço e humildade não pode separar-se, sob pena de perderem todo o valor diante de Deus.

    Meditatio
    As leituras de hoje apresentam-nos um exemplo de fidelidade e de generosidade que contém um ensinamento importante: para ser fiéis ao chamamento de Deus é preciso ser desapegados e generosos. Só então Deus nos poderá «confiar o ver¬dadeiro bem» (v. 11).
    Os filipenses foram generosos com Paulo que estava na prisão. Poderiam não tê-lo sido. Mas foram e enviaram Epafrodito para lhe levar as ofertas recolhidas. Paulo agradece cordialmente, não tanto por causa dos dons, mas por causa da caridade que eles significam: «É grande a alegria que sinto no Senhor por, finalmente, terdes feito com que desabrochasse o vosso amor por mim» (Fl 4, 10). Delicadamente, o Apóstolo acrescenta que, o que mais o conforta, é que esses dons redundem em vantagem para eles e que o seu amor fraterno seja «um odor perfumado, um sacrifício que Deus aceita e lhe é agradável» (Fl 4, 18).
    Os sentimentos de Paulo são próprios de quem está desapegado dos seus interesses pessoais e preocupado com o bem dos outros.
    É assim o amor cristão: amar e servir. Servir com humildade. Traduzir o amor em gestos concretos de atenção para com os outros. Se amamos o dinheiro, tornamo-nos escravos dele. Se nos servirmos dele para nós e para os outros, pomo-lo ao serviço da caridade. Este serviço há-de ser universal, isto é, prestado a todo aquele que precisar, tendo sempre diante dos olhos Aquele por amor de quem o fazemos.
    Vivendo o amor, e traduzindo-o em obras, preparamo-nos para a morte, para o encontro com o Senhor junto do Qual viveremos para sempre. Quem aprende a servir por amor prepara-se para bem morrer.
    As nossas Constituições lembram frequentemente a dimensão do "serviço" a Deus e aos irmãos. O "serviço", a "vida doada", é verdadeira devoção ao Coração de Jesus, como podemos verificar nos números 16 a 39: «Unidos a Cristo no seu amor e na sua oblação ao Pai» (p. 2, parágrafo 3); «Chamados a servir a Igreja» (Cst 16-25; «Participantes na missão da Igreja» (p. 2, parágrafo 4; Cst. 26-34); «Atentos aos apelos do mundo» (p. 2, pará
    grafo 5; Cst. 35-39). Já o Cst. 6 afirmava claramente que o serviço que o Instituto é chamado a prestar à Igreja é a união da nossa vida religiosa e apostólica à oblação reparadora de Cristo ao Pai pelos homens, isto é, ao Pai em favor dos homens.

    Oratio
    Senhor, que eu não tema a pobreza, nem anseie pela riqueza; que não tema a morte, nem deseje a vida, a não ser para tua glória. Que eu não caia na ilusão de me apoiar nas minhas forças, mas unicamente me apegue à tua palavra, meu cajado, minha segurança, meu porto seguro. Ainda que o mundo se torne um caos maior do que é, tenho na Escritura a bússola segura. Aí encontro a verdadeira sabedoria que me há-de conduzir ao êxito; aí encontro a verdadeira luz, que me há guiar, com todos os meus irmãos e irmãs para o Dia sem ocaso. Amen.

    Contemplatio
    (Diz o Salvador): Vir a mim com amor, não é omitir a fé, mas torná-la viva, porque a fé não opera senão pela caridade. Também não é vir a mim com os trejeitos de uma pieguice sem consistência; porque vir amorosamente a mim, o grande sacrificado, é ir ao modelo de todos os sacrifícios; é vir colher no meu Coração e nos tesouros do meu amor uma força a toda a prova, um sustento nos sofrimentos e nas cruzes.
    A afeição do coração tal como a peço leva à acção e à generosidade. Os que me amam escutam a minha palavra e a ela conformam as suas acções: Si quis diligit me, sermonem meum servabit. A minha palavra é a regra da sua conduta. Ego Dominus, docens te utilia, gubernans te in via in qua ambulas (Is 48, 17). É preciso, portanto, precaver-se destas aparências de sentimentos pelos quais os homens se enganem às vezes a si mesmos. Não é preciso ligar importância a alguns fervores que duram o que dura um fogo de palha e que não produzem nada de durável. O sinal pelo qual se reconhece um sentimento do coração, são as obras que inspira: Operibus credite (Jo 10, 38). Não basta alguém dizer que me ama, é preciso fazer o que Eu digo e fazê-lo de bom coração. Tal deve ser o carácter dos fiéis e dos religiosos consagrados ao meu coração.
    (Diz o discípulo) Bom Mestre, compreendi os vossos desejos, ajudai-me a realizá-los. Renovo diante de vós a minha resolução de vos oferecer cada uma das minhas acções, ao menos as principais do dia, neste espírito de amor e de generosidade que de mim pedis. (Leão Dehon, OSP 2, p. 146s.).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «De tudo sou capaz naquele que me dá força» (Fl 4, 13).
    | Fernando Fonseca, scj |

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