21º Domingo do Tempo Comum - Ano B [atualizado]


25 de Agosto, 2024

ANO B
21.º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Tema do 21.º Domingo do Tempo Comum

A liturgia do 21.º Domingo do Tempo Comum fala-nos de opções. Lembra-nos que podemos gastar a vida a perseguir valores estéreis ou, em contrapartida, a apostar em valores eternos, capazes de dar pleno sentido à nossa existência. Deus aponta-nos o caminho; mas a decisão final é sempre nossa.

Na primeira leitura, Josué convida as tribos de Israel reunidas em Siquém a escolherem entre “servir o Senhor” e servir outros deuses. A decisão não é difícil: o Povo viu como Deus agiu, ao longo da história, e está convicto de que só Javé lhe pode proporcionar a vida, a liberdade, o bem-estar e a paz.

O Evangelho apresenta-nos dois grupos de discípulos com atitudes diversas diante da proposta de Jesus. Um deles, ainda prisioneiro da lógica do mundo, está apenas preocupado com a satisfação das suas necessidades materiais e com a concretização dos seus projetos de poder, de ambição e de glória; por isso, recusa a proposta de Jesus. O outro (os Doze), aberto à ação de Deus e do Espírito, está disponível para seguir Jesus no caminho do amor e do dom da vida. Este último grupo aponta o caminho aos verdadeiros discípulos de Jesus.

Na segunda leitura, Paulo lembra aos cristãos de Éfeso que a opção por Cristo tem consequências também ao nível da relação familiar. Para o seguidor de Jesus, o espaço da relação familiar tem de ser o lugar onde se manifestam os valores do Reino. Com a sua partilha de amor, com a sua união, com a sua comunhão de vida, o casal cristão é chamado a ser sinal e reflexo da união de Cristo com a sua Igreja.

 

LEITURA I – Josué 24,1-2a.15-17.18b

Naqueles dias,
Josué reuniu todas as tribos de Israel em Siquém.
Convocou os anciãos de Israel,
os chefes, os juízes e os magistrados,
que se apresentaram diante de Deus.
Josué disse então a todo o povo:
«Se não vos agrada servir o Senhor,
escolhei hoje a quem quereis servir:
se os deuses que os vossos pais serviram no outro lado do rio,
se os deuses dos amorreus em cuja terra habitais.
Eu e a minha família serviremos o Senhor».
Mas o povo respondeu:
«Longe de nós abandonar o Senhor para servir outros deuses;
porque o Senhor é o nosso Deus,
que nos fez sair, a nós e a nossos pais,
da terra do Egipto, da casa da escravidão.
Foi Ele que, diante dos nossos olhos,
realizou tão grandes prodígios
e nos protegeu durante o caminho que percorremos
entre os povos por onde passámos.
Também nós queremos servir o Senhor,
porque Ele é o nosso Deus».

 

CONTEXTO

O Livro de Josué é uma reflexão sobre a história do Povo de Deus no período que vai desde a sua entrada em Canaã até à morte de Josué (talvez por meados do séc. XII a.C.). Descreve sobretudo a conquista da Terra Pronetida (cf. Js 1,1-12,24) e a distribuição do território pelas tribos (cf. Js 13,1-21,45). Um apêndice final, redigido provavelmente durante o Exílio na Babilónia, apresenta outro material, nomeadamente refere a despedida e a morte de Josué, bem como a notícia de uma reunião geral de tribos em Siquém, antes da morte de Josué (cf. Js 22,1-24,33).

Em geral, a preocupação dos autores da “escola deuteronomista” que compuseram este livro é mais de caráter teológico do que histórico. Por exemplo, a conquista da Terra é apresentada como uma campanha fulgurante e fácil em que as doze tribos a uma só voz, sob a liderança de Josué, se apoderaram facilmente de toda a Terra. Mas, historicamente as coisas não aconteceram dessa forma… O livro dos Juízes, muito mais realista, fala de uma conquista lenta, difícil (cf. Jz 1) e incompleta (cf. Jz 13,1-6; 17,12-16), que não foi obra de um povo unido à volta de um chefe único, mas de tribos que fizeram a guerra isoladamente. Mais do que descrever factos históricos, os autores do livro estão interessados em afirmar o poder de Javé, posto ao serviço do seu Povo. Foi Deus – e não a capacidade militar das tribos – que, com os seus prodígios, ofereceu a Israel a Terra Prometida; Israel, por sua vez, deve responder a esse dom mantendo-se fiel à Aliança e aos mandamentos.

O texto que a liturgia deste vigésimo domingo comum nos propõe como primeira leitura situa-nos na fase final da vida de Josué. Sentindo aproximar-se a morte, Josué teria reunido em Siquém os líderes das tribos e ter-lhes-ia proposto uma cerimónia de renovação da Aliança com Javé. Terá sido uma assembleia onde participaram as doze tribos que, mais tarde (na época de David) vão constituir uma unidade nacional? Os biblistas acham que não. Na “assembleia de Siquém” não estaria certamente a tribo de Judá, já que os contactos entre Judá e a “casa de José” só se estabeleceram na época do rei David. Por outro lado, a “casa” de Josué, referida no texto, reuniria provavelmente apenas as tribos do centro do país (Efraim, Benjamim e Manassés), as tribos que viveram a experiência da libertação do Egito, da caminhada pelo deserto e da Aliança do Sinai e que há muito tempo tinham aderido a Javé e à Aliança. E as outras tribos, convidadas a comprometer-se com Javé? Seriam, provavelmente, as tribos do norte do país (Issacar, Zabulón, Neftali, Asher e Dan), que não tinham estado no Egito e não tinham experimentado a maravilhosa aventura da libertação.

Alguns pensam que a “assembleia de Siquém”, referida em Js 24, foi a primeira tentativa histórica de estabelecer laços entre as tribos instaladas no centro e as tribos instaladas no norte da Palestina. Na perspetiva de Josué, a ligação deveria fazer-se à volta de uma fé comum num mesmo Deus. Na realidade, a união das tribos do norte e do centro não se deu de uma vez; mas foi uma caminhada lenta e progressiva, que só se completou muitos anos depois de Josué ter desaparecido de cena.

 

MENSAGEM

Estamos, portanto, em Siquém, no centro do país, num encontro que reúne “todas as tribos de Israel” (Js 24,1). Josué preside a esta reunião. Na interpelação que dirige aos líderes das tribos, Josué começa por elencar alguns momentos capitais da história da salvação… Lembra como Deus chamou Abraão e o conduziu à terra de Canaã; como os descendentes de Abraão tiveram de se deslocar para o Egito e como Deus, alguns anos mais tarde, os tirou dessa terra de opressão para os conduzir para a liberdade; como Deus fez com que esse Povo salvo da escravidão atravessasse o rio Jordão e tomasse posse da terra que outros povos habitavam… A verdade é que Deus conduziu sempre o seu Povo pelos caminhos da história, proporcionando-lhe todos os bens. Tudo o que aconteceu ao longo desse caminho não resultou do poder e do engenho do Povo, mas sim da bondade de Deus. Javé provou, assim, que é um Deus digno de confiança; as suas ações salvadoras e libertadoras em favor de Israel são uma prova mais do que suficiente do seu poder e da sua fidelidade (cf. Js 24,2-13).

Daqui o Povo deve tirar as devidas consequências. Quererá servir esse Senhor com provas dadas, que libertou Israel da opressão, que o conduziu pelo deserto e que o introduziu na Terra Prometida, ou servir os deuses estrangeiros, que nunca deram nada a Israel? É necessária uma opção clara, um compromisso bem definido, uma decisão definitiva. Israel aceita reunir-se à volta de Javé, ser o Povo de Javé e viver exclusivamente para o serviço de Javé? Para o grupo de Josué (as tribos do centro), as coisas são perfeitamente claras: estarão incondicionalmente com Javé (Js 24,15).

A resposta do conjunto do Povo é a esperada: “Longe de nós abandonar o Senhor para servir outros deuses” (Js 24,16). O Povo reconhece a ação de Deus em seu favor, as maravilhosas obras por Ele realizadas, e dispõe-se a viver para o serviço de Javé (cf. Js 24,17-18). Não vê saída e não pretende encontrar uma saída à margem de Javé.

Há em tudo isto um elemento que importa destacar… A aceitação de Javé como Deus de Israel é apresentada, não como uma obrigação imposta a um grupo de escravos, mas como uma opção livre, feita por pessoas que fizeram uma experiência forte de Deus e que estão profundamente impressionadas por tudo o que descobriram sobre Deus. A adesão do Povo a Deus é a resposta agradecida de pessoas livres e maduras que encontraram Deus no caminho da história e que estão cientes de que só em Deus podem encontrar a liberdade e a vida em plenitude.

Esta reflexão dos teólogos deuteronomistas é uma belíssima catequese que recorda ao Povo de Deus de todas as épocas – inclusive aos judeus exilados na Babilónia – o compromisso assumido de servir a Deus e de caminhar sempre na fidelidade a Javé e à Aliança. Essa é e será sempre a vocação fundamental do Povo de Deus.

 

INTERPELAÇÕES

  • Vivemos mergulhados na cultura do efémero e do contingente. Somos condicionados para acreditar que, enquanto andarmos na terra, a nossa vida nunca estará fechada. As condições alteram-se, as pessoas mudam, os cenários variam, a nossa compreensão das coisas vai-se modificando. O que hoje nos parece perfeitamente adquirido, amanhã é-nos apresentado como incerto e variável. Dizem-nos que nada é definitivo e que a nossa liberdade de tudo rever é ilimitada. Neste vórtice, perguntamo-nos a cada instante: que caminhos escolher? Que valores privilegiar? Em que cenário de fundo queremos desenhar a nossa vida? É neste contexto que hoje somos convidados a escutar o desafio colocado por Josué ao Povo de Deus na “assembleia de Siquém”: “escolhei hoje a quem quereis servir”. A expressão interpela-nos acerca das nossas opções fundamentais, dos valores que sustentam a nossa caminhada, das nossas referências e prioridades… O que é que para nós é decisivo e inegociável? Quais são os “deuses” que nos fazem correr? Que lugar é que Deus e as suas propostas ocupam na construção da nossa vida? Como queremos realmente viver?
  • Israel aceitou “servir o Senhor” e comprometer-se com Ele, não por obrigação, mas pela convicção de que era esse o caminho para ser feliz e encontrar Vida. Foi uma escolha livre de um povo que, depois de ver como Deus atuava, acreditou na bondade e no amor de Deus. Nós não somos escravos de Deus, obrigados a cumprir as regras que Ele impõe; Deus não é um concorrente do homem, um adversário controlador e ciumento que limita a nossa independência e que rouba a nossa liberdade. Deus apenas está interessado na nossa libertação, na nossa realização e na nossa felicidade. Como é que nós entendemos as propostas e os mandamentos de Deus: como exigências que condicionam e reprimem, ou como indicações seguras, fruto do amor e da bondade de Deus, para nos fazerem chegar à nossa plena realização?
  • Josué, o líder que sucedeu a Moisés na condução do Povo de Deus, teve um papel fundamental no sentido de ajudar o Povo a discernir os caminhos mais adequados para construir um futuro com sentido. O discurso de Josué não é um discurso populista ou politicamente correto; o procedimento de Josué não procura condicionar as escolhas do Povo e obrigá-lo a fazer opções que não desejava; o pronunciamento de Josué não é um pronunciamento irresponsável e descomprometido… Josué, com firmeza, mas também com respeito, limitou-se a afirmar os seus valores e a oferecer o seu testemunho de forma clara, coerente e incisiva: “eu e a minha família serviremos o Senhor”. É assim – com esta lisura, com esta verdade e com esta coerência – que vemos proceder aqueles que têm a responsabilidade de presidir à comunidade (religiosa ou civil)? E nós próprios, quando temos a responsabilidade de animar uma comunidade, é assim que procedemos?

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 33 (34)

Refrão: Saboreai e vede como o Senhor é bom.

A toda a hora bendirei o Senhor,
o seu louvor estará sempre na minha boca.
A minha alma gloria-se no Senhor:
escutem e alegrem-se os humildes.

Os olhos do Senhor estão voltados para os justos
e os ouvidos atentos aos seus rogos.
A face do Senhor volta-se contra os que fazem o mal,
para apagar da terra a sua memória.

Os justos clamaram e o Senhor os ouviu,
livrou-os de todas as suas angústias.
O Senhor está perto dos que têm o coração atribulado
e salva os de ânimo abatido.

Muitas são as tribulações do justo,
mas de todas elas o livra o Senhor.
Guarda todos os seus ossos,
nem um só será quebrado.

 

A maldade leva o ímpio à morte,
os inimigos do justo serão castigados.
O Senhor defende a vida dos seus servos,
não serão castigados os que n’Ele se refugiam.

 

LEITURA II – Efésios 5,21-32

Irmãos:
Sede submissos uns aos outros no temor de Cristo.
As mulheres submetam-se aos maridos como ao Senhor,
porque o marido é a cabeça da mulher,
como Cristo é a cabeça da Igreja, seu Corpo,
do qual é o Salvador.
Ora, como a Igreja se submete a Cristo,
assim também as mulheres
se devem submeter em tudo aos maridos.
Maridos, amai as vossas mulheres,
como Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela.
Ele quis santificá-la,
purificando-a no batismo da água pela palavra da vida,
para a apresentar a Si mesmo como Igreja cheia de glória,
sem mancha nem ruga, nem coisa alguma semelhante,
mas santa e imaculada.
Assim devem os maridos amar as suas mulheres,
como os seus corpos.
Quem ama a sua mulher ama-se a si mesmo.
Ninguém, de facto, odiou jamais o seu corpo,
antes o alimenta e lhe presta cuidados,
como Cristo à Igreja;
porque nós somos membros do seu Corpo.
Por isso, o homem deixará pai e mãe,
para se unir à sua mulher,
e serão dois numa só carne.
É grande este mistério,
digo-o em relação a Cristo e à Igreja.

 

CONTEXTO

Paulo passou em Éfeso, no decurso da sua terceira viagem missionária, e ficou lá um pouco mais de dois anos (cf. At 19,8.10). Éfeso era, por essa altura, a capital da Província romana da Ásia e um dos mais importantes centros comerciais e religiosos do mundo greco-romano. O seu templo de Artémis, considerado uma das sete maravilhas do mundo antigo, era conhecido em toda a bacia mediterrânea.

A partir do trabalho missionário de Paulo, formou-se em Éfeso uma comunidade cristã dinâmica, viva e fervorosa. Paulo viveu esse tempo de estadia em Éfeso de forma muito intensa, criando uma relação privilegiada com a comunidade, como ficou patente quando o apóstolo, no final dessa viagem, quis encontrar-se com os anciãos de Éfeso, em Mileto, numa despedida carregada de emoção e de sentimento (cf. At 20,17-38).

Estranhamento, na Carta aos Efésios não transparece essa ligação pessoal entre Paulo e os cristãos de Éfeso. É uma carta com uma reflexão madura e cuidada, mas bastante formal e impessoal. Isso tem contribuído para que alguns neguem a autenticidade paulina da Carta aos Efésios, considerando-a como obra tardia de um discípulo de Paulo. O mais provável, contudo, é que se trate de uma “carta circular”, enviada por Paulo a diversas igrejas do ocidente da Ásia Menor (atual Turquia), entre as quais se contava também a comunidade cristã de Éfeso.

O texto que a liturgia deste vigésimo primeiro domingo comum nos apresenta como primeira leitura está incluído na parte moral e parenética da Carta aos Efésios (cf. Ef 4,1-6,20). Aí, o autor da Carta aos Efésios lembra aos crentes, de forma bastante concreta, a opção que fizeram no dia do seu Batismo e que os obriga a viver como Homens Novos, à imagem de Jesus.

Na secção de Ef 5,21-6,9 são apresentadas algumas das normas que devem reger as relações familiares. De forma especial referem-se os deveres dos esposos, cuja união é apresentada como figura da união de Cristo com a sua Igreja. Trata-se de um dos temas mais importantes da teologia desenvolvida na Carta aos Efésios.

 

MENSAGEM

O texto começa por enunciar um princípio geral que deve condicionar a forma como os discípulos de Jesus vivem e se relacionam: “sede submissos uns aos outros no temor de Cristo” (Ef 5,21). O “ser submisso” não significa aqui qualquer comportamento humilhante ou aviltante, mas expressa a condição daquele que está permanentemente numa atitude de serviço simples e humilde, sem deixar que a sua relação com o irmão seja dominada pelo orgulho ou marcada por atitudes de prepotência. A expressão “no temor de Cristo” recorda aos crentes que o Cristo do amor e do serviço é o exemplo e o modelo que eles devem seguir.

Depois, o autor da carta dirige-se aos vários membros da família e convida-os a terem, uns com os outros, comportamentos consentâneos com o princípio atrás enunciado. Concretamente, Paulo aplica esse princípio à relação entre o marido e a mulher (embora não se fique por aí, pois, num desenvolvimento que a leitura que nos é proposta neste domingo não conservou, fala também da conduta dos filhos para com os pais, dos pais para com os filhos, dos senhores para com os escravos e dos escravos para com os senhores – cf. Ef 6,1-9).

Às mulheres, Paulo pede a submissão aos maridos, porque “o marido é a cabeça da mulher, como Cristo é a cabeça da Igreja, seu corpo” (vers. 23). Esta afirmação – que, à luz da nossa sensibilidade e dos nossos esquemas mentais modernos parece sexista, senão mesmo discriminatória – deve ser entendida no contexto sociocultural da época, onde o homem aparece como a referência suprema da organização do núcleo familiar. De qualquer forma, a “submissão” de que Paulo fala deve ser sempre entendida no sentido do amor e do serviço e não no sentido da escravidão.

Aos maridos, o autor da Carta aos Efésios recomenda que amem as suas esposas, “como Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela” (vers. 25). Não se trata de um amor qualquer, mas de um amor igual ao de Cristo pela sua comunidade – isto é, um amor generoso e total, que é capaz de ir até ao dom da própria vida. Para Paulo, portanto, o amor dos maridos pelas esposas deve ser um amor de completa entrega, bondoso, generoso, paciente e serviçal, livre de qualquer toque de egoísmo ou de prepotência.

Chegado aqui, Paulo julga útil explicitar a sua teologia da relação entre Cristo e a Igreja, para depois tirar daí as devidas consequências para a união dos esposos cristãos… Cristo santificou a Igreja, purificando-a “no batismo da água pela palavra da vida” (vers. 26). A imagem inspira-se, muito provavelmente, nas cerimónias preparatórias do matrimónio, que incluíam o “banho” purificador da noiva antes de se apresentar diante do noivo. Assim também, pelo batismo Cristo purifica a sua Igreja do pecado e torna-a digna do seu esposo. O batismo é o momento em que Cristo oferece a Vida plena à sua Igreja e em que a Igreja se compromete com Cristo numa comunidade de amor. A partir desse momento, Cristo e a Igreja formam um só corpo.

Ora, do mesmo modo que Cristo e a Igreja formam um só corpo, também marido e esposa, comprometidos numa comunidade de amor, formam um só corpo: “por isso, o homem deixará pai e mãe para se unir à sua mulher e serão dois numa só carne” (vers. 31). A expressão “uma só carne” aqui usada por Paulo não alude só à união carnal dos esposos, mas a toda a sua vida conjugal, feita de um empenho quotidiano na vivência do amor, da fidelidade e da partilha de toda a existência.

Este paralelismo estabelecido entre a união de Cristo e da Igreja e o amor que une o marido e a mulher, dá um significado especial ao casamento cristão: a vocação dos esposos é anunciar e testemunhar o amor e a ternura de Deus; a comunhão de vida dos esposos cristãos é aos olhos do mundo, um sinal e um reflexo do “mistério” de amor que une Cristo e a Igreja.

 

INTERPELAÇÕES

  • O compromisso com Jesus mexe com a totalidade da vida dos seres humanos e tem consequências em todos os níveis da existência, nomeadamente ao nível da relação familiar. Para além de ser oásis de amor e de felicidade, o espaço da relação familiar também é, para os casais cristãos, um lugar onde se vivem e se manifestam os valores do Reino de Deus. Com a sua partilha de amor, com a sua união, com a sua comunhão de vida, o casal cristão é chamado a ser sinal e reflexo da união de Cristo com a sua Igreja. Por isso, a Igreja pede: “os esposos, feitos à imagem de Deus e estabelecidos numa ordem verdadeiramente pessoal, estejam unidos em comunhão de afeto e de pensamento e com mútua santidade de modo que, seguindo a Cristo, princípio da vida, se tornem, pela fidelidade do seu amor, através das alegrias e sacrifícios da sua vocação, testemunhas daquele mistério de amor que Deus revelou ao mundo com a sua morte e ressurreição” (Gaudium et Spes, 52). Os casais cristãos estão conscientes de que são chamados a dar testemunho no mundo, com o seu amor, com a sua entrega, com a sua harmonia, com a sua vida partilhada, da união entre Cristo e a sua Igreja?
  • O amor de Cristo, manifestado em todos os gestos da sua vida, mas tornado patente de forma superlativa na cruz, é o modelo para todos os nossos “amores”, incluindo o amor dos esposos. O amor dos casais cristãos é um amor definido pelo dom total de si próprio em favor do outro; é um amor que vive de olhos postos no bem do outro; é um amor que não procura ser servido, mas servir e dar vida; é um amor que não é competição de direitos e deveres, mas comunidade de partilha e de serviço; é um amor que não é arrogante, nem orgulhoso, nem injusto, nem prepotente; é um amor que compreende os erros e as falhas do outro, e que tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta (cf. 1 Co 13,4-7). É assim que vivem e amam aqueles de entre nós que foram chamados à vocação matrimonial?
  • Paulo, dirigindo-se às mulheres, recomenda-lhes que assumam, frente aos maridos uma atitude de “submissão” (poderíamos traduzir também a palavra utilizada pelo apóstolo como “docilidade”). Evidentemente, temos de enquadrar a recomendação de Paulo no contexto sociocultural da época, em que o marido era considerado a referência fundamental da ordem familiar (“porque o marido é a cabeça da mulher” – diz Paulo). Seja como for, esta “palavra” de Paulo nunca poderá ser utilizada como pretexto para justificar qualquer atitude de discriminação baseada no sexo ou de imposição da autoridade do homem sobre a mulher: nem na sociedade, nem na Igreja, nem no contexto familiar. Aliás, Paulo dirá, noutras circunstâncias, que “não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem e mulher, porque todos sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3,28). Respeitamos a dignidade de cada pessoa, sem discriminar e sem tratar de forma menos própria aqueles que caminham connosco?

 

ALELUIA – cf. Jo 6,63c.68c

Aleluia. Aleluia.

As vossas palavras, Senhor, são espírito e vida:
Vós tendes palavras de vida eterna.

 

EVANGELHO – João 6,60-69

Naquele tempo,
muitos discípulos, ao ouvirem Jesus, disseram:
«Estas palavras são duras.
Quem pode escutá-las?»
Jesus, conhecendo interiormente
que os discípulos murmuravam por causa disso,
perguntou-lhes:
«Isto escandaliza-vos?
E se virdes o Filho do homem
subir para onde estava anteriormente?
O espírito é que dá vida,
a carne não serve de nada.
As palavras que Eu vos disse são espírito e vida.
Mas, entre vós, há alguns que não acreditam».
Na verdade, Jesus bem sabia, desde o início,
quais eram os que não acreditavam
e quem era aquele que O havia de entregar.
E acrescentou:
«Por isso é que vos disse:
Ninguém pode vir a Mim,
se não lhe for concedido por meu Pai».
A partir de então, muitos dos discípulos afastaram-se
e já não andavam com Ele.
Jesus disse aos Doze:
«Também vós quereis ir embora?»
Respondeu-Lhe Simão Pedro:
«Para quem iremos, Senhor?
Tu tens palavras de vida eterna.
Nós acreditamos
e sabemos que Tu és o Santo de Deus».

 

CONTEXTO

Depois de Jesus ter saciado a fome da multidão que o seguia (cf. Jo 6,1-15), gerou-se uma situação equívoca. A multidão esperava que Jesus fosse um messias-rei que lhe oferecesse uma vida confortável e pão em abundância; e Jesus estava bem consciente de que a sua missão não era “dar coisas”, mas sim oferecer-se a si próprio para que a humanidade tivesse Vida. A multidão esperava de Jesus uma proposta humana que conduzisse ao triunfo e à glória; e Jesus sabia claramente que o caminho que tinha para propor era o caminho da cruz, da vida dada até ao extremo, por amor. Percebendo que a multidão e Ele não estavam no mesmo comprimento de onda, Jesus não quis alimentar mal-entendidos; e, no “discurso do pão da vida” (cf. Jo 6,22-59), procurou deixar clara a sua proposta. Depois de escutarem Jesus, os seus interlocutores perceberam que tinham de fazer uma opção decisiva: ou continuar a viver numa lógica humana, virada para os bens materiais e para as satisfações mais imediatas, ou assumir a lógica de Deus, seguindo o exemplo de Jesus e fazendo da vida um dom de amor para ser partilhado.

O texto do Evangelho que a liturgia deste vigésimo primeiro domingo comum nos propõe refere a reação negativa de “muitos discípulos” às propostas que Jesus deixou no ar, naquele discurso feito na sinagoga de Cafarnaum, no dia a seguir à partilha dos pães e dos peixes. Nem todos os discípulos que, até agora, o seguiam pelas aldeias e vilas da Galileia estão dispostos a identificar-se com Jesus (“comer a sua carne e beber o seu sangue”) e a oferecer a sua vida como dom de amor que deve ser partilhado com toda a humanidade.

Poderá ser útil também, para entendermos a “catequese” aqui feita pelo autor do Quarto Evangelho, lembrarmos o contexto em que vivia a comunidade joânica, nos finais do séc. I, quando o Evangelho segundo João foi escrito… Os cristãos eram discriminados e perseguidos em todo o Império romano; muitos discípulos afastavam-se, recusando-se a seguir Jesus no caminho do dom da vida; outros, confusos e perplexos, questionavam-se se para ser cristão seria preciso percorrer um caminho tão radical e de tanta exigência… A proposta que Jesus tinha apontado aos seus conduziria, efetivamente, à felicidade e à Vida plena, ou ao fracasso e à morte? Neste cenário – um cenário que exigia opções decisivas – o “catequista” João procura, recorrendo às palavras de Jesus, encontrar respostas que devolvam aos cristãos o ânimo e a esperança.

 

MENSAGEM

A “clarificação” feita por Jesus no “discurso do pão da Vida” provoca uma forte “crise” no grupo dos discípulos. Para muitos deles, as palavras que ouviram são insuportáveis, pois exigem demasiado (vers. 60). Eles não estão preparados para tanta exigência: não querem renunciar aos seus próprios projetos de ambição e de realização humana, nem estão disponíveis para embarcar com Jesus no caminho do amor, do serviço, da partilha da vida. Aliás, esse caminho parece-lhes ilógico e contraproducente: é um caminho que só pode conduzir ao fracasso, ao malogro da própria vida. Eles estão até “escandalizados” com a proposta que Jesus se atreve a fazer-lhes.

Jesus assegura-lhes, no entanto, que não está a apontar-lhes um caminho de fracasso e de morte, mas sim um caminho que leva à glória e à Vida eterna. A “subida” do Filho do Homem, após a morte na cruz, para reentrar no mundo de Deus, será a “prova provada” de que a vida oferecida por amor conduz à Vida em plenitude (vers. 61-62). Esses discípulos “escandalizados”, que não estão dispostos a acolher a proposta de Jesus, ainda vivem prisioneiros da velha lógica humana, da lógica da “carne”. A sua adesão a Jesus é exterior e superficial. Buscam apenas a glória humana, o poder, as honras, a satisfação fácil das necessidades materiais mais básicas. Só o Espírito de Deus poderia ajudá-los a interiorizar uma lógica nova, a seguir Jesus, a colaborar com Ele na construção de uma vida mais digna e plena (vers. 63); mas eles não estão disponíveis para acolher o Espírito.

Consciente de que alguns dos discípulos andam atrás d’Ele pelas razões erradas, Jesus até sabe que um deles O vai trair e entregar nas mãos dos líderes judaicos (vers. 64). No entanto, mantém-se tranquilo e sereno, sem forçar nada, num respeito absoluto pelas opções de cada um. Limita-se a apresentar a sua proposta – proposta radical e exigente, mas bela e transformadora também – e a esperar que cada “discípulo” faça a sua opção, com toda a liberdade.

A missão de Jesus é apresentar a proposta salvadora do Pai a todos os homens e mulheres (vers. 65). Quem a acolhe, liga-se a Jesus e passa a integrar a sua comunidade. Esses receberão Vida em abundância.

Apesar das explicações de Jesus, muitos dos discípulos “afastaram-se” definitivamente (vers. 66). Fizeram a sua opção e decidiram que o programa exposto por Jesus não lhes servia. Eles não estavam dispostos a renunciar a uma vida de ambição pessoal.

Confirmada a deserção desses discípulos, Jesus questiona os que integram o grupo mais restrito dos “Doze”: “também vós quereis ir embora?” (vers. 67). Note-se que Jesus, mesmo depois dos acontecimentos recentes, não dá qualquer sinal de suavizar as suas exigências anteriores ou de atenuar a radicalidade da sua proposta. O projeto – esse projeto que o Pai lhe confiou – mantém-se tal e qual, sem mudar uma vírgula. Não por teimosia ou obstinação; mas pela convicção profunda de que o caminho do amor, do serviço, da partilha, da entrega, é o único caminho por onde é possível chegar à Vida plena… Aos Doze resta apenas aceitar essa proposta ou rejeitá-la.

Confrontados com esta opção fundamental, os Doze tomam posição. Quem responde em nome do grupo (uso do plural) é Simão Pedro: “Para quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de Vida eterna” (vers. 68). Os membros do grupo reconhecem, pela voz de Pedro, que só com Jesus encontrarão Vida definitiva. Haverá, eventualmente, caminhos menos exigentes; mas são caminhos que apenas proporcionam uma vida efémera e parcial. Só no caminho que Jesus acabou de propor (e que “muitos discípulos” recusaram) se encontra a felicidade duradoura e a realização plena do homem (vers. 68).

É porque reconhece em Jesus o único caminho válido para chegar à vida eterna que a comunidade dos “Doze” adere ao que Ele propõe (“nós acreditamos” – vers. 69a). A “fé” (adesão a Jesus) traduz-se no seguimento de Jesus, na identificação com Ele, no compromisso com a proposta que Ele faz (“comer a carne e beber o sangue” que Jesus oferece e que dão a Vida eterna).

A resposta posta na boca de Pedro é precisamente a resposta que a comunidade joânica (a tal comunidade que, no final do séc. I, vive a sua fé e o seu compromisso cristão em condições difíceis e que, por vezes, tem dificuldade em renunciar à lógica do mundo e apostar na radicalidade do Evangelho de Jesus) é convidada a dar: “Senhor, as tuas propostas nem sempre fazem sentido à luz dos valores que governam o nosso mundo; quando as abraçamos, temos de enfrentar a perseguição, a incompreensão e talvez até a morte… Mas nós estamos seguros de que o caminho que Tu nos indicas é um caminho que leva à Vida eterna. Não queremos seguir mais ninguém, pois não vemos uma esperança mais segura e mais convincente do que aquela que Tu acendes nos nossos corações”.

 

INTERPELAÇÕES

  • Um dos mais belos dons de Deus é a liberdade. Contudo, no exercício da liberdade, somos a cada passo confrontados com escolhas; e, muitas vezes as escolhas que fazemos são decisivas para o êxito ou o fracasso da nossa vida. É essa a grande questão que atravessa o Evangelho que escutamos neste domingo. De um lado está um projeto de vida – alimentado e cultivado por alguns dos discípulos que seguem Jesus – alicerçado na ambição pessoal, que busca glória humana, poder, bens materiais, resposta imediata a interesses próprios; é um projeto que responderá a determinadas necessidades básicas do homem, mas que dificilmente preencherá uma vida com sentido. Do outro lado está o projeto de Jesus, que propõe uma vida feita dom, concretizada em gestos de serviço, de partilha, de generosidade, de amor até ao extremo; é um projeto que, muitas vezes, implica andar contra a corrente e enfrentar a incompreensão e a perseguição, mas que conduz à Vida verdadeira e eterna. Como nos situamos face a isto? Qual a nossa opção?
  • Confrontados com a radicalidade do projeto de Jesus, “muitos discípulos” decidiram que aquilo não era para eles e foram-se embora. Estavam demasiado reféns dos seus sonhos de riqueza fácil, dos seus desejos egoístas, dos seus valores fúteis, dos seus jogos de poder e de influência, dos seus comodismos e seguranças… Provavelmente tinham ido atrás de Jesus pelas razões erradas. Trata-se de um “equívoco” que tem tendência a repetir-se: em cada época da história há “discípulos” de Jesus – talvez até figuras de referência nas nossas comunidades cristãs – que andam com Ele pelas razões erradas e que assumem um estilo de vida claramente divorciado da proposta de Jesus. Cultivam valores ocos, vivem obcecados com os bens materiais, tratam os irmãos com prepotência e arrogância, não têm escrúpulos em pôr os outros a servi-los, tratam a comunidade como sua propriedade privada, não olham a meios para atingir determinados fins. Este quadro diz-nos alguma coisa? O quê?
  • Os Doze ficaram com Jesus, pois estavam convictos de que só Ele tem “palavras de Vida eterna”. Ao lado de Jesus descobriram outra maneira de viver; a mensagem de Jesus apontou-lhes uma Vida verdadeira e definitiva que eles antes não conheciam. Por isso, estão decididos a deixarem-se conduzir por Jesus. Não veem ninguém que os ajude, melhor do que Jesus, a dar sentido às suas vidas. Esses Doze representam aqueles que não se conformam com a banalidade de uma vida construída sobre valores efémeros e que querem ir mais além; representam aqueles que não estão dispostos a conduzir a sua vida ao sabor da preguiça, do comodismo, da instalação; representam aqueles que aderem sinceramente a Jesus, se comprometem com o seu projeto e se esforçam por viver em coerência com a opção por Jesus que fizeram no dia do seu Batismo. Vemos esses Doze como modelo da nossa adesão a Jesus e ao seu projeto? Mesmo com as falhas que resultam da nossa fragilidade, procuramos viver com coerência e verdade o nosso compromisso com o seguimento de Jesus?
  • Jesus não parece estar tão preocupado com o número de discípulos que continuarão a segui-l’O, quanto com o manter a verdade e a coerência do seu projeto. Ele não faz cedências fáceis para ter êxito ou para captar a benevolência e os aplausos das multidões, pois o Reino de Deus não é um concurso de popularidade… O Evangelho que Jesus veio propor conduz à Vida plena, mas por um caminho que é de radicalidade e de exigência e que muitas vezes está em contradição com as ideias e valores que o mundo privilegia. “Suavizar” as exigências do Evangelho, a fim de que ele seja mais facilmente aceite pelos homens do nosso tempo, pode ser desvirtuar a proposta de Jesus e despojar o Evangelho daquilo que ele tem de verdadeiramente transformador. O que deve inquietar-nos não é tanto o número de pessoas que vão à Igreja, mas é mais o mantermos a fidelidade ao programa de Jesus. Anunciamos e testemunhamos o Evangelho de Jesus sem cedências fáceis e sem prescindirmos da sua radicalidade e exigência?
  • Um dos elementos que sobressai no Evangelho deste domingo é a serenidade com que Jesus encara o “não” de alguns discípulos ao projeto que Ele veio propor. Diante desse “não”, Jesus não força as coisas, não protesta, não ameaça, mas respeita absolutamente a liberdade de escolha dos seus discípulos. Jesus mostra, assim, o respeito de Deus pelas decisões (mesmo erradas) do homem, pelas dificuldades que o homem sente em comprometer-se, pelos caminhos diferentes que o homem escolhe seguir. O nosso Deus é um Deus que respeita o homem, que o trata como adulto, que aceita que ele exerça o seu direito à liberdade. É bom caminharmos sentindo que Deus respeita a nossa autonomia e liberdade. Por outro lado, um Deus tão compreensivo e tolerante convida-nos a dar mostras de misericórdia, de respeito e de compreensão para com os irmãos que seguem caminhos diferentes, que fazem opções diferentes, que conduzem a sua vida de acordo com valores e critérios diferentes dos nossos. É esse o testemunho que damos? Procuramos respeitar as diferenças, os “diferentes”, sem assumirmos atitudes de marginalização ou de exclusão? Respeitamos a legítima liberdade dos homens e das mulheres que caminham ao nosso lado?

 

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 21.º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

Ao longo dos dias da semana anterior ao 21.º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. BILHETE DE EVANGELHO.

Não há dúvida que Pedro não tinha compreendido todas as palavras de Jesus sobre o Pão da Vida, mas, um dia, ele tinha deixado tudo para seguir este Mestre que falava e agia com autoridade. Ele tinha-Lhe dado toda a sua confiança sem reservas: as suas palavras eram palavras de vida, os seus gestos eram gestos de vida. Então porque não aceitar que toda a sua pessoa fosse doadora de vida eterna? Pedro não se vê, pois, a deixar Aquele que promete a vida em nome de Deus. Imagina-se o sofrimento de Jesus ao ver alguns dos seus discípulos deixarem de O seguir. Mas imagina-se também a sua alegria diante da confiança daqueles que não O deixarão, mesmo se vierem a conhecer abandono momentâneo, negação, dúvida… Estamos prontos a fazer o ato de fé de Pedro: “Senhor, para quem iremos nós?” Em Cristo, e somente n’Ele, nunca ficaremos dececionados!

3. À ESCUTA DA PALAVRA.

O escândalo não tardou em rebentar! “Estas palavras são duras. Quem pode escutá-las?” Desta vez, não são os escribas e os fariseus que se opõem violentamente a Jesus, mas a maior parte dos seus discípulos. No lugar de Jesus, teríamos, sem dúvida, tentado acalmar os espíritos dizendo, por exemplo, que comer o seu corpo, beber o seu sangue para ter a vida eterna, era uma imagem, certamente chocante, mas apenas uma imagem! Nada disso com Jesus! Ele não apenas não retira nenhuma das suas palavras, mas provoca os Doze: “Também vós quereis ir embora?” Ele aceitaria antes ver partir os seus discípulos mais próximos do que negar uma só das suas palavras! O desafio era capital, incontornável. Não podemos apagar estas palavras se queremos ser seus discípulos. Tudo à luz do acontecimento central da Morte e Ressurreição, celebrado na Eucaristia! Isso exige uma dupla atitude para entrarmos no mistério da Eucaristia: Reconhecemos verdadeiramente neste homem, Jesus de Nazaré, o Filho de Maria, o verdadeiro Filho único de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos, como dizemos no Credo? Cremos verdadeiramente que Jesus ressuscitou e é verdadeiramente vencedor da morte? Aí está o centro da nossa fé, onde tudo se decide! Quando comungamos o corpo e o sangue de Cristo, dizemos: “Ámen! Adiro a esta presença de Jesus ressuscitado com todas as fibras do meu ser!” Uma fé celebrada na Eucaristia a marcar toda a nossa existência… Não há meios-termos!

4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…

Qual é a minha fé? Cada um de nós pode interrogar-se: posso sinceramente dizer a minha fé com as palavras de Pedro? Se sim, terei, nos próximos dias, a força de a testemunhar junto de uma pessoa que duvida, que procura, ou que contesta a fé cristã? Quais são os meios que tenho para alimentar a minha fé?

 

UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA

Grupo Dinamizador:
José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
www.dehonianos.org

 

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