Semana de Dez 3rd

  • 01º Domingo do Advento - Ano B [atualizado]

    01º Domingo do Advento - Ano B [atualizado]

    3 de Dezembro, 2023

    ANO B - 1.º DOMINGO DO ADVENTO

    Tema do 1º Domingo do Advento

    A liturgia do primeiro Domingo do Advento convida-nos a encarar a nossa caminhada pela história com a certeza de que “o Senhor vem”. Apresenta também indicações concretas acerca da forma como devemos viver enquanto esperamos o Senhor.

    A primeira leitura é um apelo dramático a Deus que é “pai” e “redentor”, no sentido de vir mais uma vez ao encontro de Israel para o libertar do pecado e para recriar um Povo de coração novo. O profeta está absolutamente convicto de que a essência de Deus é amor e misericórdia; e esses atributos de Deus são a garantia da sua intervenção salvadora em cada passo da caminhada histórica do Povo de Deus.

    O Evangelho convida os discípulos a enfrentar a história com coragem, determinação e esperança, animados pela certeza de que “o Senhor vem”. Propõe que esse tempo de espera seja um tempo de “vigilância”, isto é, um tempo de compromisso ativo e efetivo com a construção do Reino.

    A segunda leitura mostra como Deus Se faz presente na história e na vida de uma comunidade crente, através dos dons e carismas que gratuitamente derrama sobre o seu Povo. Sugere também aos crentes que se mantenham atentos e vigilantes, a fim de acolherem os dons de Deus.

     

    LEITURA I – Isaías 63,16b-17.19b; 64,2b-7

    Vós, Senhor, sois nosso Pai
    e nosso Redentor, desde sempre, é o vosso nome.
    Porque nos deixais, Senhor, desviar dos vossos caminhos
    e endurecer o nosso coração, para que não Vos tema?
    Voltai, por amor dos vossos servos
    e das tribos da vossa herança.
    Oh, se rasgásseis os céus e descêsseis!
    Ante a vossa face estremeceriam os montes!
    Mas Vós descestes
    e perante a vossa face estremeceram os montes.
    Nunca os ouvidos escutaram, nem os olhos viram
    que um Deus, além de Vós,
    fizesse tanto em favor dos que n’Ele esperam.
    Vós saís ao encontro dos que praticam a justiça
    e recordam os vossos caminhos.
    Estais indignado contra nós,
    porque pecámos e há muito que somos rebeldes,
    mas seremos salvos.
    Éramos todos como um ser impuro,
    as nossas ações justas eram todas como veste imunda.
    Todos nós caímos como folhas secas,
    as nossas faltas nos levavam como o vento.
    Ninguém invocava o vosso nome,
    ninguém se levantava para se apoiar em Vós,
    porque nos tínheis escondido o vosso rosto
    e nos deixáveis à mercê das nossas faltas.
    Vós, porém, Senhor, sois nosso Pai
    e nós o barro de que sois o Oleiro;
    somos todos obra das vossas mãos.

     

    CONTEXTO

    O texto do Trito-Isaías (capítulos 56-66 do Livro de Isaías) que nos é proposto situa-nos em Jerusalém, na época posterior ao Exílio (anos 537/520 a.C.). A cidade está em reconstrução. As pedras calcinadas lembram os dramas passados, a população é pouco numerosa, a reconstrução é lenta e modesta porque os retornados são pobres, os inimigos estão à espreita. Há desânimo e medo do futuro… Desse desânimo resulta a indiferença face a Javé e à Aliança. Consequentemente, o culto é pouco cuidado e Deus ocupa um lugar secundário no coração e nas preocupações do Povo.

    Os profetas que desenvolvem a sua missão nesta fase vão tentar acordar a esperança num futuro de vida plena e de salvação definitiva (em que Jerusalém voltará a ser uma cidade bela e harmoniosa, o local onde Deus habita no meio do seu Povo); mas não deixam de sublinhar que o Povo tem de se reconverter aos caminhos da Aliança, da justiça, do amor, da fidelidade a Javé.

    Este texto é parte de uma perícope que vai de 63,7 a 64,11. Os versículos que o integram não apresentam especial coerência temática. Misturam elementos típicos de súplica ou lamentação com elementos de confissão dos pecados. A situação é a de desgraça nacional. O Povo dirige-se ao Deus da história, pedindo-Lhe que intervenha para salvar; e, uma vez que a desgraça é considerada castigo pelos pecados, o Povo confessa a culpa e pede perdão.

     

    MENSAGEM

    O texto apresenta-se na forma de uma oração que o profeta dirige a Javé. Nela, Deus é invocado como “pai” e como “redentor”. O título “pai” (provavelmente herdado das culturas cananeias, onde o deus principal do panteão é “pai” enquanto exerce a função de proteção e de senhorio) resulta da ação protetora e salvadora de Deus em favor do seu Povo, ao longo da história. O título “redentor” (“goel”) é, no antigo direito israelita, reservado ao parente próximo, a quem incumbe o dever de defender os seus, de manter o património familiar (cf. Lv 25,23-24), de libertar um familiar caído na escravidão (cf. Lv 25,26-49), de proteger uma viúva (cf. Rut 4,5) ou de vingar um parente assassinado (cf. Nm 25,19-20). O uso destes títulos pretende, portanto, lembrar a Deus as suas responsabilidades enquanto protetor, defensor e salvador do seu Povo.

    Qual é a situação que “exige” a ação salvadora e libertadora de Deus em favor do seu Povo?

    O profeta quer que Deus – o “pai” e o “redentor” de Israel – não deixe o Povo continuar a endurecer o seu coração e a afastar-se dos caminhos da Aliança. É uma invocação dramática, que parece ter como objetivo forçar a intervenção libertadora de Deus. O problema é que a “geração presente” (os retornados do Exílio) não reconhece culpa alguma e vive instalada no pecado, na infidelidade, na injustiça, na indiferença face a Deus e às suas propostas. Será possível alterar esta lógica, fazer que Israel se volte decisivamente para Deus e possa trilhar novamente caminhos de vida e de salvação?

    O profeta está convencido de que essa dinâmica é possível. No entanto, está consciente também de que o Povo, por si só, é incapaz de sair dessa rotina de rebeldia e de infidelidade em que tem vivido. É neste contexto que Deus tem de assumir as suas responsabilidades de Pai e de redentor e de Se dignar “descer” para transformar o coração do seu Povo.

    Deus não veio já ao encontro do seu Povo e não lhe ofereceu a Aliança como proposta de vida plena e feliz? Na verdade, Javé manifestou-Se mil vezes na história e ofereceu sempre ao seu Povo a salvação. Israel tem plena consciência dessa atuação de Deus; e é precisamente essa “memória” histórica que fundamenta a esperança: se Deus sempre foi o “pai” e o “redentor” de Israel, certamente voltará a sê-lo outra vez, na dramática situação atual.

    O texto termina com uma imagem muito bela: Deus é o “oleiro” e o Povo é o barro que o artista modela com amor e cuidado. A imagem serve, certamente, para definir o poder e o senhorio de Deus que pode modelar o seu Povo como bem Lhe aprouver; mas, provavelmente, faz também alusão àquilo que o profeta espera de Deus: uma nova criação. A imagem leva-nos, precisamente, a Gn 2,7 e à criação do homem do barro da terra… O profeta quererá, dessa forma, sugerir que a intervenção salvadora de Deus no sentido de mudar o coração do seu Povo, fazendo que ele deixe os caminhos do egoísmo e da autossuficiência e volte aos caminhos de Deus e da Aliança, é uma nova criação, da qual nascerá uma humanidade nova.

     

    INTERPELAÇÕES

    • O texto de Isaías apresenta em pano de fundo um Povo de coração endurecido, rebelde, indiferente, que há muito prescindiu de Deus e deixou de se preocupar em viver de forma coerente os compromissos assumidos no âmbito da Aliança. É um quadro que reflete bem a realidade deste mundo em que vivemos, em pleno séc. XXI. Que lugar ocupa Deus na nossa vida? Que importância damos às suas propostas? As sugestões e os apelos de Deus têm algum impacto sério nas nossas opções e prioridades?
    • O texto convida-nos também a reconhecer que só Deus é fonte de salvação e de redenção. Nós, por nós próprios, somos incapazes de superar essa rotina de indiferença, de egoísmo, de violência, de mentira que tantas vezes caracteriza o quadro de vida em que nos movemos. Deus, o nosso “Pai” e o nosso “redentor”, é sempre fiel às suas “obrigações” de amor e de justiça e está sempre disposto a oferecer-nos, gratuita e incondicionalmente, a salvação. A nós, resta-nos acolher o dom de Deus com humildade e com um coração agradecido. Estamos conscientes desse dom e estamos disponíveis para o acolher?
    • A ação de Deus, o seu papel de “redentor” concretiza-se através de Jesus e das propostas que Ele veio fazer aos homens e ao mundo. Neste Advento que me preparo para viver, estou disposto a acolher Jesus e a abraçar as propostas que Deus, através d’Ele, me faz?

     

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 79 (80)

     

    Refrão:  Senhor nosso Deus, fazei-nos voltar,
                  mostrai-nos o vosso rosto e seremos salvos.

     

    Pastor de Israel, escutai,
    Vós que estais sentado sobre os Querubins, aparecei.
    Despertai o vosso poder
    e vinde em nosso auxílio.

     

    Deus dos Exércitos, vinde de novo,
    olhai dos céus e vede, visitai esta vinha.
    Protegei a cepa que a vossa mão direita plantou,
    o rebento que fortalecestes para Vós.

     

    Estendei a mão sobre o homem que escolhestes,
    sobre o filho do homem que para Vós criastes;
    e não mais nos apartaremos de Vós:
    fazei-nos viver e invocaremos o vosso nome.

     

    LEITURA II – 1 Coríntios 1,3-9

    Irmãos:
    A graça e a paz vos sejam dadas
    da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.
    Dou graças a Deus, em todo o tempo, a vosso respeito,
    pela graça divina que vos foi dada em Cristo Jesus.
    Porque fostes enriquecidos em tudo:
    em toda a palavra e em todo o conhecimento;
    e deste modo, tornou-se firme em vós o testemunho de Cristo.
    De facto, já não vos falta nenhum dom da graça,
    a vós que esperais a manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo.
    Ele vos tornará firmes até ao fim,
    para que sejais irrepreensíveis
    no dia de Nosso Senhor Jesus Cristo.
    Fiel é Deus, por quem fostes chamados
    à comunhão com seu Filho, Jesus Cristo, Nosso Senhor.

     

    CONTEXTO

    No decurso da sua segunda viagem missionária, Paulo chegou a Corinto, depois de atravessar boa parte da Grécia, e ficou por lá cerca 18 meses (anos 50-52), consagran-se inteiramente ao anúncio do Evangelho.

    Corinto era uma cidade nova e muito próspera. Servida por dois portos de mar, possuía as características típicas das cidades marítimas: população de todas as raças e de todas as religiões. Era a cidade do desregramento para todos os marinheiros que cruzavam o Mediterrâneo, ávidos de prazer, após meses de navegação. Na época de Paulo, a cidade comportava cerca de 500.000 pessoas, das quais dois terços eram escravos. A riqueza escandalosa de alguns contrastava com a miséria da maioria.

    Como resultado da pregação de Paulo, nasceu a comunidade cristã de Corinto. A maior parte dos membros da comunidade era de origem grega, embora de condição humilde (cf. 1 Cor 11,26-29; 8,7; 10,14.20; 12,2); mas também havia elementos de origem hebraica (cf. At 18,8; 1 Cor 1,22-24; 10,32; 12,13).

    De uma forma geral, a comunidade era viva e fervorosa; no entanto, estava exposta aos perigos de um ambiente corrupto: moral dissoluta (cf. 1 Cor 6,12-20; 5,1-2), querelas, disputas, lutas (cf. 1 Cor 1,11-12), sedução da sabedoria filosófica de origem pagã que se introduzia na Igreja revestida de um superficial verniz cristão (cf. 1 Cor 1,19-2,10).

    Tratava-se de uma comunidade com boas possibilidades, mas que mergulhava as suas raízes em terreno adverso. Na comunidade de Corinto, vemos as dificuldades da fé cristã em inserir-se num ambiente hostil, marcado por uma cultura pagã e por um conjunto de valores que estão em profunda contradição com a pureza da mensagem evangélica.

    O texto que nos é hoje proposto é a “ação de graças” inicial. Habitualmente, Paulo começava as suas cartas com uma “ação de graças”.

     

    MENSAGEM

    Nesta “ação de graças”, em clima de oração e de louvor, Paulo agradece a Deus por certas realidades concretas que fazem parte da vida da comunidade cristã de Corinto, ao mesmo tempo que antecipa temas que vai depois desenvolver na carta. Não é um texto inócuo e convencional, mas um texto carregado de densidade teológica.

    Há neste texto dois aspetos que, pelo seu significado e importância, convém pôr em relevo: o primeiro diz respeito aos dons que a comunidade recebeu de Deus, através de Jesus Cristo; o segundo diz respeito à finalidade do chamamento dos coríntios.

    Em primeiro lugar, é claro para Paulo que a comunidade foi privilegiada com “dons” de Deus (vers. 4-6). É a primeira vez que, nos escritos paulinos, aparece a palavra “carismas” (vers. 7) – palavra que define os dons que resultam da pura generosidade divina e que são derramados sobre determinadas pessoas para o bem da comunidade. A comunidade de Corinto é uma comunidade amada por Deus, agraciada com “carismas” que resultam da generosidade de Deus. É bom que os coríntios tenham consciência da liberalidade divina e saibam dar graças. Mais adiante (em 1 Cor 12-14), Paulo vai desenvolver a sua catequese sobre os “carismas”.

    Que “carismas” são esses? Paulo menciona a palavra (“lógos”) e o conhecimento (“gnosis”) como principais componentes da riqueza espiritual que Deus concedeu aos coríntios. Trata-se de temas muito importantes no contexto da cultura grega, que são apresentados aqui como dons de Deus. Paulo procura, assim, animar a intensa procura de “sabedoria” dos coríntios dando, no entanto, a essa busca um significado e um enquadramento cristão. Paulo desenvolverá a questão nos capítulos seguintes avisando, no entanto, os coríntios de que a “sabedoria” de Deus nem sempre coincide com a “sabedoria” dos homens (cf. 1 Cor 2,1-16).

    Em segundo lugar, Paulo manifesta a sua convicção de que os “carismas” com que Deus cumulou os coríntios são destinados a construir uma comunidade orientada para Jesus Cristo, capaz de viver de forma irrepreensível o seu compromisso com o Evangelho até ao dia do encontro final e definitivo com Cristo. É para esse objetivo final de encontro e de comunhão total com Deus que a comunidade, animada por Jesus Cristo e sustentada com os dons de Deus, deve caminhar.

     

    INTERPELAÇÕES

    • Paulo considera que a comunidade cristã é uma realidade continuamente enriquecida pela vida de Deus. Através dos seus dons, Deus vem continuamente ao encontro dos homens e manifesta-lhes o seu amor. Os crentes devem viver numa permanente atitude de escuta e de acolhimento desses dons. A comunidade de que faço parte está consciente de que Deus vem continuamente ao encontro dos homens através dos dons que Ele oferece? Acolhe os dons de Deus como sinais vivos do seu amor?
    • Qual o objetivo dos dons de Deus? Segundo Paulo, é “tornar firme nos crentes o testemunho de Cristo”. Os dons de Deus destinam-se a promover a fidelidade das pessoas e das comunidades ao Evangelho, de forma a que todos nos identifiquemos cada vez mais com Cristo. Os dons que Deus me concedeu destinam-se sempre a potenciar a minha fidelidade e a fidelidade dos meus irmãos às propostas de Jesus, ou servem, às vezes, para concretizar objetivos mais egoístas, como sejam a minha promoção pessoal ou a satisfação de certos interesses e anseios?
    • Há, neste texto, um apelo implícito à vigilância. O cristão tem de estar sempre vigilante e preparado para acolher o Deus que vem ao seu encontro e lhe manifesta o seu amor através dos seus dons… E tem também de estar sempre vigilante para que os dons de Deus não sejam desvirtuados e utilizados para fins egoístas.

     

    ALELUIA – Salmo 84 (85), 8

    Aleluia. Aleluia.

    Mostrai-nos, Senhor, a vossa misericórdia
    e dai-nos a vossa salvação.

     

    EVANGELHO – Marcos 13,33-37

    Naquele tempo,
    disse Jesus aos seus discípulos:
    «Acautelai-vos e vigiai,
    porque não sabeis quando chegará o momento.
    Será como um homem que partiu de viagem:
    ao deixar a sua casa, deu plenos poderes aos seus servos,
    atribuindo a cada um a sua tarefa,
    e mandou ao porteiro que vigiasse.
    Vigiai, portanto,
    visto que não sabeis quando virá o dono da casa:
    se à tarde, se à meia-noite,
    se ao cantar do galo, se de manhãzinha;
    não se dê o caso que, vindo inesperadamente,
    vos encontre a dormir.
    O que vos digo a vós, digo-o a todos: Vigiai!»

     

    CONTEXTO

    O Evangelho deste domingo situa-nos em Jerusalém, pouco antes da Paixão e Morte de Jesus. É o terceiro dia da estadia de Jesus em Jerusalém, o dia dos “ensinamentos” e das polémicas mais radicais com os líderes judaicos (cf. Mc 11,20-13,1-2). No final desse dia, já no “Jardim das Oliveiras”, Jesus oferece a um grupo de discípulos (Pedro, Tiago, João e André – cf. Mc 13,3) um amplo e enigmático ensinamento, que ficou conhecido como o “discurso escatológico” (cf. Mt 13,3-37).

    Este discurso, apresentado com uma linguagem profético-apocalíptica, descreve a missão da comunidade cristã no período que vai desde a morte de Jesus até ao final da história humana. É um texto difícil, que emprega imagens e uma linguagem cheia de alusões enigmáticas, bem ao jeito do género literário “apocalipse”. Não seria tanto uma previsão antecipada de acontecimentos concretos, mas antes uma leitura profética da história humana. O seu objetivo seria dar aos discípulos indicações acerca da atitude a tomar frente às vicissitudes que marcarão a caminhada histórica da comunidade, até à vinda final de Jesus para instaurar, em definitivo, o novo céu e a nova terra.

    Os quatro discípulos referenciados no início do “discurso escatológico” representam a comunidade cristã de todos os tempos… Os quatro são, precisamente, os primeiros discípulos chamados por Jesus (cf. Mc 1,16-20) e, como tal, convertem-se em representantes de todos os futuros discípulos. O discurso escatológico de Jesus não seria, assim, uma mensagem privada destinada a um grupo especial, mas uma mensagem destinada a toda a comunidade crente, chamada a caminhar na história com os olhos postos no encontro final com Jesus e com o Pai.

    O “discurso escatológico” divide-se em três partes, antecedidas de uma introdução (cf. Mc 13,1-4). Na primeira parte (cf. Mc 13,5-23), o discurso alude a uma série de movimentos que vão marcar a história e que requerem dos discípulos a atitude adequada: vigilância e lucidez. Na segunda parte, o discurso anuncia a vinda definitiva do Filho do Homem e o nascimento de um mundo novo a partir das ruínas do mundo velho (cf. Mc 13,24-27). Na terceira parte, o discurso refere a incerteza quanto ao “tempo” histórico dos eventos anunciados e insiste com os discípulos para que estejam sempre vigilantes e preparados para acolher o Senhor que vem (cf. Mc 13,28-37).

     

    MENSAGEM

    O texto de Marcos que nos é proposto está integrado na terceira parte do discurso escatológico. Refere-se diretamente ao final dos tempos e à atitude que os discípulos devem ter face a esse encontro último e definitivo com Jesus. O seu objetivo não é transmitir informação objetiva acerca do “como” e do “quando”, mas formar os discípulos e torná-los capazes de enfrentar a história com determinação e esperança.

    Começa com uma parábola – a parábola do homem que partiu em viagem, distribuiu tarefas aos seus servos e mandou ao porteiro que vigiasse (cf. Mc 13,33-34) – e termina com uma admoestação aos discípulos acerca da atitude correta para esperar o Senhor (cf. Mc 13,35-37). Primitivamente, a parábola contada por Jesus seria dirigida aos discípulos e teria como objetivo recordar-lhes o dever de guardar e fazer frutificar os tesouros desse Reino que Jesus lhes confiou antes de partir para o Pai.

    O “dono da casa” da parábola é, evidentemente, Jesus. Ao deixar este mundo para voltar para junto do Pai, Ele confiou aos discípulos a tarefa de construir o Reino de Deus. Os discípulos de Jesus não podem, portanto, cruzar os braços em atitude passiva, à espera que o Senhor venha; eles têm uma missão – uma missão que lhes foi confiada pelo próprio Jesus e que devem concretizar, mesmo em condições adversas.

    Quem é o “porteiro”, com uma tarefa especial de vigilância (vers. 34)? Na perspetiva de Marcos, o “porteiro” será todo aquele que tem uma responsabilidade especial na coordenação da comunidade… A sua missão é impedir que a comunidade seja invadida por valores estranhos ao Evangelho e à dinâmica do Reino. A figura do “porteiro” adequa-se, especialmente, aos responsáveis da Igreja, a quem foi confiada a missão da vigilância e da animação da comunidade. O “porteiro” deve ajudar os outros membros da comunidade a discernir – desses valores que o mundo e a sociedade continuamente sugerem – aquilo que os ajuda ou os impede de viverem na fidelidade ativa a Jesus e às suas propostas.

    Todos – “porteiro” e demais servos do “senhor” – devem estar ativos e vigilantes. A palavra-chave do Evangelho deste dia é esta: “vigilância”. Contudo, “vigilância” não significará, para os discípulos, viver à margem da história, num angelismo alienante, evitando comprometer-se para não se sujar com as realidades do mundo e procurando manter a “alminha” pura e sem mancha para que o Senhor, quando chegar, os encontre sem pecados graves; mas será viver dia a dia comprometido com a construção do Reino, realizando fielmente as tarefas que o Senhor lhes confiou. Com coragem e perseverança, os discípulos de Jesus devem dar o seu contributo para a edificação do Reino, sendo testemunhas e arautos da paz, da justiça, do amor, do perdão, da fraternidade, cumprindo dessa forma a missão que Jesus lhes confiou.

    De resto, os discípulos que caminham pelo mundo devem estar conscientes de que a meta final do seu peregrinar é o encontro definitivo com Jesus. “O Senhor vem” – garante-lhes o próprio Jesus; e esta certeza deve animar e dar esperança aos discípulos, sobretudo nos momentos de crise e confusão, de perseguições e tentações. Mesmo que tudo pareça ruir à sua volta, eles são chamados a não perder a esperança e a ver, para além das estruturas velhas que vão caindo, a realidade do mundo novo a nascer.

     

    INTERPELAÇÕES

    • O Evangelho deste domingo coloca-nos diante de uma certeza fundamental: “o Senhor vem”. A nossa caminhada humana não é um avançar sem sentido ao encontro do nada, mas uma caminhada feita na alegria ao encontro do Senhor que vem. Não se trata de uma vaga esperança, mas de uma certeza baseada na palavra infalível de Jesus. O tempo de Advento recorda-nos a realidade de um Senhor que vem ao encontro dos homens e que, no final da nossa caminhada por esta terra, nos oferecerá a vida definitiva, a felicidade sem fim.
    • O tempo do Advento é o tempo da espera do Senhor. O Evangelho deste domingo diz-nos como deve ser essa espera… A palavra fundamental é “vigilância”: o verdadeiro discípulo deve estar sempre “vigilante”, cumprindo com coragem e determinação a missão que Deus lhe confiou. Estar “vigilante” significa viver, a cada momento e a cada passo, ativo, empenhado, comprometido na construção de um mundo de vida, de amor e de paz. Significa cumprir, com coerência e sem meias tintas, os compromissos assumidos no dia do batismo e ser um sinal vivo do amor e da bondade de Deus no mundo. É dessa forma que eu tenho procurado viver?
    • Em concreto, estar “vigilante” significa não viver de braços cruzados, fechado num mundo de alienação e de egoísmo, deixando que sejam os outros a tomar as decisões e a escolher os valores que devem governar a humanidade; significa não me demitir das minhas responsabilidades e da missão que Deus me confiou quando me chamou à existência… Estar “vigilante” é ser uma voz ativa e questionante no meio dos homens, levando-os a confrontarem-se com os valores do Evangelho; é lutar de forma decidida e corajosa contra a mentira, o egoísmo, a injustiça, tudo aquilo que rouba a vida e a felicidade a qualquer irmão que caminhe ao meu lado… Como discípulo de Jesus, assumo essa atitude de constante vigilância?
    • Aquela “casa” referida na parábola é a comunidade de Jesus. Nela, todos são servidores. Todos viverão servindo, desempenhando as tarefas que lhes foram confiadas, enquanto esperam o regresso do único “Senhor” (Jesus). Temos aqui uma bela definição da Igreja, a comunidade que Jesus deixou a fazer caminho na história. A comunidade cristã de que eu faço parte é uma comunidade de irmãos e de irmãs conscientes da missão que Jesus lhes deixou, onde todos desempenham o seu papel com lucidez e responsabilidade, ou é um conjunto de pessoas adormecidas, passivas e acomodadas, que vivem na inércia, na indiferença e na mediocridade? A comunidade cristã de que eu faço parte é uma comunidade de gente que procura servir, de forma simples e humilde, os mais necessitados e desvalidos, como Jesus sempre fez, ou é uma comunidade onde cada um está apenas preocupado em “levar a água ao seu moinho” e concretizar as suas visões e triunfos pessoais? A comunidade cristã de que eu faço parte é uma comunidade onde a responsabilidade de todos é incentivada e potenciada de forma sinodal, ou é uma comunidade desigual, onde existem “os que mandam” e “os que obedecem”, os que se impõem e os que se submetem?

     

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 1.º DOMINGO DO ADVENTO

    (adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)

     

    1. A PALAVRA meditada ao longo da semana.

    Ao longo dos dias da semana anterior ao 1.º Domingo do Advento, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

     

    2. DURANTE A CELEBRAÇÃO.

    VINDA. A liturgia da Palavra fala muito desta palavra. O tempo do Advento quer sensibilizar-nos para esta vinda. A dimensão escatológica marca toda a celebração cristã, particularmente neste domingo. Na preparação da liturgia, seria bom partilhar esta dimensão para se entrar verdadeiramente neste domingo…

    VIGILANÇA. O apelo que Cristo nos lança à vigilância é para ser tomado bem a sério. Vigiai, pois… deve ser marcado no momento da proclamação do Evangelho ou no momento do envio, por exemplo, pois é uma atitude a ser vivida no quotidiano… Que o Senhor não nos encontre a dormir ou adormecidos…

    ADVENTO. Este domingo marca a entrada num novo tempo litúrgico: as quatro semanas do Advento. Habitualmente, há um gesto comum como as quatro velas da coroa do Advento que se vão acendendo em cada domingo… Hoje, é o início e este gesto deve ter um destaque especial, através de um cântico ou outro elemento que faça a ligação para os outros domingos…

     

    3. PALAVRA DE VIDA.

    A nossa vida tem um horizonte. Mesmo se olhamos por vezes o passado para recordar… mesmo se tomamos o nosso presente para o viver plenamente…, precisamos de nos voltar decididamente para o futuro para entrever os projetos que nos mobilizam. Tal é o convite que Jesus nos lança três vezes: “Vigiai!” Como Maria, José, os pastores, os Reis Magos… Se vigiamos, o nosso presente e o nosso futuro encontrar-se-ão. É isso a esperança.

     

    4. UM PONTO DE ATENÇÃO.

    Uma oração penitencial baseada na primeira leitura… A primeira leitura é uma bela oração, cheia de confiança e de esperança, mas também plena de lucidez sobre as falhas do povo e a situação religiosa do país. É como que um apelo para que o Senhor venha sacudir a torpor do seu povo e despertar o seu fervor adormecido. Para iniciar o tempo do Advento, pode fazer-se uma oração penitencial confiante e sincera. Depois do cântico de entrada e de uma breve introdução, alguém coloca-se de joelhos junto à cruz ou diante do altar e lê lentamente a primeira parte do texto. A assembleia canta um refrão de tipo penitencial. A mesma pessoa levanta-se e lê o segundo e o terceiro parágrafo de uma forma mais alegre e expressiva. O mesmo cântico penitencial poderá concluir a leitura neste momento penitencial.

     

    5. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…

    A oportunidade de um novo começo… Devido às nossas numerosas atividades, inclusive na Igreja, a nossa vigilância está muitas vezes ameaçada: falta-nos o tempo para parar, discernir, fazer novas escolhas em ordem a despertar a nossa adesão a Cristo. A nossa vigilância deve traduzir-se em gestos concretos de delicadeza e atenção aos outros, em casa, no trabalho, na escola… O tempo do Advento oferece-nos a oportunidade de um novo começo…

     

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS

    Proposta para Escutar, Partilhar, Viver e Anunciar a Palavra

    Grupo Dinamizador:
    José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
    www.dehonianos.org

    S. Francisco Xavier, Presbítero

    S. Francisco Xavier, Presbítero


    3 de Dezembro, 2023

    Francisco Xavier nasceu a 7 de Abril de 1506, no castelo da sua família, perto de Pamplona, Espanha. Fez os seus estudos académicos na Universidade de Paris, onde, em 1530, era já professor. Motivado por Inácio de Loiola, seu aluno e amigo, abandonou a prometedora carreia que iniciara, juntando-se a ele para fundar a Companhia de Jesus. Ordenado sacerdote, foi enviado para a Índia. Desembarcou em Goa em 1542. Seguem dez anos de intensos trabalhos, que constituem uma das mais gloriosas epopeias, na História missionária da Igreja. Evangeliza as zonas costeiras da Índia, vai a Malaca, às Molucas e ao Japão. Acaba por falecer na ilha de Sanchão, às portas da China, que pretendia evangelizar. A sua vida foi marcada pelo amor de Deus e pelo zelo apostólico. Foi canonizada em 1622. É um dos padroeiros da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, Dehonianos.
    Lectio
    Primeira leitura: 1 Coríntios 9, 16-19.22-23

    Irmãos: anunciar o Evangelho, não é para mim motivo de glória, é antes uma obrigação que me foi imposta: ai de mim, se eu não evangelizar! 17Se o fizesse por iniciativa própria, mereceria recompensa; mas, não sendo de maneira espontânea, é um encargo que me está confiado. 18Qual é, portanto, a minha recompensa? É que, pregando o Evangelho, eu faço-o gratuitamente, sem me fazer valer dos direitos que o seu anúncio me confere. 19De facto, embora livre em relação a todos, fiz-me servo de todos, para ganhar o maior número. 20Fiz-me judeu com os judeus, para ganhar os judeus; com os que estão sujeitos à Lei, comportei-me como se estivesse sujeito à Lei - embora não estivesse sob a Lei - para ganhar os que estão sujeitos à Lei; 21com os que vivem sem a Lei, fiz-me como um sem Lei - embora eu não viva sem a lei de Deus porque tenho a lei de Cristo - para ganhar os que vivem sem a Lei. 22Fiz-me fraco com os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para salvar alguns a qualquer custo. 23E tudo faço por causa do Evangelho, para dele me tornar participante.

    Mais uma vez, Paulo se vê obrigado a defender, não tanto a sua pessoa, mas a sua ação de apóstolo no meio da comunidade cristã de Corinto. Havia quem o acusasse de interesse próprio no exercício do seu ministério: busca de bens materiais, afirmação pessoal. O Apóstolo reage afirmando que, para ele, evangelizar é "um dever". Quem livremente se põe ao serviço de um senhor, não pode furtar-se a esse serviço. É o que acontece com Paulo. Por isso afirma: «ai de mim, se eu não evangelizar!» (v. 16b).
    S. Francisco Xavier também estava consciente de que o chamamento ao apostolado é um encargo confiado por Deus. Vive a sua vocação e missão com inquebrantável e total fidelidade, total desinteresse e extraordinário elo apostólico.
    Evangelho: Marcos 16, 15-20

    Naquele tempo, Jesus apareceu aos one Apóstolos e disse-lhes: «Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura. 16Quem acreditar e for baptizado será salvo; mas, quem não acreditar será condenado. 17Estes sinais acompanharão aqueles que acreditarem: em meu nome expulsarão demónios, falarão línguas novas, 18apanharão serpentes com as mãos e, se beberem algum veneno mortal, não sofrerão nenhum mal; hão-de impor as mãos aos doentes e eles ficarão curados.» 19Então, o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi arrebatado ao Céu e sentou-se à direita de Deus. 20Eles, partindo, foram pregar por toda a parte; o Senhor cooperava com eles, confirmando a Palavra com os sinais que a acompanhavam.

    O mandato de Cristo, "Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura." (v. 15), destina-se aos Apóstolos e a todos os batizados, clérigos, religiosos ou leigos. "O Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi arrebatado ao Céu e sentou-se à direita de Deus. Eles, partindo, foram pregar por toda a parte" (vv. 19-20). Os Onze acolheram o mandato com prontidão. Ao realizá-lo deram-se conta de que, Aquele que subira ao céu, Jesus, na verdade continuava com eles, acompanhando-os, cooperando com palavras e prodígios (cf. vv. 17-18). É consolador para os evangelizadores saberem que não estão sós, que o Senhor caminham com eles e que podem contar com o seu poder para vencer os obstáculos, demónios e todos os males.
    Meditatio

    O ministério apostólico de S. Francisco Xavier, com o dinamismo com que o exerceu, é espantoso. Em 1542, foi mandado para as Índias, ou para os confins do mundo, como então se dizia. Chegou lá, depois de uma longa e perigosa viagem. Lançou-se imediatamente na evangelização de cidades e aldeias, em permanentes viagens, sem temer intempéries nem outros perigos. Apenas dois anos, após a chegada à Índia, foi a Ceilão e às Molucas. Regressou à Índia para confirmar os resultados da sua evangelização, para organizar e dar novo impulso à obra dos seus companheiros. Mas não ficou por aí. Tinham-no informado que o Japão era um reino muito importante e partiu para lá, pensando que a sua conversão poderia influir positivamente na evangelização de todo o Extremo Oriente. Prosseguiu, no reino do Sol nascente, as suas viagens e o anúncio do Evangelho. Ao regressar desse país, projeta evangelizar a China. Ao procurar realizar esse intento, é surpreendido pela morte, na ilha de Sanchão, no ano de 1552. Em aproximadamente dez anos, percorreu milhares de quilómetros, com os meios e as dificuldades que mal podemos imaginar, dirigindo-se a numerosos povos, que falavam diferentes línguas. O segredo da sua coragem e do seu dinamismo era a oração e a união com Cristo, na união ao mistério de Deus que quer comunicar com todos os homens.
    Também Jesus teve que ultrapassar uma distância infinita para vir até nós e estar connosco: deixou o Pai, como diz o evangelho de João, para vir ao mundo. Continuou a sua viagem durante o seu ministério de apenas três anos, indo ao encontro das pessoas para lhes anunciar a Boa Nova do Reino, não se limitando a esperar que O procurassem. Hoje, se queremos que o evangelho chegue aos nossos contemporâneos, não basta esperá-los na igreja. É preciso procura-los onde eles estão. É preciso "sair das sacristias" como dizia o P. Dehon aos sacerdotes do seu tempo.
    S. Francisco Xavier deixou-se iluminar pelo Espírito Santo, permitiu a Cristo habitar no seu coração inquieto e foi conduzido por Deus Pai através dos caminhos do mundo, capaz de tudo "naquele que me dá força". A nossa fé, tantas vezes opaca e apagada, recebe luz e paixão do grande missionário e santo, que hoje celebramos. Para receber o amor de Deus é preciso transmiti-lo. Para o receber ainda mais é preciso dá-lo aos outros de modo ainda mais fiel e generoso.
    Oratio

    S. Francisco Xavier, ficaríeis certamente espantado com os meios de transportes e as possibilidades de comunicação que, hoje, temos no mundo: nenhum país se encontra a mais de trinta horas de voo e a comunicação telemática é praticamente instantânea. Alcança-nos de Deus um pouco do teu zelo apostólico e do teu dinamismo, para que o Evangelho chegue, efetivamente a todos os homens. Alcança-nos de Deus uma fé viva que nos leve a um testemunho generoso e alegre da Boa Notícia de que Deus a todos chama para serem seus filhos. Ámen.
    Contemplatio

    O primeiro projeto de Xavier e dos seus companheiros era de irem para a Palestina para aí trabalharem na conversão dos infiéis. Tinham o secreto desejo do martírio. Mas a guerra que reinava entre Veneza e os Turcos pôs obstáculo aos seus desígnios. Puseram-se à disposição do Papa que lhes confiou o cuidado de pregarem missões em Roma, depois logo, a pedido do rei de Portugal, Xavier partiu para as Índias. Que zelo que ele mostrou! Em Goa, tomou alojamento entre os pobres no hospital. Recusou o apartamento que lhe era oferecido pelo vice-rei. Missionou na cidade, depois percorreu todas as Índias, a custo das maiores fadigas. A sua missão tornou-se semelhante à dos apóstolos, pela extensão e pela rapidez dos seus sucessos. Empregava os meios de que eles mesmos se tinham servido para converterem o mundo idólatra: a oração, a humildade, o desinteresse, a mortificação. Era ajudado pelo dom dos milagres. Sto. Inácio enviou-lhe companheiros. Deixou às Índias cristandades florescentes, depois passou ao Japão, onde teve também grandes sucessos, mas a custo das mesmas fadigas e de grandes humilhações. Morreu como missionário na ilha de Sanchão, perto da China. Qual é o nosso zelo? Fazemos o que podemos pelo próximo, segundo a nossa vocação? (Leão Dehon, OSP 4, p.520s.).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Tudo posso n´Aquele que me dá força" (Fl 4, 13).

     

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    S. Francisco Xavier, Presbítero (3 de Dezembro)

  • 01ª semana do Advento - Segunda-feira

    01ª semana do Advento - Segunda-feira

    4 de Dezembro, 2023

    Tempo do Advento Primeira Semana - Segunda-feira
    Lectio
    Primeira leitura: Is 2, 1-5

    1 Visão profética de Isaías, filho de Amos. sobre Judá e Jerusalém: 2*No fim dos tempos o monte do templo do Senhor estará firme, será o mais alto de todos, e dominará sobre as colinas. Acorrerão a ele todas as gentes, 3virão muitos povos e dirão: «Vinde, subamos à montanha do Senhor, à casa do Deus de Jacob. Ele nos ensinará os seus caminhos, e nós andaremos pelas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém, a palavra do Senhor. 4E1e julgará as nações, e dará as suas leis a muitos povos, os quais transformarão as suas espadas em relhas de arados, e as suas lanças, em foices. Uma nação não levantará a espada contra outra, e não se adestrarão mais para a guerra. 5Vinde Casa de Jacob, caminhemos à luz do Senhor.»
    Isaías, com o seu olhar de fé, descortina na história um duplo movimento: um movimento ascendente da parte do homem, que progride, que procura a Deus, e um movimento descendente da parte de Deus, que vem ao encontro do homem, por meio da sua Palavra, para o atrair para Si. O futuro da humanidade não será a catástrofe, mas a unidade, a paz universal. A vinda do Messias provocará entre os povos um movimento inverso ao que aconteceu em Babel. À confusão e à dispersão sucederá a união entre os homens e sua proximidade com Deus. Jerusalém será a cidade de Deus para sempre.
    A «palavra do senhor- (v. 3) dirigida aos homens, ensínar-lhes-á a concórdia e o caminho da paz, orientando nessa direcção as suas energias positivas. Assim, os instrumentos de guerra, serão transformados em instrumentos de paz: «transformarão as suas espadas em relhas de arados, e as suas lanças, em totces- (v. 4).
    As realizações humanas serão sempre frágeis. Mas ajudarão a compreender que a vida, que muitas vezes avança no meio de sofrimento, é uma santa peregrinação iluminada pela luz que emana do «monte do templo do Senhor» (v. 2). Essa luz, que será plena no fim dos tempos, brilha desde já iluminando o caminho do povo de Israel: « Vinde Casa de Jacob, caminhemos à luz do Senhor» (v. 5). A história avança, muitas vezes, no meio de grande turbulência e com muitas oscilações. Mas Isaías convida-nos ao optimismo.

    Evangelho: Mt. 8, 5-11
    Naquele tempo:5*entrando em Cafarnaúm, aproximou-se dele um centurião, suplicando nestes termos: 6«Senhor, o meu servo jaz em casa paralítico, sofrendo horrivelmente.» 7Disse-Ihe Jesus: «Eu irei curá-to» 8Respondeu-Ihe o centurião: «Senhor, eu não sou digno de que entres debaixo do meu tecto; mas diz uma só palavra e o meu servo será curado. 9porque eu, que não passo de um subordinado, tenho soldados às minhas ordens e digo a um: 'Vai; e ele vai; a outro: 'Vem; e ele  vem; e ao meu servo: 'Faz isto; e ele faz.» 10*Jesus, ao ouvi-lo, admirou-se e disse aos que o seguiam: «Em verdade vos digo: Não encontrei ninguém em Israel com tão grande fé! 11*Digo-vos que, do Oriente e do Ocidente, muitos virão sentar-se à mesa do banquete com Abraão, Isaac e Jacob, no Reino do Céu.
    A fé do centurião causa espanto a Jesus. Trata-se de um pagão, pessoa considerada impura pelos judeus, de um soldado das forças estrangeiras de ocupação da terra de Israel! E todavia manifesta uma fé muito grande, uma fé convicta, determinada, acompanhada por um forte sentimento de indignidade, que não lhe permite ter pretensões. Reconhece que o povo eleito é Israel. Mas também sabe que o poder de Deus, manifestado em Jesus, não tem quaisquer limites. E, tal como a sua palavra de comandante é eficaz, está certo de que, com maior razão, também a palavra de Jesus será eficaz contra a doença do seu servo.
    Jesus exalta a fé desse "pagão" como verdadeira fé salvífica. Com este relato, Mateus propõe um caminho de fé que vai da confiança em Jesus, que pode e quer curar, ao acolhimento da sua pessoa como enviado de Deus, à abertura sincera e total que desemboca na fé.
    Ao terminar o relato, o evangelista acrescenta uma palavra de Jesus que evoca o banquete do fim dos tempos em que hão-de participar também os pagãos. Mateus, que é hebreu, parece querer provocar ciúmes nos seus irmãos hebreus e sacudir a sua excessiva segurança por serem o povo eleito.

    Meditatio
    As leituras de hoje abrem horizontes de esperança para todos os povos: Deus «dará as suas leis a muitos pOV09> (v. 4). Por isso, a nossa oração não pode limitar-se ao nosso horizonte pessoal, mas abrir-se aos desejos e aspirações de todos os homens, para que encontrem plena satisfação em Cristo, o verdadeiro templo a que «acorrerão todas as pentes» (v. 2).
    O Advento não é um tempo fictício. É verdade que Cristo já veio. Mas ainda não foi anunciado nem acolhido por todos os homens, por todos os povos, que por Ele anseiam. Também é certo que, Aquele que veio, há-de voltar no fim dos tempos, para completar a obra da salvação oferecida a todos os povos. Abramos, pois o coração a quantos ainda não conhecem o Senhor, ou não O querem conhecer, mas que d ' Ele precisam e, no fundo, por Ele anseiam.
    O evangelho diz-nos que, em Cristo, que vem ao nosso encontro, podemos descobrir o rosto de Deus que vem visitar a humanidade, que O procura ansiosamente. Mas também nos diz como se vai ao encontro de Cristo que vem. Em primeiro lugar, havemos de ter consciência daquilo que precisamos. O centurião precisa da intervenção de Cristo em favor do servo que sofre. Também nós havemos de estar conscientes das nossas reais necessidades, das nossas misérias ... Em segundo lugar, precisamos de humildade, isto é, de reconhecermos que não podemos salvar-nos só por nós mesmos. Em terceiro lugar, a humildade há ser acompanhada pela confiança no Senhor que vem ao nosso encontro para nos conduzir pelos caminhos da vida e da luz. A humildade também leva a reconhecer que, ainda que estejamos em urgente necessidade, não somos dignos, e muito menos podemos exigir, que o Filho de Deus se incomode por causa de nós. Não o merecemos. O que fizer por nós é puro dom da sua misericórdia.
    Precisamos também de fé. Sabemos que Deus tem os seus tempos e modos de actuar. Deixemo-lo actuar como e quando quiser. O centurião nada exige e está  disponível para aceitar o que o Senhor quiser. Limita-se a crer em Jesus, a amar a sua vontade. E isso é o mais importante, como Jesus acaba por sublinhar
    O episódio narrado no evangelho de hoje também nos mostra que a fé não é monopólio de ninguém. Quem escutar a Palavra e aderir a Jesus Cristo, encontra a salvação. Por isso é que a Igreja continua a evangelizar todos os povos. E o Advento é também um tempo missionário que deve alertar-n
    os para a necessidade de evangelizar.
    Embora o nosso instituto não seja exclusivamente missionário, as missões «ed çentes» fazem parte das opções apostólicas preferenciais da Congregação. Já o Pe. Dehon, em carta ao Pe. Guillaume, em 3 de Outubro de 1910, indicava os motivos dessa opção: fazer conhecer o amor do Coração de Jesus nas terras infiéis; o espírito de sacrifício e, portanto, de imolação, a alegria de Nosso Senhor e da Igreja (AD B 44). A actividade missionária permanece no Instituto como um modo privilegiado de nos inserir no movimento de amor redentor, iniciado com o mistério da Encarnação e desenvolvermos riquezas da nossa vocação e oblatos-reparadores. O Advento é tempo de reavivarmos a consciência da nossa vocação missionária.

    Oratio
    Vem, Senhor Jesus! Precisamos de Ti, da realização das tuas promessas.
    Precisamos da tua palavra, que nos ensine a pôr de lado a prepotência, as incompreensões, as divisões e a violência e a percorrer os caminhos da paz.
    Vem, Senhor Jesus! Ilumina os nossos passos com a luz do teu rosto, e fortalece os nossos corações para sejamos capazes de transformar as lanças em foices e as espadas em relhas de arado.
    Vem, Senhor Jesus! Vem às nossas vidas, para nos iluminar, nos curar, nos dar
    a paz.
    Vem, Senhor Jesus! E, como o centurião, testemunharemos a nossa fé e a nossa confiança em Ti, bem como a nossa gratidão por Te fazeres nosso companheiro de viagem e nosso hóspede: «Senhor, eu não sou digno de que entres debaixo do meu tecto; mas diz uma só palavra e o meu servo será curado!»
    Vem, Senhor Jesus! Vem, Senhor Jesus!

    Contemplatio
    Edificar e expandir benefícios, tal é o fim das relações exteriores de Jesus. Nós podemos considerá-lo nas suas relações com aqueles que são estranhos à fé judaica, depois nos seus encontros com os seus amigos e com os seus inimigos. As suas relações com aqueles que são estranhos à fé judaica: Várias vezes está em relação com estranhos a respeito da fé nacional, com pagãos, com samaritanos cismáticos. Ganha-os para a verdade pelos seus benefícios e pela sua santidade. Mas não tem sucesso junto de Pilatos, que está prevenido pelo orgulho e pelo interesse.
    Eis em primeiro lugar o centurião de Cafarnaúm. É pagão, mas é honesto e bom. Mandou mesmo construir uma sinagoga para os judeus. É um homem recto e humilde. Ouviu falar dos milagres de Jesus, e manda-lhe pedir a cura do seu servo. Jesus quer ir a sua casa. O centurião pronuncia esta palavra histórica: «Não sou digno de que entreis em minha casa». Jesus cura o seu servo sem ir mais longe e exalta a fé deste centurião: «Não encontrei uma tão grande fé em Israel» (Leão Dehon, OSP 2, p. 576).
    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Senhor, eu não sou digno que entreis em minha morada, mas diz uma palavra e serei salvo!» (da Liturgia, cf. Mt 8, 8).

  • 01ª semana do Advento - Terça-feira

    01ª semana do Advento - Terça-feira

    5 de Dezembro, 2023

    Tempo do Advento
    Primeira Semana - Terça-feira

    Lectio
    Primeira leitura: Is. 11, 1-10

    Naquele tempo: 1 *brotará um rebento do tronco de Jessé. e um renovo brotará das suas raízes. 2*Sobre ele repousará o espírito do Senhor: espírito de sabedoria e de entendimento, espírito de conselho e de fortaleza, espírito de ciência e temor do Senhor. 3Não julgará pelas aparências nem proferirá sentenças somente pelo que ouvir dizer; 4mas julgará os pobres com justiça, e com equidade os humildes da terra; ferirá os tiranos com os decretos da sua boca, e os maus com o sopro dos seus lábios. 5A justiça será o cinto dos seus rins, e a lealdade circundará os seus flancos. 6Então o lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo delter-se-e ao lado do cabrito; o novilho e o leão comerão juntos, e um menino os conduzirá. 7A vaca pastará com o urso, as suas crias repousarão juntas; o leão comerá palha como o boi. 8A criancinha brincará na toca da víbora e o menino desmamado meterá a mão na toca da serpente. 9Não haverá dano nem destruição em todo o meu santo monte, porque a terra está cheia de conhecimento do Senhor, tal como as águas que cobrem a vastidão do mar. 10*Naquele dia, a raiz de Jesse, estandarte dos povos, será procurada pelas nações e será gloriosa a sua morada.
    Num cenário de desolação, brota «um rebentos, sinal de vida e de bênção. Brota do tronco da família de David, provada pelas tragédias da história e pela infidelidade do pecado. Mas Deus é fiel e não esquece a promessa de estabelecer para sempre o trono de David. A referência ao «tronco de Jessé», pai de David, lembra que Deus faz maravilhas, não com o David humanamente poderoso, mas com o David criança, fraco diante dos homens, mas amado e escolhido (cf. 1 Sam 16, 1-13).
    O dom do Espírito (v. 2) é o dom divino por excelência aos chefes libertadores de Israel, aos juízes carismáticos, aos profetas e aos sacerdotes, aos sábios. Mas era um dom parcial e instável. Mas um descendente de David irá recebê-lo totalmente e de modo duradoiro: «Sobre ele repousará o espírito do senhor- (v. 2). O menino real receberá a totalidade dos dons e dos carismas, que se revelarão num governo justo.
    A última parte do texto tem alcance universal: o reino deste menino não se limitará a Jerusalém, mas abrangerá a humanidade inteira e a própria criação. Com ele, aparecerá um mundo totalmente renovado, reconciliado, quase um "novo paraíso", cujo centro é monte santo de Deus, cuja presença será pacificadora e vitoriosa sobre todo o mal. E o «conhecimento do Senhor» (v. 9) inundará a terra.

    Evangelho: Lc. 10, 21-24

    21 *Naquele tempo, Jesus exultou de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse: «Bendigo-te, Ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi
    do teu agrado. 22*Tudo me foi entregue por meu Pai; e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho houver por bem revelar-lho.» 23*Voltando-se, depois, para os discípulos, disse-lhes em particular: «Felizes os olhos que vêem o que estais a ver. 24Porque, digo-vos, muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não o ouvirem!»
    Jesus reconhece a verdade da sua vocação de Filho na fé dos pequenos, daqueles que os homens da religião, julgam desfavorecidos mas que, com gratidão e humildade, acolheram a pregação dos 72 discípulos. Tudo isto é descoberto e celebrado na força do Espírito que torna o homem capaz de ler os acontecimentos à luz da vontade de Deus.
    A exultação de Jesus deixa-nos entrever a qualidade dos eventos pelos quais se manifesta a sua vocação filial. Apesar do insucesso da sua missão, e do parcial sucesso da dos discípulos, dá graças ao Pai pelos seus imperscrutáveis desígnios, que abrem o mistério do Reino aos pequenos e humildes e o fecham aos soberbos.
    Jesus admira o "conhecimento" que o Pai tem dele e exalta o conhecimento que o mesmo Pai Lhe dá do seu projecto de salvação. Mais ainda: Jesus introduz neste conhecimento de Deus os seus amigos, aqueles que aceitam participar na familiaridade que O liga ao Pai (v. 22). Essa participação é a verdadeira bem-aventurança dos discípulos, que já não vivem à espera, mas usufruem da presença da salvação (v. 23) há muito esperada por Israel.

    Meditatio
    O Advento é tempo de esperança e de desejo. Esperamos e desejamos a manifestação do Senhor. A liturgia ajuda-nos a manter vivos e a aprofundar esses sentimentos. O conhecimento do Senhor será a nossa felicidade: «Felizes os olhos que vêem o que estais a ver».
    Mas Deus actua e revela-Se de modo imprevisível, confundindo a sabedoria humana. Os caminhos de salvação, que nos faz percorrer, são inesperados, como sugere o tema do «rebento do tronco de Jessé«. O rebento, que desponta de um tronco cortado, no meio de um bosque devastado, recorda a fidelidade de Deus à sua promessa e o privilégio que, aos seus olhos, têm os humildes e pequenos.
    Cada um de nós pode ser um desses privilegiados, se acolher o dom do Espírito que repousa sobre Jesus, o rebento messiânico. E como Jesus, pela força do Espírito, soube discernir nos êxitos controversos da sua missão o plano sábio de Deus, também cada um de nós poderá alegrar-se com a atenção e o carinho que Deus reserva aos pobres e simples. Cada um de nós poderá fruir da revelação do mistério do amor do Pai e entrar numa relação de comunhão e intimidade com Ele. Jesus, o Verbo Incarnado, vem oferecer-me a vida filial, a verdadeira sabedoria, o dom do Espírito com que Deus quer encher-me e encher o mundo inteiro. Portanto, há que acolher Jesus, pois Ele é o verdadeiro sinal do céu que Deus nos envia para nos dar a conhecer o seu amor. E dá-o a conhecer, não por gestos espectaculares, mas na bondade para com os doentes, no cuidado e paciência em explicar as coisas a espíritos pouco abertos, no gosto em permanecer connosco.
    Peçamos à Virgem Maria que nos faça compreender cada vez mais o mistério da Incarnação, que nos alcance de Deus «um espírito de sabedoria e de revelação para descobrirmos e conhecermos verdadeiramente a Cristo Senhor e compreendermos a que esperança fomos chamados" (cf. Ef 1, 17-18) (Cst. 77). A nossa "esperança", que "não desilude" (Rm 5, 5), que é "o único necessário" para nós, é Cristo, e a vida de união com Ele, particularmente na sua oblação (cf. Cst. 26).

    Oratio
    Senhor Jes
    us,
    Infunde em nós o Espírito de Sabedoria Que nos ensine a viver
    E a buscar a verdadeira felicidade;
    Infunde em nós o Espírito de Entendimento
    Que nos faça penetrar nos segredos do teu coração manso e humilde; Infunde em nós o Espírito de Conselho e de Fortaleza
    que nos leve a fazer opções correctas
    e a concretizá-Ias com perseverança, paciência e tenacidade; Infunde em nós o Espírito de Ciência
    Que nos faça entender a nossa história
    À luz do projecto de Deus Pai;
    Infunde em nós o Espírito de temor do Senhor que nos leve a colocar a vontade do Pai
    no centro dos nossos pensamentos, desejos e projectos.
    Infunde em nós o Espírito
    Para que o teu amor ablativo caracterize a nossa vida e revele aos pequenos e pobres,
    o rosto de Deus Pai. Amen.
    Contemplatio
    A consideração das belezas infinitas de Deus é bem difícil sobre a terra onde só podemos ver a Deus através de um véu. Mas a contemplação do amor de Deus pelos homens é-nos fácil. Nós vivemos no meio dos benefícios que este amor nos prodigalizou, porque a maior marca do amor de Deus por nós, é o dom do seu Filho único. O amor de Deus é facilitado pelo amor da humanidade santa de Jesus. O amor de Nosso Senhor contemplado sob as formas sensíveis da sua humanidade, é o amor por um Deus, porque Jesus é Deus. É um acto de caridade, porque as afeições por Nosso Senhor são sempre elevadas a esta altura pela graça. É fácil excitar o nosso coração a este género de caridade. As representações das cenas da /155 vida mortal do Salvador, sobretudo as da sua Paixão, são meios ao alcance de todos. Este exercício não custa esforço, basta ter um coração para a ele se entregar. Também as almas simples, estas almas que Jesus ama tanto, porque são almas de filhos, vão direitas a Ele por este meio que o seu coração lhes inspira (Leão Dehon, OSP 2, p. 154s.)

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    Eu Te bendigo, ó Pai, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos (cf. Lc 10, 21).

  • 01ª semana do Advento - Quarta-feira

    01ª semana do Advento - Quarta-feira

    6 de Dezembro, 2023

    Tempo do Advento Primeira Semana - Quarta-feira

    Lectio
    Primeira leitura: Is. 25, 6-10a
    6*No monte Sião, o Senhor do universo prepara para todos os povos um banquete de carnes gordas, acompanhadas de vinhos velhos, carnes gordas e saborosas, vinhos velhos e bem tratados. 7Neste monte, Ele arrancará o véu de luto que cobre todos os povos, o pano que encobre todas as nações. 8*Aniquilará a morte para sempre. O Senhor Deus enxugará as lágrimas de todas as faces, e eliminará o opróbrio que pesa sobre o seu povo, sobre toda a nação. Foi o Senhor quem o proclamou. 9Dir-se-á naquele dia: «Este é o nosso Deus, nele confiámos e Ele nos salva. Este é o Senhor em quem confiámos. Congratulemo-nos e rejubilemos com a sua salvação. 1 DA mão do Senhor repousará sobre este monte.»
    o banquete simboliza a comunhão, o diálogo, a festa, a vitória. O banquete anunciado por Isaías celebrará a derrota, por Deus, dos poderes que subjugam o homem, mas também a realeza universal do mesmo Deus. Esse banquete será oferecido em Sião, símbolo da eleição de Israel.
    Como era costume, o Rei, ao ser entronizado, oferece presentes aos convidados.
    O primeiro é a sua presença, e a sua manifestação aos povos: «arrancará o véu de luto que cobre todos os povos, o pano que encobre todas as nações» (v. 7). Outro presente será a aniquilação da morte. Finalmente, o próprio Deus passará a enxugar as lágrimas de todas as faces, a consolar todos os que sofrem. É o terceiro dom, um dom personalizado.
    Esta esperança baseia-se unicamente na promessa de Deus, e não em cálculos humanos: «Foi o Senhor quem o prodsrnoo» (v. 8). É uma esperança segura. Por isso, irrompe o hino de louvor, ainda antes da realização da promessa da salvação. Deus não falha: «Congratulemo-nos e rejubilemos com a sua sstvsçêo. (v. 9).

    Evangelho: Mt. 15, 29-37

    29Naquele tempo, Jesus foi para junto do mar da Galileia. Subiu ao monte e sentou-se. 3DVieram ter com Ele numerosas multidões, transportando coxos, cegos, aleijados, mudos e muitos outros, que lançavam a seus pés. Ele curou-os, 31 *de sorte que as multidões ficaram maravilhadas ao ver os mudos a falar, os aleijados escorreitos: os coxos a andar e os cegos com vista. E davam glória ao Deus de Israel. 32*Jesus, chamando os discípulos, disse-lhes: «Tenho compaixão desta gente, porque há já três dias que está comigo e não tem que comer. Não quero despedi-los em jejum, pois receio que desfaleçam pelo caminho.» 330s discípulos disseram-lhe: «Onde iremos buscar, num deserto, pães suficientes para saciar tão grande multidão?» 34Jesus perguntou-lhes: «Quantos pães tendes?» Responderam: «Sete, e alguns peixinhos.» 350rdenou à multidão que se sentasse. 36Tomou os sete pães e os peixes, deu graças, partiu-os e dava-os aos discípulos, e estes, à multidão. 37*Todos comeram e ficaram saciados; e, com os bocados que sobejaram, encheram sete cestos.
    Mateus apresenta-nos um magnifico quadro em que Jesus que cura os doentes e dá a todos o pão, sinal do banquete messiânico. Assim revela a sua compaixão para com a multidão que O seguiam. Os discípulos nem tinham reparado na fome e falta de meios daquela gente. Por isso, antes de fazer o milagre, Jesus chama-os e convida-os a participar da sua compaixão para com os pobres e carenciados.
    Mateus narrara, pouco antes, uma viagem de Jesus a terra estrangeira (15, 21), o que nos permite pensar que a multidão fosse formada, pelo menos em boa parte, por pagãos. O evangelista, que sabe que a missão universal é pós-pascal, quer sublinhar que a compaixão de Deus, manifestada em Jesus, abrange todos os povos. Na primeira multiplicação dos pães (Mt 14, 13-21), Jesus tinha-se revelado o bom pastor de Israel. Agora, também os pagãos são convidados para o banquete messiânico.
    Os pães que sobejam mostram que nesse banquete há sempre lugar para todos. O número 7 dos cestos do pão que sobejou, bem como o número 4.000 dos que comeram, simbolizam, mais uma vez, o tema da salvação universal, que Jesus tem em mente.

    Meditatio
    Todos nós sentimos um forte desejo de felicidade. Foi Deus que pôs em nós esse desejo, para que O procurássemos. Por isso quer satisfazer-nos.
    Na liturgia de hoje, Deus promete-nos o fim das nossas penas e muita felicidade. De facto as leituras são uma ilustração coerente do rosto de Deus, que vem curar a humanidade ferida e satisfazer o nosso desejo de salvação. Desejamos essa salvação, mas só Deus no-Ia pode dar, iluminando os nossos corações ameaçados pelo não conhecimento d ' Ele e pelo desânimo. Reconhecemo-nos a nós mesmos no meio da multidão de pobres e doentes que se acotovelam ao redor de Jesus, pois n ' Ele descobrem Deus hóspede da humanidade, que cura os doentes e a todos oferece uma refeição, símbolo do banquete eterno para o qual vem convidar todos os homens. Por isso, todos nos sentimentos também convidados a proclamar o poder do Hóspede divino, que vence a dor e a morte, que prepara o banquete para todos os povos, e a contemplar o seu rosto. De facto, a misericórdia divina assume para nós os contornos do rosto e dos gestos de Jesus que cura os doentes e sacia as multidões famintas que O seguem. Na compaixão de Jesus, torna-se visível, para nós, o rosto de um Deus, médico que cura a nossa humanidade cansada e doente. Nele encontramos o divino e generoso Hóspede que nos acolhe à sua mesa e declara quanto somos importantes e preciosos aos seus olhos.
    Ao lermos este evangelho no Advento, podemos ver nele alguns símbolos da Incarnação. Jesus fez-se homem porque teve compaixão dos homens e lhes quis dar de comer. Para poder dar-nos a sua carne e o seu sangue, pediu a colaboração da Virgem Maria. Mais tarde pedirá aos Apóstolos para estarem disponíveis, isto é, para darem o que têm para que Ele possa multiplicar o pouco de que dispõem e responder aos grande problemas do mundo.
    O mesmo quer continuar a fazer nos nossos dias. Por isso nos mostra as necessidades do mundo de hoje, nos sensibiliza para elas e nos pergunta: «Quantos pães tendes?» Pede-nos para pormos à disposição de todos o pouco que temos, pede¬nos disponibilidade, para continuar a sua obra de salvação, de libertação.

    "A nossa união com Cristo" (Cst. 18), "no seu amor pelo Pai e pelos homens" (Cst. 17) manifesta-se, não só "na escuta da Palavra e na partilha do Pão" (Cst. 17), mas também "na disponibilidade e no amor para com todos" (Cst. 18).
    Foi na disponibilidade e no amor para com todos que o Pe. Dehon realizou a sua "solidariedade" afectiva e efectiva com Cristo. Daí o seu apostolado, caracterizado por uma extrema atenção aos homens, especialmente aos mais desprotegidos e pela solicitude em remediar activamente as insufici&ec
    irc;ncias pastorais da Igreja do seu tempo" (Cst. 5). Foi assim que realizou o "carisma profético" de oblato na "oblação reparadora de Cristo ao Pai pelos homens" (Cst. 6), fazendo de "toda a sua vida ... uma missa permanente' (Cst. 5), um dom para Deus e um dom para os homens.

    Oratio
    Senhor Jesus, queremos juntar-nos àqueles que, há dois mil anos, e ao longo dos séculos, procuraram em Ti a saúde, a consolação e o alimento que sacia para a vida eterna. Sara as nossas feridas do passado, os nossos males do presente e fortalece-nos para o futuro. Consola-nos com o teu amor, mata-nos a fome com o teu pão de cada dia, e com o Pão eucarístico. Sacia-nos com o teu Espírito.
    Aumenta em nós a feliz esperança, a tensão para o banquete da vida plena e definitiva que, com o Pai, preparas para todos os povos.
    Nós Te bendizemos pela tua compaixão para com os pobres e sofredores, aos
    quais revelas o amor misericordioso do Pai.
    Nós Te bendizemos pelo pão de cada dia, sinal da tua solicitude por nós. Nós Te bendizemos pelo Pão da Eucaristia, alimento das nossas almas.
    Aumenta em nós a caridade para que, na partilha e no serviço, possamos ser verdadeiras testemunhas do teu imenso coração de pastor, que cuida e apascenta as suas ovelhas.

    Contemplatio
    «A terceira virtude que é preciso honrar no Sagrado Coração, diz ainda o P.
    Cláudio de la Colornbíêre, é a sua compaixão muito sensível pelas nossas misérias, o seu amor imenso por nós apesar destas mesmas misérias, e, apesar destes movimentos e impressões, a sua igualdade inalterável causada por uma conformidade tão perfeita à vontade de Deus, que não podia ser perturbada por nenhum aconteci mente».
    Não foi na misericórdia do seu Coração que ele nos visitou: Per viscera misericordiae in qulbus visitavit nos (Lc 1, 78). Quando Jesus encontra doentes, mortos, o seu Coração não pode resistir às lágrimas daqueles que os envolvem. Emudecido de piedade, cura-os, dá-lhes a vida: misericordia motus(lc 7, 13).
    Vendo a multidão sem provisões para a sua refeição, tem compaixão dela: misereor super turbam (Lc 10, 33).
    «Este Coração está ainda, quanto isso ainda possa ser, nos mesmos sentimentos, observa o P. Cláudio de la Colombíere, está sempre ardente de amor pelos homens, sempre aberto para espalhar todas as espécies de graças e de bênçãos, sempre tocado pelos nossos males, sempre pressionado pelo desejo de nos dar a participar nos seus tesouros e a dar-se a si mesmo a nós, sempre disposto a nos receber, e a nos servir de asilo, de morada e de paraíso, desde esta vida».
    Mantendo-me unido ao Coração de Jesus e meditando nos seus mistérios, participarei cada vez mais nas suas virtudes (leão Dehon, OSP 3, p. 668s.).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: « Tenho compaixão desta gente» ele 15, 32).

  • 01ª Semana do Advento - Quinta-feira

    01ª Semana do Advento - Quinta-feira

    7 de Dezembro, 2023

    Tempo do Advento Primeira Semana - Quinta-feira

    Lectio
    Primeira leitura: Is. 26, 1-6

    1Naquele dia será cantado este cântico na terra de Judá: «Temos uma cidade forte. Para a defender, o Senhor ergueu muralhas e baluartes. 2Abri as portas, para que entre um povo justo, que cumpre com os seus compromissos, 3que tem carácter firme e conserva a paz, porque põe a sua confiança em Deus. 4Confiai sempre no Senhor, porque o Senhor é a rocha perene: 5abateu os habitante das alturas e a cidade soberba; humilhou-a, derrubou-a por terra, reduziu-a a pó. 6E1a é calcada pelos pés dos humildes, pelos pés dos pobres.»
    Isaías apresenta um hino de acção de graças pela ajuda do Senhor que faz de Jerusalém uma cidade forte, em oposição a Babilónia.
    O hino é entoado pelos habitantes da cidade, que precisa de ser reconstruída e de muros que lhe garantam a segurança. Mas esses muros podem tornar-se uma defesa do bem-estar próprio, uma barreira contra os humildes. Por isso, é que o profeta convida a abrir as portas da cidade, para que os seus habitantes não se fechem nas suas próprias seguranças, mas estejam abertos ao mundo. Assim, a cidade tomar-se-é refúgio para outros, chamados «povo justo. (v. 2). A expressão sugere que os habitantes da cidade não são justos, nem fiéis. Mas, abrindo-se aos outros, aos pobres, pode encontrar a salvação.

    Evangelho: Mt. 7, 21.24-27

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 21 *«Nem todo o que me diz: 'Senhor, Senhor' entrará no Reino do Céu, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está no Céu. 24*«Todo aquele que escuta estas minhas palavras e as põe em prática é como o homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha. 25Caiu a chuva, engrossaram os rios, sopraram os ventos contra aquela casa; mas não caiu, porque estava fundada sobre a rocha. 26Porém, todo aquele que escuta estas minhas palavras e não as põe em prática poderá comparar-se ao insensato que edificou a sua casa sobre a areia. 27Caiu a chuva, engrossaram os rios, sopraram os ventos contra aquela casa; ela desmoronou-se, e grande foi a sua ruína.»
    As imagens antitéticas do homem prudente e do insensato, e o diferente resultado do modo de agir de um e de outro correspondem às fórmulas da aliança de Deus com Israel que se concluem com as bênçãos e com as maldições. Tais bênçãos e maldições dependem da consistência do agir humano e do fundamento sobre que se apoiam. É certamente mais custoso construir sobre a rocha (v. 24) do que construir sobre a areia. Mas, a casa construída sobre a rocha é sólida e resiste aos temporais e às enxurradas, enquanto a que é construída sobre a areia facilmente se desmorona e
    cai em ruínas. A qualidade do fundamento é, pois, decisiva. A Palavra é o fundamento imperecível para apoiar as nossas obras e a nossa vida. Não são as emoções fáceis resultantes de milagres ou de manifestações espectaculares que dão fundamento seguro à nossa vida e à nossa realização pessoal, mas a obediência filial à vontade de Deus: «Nem todo o que me diz: 'Senhor, Senhor' entrará no Reino do Céu, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está no CéLP> (v. 21).

    Meditatio
    o Advento é tempo de viver mais intensamente a esperança e de crescer na confiança, porque Deus prometeu e vem efectivamente salvar-nos. «Temos uma cidade forte ... o Senhor protege-nos, constrói para nós a paz ... é preciso pôr a nossa confiança no Senhor, porque Ele é a rocha segura ... É melhor refugiar-se no Senhor do que confiar no homem ... Abri-me as portas da justiça: quero entrar e dar graças ao Senhor». Estes são alguns dos gritos de confiança, que escutamos durante o advento, que nos dão coragem e criam à nossa volta uma atmosfera de tranquilidade e de segurança.
    O evangelho diz-nos qual é o verdadeiro fundamento do discipulado e da nossa confiança. Não são as coisas extraordinárias - os exorcismos, as curas, os milagres - mas na Palavra devidamente escutada e posta em prática. Não é suficiente dizer «Senhor; Senhor» para ser verdadeiro discípulo. É preciso obedecer à Palavra do Senhor encarnada na vida. Também não posso fundamentar a minha vida no excepcional. no aparente ou na vaidade das minhas realizações efémeras. Com isso só mascaro a inconsistência da minha vida, esquecendo-me de que, mesmo os mais pequenos gestos de bem, que eu possa realizar, são dom da graça, que exigem humildade e reconhecimento. E, se repentinamente me vejo confrontado com a minha fragilidade, deixo-me tomar pelo terror e pelo desespero, como quando cai uma casa, porque verifico que não tenho morada na «cidade torte-, habitada exclusivamente por «um povo justo, que cumpre com os seus compromissos» e fundamenta a sua existência no Senhor, rocha eterna.
    Diferente será a minha sorte, se apoiar a minha vida na Palavra do Senhor. Ela será para mim solidez e protecção. Talvez até possa esquecer as minhas boas obras, afastando-me de qualquer forma de auto complacência. Então, hei-de experimentar o que escreve o livro do Apocalipse: «Depois, ouvi uma voz que vinha do céu e me dizia:
    Descansem dos seus trabalhos, pois as suas obras os acompanham» (cf. Apoc 14, 13). Quem se gloria unicamente na bondade do Senhor, vê abrirem-se-lhe as portas da «cidade torte-. E poderá entrar no Reino do Filho muito amado do Pai.
    O Advento é tempo de Maria. Ela é, para nós, modelo de esperança e de confiança em Deus. Ela ensina-nos a fundamentar a nossa vida na Palavra. A nossa preparação para o Natal deve acontecer em união com Maria. Escreve João Paulo II:
    "Maria apareceu cheia de Cristo no horizonte da história da salvação" (RM 3). "Na noite da espera, Maria é a estrela da manhã", é "a aurora" que anuncia o dia, o surgir do sol. Maria é espera cheia de esperança e amorosa confiança. É Ela que nos traz Jesus, a Palavra, o Verbo de Deus feito carne, sobre o Qual havemos de fundamentar a nossa vida: "Quem ouve as minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha ... " (Mt 7, 24). "Rocha", "Rochedo" são imagens típicas de Deus que exprimem solidez, segurança: "Deus é a rocha da minha defesa ... " (SI 62(61), 3): "Vós sois, meu Deus, a rocha da minha salvação ... " (SI 89(88), 27).

    Oratio
    Ó Maria, Senhora da esperança, Senhora do Advento, ensina-me a acolher Jesus, a Palavra feita carne. Ajuda-me a fundamentar n ' Ele a minha vida e as minhas obras, para que sejam consistentes e seguras perante as investidas do naturalismo, do materialismo, do hedonismo e da sensualidade. Que o teu exemplo seja luz para os meus caminhos. Que eu jamais construa sobre as areias
    movediças de projectos que não tenham em conta o projecto do Pai. Que, como Tu, saiba pôr de parte os meus projectos para generosamente entrar nos projectos de Deus. Que jamais me deixe iludir por palavras que não levem à obediência amorosa e alegre à vontade do Pai.
    Senhora do Advento, apresenta ao Pai o meu coração arrependido e humilhado por tantas vezes ter querido mais aparecer do que ser. Com a tua ajuda, quero tornar¬me membro vivo do povo do Senhor e caminhar na humildade e na justiça, para encontrar morada na cidade santa de Deus. Amen.

    Contemplatio
    Nosso Senhor não escolheu para seus apóstolos senão homens simples, pobres na sua maior parte, se bem que alguns fossem de estirpe real, mas cheios de boa vontade e de amor pelo seu Mestre.
    Mais tarde, chamará os ricos e os sábios; encontrará grandes e nobres em Roma, em Atenas, em Constantinopla; encontrará homens de ciência e de eloquência, como os Agostinhos, os Crisóstomos, os Tomás de Aquino; encontrará homens cujas obras poderão levantar o esplendor do seu nome e do seu culto; mas, no princípio, Ele não quer senão homens simples e de condição modesta. Se Ele tivesse chamado primeiro ricos e sábios, estes teriam julgado trazer a Nosso Senhor alguma coisa de grande, teriam querido agir pelas suas próprias forças, e, fiando-se da sua riqueza e da sua ciência, teriam construído a meias sobre a areia, em vez de construir unicamente sobre o fundamento do Coração de Jesus.
    Não tenhamos medo de admitir nas nossas escolas apostólicas crianças simples e pobres, desde que tenham coração, isto é, boa vontade e amor.
    Admiremos também a bondade incomparável de Nosso Senhor pelos seus apóstolos. Que admirável paciência para os suportar! Que doçura! Que ternura! Abraça-os, chama-os amigos, seus filhos, eles tão imperfeitos! Vai mesmo ao ponto de os louvar. Esquece-se por eles. Assim devem fazer os apóstolos do Sagrado Coração pelos seus discípulos. Que eles amem como o Sagrado Coração e como o apóstolo do Sagrado Coração! (Leão Dehon, OSP 2, p. 256s.)

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Quem escuta estas minhas palavras e as põe em prática
    é como o homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha »( cf. Mt 7,
    24).

  • Solenidade da Imaculada Conceição - Ano B

    Solenidade da Imaculada Conceição - Ano B

    8 de Dezembro, 2023

    Solenidade da Imaculada Conceição - Ano B

    ANO B

    SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO DA VIRGEM SANTA MARIA

    Tema da Solenidade da Imaculada Conceição

    Na Solenidade da Imaculada Conceição somos convidados a equacionar o tipo de resposta que damos aos desafios de Deus. Ao propor-nos o exemplo de Maria de Nazaré, a liturgia convida-nos a acolher, com um coração aberto e disponível, os planos de Deus para nós e para o mundo.
    A segunda leitura garante-nos que Deus tem um projecto de vida plena, verdadeira e total para cada homem e para cada mulher - um projecto que desde sempre esteve na mente do próprio Deus. Esse projecto, apresentado aos homens através de Jesus Cristo, exige de cada um de nós uma resposta decidida, total e sem subterfúgios.
    A primeira leitura mostra (recorrendo à história mítica de Adão e Eva) o que acontece quando rejeitamos as propostas de Deus e preferimos caminhos de egoísmo, de orgulho e de auto-suficiência... Viver à margem de Deus leva, inevitavelmente, a trilhar caminhos de sofrimento, de destruição, de infelicidade e de morte.
    O Evangelho apresenta a resposta de Maria ao plano de Deus. Ao contrário de Adão e Eva, Maria rejeitou o orgulho, o egoísmo e a auto-suficiência e preferiu conformar a sua vida, de forma total e radical, com os planos de Deus. Do seu "sim" total, resultou salvação e vida plena para ela e para o mundo.

    LEITURA I - Gen 3,9-15.20

    Leitura do Livro do Génesis
    Depois de Adão ter comido da árvore,
    o Senhor Deus chamou-o e disse-lhe: «Onde estás?»
    Ele respondeu:
    «Ouvi o rumor dos vossos passos no jardim
    e, como estava nu, tive medo e escondi-me».
    Disse Deus:
    «Quem te deu a conhecer que estavas nu?
    Terias tu comido dessa árvore, da qual te proibira comer?»
    Adão respondeu:
    «A mulher que me destes por companheira
    deu-me do fruto da árvore e eu comi».
    O Senhor Deus perguntou à mulher:
    «Que fizeste?»
    E a mulher respondeu:
    «A serpente enganou-me e eu comi».
    Disse então o Senhor à serpente:
    «Por teres feito semelhante coisa,
    maldita sejas entre todos os animais domésticos
    e entre todos os animais selvagens.
    Hás-de rastejar e comer do pó da terra
    todos os dias da tua vida.
    Estabelecerei inimizade entre ti e a mulher,
    entre a tua descendência e a descendência dela.
    Esta te esmagará a cabeça
    e tu a atingirás no calcanhar».
    O homem deu à mulher o nome de 'Eva',
    porque ela foi a mãe de todos os viventes.

    AMBIENTE
    O relato jahwista de Gn 2,4b-3,24 sobre as origens da vida e do pecado (ao qual pertence o texto que hoje nos é proposto como primeira leitura) é, de acordo com a maioria dos comentadores, um texto do séc. X a.C., que deve ter aparecido em Judá na época do rei Salomão. Apresenta-se num estilo exuberante e vivo e parece ser obra de um catequista popular, que ensina recorrendo a imagens sugestivas, coloridas e fortes.
    Não podemos, de forma nenhuma, ver neste texto uma reportagem jornalística de acontecimentos passados na aurora da humanidade. A finalidade do autor não é científica ou histórica, mas teológica: mais do que ensinar como o mundo e o homem apareceram, ele quer dizer-nos que na origem da vida e do homem está Jahwéh e que na origem do mal e do pecado estão as opções erradas do homem. Trata-se, portanto, de uma página de catequese.
    Esta longa reflexão sobre as origens da vida e do mal que desfeia o mundo está estruturada num esquema tripartido, com duas situações claramente opostas e uma realidade central que aparece como charneira e ao redor da qual giram a primeira e a terceira parte... Na primeira parte (cf. Gn 2,4b-25), o autor descreve a criação do paraíso e do homem; apresenta a criação de Deus como um espaço ideal de felicidade, onde tudo é bom e o homem vive em comunhão total com o criador e com as outras criaturas. Na segunda parte (cf. Gn 3,1-7), o autor descreve o pecado do homem e da mulher; mostra como as opções erradas do homem introduziram na comunhão do homem com Deus e com o resto da criação factores de desequilíbrio e de morte. Na terceira parte (cf. Gn 3,8-24), o autor apresenta o homem e a mulher confrontados com o resultado das suas opções erradas e as consequências que daí advieram, quer para o homem, quer para o resto da criação.
    Na perspectiva do catequista jahwista, Deus criou o homem para a felicidade... Então, pergunta Ele: como é que hoje conhecemos o egoísmo, a injustiça, a violência que desfeiam o mundo? A resposta é: algures na história humana, o homem que Deus criou livre e feliz fez escolhas erradas e introduziu na criação boa de Deus dinamismos de sofrimento e de morte.
    O nosso texto pertence à terceira parte do tríptico. As personagens intervenientes são Deus (que "passeia no jardim à brisa do dia" - vers. 8a), Adão e Eva (que se esconderam de Deus por entre o arvoredo do jardim - vers. 8b).

    MENSAGEM

    A nossa leitura começa com a "investigação" de Deus... Antes de proferir a sua acusação, Deus - o acusador e juiz - investiga, descobre e estabelece os factos.
    Primeira pergunta feita por Deus ao homem: "onde estás?" A resposta do homem é já uma confissão da sua culpabilidade: "ouvi o rumor dos vossos passos no jardim e, como estava nu, tive medo e escondi-me" (vers. 9-10). A vergonha e o medo são sinal de uma perturbação interior, de uma ruptura com a anterior situação de inocência, de harmonia, de serenidade e de paz. Como é que o homem chegou a esta situação? Evidentemente, desobedecendo a Deus e percorrendo caminhos contrários àqueles que Deus lhe havia proposto. A resposta do homem trai, portanto, o seu segredo e a sua culpa.
    Depois desta constatação, a segunda pergunta feita por Deus ao homem é meramente retórica: "terias tu comido dessa árvore, da qual te proibira de comer?" (vers. 11). A árvore em causa - a "árvore do conhecimento do bem e do mal" - significa o orgulho, a auto-suficiência, o prescindir de Deus e das suas propostas, o querer decidir por si só o que é bem e o que é mal, o pôr-se a si próprio em lugar de Deus, o reivindicar autonomia total em relação ao criador. A situação do homem, perturbado e em ruptura, é já uma resposta clara à pergunta de Deus... É evidente que o homem "comeu da árvore proibida" - isto é, escolheu um caminho de orgulho e de auto-suficiência em relação a Deus. Daí a vergonha e o medo.
    Ao defender-se, o homem acusa a mulher e, ao mesmo tempo, acusa veladamente o próprio Deus pela situação em que está ("a mulher que me deste por companheira deu-me do fruto da árvore e eu comi" - vers. 12). Adão representa essa humanidade que, mergulhada no egoísmo e na auto-suficiência, esqueceu os dons de Deus e vê em Deus um adversário; por outro lado, a resposta de Adão mostra, igualmente, uma humanidade que quebrou a sua unidade e se instalou na cobardia, na falta de solidariedade, no ódio. Escolher caminhos contrários aos de Deus não pode senão conduzir a uma vida de ruptura com Deus e com os outros irmãos.
    Vem, depois, a "defesa" da mulher: "a serpente enganou-me e eu comi" (vers. 13). Entre os povos cananeus, a serpente estava ligada aos rituais de fertilidade e de fecundidade. Os israelitas deixavam-se fascinar por esses cultos e, com frequência, abandonavam Jahwéh para seguir os rituais religiosos dos cananeus e assegurar, assim, a fecundidade dos campos e dos rebanhos. Na época em que o autor jahwista escreve, a serpente era, pois, o "fruto proibido", que seduzia os crentes e os levava a abandonar a Lei de Deus. A "serpente" é, neste contexto, um símbolo literário de tudo aquilo que afastava os israelitas de Jahwéh. A resposta da "mulher" confirma tudo aquilo que até agora estava sugerido: é verdade, a humanidade que Deus criou prescindiu de Deus, ignorou as suas propostas e enveredou por outros caminhos. Achou, no seu egoísmo e auto-suficiência, que podia encontrar a verdadeira vida à margem de Deus, prescindindo das propostas de Deus.
    Diante disto, não são precisas mais perguntas. Está claramente definida a culpa de uma humanidade que pensou poder ser feliz em caminhos de egoísmo e de auto-suficiência, totalmente à margem dos caminhos que foram propostos por Deus.
    Que tem Deus a acrescentar? Pouco mais, a não ser condenar como falsos e enganosos esses cultos e essas tentações que seduziam os israelitas e os colocavam fora da dinâmica da Aliança e dos mandamentos (vers. 14-15). O nosso catequista jahwista sabe que a serpente é um animal miserável, que passa toda a sua existência mordendo o pó da terra. O autor vai servir-se deste dado para pintar, plasticamente, a condenação radical de tudo aquilo que leva os homens a afastar-se dos caminhos de Deus e a enveredar por caminhos de egoísmo e de auto-suficiência.
    O que é que significa a inimizade e a luta entre a "descendência" da mulher e a "descendência" da serpente? Provavelmente, o autor jahwista está, apenas, a dar uma explicação etiológica (uma "etiologia" é uma tentativa de explicar o porquê de uma determinada realidade que o autor conhece no seu tempo, a partir de um pretenso acontecimento primordial, que seria o responsável pela situação actual) para o facto de a serpente inspirar horror aos humanos e de toda a gente lhe procurar "esmagar a cabeça"; mas a interpretação judaica e cristã viu nestas palavras uma profecia messiânica: Deus anuncia que um "filho da mulher" (o Messias) acabará com as consequências do pecado e inserirá a humanidade numa dinâmica de graça.
    Atenção: o autor sagrado não está a falar de um pecado cometido nos primórdios da humanidade pelo primeiro homem e pela primeira mulher; mas está a falar do pecado cometido por todos os homens e mulheres de todos os tempos... Ele está apenas a ensinar que a raiz de todos os males está no facto de o homem prescindir de Deus e construir o mundo a partir de critérios de egoísmo e de auto-suficiência. Não conhecemos bem este quadro?

    ACTUALIZAÇÃO

    • Um dos mistérios que mais questiona os nossos contemporâneos é o mistério do mal... Esse mal que vemos, todos os dias, tornar sombria e deprimente essa "casa" que é o mundo, vem de Deus, ou vem do homem? A Palavra de Deus responde: o mal nunca vem de Deus... Deus criou-nos para a vida e para a felicidade e deu-nos todas as condições para imprimirmos à nossa existência uma dinâmica de vida, de felicidade, de realização plena.
    • O mal resulta das nossas escolhas erradas, do nosso orgulho, do nosso egoísmo e auto-suficiência. Quando o homem escolhe viver orgulhosamente só, ignorando as propostas de Deus e prescindindo do amor, constrói cidades de egoísmo, de injustiça, de prepotência, de sofrimento, de pecado... Quais os caminhos que eu escolho? As propostas de Deus fazem sentido e são, para mim, indicações seguras para a felicidade, ou prefiro ser eu próprio a fazer as minhas escolhas, à margem das propostas de Deus?
    • O nosso texto deixa também claro que prescindir de Deus e caminhar longe d'Ele, leva o homem ao confronto e à hostilidade com os outros homens e mulheres. Nasce, então, a injustiça, a exploração, a violência. Os outros homens e mulheres deixam de ser irmãos, para passarem a ser ameaças ao próprio bem-estar, à própria segurança, aos próprios interesses. Como é que eu me situo face aos meus irmãos? Como é que eu me relaciono com aqueles que são diferentes, que invadem o meu espaço e interesses, que me questionam e interpelam?
    • O nosso texto ensina, ainda, que prescindir de Deus e dos seus caminhos significa construir uma história de inimizade com o resto da criação. A natureza deixa de ser, então, a casa comum que Deus ofereceu a todos os homens como espaço de vida e de felicidade, para se tornar algo que eu uso e exploro em meu proveito próprio, sem considerar a sua dignidade, beleza e grandeza. O que é que a criação de Deus significa para mim: algo que eu posso explorar de forma egoísta, ou algo que Deus ofereceu a todos os homens e mulheres e que eu devo respeitar e guardar com amor?

     

    SALMO RESPONSORIAL - Salmo 97 (98)

    Refrão: Cantai ao Senhor um cântico novo:
    o Senhor fez maravilhas.
    Cantai ao Senhor um cântico novo,
    pelas maravilhas que Ele operou.
    A sua mão e o seu santo braço
    Lhe deram a vitória.
    O Senhor deu a conhecer a salvação
    revelou aos olhos das nações a sua justiça.
    Recordou-Se da sua bondade e fidelidade
    em favor da casa de Israel.
    Os confins da terra puderam ver
    a salvação do nosso Deus.
    Aclamai o Senhor, terra inteira,
    exultai de alegria e cantai.

     

    LEITURA II - Ef 1,3-6.11-12

    Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios
    Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo,
    que do alto dos Céus nos abençoou
    com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo.
    N'Ele nos escolheu, antes da criação do mundo,
    para sermos santos e irrepreensíveis,
    em caridade, na sua presença.
    Ele nos predestinou, conforme a benevolência da sua vontade,
    a fim de sermos seus filhos adoptivos, por Jesus Cristo,
    para louvor da sua glória
    e da graça que derramou sobre nós, por seu amado Filho.
    Em Cristo fomos constituídos herdeiros,
    por termos sido predestinados,
    segundo os desígnios d'Aquele que tudo realiza
    conforme a decisão da sua vontade,
    para sermos um hino de louvor da sua glória,
    nós que desde o começo esperámos em Cristo.

    AMBIENTE

    A cidade de Éfeso, capital da Província romana da Ásia, estava situada na costa ocidental da Ásia Menor. O seu importante porto e a sua numerosa população faziam dela uma cidade florescente. Paulo passou em Éfeso na sua segunda viagem missionária (cf. Act 18,19-21) e, durante a sua terceira viagem missionária, fez de Éfeso o quartel-general, a partir do qual evangelizou toda a zona ocidental da Ásia Menor.
    A nossa Carta aos Efésios é, provavelmente, um dos exemplares de uma "carta circular" enviada a várias igrejas da Ásia Menor, numa altura em que Paulo está na prisão (em Roma?). O seu portador é um tal Tíquico. Estamos por volta dos anos 58/60.
    Alguns vêem nesta carta uma espécie de síntese da teologia paulina, numa altura em que a missão do apóstolo está praticamente terminada no oriente. O tema mais importante da carta aos Efésios é aquilo que o autor chama "o mistério": trata-se do projecto salvador de Deus, definido e elaborado desde sempre, escondido durante séculos, revelado e concretizado plenamente em Jesus, comunicado aos apóstolos e, nos "últimos tempos", tornado presente no mundo pela Igreja.
    O texto que nos é hoje proposto aparece no início da carta. É parte de um hino litúrgico que deve ter circulado nas comunidades cristãs antes de ser enxertado aqui por Paulo. Este hino dá graças pela acção do Pai (cf. Ef 1,3-6), do Filho (cf. Ef 1,7-12) e do Espírito Santo (cf. Ef 1,13-14), no sentido de oferecer aos homens a salvação.

    MENSAGEM

    A acção de graças dirige-se a Deus, pois Ele é a fonte última de todas as graças concedidas aos homens. Essas graças atingiram os homens através do Filho, Jesus Cristo.
    Qual é então, segundo este hino, a acção do Pai?
    O Pai, no seu amor, elegeu-nos desde sempre ("antes da criação do mundo"). Elegeu-nos para quê? A resposta é: "para sermos santos e irrepreensíveis". A palavra "santo" indica a situação de alguém que foi separado do mundo e consagrado a Deus, para o serviço de Deus; a palavra "irrepreensível" era usada para falar das vítimas oferecidas em sacrifício a Deus, que deviam ser imaculadas e sem defeito... Significa, pois, uma santidade (isto é, uma consagração a Deus) verdadeira e radical.
    Além de nos eleger, o Pai predestinou-nos "para sermos seus filhos adoptivos". Através de Cristo, o Pai ofereceu-nos a sua vida e integrou-nos na sua família na qualidade de filhos. O fim desta acção de Deus é o louvor da sua glória.
    "Eleição" e "adopção como filhos" resultam do imenso amor de Deus pelos homens - um amor que é gratuito, incondicional e radical.
    E Jesus Cristo, o Filho, que papel teve neste processo?
    Nos vers. 7-10 (que, no entanto, a liturgia deste dia não conservou), o autor do hino refere-se ao sangue derramado de Cristo e ao seu significado redentor. A morte de Jesus na cruz é o sinal evidente do espantoso amor de Deus pelos homens; e dessa forma, Deus ensinou-nos a viver no amor, no amor total e radical. Através de Cristo, Deus derramou sobre nós a sua graça, tornando-nos pessoas novas e diferentes, capazes de viver no amor. Assim, Deus manifestou-nos o seu projecto de salvação (que o hino chama "o mistério") e que consiste em levar-nos a uma identificação plena com Jesus (na sua ilimitada capacidade de amar e de dar vida), a uma unidade e harmonia totais com Jesus. Identificando-nos com Cristo e ensinando-nos a viver no amor total e radical, Deus reconciliou-nos consigo, com todos os outros e com a própria natureza. Da acção redentora de Cristo nasceu, pois, um Homem Novo, capaz de um novo tipo de relacionamento (não marcado pelo egoísmo, pelo orgulho, pela auto-suficiência, mas marcado pelo amor e pelo dom da vida) com Deus, com os outros homens e mulheres e com toda a criação.
    Dessa forma (e voltamos agora a retomar o texto que a liturgia deste dia nos propõe), em Cristo fomos constituídos filhos de Deus e herdeiros da salvação, conforme o projecto de Deus preparado desde toda a eternidade em nosso favor (vers. 11-12).

     

    ACTUALIZAÇÃO

    • O nosso texto afirma, de forma clara, que Deus tem um projecto de vida plena e total para os homens, um projecto que desde sempre esteve na mente de Deus. É muito importante termos isto em conta: não somos um acidente de percurso na evolução inexorável do cosmos, mas somos actores principais de uma história de amor que o nosso Deus sempre sonhou e que Ele quis escrever e viver connosco... No meio das nossas desilusões e dos nossos sofrimentos, da nossa finitude e do nosso pecado, dos nossos medos e dos nossos dramas, não esqueçamos que somos filhos amados de Deus, a quem Ele oferece continuamente a vida definitiva, a verdadeira felicidade.
    • De acordo com o nosso texto, Deus "elegeu-nos... para sermos santos e irrepreensíveis". Já vimos que "ser santo" significa ser consagrado para o serviço de Deus. O que é que isto implica em termos concretos? Entre outras coisas, implica tentar descobrir o plano de Deus, o projecto que Ele tem para cada um de nós e concretizá-lo dia a dia com verdade, fidelidade e radicalidade. No meio das solicitações do mundo e das exigências da nossa vida profissional, social e familiar, temos tempo para Deus, para dialogar com Ele e para tentar perceber os seus projectos e propostas? E temos disponibilidade e vontade de concretizar as suas propostas, mesmo quando elas não são conciliáveis com os nossos interesses pessoais?
    • O nosso texto afirma, ainda, a centralidade de Cristo nesta história de amor que Deus quis viver connosco... Jesus veio ao nosso encontro, cumprindo com radicalidade a vontade do Pai e oferecendo-Se até à morte para nos ensinar a viver no amor. Como é que assumimos e vivemos essa proposta de amor que Jesus nos apresentou? Aprendemos com Ele a amar sem excepção e com radicalidade?

     

    ALELUIA - cf. Lc 1,28

    Aleluia. Aleluia.
    Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco,
    bendita sois Vós entre as mulheres.

     

    EVANGELHO - Lc 1,26-38

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

    Naquele tempo,
    o Anjo Gabriel foi enviado por Deus
    a uma cidade da Galileia chamada Nazaré,
    a uma Virgem desposada com um homem chamado José.
    O nome da Virgem era Maria.
    Tendo entrado onde ela estava, disse o anjo:
    «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo».
    Ela ficou perturbada com estas palavras
    e pensava que saudação seria aquela.
    Disse-lhe o Anjo:
    «Não temas, Maria,
    porque encontraste graça diante de Deus.
    Conceberás e darás à luz um Filho,
    a quem porás o nome de Jesus.
    Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo.
    O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David;
    reinará eternamente sobre a casa de Jacob
    e o seu reinado não terá fim».
    Maria disse ao Anjo:
    «Como será isto, se eu não conheço homem?»
    O Anjo respondeu-lhe:
    «O Espírito Santo virá sobre ti
    e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra.
    Por isso, o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus.
    E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice
    e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril;
    porque a Deus nada é impossível».
    Maria disse então:
    «Eis a escrava do Senhor;
    faça-se em mim segundo a tua palavra».

     

    AMBIENTE

    O texto que nos é hoje proposto pertence ao "Evangelho da Infância" na versão de Lucas. De acordo com os biblistas actuais, os textos do "Evangelho da Infância" pertencem a um género literário especial, chamado homologese. Este género não pretende ser um relato jornalístico e histórico de acontecimentos; mas é, sobretudo, uma catequese destinada a proclamar certas realidades salvíficas (que Jesus é o Messias, que Ele vem de Deus, que Ele é o "Deus connosco"). Desenvolve-se em forma de narração e recorre às técnicas do midrash haggádico (uma técnica de leitura e de interpretação do texto sagrado usada pelos rabbis judeus da época de Jesus). A homologese utiliza e mistura tipologias (factos e pessoas do Antigo Testamento, encontram a sua correspondência em factos e pessoas do Novo Testamento) e aparições apocalípticas (anjos, aparições, sonhos) para fazer avançar a narração e para explicitar determinada catequese sobre Jesus. O Evangelho que nos é hoje proposto deve ser entendido a esta luz: não interessa, pois, estar aqui à procura de factos históricos; interessa, sobretudo, perceber o que é que a catequese cristã primitiva nos ensina, através destas narrações, sobre Jesus.
    A cena situa-nos numa aldeia da Galileia, chamada Nazaré. A Galileia, região a norte da Palestina, à volta do Lago de Tiberíades, era considerada pelos judeus uma terra longínqua e estranha, em permanente contacto com as populações pagãs e onde se praticava uma religião heterodoxa, influenciada pelos costumes e pelas tradições pagãs. Daí a convicção dos mestres judeus de Jerusalém de que "da Galileia não pode vir nada de bom". Quanto a Nazaré, era uma aldeia pobre e ignorada, nunca nomeada na história religiosa judaica e, portanto (de acordo com a mentalidade judaica), completamente à margem dos caminhos de Deus e da salvação.
    Maria, a jovem de Nazaré que está no centro deste episódio, era "uma virgem desposada com um homem chamado José". O casamento hebraico considerava o compromisso matrimonial em duas etapas: havia uma primeira fase, na qual os noivos se prometiam um ao outro (os "esponsais"); só numa segunda fase surgia o compromisso definitivo (as cerimónias do matrimónio propriamente dito)... Entre os "esponsais" e o rito do matrimónio, passava um tempo mais ou menos longo, durante o qual qualquer uma das partes podia voltar atrás, ainda que sofrendo uma penalidade. Durante os "esponsais", os noivos não viviam em comum; mas o compromisso que os dois assumiam tinha já um carácter estável, de tal forma que, se surgia um filho, este era considerado filho legítimo de ambos. A Lei de Moisés considerava a infidelidade da "prometida" como uma ofensa semelhante à infidelidade da esposa (cf. Dt 22,23-27)... E a união entre os dois "prometidos" só podia dissolver-se com a fórmula jurídica do divórcio. José e Maria estavam, portanto, na situação de "prometidos": ainda não tinham celebrado o matrimónio, mas já tinham celebrado os "esponsais".

     

    MENSAGEM

    Depois da apresentação do "ambiente" do quadro, Lucas apresenta o diálogo entre Maria e o anjo.
    A conversa começa com a saudação do anjo. Na boca deste, são colocados termos e expressões com ressonância vétero-testamentária, ligados a contextos de eleição, de vocação e de missão. Assim, o termo "ave" (em grego, "kaire") com que o anjo se dirige a Maria é mais do que uma saudação: é o eco dos anúncios de salvação à "filha de Sião" - uma figura fraca e delicada que personifica o Povo de Israel, em cuja fraqueza se apresenta e representa essa salvação oferecida por Deus e que Israel deve testemunhar diante dos outros povos (cf. 2 Re 19,21-28; Is 1,8;12,6; Jer 4,31; Sof 3,14-17). A expressão "cheia de graça" significa que Maria é objecto da predilecção e do amor de Deus. A outra expressão "o Senhor está contigo" é uma expressão que aparece com frequência ligada aos relatos de vocação no Antigo Testamento (cf. Ex 3,12 - vocação de Moisés; Jz 6,12 - vocação de Gedeão; Jer 1,8.19 - vocação de Jeremias) e que serve para assegurar ao "chamado" a assistência de Deus na missão que lhe é pedida. Estamos, portanto, diante do "relato de vocação" de Maria: a visita do anjo destina-se a apresentar à jovem de Nazaré uma proposta de Deus. Essa proposta vai exigir uma resposta clara de Maria.
    Qual é, então, o papel proposto a Maria no projecto de Deus?
    A Maria, Deus propõe que aceite ser a mãe de um "filho" especial... Desse "filho" diz-se, em primeiro lugar, que Ele se chamará "Jesus". O nome significa "Deus salva". Além disso, esse "filho" é apresentado pelo anjo como o "Filho do Altíssimo", que herdará "o trono de seu pai David" e cujo reinado "não terá fim". As palavras do anjo levam-nos a 2 Sm 7 e à promessa feita por Deus ao rei David através das palavras do profeta Nathan. Esse "filho" é descrito nos mesmos termos em que a teologia de Israel descrevia o "messias" libertador. O que é proposto a Maria é, pois, que ela aceite ser a mãe desse "messias" que Israel esperava, o libertador enviado por Deus ao seu Povo para lhe oferecer a vida e a salvação definitivas.
    Como é que Maria responde ao projecto de Deus?
    A resposta de Maria começa com uma objecção... A objecção faz sempre parte dos relatos de vocação do Antigo Testamento (cf. Ex 3,11; 6,30; Is 6,5; Jer 1,6). É uma reacção natural de um "chamado", assustado com a perspectiva do compromisso com algo que o ultrapassa; mas é, sobretudo, uma forma de mostrar a grandeza e o poder de Deus que, apesar da fragilidade e das limitações dos "chamados", faz deles instrumentos da sua salvação no meio dos homens e do mundo.
    Diante da "objecção", o anjo garante a Maria que o Espírito Santo virá sobre ela e a cobrirá com a sua sombra. Este Espírito é o mesmo que foi derramado sobre os juízes (Oteniel - cf. Jz 3,10; Gedeão - cf. Jz 6,34; Jefté - cf. Jz 11,29; Sansão - cf. Jz 14,6), sobre os reis (Saul - cf. 1 Sm 11,6; David - cf. 1 Sm 16,13), sobre os profetas (cf. Maria, a profetisa irmã de Aarão - cf. Ex 15,20; os anciãos de Israel - cf. Nm 11,25-26; Ezequiel - cf. Ez 2,1; 3,12; o Trito-Isaías - cf. Is 61,1), a fim de que eles pudessem ser uma presença eficaz da salvação de Deus no meio do mundo. A "sombra" ou "nuvem" leva-nos também à "coluna de nuvem" (cf. Ex 13,21) que acompanhava a caminhada do Povo de Deus em marcha pelo deserto, indicando o caminho para a Terra Prometida da liberdade e da vida nova. A questão é a seguinte: apesar da fragilidade de Maria, Deus vai, através dela, fazer-Se presente no mundo para oferecer a salvação a todos os homens.
    O relato termina com a resposta final de Maria: "eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra". Afirmar-se como "serva" significa, mais do que humildade, reconhecer que se é um eleito de Deus e aceitar essa eleição, com tudo o que ela implica - pois, no Antigo Testamento, ser "servo do Senhor" é um título de glória, reservado àqueles que Deus escolheu, que Ele reservou para o seu serviço e que Ele enviou ao mundo com uma missão (essa designação aparece, por exemplo, no Deutero-Isaías - cf. Is 42,1; 49,3; 50,10; 52,13; 53,2.11 - em referência à figura enigmática do "servo de Jahwéh"). Desta forma, Maria reconhece que Deus a escolheu, aceita com disponibilidade essa escolha e manifesta a sua disposição de cumprir, com fidelidade, o projecto de Deus.

     

    ACTUALIZAÇÃO

    • A liturgia deste dia afirma, de forma clara e insofismável, que Deus ama os homens e tem um projecto de vida plena para lhes oferecer. Como é que esse Deus cheio de amor pelos seus filhos intervém na história humana e concretiza, dia a dia, essa oferta de salvação? A história de Maria de Nazaré (bem como a de tantos outros "chamados") responde, de forma clara, a esta questão: é através de homens e mulheres atentos aos projectos de Deus e de coração disponível para o serviço dos irmãos que Deus actua no mundo, que Ele manifesta aos homens o seu amor, que Ele convida cada pessoa a percorrer os caminhos da felicidade e da realização plena. Já pensámos que é através dos nossos gestos de amor, de partilha e de serviço que Deus Se torna presente no mundo e transforma o mundo?
    • Outra questão é a dos instrumentos de que Deus Se serve para realizar os seus planos... Maria era uma jovem mulher de uma aldeia obscura dessa "Galileia dos pagãos" de onde não podia "vir nada de bom". Não consta que tivesse uma significativa preparação intelectual, extraordinários conhecimentos teológicos, ou amigos poderosos nos círculos de poder e de influência da Palestina de então... Apesar disso, foi escolhida por Deus para desempenhar um papel primordial na etapa mais significativa na história da salvação. A história vocacional de Maria deixa claro que, na perspectiva de Deus, não são o poder, a riqueza, a importância ou a visibilidade social que determinam a capacidade para levar a cabo uma missão. Deus age através de homens e mulheres, independentemente das suas qualidades humanas. O que é decisivo é a disponibilidade e o amor com que se acolhem e testemunham as propostas de Deus.
    • Diante dos apelos de Deus ao compromisso, qual deve ser a resposta do homem? É aí que somos colocados diante do exemplo de Maria... Confrontada com os planos de Deus, Maria responde com um "sim" total e incondicional. Naturalmente, ela tinha o seu programa de vida e os seus projectos pessoais; mas, diante do apelo de Deus, esses projectos pessoais passaram naturalmente e sem dramas a um plano secundário. Na atitude de Maria não há qualquer sinal de egoísmo, de comodismo, de orgulho, mas há uma entrega total nas mãos de Deus e um acolhimento radical dos caminhos de Deus. O testemunho de Maria é um testemunho questionante, que nos interpela fortemente... Que atitude assumimos diante dos projectos de Deus: acolhemo-los sem reservas, com amor e disponibilidade, numa atitude de entrega total a Deus, ou assumimos uma atitude egoísta de defesa intransigente dos nossos projectos pessoais e dos nossos interesses egoístas?
    • É possível alguém entregar-se tão cegamente a Deus, sem reservas, sem medir os prós e os contras? Como é que se chega a esta confiança incondicional em Deus e nos seus projectos? Naturalmente, não se chega a esta confiança cega em Deus e nos seus planos sem uma vida de diálogo, de comunhão, de intimidade com Deus. Maria de Nazaré foi, certamente, uma mulher para quem Deus ocupava o primeiro lugar e era a prioridade fundamental. Maria de Nazaré foi, certamente, uma pessoa de oração e de fé, que fez a experiência do encontro com Deus e aprendeu a confiar totalmente n'Ele. No meio da agitação de todos os dias, encontro tempo e disponibilidade para ouvir Deus, para viver em comunhão com Ele, para tentar perceber os seus sinais nas indicações que Ele me dá dia a dia?

     

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
    Tel. 218540900 - Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.pt

  • 01ª semana do Advento - Sábado

    01ª semana do Advento - Sábado

    9 de Dezembro, 2023

    Tempo do Advento Primeira Semana - Sábado

    Lectio
    Primeira leitura: Is. 30, 19-21.23-26

    19Povo de Sião, que habitas em Jerusalém, já não chorarás mais, porque o Senhor terá piedade de ti quando ouvir a tua súplica, e, mal te ouça, logo te responderá. 20Embora o Senhor te dê o pão da angústia e a água da tribulação, já não se esconderá mais o teu mestre. Tu o verás com os teus próprios olhos. 210uvirás atrás de ti esta palavra, quando tiveres de caminhar para a direita ou para a esquerda: «Este é o caminho a seguir.»
    23Então o Senhor te enviará as chuvas para a sementeira que semeares na terra, e o pão que a terra produzir será nutritivo e saboroso. Naquele dia, o teu gado pastará em amplas pastagens. 240s bois e os jumentos que lavrarem a terra comerão uma forragem salgada, remexida com a pá e a forquilha. 25No dia da grande mortandade, em que desabarão as fortalezas, haverá torrentes de água abundante em todas as montanhas e colinas. 26No dia em que o Senhor curar a ferida do seu povo, e tratar da chaga que lhe foi infligida, a lua refulgirá como um sol, e o sol brilhará sete vezes mais.
    o profeta assegura à comunidade reunida em acção culto, depois da tribulação, a eficácia da oração feita ao Senhor. Se souber esperar e confiar, será certamente ouvida. A súplica a Deus não livra de dificuldades. Mas fará experimentar a quem está atribulado a verdade do Deus do êxodo, um Deus atento, presente e actuante em favor do seu povo.
    A comunidade poderá viver na presença do Senhor, que está no meio dela, e que será o seu Mestre. Assim, não se deixará seduzir por falsas sabedorias, como acontecera muitas vezes no passado. O ensino do Senhor não excluirá uma dura disciplina, «o pão da angústia e a água da trtooteção. (v 20), como já aconteceu no deserto. A lei de Deus já não será vista como um peso, uma imposição, mas como uma guia segura no caminho da vida (v. 22) e como experiência de verdadeira libertação e de plenitude, expressa pelas imagens da abundância de pastagens e de água.
    O ensinamento divino levará a verificar como foi útil a correcção divina, que não deixa o povo da aliança nas trevas da falsidade, mas o cura com a luz do seu amor (v. 26).

    Evangelho: Mt. 9, 35-10, 1.6-8

    Naquele tempo: 35*Jesus percorria as cidades e as aldeias, ensinando nas sinagogas, proclamando o Evangelho do Reino e curando todas as enfermidades e doenças. 36*Contemplando a multidão, encheu-se de compaixão por ela, pois estava cansada e abatida, como ovelhas sem pastor. 37*Disse, então, aos seus discípulos: «A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. 38Rogai, portanto, ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a sua messe.»l* Depois chamou a Si os doze discípulos e deu-lhes poder de expulsar os espíritos malignos e de curar todas as enfermidades e doenças.
    6Ide, primeiramente, às ovelhas perdidas da casa de Israel. 7*Pelo caminho, proclamai que o Reino do Céu está perto. 8Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demónios. Recebestes de graça, dai de graça.
    Jesus prepara os Doze para a missão, fazendo-os participar da sua compaixão pelas multidões que alimenta e pelos doentes que acolhe e cura, e ensinando-os a rezar para que o Dono da messe mande trabalhadores para a sua messe. Este mandato de oração há-de recordar aos discípulos que não são donos da messe, mas simples trabalhadores que partilham a missão que Jesus recebeu do Pai. Por isso, não devem ser presumidos nem desanimar, porque só o Dono da messe dispõe dos tempos e da fecundidade da missão.
    Depois de escolher os missionários (cf. Mt 10, 2-5), antes de os enviar, Jesus dá¬lhes instruções adequadas. O seu campo de acção deve limitar-se a Israel. Assim é significada a prioridade teológica de Israel enquanto povo da Promessa, que a Igreja deve respeitar. O seu estilo de acção deve ser o de Jesus: generosidade sem medida (v. 8b), em total sintonia com o seu Mestre. São enviados a proclamar a proximidade do reino dos céus (v. 7), a dar sinais concretos (curas, exorcismos: v. 8a) da libertação integral do homem, em nome d ' Aquele que realiza a vinda do reino de Deus à vida da humanidade.

    Meditatio
    No mistério da Incarnação, que nos preparamos para celebrar, tornam-se realidade as palavras de Isaías: «já não se esconderá mais o teu mestre. Tu o verás com os teus próprios olho. (v. 20). O Invisível torna-se visível: «quem me vê, vê o Pe», diz Jesus. E tudo muda. Deus que antes falava da nuvem, do trovão. A sua presença era visualizada na nuvem que vinha e ia. Agora, Deus torna-se presente no meio de nós, de modo estável, na pessoa de Jesus, verdadeiro Emanuel, Deus connosco.
    Isaías lembra-nos que a prece dirigida a Deus é sempre ouvida. Jesus ensina¬nos a rezar, não só pelos nossos pequenos interesses, mas pelos interesses do seu coração. Rezamos, não para convencer a Deus, que sempre nos escuta, mas para nos dispormos para o encontro com Ele. Ele quer libertar-nos, renovar para nós as maravilhas do êxodo, fazer-se nosso bom samaritano para nos aliviar os sofrimentos, curar as feridas e reacender a esperança.
    Hoje convida-nos particularmente a pedir ceifeiros para a sua messe. E seu grande interesse é que a messe não se perca por falta de trabalhadores: «Rogai, portanto, ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a sua messe. (v. 38). As necessidades da evangelização são enormes, e os recursos humanos das comunidades são geralmente muito escassos. Se soubermos ler a situação com os olhos de Jesus, não desanimaremos, mas sentir-nos-emos motivados a corresponder ao convite do Senhor. Perceberemos que a força da missão cristã não está nos recursos humanos, mas na oração confiante e perseverante, e na fidelidade ao mandato recebido.
    A oração também me ensinará que a missão não é propaganda de ideias e de certos costumes de vida, mas participação no anúncio e na praxe de libertação de Jesus, que torna visíveis no mundo as entranhas de misericórdia de Deus Pai.
    Para o Leão Dehon, e para nós, a actividade missionária assume particular importância (cf. Cst. 33); é um modo privilegiado de viver "o nosso carisma profético" que "nos coloca ao serviço da missão salvífica do Povo de Deus no mundo de hoje (cf. LG 12)" (Cst. 27) e nos insere no "movimento de amor redentor" (Cst. 21) "na missão eclesial", e nos permite, de modo muito especial, "desenvolver as riquezas da nossa vocação" (Cst. 34) de oblatos-reparadores. Por isso, damos a nossa quota-parte no serviço da messe, e estamos todos presentes ao "ministério
    de evangelização, pelo qual (os missionários) dão aos homens esta prova de amizade: estar no meio deles ao serviço da Boa Nova" (Cst. 33), para que haja Natal no coração de todos os homens e mulheres da terra.
    Oratio
    Senhor Jesus, acende em mim a compaixao do teu Coração diante das multidões, dos que sofrem no corpo ou no espírito, dos que jazem nas trevas ou andam dispersos como ovelhas sem pastor.
    É verdade que todos têm os seus pastores ou chefes políticos. Mas não têm pastores que lhes orientem as almas, que lhes apontem o Bom Pastor e os ajudem a chegar à luz da fé. Na verdade, a messe é grande e os trabalhadores são poucos. Que eu sinta a necessidade e a urgência de viver a dimensão missionária do meu baptismo, e da minha vocação específica, para cooperar na obra de redenção que realizas no coração do mundo. Abençoa o Santo Padre, os Bispos, os Sacerdotes, os Religiosos e os Leigos missionários para que cumpram com generosidade e fidelidade o mando de evangelizar. Concede à tua Igreja muitas e santas vocações missionárias. Amen.

    Contemplatio
    Um dos deveres do padre é cultivar as vocações, favorecê-Ias, prepará-Ias.
    Nisto ainda o Coração sacerdotal de Jesus é o seu modelo.
    Jesus desejou e favoreceu as vocações
    E antes de mais, como desejou as vocações! Tinha percorrido as cidades e as aldeias, pregando nas sinagogas e curando os doentes. Tinha visto estas multidões sem educação, sem direcção. Tinha piedade delas. «São como um rebanho sem pastor», dizia. A miséria moral e física deprimia estas multidões. E Jesus dizia aos seus discípulos: «Como a seara é grande! Pedi pois ao Senhor para enviar trabalhadores para a sua seara».
    Ama as crianças, abençoa-as, e a sua bênção faz germinar vocações.
    Chama as crianças, testemunha-lhes amizade. «Deixai-as vir a mim», diz aos apóstolos.
    Um adolescente de boa família vem ter com Ele. Jesus queria fazer dele um apóstolo: «Vai, diz-lhe, vem o que tens e segue-me». O jovem resiste à graça e Jesus entristeceu-se (Mc 10).
    Um menino seguia Nosso Senhor e os apóstolos e levava as suas pequenas provisões. A tradição diz-nos que era Marcial, o apóstolo do Languedoc (Jo 6).
    Um dia, Nosso Senhor pega numa criança: «Eis o vosso modelo, sede simples como crianças». E acrescentava:
    «Quem receber as crianças em meu nome, a mim recebe».
    Que encorajamentos para nós para nos ocuparmos com as crianças, para nos dedicarmos a elas, para procurarmos entre elas as vocações e favorecê-Ias! Um padre que não se interessa pelas vocações tem verdadeiramente o espírito apostólico? (Leão Dehon, OSP 2, p. 567).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Mandai, Senhor, trabalhadores para a vossa messe»

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