IX Semana – Sexta-feira – Tempo Comum – Anos Pares


5 de Junho, 2020

Tempo Comum – Anos Pares
IX Semana – Sexta-feira

Lectio

Primeira leitura: 2 Timóteo 3, 10-17

Caríssimo, 10Tu seguiste de perto o meu ensinamento, o meu modo de vida e os meus planos, a minha fé e a minha paciência, o meu amor fraterno e a minha firmeza, 11as perseguições e sofrimentos que tive de suportar em Antioquia, Icónio e Listra. Que perseguições tive de suportar! Mas de todas elas me livrou o Senhor. 12E assim também todos os que quiserem viver a fé em Cristo Jesus serão perseguidos. 13Quanto a esses perversos e impostores, irão de mal a pior, extraviando outros e extraviando-se a si próprios. 14Tu, porém, permanece firme naquilo que aprendeste e de que adquiriste a certeza, bem ciente de quem o aprendeste. 15Desde a infância conheces a Sagrada Escritura, que te pode instruir, em ordem à salvação pela fé em Cristo Jesus. 16De facto, toda a Escritura é inspirada por Deus e adequada para ensinar, refutar, corrigir e educar na justiça, 17a fim de que o homem de Deus seja perfeito e esteja preparado para toda a obra boa.

A fé de Timóteo está autenticada pelas perseguições e sofrimentos que passou com Paulo: «Tu seguiste de perto o meu ensinamento, o meu modo de vida e os meus planos, a minha fé e a minha paciência, o meu amor fraterno e a minha firmeza, as perseguições e sofrimentos que tive de suportar» (vv. 10-11). Se Cristo sofreu, todo o discípulo há-de estar disposto a sofrer: «todos os que quiserem viver a fé em Cristo Jesus serão perseguidos» (v. 12). Paulo sofreu, e Timóteo participou nesses sofrimentos. Por isso, deve permanecer firme no que aprendeu e lhe foi transmitido. Deus é fiel, e há-de libertá-lo de todas as tribulações, que serão garantia da autenticidade da sua fé e do seu ensinamento.
Em seguida, Paulo aponta duas dimensões vitais da fé. Em primeiro lugar, ela é recebida, das Escrituras e do testemunho de outros crentes, tais como os familiares. A fé recebida é, depois, submetida a um processo de aprendizagem que leva à convicção pessoal (v. 14), à fé, como sabedoria cristã, síntese de conhecimento orante e praxe coerente, que, de qualquer modo, passa pela provação, tornando-se fé provada e vivida. A Escritura, inspirada por Deus, tem o importante papel de «ensinar, refutar, corrigir e educar na justiça» (v. 16) o crente e o mestre da fé.

Segunda leitura: Marcos 12, 35-37

Naquele tempo, 35ensinando no templo, Jesus tomou a palavra e perguntou: «Como dizem os doutores da Lei que o Messias é filho de David? 36O próprio David afirmou, inspirado pelo Espírito Santo: Disse o Senhor ao meu Senhor: ‘Senta-te à minha direita, até que ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés’. 37O próprio David chama-lhe Senhor; como é Ele seu filho?» E a numerosa multidão ouvia-o com agrado.

Terminado o diálogo com o escriba excepcionalmente honesto, o evangelista retoma a polémica com os outros escribas e fariseus para dar um ensinamento da máxima importância sobre o mistério da sua pessoa, e levantar muito discretamente o véu, que esconde o seu segredo messiânico. De acordo com a tradição judaica, fundada na promessa a Natan (2 Sam 7, 14), e confirmada pelos grandes profetas da esperança messiânica, o Messias devia ser um descendente de David. Mas, no Sl 110, 1, David chama «meu Senhor» ao Messias: «como é Ele seu filho» (v. 37). Com esta pergunta deixada em suspenso, Jesus rompe, mais uma vez, esquemas feitos e tidos por seguros, que parecem afastar o esforço por acreditar. Ao mesmo tempo incita-nos a reflectir, e a deixar-nos descobrir pelo mistério da sua pessoa, a não presumirmos saber tudo sobre Ele. Há que reflectir sempre sobre a «experiência de Deus» que já fizemos.
Jesus não recusa a ascendência davídica do Messias, quer que ultrapassemos a lógica limitada da continuidade histórica dinástica, porque a promessa de Deus vai além dos critérios da sucessão hereditária. O dom do Pai, no Filho, vai muito além de tudo quanto a mente humana possa entender, porque será sempre um dom inédito e surpreendente.

Meditatio

A Sagrada Escritura é Palavra que vem do coração de Deus e fala ao nosso coração. Não é uma Palavra simplesmente escrita. É uma Palavra «aberta» por Jesus. Se assim não fosse, permaneceria enigmática e incompreensível, apesar da sua beleza.
Paulo incita Timóteo a aprofundar as Escrituras, porque «toda a Escritura é inspirada por Deus e adequada para ensinar, refutar, corrigir e educar na justiça» (v. 16).
Hoje, graças ao Senhor, dispomos de muitos meios para ler e compreender as Sagradas Escrituras. O concílio Vaticano II como que oficializou a Lectio divina, uma antiquíssima forma de ler a Bíblia, que estava adormecida na Igreja, principalmente depois das controvérsias da Reforma. A Lectio divina é, no fundo, uma leitura crente e orante da Bíblia que encontra as suas raízes no Novo Testamento. Lucas apresenta-nos Jesus a convidar os discípulos de Emaús a reler o Antigo Testamento a partir do acontecimento da Páscoa (Lc 24,13-35). E podemos dizer que os Evangelhos seguem, em grande parte, essa mesma dinâmica. A Lectio Divina pode assumir diferentes formulações e práticas. Mas, no essencial, consta dos quatro degraus indicados por Guigo II, o cartuxo, por volta de 1150: a leitura, a meditação, a oração e a contemplação. Este método de leitura da Sagrada Escritura pode contribuir em muito para que «o homem de Deus seja perfeito e esteja preparado para toda a obra boa» (v. 17), também para o anúncio correcto e eficaz da Boa Nova. Este anúncio leva inevitavelmente quem o faz ao encontro da rejeição, se não mesmo da perseguição. Foi o que aconteceu com o divino Mestre. Mas essa rejeição e perseguição levam à bem-aventurança: «Felizes sereis, quando vos insultarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o género de calúnias contra vós, por minha causa» (Mt 5, 11). Paulo, e muitos outros arautos do Evangelho, viveram essas perseguições e experimentaram essa bem-aventurança.
As nossas Constituições afirmam: «Prestamos atenção ao que o Espírito nos inspira, mediante a Palavra de Deus recebida na Igreja e através dos acontecimentos da vida» (n. 57). O Pe. Dehon dá-nos um extraordinário exemplo de «escuta da Palavra», desde seminarista, como testemunham os dois primeiros cadernos do seu «Diário». Quase todos os conteúdos das suas notas têm raiz na Escritura. As citações são tomadas sem qualquer diferença tanto do Antigo como do Novo Testamento. Em 138 páginas manuscritas contamos 210 citações da Sagrada Escritura. A sua preferência vai para S. João (57 vezes) e para S. Paulo (38 vezes).
Preparado pela “escuta da Palavra”, meditada e assimilada, Leão Dehon vive generosa e alegremente as exig
ências do seu espírito de oblação, de reparação e de imolação.
As palavras do evangelho de hoje são misteriosas: «Como dizem os doutores da Lei que o Messias é filho de David?… O próprio David chama-lhe Senhor; como é Ele seu filho?»(cf. vv. 35-37). Jesus insinua o mistério da sua pessoa: é filho de David, mas também Filho de Deus, Unigénito do Pai. É Ele quem no-lo revela. É por Ele que obtemos a salvação.

Oratio

Senhor, abre o meu coração à tua Palavra, aumenta a minha fé, incendeia o meu amor. E, então, poderei dar-te graças, porque iluminas a minha vida, dás sentido àquilo que faço, me ensinas, me convences, me corriges e formas em mim o homem novo. Também Te dou graças porque a tua palavra me dá força e me sustenta nas provações. Nela, a verdade brilha como o sol. Mas também Te agradeço por aquelas vezes em que a tua palavra é obscura e misteriosa, dura e amarga, e me penetra «como espada de dois gumes», pondo à luz os meus medos, as minhas feridas, os meus monstros, os meus demónios, provocando-me a buscar-te onde não queria que estivesses, onde não me leva o coração, muito para além dos meus gostos pessoais.
Dá-me, Senhor, a coragem de Paulo nas provações. Faz com que aprenda, como Timóteo, a «permanecer firme» na Palavra, e naquilo que a Igreja me ensina, para que a minha fé seja recebida da Escritura e provada na vida. Amen.

Contemplatio

A Sagrada Escritura constitui, juntamente com a divina Eucaristia, o alimento da nossa vida espiritual. É uma parte do nosso pão supersubstancial: Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que saí da boca de Deus (Mt 4, 4).
Os Sacerdotes do Coração de Jesus, desejosos de fazer crescer em si mesmos a vida sobrenatural, farão da Sagrada Escritura o seu alimento quotidiano. Será o seu estudo preferido.
Na Sagrada Escritura, com a ajuda da meditação, aprenderão a conhecer melhor o Coração de Jesus, objecto exclusivo do seu amor.
O Apóstolo S. João é, de modo particular, o apóstolo do amor, o teólogo do Coração de Jesus. Mas todos os livros sagrados falam do Salvador.
No Antigo Testamento, Jesus é anunciado, figurado, preparado. No Evangelho, encontramo-l’O vivo na terra: lá se encontram as suas palavras e os seus mistérios. Nas Epístolas, nos Actos dos Apóstolos e no Apocalipse, encontramos ainda Jesus que continua presente na Igreja e está glorioso no céu.
Todas as leituras da Sagrada Escritura e de autores ascéticos devem servir-nos para melhor conhecermos a Jesus, a fim de aprendermos a amá-l’O melhor.
A conclusão destas leituras, como também das nossas orações, deve ser sempre um amor novo e mais ardente ao Coração de Jesus.
Cada um de nós leia todos os dias um trecho da Escritura Sagrada e faça a leitura espiritual (Leão Dehon, Directório Espiritual, nn. 143-144).

Actio

Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
«Permanece firme no que aprendeste» (2 Tm 3, 14).

| Fernando Fonseca, scj |

 

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