Semana de Jul 30th

  • 17º Domingo do Tempo Comum - Ano B [atualizado]

    17º Domingo do Tempo Comum - Ano B [atualizado]


    28 de Julho, 2024

    ANO B

    17.º DOMINGO DO TEMPO COMUM

    Tema do 17.º Domingo do Tempo Comum

    A liturgia do 17.º domingo Comum dá-nos conta da preocupação de Deus em saciar a “fome” de todos os seus filhos e filhas. Convida-nos a ver os bens que Deus põe à nossa disposição como dons para todos; propõe que abramos os nossos corações à partilha, à fraternidade, à responsabilidade pela “fome” dos nossos irmãos.

    Na primeira leitura, o profeta Eliseu manda distribuir pelas pessoas que o rodeiam os pães que lhe foram oferecidos. O “profeta” é um sinal vivo de Deus no mundo dos homens. O seu gesto é uma lição de Deus: ensina a partilha, a generosidade, a solidariedade.

    No Evangelho, Jesus oferece aos discípulos e à multidão o “sinal” da multiplicação dos pães e dos peixes. O seu gesto “abre os olhos” dos discípulos e fá-los perceber que só a lógica da partilha, da gratuidade, do dom generoso, do serviço humilde podem multiplicar o “pão” que sacia a “fome” do mundo. É esta lógica que permite passar da escravidão dos bens à liberdade do amor; é esta lógica que fará nascer um mundo mais humano, mais solidário, mais fraterno.

    Na segunda leitura, Paulo lembra aos crentes algumas exigências da vida cristã. Recomenda-lhes, especialmente, a humildade, a mansidão e a paciência: são atitudes que não se coadunam com esquemas de egoísmo, de orgulho, de autossuficiência, de preconceito em relação aos irmãos.

     

    LEITURA I – 2 Reis 4,42-44

    Naqueles dias,
    veio um homem da povoação de Baal-Salisa
    e trouxe a Eliseu, o homem de Deus,
    pão feito com os primeiros frutos da colheita.
    Eram vinte pães de cevada e trigo novo no seu alforge.
    Eliseu disse: «Dá-os a comer a essa gente».
    O servo respondeu:
    «Como posso com isto dar de comer a cem pessoas?»
    Eliseu insistiu:
    «Dá-os a comer a essa gente,
    porque assim fala o Senhor:
    ‘Comerão e ainda há de sobrar’».
    Deu-lhos e eles comeram,
    e ainda sobrou, segundo a palavra do Senhor.

     

    CONTEXTO

    As tradições proféticas sobre Elias e Eliseu (os “ciclos” de Elias e Eliseu) ocupam um espaço significativo no Livro dos Reis (cf. 1 Re 17,1-21,29; 2 Re 1,1-13,21). Referem-se a um período bastante conturbado – quer em termos políticos, quer em termos religiosos – da vida do Reino do Norte (Israel). Elias exerce a sua missão profética durante os reinados de Acab (874-853 a.C.) e de Acazias (853-852 a.C.); Eliseu dá o seu testemunho profético durante os reinados de Jorão (853-842 a.C.), de Jeú (842-813 a.C.) e de Joacaz (813-797 a.C.).

    Os reis de Israel, com a mira no desenvolvimento e na viabilidade do reino, procuraram estabelecer relações comerciais, económicas, políticas e militares com os povos circunvizinhos. Essa abertura de fronteiras teve, no entanto, os seus custos no que diz respeito à vivência religiosa, uma vez que os cultos aos deuses estrangeiros, com entrada livre no país, começaram a ocupar um lugar significativo na vida e no coração dos israelitas. É uma época de sincretismo religioso, em que a religião javista é, com a complacência e até com o apoio declarado dos reis de Israel, preterida em favor dos cultos de Baal e de Astarte. Em termos sociais, é uma época de instabilidade social e política, em que se multiplicam as injustiças contra os pobres e as arbitrariedades contra os fracos. Os israelitas fiéis viam em tudo isto um quadro de graves infidelidades contra Deus e contra a Aliança.

    É contra este “mundo” que se levantam as vozes proféticas de Elias e de Eliseu. Elias aparece como o representante desses israelitas fiéis aos valores religiosos tradicionais, que recusavam a coexistência de Javé e de Baal no horizonte da fé de Israel; e a luta de Elias será continuada por um dos seus discípulos – Eliseu.

    Parece que Eliseu – o ator principal da primeira leitura deste décimo sétimo domingo comum – fazia parte de uma comunidade de “filhos de profetas” (os “benê nebi’im” – 2 Re 2,3; 4,1). Trata-se de uma comunidade de homens que viviam pobremente (2 Re 4,1-7) e que eram os seguidores incondicionais de Javé. Encontramo-los em algumas localidades do reino de Israel, talvez em ligação com alguns santuários locais, como Betel, Jericó ou Guilgal. O Povo consultava-os regularmente e buscava neles apoio face aos abusos dos poderosos. Eliseu é apresentado muitas vezes, nas histórias narradas no “ciclo de Eliseu” (cf. 2 Re 2; 3,4-27; 4,1-8,15; 9,1-10; 13,14-21), como um profeta “dos milagres”, cujas ações poderosas mostram a presença da força e da vida de Deus no meio do seu Povo. Outras vezes, Eliseu é o profeta da intervenção política; a sua ação neste campo ultrapassa mesmo as fronteiras físicas de Israel e chega a Damasco (cf. 2 Re 8,7-15).

    O cenário do episódio da primeira leitura deste décimo sétimo domingo comum é, provavelmente, Guilgal, o santuário situado a leste de Jericó onde tinha sido erguido um monumento de pedra para comemorar a passagem do rio Jordão pelos israelitas quando entraram na Terra Prometida (Jos 4,20). Havia em Guilgal uma comunidade de “filhos de profetas” que Eliseu costumava visitar (cf. 2 Re 4,38).

     

    MENSAGEM

    O texto narra como um homem de Baal-Shalisha (localidade situada perto do santuário de Guilgal) trouxe a Eliseu o “pão das primícias”: vinte pães de cevada e trigo novo. Os pães das primícias eram pães feitos com a farinha dos primeiros frutos da colheita, que deviam ser apresentados e consagrados a Deus. Depois, revertiam em benefício dos sacerdotes. Deve ser este costume que está subjacente ao episódio da entrega dos pães de cevada e trigo novo a Eliseu.

    Eliseu, no entanto, não conservou estes dons para si, mas mandou reparti-los pelas pessoas que o rodeavam, provavelmente os “filhos dos profetas” que estavam em Guilgal. O “servo” do profeta não acreditava que os vinte pães oferecidos chegassem para saciar cem pessoas; no entanto, chegaram e ainda sobraram.

    O mais significativo, neste episódio, é a sucessão de gestos que revelam generosidade e vontade de partilhar: do homem que leva os dons ao profeta e do profeta que não os guarda para si, mas os manda partilhar com as pessoas que o rodeiam. A descrição de uma milagrosa multiplicação de pães de cevada e de trigo novo sugere que, quando o homem é capaz de sair do seu egoísmo e tem disponibilidade para partilhar os dons recebidos de Deus, esses dons chegam para todos e ainda sobram. A generosidade, a partilha, a solidariedade, não empobrecem, mas são geradoras de Vida e de Vida em abundância.

    Este relato fornecerá aos autores neotestamentários o modelo literário em que se inspirarão para apresentar os relatos evangélicos das multiplicações dos pães (cf. Mc 6,34-44; 8,1-10; Mt 14,13-21; 15,32-38; Lc 9,10-17).

     

    INTERPELAÇÕES

    • O “profeta” é o rosto de Deus no mundo. Ele fala e age em nome de Deus; ele “diz”, com as suas palavras e com os seus gestos, como é que Deus encara as dificuldades e as vicissitudes dos seus filhos que caminham pela terra. Assim, ao repartir com os seus irmãos famintos o pão que lhe tinha sido dado, Eliseu não está simplesmente, por sua iniciativa, a fazer um gesto gratuito de bondade; mas está a dizer solenemente – com a linguagem dos gestos, que é ainda mais expressiva do que a linguagem das palavras – que Deus não fica indiferente quando os seus filhos e filhas estão com “fome”: fome de pão, fome de amor, fome de liberdade, fome de justiça, fome de dignidade, fome de paz, fome de realização plena, fome de esperança. Que sentimos quando ouvimos alguém dizer que Deus abandonou os homens à sua sorte e não quer saber da “fome” dos seus filhos? Como é que nós próprios entendemos e avaliamos a preocupação de Deus com os seus filhos que caminham pela história?
    • Como é que Deus atua para saciar a fome de vida dos homens? É fazendo chover do céu, milagrosamente, o “pão” de que o homem necessita? A primeira leitura deste domingo sugere que Deus atua de forma mais simples e mais normal… É através da generosidade e da partilha dos homens (primeiro do homem que decide oferecer o fruto do seu trabalho; depois, do profeta que manda distribuir o alimento) que o “pão” chega aos necessitados. Normalmente, Deus serve-Se dos homens para intervir no mundo e para fazer chegar ao mundo os seus dons. Muitas vezes sonhamos com gestos espetaculares de Deus e vivemos de olhos fixos no céu à espera que Deus Se digne intervir no mundo; e acabamos por não perceber que Deus já veio ao nosso encontro e que Ele Se manifesta na ação generosa de tantos homens e mulheres que praticam, sem publicidade, gestos de partilha, de solidariedade, de generosidade, de doação, de entrega. É preciso que aprendamos a detetar a presença e o amor de Deus nesses gestos simples que todos os dias testemunhamos e que ajudam a construir um mundo mais justo, mais fraterno e mais solidário. Temos consciência de que é através de nós, seus profetas, que Deus sacia a “fome” do mundo?
    • O gesto de partilha de Eliseu é um manifesto contra o egoísmo, contra o açambarcamento, contra a ganância, contra o fechamento em si próprio. Diz-nos que a partilha nunca empobrece, mas multiplica infinitamente os dons que Deus põe à nossa disposição. É um gesto que anuncia um mundo novo, um mundo transformado, um mundo solidário, um mundo construído ao estilo de Deus, um mundo onde todos os filhos e filhas de Deus têm lugar à mesa da Vida e da esperança. Acreditamos nesse mundo e estamos genuinamente apostados em construí-lo? Quando somos chamados a fazer opções – inclusive políticas e ideológicas – temos em conta o projeto de Deus para o mundo?

     

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 144 (145)

    Refrão: Abris, Senhor, as vossas mãos e saciais a nossa fome.

    Graças Vos deem, Senhor, todas as criaturas
    e bendigam-Vos os vossos fiéis.
    Proclamem a glória do vosso reino
    e anunciem os vossos feitos gloriosos.

    Todos têm os olhos postos em Vós,
    e a seu tempo lhes dais o alimento.
    Abris as vossas mãos
    e todos saciais generosamente.

    O Senhor é justo em todos os seus caminhos
    e perfeito em todas as suas obras.
    O Senhor está perto de quantos O invocam,
    de quantos O invocam em verdade.

     

    LEITURA II – Efésios 4,1-6

    Irmãos:
    Eu, prisioneiro pela causa do Senhor,
    recomendo-vos que vos comporteis
    segundo a maneira de viver a que fostes chamados:
    procedei com toda a humildade, mansidão e paciência;
    suportai-vos uns aos outros com caridade;
    empenhai-vos em manter a unidade de espírito
    pelo vínculo da paz.
    Há um só Corpo e um só Espírito,
    como existe uma só esperança na vida a que fostes chamados.
    Há um só Senhor, uma só fé, um só Batismo.
    Há um só Deus e Pai de todos,
    que está acima de todos, atua em todos
    e em todos Se encontra.

     

    CONTEXTO

    Éfeso, antiga capital da província romana da Ásia, era, nos tempos apostólicos, um dos principais centros comerciais e culturais do Mediterrâneo. Estava situada na costa oeste da Ásia Menor, junto da foz do rio Cayster, ao lado da moderna Selçuk (Turquia). A sua população rondava os 250.000 habitantes. Chegou a ser a segunda maior cidade do Império Romano, logo a seguir a Roma. As suas escolas filosóficas eram famosas em todo o Império. A vida religiosa da cidade girava muito à volta do culto a Ártemis, cujo templo era considerado umas das sete maravilhas do mundo antigo.

    Paulo contactou a comunidade cristã de Éfeso durante a sua terceira viagem missionária e acabou por permanecer na cidade durante cerca de dois anos (cf. At 19,1-40). Aí desenvolveu um meritório trabalho apostólico, do qual resultou uma Igreja viva, fervorosa e comprometida.

    A Carta aos Efésios é considerada uma “carta de cativeiro”, escrita por Paulo na altura em que estava na prisão (discute-se se em Cesareia Marítima, se em Roma, ou em qualquer outro lugar). No entanto, alguns biblistas consideram que a carta não foi escrita por Paulo. Há uma forte hipótese de ser uma “carta circular”, não dirigida especificamente à comunidade cristã de Éfeso, mas antes a um conjunto de comunidades da zona ocidental da Ásia Menor.

    Seja como for, a Carta aos Efésios é um texto bem trabalhado, que apresenta uma catequese sólida e bem elaborada. Poderia ser um texto da fase “madura” de Paulo. Muitos consideram que a Carta aos Efésios é uma espécie de síntese do pensamento paulino.

    O texto que nos é proposto como segunda leitura neste décimo sétimo domingo comum é o início da parte moral e parenética da carta (cf. Ef 4,1-6,20). Temos, nesses três capítulos, uma espécie de “exortação aos batizados”, na qual Paulo reflete longamente sobre a edificação e o crescimento do “Corpo de Cristo” (a Igreja). Em termos sempre bastante concretos, Paulo dá pistas aos cristãos acerca da forma como eles devem viver os seus compromissos com Cristo, de maneira a serem “Homens Novos”, homens que vivem a partir do dinamismo do Espírito.

     

    MENSAGEM

    O autor da carta começa por fazer uma referência ao facto de estar preso “pela causa do Senhor” (vers. 1). Essa condição dá uma autoridade especial às suas recomendações: o que ele vai dizer são palavras de alguém que leva tão a sério a proposta de Jesus, que é capaz de sofrer e de arriscar a vida por ela.

    Os cristãos de Éfeso – como os cristãos de todos os tempos e lugares – receberam um “chamamento” (“klesis”) de Deus. Ao responder positivamente a esse chamamento, eles passaram a integrar a Igreja (“ek-klesia”) de Jesus, a comunidade dos chamados. Essa condição exige, desde logo, que eles vivam unidos em Cristo.

    De uma forma muito prática, o autor da carta refere uma série de comportamentos e de atitudes que são condição necessária para que essa unidade em Cristo se torne efetiva (vers. 2-3). Refere em primeiro lugar a humildade, pois só ela permite superar o egoísmo, o orgulho, a arrogância, a autossuficiência, que afastam os irmãos e que erguem entre eles barreiras de separação; refere depois a mansidão, irmã da humildade, a qualidade que facilita a convivência e abre as portas à comunhão; refere também a paciência, que permite ser tolerante e compreensivo para com as falhas dos irmãos e que ajuda a entender e aceitar as diferentes maneiras de ser e de agir. Pede, ainda, que os irmãos se preocupem uns com os outros, apoiando-se, ajudando-se e cuidando-se mutuamente. Trata-se, em resumo, de viver o mandamento do amor, como Cristo recomendou aos seus discípulos. Aqueles que são “chamados” a integrar a comunidade de Jesus devem dar testemunho de unidade e de comunhão.

    Para reforçar ainda mais a obrigatoriedade da unidade dos crentes, o autor da carta menciona os fundamentos dessa unidade: “há um só Corpo e um só Espírito, como existe uma só esperança” na vida a que todos os crentes foram chamados; “há um só Senhor, uma só fé, um só Batismo; há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, atua em todos e em todos se encontra” (vers. 4-6). A menção do Pai, do Filho e do Espírito, neste contexto, sugere que a Trindade é a fonte última e o modelo da unidade que os cristãos devem viver, na sua experiência de caminhada comunitária.

     

    INTERPELAÇÕES

    • A lógica do autor da Carta aos Efésios é irrebatível: a comunidade nascida de Jesus não pode viver de outra forma senão na unidade e na comunhão. Os membros da comunidade cristã têm o mesmo Pai (Deus), têm um projeto comum (o projeto de Jesus), têm o mesmo objetivo (fazer parte da família de Deus e encontrar a Vida em plenitude), caminham na mesma direção animados pelo mesmo Espírito, têm a mesma missão (dar testemunho no mundo do projeto de amor que Deus tem para os homens). Só vivendo unidos eles podem dar um testemunho coerente de Cristo e do mandamento do amor. No entanto, não é raro encontrarmos comunidades cristãs feridas por divisões, rivalidades, invejas, ciúmes, divergências inconciliáveis, jogos de influência… Quando isso acontece é porque os membros da comunidade ainda não descobriram os fundamentos da sua fé. Como é que as comunidades cristãs de que fazemos parte vivem o sagrado “sacramento” da unidade e da comunhão? O nosso envolvimento comunitário ajuda a consolidar a unidade e a comunhão, ou é fator de divisão e de conflito?
    • Para que a unidade seja possível, Paulo recomenda aos destinatários da Carta aos Efésios a humildade, a mansidão e a paciência. São atitudes que não se coadunam com esquemas de egoísmo, de orgulho, de autossuficiência, de preconceito em relação aos irmãos. Como é que eu me situo face aos outros? A minha relação com os irmãos é marcada pelo egoísmo ou pela disponibilidade para acolher, servir e partilhar? Procuro estar atento às necessidades dos outros e ir ao encontro de cada irmão ou irmã que necessita de mim, ou levanto muros de orgulho e de autossuficiência que impedem a comunicação, a relação, a comunhão? Estou aberto às diferenças e disposto a dialogar, ou vivo entrincheirado nos meus preconceitos, catalogando e marginalizando aqueles que não concordam comigo?
    • A Igreja é uma unidade; mas é também uma comunidade de pessoas muito diferentes, em termos de raça, de cultura, de língua, de condição social ou económica, de maneiras de ser e de ver a vida… As diferenças legítimas nunca devem ser vistas como algo negativo, mas como uma riqueza para a vida da comunidade; não devem levar ao conflito e à divisão, mas a uma unidade cada vez mais estreita, construída no respeito e na tolerância. A diversidade é um valor, que não pode nem deve anular a unidade e o amor dos irmãos. Como é que lidamos com as diferenças e as “originalidades” dos irmãos que caminham connosco? Vemo-las como algo que nos enriquece a todos, ou como ameaças à nossa “ordem” e aos nossos esquemas pessoais?

     

    ALELUIA – Lucas 7,17

    Aleluia. Aleluia.

    Apareceu entre nós um grande profeta:
    Deus visitou o seu povo.

     

    EVANGELHO – João 6,1-5

    Naquele tempo,
    Jesus partiu para o outro lado do mar da Galileia,
    ou de Tiberíades.
    Seguia-O numerosa multidão,
    por ver os milagres que Ele realizava nos doentes.
    Jesus subiu a um monte
    e sentou-Se aí com os seus discípulos.
    Estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus.
    Erguendo os olhos
    e vendo que uma grande multidão vinha ao seu encontro,
    Jesus disse a Filipe:
    «Onde havemos de comprar pão para lhes dar de comer?»
    Dizia isto para o experimentar,
    pois Ele bem sabia o que ia fazer.
    Respondeu-Lhe Filipe:
    «Duzentos denários de pão não chegam
    para dar um bocadinho a cada um».
    Disse-Lhe um dos discípulos, André, irmão de Simão Pedro:
    «Está aqui um rapazito
    que tem cinco pães de cevada e dois peixes.
    Mas que é isso para tanta gente?»
    Jesus respondeu: «Mandai sentar essa gente».
    Havia muita erva naquele lugar
    e os homens sentaram-se em número de uns cinco mil.
    Então, Jesus tomou os pães, deu graças
    e distribuiu-os aos que estavam sentados,
    fazendo o mesmo com os peixes;
    E comeram quanto quiseram.
    Quando ficaram saciados,
    Jesus disse aos discípulos:
    «Recolhei os bocados que sobraram,
    para que nada se perca».
    Recolheram-nos e encheram doze cestos
    com os bocados dos cinco pães de cevada
    que sobraram aos que tinham comido.
    Quando viram o milagre que Jesus fizera,
    aqueles homens começaram a dizer:
    «Este é, na verdade, o Profeta que estava para vir ao mundo».
    Mas Jesus, sabendo que viriam buscá-l’O para O fazerem rei,
    retirou-Se novamente, sozinho, para o monte.

     

    CONTEXTO

    A liturgia propõe-nos hoje – e durante os próximos domingos – a leitura do capítulo 6 do Evangelho segundo João. O texto integra uma parte do Quarto Evangelho que alguns biblistas designam como o “Livro dos Sinais” (cf. Jo 4,1-11,56). Nesse “livro”, a partir de alguns símbolos com um especial poder evocador (a “água” – cf. Jo 4,1-5,47; o “pão” – cf. Jo 6,1-71; a “luz” – cf. Jo 8,12-9,41; o “pastor” – cf. Jo 10,1-42; a “ressurreição” – cf. Jo 11,1-56), são-nos propostas diversas catequeses que definem Jesus como aquele que veio de Deus para recriar, dar Vida, fazer nascer uma humanidade nova.

    No centro da catequese que o capítulo 6 nos apresenta, está um desses símbolos: o pão. O pão era, no mundo bíblico, o elemento básico na alimentação de todos os dias. O homem bíblico não podia viver sem pão. Muitas vezes era mesmo o único alimento disponível, especialmente para os pobres. Pão era vida. Ora, esse alimento fundamental para viver era considerado um dom de Deus. Por isso, pedia-se continuamente a Deus que desse ao seu Povo o pão necessário para a subsistência de cada dia (cf. Mt 6,11). “Ter pão” era gozar do favor de Deus; “ter pão” era receber Vida de Deus. O pão acabou mesmo por ser considerado o símbolo por excelência de todos os dons de Deus. Via-se a época escatológica que havia de chegar como o tempo em que Deus ofereceria ao seu Povo um pão abundante, nutritivo e saboroso (cf. Is 30,23), o “pão da Vida” definitiva. Por outro lado, o pão era para ser partilhado. “Partilhar o pão” era reunir outras pessoas à mesa familiar; “partilhar o pão” com alguém era estabelecer laços íntimos, laços familiares com essa pessoa; partilhar o pão era criar comunidade, uma comunidade unida por laços fraternos. Tudo isto está subjacente à catequese sobre Jesus como “Pão da Vida” que este capítulo nos apresenta.

    O cenário do episódio que o Evangelho deste décimo sétimo domingo comum nos apresenta situa-nos “na outra margem” do Lago de Tiberíades, no cimo de um monte não identificado (no capítulo anterior, Jesus estava em Jerusalém, no centro da instituição judaica; agora, sem transição, aparece na Galileia). A tradição cristã considera que essa “outra margem” não seria o lado oriental do lago, mas sim a zona de Tabga, não longe de Cafarnaum. Em termos cronológicos, João nota que estava perto a Páscoa, a festa mais importante do calendário religioso judaico, que celebrava a libertação do Povo de Deus da opressão do Egipto. É possível que a referência à Páscoa funcione, nesta catequese joânica, como um convite a que o leitor entenda a narração como figura da Páscoa e da instituição da eucaristia.

     

    MENSAGEM

    Uma leitura do texto que nos é proposto mostra alguns interessantes paralelos entre a cena da multiplicação dos pães e a libertação do Povo de Deus da escravidão do Egipto, com Jesus no papel de Moisés, o libertador. O facto dá-nos, logo à partida, uma possível chave de leitura para entender esta catequese: o evangelista João quer apresentar a ação de Jesus como uma ação que visa libertar da escravidão o novo Povo de Deus e conduzi-lo à Vida nova.

    Começa-se com uma referência à “passagem do mar” (que, na realidade, é um lago), até à “outra margem” (vers. 1); essa referência pode aludir à passagem do Mar Vermelho por Moisés com o Povo libertado do Egipto (cf. Ex 14,15-31). O objetivo final de Jesus é, portanto, fazer o Povo que o acompanha passar da terra da escravidão para a terra da liberdade (a “outra margem”).

    Como aconteceu com Moisés, com Jesus vai uma grande multidão. A multidão que acompanha Jesus pretende “ver os milagres que Ele realizava nos doentes” (vers. 2). O termo grego aqui utilizado (“asthenês” – “enfermos”) designa, em geral, alguém que está numa situação de grande debilidade. A multidão segue Jesus, pois quer ver os sinais que Ele faz e que representam a libertação do homem da sua debilidade e fragilidade. Aquele povo que vai atrás de Jesus “para a outra margem” é um Povo marcado pela opressão, que quer experimentar a libertação. Aquelas pessoas já perceberam que só Jesus conseguirá ajudá-los a superar a sua condição de miséria e de escravidão.

    Chegados à outra margem, Jesus subiu a “um monte e sentou-se lá com os discípulos” (vers. 3). A referência ao “monte” evoca a Aliança do Sinai e o monte onde Deus ofereceu ao Povo, através de Moisés, os mandamentos. Dizer que Jesus subiu ao “monte” significa dizer que é através de Jesus que se vai realizar a nova Aliança entre Deus e esse Povo de gente livre que, com Jesus, “atravessou o mar” em direção à terra da liberdade.

    A referência à Páscoa que estava próxima (vers. 4) seria uma referência inútil, se não estivéssemos no contexto da libertação do Povo da escravidão. Para os contemporâneos de Jesus, a Páscoa era a festa da libertação e da constituição do Povo de Deus; mas era também a festa que anunciava o tempo futuro em que o Messias ia libertar definitivamente o Povo de Deus. Pela Páscoa o Povo devia subir a Jerusalém para, no “monte” do Templo, celebrar a libertação; mas João põe a multidão a ir atrás de Jesus para um outro “monte”, do outro lado do mar… Esse Povo começa, pela palavra e pela ação de Jesus, a libertar-se do jugo das instituições judaicas e a perceber que é em Jesus que se vão inaugurar os tempos novos da liberdade e da paz.

    A multidão que segue Jesus tem fome e não tem que comer (vers. 5-6). A referência leva-nos, outra vez, ao Êxodo, ao deserto, quando o Povo que caminhava para a terra da liberdade sentiu fome. Então, foi Deus que respondeu à necessidade do Povo e lhe deu comida em abundância; aqui, é Jesus que Se apercebe da fome da multidão e procura dar-lhe resposta. Ele mostra, assim, o rosto do Deus do amor e da bondade, sempre atento às necessidades dos seus filhos.

    Na procura de respostas para a fome daquela gente, Jesus envolve o grupo dos seus discípulos (“onde havemos de comprar pão para lhes dar de comer?” – vers. 5): os membros da comunidade de Jesus não podem passar ao lado das multidões esfomeadas como se isso não lhes dissesse respeito; mas devem sentir-se responsáveis pela “fome” dos homens e assumirem a missão de saciar essa “fome”.

    Ao envolver os discípulos nesta questão, Jesus convida-os a sugerirem possíveis soluções. O evangelista João esclarece que Jesus queria “experimentá-los” (vers. 6), talvez para descobrir se eles já tinham interiorizado os valores do Reino de Deus. O problema pode ser posto da seguinte forma: como é que a comunidade dos discípulos – formados na escola e nos valores de Jesus – pretende responder à fome do mundo? É recorrendo ao sistema económico vigente, que se baseia no egoísmo e no poder do dinheiro e coloca os bens nas mãos de poucos, gerando uma lógica de opressão, de dependência e de necessidade? Será este o sistema desse mundo novo e livre que Jesus deseja instituir? Os discípulos de Jesus alinham com esse sistema opressor, baseado na compra, na venda e no lucro, ou já perceberam que Jesus tem uma proposta nova a fazer, geradora de libertação e de Vida em abundância para todos?

    Filipe, em nome de todos os discípulos, constata a impossibilidade de resolver o problema, dentro do quadro económico vigente: “duzentos denários não bastariam para dar um pedaço a cada um” (vers. 7). Um denário equivalia ao salário base de um dia de trabalho; assim, nem o dinheiro de mais de meio ano de trabalho daria para resolver o problema. Por outras palavras: confiando no sistema instituído (o da compra e venda, que supõe o sistema económico regido pelo lucro egoísta), é impossível resolver o problema da necessidade dos esfomeados.

    André, porém, vislumbra uma solução diferente (vers. 8-9). Este apóstolo representa, entre os discípulos, aqueles que aderiram a Jesus de forma convicta, que têm uma grande intimidade com Jesus e que, portanto, estão mais conscientes das propostas de Jesus. Ele refere alguém – “um menino” – que pode fornecer uma solução diferente. No entanto, André não está muito convicto dos resultados (“o que é isso para tanta gente?”). Seria bom – considera André – encontrar outro sistema diferente do sistema explorador; mas isso resolverá a questão da “fome” que faz sofrer tantos necessitados? Jesus vai, precisamente, provar que é possível encontrar outro sistema que reparta vida e que elimine a lógica egoísta da exploração.

    A figura do “menino” – que apenas aparece na cena da multiplicação dos pães na versão de João – é uma figura desnecessária do ponto de vista da narração: para o resultado final, tanto dava que o possuidor dos pães e dos peixes fosse uma criança ou um adulto. Sendo assim, porque é que João insiste em falar de uma criança? Quer pela idade, quer pela condição, aquele “menino” é um “débil”, física e socialmente. Representa a debilidade da comunidade de Jesus face às enormes carências do mundo. A palavra grega utilizada por João para falar da criança (“paidárion”) indica simultaneamente um “menino” e um “servo”: a comunidade, representada nesse “menino”, apresenta-se diante do mundo como um grupo socialmente humilde, sem pretensão alguma de poder e de domínio, dedicada ao serviço dos homens. É essa comunidade simples e humilde, vocacionada para o serviço, que é chamada a resolver a questão da necessidade dos pobres e a instaurar um novo sistema libertador. Qual é esse sistema?

    Os números “cinco” (“pães”) e “dois” (“peixes”), também não aparecem por acaso: a sua soma dá “sete” – o número que significa totalidade. Ou seja: é na partilha da totalidade do que a comunidade possui que se responde à carência dos homens. É uma totalidade fracionada e diversificada; mas que, posta ao serviço dos irmãos, sacia a fome do mundo.

    Sobre os alimentos disponibilizados pela comunidade, Jesus pronuncia uma “ação de graças” (vers. 11). O “dar graças” significa reconhecer que os bens são dons que vêm de Deus. Ora, reconhecer que os bens vêm de Deus significa desvinculá-los do seu possessor humano, para reconhecer que eles são um dom gratuito que Deus oferece aos homens; e Deus não oferece a uns e não a outros. “Dar graças” é, portanto, reconhecer que os bens recebidos pertencem a todos e que quem os possui é apenas um administrador encarregado de os pôr à disposição de todos, com a mesma gratuidade com que os recebeu. Os bens são, assim, libertos da posse exclusiva de alguns, para serem dom de Deus para todos os homens. É este o sistema que Deus quer instaurar no mundo; e a comunidade cristã é chamada a testemunhar esta lógica.

    Uma vez saciada a fome do mundo, através desses bens que a comunidade recebeu de Deus e que pôs ao serviço de todos os homens, os discípulos são chamados a outras tarefas. Há sobras que não se podem perder, mas que devem ser o princípio de outras abundâncias. É preciso multiplicar incessantemente o amor e o pão… E a comunidade, uma vez percebido o projeto de Jesus, deve usar o que tem para continuar a oferecer a Vida aos homens. A referência aos doze cestos recolhidos pelos discípulos pode ser uma alusão a Israel (as doze tribos): se a comunidade dos discípulos souber partilhar aquilo que recebeu de Deus, pode satisfazer a fome de toda a gente (vers. 12-13).

    Alguns dos que testemunharam a multiplicação dos pães e dos peixes têm consciência de que Jesus é o Messias que devia vir para dar ao seu Povo vida em abundância e querem fazê-lo rei (vers. 14-15). Jesus não aceita… Ele não veio resolver os problemas do mundo instaurando um sistema de autoridade e de poder; mas veio convidar os homens a viverem numa lógica de partilha e de solidariedade, que se faz dom e serviço humilde aos irmãos. É dessa forma que Ele se propõe – com a colaboração dos discípulos – eliminar o sistema opressor, responsável pela fome e pela miséria. O mundo novo que Jesus veio propor não assenta numa lógica de poder e autoridade, mas no serviço simples e humilde que leva a partilhar a vida com os irmãos.

    Frente ao sistema que se baseia no lucro e na exploração, Jesus propõe uma nova atitude: é necessário – diz Ele – substituir o egoísmo pelo amor e pela partilha fraterna. Quem quiser acompanhar Jesus neste caminho, passará seguramente da escravidão do lucro para a liberdade da partilha, do serviço, da solidariedade, do amor aos irmãos. O que resulta da proposta de Jesus é uma humanidade totalmente livre da escravidão dos bens: os necessitados tornam-se livres porque têm o necessário para viverem uma vida digna e humana; os que repartem libertam-se da lógica egoísta dos bens e da escravidão do dinheiro e descobrem a liberdade do amor e do serviço.

     

    INTERPELAÇÕES

    • A preocupação de Jesus com a “fome” daquela multidão que O segue, sinaliza a preocupação de Deus em dar a todos os seus filhos e filhas Vida em abundância. É uma boa e bela notícia: Deus preocupa-se connosco, com a nossa carências e dificuldades, e está verdadeiramente empenhado em proporcionar-nos o “alimento” de que necessitamos para construirmos vidas com sentido. Estamos e estaremos sempre no coração de Deus; Ele encontrará sempre forma de vir ao nosso encontro para nos oferecer a sua Vida. Sabemos isto? Sentimo-nos acompanhados por Deus, mesmo quando nos parece que caminhamos de mãos e de coração vazio? Confiamos na bondade, no cuidado e no amor de Deus?
    • Apesar da generosidade de Deus, os dons que Ele coloca à nossa disposição nem sempre chegam à mesa de todos. Sabemos porquê: alguns homens e mulheres, por egoísmo e ganância, açambarcam os dons que pertencem a todos os filhos e filhas de Deus. Isso é subverter o projeto de Deus e condenar os irmãos a passar necessidades. Que sentimos em relação a isso? Temos consciência de que os nossos hábitos consumistas e esbanjadores podem estar a causar sofrimento e dificuldade aos irmãos que caminham ao nosso lado? A nossa preocupação excessiva com o nosso bem-estar não será uma injustiça que priva muitos dos nossos irmãos de dons de Deus que também lhes pertencem por direito?
    • O “pão” que Jesus faz distribuir à multidão faminta refere-se a algo mais do que o pão material que mata a nossa fome física. Aquelas pessoas que correm atrás de Jesus para saciar a sua “fome” são aqueles homens e mulheres que, todos os dias encontramos nos caminhos que percorremos e que, de alguma forma, estão privados daquilo que é necessário para viver uma vida digna… Os “que têm fome” são os que são explorados e injustiçados e que não conseguem libertar-se; são os que vivem na solidão, sem família, sem amigos e sem amor; são os que têm que deixar a sua terra e enfrentar uma cultura, uma língua, um ambiente estranho para poderem oferecer condições de subsistência à sua família; são os marginalizados, abandonados, segregados por causa da cor da sua pele, por causa do seu estatuto social ou económico, ou por não terem acesso à educação e aos bens culturais de que a maioria desfruta; são as crianças que sofrem violência; são as vítimas da economia global, cuja vida dança ao sabor dos interesses das multinacionais; são os que são espezinhados pelos interesses dos grandes do mundo… Que outras “fomes” conhecemos e que poderíamos acrescentar a esta lista?
    • Jesus dirige-Se aos seus discípulos e diz-lhes, referindo-se à multidão faminta: “dai-lhes vós mesmos de comer”. Fica assim clara a responsabilidade dos discípulos de Jesus em saciar a “fome” do mundo e em repartir o “pão” que mata a fome de vida, de justiça, de liberdade, de esperança, de felicidade de que os homens sofrem. Depois disto, nenhum discípulo de Jesus pode olhar tranquilamente os seus irmãos com “fome” e dizer que isso não lhe diz respeito; depois dasquelas palavras de Jesus, o egocentrismo e a autossuficiência deixaram de ser opção para todos aqueles que se comprometeram a construir o Reino de Deus… Como é que nos situamos em relação aos nossos irmãos vítimas do sofrimento, da maldade, da injustiça, da indiferença? Estamos conscientes de que a “fome” que faz sofrer os nossos irmãos também é um problema que nos diz respeito?
    • Os discípulos, questionados por Jesus, constatam que, recorrendo ao sistema económico vigente, é impossível responder à “fome” dos necessitados. O sistema capitalista vigente – que, quando muito, distribui a conta gotas migalhas da riqueza para adormecer a revolta dos explorados – será sempre um sistema que se apoia na lógica egoísta do lucro e que só cria mais opressão, mais dependência, mais necessidade. Não chega criar melhores programas de assistência social ou programas de rendimento mínimo garantido, ou outros sistemas que apenas perpetuam a injustiça e a dependência… Jesus propõe algo de realmente diferente: propõe uma lógica de partilha solidária. Os discípulos de Jesus são convidados a reconhecer que os bens são um dom de Deus para todos os homens e que pertencem a todos; são convidados a quebrar a lógica do açambarcamento egoísta dos bens e a pôr os dons de Deus ao serviço de todos. Como resultado, não se obtém apenas a saciedade dos que têm fome, mas um novo relacionamento fraterno entre quem dá e quem recebe, feito de reconhecimento e harmonia, que enriquece ambos e é o pressuposto de uma nova ordem, de um novo relacionamento entre os homens. Para nós, esta proposta faz sentido? Estamos disponíveis para a acolher e implementar na nossa vida e no nosso mundo?
    • No seu serviço aos “famintos”, os discípulos de Jesus nunca deverão apresentar-se com arrogância ou com tiques de superioridade; e nunca deverão usar a “caridade” para servir os seus interesses ou os seus projetos pessoais. Deverão agir com humildade e simplicidade (a “criança” do Evangelho), apenas preocupados em servir os irmãos com “fome”. Como é que nos apresentamos diante dos irmãos que necessitam da nossa ajuda para saciar a sua “fome” de Vida? Com arrogância e superioridade, ou com humildade e amor?

     

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 17.º DOMINGO DO TEMPO COMUM
    (adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

    Ao longo dos dias da semana anterior ao 17.º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. BILHETE DE EVANGELHO.

    Jesus não fecha os olhos diante dos homens: não somente vê a multidão, como se apercebe da sua fome. Antes de fazer o milagre, solicita a confiança dos seus apóstolos, esta confiança que Ele põe à prova. Então faz dois gestos: vira-se para Deus seu Pai, dando graças, e distribui o alimento. Que contraste gritante entre esta multidão que tem fome e o alimento que lhe vai ser oferecido, cinco pães e dois peixes. E ao mesmo tempo quanta abundância! Não somente a multidão está saciada, mas sobram doze cestos. É a prodigalidade do Amor: Deus ama infinitamente, e este sinal operado por Jesus anuncia não o poder de um rei, mas o dom de Deus a todos os homens. Não somente Jesus veio para o maior número, mas veio dar a vida em abundância. Este sinal anuncia um outro sinal. Depois de ter comido, a multidão, no dia seguinte, terá ainda fome. Mas o alimento que Cristo ressuscitado oferecerá aos homens será a sua vida, e aqueles que comerem este Pão de Vida jamais terão fome.

    3. À ESCUTA DA PALAVRA.

    Jesus não cria pães e peixes a partir de nada. Cria a partir dos cinco pães e dois peixes do rapazito. A partir do pão dos pobres! Ao multiplicar os pães e os peixes, Jesus multiplica o dom do rapazito. Mas é ridículo alimentar uma multidão de cinco mil homens com tão pequena quantidade. Mas uma pequena quantidade pode ter um valor infinito. Jesus não olha como nós. O nosso olhar deve ser como o de Jesus. Quando damos amor, amizade, um pouco do nosso tempo ou simplesmente um sorriso, quando procuramos respeitar o outro, sem o julgar, quando fazemos um caminho de perdão… Jesus serve-Se desse pequeno pouco para construir connosco, pacientemente, dia após dia, o seu Reino.

    4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…

    Procuremos afastar-nos um pouco da vida frenética e stressante, procuremos ser menos inquietos e mais confiantes… Fiar-se mais no Senhor, dispor-se para responder às diversas missões e confiar tudo isso ao Senhor, para que Ele multiplique…

     

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA

    Grupo Dinamizador:
    José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
    www.dehonianos.org

     

  • SS. Marta, Maria e Lázaro, Hospedeiros do Senhor

    SS. Marta, Maria e Lázaro, Hospedeiros do Senhor


    29 de Julho, 2024

    (Próprio da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus - Dehonianos)

    Marta é irmã de Maria e de Lázaro de Betânia. No evangelho aparece em apenas três episódios (Lc 10, 38-42; Jo 11, 1-44; Jo 12, 1-11). É uma mulher dinâmica, que acolhe desveladamente Jesus. Maria, também aparece apenas três vezes em cena, nos evangelhos, (Lc 10; Jo 11; Mt 26). É a mulher atenta e contemplativa, que dá mais atenção ao Senhor do que às "coisas do Senhor". De Lázaro sabemos apenas o que dele se diz no evangelho de João (11, 1-14; 12, 1-2). Os três são amigos e hospedeiros do Senhor.

    Lectio

    Primeira leitura: 1 João 4,7-16

    Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus. 8Aquele que não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor. 9E o amor de Deus manifestou-se desta forma no meio de nós: Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que, por Ele, tenhamos a vida. 10É nisto que está o amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele mesmo que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados. 11Caríssimos, se Deus nos amou assim, também nós devemos amar-nos uns aos outros. 12A Deus nunca ninguém o viu; se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e o seu amor chegou à perfeição em nós. 13Damos conta de que permanecemos nele, e Ele em nós, por nos ter feito participar do seu Espírito. 14Nós o contemplámos e damos testemunho de que o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo. 15Quem confessar que Jesus Cristo é o Filho de Deus, Deus permanece nele e ele em Deus. 16Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele. Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele.

    "Amor com amor se paga", diz o nosso povo. "Deus é amor" e amou-nos por primeiro; "Amemo-nos uns aos outros". São os pensamentos centrais deste texto. No capítulo III da sua carta, João abordou o tema do amor do ponto de vista negativo: quem não ama, comete pecado, e o pecador não pode ver a Deus. Agora expõe o mesmo pensamento, mas do ponto de vista positivo: o amor é necessário porque Deus é amor, "porque o amor vem de Deus".
    O nosso amor a Deus é sempre resposta ao seu amor por nós. O amor de Deus manifestou-se, historicamente, em Cristo. A família de Lázaro de Betânia experimentou esse amor, e correspondeu-lhe acolhendo Jesus com delicadeza e generosidade.

    Evangelho: Lucas 10,38-42

    Naquele tempo, Jesus, continuando o seu caminho, entrou numa aldeia. E uma mulher, de nomeMarta, recebeu-o em sua casa.39Tinha ela uma irmã, chamada Maria, a qual, sentada aos pés do Senhor, escutava a sua palavra. 40Marta, porém, andava atarefada com muitos serviços; e, aproximando-se, disse: «Senhor, não te preocupa que a minha irmã me deixe sozinha a servir? Diz-lhe, pois, que me venha ajudar.» 41O Senhor respondeu-lhe: «Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas; 42mas uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada.»

    Amar o próximo, como Jesus ensinou na parábola do bom samaritano (Lc 10, 25-37), é necessário. Mas não basta, como verificamos logo a seguir, em Lc 10, 38-42. Jesus entra em casa de Marta e Maria. Marta entrega-se ao trabalho por Jesus; Maria, sentada aos pés do Senhor, escuta-O. Marta protesta, e Jesus diz-lhe: "Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas; mas uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada." (v. 41s.). Não se trata de opor ação e contemplação. Marta apenas representa aqueles cuja ação não se baseia na palavra de Jesus; Maria, pelo contrário, representa os que dão atenção à palavra, que necessariamente deve traduzir-se em serviço amoroso a Deus e ao próximo.

    Meditatio

    Santa Marta é a mulher eficiente e segura de si mesma. Por isso, se deixa levar excessivamente pelo que deve fazer, perdendo de vista a motivação do seu trabalho. No confronto com Jesus, percebe que a eficiência não é o valor mais alto, e que só é importante na medida em que for equilibrado pelo acolhimento, pela atenção ao outro e pelo "temor de Deus", isto é, movido pelo amor. Se assim não for, a ação pode tornar-se ativismo, que descuida o essencial e se torna fonte de ansiedade e de fragmentação.
    O episódio que hoje escutamos levou Santa Marta, não só a fazer coisas pelo Senhor, mas, sobretudo, a colocar-se diante d´Ele em verdade e diálogo. Dessa atitude resultou aquela fé segura com que, ainda que chorosa e desiludida com a morte do irmão Lázaro, se dirigiu ao Senhor: "Senhor, se Tu cá estivesses, o meu irmão não teria morrido. Mas, ainda agora, eu sei que tudo o que pedires a Deus, Ele to concederá." (Jo 11, 21s.). Marta deixou-se conduzir por Jesus no caminho do sofrimento que a levou a conhecer melhor a Jesus e a si mesma.
    Maria é exemplo do discípulo que descobre a Palavra de Deus em Jesus Cristo e a acolhe com atenção. Ela não é um místico que se eleva até Deus, mas um crente que está atento à palavra concreta que Deus lhe dirige, e a procura pôr em prática.
    Lázaro é o chefe de família que acolhe Jesus, Palavra de Deus feita carne, e se deixa transformar por ela. O amor de Jesus fê-lo regressar da morte à vida. E Lázaro, com as suas irmãs, souberam corresponder ao amor de Jesus, acolhendo com entusiasmo, delicadeza e generosidade em sua casa: "Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a Betânia, onde vivia Lázaro, que Ele tinha ressuscitado dos mortos. Ofereceram-lhe lá um jantar. Marta servia e Lázaro era um dos que estavam com Ele à mesa. Então, Maria ungiu os pés de Jesus com uma libra de perfume de nardo puro, de alto preço, e enxugou-lhos com os seus cabelos. A casa encheu-se com a fragrância do perfume." (Jo 12, 1-3).

    Oratio

    Pai santo, que na casa de Betânia, fizeste experimentar ao teu Filho muito amado a alegria da amizade, a solicitude do serviço e a escuta atenta da sua palavra, concede, também a nós, a graça de aderirmos a Ele, nosso único Mestre, pelo ardor da meditação e das obras de caridade, para que, tornando-nos agradáveis aos seus olhos, sejamos acolhidos na alegria eterna. Ámen. (uma das coletas propostas para esta festa).

    Contemplatio

    Marta e Maria têm cuidados assíduos por Nosso Senhor e pelos apóstolos. Assistem-nos nas suas necessidades. Recebem-nos e cuidam deles em Betânia. Nosso Senhor encontra lá o seu repouso, a sua consolação. Volta para lá à noite, depois das suas pregações no templo e é envolvido de cuidados. Marta e Maria são fiéis a Jesus nas suas provações. São vítimas com Ele. Seguem-no até ao Calvário, partilham as suas dores. São humilhadas e insultadas com Ele e por Ele. Madalena não conhece temor nem hesitação. Está ao pé da cruz com a santa Virgem e S. João. É regada com o sangue de Jesus. Recolhe este sangue precioso. Sepulta Jesus. Leva o sudário e os perfumes. O grande sábado mantém-na afastada do sepulcro, mas volta lá na primeira hora depois do sábado. Procura o seu Jesus crucificado. Madalena e as santas mulheres são os nossos modelos para procurarmos Jesus. Procuremo-lo sempre, procuremo-lo por toda a parte. Procuremo-lo, não para fruirmos já, para dele recebermos graças gratuitas e extraordinárias, mas para compreendermos o seu amor, para imitarmos o seu exemplo, para nos imolarmos com ele. O anjo diz às santas mulheres: «Não temais, procurais Jesus crucificado». Nós também já nada temos a temer, se procurarmos Jesus crucificado. Não nos podemos enganar, se seguirmos Jesus até ao Calvário, na humildade e na imolação. Podemos encontrar a ilusão nas consolações espirituais, não temos que a temer na obediência e no sacrifício, no humilde serviço de Jesus e na fidelidade à nossa regra de vida. Vemos em todas as circunstâncias Santa Madalena, aos pés de Jesus, era assim que ela exprimia a sua humildade e a sua fidelidade. Imitemo-la. (Leão Dehon, OSP 4, p. 81s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Eu estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta,
    Eu entrarei na sua casa e cearei com ele e ele comigo" (Ap 3, 20).

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    SS. Marta, Maria E Lázaro, Hospedeiros do Senhor (29 Julho)

    XVII Semana - Segunda-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XVII Semana - Segunda-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    29 de Julho, 2024

    Tempo Comum - Anos Pares
    XVII Semana - Segunda-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Jeremias 13, 1-11

    1O Senhor ordenou-me: «Vai comprar uma faixa de linho e cinge com ela a tua cintura, mas não a metas na água.» 2E eu comprei a faixa, de acordo com a palavra do Senhor, e com ela me cingi. 3Foi-me dirigida, pela segunda vez, a palavra do Senhor: 4«Toma a faixa que compraste, e que trazes contigo, e encaminha-te para as margens do Eufrates, e esconde-a ali na fenda de uma rocha.» 5Fui e escondi-a, junto do Eufrates, como o Senhor me havia ordenado. 6Passados muitos dias, disse-me o Senhor: «Põe-te a caminho, em demanda das margens do Eufrates, a fim de buscar a faixa que, conforme as minhas ordens, ali escondeste.» 7Dirigi-me, então, ao rio e, tendo cavado, retirei a faixa do lugar onde a escondera. Vi, porém, que a faixa apodrecera e para nada mais servia. 8Então, o Senhor falou-me nestes termos: 9«Isto diz o Senhor: 'Da mesma forma, farei apodrecer a soberba de Judá e o grande orgulho de Jerusalém. 10Este povo perverso, que recusa ouvir as minhas ordens, que segue a obstinação do seu coração e vai atrás de deuses estranhos para os servir e adorar, tornar-se-á semelhante a esta faixa, que para nada serve. 11Assim como uma faixa se liga à cintura de um homem, assim Eu uni a mim toda a casa de Israel e a casa de Judá para que fossem o meu povo, a minha honra, a minha glória e a minha ufania. Eles, porém, não me escutaram'» - oráculo do Senhor.

    Jeremias, por mandato do Senhor, realiza uma acção simbólica a fim de melhor captar a atenção e a compreensão dos seus ouvintes. Estas acções simbólicas são típicas do profetismo. Com o simbolismo da faixa apodrecida, Jeremias dá um tom dramático à sua pregação. Ferat, na Bíblia, designa o rio Eufrates. Mas é improvável que o profeta tenha ido mesmo até esse rio, que fica a 1000 quilómetros de Jerusalém. Identificar Ferat com o Fera, a 6 quilómetros de Anatot, desvirtua o simbolismo do desterro em Babilónia, tão presente na mente do profeta. O mais provável é que Jeremias tenha resolvido interpelar o seu povo com uma parábola em acção. Na parábola, a faixa cingida e depois enterrada na lama até apodrecer, tem um duplo simbolismo, que o profeta acaba por ter que explicar: como a faixa adere ao corpo de quem a cinge, assim Israel era chamado a aderir ao Senhor, respondendo positivamente à Aliança com que Deus, por primeiro, se tinha ligado a ele. Mas, porque o povo tinha quebrado a Aliança, não escutando a voz do Senhor, seguindo as próprias ideias, votando-se à idolatria, faliu na sua vocação, não prestou a Deus o serviço que Lhe devia prestar, tornou-se como uma faixa apodrecida, sem qualquer valor: «Este povo perverso, que recusa ouvir as minhas ordens, ... tornar-se-á semelhante a esta faixa, que para nada serve» (v. 10).

    Evangelho: Mateus 13, 31-35

    Naquele tempo, 31Jesus propôs-lhes outra parábola: «O Reino do Céu é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. 32É a mais pequena de todas as sementes; mas, depois de crescer, torna-se a maior planta do horto e transforma-se numa árvore, a ponto de virem as aves do céu abrigar-se nos seus ramos.»
    33Jesus disse-lhes outra parábola: «O Reino do Céu é semelhante ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha, até que tudo fique fermentado.»
    34Tudo isto disse Jesus, em parábolas, à multidão, e nada lhes dizia sem ser em parábolas. 35Deste modo cumpria-se o que fora anunciado pelo profeta: Abrirei a minha boca em parábolas e proclamarei coisas ocultas desde a criação do mundo.

    As parábolas do grão de mostarda e do fermento, vêm na continuidade das anteriores, que ilustram as características do Reino, acrescentando mais uma: a desproporção entre os seus começos, quase imperceptíveis, e o seu desenvolvimento extraordinário. A Palavra de Deus geralmente é muito discreta. Se não estivermos atentos, quase não se damos por ela. Mas, quando a acolhemos, tem uma tal eficácia interna, que lança raíz e produz efeitos e frutos surpreendentes. É o que acontece com a pequeníssima semente de mostarda: se germina e ganha raíz, pode atingir a altura de três ou quatro metros. Um pouco de fermento faz levedar uma grande quantidade de farinha, capaz de alimentar multidões. A força interior e exterior do Reino de Deus é tal que chega a transformar toda a vida do homem.

    Meditatio

    A faixa que Jeremias comprou e cingiu por ordem de Deus, era um adereço vistoso e de luxo, que caracterizava o seu portador. Na parábola em acção, realizada pelo profeta, simbolizava o orgulho e a soberba de Judá, as suas muralhas, o seu Templo, o seu culto e as suas riquezas. Judá e Israel eram o povo que Deus escolhera para Si, e dotara de muitos bens, para que vivesse em profunda intimidade com Ele, e aderisse à sua vontade, tal como a faixa adere ao corpo do seu portador, partilhando da sua intimidade. Também nós, os baptizados, fomos unidos a Cristo, chamados a partilhar a sua intimidade, a participar da sua natureza divina (cf. 2 Pe, 1-4). Mas, tal como Judá e Israel se tornaram faixa podre, que para nada servia, por causa da sua infidelidade, da sua idolatria e sincretismo religioso, assim também nós podemos perder a intimidade, a comunhão com o Senhor, se desrespeitarmos os compromissos baptismais, ou outros que tenhamos assumido no desenvolvimento da nossa vida cristã, ou por não acolhermos a sua Palavra.
    Jesus dá-nos exemplo de uma vida em completa adesão e união ao Pai e à sua Palavra, a ponto de poder dizer: «Eu e o Pai somos Um» (Jo 10, 30), «a palavra que ouvis não é minha, mas é do Pai, que me enviou» (Jo 14, 24); «O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e consumar a sua obra» (Jo 4, 34). A adesão de Jesus ao Pai levava-O a estar atento à sua vontade, a vê-lo, e a ver a sua acção, em tudo, também nas coisas e nos acontecimentos mais simples. As parábolas que escutamos são disso testemunho: «o Reino do Céu é semelhante a um grão de mostarda» (v. 31). Aquela pequeníssima semente é ocasião de contemplação para Jesus, que vê, no seu surpreendente desenvolvimento, uma imagem da acção do Pai, que torna eficaz o anúncio do Reino. Também a mulher, que esforçadamente amassa a farinha para fazer o pão, leva Jesus a contemplar o enorme trabalho do anúncio do Reino, e na acção do fermento, a eficácia que o Pai dá a esse anúncio, para a transformação do mundo.
    O Filho está em profunda relação com o Pai, e tudo refere a Ele. Mas também quer que aprendamos d´Ele essa mesma contemplação simples, que nos leva a passar das criaturas ao Criador, da Criação à Revelação, porque aquela deve servir esta. Santo Antão dizia: «O meu livro é a natureza das coisas criadas; esse livro está
    à minha disposição sempre que quero ler as palavras de Deus». Como estamos longe nós, homens pós-modernos, da admiração e do espanto com os antigos olhavam para a terra e para o céu, descobrindo neles os sinais da inteligência, da grandeza, do poder de Deus! Se reaprendermos a observar todas as coisas com um olhar contemplativo, aprenderemos a agir como Jesus, em perene união com Deus, presente no coração da realidade.
    O dehoniano contempla em todas as coisas a presença activa do amor de Deus, e o movimento de amor redentor provocado no mundo pela Encarnação de Cristo, para redenção de todos os homens. Uma tal contemplação leva-nos a inserir-nos «nesse movimento de amor redentor, doando-nos aos irmãos, com e como Cristo» (Cst 21).

    Oratio

    Obrigado, Senhor, porque me mostras que sou necessário, mas não indispensável, para o crescimento do Reino. Chamas-me a semear a tua palavra. Mas, só Tu, a fazes germinar e crescer, a tornas fecunda. Por mim mesmo, nada posso fazer, mas, em comunhão Contigo, tudo posso, e participo no milagre da produção de resultados grandiosos, que não entram nas contas e nas estatísticas humanas, mas que alimentam o ser, em profundidade. Obrigado por mo recordares. Assim posso aprender a verdadeira sabedoria, que me faz viver a actuar como se tudo dependesse de mim, mas, ao mesmo tempo, como se tudo dependesse de Ti. Amen.

    Contemplatio

    O reino dos céus é também como um fermento escondido na massa e que a penetra e a transforma. A fé e a graça semeadas por Jesus, e depois dele pelos apóstolos e pelos sacramentos, penetraram no mundo. Porquê três medidas de farinha? Talvez as três províncias evangelizadas por Jesus (Judeia, Galileia e Pereia), ou as três partes do mundo conhecidas naquele tempo, ou as três faculdades da nossa alma.
    O Coração de Jesus lança também o seu fermento de amor. Ganha, penetra, faz fermentar toda a massa das almas. Confiança! Que progressos desde Margarida Maria! O fermento ganhou as dioceses, as províncias, as nações. Dentro em breve já não haverá mais nenhuma paróquia, mais nenhuma alma cristã que não esteja penetrada pelo fermento. (Leão Dehon, OSP 4, p. 180s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra
    «Deus escolheu o que há de fraco no mundo» (1 Cor 1, 37).

    | Fernando Fonseca, scj |

  • XVII Semana - Terça-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XVII Semana - Terça-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    30 de Julho, 2024

    Tempo Comum - Anos Pares
    XVII Semana - Terça-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Jeremias 14, 17-22

    17«Derramem os meus olhos lágrimas noite e dia, sem descanso porque a jovem, filha do meu povo, foi ferida com um golpe terrível, e sua chaga não tem cura!» 18Se saio aos campos, eis os mortos à espada; se regresso à cidade, eis os dizimados pela fome. Até profetas e sacerdotes vagueiam pelo país, sem nada compreenderem. 19Acaso, rejeitaste inteiramente Judá? Porventura, sentes nojo de Sião? Porque nos feriste sem esperança de cura? Esperávamos a paz, mas nada há de bom; esperávamos a hora do alívio, mas só vemos angústia! 20Senhor! Conhecemos a nossa culpa e a iniquidade dos nossos pais. Pecámos realmente contra ti. 21Mas, por amor do teu nome, não nos abandones nem desonres o trono da tua glória. Lembra-te de nós não anules a tua aliança connosco. 22Será que algum dos ídolos dos pagãos, traz a chuva? Ou é o céu que proporciona as chuvas? Não és Tu, Senhor, o nosso Deus? Nós esperamos em ti, pois és Tu quem faz todas estas coisas.

    Jeremias não se limitou a controvérsias e oráculos condenatórios contra o seu povo, atraíndo antipatias e ódios de morte. O profeta amava o seu povo, e sofria por primeiro, quando se via obrigado a anunciar acontecimentos desagradáveis. E orava pelo seu povo, como nos revela o texto que hoje escutamos.
    Durante uma liturgia penitencial, ou durante o cerco de Jerusalém, o profeta precisou de desabafar, sabendo que era essa também a vontade de Deus. Depois de descrever a situação deplorável do país, ferido de morte e sem chefes à altura da situação (vv. 17ss.), Jeremias faz uma oração de súplica. Intercede pelo povo diante de Deus. Apela para a Aliança, em virtude da qual Deus não se pode esquecer de Israel. Recorda a promessa de salvação e de paz, que não existem (v. 19), e interpela o Senhor a não faltar à sua Aliança, a não abandonar o seu povo. Israel, embora tenha pecado, reconhece, agora, a sua infidelidade, e sente-se sem argumentos, sem méritos para apresentar e se defender dos castigos com que é ameaçado. Jeremias suplica, confiando na fidelidade de Deus e no seu modo de actuar, que não pode ser contrário à sua essência, que é amor, misericórdia, indulgência (cf. Jer 14, 21). O profeta confia em Deus e confia-Lhe o seu povo, cuja sorte lamenta vivamente.

    Evangelho: Mateus 13, 36-43

    Naquele tempo, 36afastando-se das multidões, Jesus foi para casa. E os seus discípulos, aproximando-se dele, disseram-lhe: «Explica-nos a parábola do joio no campo.» 37Ele, respondendo, disse-lhes:«Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem; 38o campo é o mundo; a boa semente são os filhos do Reino; o joio são os filhos do maligno; 39o inimigo que a semeou é o diabo; a ceifa é o fim do mundo e os ceifeiros são os anjos. 40Assim, pois, como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será no fim do mundo: 41o Filho do Homem enviará os seus anjos, que hão-de tirar do seu Reino todos os escandalosos e todos quantos praticam a iniquidade, 42e lançá-los na fornalha ardente; ali haverá choro e ranger de dentes. 43Então os justos resplandecerão como o Sol, no Reino de seu Pai. Aquele que tem ouvidos, oiça!»

    O Evangelho oferece-nos várias parábolas para nos ensinar como é que Deus faz chegar a sua Palavra aos homens. A parábola do joio no campo alerta-nos para a existência de outro semeador: o semeador do mal. Onde Deus semeia, também Satanás semeia. A acção do semeador do mal caracteriza-se por acontecer durante a noite, enquanto os criados dormem. Durante o dia, não seria possível uma tal acção. A separação entre o que é bom e o que é mau só terá lugar no momento da ceifa, isto é, no dia do juízo final (cf. Mt 9, 37; Mc 4, 29; Jo 4, 35). Quando chega o tempo da ceifa - não antes, para não arrancar também o trigo - o dono dirá aos ceifeiros que cortem o trigo e o joio, e que os separem: o joio vai para queimar e o trigo é guardado no celeiro. Esta parábola parece querer que responder a uma questão surgida nas primeiras comunidades: porque existem bons e maus cristãos na Igreja? A resposta é: tanto Deus como Satanás semeiam a sua semente. Deus tolera essa sementeira, e o crescimento e a maturação de ambas as sementes, para dar aos maus oportunidade de conversão.

    Meditatio

    Jeremias dá-nos exemplo de oração em tempo de calamidade. Trata-se uma súplica angustiada, não motivada por qualquer sofrimento pessoal, mas pela compaixão pelo sofrimento do seu povo: «Derramem os meus olhos lágrimas noite e dia, sem descanso porque a jovem, filha do meu povo, foi ferida com um golpe terrível, e sua chaga não tem cura!» (v. 17). A «filha do meu povo» é Jerusalém, mergulhada em grande sofrimento por causa de uma seca prolongada, que provoca uma onda de crimes, de banditismo: «Se saio aos campos, eis os mortos à espada; se regresso à cidade, eis os dizimados pela fome. Até profetas e sacerdotes vagueiam pelo país, sem nada compreenderem» (v. 18). Jeremias sente que, no meio da desgraça, pode fazer alguma coisa: compadecer-se, sofrer com os outros, rezar. E sofre e reza com o seu povo, pelo seu povo. Começa por interrogar a Deus, de modo insistente e atrevido: «Acaso, rejeitaste inteiramente Judá? Porventura, sentes nojo de Sião? Porque nos feriste sem esperança de cura? Esperávamos a paz, mas nada há de bom; esperávamos a hora do alívio, mas só vemos angústia!» (v. 19). Depois, sabendo que as calamidades têm sempre origem na infidelidade à Lei de Deus, na injustiça, e no desprezo das outras pessoas, confessa os pecados do seu povo, e responsabiliza-se por eles: «Senhor! Conhecemos a nossa culpa e a iniquidade dos nossos pais. Pecámos realmente contra ti» (v. 20). Finalmente, apela para a generosidade de Deus: «por amor do teu nome, não nos abandones nem desonres o trono da tua glória. Lembra-te de nós não anules a tua aliança connosco» (v. 21). Em qualquer circunstância, mesmo no pior pecado, em vez de nos abandonarmos ao desespero, há que renovar a confiança no coração misericordioso de Deus, e rezar e suplicar Àquele que pode trazer remédio às piores situações. É isso faz o profeta: «Nós esperamos em ti, pois és Tu quem faz todas estas coisas» (v. 22). Deus, que tudo criou, que estabeleceu a Aliança, permanece fiel.
    Como o joio, no meio do trigo, o mal está presente em todo o lado, também naquelas realidades que são sinal da santidade de Deus, e que gostaríamos de ver imunes de pecado. Quando Santo Agostinho fala da Igreja «santa e pecadora», está consciente da presença do mal na comunidade cristã, que todavia é sacramento da presença de Deus no mundo. S. Paulo experimenta essa realidade quando afirma que gostaria de fazer o bem, mas faz o
    mal (cf. Rm 7, 19). A Igreja não é uma comunidade de "puros", de intocáveis pelo mal, mas uma comunidade de pecadores que experimentaram o amor misericordioso que perdoa e salva. Tomar consciência desta realidade é caminho para aquela humildade que atrai as complacências de Deus e a simpatia dos outros. Como Jeremias, sentimos uma certa solidariedade com os irmãos pecadores, porque não nos julgamos melhores do que eles. E rezamos por eles, mas também por nós, para sermos confirmados na opção tomada de pertencer ao Senhor. Como cristãos, e como dehonianos, unimo-nos, «à intercessão de Cristo» (cf. Hb 7, 25), e sentimo-nos «chamados a colocar toda a nossa vida ao serviço da Aliança de Deus com o seu Povo», e actuamos em prol da «unidade dos cristãos e de todos os homens» (Cst 84).

    Oratio

    Senhor, quantas vezes me atiro contra o que está mal no mundo e na Igreja! Quantas vezes descarrego a minha fúria puritana contra este ou contra aquele, que é ou julgo pecador! Hoje, quero pedir-te por todos: pelos que praticam injustiças, pelos que fazem opções pouco respeitosas da dignidade e unicidade da pessoa humana, pelos que só pensam nos seus interesses... Mostra, mais uma vez, a tua indulgência, a tua paciência, a tua misericórdia para com todos. Continua a dar tempo e oportunidade de conversão a todos, também a mim. Dá-me um coração semelhante ao teu: indulgente, tolerante, misericordioso. Que, vendo facilmente o mal fora de mim, saiba também vê-lo em mim. Não Te canses de perdoar o meu excesso de zelo, a minha rigidez. Derrama o teu Espírito Santo sobre mim, e sobre todos os meus irmãos, para que façamos o bem e não o mal, para que contribuamos, cada um a seu modo, para um mundo mais feliz e uma Igreja mais santa. Amen.

    Contemplatio

    No tempo do rei Dario, Daniel rezava com um fervor admirável pela salvação do povo de Israel. Fazia-se vítima da penitência pelo seu povo. Jejuava, usava cilício e cobria-se de cinza. Como Nosso Senhor, de quem era a figura, considerava-se como carregado pelos pecados do povo.
    «Senhor, dizia, pecámos, afastámo-nos dos vossos mandamentos, desobedecemos aos profetas que nos falavam em vosso nome. Fomos exilados e dispersos, e isso é justo. Os males que pesam sobre nós, tinham sido preditos por Moisés e pelos profetas. Não fizemos penitência, não rezámos, não nos convertemos. Apesar disso, Senhor, não nos querereis fazer misericórdia? Fizestes tanto por nós, tirastes-nos do Egipto com o vosso poder. Agora, reconhecemos os nossos pecados, perdoai-nos. Recorremos à vossa misericórdia que só ela nos pode salvar. Atendei-nos, não tardeis...».
    Rezava ainda, o santo profeta, humildemente prostrado com a fronte por terra, quando o anjo Gabriel lhe veio tocar no ombro, o levantou e consolou dizendo-lhe: «Deus escutou a tua oração, abreviou e fixou o tempo da libertação de todos os homens do jugo do pecado. Depois de setenta semanas de anos, o Cristo virá, resgatará os homens com a sua morte e fundará um novo povo e um novo culto».
    Rezemos como Daniel pelos pecados do povo. (Leão Dehon, OSP 3, p. 301s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Lembra-te de nós, Senhor,
    não anules a tua aliança connosco» (Jr 14, 21).

    | Fernando Fonseca, scj |

  • XVII Semana - Quarta-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XVII Semana - Quarta-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    31 de Julho, 2024

    Tempo Comum - Anos Pares
    XVII Semana - Quarta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Jeremias 15, 10.16-21

    10Ai de mim, ó mãe, porque me deste à luz! Sou um homem de discórdia e de polémica para toda a terra! Nunca emprestei e ninguém me emprestou; no entanto, todos me maldizem. 15Tu, Senhor, que sabes tudo, lembra-te de mim, ampara-me, e vinga-me dos que me perseguem; que eu não seja apanhado por eles, por causa da tua paciência. Lembra-te como suporto os insultos por tua causa. 16Eu devoro as tuas palavras, onde as encontro; a tua palavra é a minha alegria, e as delícias do meu coração, porque o teu Nome, foi invocado sobre mim, ó Senhor, Deus do universo! 17Nunca me sentei entre os escarnecedores, para com eles me divertir. Forçado pela tua mão, sentei-me solitário, porque me possuía a tua indignação. 18Porque se tornou perpétua a minha dor, e não cicatriza a minha chaga, rebelde ao tratamento? Ai! Serás para mim como um riacho enganador de água inconstante? 19Por esta razão, o Senhor diz-me: «Se te reconciliares comigo, receber-te-ei novamente e poderás estar na minha presença. Se conseguires retirar o precioso do vil, serás como a minha boca. Serão eles, então, que virão a ti e não tu que irás a eles. 20Tornar-te-ei, para este povo, como sólida muralha de bronze. Combaterão contra ti, mas não conseguirão vencer-te, porque Eu estarei a teu lado para te proteger e salvar - oráculo do Senhor. 21Livrar-te-ei das garras dos maus, resgatar-te-ei do poder dos opressores.»

    O texto que escutamos faz parte das chamadas «Confissões de Jeremias». O profeta, em profunda crise vocacional, e mesmo existencial, tem um desabafo duro, cansado, quase blasfemo. Lamenta ter nascido: ele que tanto ama a paz e só vê guerra; ele que se sente impelido a proclamar a Palavra de Deus e que, por causa dela, se vê envolvido em contendas e conflitos (v. 10). O profeta lembra a alegria e o entusiasmo do primeiro encontro com a Palavra do Senhor, que, depois, se tornou o centro e o sentido da sua existência. Deus chamara-o e ele entregara-se completamente. Pertencia a Deus (v. 16), tinha recebido o dever de pregar uma palavra que ia contra a corrente. Por causa dela, experimenta a solidão, não tem amigos com quem se divertir, é recusado e combatido pelos seus contemporâneos (v. 17). Daí o sofrimento sem cura que o atormenta. Daí o grito de denúncia da situação, dirigido a Deus, que lhe parece semelhante a «um riacho enganador de água inconstante» (v. 18).
    Na resposta, Deus confirma o profeta na sua vocação, pedindo-lhe, mais uma vez, total disponibilidade, renovando-lhe a promessa de êxito final na missão, garantindo a Sua presença.

    Evangelho: Mateus 13, 44-46

    Naquele tempo, disse Jesus à multidão: 44«O Reino do Céu é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem encontra. Volta a escondê-lo e, cheio de alegria, vai, vende tudo o que possui e compra o campo. 45O Reino do Céu é também semelhante a um negociante que busca boas pérolas. 46Tendo encontrado uma pérola de grande valor, vende tudo quanto possui e compra a pérola.»

    As parábolas do tesouro casualmente encontrado no campo, e da pérola desejada e finalmente comprada, acentuam a alegria daquele que compreendeu o valor do reino de Deus. Ambos os protagonistas vendem tudo o que têm para adquirirem o tesouro e a pérola, respectivamente. Mas o ensinamento fundamental não é o da entrega incondicional que o Reino exige, com as respectivas renúncias. A palavra fundamental é «cheio de alegria» (v. 44), referida ao homem comovido diante do excepcional achado num campo, e da pérola de grande valor encontrada. Perante essas descobertas, tudo o resto perde valor. Daí que nenhum esforço, nenhuma renúncia, pareçam excessivos para obter tais bens.

    Meditatio

    Com as parábolas do tesouro escondido num campo, que alguém encontrou, e da descoberta de uma pérola de grande valor, Jesus apresenta-nos o Reino como algo extremamente precioso. Quem percebe o imenso privilégio, que é ser chamado a participar no Reino, experimenta uma alegria indizível, e julga pouca coisa desfazer-se tudo para o alcançar.
    Enquanto o evangelho nos fala da alegria de quem encontra o sentido da sua vida na palavra de Deus, no presente, a primeira leitura apresenta-nos a desolação de Jeremias, que encontrou essa alegria no passado, mas que agora vive uma dor sem fim (cf. v. 18). O profeta está em crise vocacional e acusa Deus: «És para mim como um riacho enganador de água inconstante» (v. 18). Mas o inconstante não é Deus; é ele, o profeta, representante do seu povo: «Se te reconciliares comigo, - diz o Senhor - receber-te-ei novamente e poderás estar na minha presença» (v. 19).
    Também nós passamos por crises existenciais, e por crises vocacionais, que ofuscam a alegria experimentada na nossa juventude, no momento em que dissemos «sim» ao Senhor. Mas a alegria experimentada num determinado momento, que iluminou a nossa existência, é fundamento seguro para a redescobrirmos noutras horas e situações da vida, mesmo no meio de grandes sofrimentos. É a memória que nos garante o essencial: a certeza de que o Senhor está vivo e ao nosso lado. O peso da vida, os fracassos, são experiências dolorosas, que nos dilaceram e fazem gritar: «Chega!». Reencontrar a alegria do primeiro encontro, ou procurá-la, se ainda a não encontrámos, é uma verdadeira aventura de vida, é o seu sentido mais profundo. Vale a pena deixar tudo por causa dela. E, se o deixar, enche de alegria (cf. v. 44), quanto mais o encontrar e possuir aquilo pelo qual se deixou tudo! «Eu estarei contigo»! E cada dia, se nos convertermos, se estivermos dispostos a deixar tudo por causa d´Ele, O encontramos, porque Se faz procurar e deixa encontrar. Para nossa e sua alegria!
    «Nós deixámos tudo e seguimos-te» (Mt 19, 29). Como cristãos, e como religiosos, facilmente pomos o acento no «deixámos tudo». Mas, o mais importante, o que nos enche de alegria, é o «seguimos-Te»! Jesus é o nosso tesouro, a nossa pérola rara. Deixar tudo por causa d´Ele, abandonar-nos a Ele, é atrair sobre nós, sobre as nossas inquietações, tristezas e desesperos o Seu amor misericordioso, salvação, luz e alegria para a nossa vida.

    Oratio

    Senhor, Tu és a minha força, a alegria do meu coração. Faz-me saborear a doçura da tua amizade, e o encanto da tua beleza; acende em mim o fogo do teu amor, e o entusiasmo pelos teus projectos. Faz-me compreender que, só sendo todo teu, serei realmente eu. Dá-me força p'ra arriscar, e jogar a minha vida, no esforço de Te alcançar e cumprir tua vontade. Que o fogo do teu Espírito me incendeie o coração! E, deixando tudo por Ti, gritarei louco de amor: «Eis-me aqui! Eis-me aqui, Senhor!». Amen.

    Contemplatio

    O reino de Deus é também semelhante a um tesouro: tesouro da fé, da verdade, da graça; tesouro eucarístico. As almas deixaram o pecado para comprar
    em este tesouro. As almas mais generosas venderam os seus bens e escolheram a pobreza do claustro para possuírem mais plenamente Jesus e a sua graça.
    Agora, o tesouro do Sagrado Coração oferece-se a nós. É o tesouro dos tesouros. É preciso vender tudo para o comprar. É preciso desapegar-nos dos afectos terrestres, é preciso deixar-nos a nós mesmos, pelo espírito de sacrifício e de imolação.
    Jesus dá o seu Coração àqueles que o amam sem reserva. Neste tesouro, encontrarei todos os abismos da graça, da luz, da força, de consolação e de virtude que posso ambicionar.
    A pérola preciosa, o diamante incomparável, é ainda a sabedoria cristã, o Salvador, a eucaristia, a graça; mas é sobretudo o Sagrado Coração.
    S. Paulo considera que tudo é perda junto da ciência eminente de Jesus Cristo Nosso Senhor, porque se despojou de todas as coisas, considerando-as como esterco, a fim de ganhar Cristo (Fl 3,7).
    Jesus é a pedra preciosa, pela qual milhões de almas vendem, deitam fora tudo o que têm, desprezam tudo o que a terra lhes pode oferecer, e dedicam-se ao seu serviço e ao seu amor.
    Mas a pedra preciosa por excelência, é o Coração de Jesus. É Ele quem ganha os corações e quem inspira todos os sacrifícios. É Ele quem está para conquistar o mundo ao amor divino. É Ele quem será no céu o diamante cujos raios iluminarão a cidade santa: a sua luz é o Cordeiro. O cordeiro de Deus é o sol da santa Jerusalém, mas é pelo seu Coração que ele irradia. Não é o Coração de Jesus esta pedra de jaspe brilhante que ilumina o céu: A sua luz é semelhante à pedra preciosa, à pedra de jaspe, ao cristal (Ap 21)? O jaspe vermelho, com as suas veias, assemelha-se o Coração ferido e sangrento. (Leão Dehon, OSP 4, p. 181).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «A tua palavra é a alegria do meu coração» (Jr 15, 16).

    | Fernando Fonseca, scj |

  • XVII Semana - Quinta-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XVII Semana - Quinta-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    1 de Agosto, 2024

    Tempo Comum - Anos Pares
    XVII Semana - Quinta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Jeremias 18, 1-6

    1Palavra que o Senhor dirigiu a Jeremias, nestes termos: 2«Vai e desce à casa do oleiro, e ali escutarás a minha palavra.» 3Fui, então, à casa do oleiro, e encontrei-o a trabalhar ao torno. 4Quando o vaso que estava a modelar não lhe saía bem, retomava o barro com as mãos e fazia outro, como bem lhe parecia. 5Então, foi-me dirigida a palavra do Senhor, dizendo: 6«Casa de Israel, não poderei fazer de vós o que faz este oleiro? Como o barro nas suas mãos, assim sois vós nas minhas, casa de Israel - oráculo do Senhor.

    Jeremias passa pela casa do oleiro. Observa o trabalho do artesão, o carinho com que modela as peças. Se alguma sai mal, não a deita fora, mas volta a moldá-la até que lhe agrade.
    O profeta compreende o significado do que observa. Aquela visão banal, torna-se para ele uma visão divina. E sente-se chamado a anunciar ao povo quanto observa: como o oleiro desfaz os vasos que não saem bem, e volta a modelá-los, assim Deus, Criador e Senhor dos povos, pode eliminar aqueles que não cumprem a sua vontade. O seu juízo é inquestionável. Não se trata, porém, de um gesto autoritário, mas de um gesto pedagógico: os destinos de Judá e de Israel estão na mão de Deus. Não adianta correr atrás de outros deuses. Há que abandonar-se nas mãos de Javé, como o barro nas do oleiro. As actuais desgraças, incluindo o exílio, são tentativas para refazê-los, para torná-los um Povo Santo. Mais do que o poder de Deus, o nosso texto sugere o terno cuidado com que Ele trata o seu povo, para que corresponda à sua vocação.

    Evangelho: Mateus 13, 47-53

    Naquele tempo, disse Jesus à multidão: 47«O Reino do Céu é ainda semelhante a uma rede que, lançada ao mar, apanha toda a espécie de peixes. 48Logo que ela se enche, os pescadores puxam-na para a praia, sentam-se e escolhem os bons para as canastras, e os ruins, deitam-nos fora. 49Assim será no fim do mundo: sairão os anjos e separarão os maus do meio dos justos, 50para os lançarem na fornalha ardente: ali haverá choro e ranger de dentes.» 51«Compreendestes tudo isto?» «Sim» - responderam eles. 52Jesus disse-lhes, então: «Por isso, todo o doutor da Lei instruído acerca do Reino do Céu é semelhante a um pai de família, que tira coisas novas e velhas do seu tesouro.» 53Depois de terminar estas parábolas, Jesus partiu dali.

    A parábola da rede que, lançada ao mar, «apanha toda a espécie de peixes» (v. 47), aprofunda o significado da parábola do trigo e do joio. É uma parábola eminentemente escatológica, pois se refere a realidades que terão lugar nos últimos dias, no último dia. Como na rede se encontram peixes bons e peixes ruins, assim também na Igreja há quem viva e acolha a palavra de Jesus, e há quem a recuse ou permaneça indiferente. A separação, de uns e de outros, acontecerá no fim dos tempos, e pertence a Deus fazê-la (vv. 47-50). Entretanto, como na parábola do trigo e do joio, bons e maus têm de conviver ou coexistir até ao fim. Só então se manifestará clara e definitivamente quem é bom e quem é mau, quem confessou Cristo com o coração e os lábios e quem o confessou só por palavras, quem pertence à comunidade dos filhos de Deus e quem não pertence. Estes últimos terão a sorte dos peixes ruins e do joio.

    Meditatio

    A parábola é um óptimo instrumento pedagógico: suscita a colaboração dos ouvintes e, exigindo deles algum esforço para adivinhar o significado escondido, também lhes facilita a compreensão do mesmo.
    A primeira leitura apresenta-nos a parábola do oleiro. Com ela, o profeta ensina-nos que Deus, ao contrário do que afirmam os filósofos, pode mudar de ideias, pode rever os seus planos, reage de acordo com as circunstâncias. Nos versículos que vêm logo a seguir à parábola, lemos: «Em dado momento, anuncio a uma nação ou a um reino que o vou arrancar e destruir. Mas, se esta nação... se afastar do mal... também Eu me arrependerei do mal com que resolvi castigá-la. Igualmente decido, ... edificar e plantar um povo ou um reino. Porém, se esse povo proceder mal diante de mim e não escutar a minha palavra, hei-de arrepender-me também do bem que decidira fazer-lhe(vv. 7-10.)A parábola do oleiro é, pois, uma advertência em sentido duplo: quem anda por maus caminhos, não deve desesperar, mas converter-se, porque, se o fizer, pode evitar os castigos divinos; quem se julga justo também deve estar atento, porque a decisão de Deus em seu favor, pode alterar-se, se não permanecer devidamente empenhado nos caminhos do bem.
    A interpretação mais habitual desta parábola é a que recomenda o abandono nas mãos de Deus, como barro nas mãos do oleiro. Esse abandono não é uma fatalidade a que só temos que nos resignar... Estar nas mãos de Deus é uma enorme graça, porque elas aquecem e protegem, guardam e sustentam, encorajam, estão sempre abertas a acolher, dão segurança. As mãos de Deus chamam e oferecem tesouros. Manifestam o Seu amor por aqueles a quem as estende, mas também deixam partir quem não quer nelas permanecer! No fim manifestarão o juízo divino, que sempre respeita as opções de cada um. Como é bom estar nas mãos de Deus! Felizes os que nelas se acolhem nos momentos bons e nos momentos difícieis da vida! É também isso que Jesus nos quer dizer com as parábolas do Reino. Abrigados nele, estamos seguros em qualquer circunstância da vida. Nas mãos de Jesus, em íntima união com Ele, mesmo os maiores sofrimentos se transformam em alegria, em força de bem-aventurança.
    Foi a união íntima ao Coração de Cristo, que deu ao Pe. Dehon coragem, força e alegria em tantas circunstâncias difíceis da sua vida, que ele vivia sempre em total disponibilidade e abandono. Os seus motes preferidos, desde os anos de seminário, eram: «Senhor, que queres que eu faça?», «Eis-me aqui!», «Faça-se!», como verificamos no seu Diário.

    Oratio

    Senhor, meu Deus, hoje quero dirigir-te aquele cântico-oração, que muitos irmãos repetem em encontros de intimidade contigo: «Eu quero ser, Senhor amado, como o barro do oleiro; rompe-me a vida, faz-me de novo; eu quero ser um vaso novo». Tantas vezes, tenho resistido aos teus apelos! Tantas vezes, me queixei das provações que permites, para que me recorde de Ti! Obrigado por não desistires! Obrigado continuares a cuidar de mim, deixando-me livre para orientar a minha vida como quero. No fim, olhando para mim e para o conjunto da minha vida, pronunciarás o teu juízo. Faz-me perceber que é hoje que preparo o meu futuro. Guarda-me nas tuas mãos e ajuda-me a viver na docilidade para Contigo, para com os teus dons, para com a tua palavra. Amen.

    Contemplatio

    O anjo disse a José em sonho: «Toma o menino e foge para o Egipto, porque Herodes procura matar o menino, e fica lá até que eu te diga». Que fé, que confiança, que obediência, que abandono manifestam Maria e José que se colocam nas mãos da Providência, como os instrumentos dóceis da vontade divina! Tanto a sua presença, as suas virtudes e os seus méritos, como também os méritos do divino menino assim desconhecido e desprezado, lançaram os fundamentos do cristianismo sobre esta terra infiel do Egipto.
    Jesus tinha dito: «Eis que venho, ó meu Deus, para fazer a vossa vontade». É para cumprir esta vontade que, apesar do seu zelo apaixonado e do seu amor ardente pelas almas, aguarda a hora marcada para todas as coisas pelo seu Pai.
    Em Nazaré, era uma vida bem pouco gloriosa aos olhos do mundo este trabalho quotidiano pelo qual Jesus ganhava o seu pão com o suor do seu rosto. Mas esta humilhação era precisamente a salvação do mundo. Assim Jesus pagava a dívida do mundo e curava as chagas mortais do seu orgulho e da sua moleza. Era vítima voluntária. O seu coração sagrado imolava-se no silêncio. Cumpria a vontade do seu Pai que o tinha enviado, e todo o acto cumprido por ele na obscuridade, neste abaixamento, era de um valor infinito e podia resgatar mil mundos.
    É assim que os que se oferecem como vítimas ao Sagrado Coração, a seu exemplo e com a sua graça devem abandonar-se à vontade divina na vida escondida.
    Uma vez Jesus manifestou a sua missão divina, era no Templo de Jerusalém. Depois regressou depressa à obscuridade de Nazaré. Notemos de passagem que é no Templo que o encontram e não nas ruas populosas, nem entre os parentes e os amigos. Depois disto, o Evangelho diz acerca dele: «Desceu com eles a Nazaré e era-lhes submisso e crescia em sabedoria, em graça e em amabilidade diante de Deus e dos homens». Estas palavras resumem toda a sua vida escondida. (Leão Dehon, OSP 3, p. 41s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Senhor, faz-nos compreender a tua palavra» (cf. Mt 13, 51).

    | Fernando Fonseca, scj |

  • XVII Semana - Sexta-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XVII Semana - Sexta-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    2 de Agosto, 2024

    Tempo Comum - Anos Pares
    XVII Semana - Sexta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Jeremias 26, 1-9

    1No começo do reinado de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá, a palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias, nestes termos: 2«Isto diz o Senhor:'Põe-te no átrio do templo e fala ali a todos os habitantes de Judá que vêm prostrar-se no templo do Senhor, e anuncia-lhes todas as palavras que te mandei anunciar, sem omitir nenhuma.
    3Talvez te ouçam e se convertam cada um do seu mau caminho. Arrepender-me-ei então do castigo que, por causa das suas más obras, tinha determinado dar-lhes.'
    4Dir-lhes-ás: 'Isto diz o Senhor: Se não me ouvirdes, se não obedecerdes à lei que vos impus, 5ouvindo as palavras dos profetas, meus servos, que continuamente vos enviei, e a quem não tendes ouvido, 6farei a esta casa o que fiz a Silo e farei desta cidade um objecto de maldição para todos os povos da terra.'» 7Os sacerdotes, os profetas e todo o povo ouviram Jeremias pronunciar estas palavras no templo. 8Porém, mal Jeremias acabara de repetir o que o Senhor lhe ordenara dizer ao povo, os sacerdotes, os profetas e a multidão lançaram-se sobre ele, exclamando: «À morte! 9Porque profetizas, em nome do Senhor, este oráculo: 'Acontecerá a este templo o mesmo que sucedeu a Silo e esta cidade será transformada em deserto, sem habitantes?'» Juntou-se toda a multidão contra Jeremias no templo do Senhor.

    O capítulo 26 de Jeremias, dá-nos o contexto do discurso que vem no capítulo 7. O narrador dos acontecimentos, Baruc, destaca especialmente as consequências desse discurso pronunciado por Jeremias à entrada do Templo: «À morte!», gritaram os sacerdotes e os profetas que viviam à custa do Templo (v. 8), ao qual se juntou a multidão (v. 9). Joaquim tinha lançado por terra as esperanças da reforma religiosa iniciada pelo seu pai, Josias. Jeremias apela para as responsabilidades de todos no que se refere à escuta da Palavra do Senhor. Está em jogo a conversão do povo ou a sua punição (v. 3). Não basta frequentar o Templo e participar nos seus ritos: é preciso escutar e viver a palavra. Não escutar nem obedecer à palavra é morrer
    O discurso de Jeremias desagrada vivamente a todos, que o condenam à morte. Mas o profeta não se retracta. Mais ainda: reconfirma as palavras, que não são dele, mas de Quem o enviou contra a sua própria vontade. A sua disponibilidade para enfrentar o martírio, confirma o carácter divino da sua missão profética.

    Evangelho: Mateus 13, 54-58

    Naquele tempo, 54tendo Jesus chegado à sua terra, ensinava os habitantes na sinagoga deles, de modo que todos se enchiam de assombro e diziam: «De onde lhe vem esta sabedoria e o poder de fazer milagres? 55Não é Ele o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? 56Suas irmãs não estão todas entre nós? De onde lhe vem, pois, tudo isto?» 57E estavam escandalizados por causa dele. Mas Jesus disse-lhes: «Um profeta só é desprezado na sua pátria e em sua casa.» 58E não fez ali muitos milagres, por causa da falta de fé daquela gente.

    Acabado o discurso das parábolas, Mateus introduz, no seu evangelho, outro material narrativo que marca a progressiva separação entre Jesus e Israel, e evidencia a formação específica dada ao grupo dos discípulos (cf. Mt 13, 54-17,27). O episódio de hoje tem um paralelo em Mc 6, 1-6, do qual depende, e refere-se à rejeição de Jesus pelos seus conterrâneos. A apresentação "oficial" de Jesus na sinagoga da sua terra redunda em completo fracasso. Após o assombro inicial, os seus conterrâneos interrogam-se sobre a identidade de Jesus. A frase mais significativa de toda a perícopa é: «estavam escandalizados por causa dele» (v. 57). O evangelho introduz-nos, deste modo, no mistério de Jesus. A atitude dos nazarenos é significativa de todos aqueles que procuram compreender Jesus, partindo unicamente do que pode saber-se sobre Ele: é da nossa terra, filho do carpinteiro, conhecemos a sua família, estudou na nossa sinagoga... Jesus foi incompreendido e desprezado, tal como o foram os profetas... O mesmo sucederá com os seus discípulos. Paulo falará do escândalo da cruz (Mc 14, 27.29; 1 Cor 1, 23). A sorte dos profetas, de Jesus, dos discípulos é sempre a mesma: ser recusados, ser objecto de troça, de desprezo, de perseguição e, muitas vezes, de morte violenta.

    Meditatio

    Como somos hábeis e apressados em iludir a palavra de Deus! Todas as razões nos parecem boas para alcançar esse fim. Jeremias convidava o povo à conversão e anunciava que a obstinação no mal traria graves catástrofes a Jerusalém e ao país. Os chefes do povo, em vez de escutarem o apelo e de agirem em consonância, criticam o profeta, acusam-no, prendem-no. Jesus anuncia o Reino de Deus, fala como nunca ninguém tinha falado, realizava milagres. Mas os seus conterrâneos não suportaram que, alguém, que eles bem conheciam, manifestasse tal «sabedoria e o poder de fazer milagres» (v. 55).
    Não acontece algo de parecido connosco? Quando um discurso ou um modo de agir nos incomodam, não procuramos defender-nos das exigências de mudança, das correcções na nossa vida, pondo em questão as pessoas ou o profeta que nos interpelam? É fácil criticar um discurso, uma homilia e, sobretudo, quem os profere! Os hebreus criticaram Jeremias, que falava em nome de Deus. Acusaram-no de atribuir a Deus projectos escandalosos como a destruição do tempo, casa de Deus, ou da cidade santa. É sempre possível criticar uma pessoa, porque ninguém agrada a todos. Até Jesus foi criticado pelos seus conterrâneos, porque revelava demasiada sabedoria, excessivo poder! E assim se dispensavam de seguir os seus ensinamentos, continuando a viver de acordo com os hábitos de sempre, ainda que não correspondessem às exigências da Lei de Deus! Mas, também nós, podemos cair no mesmo erro, quando ouvimos chamadas de atenção, observações e talvez mesmo repreensões de quem tem o direito de no-las fazer!
    O convite à escuta da Palavra, feito pelos profetas repercute-se ao longo dos séculos, e chega até nós. Em Jesus, a Palavra de Deus ficou definitivamente pronunciada. Mas jamais faltaram profetas, homens e mulheres, que, pela sua vida, pelos seus discursos, pelos seus escritos, reavivassem, na memória dos seus contemporâneos, o conhecimento da beleza e das exigências do Evangelho. Também hoje estão entre nós! Escutamo-los?
    Como dehonianos, havemos de estar disponíveis para acolher a Palavra onde, quando e como quiser revelar-se. Mas também somos chamados a ser «profetas do amor e... servidores da reconciliação dos homens e do mundo em Cristo» (Cst 7), com todas as consequências inerentes a uma tal missão.

    Oratio

    Senhor, faz-me disponível à tua Palavra, ainda que, à primeira vista, pareça desagradável para mim. É o que acontece com muitos medicame
    ntos: ao serem tomados, sabem mal. Mas curam!
    Fala-me, Senhor! Envia os teus profetas que denunciem o meu egoísmo, a minha instalação, as minhas falsas seguranças, também religiosas. Dá-Te a conhecer ao teu servo, manifesta-me a tua santa vontade, porque não quero permanecer fechado no meu egoísmo, nas minhas ideias sobre Ti, tantas vezes mesquinhas, limitadas. Deus da minha mediocridade, da minha saudade de Absoluto, Deus de Jesus Cristo, mostra-me o teu rosto, dá-Te a conhecer, porque és o Senhor da minha vida, e eu creio em Ti. Amen.

    Contemplatio

    Jesus possuía toda a sabedoria como Deus, e mesmo como homem por uma graça infusa, mas quer também possuir a ciência adquirida, para nos dar o exemplo e para nos merecer a graça do amor do trabalho e do gosto pela sabedoria.
    Segue as lições da Sinagoga, estuda a lei, os profetas, a história e os livros ascéticos. Lê os livros sagrados, medita-os. Não tem necessidade deles para si, mas tem necessidade por nós. Assumiu a humanidade tal como ela é, com os seus deveres de estudo e de trabalho.
    A sua ciência adquirida torna-se maravilhosa. Já aos doze anos espanta os doutores da lei no Templo. Explica a Escritura, ficam surpreendidos com a sua prudência e com as suas respostas.
    Durante a sua vida pública, citará constante e abundantemente a Escritura. Na sinagoga de Nazaré, passam-lhe o livro de Isaías, lê, comenta, mostra-lhes como as suas obras tinham sido anunciadas, cita os livros dos reis. As pessoas exclamam: «Donde lhe vem esta ciência, não é ele o filho do carpinteiro que nós conhecemos?» (Lc 2; Mc 6).
    Quando prega na região de Tiberíades, antes e depois do sermão da montanha, cita o Levítico e o Deuteronómio, os Reis, Amós, Isaías, Tobias. Muitas vezes faz alusão aos Salmos (Lc 6). Aos enviados de S. João Baptista, comenta e explica as profecias de Isaías (Lc 7,22).
    Os salmos são o alimento da sua vida interior e das suas orações, mesmo sobre a cruz: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?» (Sl 21). «Meu Pai, entrego a minha alma nas vossas mãos» (Sl 30). Repassa no seu espírito toda a Escritura para se assegurar de que tudo cumpriu. Faltava ainda na sua Paixão a amargura do fel e do /145 (Sl 68). Para a provocar, diz: «Tenho sede».
    Enfim, vendo que tudo está cumprido, verifica-o antes de morrer: Consumatum est.
    Depois da sua ressurreição, vive ainda da Escritura. Explica Moisés e os profetas aos discípulos de Emaús (Lc 24).
    Que resolução vou tomar hoje para crescer em sabedoria e em ciência? (Leão Dehon, OSP 4, p. 121).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Que eu Te escute, Senhor, e me converta a Ti» (cf. Jr 26, 3).

    | Fernando Fonseca, scj |

  • XVII Semana - Sábado - Tempo Comum - Anos Pares

    XVII Semana - Sábado - Tempo Comum - Anos Pares


    3 de Agosto, 2024

    Tempo Comum - Anos Pares
    XVII Semana - Sábado

    Lectio

    Primeira leitura: Jeremias 26, 11-16.24

    Naqueles dias, 11os sacerdotes e os profetas falaram aos príncipes e à multidão: «Este homem merece a morte porque profetizou contra esta cidade, como todos vós ouvistes.» 12Jeremias, porém, respondeu aos príncipes e ao povo: «Foi o Senhor que me enviou a profetizar contra este templo e contra esta cidade os oráculos que ouvistes. 13Reformai, portanto, a vossa vida e as vossas obras, ouvi a palavra do Senhor, vosso Deus, e o Senhor afastará de vós o mal com que vos ameaça. 14Quanto a mim, entrego-me nas vossas mãos. Fazei de mim o que quiserdes e o que melhor vos parecer. 15Sabei, porém, que, se me condenardes à morte, sereis responsáveis pelo sangue inocente, assim como esta cidade e os seus habitantes porque, na verdade, foi o Senhor que me enviou para vos transmitir estes oráculos.» 24Quanto a Jeremias, ele gozava da protecção de Aicam, filho de Chafan, para que não fosse entregue nas mãos do povo a fim de ser condenado à morte.

    Na continuação do texto que escutamos ontem, o de hoje apresenta-nos a reacção ao discurso de Jeremias. Os sacerdotes e os profetas denunciam-no aos chefes do povo, acusando-o de profetizar a destruição do Templo e de Jerusalém, ambos "santos", porque morada de Deus. Essa profecia constituía, pois, uma blasfémia merecedora de sentença de morte. Por sorte, os encarregados da justiça não eram nem os sacerdotes nem os profetas, mas os juízes e os anciãos. Estes, perante a acusação falsa e incompleta dos interessados no culto, que citaram as palavras de Jeremias contra a cidade, mas não contra o Templo, reagiram recordando o que acontecera um século antes com o profeta Miqueias. Este tinha pronunciado idêntica ameaça, o povo tinha-se convertido e Jerusalém fora libertada de Senaqueribe. Era o que também agora pretendia Jeremias.
    A coragem do profeta, manifestada na disposição de enfrentar a morte antes do que trair a Palavra de Deus, também deve ter comovido os juízes que unanimemente reconheceram que não era réu de morte, porque tinha falado em nome de Deus.
    O v. 24, com que termina o texto litúrgico, anota como Jeremias foi salvo pela protecção de Aicam, irmão de Godolias futuro governante de Jerusalém, imposto por Nabucodonosor. Não se trata de coincidências, de resultados de jogos políticos, ou de "milagres" de circo. São acontecimentos e circunstâncias através dos quais se manifesta a acção salvífica de Deus que garantira ao profeta: «Eu estarei a teu lado!». (Jer 15, 20).

    Evangelho: Mateus 14, 1-12

    1Naquele tempo, a fama de Jesus chegou aos ouvidos de Herodes, o tetrarca, 2e ele disse aos seus cortesãos: «Esse homem é João Baptista! Ressuscitou dos mortos e, por isso, se manifestam nele tais poderes miraculosos.» 3De facto, Herodes tinha prendido João, algemara-o e metera-o na prisão, por causa de Herodíade, mulher de seu irmão Filipe. 4Porque João dizia-lhe: «Não te é lícito possuí-la.» 5Quisera mesmo dar-lhe a morte, mas teve medo do povo, que o considerava um profeta. 6Ora, quando Herodes festejou o seu aniversário, a filha de Herodíade dançou perante os convidados e agradou a Herodes, 7pelo que ele se comprometeu, sob juramento, a dar-lhe o que ela lhe pedisse. 8Induzida pela mãe, respondeu: «Dá-me, aqui num prato, a cabeça de João Baptista.» 9O rei ficou triste, mas, devido ao juramento e aos convidados, ordenou que lha trouxessem 10e mandou decapitar João Baptista na prisão. 11Trouxeram, num prato, a cabeça de João e deram-na à jovem, que a levou à sua mãe. 12Os discípulos de João vieram buscar o corpo e sepultaram-no; depois, foram dar a notícia a Jesus.

    O relato de Mateus sobre o martírio de João Baptista, mais sóbrio que o de Marcos (6, 14), baseia-se na história, pois se trata de um acontecimento datado no tempo de Herodes Antipas, filho de Herodes, o Grande, a quem os romanos reconheceram jurisdição sobre a Galileia e a Pereia, no norte da Palestina.
    A decapitação do Baptista é motivada pela sua intransigência moral e pela sua forte personalidade. O profeta não se amedrontava diante de nada nem de ninguém, quando se tratava de denunciar a imoralidade. Não se amedrontou sequer diante de Herodes, que tendo repudiado a consorte, tomou por esposa a mulher de seu irmão. Herodes continha a sua vontade de vingança, porque temia uma rebelião popular. Mas Herodíades não se preocupava com isso. Assim, quando Herodes jurou dar à filha de Herodíades o que quer que lhe pedisse, a adúltera não hesitou em sugerir a cabeça de João (vv. 6-11). E obteve-a! Com o seu martírio, João Baptista terminou a missão de precursor. E Jesus compreendeu que era chamado a percorrer o mesmo caminho.

    Meditatio

    Tanto João Baptista, como Jeremias, eram profetas corajosos e fiéis à sua missão. Ambos conheciam o risco que era denunciar, em nome de Deus, os abusos dos seus contemporâneos, particularmente das autoridades. Ambos foram presos, porque falavam demasiadamente claro e forte contra esses abusos. João foi preso por um monarca absoluto, e a sua sorte dependeu unicamente do arbítrio de Herodes. A situação de Jeremias foi diferente. Os seus acusadores eram os sacerdotes e os profetas. Podia defender-se deles. E começou por afirmar que a sua profecia não era fruto da sua mente, não era uma mensagem inventada, mas palavra de Deus ao povo. Depois, acrescentou que essa palavra não era uma afirmação absoluta, mas uma ameaça condicionada: se o povo arrepiasse caminho, seria salvo: «Reformai a vossa vida e as vossas obras, ouvi a palavra do Senhor, vosso Deus, e o Senhor afastará de vós o mal com que vos ameaça» (v. 13). Estas palavras do profeta redimensionavam a situação e constituíam um insistente convite à conversão. Jeremias concluiu afirmando que, condená-lo, só piorava a situação, porque matar um enviado de Deus aumenta a culpa: «se me condenardes à morte, sereis responsáveis pelo sangue inocente» (v. 15). Perante estas palavras, os chefes e o povo rejeitaram a acusação dos sacerdotes e profetas. Jeremias não foi condenado à morte, e pôde continuar o seu ministério.
    No caso do João Baptista, o capricho de Herodes, ou, mais exactamente, a sua fraqueza, com a perfídia de Herodíades, levaram a melhor. João Baptista, testemunha da verdade, foi calado, foi morto, sem se poder explicar, sem ter quem o defendesse. Julgamentos semelhantes ao de João Baptista, repetiram-se muitas vezes ao longo da história, e continuam a repetir-se ainda hoje. As perseguições são inevitáveis para quem anuncia a verdade de Deus. A verdade incomoda, tal como o amor, porque implica renúncia aos próprios interesses egoístas, e exige abertura aos outros. Jesus disse aos seus discípulos: «Felizes os que sofrem perseguição por causa da justi&c
    cedil;a,porque deles é o Reino do Céu.
    Felizes sereis, quando vos insultarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o género de calúnias contra vós, por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque grande será a vossa recompensa no Céu; pois também assim perseguiram os profetas que vos precederam» (Mt 5, 10-12). À partida, pode parecer mais fácil ficar por uma atitude complacente, por um silêncio diplomático, renunciando à missão profética, a falar em nome de Deus, como é próprio de baptizados, de religiosos. Mas a felicidade só se alcança na partilha da sorte dos profetas e, sobretudo, da sorte do grande profeta, Jesus.

    Oratio

    Senhor Jesus, dá-me a coragem do teu Precursor. Muitas vezes me acanho, quando sou chamado a dar testemunho da fé, a denunciar os abusos da sociedade de que faço parte. O medo de ser incompreendido, o medo de perder alguns amigos, travam-me a língua para falar, e paralisam-me as mãos para agir de modo coerente com o Evangelho que, apesar de tudo, quero viver.
    Infunde em mim, Senhor, o teu Espírito de fortaleza, que me aqueça o coração, me encha de uma alegria mais forte do que o medo, me faça testemunha corajosa da verdade que és Tu. Amen.

    Contemplatio

    S. João Baptista entrega-se à penitência e à reparação pelo seu povo, como os profetas. Como Jeremias, é santificado no seio de sua mãe. É o novo Elias, predito por Malaquias. Desde a sua infância entrega-se à penitência. «Não beberá nem vinho nem cidra», diz o anjo a Zacarias. Passa a sua adolescência no deserto, está vestido com uma túnica de peles de camelo apertada por um cinto de couro; come mel silvestre e gafanhotos. «Que fostes ver ao deserto? diz Jesus aos seus discípulos. Não é um homem molemente vestido. É um anjo, que não come nem bebe» (Mt 11, 18). Nosso Senhor exprime assim a extrema mortificação do Precursor. É um profeta, um asceta. S. Bernardo chama-o patriarca, o mestre e o guia dos religiosos. Como os religiosos contemplativos, amou a solidão, a oração, a penitência; como os religiosos apostólicos, pregou a todas as classes da sociedade, reconduziu um grande número de pecadores, conduziu as almas a Jesus Cristo. Imitemos a sua penitência e o seu zelo.
    S. João Baptista foi mártir da pureza. Amava ardentemente a virgindade. Viveu virgem. Não podia sofrer a visão da impureza. Atacava nos seus discursos todas as desordens de costumes, sem medo de ofender os grandes. Censurou mesmo a Herodes ter tomado por esposa a mulher do seu irmão ainda vivo. É esta firmeza apostólica e este amor da pureza que lhe atraíram a perseguição e lhe valeram o martírio. Herodes e esta mulher que ele tinha desposado contrariamente às leis e à decência não lhe perdoavam as suas censuras. Foi nos excessos mesmos da sua vida sensual e desordenada que conjuraram contra a sua vida. Foi no meio das danças e dos festins que o mandaram matar. Era ao mesmo tempo mártir ou testemunha da santa virtude de pureza, e reparador pelas orgias nas quais pronunciavam a sua condenação. Era um anjo pela sua pureza. O evangelho e os profetas dão-lhe este belo título: «Enviarei o meu anjo diante do Messias», tinha dito o Senhor na profecia de Malaquias (3, 1).
    Nosso Senhor mesmo faz a aplicação desta profecia: «Foi dele, diz, que o profeta disse: Enviarei um anjo diante de vós para vos preparar os caminhos» (Mt 11, 10). (Leão Dehon, OSP 3, p. 688s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Dai Senhor à vossa Igreja, profetas e santos».

    | Fernando Fonseca, scj |

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