Oração de N. S. Jesus Cristo no Horto (3ª feira antes da 4ª feira de Cinzas)


13 de Fevereiro, 2018

Terça-feira antes da quarta-feira de Cinzas

(Próprio da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus - Dehonianos)

A Paixão representa um dos momentos mais significativos da oração de Jesus. É o que a Carta aos Hebreus nos recorda: "Nos dias da sua vida terrena, apresentou orações e súplicas àquele que o podia salvar da morte, com grande clamor e lágrimas, e foi atendido por causa da sua piedade" (5,7) e o Evangelho testemunha: "Saiu então e foi, como de costume, para o Monte das Oliveiras... e, pondo-se de joelhos, começou a orar" (Lc 22,39.40). A oração carateriza a vida de Cristo; atinge o seu ponto mais alto na Paixão: súplica prolongada na Agonia, no Jardim das Oliveiras (Mt 26,36-46; Lc 22,42-46); grito de confiança e de intercessão ao Pai, na cruz (Lc 22,44; 23,34.46; Mt 27,46). No jardim das Oliveiras encontramos, talvez, a oração típica do homem Jesus, que se entregou a si mesmo em resgate de todos e se tornou o único mediador entre Deus e os homens (1Tim 2,5-6; Eb 7,25). Jesus toma consigo a Igreja de todos os tempos, para que participe na sua intercessão perene: " Porque dormis? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação" (Lc 22,46). De fato, devemos realizar aquilo que falta à paixão de Cristo, em favor de todos os homens (cf. Col 1,24).

Lectio

Primeira leitura: Hebreus 5,7-10; 4,15-16

Irmãos: Nos dias da sua vida terrena, apresentou orações e súplicas àquele que o podia salvar da morte, com grande clamor e lágrimas, e foi atendido por causa da sua piedade. 8Apesar de ser Filho de Deus, aprendeu a obediência por aquilo que sofreu 9e, tornado perfeito, tornou-se para todos os que lhe obedecem fonte de salvação eterna, 10tendo sido proclamado por Deus Sumo Sacerdote segundo a ordem de Melquisedec. 15De facto, não temos um Sumo Sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, pois Ele foi provado em tudo como nós, excepto no pecado. 16Aproximemo-nos, então, com grande confiança, do trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e encontrar graça para uma ajuda oportuna.

O cristão pode manter-se fiel na luta e no esforço, que a vida cristã exige, porque Cristo exerce diante de Deus a função de Sumo sacerdote, em favor dos homens. Este Sumo sacerdote é um homem semelhante àqueles em favor dos quais exerce a sua função de apresentar orações e oferecer sacrifícios a Deus. Em nenhuma outra página do Novo Testamento se fala de modo tão emocionante da plena humanidade de Cristo e da sua debilidade. Durante a sua existência terrena, ofereceu orações e súplicas com grandes clamores... e aprendeu a obediência na escola do sofrimento. Apesar de Filho, reflexo da glória de Deus e imagem da sua própria natureza, alcançou a perfeição através da dor e do sofrimento. Assim, entendeu o que significa para o homem obedecer a Deus, enquanto dura a vida presente. Assim, pode simpatizar perfeitamente com os seus irmãos.

Evangelho: Mateus 26,36-44

Naquele tempo, Jesus com os seus discípulos chegou a um lugar chamado Getsémani e disse-lhes: «Sentai-vos aqui, enquanto Eu vou além orar.» 37E, levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. 38Disse-lhes, então: «A minha alma está numa tristeza de morte; ficai aqui e vigiai comigo.» 39E, adiantando-se um pouco mais, caiu com a face por terra, orando e dizendo: «Meu Pai, se é possível, afaste-se de mim este cálice. No entanto, não seja como Eu quero, mas como Tu queres.» 40Voltando para junto dos discípulos, encontrou-os a dormir e disse a Pedro: «Nem sequer pudeste vigiar uma hora comigo! 41Vigiai e orai, para não cairdes em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é débil.» 42Afastou-se, pela segunda vez, e foi orar, dizendo: «Meu Pai, se este cálice não pode passar sem que Eu o beba, faça-se a tua vontade!» 43Depois voltou e encontrou-os novamente a dormir, pois os seus olhos estavam pesados. 44Deixou-os e foi orar de novo pela terceira vez, repetindo as mesmas palavras.

A cena do Getsémani realça a plena humanidade de Jesus: vai para a morte com medo, procura a companhia dos homens - era acompanhado por três mais íntimos -, recai sobre ele o afastamento de Deus (Sl 42, 6.12). É também um exemplo prático do seu ensinamento: recorre à oração que Ele tinha ensinado, acentuando a necessidade de acatar a vontade do Pai. O cálice que tem de beber é a morte que tem de sofrer. Na sua oração, Jesus aceita plenamente a vontade do Pai. Avisa os discípulos sobre a necessidade de vigiar e orar para não caírem em tentação: esta tentação é a separação de Deus pelo afastamento da sua vontade, o que seria a morte total do homem.

Meditatio

A Paixão e a Morte de Jesus não são acontecimentos inesperados. Jesus tem consciência cada vez mais clara do Seu fim. Na oração aprofunda essa consciência e avança para a morte, decidido e sereno. Tudo acontece porque o Pai assim o quer e porque o Filho aceita esse querer, em obediência total e confiante. As circunstâncias históricas concretas da morte de Jesus são elementos secundários. Ele avança e enfrenta o Seu destino, em diálogo com o Pai, em oração, que, no Getsémani é luta, como fora no deserto, mas que, noutras circunstâncias, é experiência de glória e de exaltação. Pensemos, por exemplo, na Transfiguração.
Os evangelhos mostram-nos como a oração de Jesus se intensifica à medida que se aproxima a Sua Hora. Torna-se quase ininterrupta logo após a Ceia pascal e durante toda a Paixão. Na Cruz, consuma-se o diálogo de obediência num abismo de dor e de amor. No apogeu do Mistério Pascal, Jesus é o orante, é oração viva... "Adormeceu" com a oração nos lábios para Se "erguer" sempre vivo a interceder por nós (cf. Heb 7, 25; Rom 8, 34). A resposta do Pai pertence a este mistério da oração de Jesus: o Pai responde à oração do Filho na mesma oração do Filho, antecipando progressivamente a grande resposta da Ressurreição.

Oratio

Pai santo, rico em misericórdia, nós vos bendizemos, porque quisestes dar-nos Cristo, vosso Filho, mestre e modelo da humanidade reconciliado no amor. Ele, pobre e humilde de coração, viveu em permanente atitude de oração para louvar a vossa bondade e permanecer no beneplácito do vosso amor. Ofereceu-se a vós com fortes gritos e lágrimas, para realizar o vosso projeto de salvação. Vós O dais à vossa Igreja como modelo de orante, especialmente na agonia do Getsémani e no abandono confiante e perseverante da cruz, para que, assíduos à oração e ao cumprimento da vossa vontade, possamos atingir nos mistérios da redenção a plenitude da vida nova. Por isso, com todos os redimidos vos louvamos e bendizemos a vossa misericórdia. Ámen. (cf. Prefácio da Missa).

Contemplatio

Jesus rezava: Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice! No entanto, que a vossa vontade se faça e não a minha! Não cede à fadiga, ao desgosto, ao desânimo. Reza com mais insistência. Reza com tanto respeito, com tanta humildade! Reza de joelhos, com o rosto por terra. Reza com perseverança: Foi de novo, dizendo as mesmas palavras... Foi ainda, repetindo o seu pedido por uma terceira vez. Reza com resignação: Que a vossa vontade se faça, ó meu Pai, e não a minha! Reza com a disposição de se abandonar inteiramente à vontade do seu Pai e de se entregar por nós até onde for necessário: se este cálice não pode passar sem que eu o beba, que a vossa vontade seja feita! Reza pelos seus apóstolos que dormem e que não rezam ao aproximar-se a tentação. Poderá dizer a Pedro: «Rezei para que a tua fé não desfaleça». Reza por todos durante esta longa oração de três horas. Reza por nós, reza por mim. Acumula graças para os séculos futuros. Antes de morrer, cumpre a sua grande missão de oração. Obtém a graça e a misericórdia pelos pecadores, força e coragem por aqueles que são experimentados e tentados. O seu divino Coração pensou em todos. Eu também estava lá com os meus pecados, com a minha pobreza infinita, com as minhas resistências à graça e à vontade divina. Estava lá com o meu coração duro e frio. Nada o fez desanimar, nem as minhas recaídas, nem a minha ingratidão. Ó Jesus, aplicai-me hoje o fruto das vossas orações. Piedade! Piedade! (L. Dehon, OSP 3, p. 138s.).

Actio

Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
"Vigiai e orai, para não cairdes em tentação." (Mt 26, 41).

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Oração de N. S. Jesus Cristo no Horto (3ª feira antes da 4ª feira de Cinzas)

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